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Autora: Profa. Najla Mahmoud Kamel Colaboradores: Prof. Thiago Macrini Profa. Ronilda Ribeiro Psicologia Aplicada à Estética Professora conteudista: Najla Mahmoud Kamel Najla Mahmoud Kamel Graduada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e em Psicologia pela Universidade Paulista (UNIP). Mestra e doutora em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Especialista em Avaliação do Ensino Superior pela Universidade de Brasília (UnB) e em Ensino a Distância (EaD-UNIP). É coautora do livro Da cultura de provas para a cultura de avaliação e conteudista dos livros-textos Psicologia do Consumidor; Psicologia Econômica e Psicologia Aplicada à Nutrição para o EaD da UNIP. Atualmente, é professora titular da UNIP em São Paulo, ministrando aulas nas disciplinas Psicologia Aplicada à Nutrição, Psicologia do Consumidor, Psicologia Aplicada à Fisioterapia, Psicologia Aplicada à Enfermagem, Psicologia Jurídica, Psicologia Interdisciplinar, Estatística Aplicada, Bioestatística, Direitos Humanos, Pesquisa de Mercado, Responsabilidade Social e Tópicos de Atuação Profissional. Amyr Kamel e Silva (Ilustração) Graduado em Design Gráfico pela Universidade Paulista (UNIP-SP). Habilitado em Design de Animação e Games pela Escola Panamericana de Arte e Design. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) K15p KameL, Najla Mahmoud. Psicologia Aplicada à Estética / Najla Mahmoud Kamel - São Paulo: Editora Sol, 2020. 128 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Consumo. 2. Transtornos alimentares. 3. Doenças. I. Título. CDU 159.9:613.49 U504.38 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Lucas Ricardi Vitor Andrade Sumário Psicologia Aplicada à Estética APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 A PSICOLOGIA ......................................................................................................................................................9 1.1 História da psicologia ............................................................................................................................9 2 AS TEORIAS PSICOLÓGICAS ........................................................................................................................ 12 2.1 Freud e a psicanálise ........................................................................................................................... 12 2.2 Skinner e o behaviorismo .................................................................................................................. 15 2.3 Gestalt ....................................................................................................................................................... 19 3 A PSICOLOGIA SOCIAL ................................................................................................................................... 23 4 A PSICOLOGIA DO CONSUMIDOR ............................................................................................................ 28 4.1 As necessidades e os desejos dos consumidores ..................................................................... 30 4.2 As razões de compra de um produto ou de um serviço ....................................................... 31 4.3 O modelo de memória de armazenamento múltiplo ............................................................ 33 4.4 Meios para facilitar a aprendizagem e o processo de informação .................................. 34 4.5 O estudo das atitudes e da motivação ........................................................................................ 35 4.6 A segmentação dos consumidores ................................................................................................ 43 4.7 A pesquisa de mercado e o consumo .......................................................................................... 44 4.8 O papel da informação no comportamento de consumo ................................................... 45 4.9 As compras por impulso e o consumo virtual .......................................................................... 47 Unidade II 5 PERSONALIDADE E A PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA ............................................................. 56 5.1 Personalidade: conceito e importância ....................................................................................... 56 5.2 Psicologia aplicada à estética.......................................................................................................... 60 6 TRANSTORNOS ALIMENTARES ................................................................................................................... 66 6.1 Anorexia nervosa .................................................................................................................................. 68 6.2 Bulimia ...................................................................................................................................................... 71 6.3 Comer compulsivo ............................................................................................................................... 72 6.4 Ortorexia .................................................................................................................................................. 73 6.5 Drunkorexia ............................................................................................................................................ 73 6.6 Obesidade ................................................................................................................................................ 73 7 DESENVOLVIMENTO FÍSICO, MOTOR, EMOCIONAL, SOCIAL E INTELECTUAL ........................... 79 7.1 Desenvolvimento físico-motor da criança de 0 a 2 anos .................................................... 79 7.2 Desenvolvimento físico-motor da criança de 2 a 6 anos .................................................... 81 7.3 Desenvolvimento físico-motor da criança de 6 aos 12 anos ............................................. 82 7.4 Desenvolvimento físico-motor do adolescente ....................................................................... 83 7.5 Desenvolvimento do jovem adulto ............................................................................................... 85 7.6 Idade adulta ............................................................................................................................................ 86 7.7 Desenvolvimento da terceira idade: físico, cognitivo e social ...........................................87 8 SAÚDE E DOENÇA: ESTRESSE E DEPRESSÃO ....................................................................................... 89 8.1 O estresse ................................................................................................................................................. 89 8.2 A depressão ............................................................................................................................................. 97 7 APRESENTAÇÃO O objetivo geral desta disciplina é fornecer aos alunos bases de conhecimento da psicologia enquanto ciência e sua aplicação na vida e na estética. Neste livro-texto, apresentaremos um breve panorama de como a psicologia se desenvolveu como ciência, seus objetos de estudo, seus métodos e suas técnicas. Também será identificada a importância da psicologia do comportamento, da psicologia social e da psicologia do consumidor. Faremos uma descrição do conceito de personalidade e da importância da psicologia e da estética, levando em consideração o significado do “belo” e a importância da autoimagem, da imagem corporal e da autoestima. Apresentaremos os principais transtornos alimentares e descreveremos o desenvolvimento físico, motor, emocional, social e intelectual nas diversas fases da vida do ser humano, assim como o papel do estresse e da depressão na relação saúde versus doença. Inicialmente, mostraremos um breve histórico da psicologia como ciência e sua relação com outras ciências, principalmente aquelas ligadas à estética. Posteriormente, vamos identificar como se forma a personalidade para a obtenção de noções das abordagens teóricas e dos métodos de avaliação. Por fim, será possível compreender o desenvolvimento humano nos aspectos físico, motor, emocional, social e intelectual, além de identificar transtornos de conduta e alimentares. Bom trabalho! INTRODUÇÃO Figura 1 – Narciso 8 A fonte da vaidade [...] Narciso debruçou sobre a fonte para banhar-se e viu, surpreso, uma bela figura que o olhava de dentro da fonte. “Com certeza é algum espírito das águas que habita esta fonte. E como é belo!”, disse admirando os olhos brilhantes, os cabelos anelados como os de Apolo, o rosto oval e o pescoço de marfim do ser. Apaixonou-se pelo aspecto do ser que, de dentro da fonte, retribuía o seu olhar. Não podia mais se conter. Baixou o rosto para beijar o ser, e enfiou os braços na fonte para abraçá-lo. Porém, ao contato de seus braços com a água da fonte, o ser sumiu para voltar depois de alguns instantes, tão belo quanto antes (COSTA, 2018, p. 121). Esta disciplina é importante para as diversas áreas profissionais comprometidas com a utilização de meios estéticos para proporcionar bem-estar para as pessoas. Neste sentido, entender o comportamento do “outro” proporciona maior segurança na tomada de decisões tanto para os profissionais da área da estética quanto para os clientes. O profissional precisa conhecer as necessidades e desejos de seus clientes, sua personalidade e seu estilo de vida, assim como analisar seus aspectos físicos e fisionômicos, para que posteriormente possa ajudá-lo a respeitar e cuidar de sua imagem corporal. Nesse sentido, a psicologia e seus estudos sobre o comportamento humano aparece para auxiliar o profissional de estética. Com a globalização, surge a valorização do “belo”, determinando um modelo de beleza e discriminando aqueles que não a possuem. Dessa forma, o profissional da estética precisa ter consciência de quanto a imagem pessoal afeta seu cliente em relação a sua identidade. Faz-se necessária a adoção de técnicas e procedimentos que respeitem e considerem as características de cada pessoa, tanto as físicas quanto as psicológicas. É preciso mostrar a seus clientes que o conceito de beleza é extremamente subjetivo, pois é resultado da influência de vários fatores – por exemplo, da influência da mídia, que valoriza um único modelo de beleza. Não podemos desconsiderar o fato de que uma pessoa, quando procura um profissional da estética, traz consigo uma história de vida carregada de expectativas e, talvez, frustrações, pois muitas vezes o importante para ela é melhorar a forma de se apresentar para a sociedade. Será que isso é saudável? Será que isso é o mais importante? Se eu seguir um modelo de beleza determinado pelo social, serei mais feliz? Esses questionamentos precisam ser analisados pelo profissional. 9 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA Unidade I 1 A PSICOLOGIA Figura 2 – Psi, o símbolo da psicologia 1.1 História da psicologia A psicologia é um ramo das ciências humanas que estuda, cientificamente, o comportamento e os processos mentais humanos. Antes de seu advento como ciência, outros conhecimentos compartilhavam um interesse pelo estudo da mente: a fisiologia e a filosofia. A história da psicologia se confunde com a filosofia até meados do século XIX. Sócrates (469-399 a.C.), Platão (428-348 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) deram o pontapé inicial na instigante investigação da alma humana. Em seu tempo, Platão e Aristóteles já questionavam sobre o comportamento humano e os processos mentais, dedicando-se a compreender o espírito empreendedor do conquistador grego. É entre os filósofos gregos que surge a primeira tentativa de sistematizar uma psicologia e é deles que vêm os termos psyché, que significa alma, e logos, que significa razão, ou seja, “estudo da alma”. A alma ou espírito era concebida como parte imaterial do ser humano e abrangeria o pensamento, os sentimentos de amor e ódio, a irracionalidade, o desejo, a sensação e a percepção. Na Antiguidade, a psicologia ganhou consistência com Sócrates. A principal preocupação desse filósofo era o limite que separa o homem dos animais. Para Sócrates, a razão é definida como uma peculiaridade do homem ou como essência humana. Para o filósofo, a principal característica do ser humano era a razão – aspecto que permitiria ao homem deixar de ser um animal irracional. Platão, que foi discípulo de Sócrates, também teve destaque nesse período, procurando definir um “lugar” para a razão no nosso próprio corpo. Definiu esse lugar como sendo a cabeça, onde se encontra a alma do homem, e assim a medula seria o elemento de ligação da alma com o corpo. Ele concebia a alma como separada do corpo: quando alguém morria, a matéria (corpo) desaparecia, mas a alma ficaria livre para ocupar outro corpo. Platão concluiu que o lugar da razão no corpo humano era a cabeça, representando fisicamente a psyché, e a medula teria como função a ligação entre mente e corpo. 10 Unidade I Já Aristóteles, discípulo de Platão, entendia corpo e mente de forma integrada e percebia a psyché como o princípio ativo da vida. Durante a “Era cristã”, quando todo conhecimento era produzido e mantido a sete chaves pela Igreja, Santo Agostinho e São Tomé de Aquino partem dos posicionamentos de Platão e Aristóteles, respectivamente. Em 1649, René Descartes, filósofo francês, publica Paixões da alma, reafirmando a separação entre corpo e mente, pensamento que dominou o cenário científico até o século XX. No final do século XIX, os acadêmicos da época resolvem distanciar a psicologia da filosofia e da fisiologia, dando origem ao que se chamou de psicologia moderna. Os comportamentos observáveis passam a fazer parte da investigação científica em laboratórios com o objetivo de se controlar o comportamento humano. Nesse sentido, os teóricos objetivam suas ações na tentativa de construir um corpo teórico consistente, buscando o reconhecimento, enfim, da psicologia como ciência. Somente no século XIX a psicologia conquistou o status de ciência, separada da filosofia, e o que era até então exclusivo dessa ciência passa a ser investigado também pela fisiologia e pela neurofisiologia em particular. Os avanços nessa área levaram à formulação de teorias sobre o sistema nervoso central, demonstrando que o pensamento, as percepções e os sentimentos humanos eram produtos desse sistema. Para se conhecer opsiquismo humano, passa a ser necessário, então, compreender os mecanismos e o funcionamento do cérebro. Seu desenvolvimento começa, podemos dizer, com Wilhelm Wundt, fundador do primeiro laboratório de pesquisa psicológica em Leipzig, Alemanha, em 1879. Para o teórico, o objeto de estudo da psicologia deveria ser a consciência. É a ciência que estuda o que motiva o comportamento humano – o que o sustenta, o que o finaliza e seus processos mentais, que passam pela sensação, emoção, percepção, aprendizagem, inteligência. Isso abrange todos os aspectos do pensamento e dos comportamentos, não se restringindo apenas aos comportamentos anormais (MORRIS; MAISTO, 2004). Mas foi nos Estados Unidos que a psicologia encontrou campo para um rápido crescimento e ali surgiram as primeiras abordagens ou escolas em psicologia, as quais deram origem às inúmeras teorias que existem até hoje. Assim, a psicologia é uma ciência reconhecida no final do século XIX que estuda o comportamento e seu desenvolvimento ocorreu, principalmente, com o advento do capitalismo. Nesse novo contexto, tanto a visão de mundo quanto a visão de homem sofrem mudanças. Essa nova concepção de mundo e de homem foi tão importante que determinou o surgimento das primeiras teorias psicológicas que limitaram-se à análise da mente e de seus mecanismos. Inicialmente, esse estudo interessou-se pelo comportamento individual e de suas respostas ao ambiente. Observação O conceito de ambiente foi entendido posteriormente pelos psicólogos como sendo constituído tanto pelo ambiente físico quanto pelo ambiente social, ou seja, incluía outras pessoas. 11 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA Quando falamos em estudo do comportamento, é importante lembrar não apenas os comportamentos visíveis, mas também os processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão) do comportamento humano. As primeiras escolas psicológicas foram: • Estruturalismo: apresentando como objeto de estudo a estrutura consciente da mente e do comportamento, sobretudo as sensações. Edward Titchener utilizou como método a introspecção em que o indivíduo explora seus próprios pensamentos e sensações para compreender as experiências sensoriais. • Funcionalismo: cujo estudo dos processos conscientes não se limita a estruturas, a conteúdos e a elementos. A mente estava em constante interação com o meio ambiente. • Associacionismo: com Edward Thorndike surge a primeira teoria de aprendizagem, a qual se dá por meio de associação de ideias. Várias subáreas foram se desenvolvendo após o seu surgimento, determinando outros objetos de estudo. Entre elas temos a psicopatologia, investigando as personalidades desviantes, com comportamentos inadaptáveis. Na medicina são estudados os processos psíquicos que originam os comportamentos físicos, utilizando-se de métodos quantitativos e qualitativos. As questões estudadas pela psicologia estão relacionadas à personalidade, à aprendizagem, à motivação, à memória, à inteligência, ao funcionamento do sistema nervoso, à comunicação interpessoal, ao desenvolvimento humano, ao comportamento sexual, à agressividade e ao comportamento grupal, entre outras. Ao observarmos a história da psicologia como ciência, nos deparamos com diversas teorias psicológicas. Para Bock (2002, p. 23): O estudo dos fenômenos psicológicos depende da concepção de ser humano adotada por cada escola psicológica. Os fenômenos psicológicos referem-se a processos que acontecem em nosso mundo interno e que são construídos durante a nossa vida. São processos contínuos, que nos permitem pensar e sentir o mundo, nos comportarmos das mais diferentes formas, nos adaptarmos à realidade e transformá-la. Esses processos constituem a nossa subjetividade. A psicologia como ciência humana permite ter um conhecimento abrangente do homem e sobre o mundo que o cerca e, com isso, um conhecimento maior sobre a vida. Como ciência, a psicologia forma profissionais aptos a utilizarem em seu trabalho o conhecimento científico e técnico, que possibilitam diagnosticar os problemas, e com as técnicas adequadas, fazer a interpretação e intervenção adequada. Ela possui instrumentos próprios para obter informações sobre a vida psíquica, como os testes psicológicos, as técnicas de entrevista e as observações com registros de dados do comportamento humano. A partir desse levantamento de dados, o psicólogo compreende a partir de modelos teóricos 12 Unidade I psicológicos qual a indicação adequada, que poderá ser uma terapia ou um trabalho de orientação, individual ou grupal, sempre no sentido de promover a saúde mental do indivíduo. A promoção da saúde mental implica também no sentido preventivo, e, como tal, o psicólogo também tem condições de criar estratégias para evitar o aparecimento de doenças, distúrbios de comportamento etc., mas isso implica ver o homem na sua totalidade, como ser biológico, sociológico, psicológico e ao mesmo tempo inserido em um contexto educacional, urbano, social e econômico. Nesse sentido, a psicologia percorreu vários caminhos, sendo aplicada em diversas áreas do conhecimento: na nutrição, na enfermagem, na fisioterapia, no direito, na publicidade, na educação física. No entanto, a maioria dos teóricos é unânime ao afirmar que o objeto de estudo dessa ciência é a subjetividade. De acordo com Bock (2011, p. 8): Nossa matéria-prima, portanto, é o humano em todas as suas expressões, as visíveis (o comportamento) e as invisíveis (os sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) – é o ser humano-corpo, ser humano-pensamento, ser humano-afeto, ser humano-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade. Ainda a esse respeito, Bock (2011, p. 10) nos chama a atenção para duas questões importantes: [...] os sujeitos são os responsáveis pela sua subjetividade, mas não o fariam se não fosse a vida coletiva, as construções coletivas simbólicas que permitem que toda atividade sobre o mundo exterior tenha seu correspondente subjetivo. [...] A subjetividade não cessará de se modificar, pois as experiências cotidianas sempre trarão novos elementos para renová-la. 2 AS TEORIAS PSICOLÓGICAS 2.1 Freud e a psicanálise Ego Princípio da realidade Superego Imperativos morais ID Princípio do prazer Figura 3 – Freud e o aparelho psíquico 13 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA O inconsciente é a realidade psíquica verdadeira; em sua natureza mais íntima, é tão desconhecido para nós quanto a realidade do mundo externo. Sigmund Freud (apud WEITEN, 2010, p. 7). A psicanálise, teoria importante que desenvolveu vários conceitos, foi formulada pelo médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939), que publicou uma extensa obra durante toda a sua vida, relatando suas descobertas e formulando leis gerais sobre a estrutura e o funcionamento da psique humana. Freud foi defensor da existência de processos mentais inconscientes. Para ele, o inconsciente é uma instância psíquica de emoções e sentimentos reprimidos da consciência, que ocorre devido ao conteúdo insuportável para ficar registrado na consciência. Os atos falhos, sonhos e lapsos de linguagem são mecanismos do psiquismo responsáveis pela passagem de conteúdos inconscientes à consciência. Essa passagem é favorecida pelo estado emocional de forma disfarçada. Freud, quando investigou a personalidade, a dividiu em três componentes: • ID: que diz respeito ao componente primitivo e instintivo da personalidade e que opera segundo o princípio do prazer. • Ego: é o componente que nos mantém em contato com a realidade, e por isso é entendido como operando segundo o princípio da realidade. • Superego: essa estrutura incorpora os padrões sociais, as leis, as regras, as normas. Além da estruturação da personalidade, Freud traz um outro conceito: o dos mecanismos de defesa. Segundo ele, esses mecanismos surgem para amenizar conflitos psíquicos e propiciar ao indivíduo um alívio do desconforto. Entre os principais mecanismos,podemos citar: • Racionalização: é uma explicação lógica para poder justificar um comportamento inaceitável. • Projeção: é quando o indivíduo atribui a outras pessoas seus próprios sentimentos e comportamentos. • Regressão: entendida como uma volta a etapas e padrões imaturos de comportamento. • Deslocamento: é quando ocorre um desvio de sentimentos emocionais de sua fonte original a um alvo substituto. • Identificação: ocorre, nesse mecanismo, o estabelecimento de uma aliança real ou imaginária com alguém ou com algum grupo. O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um método de investigação e a uma prática profissional. Ela se caracteriza por ser um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica. Já o método de investigação caracteriza-se pelo método interpretativo, que busca significados ocultos do que é manifesto por meio de ações e palavras ou pelas proibições imaginárias, como sonhos, delírios e associações livres. 14 Unidade I A prática profissional da psicanálise refere-se a uma forma de tratamento psicológico – a análise –, que visa à cura ou ao autoconhecimento. A função primordial da análise é buscar a origem do sintoma no comportamento manifesto ou no conteúdo que é verbalizado, objetivando integrar os conteúdos inconscientes na consciência na busca da cura ou do autoconhecimento. O método para atingir esses objetivos é o da interpretação dos sonhos, dos atos falhos (esquecimentos, substituições de palavras etc.) e associações livres. Seu interesse centra-se tanto no funcionamento mental normal como no patológico. As teorias psicanalíticas se referem tanto ao normal quanto ao anormal, ainda que tenham derivado essencialmente do estudo do tratamento da anormalidade. A psicanálise apresenta como principal pressuposto o princípio do determinismo psíquico, segundo o qual, na mente, assim como na natureza física que nos cerca, nada acontece por acaso ou de modo inexplicável. Cada evento psíquico é determinado por aqueles que o precederam. Assim, em nossas vidas mentais eles podem parecer desconexos ou não relacionados com os que o precederam, mas isso ocorre só na aparência. Na realidade, esses fenômenos mentais são incapazes de tal falta de conexão causal. Outro pressuposto fundamental da teoria psicanalítica é que o corpo é a fonte básica de toda a experiência mental. Freud esperava que com o tempo todos os fenômenos fossem explicados por meio da fisiologia do cérebro. Em relação a tal crença, ele se declarou um psicofísico e sustentou que os processos psíquicos não podem ocorrer na ausência de processos fisiológicos e que esses últimos precedem os primeiros. Outra hipótese importante dessa teoria é que o impulso sexual tem seus alicerces na biologia do organismo. A manifestação dessa energia biológica primordial é vista nos diversos instintos. Segundo Freud, os instintos são forças propulsoras que incitam as pessoas à ação, ou melhor, são pressões que dirigem o organismo para fins particulares. Em geral, os instintos são como uma espécie de elasticidade das coisas vivas, um impulso no sentido da restauração de uma situação que outrora existiu, mas que foi conduzida a um fim por alguma perturbação externa. Tais instintos, afirma, são a suprema causa de toda atividade. Para Freud, todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma pressão e um objeto. A fonte é onde surge uma necessidade, que pode ser em uma parte do corpo ou em todo ele. A finalidade disso é reduzir a necessidade até que mais nenhuma ação seja necessária, é dar ao organismo a satisfação que ele necessita no momento de busca. A pressão é a quantidade de energia ou força que é investida para satisfazer ou gratificar o instinto, determinada pela intensidade ou emergência de satisfação da necessidade subjacente. O objeto de um instinto é qualquer alternativa de ação ou expressão que permita a satisfação da finalidade original. De acordo com Weiten (2010, p. 31): A teoria psicanalítica de Sigmund Freud enfatizava os determinantes inconscientes do comportamento e a importância da sexualidade. As ideias controvertidas de Freud encontraram resistência na psicologia acadêmica. Entretanto, como outros psicólogos desenvolveram um interesse pela personalidade, motivação e comportamento anormal, os conceitos psicanalíticos foram incorporados pela psicologia. 15 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA Freud afirma também que o inconsciente determina um papel preponderante na determinação do comportamento do indivíduo. A psicanálise diz-nos que não somos donos de nossas mentes e que somos dominados e até mesmo dirigidos por processos mentais inconscientes, por desejos, medos, conflitos e fantasias. 2.2 Skinner e o behaviorismo Figura 4 – Behaviorismo e os comportamentos aprendidos Entendo que o que chamamos comportamento do ser humano não é mais livre do que a sua digestão. B. F. Skinner (apud WEITEN, 2010, p. 9). O behaviorismo, ou Teoria Comportamental, se desenvolveu no século XIX influenciada pelas ciências biológicas. Esse conjunto de abordagens mostrou que o comportamento é moldado por reforços positivos e negativos, como afirma Burrhus F. Skinner (1904-1990), psicólogo norte-americano: “O objetivo do behaviorismo é eliminar todo tipo de coerção, transformando o ambiente e ajustando o que nos controla” (O LIVRO DA PSICOLOGIA, 2012, p. 80). Skinner trouxe um conceito importante para a área denominado condicionamento. Para o autor, o condicionamento demonstra que a partir de estímulos e respostas é possível determinar duas categorias de comportamento. A primeira delas é o condicionamento operante, ou incondicionado, em que estariam todos os comportamentos reflexos e involuntários, que independe de uma aprendizagem anterior. A segunda é o que chama de condicionamento clássico, que ocorre quando um estímulo neutro passa a ser um estímulo condicionado, pois implica no aprendizado de uma resposta condicionada que passa a ser controlada por suas consequências. Por conseguinte, podemos dizer que existem comportamentos que podem ser aprendidos e outros que não. A aprendizagem é definida pelas consequências comportamentais motivadas pelas condições ambientais facilitadoras ou dificultoras da aprendizagem, a partir da estrutura estímulo-resposta. 16 Unidade I Outros conceitos importantes também são desenvolvidos por essa teoria. O primeiro deles diz respeito ao reforço positivo, que pode determinar comportamentos e, com isso, fazer com que as pessoas aprendam e repitam tais ações a partir desse reforço. Assim, o reforço positivo aumenta a probabilidade de ocorrência dos comportamentos e é definido pelo resultado que produz no comportamento. De forma similar ocorre o reforço negativo, porém nele o aumento da ocorrência do comportamento aparece para que o estímulo aversivo desapareça ou seja prevenido. Ele pode acontecer por duas vias: por meio da fuga, em que a pessoa realiza um comportamento com o objetivo de terminar com o evento aversivo; e pela prevenção, na qual a pessoa emite um comportamento para evitar a ocorrência de um evento aversivo. Um exemplo é uma pessoa que tem muito medo de trovões (evento aversivo). Aqui há duas possibilidades de minimizar esse medo: a pessoa, quando observa um relâmpago, que normalmente vem antes do trovão, pode se esconder em um lugar seguro dentro de casa (fuga); ou, após ver o relâmpago, ela pode tampar os ouvidos para não ouvir o trovão (prevenção). O behaviorismo é uma abordagem psicológica que vislumbra o comportamento animal e humano apenas como reações observáveis de forma direta, enfatizando a aplicação rigorosa do método científico ao estudo dos fenômenos psicológicos. Essa teoria teve com marco inicial um artigo publicado pelo americano John B. Watson (1878-1958) em 1913 intitulado “Psychology as the behaviorist views it”. Nesse trabalho inicial, Watson afirma que a psicologia da maneira como é vista pelos behavioristas constituium ramo puramente objetivo da ciência natural. Seu objetivo teórico é a predição e o controle do comportamento, enquanto a introspecção não é parte essencial de seus métodos. O behaviorista, em seus esforços para conseguir um esquema unitário da resposta animal, não reconhece uma linha divisória entre o homem e a “besta”. Segundo Watson, não existe algo chamado de consciência, toda aprendizagem depende do meio externo. Sendo assim, toda atividade humana é condicionada e condicionável em decorrência da variação na constituição genética, ao passo que não há necessidade de mencionar a vida psíquica ou a consciência do sujeito. À medida que Watson postulava o comportamento como objeto da psicologia, dava a essa ciência a consistência que os psicólogos da época vinham buscando. Para o behaviorismo, um objeto observável e mensurável, que podia ser reproduzido em diferentes condições e em diferentes sujeitos, eram as características fundamentais para que a psicologia alcançasse status de ciência, rompendo definitivamente com a tradição filosófica de antes. Os mais importantes pressupostos de John B. Watson podem ser relacionados da seguinte maneira: • O comportamento compõe-se de elementos de resposta que podem ser cuidadosamente analisados por métodos científicos, naturais e objetivos. • O comportamento compõe-se inteiramente de secreções glandulares e movimentos musculares, portanto, é basicamente redutível a processos físico-químicos. • Existe uma resposta imediata, de alguma espécie, a todo e qualquer estímulo eficaz. Assim, existe no comportamento um rigoroso determinismo de causa e efeito. 17 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA • Os processos conscientes, se é que existem, não podem ser cientificamente estudados; as alegações sobre a consciência representam tendências sobrenaturais e, como são remanescentes das fases teológicas e pré-científicas da psicologia, devem ser ignoradas. O behaviorismo dedicou-se ao estudo do comportamento do indivíduo e da relação que ele mantém com o meio ambiente. Porém, como comportamento e meio são termos amplos demais para serem úteis a uma análise descritiva nessa ciência, os psicólogos dessa tendência formularam dois importantes conceitos: estímulo e resposta, unidades básicas da descrição e ponto de partida para a ciência do comportamento. O behaviorismo de Watson distingue duas classes de comportamento: o comportamento respondente (reflexo) e o comportamento operante (voluntário). O respondente é efetuado pelo organismo em resposta a um estímulo. Por exemplo, a salivação diante do cheiro de comida. Já o operante é efetuado em decorrência de sua relação com o meio externo, sem que se possa identificar estímulos específicos que o teriam provocado. Por exemplo, os movimentos de braço e pernas de uma criança. O processo de condicionamento respondente é uma forma simples de aprendizagem adotada pelos behavioristas na explicação da formação dos comportamentos. Nesse tipo de condicionamento o processo é organizado de forma que ocorra: • um estímulo neutro; • um estímulo incondicionado, ou seja, um estímulo que em circunstâncias normais provocaria uma resposta específica; • a resposta específica. A repetição constante do processo condiciona o estímulo neutro, isto é, faz com que ele passe a ser um estímulo condicionado, o que provoca resposta semelhante àquela que o estímulo incondicionado já provocava. Um exemplo desse processo é a experiência de Ivan Pavlov, que, ao fazer uma campainha soar sistematicamente antes de apresentar comida a um cão, condicionou o estímulo neutro (som da campainha), provocando a salivação do cão como resposta, antes provocada só pela própria apresentação da comida. Para que o condicionamento ocorra com rapidez é preciso obedecer à ordem dos estímulos (primeiro, o neutro; depois, o incondicionado) e que seja realizado em um curto período de tempo entre a ocorrência dos dois. No condicionamento operante, a aprendizagem acontece por um processo de maturação natural (a criança, por exemplo, aprende a falar naturalmente). No entanto, é possível aplicar reforços ao processo de aprendizagem, que devem ser dados imediatamente após a resposta, por exemplo, gratificando a criança quando pronuncia uma nova palavra. Eles, ainda, podem ser negativos e positivos. Os negativos fortalecem a resposta por meio da remoção do próprio estímulo; já os positivos reforçam os comportamentos que os precedem. Diversos dispositivos experimentais são usados para investigar o condicionamento instrumental ou operante e seus efeitos. Segundo os behavioristas, os mecanismos usados para identificar as 18 Unidade I consequências das mudanças de comportamento são o feedback de informação e o feedback afetivo. No primeiro, o indivíduo toma conhecimento do tipo de efeito que sua resposta ocasionou no ambiente. No segundo, distingue quando a situação modificada lhe trará prazer ou desprazer. A natureza do reforço é uma questão problemática para o behaviorismo. Os reforços primários (alimentos, recompensas etc.) parecem não explicar todo fenômeno. Fatores como o intervalo entre os estímulos, a sua frequência, entre outras variantes, modificam os resultados do condicionamento. No caso particular do reforço condicionado, o mesmo reforço (por exemplo, dinheiro) pode ser associado a diferentes estímulos (alimento, diversão etc.) e condicionar diferentes respostas. Assim, a partir dos pressupostos do behaviorismo o homem começa a ser estudado como produto do processo de aprendizagem pelo qual passa desde a infância, ou seja, como produto de associações estabelecidas durante sua vida, entre estímulos (do meio) e respostas (manifestações comportamentais) a tais estímulos. Em decorrência disso, o behaviorismo propõe-se a utilizar o processo de condicionamento para planejar e formar seres humanos. Segundo os behavioristas, a sociedade poderia atingir, na tecnologia do comportamento, um grau de sofisticação em que o planejamento da pessoa humana se tornaria possível. Em relação à motivação, eles a excluem de seus estudos, pois afirmam que sua natureza é eminentemente psicológica, não sendo suscetível a um tratamento pela metodologia behaviorista. O mais importante behaviorista que sucedeu John B. Watson foi Skinner, conhecido pela análise experimental do comportamento, que tem como fundamento a formulação do condicionamento operante. Skinner centraliza seu trabalho nos comportamentos observáveis das pessoas e dos animais. Por ter uma certa aversão e desconfiança em relação às explicações mentais subjetivas e intervenientes, propôs formas distintas de entendimento e compreensão da personalidade. Em seus estudos, trabalhou diretamente com animais devido à pesquisa de Darwin e do subsequente desenvolvimento das teorias da evolução na época. Alguns psicólogos, e o próprio Skinner, pressupunham que os seres humanos não eram essencialmente diferentes de outros animais, pois o comportamento daqueles, embora muito complexo, podia ser investigado como qualquer fenômeno observável. O psicólogo defendia que o comportamento é um processo, e não uma coisa, por isso pode ser facilmente imobilizado para a observação, ao passo que é mutável, fluido e evanescente e, por essa razão, faz grandes exigências técnicas da engenhosidade e da energia do cientista. Contudo, não há nada essencialmente insolúvel nos problemas que surgem de fato. Assim, Skinner adotou uma posição extrema, afirmando que o comportamento pode ser estudado e totalmente descrito, visto que é mensurável, observável e perceptível por meio de instrumentos de medida. Segundo ele, o estudo da análise científica do comportamento começaria pelo isolamento das partes simples de um evento complexo, de modo que cada uma seja melhor compreendida. A pesquisa experimental de Skinner seguiu tal procedimento analítico, restringindo-se a situações suscetíveis de uma análise científica rigorosa. Ele afirma também que descrições precisas do comportamento favorecemas previsões exatas de comportamentos futuros e melhoram a análise dos reforços anteriores que levaram ao comportamento. Para compreendermos os indivíduos, segundo os behavioristas, temos que acreditar que o comportamento não é casual nem arbitrário, mas um contínuo 19 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA que pode ser descrito considerando o ambiente no qual o comportamento está inserido. Skinner não nega o uso de termos tais como vontade, imaginação, inteligência e liberdade, mas afirma que as explicações que dependem desses termos não são funcionais porque não descrevem verdadeiramente o que está ocorrendo; ao contrário, encobrem em vez de esclarecerem as causas do comportamento. Skinner considera o indivíduo como uma caixa fechada, mas certamente não vazia. Ele e os behavioristas enfatizam os inputs e os outputs, que constituem aquilo que é observável. Ainda, em vez de levantar hipóteses sobre as necessidades que podem impelir para uma atividade particular, tentam descobrir os eventos que fortalecem sua probabilidade futura e que a mantém ou a modificam. Assim, buscam as condições que regulam o comportamento em vez de levantar hipóteses sobre estados de necessidades dentro da pessoa. Observação O princípio de condicionamento e estímulo-resposta da teoria behaviorista pode ser bastante útil para os profissionais da área estética, uma vez que pode fazer uso de vários reforços positivos para, de alguma forma, mudar o comportamento de seu cliente. Para Weiten (2010, p. 31): A influência do behaviorismo foi muito impulsionada pela pesquisa de B. F. Skinner. Assim como Watson antes dele, Skinner afirmou que a psicologia poderia estudar apenas o comportamento observável, e ele gerou controvérsia argumentando que o livre-arbítrio é uma ilusão. 2.3 Gestalt Figura 5 – Gestalt: relação com figura e fundo Outra teoria psicológica importante é a da Gestalt, que explica como percebemos o mundo, a nós mesmos e os outros. Nesse sentido, os estudiosos dessa linha preocuparam-se em compreender os processos psicológicos que estavam envolvidos no que denominaram ilusão de ótica. Esse fenômeno, 20 Unidade I que ocorre com todos, surge quando o estímulo físico é percebido diferentemente do que uma pessoa tem dele na realidade. Por exemplo, a percepção dos fotogramas estáticos do cinema. O movimento que vemos na tela é uma ilusão de ótica causada pela pós-imagem da retina (a imagem demora um pouco para se apagar em nossa retina). E como as imagens vão se sobrepondo na retina, temos a sensação de movimento, mas o que de fato está na tela é uma fotografia estática (BOCK, 2011). A Gestalt também explica a relação entre figura e fundo. A figura é constituída dos aspectos da experiência, eleitos como dominantes e que se sobressaem em relação ao fundo. Já o fundo é composto pelas experiências anteriores. Observação Figura e fundo podem oscilar de acordo com o que é salientado como relevante pelo psiquismo na situação. Diferentemente dos behavioristas, os gestaltistas, quando explicam a relação existente entre estímulo e resposta, trazem uma informação complementar, a de que entre o estímulo e a resposta existe a percepção. Essa teoria nos trouxe contribuições importantes para que possamos compreender o que significa uma boa percepção derivada de uma boa forma. De acordo com a Gestalt, a percepção busca o fechamento, a simetria e a regularidade dos pontos que compõem qualquer figura. Um outro aspecto importante dela é a relação parte-todo: “[...] o todo não pode ser entendido simplesmente como um conjunto das partes, mas sempre quando vemos uma parte, ocorre uma tendência à restauração do equilíbrio da forma” (BOCK, 2011, p. 18). Na Gestalt, acredita-se que a pessoa é mais do que um número definido por uma normatização. Estamos lidando com um sujeito singular, dotado de emoções e percepções bem particulares, permitindo-lhe ligações e vivências as mais complexas e variadas. Ao se pensar na relação estabelecida pelo homem com a alimentação dentro desse princípio, é importante lembrar de Frederick Perls (1893-1970), fundador da abordagem e autor do livro Ego, fome e agressão, publicado em 1942. Embora seja bastante lembrado pela psicoterapia, sua teoria pode ser aplicada em diversos contextos da atividade humana. Em 1947, Perls encontrava-se insatisfeito com a atenção exagerada da psicanálise em torno do inconsciente, dos instintos sexuais e da função da repressão. Assim, inicia os primórdios da Gestalt-terapia, em que ele propõe novos elementos da personalidade humana, como o instinto de fome, a agressão biológica e a necessidade da gratificação. O objetivo inicial de Perls era dar contribuições à psicanálise da época, com seus questionamentos e considerações, porém depois de seu primeiro livro abandona completamente essa linha. O médico berlinense atribui estágios no desenvolvimento do instinto de fome: pré-natal (antes do nascimento), pré-dental (amamentação), incisivo (morder) e molar (morder e mastigar). Esses estágios 21 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA estariam constituindo um sistema complexo envolvendo a alimentação como nutrição e como relação com o mundo. Perls exemplifica isso citando a impaciência de um comportamento produzido pela má relação do indivíduo com a alimentação, combinada com a gula e a incapacidade para obter satisfação. Segundo o psicólogo, muitos adultos se relacionam com o alimento sólido como se ele fosse líquido, a ser engolido em goles. Geralmente essas pessoas são impacientes, pois exigem a satisfação imediata de sua fome e não desenvolveram o interesse em destruir o alimento sólido. Saiba mais Conheça mais sobre Frederick Perls e como a Gestalt-terapia foi criada lendo o artigo a seguir: MATURANA, V. Reflexões acerca da relação entre a alimentação e o homem. Revista IGT, v. 7, n. 12, p. 219, 2010. Podemos definir a Gestalt como uma síntese de abordagens que visa à compreensão da psicologia e dos comportamentos humanos. Sua ênfase repousa na natureza do todo, e não na derivação das partes, tendo um pressuposto humanista orientado para o crescimento da pessoa. É influenciada pela psicologia existencial, psicanalítica, pelo behaviorismo (comportamento observável), pelo psicodrama (representação de conflitos), pela psicoterapia de grupos (trabalho com grupos) e até pelo zen budismo (mínimo de intelectualização e enfoque na consciência do presente). A Gestalt pressupõe que a análise das partes nunca pode proporcionar uma compreensão do todo, uma vez que o todo é constituído pelas interações e interdependências das partes. As partes de uma Gestalt não mantêm sua identidade quando estão separadas de uma função no lugar do todo. Uma Gestalt é um fenômeno irredutível, uma essência que desaparece se o todo se fragmenta em componentes. Ela se propõe a estudar a vida psíquica sob o aspecto da combinação de elementos (sensações e imagens) que a constituem, sendo a percepção o ponto de partida e também um dos temas centrais dessa teoria. O estudo centrado na percepção levou os teóricos da Gestalt a questionarem a teoria behaviorista, afirmando que há relação de causa e efeito entre o estímulo e a resposta. Já para os gestaltistas, entre o estímulo que o meio fornece e a resposta do indivíduo encontra-se o processo de percepção do indivíduo. O que o indivíduo percebe e como percebe são dados importantes para a compreensão do comportamento humano. Assim, a teoria sugere que é a maneira como é percebido um determinado estímulo que vai desencadear o comportamento. Para seus teóricos, o comportamento deve ser estudado nos seus aspectos mais globais, levando em consideração as condições que alteram a percepção do evento como um estímulo. Dessa forma, o comportamento surge como função da pessoa e de seu ambiente. Levando-se em conta esse pressuposto, a percepção do evento como um estímulo em certas condições ambientais dadas é mediatizada pela forma como se interpreta o conteúdo percebido, ou seja, 22Unidade I como se interpreta o evento. Para uma pessoa com fome, o campo de percepção se organiza diferentemente do campo de percepção de um indivíduo saciado. Aqui, leva-se em consideração o organismo como um todo; os indivíduos são organismos unificados e não há diferença entre o tipo de atividade física e mental. Sendo assim, qualquer aspecto do comportamento deve ser considerado como uma manifestação de todo o ser da pessoa. Também fundamental é a noção de que há uma hierarquia de necessidades em constante funcionamento. A ação da pessoa visa à satisfação de uma necessidade dominante em um dado momento, sendo que as mais urgentes de serem satisfeitas emergem como primeiro plano ou figura contra o fundo da personalidade total. Assim, à medida que a necessidade é satisfeita ela deixa de ser figura em um fundo e passa a ser fundo de uma outra necessidade emergente, que passa então a ser figura. Ou seja, a necessidade mais urgente, a situação inacabada mais importante, sempre emerge se a pessoa estiver consciente da experiência de si mesma a todo momento. Segundo Perls (1947), esse princípio da hierarquia das necessidades está sempre operando no indivíduo para que o organismo se torne criativo, a fim de restabelecer o equilíbrio procurando vias e meios para isso. Essa seria a lei básica da autorregulação do organismo sob o controle da configuração figura-fundo, que assume temporariamente o controle de todo o organismo. Em relação às emoções, a Gestalt as considera como a força que fornece energia a toda a ação. Para o autor, as emoções são a nossa própria vida, a própria linguagem do organismo, as vias e os modos de expressar nossas escolhas, assim como de satisfazer nossas necessidades, e modificam a excitação básica de acordo com a situação que é encontrada. Além disso, considera a cisão mente-corpo, postulada pela maioria das psicologias, como arbitrária, visto que a atividade mental é simplesmente uma atividade que funciona em nível menos intenso que a atividade física. Assim, nossos corpos são manifestações direta de quem somos. Pela simples observação de nossos mais aparentes comportamentos físicos (postura, respiração, movimentos) podemos aprender muito sobre nós mesmos. A Gestalt considera o indivíduo como participante de um campo do qual ele é diferenciado, porém inseparável. As funções de contato e fuga são cruciais na determinação da existência de um indivíduo. A ênfase no aqui e agora postulada por Perls acentua muito a importância de estar consciente das preferências pessoais e ser capaz de agir sobre elas, porque, segundo ele, o conhecimento das preferências leva ao conhecimento das necessidades. Por fim, as proposições básicas da Gestalt-terapia ressaltam que todos os organismos possuem a capacidade de realizar um equilíbrio ótimo consigo e com o meio em que está inserido. Porém, as condições para realizar esse equilíbrio requerem uma conscientização envolvendo todo o organismo, uma vez que as necessidades são experienciadas por cada parte do organismo, e sua hierarquia é estabelecida por meio de sua coordenação. O equilíbrio do organismo supõe uma constante interação com o meio. Assim, os indivíduos saudáveis caracterizam-se pelo livre fluxo e pela clara delimitação da formação figura-fundo nas expressões das necessidades. Tais pessoas têm consciência de sua capacidade de escolher os meios para satisfazer suas necessidades à medida que elas emergem. 23 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA Os principais princípios da Gestalt são: • Figura e fundo: a figura é o que se está olhando e o fundo é o segundo plano sobre o qual a figura se coloca. • Proximidade: as coisas que estão próximas parecem fazer parte umas das outras. • Fechamento: as pessoas em geral agrupam elementos para criar uma sensação de completude. • Semelhança: as pessoas tendem a agrupar estímulos que são semelhantes. • Simplicidade: as pessoas tendem a agrupar elementos que combinam para formar uma boa figura. • Continuidade: esse princípio reflete a tendência das pessoas a seguir em qualquer direção a que sejam conduzidas. Dessa forma, espera-se que as pessoas tendam a ligar pontos que resultam em linhas retas ou curvas. 3 A PSICOLOGIA SOCIAL A psicologia também desenvolveu estudos sobre a influência dos grupos nos indivíduos. Um grupo não é simplesmente uma reunião de pessoas que riem ou choram juntas; trata-se de um agrupamento, um agregado social de indivíduos em constante interação que se aceitam mutuamente e partilham das mesmas metas. O requisito primordial para o princípio de um grupo ou equipe é perceber o outro. Esse conceito foi difundido por alguns intelectuais dos anos 1950 como Marshall McLuhan (1911-1980), Theodor Adorno (1903-1969) e Herbert Marcuse (1898-1979). Independentemente do tipo de ambiente, não é possível desprezar o quanto ele influencia o comportamento. De acordo com Mowen (2003), existem cinco tipos de situações de influência: • Ambiente físico: aspectos físicos e espaciais concretos do ambiente que envolvem uma atividade de consumo. • Ambiente social: efeitos que outras pessoas provocam sobre o consumidor durante uma atividade de consumo. • Tempo: efeitos da presença ou ausência do tempo nas atividades de consumo. • Definição de tarefa: razões que geram a necessidade de os consumidores comprarem ou consumirem um produto ou serviço. • Estados antecedentes: estados psicológicos e de espírito temporários que um consumidor traz para uma atividade de consumo. 24 Unidade I Entre as possibilidades de ação de um grupo, ele também pode influenciar ou decidir um comportamento. Mowen (2003) nos apresenta alguns tipos de grupos: • Grupo de referência: grupos cujos valores, normas, atitudes ou crenças são usadas por uma pessoa como um guia de comportamento. • Grupo de aspiração: grupo ao qual a pessoa gostaria de pertencer. Se for impossível participar do grupo, ele se tornará simbólico para ela. • Grupo de dissociação: grupo ao qual a pessoa não quer se associar. • Grupo primário: grupo do qual a pessoa faz parte e no qual interage ativamente. Se caracteriza pela intimidade entre seus membros e pela falta de limites para a discussão de vários assuntos. • Grupo formal: grupo cuja organização e estrutura são definidas por escrito. Por exemplo, sindicatos trabalhistas, universidades e grupos estudantis. • Grupo informal: grupo que não tem estrutura organizacional por escrito. Geralmente é baseado no fator social, por exemplo, um grupo de amigos que se encontram com frequência para praticar um esporte, jogar cartas ou fazer festas. De acordo com alguns estudiosos, o termo família pode ser entendido como um subgrupo de um grupo maior: o domicílio. Essa família, de acordo com o papel que cada indivíduo assume, pode apresentar diferentes denominações. A família nuclear é a mais comum e geralmente é composta por um marido, uma esposa e seus filhos. A família constituída pela família nuclear que se soma a outros parentes, como os sogros, é conhecida como família por extensão. E, finalmente, a família nuclear pode ser apartada, quando os filhos tendem a viver sozinhos e formar famílias longe de seus pais. Segundo Gade (1998), a família é o mais importante dos grupos primários e é o primeiro agente da socialização do indivíduo. Para ele, a família nuclear é o grupo familiar constituído pelos laços familiares mais imediatos e é representado pelo pai, pela mãe e pelos filhos, esse último com número cada vez mais reduzido. Já a família extensa compreende os laços de parentesco, como avós, sogros e sogras, tios e tias, primos etc. O grupo de referência, para Gade (1998), é o grupo de indivíduos cujos julgamentos, preferências, crenças e comportamentos servem de ponto de referência para a orientação do indivíduo, influenciando sua conduta e suas atitudes. Ele pode ser o grupo primário, como a família, ou o grupo de amigos próximos, sendo também classificado como grupo pertinência, que servem de referencial positivo a umindivíduo ou a um grupo de indivíduos. Nesse caso, temos o grupo referência positivo ou grupo de aspiração. Tais grupos podem ser classificados em primários e secundários. Os primeiros são caracterizados pela íntima associação e uma intensa cooperação entre os membros. São importantes na formação de valores, hábitos e ideais do indivíduo, e o uso da palavra nós, determinando o tipo de relação entre eles, 25 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA é recorrente. Os grupos primários podem ser de natureza informal, como a família e os amigos, e de natureza formal, como o grupo escolar e de trabalho. Por outro lado, os grupos secundários possuem características opostas aos primários. Neles, as relações são mais formais e impessoais, e podem ser passageiras e desprovidas de intimidade. Como os primários, eles podem ser de natureza informal, quando em contextos esportivos e de lazer, e de natureza formal, quando inseridos em associações de trabalho e organizações diversas. Os grupos de referência denotam certas funções: • Associação e identificação: membros se conhecem e se relacionam – por exemplo, um grupo de amigos. • Aspiração: pessoas com quem o indivíduo pode se identificar ou a quem podem admirar – por exemplo, as celebridades. Observação O mapeamento de decisões inconscientes por meio das técnicas da neurociência tem conseguido explicar o comportamento que vai além de apenas uma vontade consciente. Dessa forma, quando o aspecto social se torna importante, surge a psicologia social na década de 1930, momento em que o interesse dos psicólogos passa a ser a investigação das interações de indivíduos dentro de grupos e da sociedade. A partir de então, vários aspectos foram examinados, como o efeito das organizações sobre os indivíduos; a relação dos indivíduos dentro de um mesmo grupo e de grupos diferentes; os diferentes tipos de papéis que assumimos quando em ambientes diferentes e funções sociais diferenciadas; a dinâmica de grupos; as atitudes e os preconceitos de grupos; conflitos grupais; obediência; e transformações sociais. Um estudo muito interessante foi o de Kurt Lewin (1890-1947) cujo modelo descreve que para haver uma mudança pessoal ou organizacional é necessário passar por três etapas. A primeira etapa é o descongelamento, o qual: [...] envolve a preparação, em que se reconhece a necessidade de mudança e abre-se mão das velhas crenças e atitudes. A mudança ocorre na segunda etapa, geralmente acompanhada de confusão e agonia motivadas pelo desmantelamento da antiga mentalidade ou sistema. O terceiro e último estágio, o “congelamento”, ocorre quando a nova mentalidade se cristaliza e há uma sensação de conforto e estabilidade ocasionada por essa nova condição (O LIVRO DA PSICOLOGIA, 2012, p. 221). 26 Unidade I Para Lewin, essa etapa é a mais difícil, uma vez que geralmente resistimos a mudanças e a alterações em nossa rotina. Para ele, é importante “criar um ambiente de segurança psicológica durante a etapa de descongelamento” (O LIVRO DA PSICOLOGIA, 2012, p. 221). Lembrete Para Kurt Lewin, o indivíduo inserido em uma sociedade não era um ser passivo, diferentemente do behaviorismo, que considerava que a influência dos outros era que moldava o indivíduo. Para ele, havia uma interação do indivíduo com o seu entorno. Um outro estudo foi o de Solomon Asch (1907-1996), que após suas pesquisas chegou à conclusão que as pessoas tinham tendência a se conformar com as coisas. Para o psicólogo: • O grupo exerce efeitos sociais profundos em seus membros. • Um certo grau de conformidade colabora para funções sociais importantes. • As pessoas sentem-se obrigadas a se adequar para pertencer ao grupo. • Elas são capazes de fingir ou até convencer a si mesmas que concordam com a maioria. • A tendência à conformidade pode ser mais forte do que os valores ou percepções básicas das pessoas. Já Erving Goffman (1922-1982) desenvolveu a teoria do gerenciamento de impressões. Segundo ele, a vida é uma interpretação dramática construída a partir da interação social que pode ser comparada a uma peça de teatro. Nesse sentido, ele explica como mantemos e intensificamos nossas identidades sociais: Tal qual os atores, as pessoas tentam criar uma impressão favorável de si mesmas, definindo roteiro, cenário, figurino, habilidades e adereços. [...] há o “palco” onde atuam nossas personas públicas e os bastidores, onde se desenrola nossa vida privada. [...] existe uma plateia que assiste ao espetáculo (O LIVRO DA PSICOLOGIA, 2012, p. 228). Por sua vez, Robert Zajonc (1923-2008) desenvolve a teoria da familiaridade, que se resume na máxima “Quanto mais se vê, mais se gosta”. Para ele, as preferências que demonstramos não são racionais: A exposição repetida a um estímulo gera familiaridade em relação a ele. A familiaridade produz uma mudança de atitude em relação ao estímulo, transformando-a em preferência ou afeição. Essa preferência é emocional e forma-se em nível subconsciente antes que o indivíduo se dê conta (O LIVRO DA PSICOLOGIA, 2012, p. 232). 27 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA No âmbito da psicologia social, percebe-se, igualmente, que a subjetividade é uma dimensão importante. Isso significa que o modelo capitalista de produção transcende as variáveis competição e controle: A subjetividade hoje permanece massivamente controlada pelos dispositivos de poder e de saber que colocam as inovações técnicas, científicas e artísticas a serviço das figuras mais retrógradas da socialidade. E, contudo, outras modalidades de produção subjetiva – processuais e singularizantes – são concebíveis. Estas formas alternativas de reapropriação existencial e de autovalorização podem tornar-se amanhã a razão de vida das coletividades humanas e dos indivíduos que recusam abandonar-se à entropia mortífera característica do período que nós atravessamos. [...] O vocábulo groppo, ou grupo, surgiu no século XVII para referir-se ao ato de retratar, artisticamente, um conjunto de pessoas, somente no século XVIII foi que o termo passou a significar reunião de pessoas. O termo pode estar ligado tanto à ideia de laço, coesão ou círculo. Tanto a sociologia quanto a psicologia têm demonstrado interesse no estudo dos pequenos grupos sociais, pensando o grupo como uma intermediação entre o indivíduo e a massa. Os estudos dos pequenos grupos sociais, embora sejam realizados por várias áreas de conhecimentos humano-sociais, são em geral associados com a sociologia e a psicologia. Na psicologia, o estudo sistemático dos pequenos grupos sociais, buscando compreender a dinâmica dos mesmos, tem início na década de 1930 e 1940, com Kurt Lewin. Moreno [Jacob Levy] inicia com o teatro da espontaneidade que vai levar ao psicodrama. Na área de pesquisa cria a sociometria para o estudo de relações de aproximação e afastamento entre as redes de preferência e rejeição, tanto nos grupos quanto na comunidade como um todo. Lewin cria o termo “dinâmica de grupo”, que foi utilizado pela primeira vez em 1944. Não podemos esquecer que a preocupação com grupos, tanto de Moreno quanto de Lewin, aparece em seguida às inovações tayloristas e fordistas que levam à elevação dos lucros, mas também à deteriorização das relações tanto dos operários entre si quanto em relação a chefias e patrões (JACQUES, 1998, p. 26-200). Ainda, para Pedrinho Guareschi (apud JACQUES, 1998, p. 101): Mais que identificar cosmovisões gerais de pessoas ou grupos, o que na verdade cremos ser importante e necessário é revelar como as pessoas sofrem e são prejudicadas, na sua vida cotidiana, devido a relações que são estabelecidas de maneira desigual e injusta. Com isso nosso trabalho poderá contribuir, de maneira iluminadora e emancipatória, na construção de uma sociedade economicamente justa, politicamente democrática, culturalmente plural, eticamente solidária. 28 Unidade I Observação Kurt Lewin é considerado o pai da psicologia social e da psicologia das organizações. Estudou ainteração social e os efeitos da pressão social no comportamento e as dinâmicas de trabalho nas organizações. Entre suas obras podemos destacar: Teoria dinâmica da personalidade (1935) e Princípios da psicologia topológica (1936). 4 A PSICOLOGIA DO CONSUMIDOR O desenvolvimento da psicologia do consumidor se dá após o advento do capitalismo. Nesse contexto surge o interesse das empresas e indústrias em conhecer mais a fundo a mente do consumidor. Afinal, quais as necessidades e os desejos desse consumidor inserido em um ambiente de consumo, por exemplo? A importância da psicologia do consumidor é proporcionar a descoberta de informações que possam ser usadas pelas empresas para que elas possam tomar decisões com menores riscos em um mercado tão competitivo. Essa análise deve levar em consideração tanto o macroambiente, que inclui o ambiente demográfico, o ambiente sociocultural, o ambiente físico, o tecnológico, o econômico, o político e o ambiente legal, quanto o microambiente, composto pela empresa, pelos fornecedores, pelos intermediários de mercado, pelos clientes, pelos concorrentes e pelos diversos públicos de relacionamento. Todos nós, consumidores, podemos assumir diversos papéis que vão aparecendo de acordo com o ambiente de consumo e com os objetivos de compra. Entre os papéis mais importantes, observamos: • o de usuário: consumidor que nem sempre é o que compra ou paga pelo produto ou serviço; • o de pagante: consumidor que nem sempre é o usuário, mas que, necessariamente, financia a compra; • o de influenciador: influenciando a decisão de compra; • o de decisor: que decide a compra mas que não necessariamente irá fazer uso do produto ou do serviço. Observação O consumidor poderá assumir quaisquer dos papéis apresentados; inclusive, dependendo do ambiente de consumo, ele poderá assumir mais de um papel. Por exemplo: eu posso ser o comprador e o usuário de um produto. 29 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA Sobre a importância dos papéis, faz-se necessário citar Solomon (2002, p. 24): A perspectiva da teoria dos papéis vê grande parte do comportamento do consumidor como os atos de uma peça. Como no teatro, cada consumidor tem falas, acessórios e figurinos necessários para um bom desempenho na encenação. Como as pessoas representam muitos papéis diferentes, elas às vezes modificam suas decisões de consumo, dependendo da “peça” específica de que participam em certo momento. Mas, afinal, qual o significado de consumo? Cabe aqui citarmos mais uma vez Solomon (2002, p. 29): Uma das premissas fundamentais do moderno campo do comportamento do consumidor é a de que as pessoas muitas vezes compram produtos não pelo que eles fazem, mas sim pelo que eles significam. Este princípio não quer dizer que a função básica de um produto não seja importante, e sim que os papéis que os produtos representam em nossa vida vão muito além das tarefas que desempenham. Observação O estudo do comportamento do consumidor possibilita conhecermos o que ele quer, o que ele deseja, como toma decisões sobre a compra, a utilização que faz de produtos e qual o significado de um determinado produto ou serviço consumido. A importância desse estudo é a de permitir que as empresas tenham sucesso e tomem decisões empresariais, correndo o menor risco possível. Philip Kotler (2006, p. 47), autor referência quando estudamos o papel do marketing, reitera a importância do estudo do consumo quando diferencia o conceito de vendas e o conceito de marketing: “A obsessão da empresa é fazer o que o cliente deseja. Por esse motivo, a empresa orientada para o mercado concentra-se no entendimento das necessidades e desejos dinâmicos dos seus clientes”. Se observarmos a citação de Kotler, percebemos, por exemplo, que o principal objetivo de uma empresa está em encontrar um comprador para o produto ou serviço que ela fabrica. Vamos imaginar agora a seguinte situação: se você fosse chamado por uma empresa para que a ajudasse na tomada de decisão a respeito de um lançamento de um novo produto estético, você levaria em consideração o conceito de marketing ou o conceito de vendas para orientá-lo? Você deve levar em conta o conceito de marketing, pois no mundo competitivo de hoje, onde o número de concorrentes é cada vez maior e os produtos quase que se igualam em relação aos itens mais importantes, como a qualidade e o preço, uma empresa que se diz orientada para o mercado deve se preocupar em lançar produtos e serviços desejados pelo consumidor. Dessa forma, é de suma importância o entendimento das necessidades e dos desejos dos consumidores para uma tomada de decisão como essa. 30 Unidade I Observação Um dos instrumentos mais importantes para a busca de informações sobre as necessidades e os desejos do consumidor é a aplicação da pesquisa de opinião e de mercado. 4.1 As necessidades e os desejos dos consumidores O profissional envolvido em um ambiente de consumo e que espera que seus produtos e serviços sejam efetivamente aceitos no mercado necessita descobrir como satisfazer as necessidades e os desejos de seus consumidores. Há diferença entre o conceito de necessidade e desejo? Sim, existe uma grande diferença. Vejamos: • A necessidade surge de uma condição insatisfatória de um consumidor, levando-o a uma ação (compra), buscando uma condição melhor para sair de um desconforto. Esse desconforto pode ser de ordem física ou psicológica. • O desejo é um querer obter mais satisfação do que seria necessário, também para melhorar uma condição insatisfatória. Isso significa que, neste caso, o consumidor expressa vontade de obter produtos ou serviços melhores ou em maior quantidade. Observação Espera-se que os desejos surjam só quando as necessidades forem satisfeitas. Porém, o que se observa hoje não é bem isso. Notamos atualmente, vivendo em uma sociedade de consumo, que muitas necessidades básicas estão sendo substituídas por desejos, transformando desejos em necessidades. A esse respeito, uma das críticas mais difundidas é a de que as empresas convencem os consumidores de que eles precisam de produtos que muitas vezes podemos denominar “supérfluos”. Solomon (2002, p. 33) coloca esta questão da seguinte maneira: A questão é complexa e com certeza merece ser considerada: os profissionais de marketing dão às pessoas o que elas querem ou dizem a elas o que devem querer? Quem controla o mercado – as empresas ou os consumidores? Essa questão fica ainda mais complicada à medida que novos modos de comprar, ter e ser são inventados todos os dias. Parece que os “bons e velhos tempos” do espaço do profissional de marketing, uma época em que as empresas faziam as regras e decidiam que seus clientes soubessem e fizessem, estão mortos e enterrados. 31 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA De acordo com Limeira (2008), segundo nosso entendimento, a sociedade de consumo se caracteriza pelo fato de que a maior parte das pessoas consome acima de suas necessidades básicas e de que quando compramos algo, esse ato é socialmente aprovado e aceito como uma maneira de proporcionar prazer e satisfação. Outro autor importante, Bauman (2001, p. 90), nos apresenta o seguinte pensamento a esse respeito: A vida organizada em torno do consumo, por outro lado, deve se bastar sem normas: ela é orientada pela sedução, por desejos sempre crescentes e quereres voláteis – não mais por regulação normativa. Nenhum vizinho em particular oferece um ponto de referência para uma vida de sucesso; uma sociedade de consumidores se baseia na comparação universal – e o céu é o único limite. A ideia de “luxo” não faz muito sentido, pois a ideia é fazer dos luxos de hoje as necessidades de amanhã, e reduzir a distância entre o “hoje” e o “amanhã” ao mínimo – tirar a espera da vontade. Basicamente, as necessidades são determinadas pelas características físicas do indivíduo e do ambiente, enquanto os desejos são determinados pelo contexto social e ambiental. Com relação às característicaspessoais de uma pessoa que determinam as necessidades, temos a seguinte classificação: • Genéticas: que dizem respeito às características hereditárias e biológicas. Exemplo: há consumidores que têm alergias a certos cremes faciais. • Biogenias: características biológicas que as pessoas possuem ao nascer, como gênero, raça e idade. Exemplo: homens e mulheres possuem necessidades diferenciadas com relação aos cuidados corporais. • Psicogenias: características referentes a estados e traços individuais como emoções, percepções, cognições e experiências armazenadas na memória. Assim, podemos dizer que alterações de humor e estados emocionais exigem o consumo de certos produtos. Exemplo: necessidades de afeto, de recreação, de joias, de perfumes. 4.2 As razões de compra de um produto ou de um serviço Uma questão importante que surge em um ambiente de consumo é: por que o consumidor compra produtos e serviços? Um dos fatores descobertos é que há razões de compra que se diferenciam, dependendo do momento da compra, do tipo de produto ou serviço, da necessidade ou do desejo do consumidor. Essas razões podem ser do tipo: 32 Unidade I • Emocional: ligadas a questões emocionais, afetivas ou que geram status. Veja o seguinte exemplo: “Comprar presentes para as mães no shopping... é uma prova de amor”. • Racional: nessa razão de compra, o benefício principal que o produto oferece é a melhor relação custo-benefício. Exemplo: “Faça as contas e comprove porque é mais vantajoso comprar produtos de beleza na loja...”. • Emocional e racional: nesta razão é possível serem usados os dois tipos de razões. Exemplo: “Você não precisa pagar mais caro para demonstrar seu amor. Faça suas compras de Natal no comércio de rua”. Lembrete É importante que a empresa descubra quais as razões de compra de um produto ou de um serviço, pois esse entendimento nos leva a escolher as estratégias mais adequadas para atingirmos o consumidor. Tendo em vista que descobrimos diferentes razões de compra de um determinado produto ou serviço, é importante compreendermos que todo produto se enquadra no que denominamos ciclo de vida. Esse ciclo é dividido em quatro fases: • Introdução: momento em que os consumidores têm o primeiro contato com determinado tipo de produto. Esta é uma fase caracterizada por incertezas, custos altos e muita fragilidade. Dessa forma, é necessário que a empresa invista muito em marketing e faça altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento para uma eficaz comunicação de seu produto ou serviço. • Crescimento: é nessa fase que podemos observar que o produto “emplaca”, gerando uma necessidade nos consumidores. No contexto dessa fase podemos observar que as vendas disparam e que as empresas investem em inovação tecnológica, ocorrendo uma diminuição de custos e de incertezas. No entanto, podem ocorrer dificuldades em lidar com excesso de demanda e de concorrência. • Maturidade: as vendas nessa fase atingiram um alto patamar, ocorrendo a partir disso menores investimentos em inovação, e os lucros passam a ser decrescentes devido à concorrência. Por isso, a empresa deve reorganizar o mix de produtos, estabelecer preços mais realistas e buscar novos mercados. • Declínio: os motivos que levam a essa fase podem variar. Mas os profissionais detectam que geralmente o principal motivo que leva as empresas ao declínio é quando surge no mercado uma nova tecnologia. Dessa forma, não havendo investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, a empresa pode chegar a essa fase. 33 PSICOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA Saiba mais Sobre o assunto, leia: KOTLER, P. Administração de marketing: a bíblia do marketing. 12. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2006. 4.3 O modelo de memória de armazenamento múltiplo Não podemos deixar de compreender e valorizar a memoria do consumidor. De acordo com Solomon (2002, p. 80): “[...] perspectivas contemporâneas sobre a memória empregam uma abordagem informação-processamento. Pressupõem que a mente é, em certo sentido, como um computador: os dados entram, são processados e saem para uso posterior de forma revisada”. A psicologia cognitiva estuda a cognição e os processos mentais que estão por trás do comportamento. Ela se estruturou a partir do desenvolvimento da tecnologia, que impulsionou as áreas de comunicação e da inteligência artificial com o advento dos computadores. Para Bock (2011, p. 18), “hoje, o que temos são teorias derivadas dessa vertente pioneira, e ela inspirou, em parte, os estudos do campo cognitivista, que é de muita importância para a psicologia social”. Para a psicologia cognitiva, a aprendizagem ocorre por meio da educação, pressuposto baseado em como as pessoas estabelecem associações entre conceitos, memorizam sequências de conceitos, resolvem problemas e têm ideias. Aqui, a aprendizagem ocorre a partir da relação entre o indivíduo e o mundo que o cerca. Essa abordagem diferencia dois tipos de aprendizagem: a mecânica, que diz respeito às novas informações na estrutura cognitiva; e a significativa, em que é processada quando um novo conteúdo relaciona-se com conceitos relevantes, claros e disponíveis. Uma outra forma de aprendizagem seria aquela em que o consumidor tem conhecimento dos produtos/serviços por meio da prática, pelo contato direto de um produto ou serviço. Para os teóricos dessa linha, uma aprendizagem é válida quando possibilita formas eficazes de comunicação para facilitar as associações entre produtos e serviços. Vale lembrar, contudo, que a memória só é atingida se houver antecipadamente a percepção e o envolvimento de quem desejamos atingir. Os estudos dessa linha teórica da psicologia ocasionaram novos olhares para o entendimento do cérebro. Os psicólogos passaram a estudar os processos mentais, cognitivos, principalmente os que estavam relacionados com a memória, a percepção e as emoções. 34 Unidade I Observação Pesquisas recentes mostram que a memória visual é superior à memória verbal. Um estudo importante nessa área foi o entendimento da estrutura da memória. Após várias pesquisas, criou-se o modelo de memória de armazenamento múltiplo, que abrange três sistemas: • Memória sensorial: compreende os cinco sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato). Nela ocorre a atenção preliminar em que o estímulo é analisado. • Memória temporária: em que a informação fica temporariamente armazenada. Estudos mostraram que ela consegue processar de cinco a sete porções de informações, ou seja, se receber muita informação, parte dela será perdida. • Memória permanente: em que as informações são armazenadas definitivamente. Observação O que ajuda a passagem da memória temporária para a memória permanente é a repetição. Esses e outros estudos na área da psicologia cognitiva foram tão importantes que transformaram o conceito de inteligência. Anteriormente, éramos avaliados quanto à inteligência por meio do chamado quociente de inteligência (QI). Então, a partir dos estudos do psicólogo Daniel Goleman (1946-) no livro Inteligência emocional (1995), reacende-se a discussão sobre o conceito de inteligência. Para ele, a obtenção de nosso sucesso é decorrente da chamada inteligência emocional, que está dividida em cinco áreas de habilidades: autoconhecimento emocional; controle emocional; automotivação; reconhecimento de emoções em outras pessoas; e habilidade em relacionamentos interpessoais. Dessa forma, podemos entender que para uma pessoa ser classificada como emocionalmente inteligente ela deve ter uma habilidade tanto de entender outras pessoas (inteligência interpessoal) quanto de entender a si mesmo (inteligência intrapessoal). Posteriormente, outro psicólogo, Howard Gardner (1943-), propôs uma divisão da inteligência em sete competências: inteligência verbal ou linguística; lógico-matemática; cinestésica corporal (capacidade de usar o próprio corpo); espacial; musical; interpessoal; e intrapessoal. A inteligência, portanto, é afetada pelo estado emocional
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