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Desafios para Docência Superior Núcleo de Pós-Graduação SUMÁRIO 1 - Plano Nacional de Educação e Formação Docente 2 - O Ser Professor 3 - Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 4 -Seleção e Ingresso de Docentes: Nível de Formação 4.1 - Nível de Formação: Graduação, Mestrado, Doutorado79 5 -Programa de Capacitação de Professores 6 -Formação Docente Para Atuar na Educação Básica 6.1 - Local de Formação Docente 6.2 - Nova LDB - Nível Superior - Cursos e Programas 7 -A Nova Lei de Diretrizes e Bases Referências Bibliográficas O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E A FORMAÇÃO DOCENTE Em 9 de janeiro de 2001 o presidente da República sancionou a Lei n° 10.172, que aprova o Plano Nacional de Educação e define os mecanismos necessários para colocá-lo em prática. Esse Plano deve orientar toda a atividade educacional dos sistemas de ensino nos próximos dez anos, em todo o País. A responsabilidade é de todos os entes federados, segundo o regime de colaboração estabelecido pela Constituição Federal. É um plano de Estado, não um plano de governo. Os governantes atuais lideram o processo de elaboração do PNE e dos Planos Estaduais e Municipais. É um plano global, isto é, abrangente de toda a educação, tanto no que se refere aos níveis de ensino e modalidades de educação, quanto no envolvimento dos diversos setores da administração pública e da sociedade. Trata da educação infantil, do ensino fundamental, do ensino médio, da educação superior, da educação de jovens e adultos, especial, indígena, a distância, tecnológica e formação profissional. Trata, igualmente, do magistério e da gestão e financiamento da educação. Este plano não foi o resultado de uma decisão isolada de alguma autoridade, de um grupo de pessoas ou de forças políticas ou educacionais mobilizadas há poucos anos, que se queira impor a toda a Nação. Mas sim o resultado de um esforço histórico da sociedade brasileira, iniciado em 1932, quando um grupo de educadores, intelectuais e escritores, preocupados com o desenvolvimento do país e com a causa da educação nacional, lançaram o Manifesto dos Pioneiros pela Educação. Portanto, o PNE consolidou um desejo e um esforço histórico de mais de 60 anos. O PNE entra na história da educação brasileira com seis qualificações que o distinguem de todos os outros já elaborados: a) é o primeiro plano submetido à aprovação do Congresso Nacional, portanto, tem força de lei; b) cumpre um mandato constitucional (art. 214 da Constituição Federal de 1988) e uma- determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, art. 87, 1°); c) fixa diretrizes, objetivos e metas para um período de dez anos, visando à garantia de continuidade da política educacional e coerência nas prioridades durante uma década; d) contempla todos os níveis de ensino e modalidades de educação e os âmbitos da produção de aprendizagens, da gestão e financiamento e da avaliação; e) compromete o Poder Legislativo no acompanhamento de sua execução e f) convoca a sociedade para acompanhar e controlar a sua execução. O Plano Nacional de Educação de 2001 também apontava para a necessidade de uma proposta escolar autônoma, ressaltando a importância da participação dos profissionais da educação e da comunidade escolar em conselhos escolares ou equivalentes, para estimular a autonomia da escola. O Plano Nacional da Educação destaca a preocupação com a formação dos professores voltada para as questões pedagógicas. Assim, mais uma vez, encontra-se neste plano o anseio de que se renovem os mecanismos destinados à formação docente inicial e que se inove com programas de formação em serviço para eliminar a presença de professores leigos nos sistemas de ensino com adequação do processo pedagógico às necessidades e carências da população escolar, além de abordar a valorização do magistério com jornadas de trabalho e salário condignos. O PNE propõe para os cursos de formação em quaisquer níveis e modalidades, os princípios que se seguem: a) Sólida formação teórica nos conteúdos específicos a serem ensinados na Educação Básica, bem como nos conteúdos especificamente pedagógicos; b) Ampla formação cultural: c) Atividade docente como foco formativo; d) Contato com a realidade escolar desde o início até o final do curso, integrando a teoria à prática pedagógica; e) Pesquisa como princípio formativo; f) Domínio das novas tecnologias de comunicação e da informação e capacidade para integrá- las à prática do magistério; g) Análise dos temas atuais da sociedade, da cultura e da economia; h) Inclusão das questões relativas à educação dos alunos com necessidades especiais e das questões de gênero e de etnia nos programas de formação; i) Trabalho coletivo interdisciplinar; j) Vivência, durante o curso, de formas de gestão democrática do ensino; k) Desenvolvimento do compromisso social e político do magistério; l) Conhecimento e aplicação das diretrizes curriculares nacionais dos níveis e modalidades da educação básica. (PNE, 2001) A partir do momento em que se concebe a educação como prática política, passa-se a entender porque a ênfase em suas diretrizes deve recair sobre o resgate do professor. Não somente como um transmissor de conteúdos através de técnicas variadas, mas como um detentor de saberes relativos à arte, à cultura, à ciência e à tecnologia, entendidas como resultantes de um processo histórico, capaz de estimular em seus alunos o anseio por aprender cada vez mais, objetivando, o desenvolvimento de posturas críticas e, também, a cooperação e a solidariedade nas esferas profissional, cultural e política de sua vida. O SER PROFESSOR No Brasil, os primeiros cursos superiores tiveram início em 1812, logo após a transferência da Corte Portuguesa, da Bahia para o Rio de Janeiro. Entretanto, eles se limitavam ao Direito, Medicina, Politécnica e Agricultura. Para acessá-los, havia aulas avulsas ou particulares, posteriormente agrupadas nos liceus provinciais. Em 1837, foi criado o Colégio Pedro II, na Corte, que deveria servir como modelo para os demais. Contudo, os professores ainda não recebiam instrução específica para lecionar, tampouco eram fiscalizados. Somente em 1931, um decreto presidencial de Getúlio Vargas, Decreto N° 19.852/31, estabeleceu o Estatuto das Universidades Brasileiras, elevando a formação dos professores secundários ao nível superior. Foi, então, criada, a Faculdade de Educação, Ciências e Letras, com a finalidade de se ampliarem os conhecimentos das ciências "puras", sem qualquer menção ao seu currículo ou às exigências para a obtenção do diploma. Apesar de criada, a Faculdade de Ciências e Letras não foi instalada. Instalaram-se, sim, modelos de organizações responsáveis pela formação docente, em 1934, pela então criada Universidade de São Paulo, e, em 1935, pela Universidade do Distrito Federal. O Instituto de Educação da USP, além da formação de professores, incumbiu-se de pesquisa e produção de conhecimento. Em 1938, este Instituto foi extinto, dando lugar a uma seção de Educaçãona Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que, a exemplo de outras já existentes no país, encarregou-se da formação de professores secundários. O Decreto-lei N° 1.190/39 introduziu novas alterações nos cursos de formação de professores: a Faculdade de Educação foi desmembrada em novas seções da Faculdade de Filosofia: Filosofia, Ciências e Letras, já existente; Pedagogia e Didática. A seção de Didática compreendia as disciplinas: Didática Geral, Didática Especial, Psicologia da Educação, Administração Escolar, Fundamentos Biológicos da Educação e Fundamentos Sociológicos da Educação e passou a habilitar bacharéis para o exercício do magistério secundário. Este esquema de formação é que ficou conhecido como 3 + 1. Os conteúdos específicos eram ministrados nos três primeiros anos, e as disciplinas referentes à formação pedagógica, no último ano. Apesar da completa desarticulação entre a formação específica e a pedagógica, alunos e professores de diferentes seções acabavam por se aproximar, pois tanto a formação específica quanto a pedagógica eram obtidas na mesma faculdade. Na década de 1960, quando da criação da Universidade de Brasília, a formação de professores passa para a Faculdade de Educação. A Lei de Diretrizes a Bases de 1961, através do Parecer N° 292/62 do Conselho Federal de Educação estabeleceu que a preparação pedagógica não deveria mais se restringir ao último ano do curso, convivendo com disciplinas pertinentes à formação específica. As disciplinas oferecidas para a formação pedagógica eram: Psicologia da Educação, Elementos da Administração Escolar, Didática e Prática de Ensino, sob a forma de estágio supervisionado. Foram ainda retomados os colégios de aplicação, criados em 1946. O objetivo era tornar as licenciaturas tão consideradas quanto os bacharelados, entretanto, o que se conseguiu, foi aligeirar ainda mais a formação do professor, posto que as disciplinas pedagógicas passaram a ocupar reduzido espaço no currículo. A Reforma Universitária de 1968 fragmentou as Faculdades de Filosofia Ciências e Letras, tornando exclusiva da Faculdade de Educação a oferta das disciplinas pedagógicas. A formação específica deveria ocorrer em faculdades e institutos específicos, inviabilizando a convivência entre os futuros professores. As turmas, nas Faculdades de Educação eram compostas por alunos de diferentes faculdades e diferentes estágios de formação. Além disso, a ausência de diálogo entre as Faculdades de Educação e as de formação específica acabou por provocar um grande distanciamento entre elas. A década de 1980 caracterizou-se por eventos locais e/ou nacionais envolvendo a formação do professor. Consolidavam-se as instituições democráticas; fortaleciam-se os direitos à cidadania, e elevava-se à educação a responsável pela superação das desigualdades nacionais. Entretanto, os anos 1990 é que trouxeram profundas modificações ao sistema educacional do Brasil, oriundas de decisões cujas origens encontram-se no CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe; na UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e no Banco Mundial , cuja culminância verificou-se com a edição da última Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional N° 9.394/96. A nova LDBEN enfatiza as dimensões sociais e políticas da atividade educativa, incluindo a dinâmica escolar, o relacionamento da escola com seu entorno mais amplo, a avaliação e a gestão. O Parecer CNE/CP N° 9/2001 inicia-se com uma retomada do panorama referente à educação, no Brasil, nas décadas de 1980 e 1990, relacionando os problemas decorrentes das licenciaturas, tal como se encontravam, prenunciando as novas atribuições da escola e dos docentes. O processo de elaboração das propostas de diretrizes curriculares para a graduação, conduzido pela SESu , consolidou a direção da formação para três categorias de carreiras: Bacharelado Acadêmico; Bacharelado Profissionalizante e licenciatura. Dessa forma a Licenciatura ganhou, como determina a nova legislação, terminalidade e integralidade própria em relação ao Bacharelado, constituindo-se em um projeto específico. Isso exige a definição de currículos próprios da Licenciatura que não se confundam com o Bacharelado ou com a antiga formação de professores que ficou caracterizada como modelo "3 + 1". Como toda proposta em educação, ela não parte do zero, mas é fruto de um longo processo de crítica, reflexão e confronto entre diferentes concepções sobre a formação docente e suas práticas, para o qual contribuíram o pensamento acadêmico, a avaliação das políticas pública em educação, os movimentos sociais, as experiências inovadoras em andamento em algumas Instituições de Ensino Superior. Ela busca descrever o contexto global e o nacional da reforma educacional no Brasil, o quadro legal que lhe dá suporte, e as linhas orientadoras das mudanças dos cursos de formação de professores. Com base no diagnóstico dos problemas detectados na formação dos professores, ela apresenta princípios orientadores amplos e diretrizes para uma política de formação de professores, para sua organização no tempo e no espaço e para a estruturação dos cursos. A proposta inclui a discussão das competências e áreas de desenvolvimento profissional que se espera promover nessa formação, além de sugestões para a avaliação das mudanças. Sendo assim, é suficientemente flexível para abrigar diferentes desenhos institucionais, ou seja, as diretrizes constantes desse documento aplicar-se-ão a todos os cursos de formação de professores em nível superior, qualquer que seja o locus institucional - Universidade ou ISE - áreas de conhecimento e/ou etapas da escolaridade básica. Portanto, são orientados para a definição das Propostas de diretrizes específicas para cada etapa da educação básica e para cada área do conhecimento, as quais por sua vez, informarão os projetos institucionais pedagógicos de formação de professores. Ao destacar que a inclusão da educação infantil e do ensino médio na educação básica, traz à reflexão a necessidade de se articular a continuidade, diferencia a atuação dos professores de um e outro nível de educação. Se na faixa etária de zero a seis anos, o que se pretende é a construção da identidade, da autonomia e do conhecimento de mundo, pela criança, no ensino fundamental e no ensino médio, as atribuições docentes se multiplicam. Cabe a este professor estimular os alunos à valorização do conhecimento, dos bens culturais e do trabalho, investigando; questionando; pesquisando; construindo hipóteses; compreendendo, raciocinando logicamente, comparando, relacionando, inferindo, generalizando, adquirindo confiança na própria capacidade de pensar e encontrar soluções; confrontando e respeitando diversos pontos de vista, discutindo divergências, exercitando o pensamento crítico e reflexivo; assumindo responsabilidades; aprendendo ao ler criticamente diferentes tipos de texto; utilizando diversos recursos tecnológicos; expressando-se e comunicando-se em diversas linguagens, criando; agindo de forma autônoma; diferenciando os espaços públicos e privados; solidarizando-se; cooperando; convivendo com a diversidade e, finalmente, repudiando todo tipo de discriminação einjustiça. Como se observa, ocupar-se destas aprendizagens não é tarefa fácil. No Parecer CNE/CP N° 9/2001 são abordados entraves historicamente desenvolvidos em relação à formação dos professores, verificados no campo institucional e no campo curricular. No campo institucional, além dos status diferenciados atribuídos à formação do bacharel e do licenciado, conferindo-se menor valor à do segundo, ainda verifica-se o abismo entre as exigências requeridas para a formação de professores polivalentes e especialistas. Os cursos de licenciatura têm funcionadoapensos aos de bacharelado. Para as primeiras séries do ensino fundamental, é necessária uma formação adquirida em nível médio; para a quinta série, do ensino fundamental de oito anos, ou a sexta, do de nove, é requerido um curso superior de quatro anos. Esta circunstância acarreta enorme desarticulação entre os professores desses níveis, imprimindo consequências na formação dos alunos. Daí a emergência de um projeto que forme professores a partir de uma proposta integradora. Também consta da análise efetuada pelo Conselho Nacional de Educação expressa neste documento, que pouco sobre documentos como Parâmetros e referenciais Curriculares elaborados pelo MEC chegam aos professores em formação. Outro problema é a dificuldade para a realização de um estágio em espaço institucional que permita um planejamento conjunto entre a escola receptora e os estagiários, e, finalmente, mas não menos importante, é a condução de um trabalho que objetive a inserção da comunidade nos espaços escolares, ainda pouco desenvolvido pela academia. É preciso, enfim, romper o isolamento. No campo curricular, nove são os entraves apontados pelo CNE, para a formação do professor, a saber: - O conhecimento anterior, qualquer que seja ele (tanto o conhecimento acumulado por já terem ministrado aulas, quanto às defasagens relativas à escola básica), dos professores em formação tem sido desprezado, não se constituindo em ponto de partida para a avaliação das necessidades de aprendizagens dos alunos; - Parece não ter havido clareza sobre que conteúdos que são importantes para a formação do professor, adotando-se o "pedagogismo" entendido como a supervalorização das transposições didáticas, sem qualquer aprofundamento. O "conteudismo" é entendido como supervalorização do conhecimento específico da área em que o estudante se insere, sem relacioná-lo à etapa ou às outras disciplinas dos níveis em que irá ensinar; - A ampliação do universo cultural - o acesso a livros, revistas, filmes, produções culturais de diversas naturezas - ainda não atingiu os professores em formação; - A preparação dos professores tem sido restrita à regência de classes, subestimando-se sua participação no projeto político da escola, bem como sua atuação junto à comunidade; - A desintegração entre componentes curriculares teóricos e o estágio, reduzido e pontual, nos cursos de formação de professores, tem atribuído à profissão um caráter ativista que parece desprezar as contribuições da teoria para a prática; - A teoria não tem sido concebida como resultado da pesquisa e a falta de familiaridade com esta têm impedido a compreensão da processualidade da produção do conhecimento e da provisoriedade das constatações científicas; - Em geral, não há aprofundamento acerca do uso das tecnologias da comunicação e da informação - computador, rádio, cd/dvd player, videocassete, calculadora, gravador, internet, softwares educativos, mantendo-se o futuro professor resistente à admissão de seu valor educativo e alijado de seu uso; - Apesar de o sistema educacional brasileiro atender a demandas diferenciadas e com características muito particulares, as temáticas referentes a educação de jovens e adultos, educação especial e educação indígena não se fazem presentes nos cursos de formação de professores; - O enfoque disciplinar desenvolvido nos cursos de formação de professores ainda é fragmentado, dificultando a compreensão da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade. Face a tantas dificuldades, de acordo com o que está contido no Parecer CNE/CP 9/2001, para atender à exigência de uma escola comprometida com a aprendizagem do aluno importa que a formação docente seja ela própria agente de crítica da tradicional visão de professor como alguém que se qual fica unicamente por seus dotes pessoais de sensibilidade, paciência e gosto no trato com crianças, adolescentes e jovens, e adultos. É preciso enfrentar o desafio da formação de professores uma formação profissional de alto nível. Por formação profissional, entende-se a preparação voltada para o atendimento das demandas de um exercício profissional específico que não seja uma formação genérica e nem apenas acadêmica. Assim, são estabelecidos três princípios orientadores para uma reforma da formação de professores. O primeiro deles consiste na afirmação de que é preciso estabelecer uma concepção de competência. As competências não se desenvolvem abstratamente, mas a partir de uma ação, para que sejam postas em prática. Dicotomizar a teoria e a prática não contribui para que o indivíduo mobilize os recursos de que dispõe para agir. Para responder às variadas demandas em sua rotina, é preciso preparar o professor, articulando teoria e prática. O segundo, na insistência em que é imprescindível a coerência entre a formação que se oferece ao professor e a prática que se espera dele. Ao estabelecer este princípio, o CNE ressalta que quatro concepções devem ser levadas em conta. A concepção de simetria invertida, diz respeito ao fato de que os professores aprendem a profissão no lugar em que vão atuar, porém, em uma situação invertida, ou seja, na situação de alunos. Este fato não deve levar a interpretação de que os cursos de formação de professores devam se transformar em palco de sugestões para a mera imitação dos professores em sua futura rotina de trabalho. Outra concepção que deve estar presente quando da formulação dos cursos de formação de professores, é de aprendizagem. É preciso ter clareza a respeito de que o conhecimento é construído na interação do indivíduo com a realidade e com os demais indivíduos, mobilizadas suas capacidades pessoais e não meramente transmitido. Também deve ser precisada a concepção de conteúdo, pois desta é que resulta o desenvolvimento das competências. A escolha de conteúdos, portanto, não deve ser aleatória. A última concepção a ser contemplada para a construção da coerência entre formação e prática, é a de avaliação. Como parte integrante do processo de formação, a avaliação deve permitir não só a identificação de lacunas relativas à aprendizagem, mas as correções necessárias ao percurso, além de deixar disponível ao futuro professor o acompanhamento de seu processo de aprendizagem. O CNE reconhece a dificuldade da avaliação da construção de competências, chegando até mesmo a propor instrumentos para isso: Identificação e análise de situações educativas complexas e/ou problemas em uma dada realidade; elaboração de projetos para resolver problemas identificados em um contexto observado; elaboração de uma rotina de trabalho semanal a partir de indicadores oferecidos pelo formador; definição de intervenções adequadas, alternativas às que forem consideradas inadequadas; planejamento de situações didáticas consoantes com um modelo teórico estudado; reflexão escrita sobre aspectos estudados, discutidos e/ou observados em situação de estágio; participação em atividades de simulação; estabelecimento de prioridades de investimento em relação à própria formação. O terceiro princípio orientador para a reforma da formação dos professores trata da pesquisa, como elemento essencial a esta formação. Considerando que a sala de aula é rica em situações imprevistas, o CNE propõe que o foco do ensino da pesquisa recaia sobre os processos do ensino e da aprendizagem dos conteúdos escolares da educação básica, para que o professor em formação reúna condições de compreender esses processos. Ele será instrumentalizado para "a interpretação da realidade e dos conhecimentos que constituem seus objetos de ensino". (Parecer CNE/CP N° 9/2001) Mais uma vez, são sugeridos procedimentos a serem adotados e relacionados ao desenvolvimento de uma postura investigativa levantamento de hipóteses,delimitação de problemas, registro de dados, sistematização de informações, análise e comparação de dados, verificação, etc. Felizmente, além da formação inicial dos professores, tem-se evidenciado a necessidade da formação continuada. A educação desenvolvida nos sistemas escolares tem sido objeto de discussões no mundo todo, em função das grandes mudanças sociais, culturais e econômicas ocorridas nas últimas décadas. Pode-se dizer que os esforços têm sido globais, no sentido de aprimorar a qualidade do ensino, principalmente porque se espera que os alunos sejam preparados para compreender e empreender as necessárias transformações na sociedade em que vive. Ao se observarem os sistemas escolares, naturalmente o foco acaba recaindo sobre a formação do professor, uma vez que é ele quem se encontra na linha de frente da formação de crianças, jovens e adultos. Há muito já se percebeu que o exercício do magistério situa-se para além da aplicação de técnicas de ensino, posto que a prática em sala de aula manifesta-se desafiadora, propondo ao docente a resolução de problemas bem mais complexos do que a formulação de respostas para questões previsíveis, relacionadas somente a um conteúdo disciplinar. Neste sentido, a prática docente acaba por se constituir em um processo de formação que se desenvolve por toda uma carreira, pois requer a mobilização de conhecimentos que sustentem a investigação da própria prática. Isso significa que o professor permanece, ao longo do exercício do magistério, em constante busca, preparando-se para a realização das tarefas diárias, ou das futuras. No entanto, ao longo dos tempos, as políticas públicas para a formação continuadados professores encarregaram-se de atribuir-lhe diversas denominações, como educação permanente, treinamento, capacitação ou reciclagem, por exemplo. Essas denominações, na verdade, revelam diferentes entendimentos do que essa formação se propõe a efetivar. As ações, atendendo a esse princípio, desenvolvem-se como compensatórias, repondo o que o professor não obteve na formação inicial; atualizadoras, renovando o conhecimento que "envelheceu" ou aperfeiçoadoras, aprofundando o que o professor já conhece. Também foi oferecida sob as mais variadas formas: cursos, reuniões, seminários, encontros, jornadas, orientações técnicas. A disseminação do conhecimento propagado nestes eventos ficava sob a responsabilidade de um multiplicador que se fazia representante dos demais professores de sua escola. A partir dos anos 1970, pesquisas desenvolvidas no Brasil e em outros países, revelaram as limitações desse modelo de formação continuada. Não se opondo à formação inicial, mas constituindo-se um prolongamento daquela, a formação continuada envolve o conjunto de atividades que sucedem a formação inicial e que têm lugar durante todo o percurso profissional do professor. Diferentemente do que se possa supor, a formação continuada não se restringe a um único locus, como ocorre com a inicial. Hoje, ela além de desenvolver dentro das universidades o que lhe é atribuído pela LDBEN 9.394/96, prolonga-se pela escola onde os docentes ministram suas aulas, por museus, centros culturais, ONGs, sindicatos, associações profissionais, instituições de pesquisa, fundações, nas modalidades presenciais e à distância. Trata-se da mobilização do corpo docente, não só para análise e ressignificação coletivas de sua prática e do currículo em desenvolvimento, mas também, pela possibilidade de manter-se em permanente discussão o projeto pedagógico da escola. Apesar da conveniência da adoção da proposta acima mencionada, pouco se tem conseguido em relação à sua implantação. Os momentos reservados para esta formação,traduzidos por HTPCs - horas de trabalho pedagógico coletivo, têm sido insuficientes para responder à demanda de formação dos professores. Assim, via de regra, permanecem os processos formativos oferecidos pelas instituições de ensino superior e secretarias de educação, nem sempre em sintonia com a realidade da escola. O Programa de Incentivo à Formação Continuada de Professores do Ensino Médio tem por objetivo cadastrar instituições de ensino superior públicas e privadas sem fins lucrativos para realização de cursos de formação continuada para professores em exercício nas redes públicas estaduais. As Secretarias de Educação poderão assim selecionar os cursos e instituições que melhor atendem às necessidades de seu sistema nas ações de melhoria da qualidade do ensino, por meio da oferta de cursos de formação continuada para professores nas áreas de Química, Física, Biologia, Matemática, História, Geografia, Língua Portuguesa e Língua Espanhola. Evidentemente não se trata de desprezar o valor que a pesquisa em educação agrega aos cursos de formação continuada oferecidos pelas universidades; entretanto, a experiência, sobretudo na modalidade a distância ainda é incipiente, para que se observem resultados consistentes. Além disso, o perfil da formação continuada exposto incansavelmente pelos estudiosos da área supõe uma grande proximidade entre formadores e professores. Não é possível ignorar, ao se pensar na formação contínua do professor, que ela guarda estreita relação com o as condições de trabalho, os vencimentos, a carga horária semanal de aulas, o tipo de gestão estabelecido na escola e o currículo a ser desenvolvido. A articulação destes fatores nem sempre é levada em conta, quando são propostas, pelas autoridades competentes, atividades para a formação contínua dos professores, o que acaba por tornar-se mais um fardo do que uma oportunidade formativa. Entretanto, se consideradas estas interferências e as atribuições do professor que transcendem as quatro paredes de uma sala de aula, como a participação na elaboração do projeto político-pedagógico da escola, no relacionamento com a comunidade e na discussão coletiva sobre o seu trabalho. Supondo-se que seja admitido que a atividade docente envolva uma dinâmica que lhe é absolutamente peculiar, é possível propiciar instrumentos que viabilizem gerir sua carreira. Trata-se de uma concepção ecológica da formação docente, ou seja, de uma formação que leva em conta o entorno do indivíduo. Para tanto, é preciso que a formação oferecida tenha como objeto de análise o sujeito que ensina, que desenvolve a prática educativa, considerada sob seus múltiplos aspectos. Longe de tratar o professor como um mero propagador de conhecimento, os processos formativos devem assumi-lo como um produtor deles, capaz de analisar o contexto em que atua, mobilizando seu aporte teórico para responder às demandas sociais e às necessidades de seus alunos. Embora a formação continuada no Brasil tenha-se intensificado a partir de 1980, somente na década de 1990 ela adquiriu o status de estratégia para a construção de um perfil profissional docente. Como não poderia ser diferente, a formação continuada tem acompanhado diferentes concepções de educação e sociedade brasileiras. Esta consideração confere à formação continuada um caráter que transcende a mera atualização técnica dos professores. Por muito tempo, a formação do professor ateve-se aos princípios da racionalidade técnica, ou seja, os acréscimos traduziam-se pela exploração de técnicas e pela transmissão de informações em eventos episódicos que não previam a continuidade dessa formação, conforme já se observou. O que se busca, através dos processos inovadores de formação continuada é a construção de uma base teórica a respeito da prática docente, fundamentada na reflexão crítica. Vale dizer que se espera do professor a constante auto avaliação, de modo a examinar suas práticas, relacionando-as às teorias que lhes estejam implícitas, a fim de redirecionar o seu trabalho. Para tanto, é preciso que os formadoresexerçam suas interferências apoiados em pressupostos ideológicos. Os quatro conceitos/movimentos básicos que permeiam este modelo formativo são: o conhecimento na ação; a reflexão na ação; a reflexão sobre a ação e a reflexão para a ação. A ação é entendida como atividade docente. Por conhecimento na ação entende-se um conjunto de saberes que incluem conceitos, crenças, valores ou procedimentos que o professor adquiriu tanto através de sua experiência profissional quanto de sua atividade intelectual. É o conhecimento que ele utiliza praticamente inconscientemente, mecanicamente, em sua atividade cotidiana. É denominada reflexão na ação, aquela que se desencadeia no momento em que o professor está em exercício; e a reflexão sobre a ação é a desencadeada quando se encerra o ato pedagógico. Esta última é que detém as possibilidades de potencializar a reflexão na ação, sobretudo se a partir da reflexão sobre sua prática o professor adquire e/ou constrói teorias. A reflexão sobre a ação permite ao professor identificar que teorias estão subjacentes à sua prática, para fortalecer-se em busca de decisões em que vai apoiar sua próxima ação pedagógica. Aqui se insere o conceito de reflexão para a ação, cuja aplicação antecede uma nova prática. A reflexão para a ação é a que permeia o planejamento de nova ação pedagógica. Assim sendo, reflexão e problematização constituem o cerne deste processo formativo. O pensamento reflexivo inclui, inicialmente, a observação de uma situação real, existencial a ser interpretada analiticamente, através da busca dos significados de cada componente desta situação. Este é o exercício que permite criticar o que inicialmente, percebemos apenas superficialmente. A compreensão nasce deste processo crítico-reflexivo. "Reflexão, interpretação, análise, crítica e compreensão podem constituir-se em estágios diferenciados e simultâneos do processo de pensamento reflexivo". O pensamento reflexivo, não consiste, portanto, em pensar simplesmente, sem qualquer intenção interpretativa que procure os significados implícitos ou não nas situações com que se depara o professor. Trata-se de um rompimento com a alienação em busca deconscientização, de conhecimento e de autonomia. Como se sabe, a rotina em sala de aula cerca-se de situações inusitadas que requerem conhecimento e habilidade docentes. Assim, o que se pretende, com o desenvolvimento desta postura reflexiva, é a formação não de um professor que detenha saberes, mas de um professor que aplique seus saberes de forma consciente e consequente, completamente apropriado das ações que desenvolve. Resta saber, à luz de que referenciais serão interpretados esses fatos, essas ações. Se for certo que a teoria sem a prática tem pouca serventia, é igualmente fato que somente a prática, mecanicamente desenvolvida, também não é suficiente para elucidar determinadas questões. A reflexão se opera sobre fatos; não é possível analisar o que não acontece, em se tratando de reflexão sobre a prática. O questionamento faz parte do processo de reflexão, e deve ser direcionado ao que se quer conhecer. Esse objeto do conhecimento é que será questionado, para que se percebam suas possibilidades e também os seus limites. Para que se obtenham elementos que favoreçam estes questionamentos, é preciso pesquisar sempre. Pode-se concluir, portanto, que o processo de reflexão está fortemente relacionado à prática da pesquisa. É através da pesquisa que se descobre o que não se conhecia. Assim, a pesquisa, além de mediar a aprendizagem, concorre para a construção da autonomia do sujeito que dela se serve para efetuar suas interpretações. Quando o que sedescobre através da pesquisa torna-se parâmetro para a análise dos fatos, passa-se a re-elaborar conhecimentos cuja origem se verifica exatamente no fato analisado. O que ocorre é um processo de reconstrução do conhecimento, no lugar de sua mera reprodução. O professor reveste-se então do papel de partícipe da construção do conhecimento, abandonando posições dogmáticas de transmissor desse conhecimento, ao mesmo tempo em que, consciente de sua prática, pode discernir entre as possíveis decisões a serem tomadas, em situações de aprendizagem, aquelas que mais favorecerão o desenvolvimento de seus alunos. Ao se falar em identidade profissional, pensa-se imediatamente nos atributos de cada profissão, ou seja, o que faz com que um profissional de determinada área não seja confundido com outro. Não é difícil imaginar a diferença entre um médico e um dentista, ou entre um pediatra e um geriatra. Cada um dos profissionais a que nos referimos desenvolveu competências e habilidades decorrentes de conhecimentos especializados que particularizam sua atuação profissional, impedindo-nos de confundir um com o outro. Estes conhecimentos são adquiridos ao longo de um processo formativo, em alguma instituição universitária, ou não, no final do qual, ocorre uma certificação. Ser possuidor de um diploma pode, portanto, significar o pertencimento a um grupo fechado, do qual não fazem parte aqueles que não possuem determinado diploma. Apesar de a formação profissional incluir uma consistente base teórica, é a prática que vai determinar a qualidade da atuação dos profissionais, o que só pode ser aferido por seus pares. Esses pares, por sua vez, devem deter um aporte de conhecimento que lhes permita avaliar as decisões tomadas por colegas diante de variadas situações de trabalho, para verificar se ele escolheu entre as possíveis, a melhor alternativa para a resolução dos problemas. Estes conhecimentos, dos quais os profissionais são detentores, para avaliar a ação dos colegas devem ter mais um caráter técnico do que ético, ou seja, são os conhecimentos necessários à profissionalização, ao exercício da profissão. Naturalmente, uma vez formado o profissional, será impossível que ele tenha respostas prontas paratodas as situações que deverá enfrentar ao longo de sua carreira. Não só porque nenhuma formação dá conta desta previsão, mas também porque os conhecimentos ficam obsoletos, sobrepondo-se à medida que as descobertas se multiplicam. Nesse sentido, é preciso que qualquer profissional, da área que for, permaneça em constante atualização, o que ocorre pela chamada formação continuada, conforme já se verificou. Nos últimos vinte anos, inúmeras discussões têm envolvido esse tema, em relação ao professor. Até então, não parece que haja uma identidade profissional docente. Embora haja, hoje, uma busca incessante dos saberes que particularizem o professor enquanto profissional, o magistério ainda aproxima-se mais de uma ocupação, de um ofício, do que de uma profissão. O conhecimento particular a cada profissão sempre foi concebido como um instrumental suficiente para dar conta eficazmente dos problemas enfrentados pelos profissionais de cada área, o que transformava estes profissionais em peritos. Entretanto, esta racionalidade apresentou limitações, quando foi submetida a processos reflexivos. Passaram a fazer parte desse conhecimento, então, não somente o aporte técnico e ético, mas também a improvisação, a criatividade, a intuição e até mesmo o senso comum. O conhecimento passou a ser construído a partir de situações vivenciadas pelos profissionais. Esse novo quadro levou a um questionamento dos fundamentos epistemológicos de como se constrói a prática profissional. O debate sobre o tema acirrou-se, à medida que surgiram diversas correntes de pensamento que, por não disporem de referenciais comuns, dificilmente estabelecem um diálogo entre si. A impressão que tem restado desta situação, para o leigo, é a de que algumas profissões não detêm saberes consensualmente estáveis. Torna-se, evidente então, que esta profissionalização requer umarenovação dos fundamentos epistemológicos do ofício de professor, uma profunda reflexão sobre as competências (saber); habilidades (saber fazer) e atitudes (saber ser), enfim, sobre os conhecimentos envolvidos na prática cotidiana dos profissionais, através da pesquisa, entre o que os próprios professores revelam a esse respeito. É na situação de ensino que o professor mobiliza os saberes. Estes saberes, obviamente não devem ser confundidos com o aporte teórico obtido através da formação universitária, posto que a atividade docente constitui-se em mais do que a mera transmissão do que o professor obteve em sua formação. Esse aporte teórico, é permanentemente transformado, adaptado, filtrado, na atividade docente. Assim sendo, o laboratório de pesquisa para a identificação dos saberes profissionais mobilizadores da função docente é a própria sala de aula. A partir dali é que se pode compor um repertório de conhecimentos necessários para a formação dos professores. Os saberes dos professores são reconhecidos como temporais porque o que os professores sabem sobre o papel do professor, sobre o ensino e sobre como ensinar, tem origem em sua experiência pessoal, como aluno. Essas representações são preservadas mesmo após a formação inicial. Os mecanismos que lhe são familiares são os de que se valem os professores para resolver problemas na sala da aula. Os primeiros anos do magistério são decisivos para a composição da rotina de trabalho do professor que segue trabalhando por tentativa e erro. Logo o docente elabora seu rol de certezas e truques, edificando um saber experiencial. Esse saber que acompanha o professor por toda a sua carreira, incorpora também os comportamentos aceitos nas instituições de ensino às quais deve se adaptar. Ao professor não interessa a coerência da prática, mas a dar conta das diversas demandas presentes na sala de aula. Outra característica do trabalho docente que o torna plural e heterogêneo, diz respeito ao fato de que ao atuar, o professor tenta atingir muitos objetivos: motivar a classe, dar explicações, organizar e acompanhar o desenvolvimento das atividades por todos e individualmente, promover a compreensão e a aprendizagem, adaptar o currículo a cada turma, estabelecer regras sociais a partir de um processo interativo, controlar a disciplina, etc. Para tanto, é necessária a mobilização de um vastíssimo aporte de saberes e de habilidades que encontram uma unidade, assim como as ferramentas de um artesão: servem todas ao mesmo fim. Os saberes dos professores são ainda considerados personalizados e situados. São personalizados, porque nas profissões que incluem a interação humana, a personalidade do profissional é definitiva, na construção das relações de trabalho. Contam muito mais os talentos e habilidades pessoais do que qualquer tecnologia ou conhecimento objetivo que a ciência possa disponibilizar. São situados porque só fazem sentido nas situações de aprendizagem. São diferentes do repertório adquirido na universidade, pois não são meramente transmitidos, são inteligíveis somente em um contexto específico. O envolvimento do ser humano também acrescenta particularidades aos saberes dos professores. Embora os seres humanos pertençam a grupos diferenciados, o professor tenta atingi-los em sua individualidade. Para isso, deve estar atento ao processo de aprendizagem desenvolvido individualmente, por todos os seus alunos. Trata-se ainda do saber mais fragilizado entre os docentes, pois grande parte dos professores não consegue se desvencilhar das expectativas que nutriu para si mesmo, para admitir novas expectativas relativas aos alunos. Para conhecer os alunos individualmente é preciso sensibilidade e discernimento, pois não é possível tentar submetê-los a classificações pré-existentes ditadas por teorias da aprendizagem, por exemplo. Essa sensibilidade referente às diferenças individuais entre os alunos só pode ser desenvolvida a partir de uma enorme disposição para rever constantemente o conjunto de saberes oriundos da própria experiência. Outra decorrência não menos importante do envolvimento do ser humano no trabalho docente é o fato de que o saber docente inclui componentes éticos e emocionais. A rotina em sala de aula e a forma como o professor procura ensinar promovem revelações sobre seus valores. A ação dos professores é cercada da reação dos alunos, por isso, a relação de poder existente ali se evidencia, bem como as consequências do uso indevido desse poder. Essa questão é agravada pelo fato de que é possível manter os alunos fisicamente presos na sala de aula, mas não é possível obrigá-los a aprender. A aprendizagem será decorrente da motivação, e esta só será conseguida através do emprego de sedução, persuasão, retórica, autoritarismo, recompensas ou punições, por exemplo. Assim, o professor tem constantemente a oportunidade de conhecer-se, e a seus métodos, conferindo- lhes consistência ética. Já se constatou, por exemplo, que grande parcela dos professores tem dificuldade para se dirigir a certas categorias de alunos, o que caracteriza certa negligência. Esses saberes não são levados em conta no modelo aplicacionista de formação docente, em vigor nas universidades. Trata-se de um modelo que privilegia o acesso dos alunos a diversas disciplinas para posterior aplicação das mesmas, durante as aulas ou durante os estágios. Este modelo tem sido institucionalmente perpetuado em função da manutenção das práticas e carreiras universitárias que se estendem por três ramos distintos: pesquisa, formação e prática. A produção de conhecimentos, a formação com base nos conhecimentos produzidos e a mobilização desses conhecimentos para a ação são tratadas isoladamente. Pesquisadores enveredam por cursos de pós-graduação para formar novos pesquisadores e não formadores de professores de educação básica. Além disso, o modelo aplicacionista ainda embute mais dois problemas. O primeiro diz respeito à substituição de uma lógica profissional voltada para o trabalho do professor, por uma lógica disciplinar fragmentária e descolada da realidade a ser enfrentada pelos docentes. As disciplinas que compõem o currículo não dialogam, encerrando-se em seus próprios dogmas. O segundo se refere ao fato dos alunos dos cursos de formação para o magistério formarem suas representações sobre o ensino de acordo com suas experiências anteriores, completamente desconsideradas, mesmo sabendo-se que cadaum imprimirá uma interpretação do que está oferecendo, à luz dessas experiências cognitivas, sociais e afetivas. Esta consideração torna-se muito importante à medida que já se constatou que a formação inicial sequer abala as convicções dos futuros professores a respeito da profissão. Vale dizer que os professores iniciam- se na profissão somente através da prática. De vinte anos para cá, quando se passou à revisão dos fundamentos epistemológicos da profissão docente, surgiram campos de trabalho diferenciados para as universidades. O primeiro deles envolve a elaboração de um repertório de conhecimentos baseado na pesquisa de saberes dos quais os professores são detentores e na descoberta de como esses saberes são mobilizados para a ação, no trabalho diário dos professores. O segundo, diz respeito à aproximação entre os professores universitários e os centros de formação em serviço, em que se discute efetivamente a prática. Importa sobremaneira que os professores participem de comissões que elaborem e avaliem programas de formação. O terceiro, ainda utópico, para Tardif (2000), refere-se à transferência do locus formativo dos professores para as escolas. Não se trata de extinguir as disciplinas que concorrem para a formação docente, mas de reaproveitá-las, impedindo, por exemplo, a fragmentaçãodos saberes. Seriam necessárias equipes multidisciplinares que acompanhassem o desenvolvimento dos alunos durante toda a sua formação. O quarto campo envolve a reflexão também por parte dos professores universitários sobre a sua prática, para que a teoria não seja boa somente para o outro, ou que se faça aquilo que se apregoa. O conceito de autonomia profissional do ofício docente, não é um conceito fácil de construir. O conceito de autonomia opõe-se ao de heteronomia, e diz respeito à faculdade de autogoverno, ou seja, à condução de si mesmo, com independência moral ou intelectual. Aplicado à docência, deve ser relativizado, pois a concepção da profissão docente não é singular. Como já se observou, além do exercício da atividade formativa, há ainda a possibilidade dos profissionais se dedicarem à pesquisa. Interessa-nos, entretanto, o professor que se dedica ao trabalho educativo. Se o ensino envolve uma prática social, que se realiza também pela interferência dos diversos contextos em que ocorre, é preciso considerar como os docentes compreendem este entorno, pois é desta compreensão que acabam por surgir diferenciados perfis de professor. Vale dizer que há formas diferentes de entender o trabalho de ensinar de onde procedem os valores educativos, e os compromissos morais; a relação existente entre a prática pedagógica e suas finalidades; as vinculações entre a prática e as exigências e condições de seu contexto social. Computadas essas interferências, sobre a prática docente, é possível diferenciar ao menos três perfis de professor: o especialista técnico, o profissional reflexivo e o intelectual crítico. Para cada uma destas concepções há um entendimento diferente das competências exigidas pela prática, bem como uma compreensão distinta do que seja a autonomia. Para o especialista técnico, cuja prática profissional consiste basicamente na solução instrumental de problemas, mediante a aplicação de um conhecimento teórico e técnico, previamente disponível, que procede da pesquisa científica, pressupõe-se a existência de recursos que dispensam as elaborações do professor nos processos de tomada de decisão. Para o profissional que detém este perfil, a autonomia não passa de uma ilusão, já que os problemas a serem enfrentados pelos docentes lhe são apresentados como previsíveis, havendo, para cada qual, uma solução. Esta concepção desconsidera dilemas e incertezas. Trata-se de uma tendência reducionista que dispensa a intervenção criativa do professor. A concepção de autonomia limita-a a de uma concessão, ou seja, a "liberdade" é concedida - ou imposta - para que o professor aplique tão somente soluções encontradas por outrem. Na contrapartida, situa-se o profissional reflexivo, para quem as regras técnicas e os cálculos não são suficientes para dar conta da diversidade de situações com que se deparam os docentes em suas rotinas. Entendendo que a "prática cotidiana está normalmente assentada em um conhecimento tácito, implícito, sobre o qual não exercemos um controle específico e que utilizamos esse conhecimento rotineiramente, mesmo que isso não ocorra conscientemente, o profissional reflexivo reconhece que o conhecimento, não é um dado anterior à ação, mas como inerente a ela. E é sobre esta mesma ação que ele se propõe a refletir, para reconduzi-la mais adequadamente. O acúmulo do enfrentamento de problemas idênticos, somado à criação de novas ações para a resolução de problemas inéditos habilitam o profissional reflexivo. O professor é o pesquisador da própria ação podendo fazer, deste seu trabalho, emergir novas teorias. Em se tratando deste perfil profissional, fica evidente que, se no processo educativo as situações são particulares e exigem para cada uma a sua resposta exclusiva, é impossível que instâncias alheias determinem o que deve ser realizado. Ao mesmo tempo, não se pode ignorar que a educação desenvolve-se em um contexto social, do qual a comunidade participa com anseios e expectativas relacionadas ao tema, que coincidem ou não com os dos professores. Daí a necessidade do estabelecimento de um diálogo social e público, para que se conciliem as perspectivas para a função da escola e os valores existentes socialmente. O profissional reflexivo, não inclui, em sua prática, a perspectiva de transformação da realidade plena de desigualdade e injustiça; só considera as exigências institucionais e sociais. Assim, a concepção de autonomia envolve principalmente responsabilidade moral individual e equilíbrio entre a independência de juízo e a responsabilidade social. O professor que detém o perfil de intelectual crítico relaciona-se com a ideia de autoridade emancipadora. Sua missão transcende a promoção da aprendizagem; pretende também empreender uma luta coletiva por liberdade, igualdade e democracia. Seu compromisso prevê a inclusão de um saber crítico e de uma atuação mobilizadora que vise a uma transformação social. Para tanto, é imprescindível "o desenvolvimento de uma linguagem que identifique as injustiças sociais e uma linguagem da imaginação que auxilie a considerar aqueles aspectos da vida pública que apresentam possibilidades não realizadas. Para atuar, deve estabelecer, ainda, parcerias, sobretudo com a comunidade a cujos valores deve permanecer sensível, evitando o corporativismo, muitas vezes confundido com profissionalismo. Em luta contra os mecanismos opressores da sociedade, os professores devem efetuar opções no plano social, político e moral, o que os impossibilitará de agir fora de suas salas de aula. Para o professor, intelectual crítico, a autonomia é entendida como um processo de construção da emancipação coletiva, possibilitada pela consciência crítica e pela linguagem, através das quais se superam as distorções ideológicas, assumindo-se responsabilidade pela transformação das condições institucionais e sociais. Esta tentativa de simplificar o conceito de autonomia, relativizando-a e relacionando-a a diferentes perfis docentes, não deve desprezar o valor da reflexão crítica. Refletir criticamente significa colocar-se no contexto de uma ação, na história da situação, participar de uma atividade social e assumir um posicionamento diante dos problemas. Isto inclui a crítica das estruturas institucionais, os limites que elas impõem à prática docente, e a consequente compreensão dos valores e significados ideológicos subjacentes, a fim de construir um papel profissional específico que objetive não só a libertação pela educação, mas também a transformação das condições de trabalho e das práticas educativas e sociais. Ainda que a força desta busca consolide-se na união de grupos possuidores de um ideal coletivo, o que pode parecer impossível, é preciso levar em conta todo conhecimento encontrado em construção, acumulando inclusive, os interesses de diversos grupos, o que se tem chamado de mito repressivo. Estas considerações não devem ser compreendidas como um cerceamento à possibilidade da construção de um conceito universal de autonomia. Ao contrário, é preciso entender a autonomia, como resultado de emancipação, decorrente de um exercício que se desenvolve reflexivamente por meio das relações sociais baseadas no diálogo, na negociação e no equilíbrio de posições. Se é papel das instituições democráticas propor a cultura que desejam ensinada, igualmente é papel do professor permanecer sensível às demandas sociais, para interferir no estabelecimento dessa mesma cultura. Nesse sentido, ainda concorrem, para a construção da autonomia, a consciência da própria insuficiência como facilitadora da convivência com os outros. O modelo neoliberal tem proclamado que cabe às escolas a responsabilidade pela mudança qualitativa, na oferta de ensino, adotando como princípiosa autonomia e a descentralização. A atividade do professor foi ampliada para além da sala de aula, o que teoricamente pode significar maior poder para interferir. Mesmo sem deter os meios necessários para desempenhar esse novo papel, já que as condições de trabalho permanecem as mesmas, essa nova situação acaba por lhe conferir maiores responsabilidades educativas. Trata-se de imputar "culpa" a quem de fato é vítima. Daí é possível concluir que a autonomia reservada às escolas não é política; diz somente respeito à gestão, e que aos profissionais da educação foi conferida, na verdade, a denominada liberdade negativa. A partir do momento em que é a escola a encarregada da construção de seu projeto político- pedagógico. Ele deve debruçar-se sobre sua realidade, retomando suas funções estabelecendo seus caminhos, perpetuando um fórum que conte "com maior lucidez por parte dos professores para interpretar os sinais das políticas e das práticas geradas nas escolas para assim avaliar e conduzir tais práticas em direções mais educativas e mais justas". Outro paradoxo que pode favorecer a escola coloca-a em situação de grande vulnerabilidade aos conflitos sociais que ao eclodirem, minam a moral de quem nela convive. Para resistir a mais essa pressão, é recomendável a auto-avaliação como experiência de aprendizado da própria escola sobre sua realidade. "Uma vez públicos os debates sobre os problemas enfrentados pela escola, torna-se possível um processo de aprendizagem social através da participação da comunidade no enfrentamento de problemas referentes ao ensino e aos propósitos da educação". Assim, é importante ressaltar que a autonomia pode ser conquistada, já que "não consiste em isolamento ou abandono dos professores ou das escolas à própria sorte, mas na concepção das relações entre professores e sociedade sob outras bases (as da constituição comunitária), de forma que os vínculos não sejam de natureza burocrática nem mercadológica, mas política e pessoal. SELEÇÃO E INGRESSO DE DOCENTES: NÍVEL DE FORMAÇÃO 7.1Sistema de Ingresso O ingresso de profissionais na carreira do magistério ocorre de maneira distinta nas instituições públicas e privadas. Contudo, a garantia da qualidade nos processos seletivos para a contratação de novos profissionais deve estar pautada pela exigências estabelecidas na Constituição Federal, na Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional, no Plano Nacional de Educação e outras leis que regem a contratação de pessoal para o serviço público. Nas instituições públicas, nos três níveis, o processo seletivo para a educação infantil, básica e superior, se dá por meio de concurso público. Nesta modalidade, depois de um estágio probatório, o profissional efetivo passa a ter estabilidade, com a garantia de não ser demitido, senão por processo administrativo. Nas Instituições Federais de Ensino Superior – IFES e demais Instituições de Ensino Superior - IES públicas, a contratação está regulamentada pela Constituição Federal, em seu Capítulo VII que trata da Administração Pública. No Artigo 37 Item II, ficou definido que “a investidura em cargo ou emprego publico depende de aprovação prévia em concurso público, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração” (CF, 2005, p.16). A Câmara de Educação Básica, do Conselho Nacional de Educação - CNE, por meio da Resolução nº 3, de 1997, fixou as Diretrizes para os Novos Planos de Carreira e de Remuneração para o Magistério dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. No artigo 3º, ficou estabelecido que o ingresso na carreira do magistério público se dará por concurso público de provas e títulos. Portanto, não há ingresso de professores para o quadro efetivo sem o rito de passagem pelo concurso público, depois de amplamente divulgado pela imprensa e órgãos oficiais do governo. Entretanto, nos últimos anos muitas têm sido as contratações de professores Substitutos, ou Admitidos em Caráter Temporário, os ACTs, normalmente utilizado pelos estados e municípios. Estes professores, também qualificados de não efetivos, são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, contratados por um ou dois anos, e não adquirem vínculo empregatício e nem estabilidade no emprego. No que diz respeito à progressão nas carreiras do Magistério Público Federal, o artigo 16 do Decreto nº 94.664, de 1987, estabelece que ela somente poderá ocorrer por titulação ou desempenho. Por meio da titulação, quando o docente obtiver título de Mestre ou de Doutor, e por desempenho, quando o resultado da avaliação, realizado pela instituição, for favorável a mudança de nível. Na iniciativa privada, em algumas instituições de maior representatividade e notoriedade, o sistema de ingresso se assemelha ao das instituições públicas, contudo, na grande maioria dos casos, ocorre de maneira informal. O profissional, muitas vezes indicado, passa por processo seletivo simplificado, como entrevista e análise de currículo. Neste processo, é levada em conta a experiência profissional anterior. Nesta área, a rotatividade de profissionais normalmente é grande, não há garantias de emprego e a grande maioria dos docentes possui mais de um emprego para equilibrar salários. Os salários, normalmente de baixo poder aquisitivo, têm sido a causa principal da alta taxa de evasão e exonerações desse tipo de profissional tanto nas escolas públicas quanto privadas, notadamente na educação básica. Nas regiões mais pobres esta é uma realidade secular crônica. Todavia, as regiões mais desenvolvidas também sofrem com o problema da rotatividade, apontado como um dos fatores responsáveis pela descontinuidade pedagógica que compromete a qualidade do ensino. Estudos de Lapo e Bueno (2005) demonstram que em São Paulo, no período compreendido entre 1990 e 1995, houve um aumento de 299% nos pedidos de exoneração, enquanto a média anual está na ordem de 43%, o que confirma a existência crescente da evasão de professores na rede estadual. Aos baixos salários somam-se outros fatores importantes como as péssimas condições de trabalho e a falta de perspectivas de crescimento profissional. A renúncia de uma atividade tão importante para a formação do cidadão, conforme os autores, não pode ser entendida como uma simples desistência de algo, mas o desfechar de um processo para o qual concorrem insatisfações, fadigas, descuidos e desprezos com o projeto abandonado. Significa, a anulação das obrigações assumidas com a instituição escolar. Nível de Formação: Graduação, Mestrado e Doutorado A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, ao se referir aos profissionais da educação, em seu artigo 62 estabelece que, a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, comoformação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Este artigo, de acordo com Rezende Martins (2003), estabelece uma regra geral: a de que os docentes de todos os níveis escolares devem ter formação superior, a exceção feita a formação Nível Médio, está em função da realidade observada nas diversas regiões. A manutenção desta modalidade foi importante e é estratégica, sobretudo, pelas dimensões do País, pela impossibilidade de os governos municipais, estaduais e federal, e até mesmo da iniciativa privada, promoverem a interiorização da educação. Contudo, desaparecem da legislação as formações previstas na Lei nº 5.692/71, ou seja, os cursos de estudos adicionais e/ou de licenciatura curta. Desta maneira, a Resolução nº 3, de 1997,em seu artigo 4º, reafirma os princípios da LDB, exigindo como qualificação mínima para o exercício da docência na carreira de magistério: I – ensino médio completo, na modalidade normal, para a docência na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental; II – ensino superior em curso de licenciatura, de graduação plena, com mhabilitações específicas em área própria, para a docência nas séries finais do ensino fundamental e no ensino médio; e III – formação superior em área correspondente e complementação nos termos da legislação vigente, para a docência em áreas específicas das séries finais do ensino fundamental e do ensino médio. No artigo 64 da LDB, que trata da formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, ficou definido que será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. Quanto a formação do professor para atuar no magistério superior, o artigo 66 é muito claro, ela dar-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado. Graduação No que se refere a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da educação básica em nível superior, a Resolução CNE/CP 02/2002, define em seu artigo 1º, que a carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante a integralização de, no mínimo, 2800 (duas mil e oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos componentes comuns: I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso; II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico-cultural; IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais. Parágrafo único. Os alunos que exerçam atividade docente regular na educação básica poderão ter redução da carga horária do estágio curricular supervisionado até o máximo de 200 (duzentas) horas. Art. 2° A duração da carga horária prevista no Art. 1º desta Resolução, obedecidos os 200 (duzentos) dias letivos/ano dispostos na LDB, será integralizada em, no mínimo, 3 (três) anos letivos. Os professores das quatro últimas séries da educação fundamental (5ª a 8ª série) e ensino médio serão formados em cursos de licenciatura plena em Letras, Matemática, Física, Química, Biologia, História, Geografia, Filosofia, Ciências Sociais e Psicologia. Os professores das disciplinas especializadas do ensino técnico terão a formação superior especializada, complementada pela formação pedagógica. Pós-Graduação O sistema de pós-graduação brasileiro está dividido em lato sensu e stricto sensu, e visa atender aos milhares de profissionais liberais, professores e estudantes que concluíram algum tipo de curso superior, e que desejam complementar seus conhecimentos ou formação acadêmica, para atividades de pesquisa e a docência. A exigência e preferência do mercado de trabalho por especialistas têm contribuído significativamente para o incremento deste nível de ensino, especialmente a lato sensu. No campo educacional, com a expansão das Instituições de ensino superior privadas, e com a exigência da qualificação do corpo docente na pós- graduação como critério na Avaliação Institucional e como referencial de qualidade da educação, os programas stricto sensu vêm se tornando uma necessidade competitiva para os profissionais que atuam na área. a) Lato Sensu Os cursos de pós-graduação lato sensu com duração mínima de 360 horas, geralmente têm um formato semelhante ao dos cursos tradicionais, com aulas, seminários e conferências, ao lado de trabalhos de pesquisa sobre os temas concernentes ao curso. O critério de seleção para o ingresso no curso de pós-graduação lato sensu é definido de forma independente em cada instituição, sendo geralmente composta de uma avaliação e de uma entrevista, no qual a única exigência formal a ser cumprida pelo interessado se refere à posse de um diploma de nível superior (MEC, 2005). b) Stricto Sensu Os cursos de Stricto Sensu são direcionados para a continuidade da formação científica e acadêmica, como mestrado e doutorado, de alunos com nível superior. O curso de mestrado tem a duração de até 24 meses, período no qual o aluno desenvolve a dissertação e cursa as disciplinas coerentes à sua pesquisa. No doutorado, com duração de até 48 meses, o aluno deve cumprir um número mínimo de disciplinas, estipulado em cada programa, além da elaboração de uma tese (MEC/INEP, 2005). Programa de Capacitação de Professores O pressuposto de que Investir na formação do professor e na sua atualização pode ser um fator determinante na melhoria da qualidade da educação, tem incentivado o governo brasileiro a investir nessa área com maior intensidade nos últimos anos. Hoje, milhares de docentes atuam na rede pública sem atender a exigência de formação prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. Objetivando mudar esta realidade, o MEC, tendo como suporte as probabilidades de ocorrência e exigências do Plano Nacional de Educação – PNE, está implantando um sistema de formação de professores da rede pública que tem por base duas novas modalidades, a serem iniciados já no segundo semestre de 2005: o Pró-Licenciatura e o Pró-Letramento. Estes cursos de formação deverão obedecer, em quaisquer de seus níveis e modalidades, aos seguintes princípios estabelecidos pelo PNE: a) sólida formação teórica nos conteúdos específicos a serem ensinados na Educação Básica, bem como nos conteúdos especificamente pedagógicos; b) ampla formação cultural; c) atividade docente como foco formativo; d) contato com a realidade escolar desde o início até o final do curso, integrando a teoria à prática pedagógica; e) pesquisa como princípio formativo; f) domínio das novas tecnologias de comunicação e da informação e capacidade para integrá- las à prática do magistério; g) análise dos temas atuais da sociedade, da cultura e da economia; h) inclusão das questões relativas à educação dos alunos com necessidades especiais e das questões de gênero e de etnia nos programas de formação; i) trabalho coletivo interdisciplinar; j) vivência, durante o curso, de formas de gestão democrática do ensino; k) desenvolvimento do compromisso social e político do magistério; e l) conhecimento e aplicação das diretrizes curriculares nacionais dos níveis e modalidades da educação básica (PNE, 2001). O programa de capacitação de professores, é uma iniciativa que promete mudar o perfil educacional brasileiro. Na opinião de Willian Campos, representante do MEC, o Brasil ainda tem um problema muito grande com a formação de seus professores. Dos 345.341 que atuam na Educação Infantil, 66,7% não têm curso superior. Da 1ª a 4ª séries do ensino fundamental, o Brasil tem 811.112 professores. Deste total, 62,1% não têm curso superior. Da 5ª a 8ª série, o Brasil tem 823.485 professores, dos quais 22,7% não têm curso superior. No ensino médio, são 488.376 professores, destes 9,8% não têm graduação (CAMPOS, 2005). Com o Pró-Licenciatura, o MEC pagará, de forma inédita, cursos superiores para milhares de professores que não possuem licenciatura e atuam nas séries finais do ensino fundamental e no ensino médio sem a devidaformação exigida pela LDB. Serão R$ 270 milhões investidos em três anos com esse fim. O Projeto de Lei que cria o Programa prevê bolsa de estudos, no valor aproximado de R$ 800,00 (oitocentos reais) anuais, aos docentes que participarem da formação, inicialmente previsto para iniciar com 20 mil vagas. O Pró-Letramento fará uma atualização de conteúdo nas disciplinas de Português e Matemática para professores que lecionam nas séries iniciais do ensino fundamental. Dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – SAEB, revelam que estas são as disciplinas nas quais as crianças brasileiras têm apresentado baixo desempenho escolar. Até o segundo semestre de 2007, cerca de 400 mil docentes serão formados, com investimento na ordem de R$ 80 milhões. Ainda, dentro das metas do Governo Federal, pode-se destacar dois outros Programas instituídos: o Pro Infantil e o Pro Formação. O Pro Infantil – é destinado a formação inicial de professores da educação infantil em magistério, nível médio. O curso combina educação a distância e encontros presenciais. A previsão é de que as primeiras turmas iniciem no início do segundo semestre de 2005, com a perspectiva de formar sete mil professores nos estados de Sergipe, Goiás, Rondônia, Minas Gerais e Ceará. A meta é ampliar o Programa para todo o País a partir de 2006. Formação Docente para Atuar na Educação Básica Níveis de formação Outra norma estabelece que “A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior”11. E, em decorrência disto, meta ambiciosa estipula que, após a Década da Educação, iniciada nos últimos dias de 1997, “somente serão admitidos (na educação básica) professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em ser-É a primeira vez que nossa legislação contempla tal dispositivo. Difícil de se concretizar, mas vale pela intenção e por se constituir fonte de legitimação para os movimentos de reivindicação. Frente a esse prazo, e transitoriamente, é “admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal13”. Local de Formação Docente No ensino superior: Universidades e Institutos Superiores de Educação – locais próprios para a formação de docentes e especialistas para a educação básica – a Nova LDB nomeia os seguintes cursos, admitindo, no nível médio, como formação mínima, a modalidade normal, conforme quadro a seguir. Nos subtítulos seguintes serão feitas algumas considerações sobre esses cursos e programas. Nova LDB – Nível Superior – Cursos e Programas Cursos e Programas Base Legal Curso de licenciatura, de graduação plena art. 62 Cursos formadores de profissionais p/ a educação básica art. 63, I Curso Normal Superior (Educ. Infantil e 1ªs séries) art. 63, I Programas de formação pedagógica (Diplomados E. Sup.) art. 63, II Programas de Educação Continuada art. 63, III Curso de Pedagogia (profissionais de educ. p/ E. Básica) * art. 64 Curso de Pós-graduação (Idem) * art. 64 * A critério da Instituição, garantida a base comum nacional. Nova LDB – Cursos – Nível Médio (admite-se) Cursos (como formação mínima) Base Legal Curso Normal (docente para a educ. infantil e 1ªs séries) art. 62 Além das universidades e institutos superiores de educação, a formação docente poderá se dar também em outras instituições de ensino superior tais como faculdades integradas, faculdades isoladas e centros universitários. O Sistema Federal de Ensino, de acordo com o art. 8º do Decreto n.º 2.306, de 19/08/97, comporta as seguintes instituições de ensino superior, todas com possibilidade de participar, de alguma forma, do processo de formação de profissionais da educação: I – universidades; II – centros universitários; III – faculdades integradas; IV – faculdades e V – institutos superiores ou escolas superiores. A NOVA LEI DE DIRETRIZES E BASES Instituto Superior de Educação Sobressai, dentre as normas legais, o Instituto Superior de Educação (ISE), como o novo locusdestinado pela Nova LDB a manter cursos e programas para a formação de profissionais de educação, inicial e continuada, sobretudo para a educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, devendo desenvolver atividades até hoje limitadas às Faculdades de Educação, Centros de Educação e Institutos de Ensino Superior. A ideia do ISE já antes da aprovação da Nova LDB vinha sendo questionada, principalmente como descaracterizadora das Faculdades de Educação (Aguiar, 1994). A nova legislação aprovada impõe, agora, outra ordem de preocupação, a saber: quais os impactos da lei sobre a realidade atual. E, para tanto, é necessário considerar que o ISE não figurava no Projeto de Lei da Câmara, aprovado no dia 13/05/93,14 nem no Substitutivo do Senador Cid Sabóia, ambos frutos de amplas discussões entre as partes interessadas. No Senado Federal, com Darcy Ribeiro, articulado com o MEC, é que os ISEs passam a integrar nova proposta da LDB,16 finalmente convertida na Lei 9.394/96. Os ISEs, integrados ou não às universidades, passam a ser a principal instituição destinada à formação inicial e continuada dos profissionais da educação. Para boa parte das Universidades e Instituições de Ensino Superior, privadas, não haverá muito problema a ser resolvido, se o critério for, como costuma ser, o da lógica do capital e do lucro. Já nas Universidades e Instituições públicas, e nas particulares voltadas para as reais finalidades da educação e do ensino, muitos serão os problemas por resolver, gerados por conflitos entre as estruturas existentes e as que se pretende inovar. Os efeitos positivos e negativos, numa visão progressista de educação, só o futuro poderá mostrar. A solução deve ser própria de cada locus. Seminários, Congressos, Encontros, Comissões Oficiais, etc – geradores de significativas discussões, reflexões e propostas – podem propiciar importantes subsídios e orientações para as decisões a serem tomadas. As modalidades de cursos e programas listados no quadro acima, combinadas com as possibilidades institucionais (Universidades, ISEs e mesmo Centros Universitários), permitem várias direções para a formação docente. GATTI (1998) propõe as seguintes configurações básicas, que possibilitam outros arranjos: 1. manutenção das atuais licenciaturas plenas e do curso de graduação em pedagogia, respondendo este pela formação inicial de professores e especialistas. Nesta hipótese, o curso normal superior e os programas de formação pedagógica não são implementados ou o são em formato à parte; 2. implementação do ISE com todas as funções previstas na Nova LDB; devendo as licenciaturas ser repensadas no novo contexto, seja o ISE vinculado ou não à Universidade. O curso de graduação em pedagogia, destinado à formação de especialistas, passa a integrar o ISE. Embora seja uma instituição que teve a marca do Regime Militar, o curso de pedagogia criou raízes, formou gerações de professores e especialistas, formou grupos de pesquisadores, está de certa forma ligada a muitos dirigentes de órgãos administrativos e técnicos. Referências Bibliográficas: BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro de 1996. SAVIANI, D. A Nova Lei de Diretrizes e Bases. In: Pro-Posições, Campinas, n. 1, p. 7- 13, mar. 1990. AGUIAR, M.A. Institutos superiores de educação na nova lei de diretrizes e bases da educação nacional. In: BRZEZINSKI, I. (Org.). LDB interpretada : diversos olhares se entrecruzam. São Paulo : Cortez, 1997. p. 159-60. GATTI, B. A. Curso de pedagogia em questão ou a questão da formação dos educadores. São Paulo : Fundação
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