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1 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA ECONÔMICA Prof. Me. Amauri de Souza Porto Junior Prof. Me. Thiago Rocha Fabris 4 A Ciência Econômica é responsável por estudar os fenômenos da produção, da satis- fação das necessidades dos consumidores e das suas relações via mercados, sem- pre reconhecendo o papel desempenhado pela natureza da escassez. O termo escassez aponta que a sociedade possui recursos limitados e, nesse sentido, não pode produzir todos os bens e serviços demandados pelas pessoas, empresas e governo. Dessa maneira, os economistas estudam como as pessoas tomam suas decisões relacionadas ao consumo, poupança, investimento e trabalho. Estudam a relação entre compradores, vendedores e a formação dos preços de bens e serviços, além de como os mercados se comportam e quais políticas econômicas devem ser implementadas para resolver o problema entre a escolha e a escassez. A CIÊNCIA ECONÔMICA1 A Economia deriva dos termos gregos oikos (casa) e nomos (lei ou norma), ou seja, a gestão da casa. Da mesma forma que a família precisa tomar suas decisões em alocar seus recursos, a sociedade, de maneira análoga, precisa definir o que produzir, para quem produzir, quando produzir e quanto produzir. ATENÇÃO No geral, o problema da sociedade é alocar os recursos escassos de maneira eficien- te, conforme destacam Vasconcellos e Garcia (2003).Já para Mankiw (2013), quando abordamos aspectos relacionados à Economia, referimo-nos a um grupo de agentes econômicos que interagem entre si, e a integração desses agentes reflete o com- portamento de uma economia. Três questões básicas norteiam o funcionamento da economia: a tomada de decisão, a integração entre os agentes econômicos e o fun- cionamento da economia como um todo. Seus desdobramentos estão representados no organizador gráfico e na sequência textual. Gráfico 1− Questões básicas que norteiam o funcionamento da economia Fonte: adaptado de Mankiw (2013). 5 A primeira questão básica pode ser explicitada por quatro princípios fundamentais da tomada de decisão dos agentes que, segundo Mankiw (2013) são: Trade-offs: termo que define uma situação conflitante, ou seja, quando a resolução de um problema econômico acarreta, inevitavelmente, outros. Por exemplo, a redu- ção da taxa de desemprego e a inflação; para reduzir a taxa de desemprego, é neces- sário aumentar a taxa de inflação. Para a sociedade, o trade-off clássico é expresso pela eficiência e igualdade. A primeira significa que a sociedade usufrui ao máximo das recursos escassos, enquanto a segunda significa que os recursos escassos são distribuídos de maneira uniforme entre todos os membros dessa sociedade. Custo de oportunidade: conceito desenvolvido pelo economista Alfred Marshall (1890), coloca que os custos não devem ser absolutos, mas iguais à outra oportuni- dade, isto é, aquilo de que devemos abrir mão para obter algum outro bem ou serviço. O custo de oportunidade de uma determinada escolha é o valor associado à melhor alternativa que não foi escolhida. Racionalidade: os economistas, em geral, pressupõem que as pessoas agem de forma racional. Suas ações são realizadas da melhor forma possível, a fim de alcançar seus objetivos considerando as oportunidades disponíveis. Agentes econômicos ra- cionais tomam suas decisões na margem, ou seja, comparam os benefícios marginais com os custos marginais. Incentivos: é algo que induz as pessoas a agirem. Podem ser tanto na forma de punição como de recompensa. Os incentivos são importantes para entender as polí- ticas econômicas, tanto microeconômicas quanto macroeconômicas. A segunda questão básica está relacionada à integração dos agentes econômicos, e três princípios descrevem de forma sucinta essa relação: Especialização do comércio: o comércio permite que as pessoas se especializem nas atividades em que são melhores. Dessa forma, elas trocam seus produtos e po- dem comprar uma maior variedade de bens e serviços a um custo menor. Mercados: na economia de mercado, diferentemente da economia planificada, as decisões são realizadas por milhões de famílias e empresas. As empresas decidem quem contratar, o que produzir, quanto produzir e para quem produzir. As famílias decidem onde trabalhar e o que consumir. Esses dois agentes interagem no mercado em que seus interesses e os preços guiam essas decisões, ou seja, são guiados pela “mão invisível’’. Falhas de mercado: as economias de mercado precisam do governo para garantir o direito de propriedade, de modo que os agentes econômicos possam criar condi- ções necessárias para realizar a gestão dos recursos escassos. Dessa forma, o go- verno precisa intervir no mercado para promover a eficiência e igualdade dos agentes econômicos. As principais falhas de mercado, pautadas na eficiência, relacionam-se ao conceito de externalidades e ao poder de mercado. A primeira refere-se aos impactos das ações que um agente econômico possa impactar no bem-estar geral da sociedade. Por exemplo, uma empresa, a fim de maximizar seu lucro, pode causar uma externalidade negativa ao meio ambiente. Enquanto que o poder de mercado As decisões de bens e serviços são realizadas pelas autoridades do governo. Dessa forma, na economia planificada, apenas o governo pode organizar a atividade econômica, com o objetivo de promover o bem- estar econômico. 6 se refere à capacidade de um pequeno grupo de agentes econômicos de influen- ciar os níveis de preço do mercado, ou seja, o nível de competição é praticamente inexistente. Por isso, as políticas públicas, quando bem realizadas, garantem que as economias de mercado funcionem de forma eficiente. A desigualdade causada pelas diferenças de eficiência e de preferência dos agentes econômicos causam disparida- des no bem-estar econômico. Nesse sentido, o governo realiza políticas econômicas de transferência de renda ou subsídios para tornar mais igualitário o padrão de vida da sociedade. Entendemos como agentes econômicos tomam suas decisões e como eles intera- gem, agora passaremos a compreender como a economia funciona, por meio da produtividade. Produtividade: o aumento da atividade econômica e o seu desenvolvimento são pontos fundamentais para entender os níveis de produtividade. As diferenças de pro- dutividade explicam porque o padrão de vida brasileiro é diferente do padrão de vida alemão. A produtividade é entendida como a quantidade de bens e serviços produ- zidos por unidade de fatores de produção, o que depende do nível tecnológico, da educação e da experiência dos trabalhadores, de maneira a estabelecer o padrão de vida da sociedade. Os estudos dos Fundamentos Econômicos são divididos em dois ramos: o primeiro, chamado de microeconomia, analisa as unidades familiares produtivas e suas rela- ções; enquanto que o segundo, a macroeconomia, preocupa-se com os estudos dos grandes agregados econômicos. Microeconomia: Pode ser entendida ainda como o ramo que analisa como os preços são determinados em mercados específicos, isto é, como as empresas e os indivíduos se relacionam no mercado. Macroeconomia: Estuda os agregados econômicos, tais como: renda, emprego, preços, exportação, importação, câmbio, consumo, investimento, poupança, juros e outros. EXEMPLO Vasconcellos e Garcia (2003) indicam que o sistema econômico é uma forma política, social e econômica por meio da qual uma sociedade é organizada. Pode ser definido como a organização da produção, comercialização e consumo dos bens e serviços realizados pelos agentes econômicos. Os sistemas econômicos são, geralmente, divididos em economias de mercado, planificada e mista. SISTEMAS ECONÔMICOS3 DIVISÃO DA CIÊNCIA ECONÔMICA2 7 Os agentes econômicos são os atores que, a partir de suas decisões, contribuem para o bom funcionamento do sistema econômico. São formados pelas famílias, empresas e governo. As famílias demandam bens e serviços e ofertam os fatores de produção. As empresas demandam os fatores de produção e ofertam bense serviços. O governo é representado pelas organizações que compõem o Estado. Figura 1 − Fluxo Circular da Economia Trabalho, terra e capital: a remuneração dos fatores de produção é dada pelo salário, aluguel e lucro, respectivamente. Fonte: Mankiw (2013). EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO4 A Economia enquanto Ciência teve início em 1776, com a publicação do livro Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, de Adam Smith. Anterior a publicação dessa obra, a Economia era descrita de forma bastante simples e suas ideias podiam ser resumidas a partir do mercantilismo e da fisiocracia. Abor- daremos a história do pensamento econômico a partir das origens anteriores a Adam Smith, denominada de pré-clássica, passando pelos principais autores clássicos, ne- oclássicos, marxistas e keynesianos. Dessa forma, teremos uma ideia da complexa tarefa de compreender como a Ciência Econômica contribui para a organização da sociedade atual. FASE PRÉ-CLÁSSICA Essa fase é caracterizada pelas ideias inicias de como a sociedade era organizada, do ponto de vista econômico, e qual era o papel do Estado na economia. Basicamente, costuma-se dividir esse período em duas fases, sendo: o mercantilismo, a partir do Século XVI; e as ideais impostas pelos fisiocratas que teve origem no Século XVIII. No início do Período Mercantilista, por vezes denominado de Metalista, a ética cris- tã e os interesses comerciais entram em conflito e, aos poucos, o Estado passou a ocupar o lugar da Igreja no que diz respeito à condução dos interesses da sociedade. MERCANTILISMO (1450-1750) 8 Hunt (2005) coloca que a fase inicial do mercantilismo se originou quando a Europa passava por uma escassez de metais preciosos, ouro e prata. No entanto não tinham condições para atender ao volume crescente do comércio da época. Políticas bulio- nistas foram estabelecidas para atrair esses metais preciosos e mantê-los no próprio país. Os mercantilistas acreditavam que o comércio realizado com outros países de- veria ser estimulado, pois a partir de superávits comerciais conseguir-se-ia aumentar o estoque de metais preciosos. Assim, as exportações foram estimuladas e as impor- tações desestimuladas. Os países europeus, com exceção da Holanda, regulavam a atividade de exportação e importação. Essa regulação era realizada por meio de subsídios a determinados setores da economia que tinham dificuldade de concorrer com produtos estrangeiros. Por outro lado, as matérias-primas de origem desses países tinham uma tributação elevada caso fossem exportadas, como era o caso da indústria têxtil na Inglaterra. Os grandes monopólios foram estimulados nos países europeus, a fim de obter eco- nomias de escala, ou seja, conseguir barganhar os insumos por um preço inferior, caso existissem mais concorrentes no mercado. Para Hunt (2005), diversos governos europeus estabeleceram impérios coloniais, controlados pela metrópole, para asse- gurar os monopólios comerciais. Dessa maneira, as colônias forneciam matérias-pri- mas baratas e compravam produtos manufaturados a preços bastante superiores. Basicamente, o mercantilismo destaca a importância do Estado no acúmulo de rique- zas das nações. Esse pensamento foi dominante entre os Séculos XVI e XVIII. Para essa doutrina econômica, o Estado deveria acumular o máximo de metais preciosos por meio de políticas comerciais protecionistas. Dessa forma, essa escola de pensamento considerou uma forte intervenção do Estado no que diz respeito ao acúmulo de metais preciosos. ATENÇÃO FISIOCRATAS Os fisiocratas surgiram de um grupo de economistas franceses, liderados por Fran- çois Quesnay (1694-1774), cujas ideias conflitavam com os mercantilistas, ao ter como centro das discussões o liberalismo econômico. A análise dos fisiocratas tem como principal ponto de partida a produção e não o comércio, como defendido pelos metalistas. Para os fisiocratas, a sociedade era guiada pela lei natural e a organização da produção e do comércio deveria considerar essas forças de mercado, com a mí- nima intervenção estatal. Para essa escola de pensamento econômico, uma nação não poderia se desenvolver apenas acumulando metais preciosos, era imprescindível realizar investimentos na produção agrícola, que era capaz de gerar excedentes, e não na produção industrial ou comercial pela simples transformação dos insumos em bens finais, gerados a partir dos recursos naturais. 9 Somente a classe de produção agrícola era capaz de gerar excedentes econômicos, por meio do contato com a natureza. Enquanto que os fornecedores de mercadorias industrializadas, chamadas de classe estéril, também produziam, mas não geravam valor, pois o valor gerado por essa classe era igual aos custos dos insumos necessá- rios para a produção de bens não agrícolas mais os salários para a subsistência dessa classe. Os proprietários da terra, compostos pela nobreza e clero, consumiam o ex- cedente produzido pela classe produtiva agrícola. Quesnay expôs, no Tableau Econo- mique, que ocorria uma circulação de renda entre essas três classes da sociedade e que somente o setor produtivo agrícola era capaz de gerar riqueza de forma natural. Hunt (2005) destaca que o comércio e a indústria são apenas desdobramentos da agricultura, já que seu papel se reduz apenas à transformação dos valores. A terra é quem produz valor, seguindo a lógica natural e, portanto, os preços desse setor de- veriam ser mais elevados para gerar lucros e aumentar a capacidade de investimento desse setor. Nessa lógica, a agricultura é que aumenta a riqueza dos países, como uma lei natural. Assim, o Estado deveria somente garantir que essa lógica natural não fosse influen- ciada por fatores exógenos. Logo os fisiocratas defendiam uma baixa regulação dos mercados, diferentemente do que pensavam os metalistas, e a liberação do comércio das exportações e importações com a eliminação de tarifas e subsídios. O pensamen- to dessa escola estava pautado na doutrina do laissez-faire, o livre mercado, que teve grande influência no desenvolvimento da economia clássica. Para os fisiocratas, a sociedade era dividida em três classes: os proprietários da terra, os produtores agrícolas e os demais produtores de mercadorias industrializadas. ATENÇÃO FASE DA ECONOMIA CLÁSSICA A Economia Clássica teve início em 1776, e seu principal percursor foi o economista Adam Smith, com a publicação da obra Riquezas das Nações. Nesse período, a Ciência Econômica adquiriu o caráter científico, baseada nos princípios liberais, in- dividualistas, na livre concorrência e na mínima intervenção do Estado. Esse tipo de pensamento exerceu influência em diversas vertentes econômicas atuais. Entre os principais pensadores, destacam-se: Adam Smith (1723-1790); David Ricardo (1772-1823); John Stuart Mill (1806-1873); Jean Baptiste Say (1768-1834); Thomas Malthus (1766-1834). 10 Adam Smith identificou as principais variáveis que causavam a riqueza das nações. Criticou os mercantilistas e os fisiocratas. Os primeiros, por considerarem que a moe- da gera a riqueza, sendo que, para ele, eram os valores de troca que geravam riqueza. Nesse sentido, a moeda é somente o meio que permite a circulação das mercadorias. E, em relação aos fisiocratas, para Smith, todas as atividades que produzem algum tipo de mercadoria geram valor. Smith procurou demonstrar, sob a luz da teoria do valor-trabalho, que o crescimento da economia e das nações depende do nível de produtividade do trabalho, ou seja, trabalhadores mais especializados geram valor maior do que trabalhadores menos especializados. Portanto a divisão do trabalho também é um dos pontos fundamen- tais de seu pensamento, além de defender uma economia livre de barreiras para o comércio nacional e internacional. O valor, para Smith, é gerado sempre que o preço de comercialização é superior ao custo de produção. Nessa economia, a acumulação de capital também é importante para aumentar a produtividadedo trabalho. David Ricardo (1772-1823), em sua principal obra, intitulada Princípios de Econo- mia Política e Tributação, deu sua maior contribuição para a denominada Economia Clássica. Para Ricardo, o maior problema da economia estava em distribuir a sua riqueza entre as classes capitalistas, proprietárias de terra e trabalhadora. Sua análise relaciona uma economia às características predominantemente agrícolas. O valor das mercadorias era caracterizado por duas principais fontes: a quantidade de trabalho empregado na sua produção e a sua escassez. Ricardo preocupou-se em determinar as relações que originavam o processo de dis- tribuição do produto nas diferentes classes da sociedade. Ele acreditava na existência dos rendimentos decrescentes, ou seja, o processo de produção agrícola mostrava- -se incapaz de fornecer alimentos a um preço acessível para o consumo dos trabalha- dores ao longo do tempo. O surgimento da Teoria da Renda da Terra, elaborada por Ricardo, mostrou que, com o crescimento da população, os produtores ocupariam terras mais inférteis, apresentando custos de produção mais elevados e, consequen- temente, a taxa de lucro aumentaria para os proprietários das terras mais férteis. Em outras palavras, o crescimento da população aumentaria a demanda por produtos agrícolas e, assim, aumentariam os preços desses produtos. Após a utilização de todas as terras férteis, os produtores passariam a cultivar nas terras mais inférteis, em que não se obteria lucro, pois os custos de produção se igualariam às receitas. Já nas terras férteis, o nível de receita superaria os custos de produção, pois seriam mais produtivas. A essa diferença Ricardo chamou de Renda da Terra, isto é, o nível de renda estava relacionado positivamente ao aumento da população. O aumento da população levava a um aumento na quantidade da demanda por ali- mentos, que seria produzidos com custos mais elevados. À medida que os salários reais se ajustavam ao nível anterior, dado o aumento no nível de preço, a participa- ção dos lucros diminuía no total produzido na economia. Dessa forma, a função de produção apresentava rendimentos decrescentes e caminhava para um estado de estacionariedade em longo prazo. Ricardo também estabeleceu a teoria dos custos comparativos. Para ele, as nações 11 deveriam se especializar na produção, em que os custos comparativos fossem mais baixos que de outros países. Dessa forma, a produção seria mais lucrativa. John Stuart Mill (1806-1873), em sua obra Princípios de Economia Política (1848), tinha como uma de suas preocupações analisar o estado estacionário proposto por Ricardo. Para Mill, a livre concorrência entre os capitalistas, dado o crescimento de- mográfico e as inovações tecnológicas, aumentaria a produtividade das terras férteis e inférteis, afastando, dessa forma, o problema do estado estacionário, como proposto por Ricardo. Esse estado estacionário poderia ocorrer somente em longuíssimo prazo. Contudo todos os agentes econômicos teriam um padrão de vida elevado. Nesse novo equi- líbrio, o consumo e o enriquecimento deixariam de ser prioridades da sociedade. De forma generalizada, a obra de Mill aprimorou os escritos de seus antecessores, introduzindo mais elementos para o entendimento de uma economia de mercado. De certa maneira, deixou de lado o rigor do laissez-faire, de modo a afirmar que a economia deveria depender menos das forças naturais a defender um maior grau de intervenção do Estado. Jean Baptiste Say (1768-1834), em seu livro Tratado de Economia Política (1803), ampliou a obra de Adam Smith, mostrando que, a partir do aumento da produção, a renda dos agentes econômicos aumentaria. Dessa forma, criou a famosa Lei de Say, que considerava que a produção é que gerava sua própria procura, impossibilitando uma crise de superprodução. Say achava que a economia era autor regulável e que não precisava do Estado para corrigir eventuais desigualdades sociais e econômicas. Thomas Malthus (1766-1834), em seu livro Princípios de Economia Política (1820), criticou a Lei de Say, pois acreditava que o capitalismo passava por crises que eram resultantes do baixo consumo da população em determinado período. Esse baixo consumo da população decorria, principalmente, de uma diminuição dos salários re- ais, o que impedia a população de manter os níveis de consumo. Dessa forma, os produtores geravam estoques e, consequentemente, diminuíam sua produção. Se- gundo Malthus, a Lei de Say não possuía argumentos sólidos para explicar todas as oscilações econômicas. Em sua obra de maior impacto, Ensaios sobre o Princípio da População (1798), Mal- thus afirma que a produção de alimentos crescia a uma taxa aritmética, enquanto a população crescia a taxas geométricas. Isso levaria a sociedade, em longo prazo, a um estado de pobreza e miséria. O equilíbrio seria reestabelecido por meio de guerras ou de epidemias, que eliminariam as classes mais vulneráveis. Para Malthus, o nível de salários dos trabalhadores deveria cair com o decorrer do tempo, pois a oferta de trabalho crescia de maneira mais rápida que a demanda. Dessa forma, era observável uma queda nos salários e um aumento no nível de preços dos produtos, o que levaria a uma queda dos salários reais com o aumento da população. MARXISMO Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) foram os precursores da eco- 12 nomia socialista. Realizaram a maior crítica ao processo de acumulação capitalista. Segundo os autores, nesse sistema de acumulação ocorrem crises de superprodu- ção, estagnação e desemprego. Com base na teoria do valor-trabalho e da mais valia concluíram que o capitalismo é apenas uma passagem para o socialismo. A destrui- ção do capitalismo ocorreria, principalmente, pela luta de classes, por meio de uma revolução do proletariado. Por fim, os trabalhadores socializariam todos os meios de produção. Essa fase socialista seria uma preparação para o comunismo. Para Marx e Engels, a evolução da sociedade ocorre por meio da luta de classes entre capitalistas e trabalhadores. Na visão de Marx, a classe trabalhadora é explorada pela classe capitalista por meio da retirada da mais valia. Para entendermos o conceito de mais valia precisamos compreender o que é a força de trabalho e o tempo de trabalho. A primeira está rela- cionada à capacidade do homem para o trabalho, enquanto que a segunda é desti- nada ao processo de produção. Tanto Marx como Engels colocam que os capitalistas remuneram os trabalhadores somente em uma parte do valor da sua força e do tempo de trabalho, portanto, os salários correspondem somente a uma parcela do que os trabalhadores produzem. Marx denominou de exploração capitalista a diferença entre a remuneração do trabalhador e o valor do bem final. De forma análoga, a mais valia pode ser entendida como a parcela do trabalho que não é paga ao trabalhador, fonte do lucro do capitalista. As ideias de Marx foram expostas em “O Capital” (1867). Acesse aqui! SAIBA MAIS Essa escola econômica, conhecida também como Marginalista, teve início em 1870. Destacam-se os aspectos microeconômicos voltados às decisões dos consumi- dores e das empresas. Os neoclássicos utilizavam o ferramental matemático para demonstrar como ocorriam as relações entre as variáveis econômicas. Os principais pensadores dessa escola econômica foram: William Stanley Jevons (1835-1882); Carl Menger (1840-1921); Léon Walras (1834-1910); Vilfredo Pareto (1848-1923); Alfred Marshall (1842-1924). Trataremos apenas das abordagens comuns entre esses autores que acreditavam na capacidade de autorregulação das economias de mercado. Portanto, para os neo- NEOCLÁSSICOS http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ma000086.pdf 13 clássicos, a teoria microeconômica era o objeto de estudo. Basearam-se na teoria do valor da utilidade marginal e negaram, dessa maneira, a teoria do valor-trabalho desenvolvida pelos clássicos. Acreditavam que o equilíbriode mercado ocorria por meio da maximização da satisfação dos consumidores e dos produtores. Esses pen- sadores acreditam que as crises de superprodução ou estagnação ocorriam, princi- palmente, por erros cometidos pelos agentes econômicos. Os neoclássicos se baseavam na racionalidade dos agentes econômicos, no equi- líbrio dos mercados e na teoria da utilidade marginal. A crise de 1929 mostrou que a economia neoclássica possuía algumas falhas para explicar as altas taxas de de- semprego observadas na época. Dessa forma, surgiram as ideias de Keynes, a fim de explicar as oscilações econômicas que se observavam na época. KEYNES John Maynard Keynes foi o principal economista que desenvolveu a macroeconomia, mostrando a importância da intervenção do Estado para corrigir eventuais distúrbios econômicos. Em 1936, Keynes publicou sua principal obra, intitulada Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda, de modo a contestar, principalmente, os axiomas mar- ginalistas. Keynes mostrou que a ideia de equilíbrio automático, proposta por clás- sicos e neoclássicos, não era aplicável às economias capitalistas em momentos de crise. Tal motivo foi reforçado pela grande depressão de 1929, em que se observou alta taxa de desemprego em diversas economias. Keynes criticou, ainda, os neoclás- sicos por acreditarem que esses desajustes seriam temporários. Defendia que, para diminuir a taxa de desemprego, o Estado deveria realizar intervenção por meio da re- dução da taxa de juros e aumento do investimento público. Dessa forma, a economia voltaria a suas taxas de pleno emprego. O keynesianismo considerava que a economia operava com desemprego involuntário e, portanto, as empresas operavam com capacidade ociosa. Foi necessário realizar políticas fiscais e monetárias para maximizar o bem-estar da sociedade. Conside- rou-se que o nível de renda e de emprego era determinado pelo consumo e investi- mento. O gasto público deveria ser utilizado quando os níveis de emprego e de renda estivessem abaixo do pleno emprego. Para esse economista, o consumo era determinado pelo nível de renda e seria apenas uma parcela da renda denominada de propensão marginal a consumir. O nível de in- vestimento seria influenciado pelo nível de renda e pela eficiência marginal do capital, dada pela taxa de juros. Os juros seriam uma recompensa para os agentes econô- micos que abririam mão da liquidez, e a eficiência marginal do capital faria alusão à expectativa do lucro do investimento realizado. O laissez faire era inapropriado para as economias capitalistas, pois o Estado deve- ria fomentar ativamente o pleno emprego, por meio de mudanças na taxa de juros, que influenciaria o investimento e também alterações nos gastos do governo, o que motivaria os níveis de consumo. Portanto o Estado ganhou um importante papel na economia keynesiana. 14 Neste texto, compreendemos quais são os princípios norteadores da Ciência Eco- nômica moderna, assim como a evolução do pensamento econômico ao longo dos séculos. As contribuições desses economistas alteraram drasticamente, migrando da forma de pensamento normativa – focada em descrever como o mundo deve funcionar – para o pensamento positivista – descritivo, analítico e científico. Nos pró- ximos textos, exploraremos com mais detalhes os elementos que compõem a Ciência Econômica moderna sob o enfoque positivista, de maneira a compreender o funcio- namento das economias de mercado vigentes. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS HUNT, Emery Kay. História do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Elsevier/ Campus, 2005. MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de; GARCIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de economia. São Paulo: Saraiva, 2003.
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