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11Treinador Corporativo de Comunicação Assertiva ACADEMIA DO TRAINER Comunicação Eficaz: Escutar para compreender* Por Ciro Daniel Formador de Educadores Corporativos "Não escutamos com os ouvidos, mas com a mente. Ouvimos sons, mas escutamos significados." (W. Meissner) Ao analisar a citação acima, é possível perceber um indicativo da diferença entre ouvir e escutar. Podemos entender que ouvir se relaciona com nosso aparelho auditivo, o ouvido. Portanto, é uma atividade fisiológica. Uma das funções do ouvido é justamente a audição. Segundo especialistas, o ouvido recebe as vibrações sonoras e transforma-as em impulsos nervosos que são transmitidos ao cérebro. Este, por sua vez, interpreta a mensagem sensorial. Podemos dizer que a *Este artigo foi publicado originalmente no livro Manual Completo de Treinamentos Comportamentais, do qual sou coautor 12CERTIFICAÇÃO ACADEMIA DO TRAINER interpretação da mensagem sensorial que ocorre em nossa mente é a escuta. Assim, escutar é um processo cognitivo. Em 2010 realizei uma série de eventos para um órgão do Poder Judiciário, em Brasília, sobre feedback. Num dos eventos estava presente uma servidora que possui uma deficiência em seu aparelho auditivo. Ela me pediu para evitar sair do seu campo de visão e para manter o microfone abaixo dos meus lábios, para que pudesse fazer uma leitura labial. Os dados chegaram ao cérebro não pelo aparelho auditivo, mas sim pelos olhos, e ela conseguiu compreender o que apresentei. Esse exemplo mostra que o escutar não depende, necessariamente, do ouvir, mas sim da nossa cognição para interpretar e compreender a mensagem. A escuta em profundidade passa por alguns níveis, conforme veremos a seguir: 13Treinador Corporativo de Comunicação Assertiva ACADEMIA DO TRAINER 1) Ignorar ou fingir que escutamos Provavelmente você escutou alguém comentando que uma determinada pessoa "ouve, mas não escuta", ou ainda que "entrou num ouvido e saiu pelo outro". São exemplos típicos de que os processos de ouvir e de escutar ocorrem em locais diferentes. Nesses dois exemplos, provavelmente o aparelho auditivo captou os sons (portanto, o processo de ouvir ocorreu), mas o cérebro ignorou tais impulsos, pois a mente estava concentrada em outra atividade. Sendo assim, podemos ouvir sem escutar, e denominamos isso de “ignorar ou fingir que escutamos”. 2) Escutar seletivamente Um fato interessante sobre o ouvir é que somos seletivos em nossa audição. Quer experimentar? Pare de ler nesse momento e feche os olhos, fique em silêncio por 1 minuto e escute todos os sons que chegarem ao seus ouvidos. Agora tome nota daqueles que você consegue lembrar. 14CERTIFICAÇÃO ACADEMIA DO TRAINER l Quantos desses sons você tinha percebido antes da atividade? l Quantos você tomou consciência somente após a atividade? Posso imaginar que seu “ouvir” antes da experiência foi seletivo - ou seja, mesmo que inconscientemente, você filtrou alguns ruídos ou barulhos. Portanto, o ouvir é seletivo, e por consequência lógica, já que o ouvir é uma parte da escuta, a escuta é igualmente seletiva. O ato de selecionar algo traz implícito o risco de uma escolha equivocada. Portanto, quando você escuta seletivamente, corre o risco de perder informações importantes. 3) Escutar intencionalmente Nesse nível concentramos nossa atenção naquilo que a outra pessoa está dizendo. Acredito que a nossa intenção em escutar é tão ou mais importante que nossa habilidade de escutar. Vou além: a intenção deve ser em efetivamente compreender a outra pessoa. Essa 15Treinador Corporativo de Comunicação Assertiva ACADEMIA DO TRAINER compreensão é cognitiva, portanto o foco está no que é dito. Ao escutar intencionalmente1, você deve evitar alguns vícios e filtros da escuta: L er a mente da pessoa, ou seja, tentar adivinhar o que a pessoa está pensando; I nterromper constantemente o outro, sem permitir que a pessoa conclua o raciocínio; S obrepor a história da pessoa contando outra, muitas vezes antes mesmo da pessoa terminar de falar; T erminar as frases pela pessoa sem permitir que ela conclua com suas próprias palavras; E xpressões de julgamento, que acontecem de forma involuntária; N ormalizar o que a pessoa diz, isto é, expressar que é normal e acontece com todo mundo. Sintetize o que você pensa que escutou: Para checar se de fato você conseguiu compreender o que a pessoa disse, você pode sintetizar os pontos-chave daquilo que você pensa que escutou e reproduzir para o seu 1 A junção das iniciais das primeiras palavras de cada item formam a palavra Listen, que pode ser traduzido do inglês como escutar. 16CERTIFICAÇÃO ACADEMIA DO TRAINER interlocutor com suas próprias palavras. Assim, duas coisas podem acontecer: primeiro, você demonstrará para a pessoa que você a ouviu e escutou; segundo, você tem a oportunidade de checar o seu entendimento. Ao sintetizar você pode utilizar expresses como: "Pelo que entendi do que você disse..."; "Se consegui compreender, você disse...". Agindo assim, você pode evitar mal entendidos em diversas situações - por exemplo, durante reuniões, principalmente antes da transição de um assunto para outro, ou ainda no momento de um processo de delegação ou definição de expectativas de desempenho. 4) Escutar empaticamente Auto do livro O 8º Hábito, Stephen Covey escreveu que escutar empaticamente "significa transcender nossa autobiografia, sair de nosso marco de referência, fora de nosso sistema de valores, fora de nossa história e de nossas tendências de avaliação e entrar profundamente no marco de referência ou ponto de vista da outra pessoa".2 2 COVEY, Stephen R. O 8º hábito: da eficácia à grandeza. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 189 17Treinador Corporativo de Comunicação Assertiva ACADEMIA DO TRAINER A escuta empática está relacionada à compreensão do ponto de vista da outra pessoa, e entender não só o que a pessoa fala ou demonstra em sua comunicação silenciosa, mas também o que ela está sentindo. Você deve escutar procurando entender o significado e o sentimento. P.O.R. uma Escuta mais Empática: Para escutar em um nível mais profundo, precisamos escutar não só o que a pessoa está dizendo, mas também demonstrar empatia e escutar o que ela está sentindo. A ferramenta P.O.R. é um modelo que pode ajudá-lo a escutar empaticamente: P are o que está fazendo e concentre sua atenção no que o outro está dizendo. Pare de falar, pois já foi comprovado que não conseguimos falar e escutar ao mesmo tempo. Olhe para a pessoa e demonstre que está com ela por inteiro - corpo, mente e coração. Observe as palavras que “piscam”, ou seja, 18CERTIFICAÇÃO ACADEMIA DO TRAINER aquelas pronunciadas com mais ênfase, bem como a linguagem corporal. Reflita3 para a pessoa, em forma de pergunta, o que você percebeu sobre: a) O que ela falou: descreva o que você entendeu daquilo que a pessoa disse, em forma de pergunta. O importante é descrever os fatos sem interpretação ou julgamento. b) Como ela está se sentindo e qual a necessidade que está gerando esse sentimento. 3 Como a palavra sugere, o reflexo é o processo de repetir de volta, ou ecoar, o que a outra pessoa acabou de dizer, como se estivesse segurando um espelho para suas palavras. 19Treinador Corporativo de Comunicação Assertiva ACADEMIA DO TRAINER Bibliografia: ANZORENA, Oscar R. Maestria personal: el camino del liderazgo. Buenos Aires: Ediciones Lea, 2011 CIARAMICOLI, Arthur P. O poder da empatia. São Paulo: Editora Best Seller, 2001 COVEY, Stephen R. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes. 26ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006 COVEY, Stephen R. O 8º Hábito: da eficácia à grandeza. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. D’ANSEMBOURG, Thomas. Deixe de ser bonzinho e seja verdadeiro. Rio de Janeiro: Sextante, 2013. GOLEMAN, Daniel. Foco: a atenção e seupapel fundamental para o sucesso. 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