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Direito Empresarial Aplicado II - Aula 02


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Direito Empresarial Aplicado II
Prof. Frederico Gazolla
Universidade Estácio de Sá
Autonomia: 
Vale destacar que o princípio da autonomia é constituído por dois subprincípios: abstração e inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé.
Abstração: A abstração ocorre quando o título de crédito circula pela primeira vez, ou seja, é transmitido pelo credor original à outra pessoa, pois nesse caso ele se desvincula do negócio jurídico que lhe deu origem (dito negócio subjacente). Por isso, como regra, deverá ser pago mesmo que haja problemas entre as partes originárias do negócio. 
Deve-se ter em conta que a abstração é fundamental para a garantia da circulação do título de crédito, uma vez que quando o título é posto em circulação, se diz que ocorre a abstração.
Cabe destacar que não havendo a circulação do título, ele fica vinculado entre as partes do negócio jurídico originário. Logo, havendo algum problema entre as partes, poderá haver oposição ao pagamento desse documento creditório por estar ele ligado à relação obrigacional entre as partes.
Inoponibilidade das exceções pessoais
Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé: exceção significa defesa. Nesse contexto, o executado, em virtude de um título de crédito, não pode alegar em sua defesa (embargos) matéria estranha à sua relação direta com o exequente (credor), salvo prova de má-fé. 
Os títulos de crédito, para valerem como tais, precisam observar os requisitos legais.
Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.
Art. 888. A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.
Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente.
Além disso, outros requisitos podem ser evidenciados na LUG, na Lei 5474/68 (Lei das Duplicatas), Lei 7357/85 (Lei do Cheque), por exemplo.
Formalismo ou tipicidade
Exemplo
Exemplo
Classificações:
os títulos de crédito podem ser classificados de acordo com quatro critérios, que ocorrem em relação ao modelo, à estrutura, à emissão e à circulação.
O modelo livre significa que o título não possui um padrão estabelecido por norma quanto ao seu formato, mas deve observar os requisitos mínimos que a legislação exige, como valor e assinatura do emissor no caso de nota promissória ou letra de câmbio. 
No modelo vinculado, a norma jurídica define os padrões a serem observados quanto ao seu formato, sob pena de não produzir efeitos cambiários. Por exemplo, a confecção do cheque deve seguir o padrão estabelecido na legislação, quanto ao tamanho, local para assinatura, valor numérico etc. Ao se observar os modelos de cheques dos bancos brasileiros, vê-se que são todos iguais em relação ao tamanho e localização dos campos a serem preenchidos; o que muda é apenas a cor e a marca d’água. 
Modelo: livres e vinculados
 Estrutura: ordem e promessa de pagamento
A estrutura ordem de pagamento significa que a emissão (saque) do título cria três figuras: quem dá a ordem de pagamento (sacador); o destinatário da ordem (sacado, quem deverá pagar o título) e o tomador da ordem (beneficiário, credor). São exemplos dessa estrutura a letra de câmbio e o cheque. 
Já na estrutura promessa de pagamento, o saque do título cria somente duas figuras: quem promete pagar (sacador) e o beneficiário da promessa (credor), como a nota promissória. Em caso de nota promissória, o sacado (quem deverá pagar o título) é o próprio sacador, pois quem efetuará o pagamento é aquele que prometeu (o sacador). No caso da duplicata, quem promete não é o emissor do título, pois este é emitido pelo credor da operação, ou seja, o emissor do título é ao mesmo tempo sacador e beneficiário, sendo que o sacado é o devedor. 
Atenção:
Neste momento já podemos classificar os quatro títulos básicos, a saber: letra de câmbio, nota promissória, duplicata e cheque.
Emissão: causal e não causal
A emissão causal significa que as hipóteses para a criação de determinado título devem estar previstas na legislação, ou seja, o título de crédito somente pode ser emitido se ocorrer o fato que a lei prevê. Exemplo: a duplicata mercantil apenas pode ser emitida nos casos em que ocorrer a compra e venda entre empresários. 
Quando se trata de emissão não causal, o título de crédito pode ser criado independentemente da causa, ou seja, em qualquer hipótese, não precisando de previsão legal. Esse título pode representar uma obrigação de qualquer natureza. Por exemplo, o cheque e a nota promissória podem ser emitidos em qualquer situação (como para o pagamento de pensão alimentícia) ou operação econômica (ilustrativamente, pela venda de quotas sociais de uma empresa). 
Circulação: ao portador e nominativos
O título ao portador significa que ele não tem a identificação do seu credor, ou seja, o credor é quem tem a posse do título. Esses títulos são transmissíveis pela simples tradição (entrega), pois o credor é considerado o possuidor do título. Como exemplo, podemos citar um cheque em que não se preencha o campo do destinatário. 
O título nominativo é aquele que identifica o seu credor, ou seja, consta o nome do credor no título. Logo, a simples tradição não basta para a transferência, sendo necessário adicionar outro ato jurídico (o endosso ou a cessão de crédito).
Título nominativo
Além disso, o título nominativo pode ter cláusula à ordem ou cláusula não à ordem. O nominativo com cláusula à ordem circula mediante tradição e endosso. Isso porque “à ordem” significa “endossável” ou “pague a quem o credor anterior (endossante) ordenar”. Já o nominativo com cláusula não à ordem circula mediante tradição e cessão de crédito.
Se o título não tiver nenhuma dessas cláusulas, ele será considerado à ordem, conforme estabelece o art. 11 do Decreto n. 57.663/66. 
Endosso e cessão de crédito: institutos que transmitem o título de crédito (operações cambiárias) e serão estudados detalhadamente em momento oportuno.
Endosso é a forma de transmissão própria dos títulos de crédito. Em geral, aquele que transmite o título responde pela insolvência do devedor (caso este não pague) e pela existência do crédito (p. ex., ser o título verdadeiro, não falsificado). 
Cessão de crédito serve para transferir qualquer tipo de crédito (de maneira mais usual, é decorrente de contrato, mas excepcionalmente pode ser usada para título de crédito, no caso os nominativos com cláusula não à ordem). Em geral, na cessão de crédito, o cedente (quem transfere o crédito) responde apenas pela existência do crédito (p. ex., ser o título verdadeiro), mas não responde pela insolvência do devedor (caso este não pague).
Tradicionalmente, o estudo dos títulos de crédito em espécie precede a análise das operações cambiárias e adota a Letra de Câmbio como paradigma.
Contudo, esta ordem de pagamento se afasta da realidade de grande parte das pessoas. Por tal razão, utilizaremos o cheque como pano de fundo na análise das operações cambiárias.
Será utilizada uma ordem coerente do ciclo de vida do título de crédito, o que não necessariamente estará alinhado à cronologia legal.
Direito Cambiário: Institutos baseados na Lei Uniforme de Genebra
— LUG — Decreto 57.663/66
Saque: o saque gera o efeito de vincular o sacador ao pagamento do título de crédito.
É o ato de criação do título de crédito, ato originário.
Se for o caso de saque de um título considerado ordem de pagamento, ele cria três figuras: sacador, sacado e tomador (p. ex., o cheque e a letra de câmbio). No entanto, se for o caso de promessa de pagamento, haverá apenas duas figuras (LU, art. 3º). N o caso de nota promissória, terá a figura do sacador, que é ao mesmo tempo sacado, e a figura do tomador, ou seja, tem-se o sacador-sacado e o tomador.
Tratando-se de duplicata, o sacador é simultaneamentetomador e a outra figura é o sacado, ou seja, tem-se o sacador-tomador e o sacado, podendo-se dizer que isso acontece também na hipótese de cheque para si próprio.
A pós o ato do saque, e a partir do vencimento, o beneficiário (tomador/credor) está autorizado a procurar o sacado para poder receber a quantia mencionada no título (atendidas determinadas condições, como o advento do vencimento e o prévio aceite do sacado).
Aceite
É ato através do qual o sacado se integra na relação cambial, reconhecendo e aceitando a dívida. Só se aplica às ordens de pagamento, pois aqui o sacado não participou do ato de criação do título (saque).
A formalização do aceite ocorre por meio da simples assinatura na frente (anverso) do título de crédito, mas também pode ser feito no verso. O aceite é identificado no título de crédito pela expressão “aceito” ou outra equivalente (LU, art. 25). O simples fato de um título de crédito ser emitido e endereçado ao sacado não significa que ele está obrigado a aceitá-lo para, posteriormente, pagá-lo. O aceite é necessário para que o sacado fique obrigado ao pagamento.
Nas promessas de pagamento, o próprio emitente compromete-se com o pagamento, por isso não cabe aplicação do instituto do aceite. O título pode ser apresentado para aceite até a data do vencimento; após isto, só caberá apresentação para pagamento.
Exemplo:
Trata-se de uma duplicata mercantil. Importante relembrar que, neste caso, Sacador (criador do título) e tomador/beneficiário (o que tem direito em receber o valor constante do título) será, necessariamente, a mesma pessoa.
Aceite
Na letra de câmbio, o devedor principal é o aceitante (sacado), e, de início, é ele que deve ser procurado para honrar o pagamento do título. A penas na recusa do pagamento pelo aceitante é que o tomador poderá procurar o sacador (emissor) para cobrar o pagamento.
É possível a inclusão de uma cláusula de não aceitação, cujo título só poderá ser apresentado ao sacado para pagamento diretamente, sem prévio aceite (LUG, art. 22).
O sacado pode solicitar que o título lhe seja apresentado uma segunda vez no dia seguinte (para que tenha tempo de analisar as condições da ordem de pagamento emitida contra ele e se vai aceitar ou não). O beneficiário não é obrigado a deixar o título com o sacado neste período (Art. 24, LUG.). O aceite deve ser dado no próprio documento (princípio da literalidade). Dado o aceite, o sacador converte-se em devedor principal do título.
Aceite qualificado
Aceite limitativo ou parcial — O sacado pode optar por dar um aceite parcial (Art. 26, 1ª alínea c/c art. 53, LUG.) pois não está obrigado a aceitar a totalidade da dívida. Em caso de recusa do aceite ou do aceite parcial, comprovado por protesto, ocorrerá vencimento antecipado da dívida (na sua totalidade ou somente na parte que foi recusada) e o beneficiário poderá cobrar o título imediatamente do sacador.
Aceite modificativo — Se o sacado modificar qualquer outra informação no título que não seja o valor (ex: data de vencimento, local de pagamento) tal modificação, para ser válida perante o credor deve ser aceita por este. Caso haja recusa, o aceite modificativo equivale a recusa total do aceite e deve ser comprovado mediante protesto para viabilizar a cobrança antecipada do título (Art. 26, 2ª alínea c/c art. 53, LUG). 
Atenção:
Ambos os aceites (limitativo e modificativo) acarretam o vencimento antecipado do título e obriga o aceitante aos exatos termos por ele delimitados no aceite parcial (LUG, art. 26).
Endosso
É a forma através da qual o título de crédito circula. Se efetiva com a tradição, por isso o endosso parcial considera-se nulo (Art. 12, 2ª alínea, LUG).
Endosso é o ato de transferir o crédito representado por título à ordem. De acordo com o art. 14 da LUG, o endosso transfere todos os direitos do título. Endossante, por sua vez, é a denominação dada a quem efetua a transferência, e endossatário é quem recebe essa transferência.
O endosso é um ato próprio do Direito Cambiário. Apenas o credor pode endossar. E, como regra geral, o endosso é feito antes do vencimento, pois quando o título vence normalmente se cobra o valor correspondente
São efeitos do endosso: (i) a transferência do crédito, deixando o endossante de ser credor; (ii) a vinculação do endossante ao título, agora na condição de coobrigado/codevedor (isso porque com o endosso o credor passa a ser o endossatário, à luz do art. 15 da LUG).
Endosso
Se o emitente quiser impedir a circulação do título por endosso, basta inserir a cláusula não à ordem235 (mas lembre-se de que mesmo com essa cláusula o título ainda poderá ser transmitido por cessão de crédito).
Só os títulos à ordem podem circular por endosso. Todos os vinculados na cadeia de endosso são solidariamente responsáveis pelo pagamento do título (Art. 15, 1ª alínea, LUG.).
Endosso deve ser feito no próprio título ou na folha de alongamento (princípio da literalidade) - Art. 18, 1ª alínea, LUG.
Atenção!
Se o emitente quiser impedir a circulação do título por endosso, basta inserir a cláusula não à ordem (mas lembre-se de que mesmo com essa cláusula o título ainda poderá ser transmitido por cessão de crédito - Art. 286 e seguintes do CC).
Endosso x cessão civil
O endosso é a forma de transmissão própria dos títulos de crédito. A princípio, aquele que transmite o título (o endossante) responde pela insolvência do devedor (caso este não pague) e pela existência do crédito/idoneidade do título (p. ex., ser o título verdadeiro).
Já a cessão de crédito é utilizada para transferir qualquer tipo de crédito (em geral, originado de contrato, mas excepcionalmente pode ser usada para título de crédito, como acontece quando possui cláusula “não à ordem”). Em geral, na cessão de crédito, quem transfere o crédito (o cedente) responde apenas pela existência do crédito (p. ex., ser o título verdadeiro), mas não responde pela insolvência do devedor (na hipótese deste não pagar), conforme a previsão dos arts. 295 e 296 do Código Civil.
A principal diferença entre o endosso e a cessão de crédito ocorre em relação à ciência do devedor. No endosso, não é necessário que o devedor seja comunicado sobre a transmissão. Já na cessão de crédito, é necessário comprovar que o devedor está ciente do ato de transmissão, conforme o art. 290 do Código Civil.
Tipos de endosso
	Endosso em Preto	Consta o nome do endossatário.
	Endosso em Branco	Não consta o nome do endossatário. Aquele que se apresentar
com o título será considerado seu legítimo beneficiário (Art. 18, 2a alínea, LUG).
	Endosso Póstumo	É aquele feito após a data do protesto por falta de pagamento
ou da data para fazê-lo. Tem efeito de cessão civil de crédito (Art. 20, 1a alínea, LUG).
	Endosso Mandato	Espécie de endosso impróprio ou irregular. Não transmite
o direito de crédito, somente o exercício de alguns direitos,
como cobrança, em nome do beneficiário, protesto (Art. 18, LUG).
	Endosso Caução	Espécie de endosso impróprio ou irregular. Funciona como
uma garantia (Art. 19, LUG).
	Endosso sem garantia	proíbe outros endossos após ele, o que desobriga o endossante quanto ao pagamento a outras pessoas caso haja transferências subsequentes (LU, art. 15).
Atenção!
Não é possível realizar endosso parcial. O endosso parcial é nulo, conforme prevê o art.12 da LUG.
Diferenças
Aval – Art. 30 LUG
É uma garantia cambial (do Direito Cambiário) e autônoma com relação à obrigação do avalizado, isto é, a invalidade da obrigação principal não invalida a obrigação do avalista (LU, art. 32)
Semelhante à fiança, o aval é uma forma de garantia. Tanto a fiança quanto o aval são garantias fidejussórias, ou seja, garantias com vínculo subjetivo, de natureza pessoal, realizadas tendo como base a confiança. Não são garantias reais, como a hipoteca e o penhor, em que há um direito real sobre a propriedade, uma vez que, nestes casos, o bem é dado em garantia.
o Direito Cambiário admita a figura do aval parcial, o art. 897, parágrafo único do Código Civil o proíbe. Esta regraproibitiva não se aplica em virtude do art. 903, CC.
É de suma importância destacar que o avalista assume a mesma posição do avalizado, por exemplo, se avalizar um devedor principal, será equiparado ao devedor principal; se avalizar um coobrigado será equiparado a um coobrigado. É dado no próprio título (princípio da literalidade) e mesmo se a obrigação garantida for nula (por qualquer vício que não seja de forma) persiste a responsabilidade do avalista (princípio da autonomia).
Tipos de Aval
Fiança x aval
Pagamento
O pagamento do título de crédito deve ser feito pelo obrigado principal. Caso este não o efetue e seja comprovada por protesto, a obrigação poderá ser cobrada de qualquer coobrigado. Só se considera extinta a obrigação quando ela é paga pelo devedor principal. Quando um devedor indireto a paga, se sub-roga nos direitos de crédito e pode cobrar de qualquer coobrigado anterior a ele. 
 
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