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Apostila Anestesiologia Grandes 2016

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Anestesiologia Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu - SP - 2016 
 
 1
 
 
 
ANESTESIOLOGIA EM 
GRANDES ANIMAIS 
 
 
 
Stelio Pacca Loureiro Luna 
Antônio José de Araújo Aguiar 
Francisco José Teixeira Neto 
Anestesiologia Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu - SP - 2016 
 
 2
ÍNDICE 
 
TÓPICO PÁGINA 
PREPARO DO PACIENTE PARA A ANESTESIA 2 
AVALIAÇÃO DA DOR E DO SOFRIMENTO ANIMAL 6 
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA DOR 12 
ANALGESIA EM GRANDES ANIMAIS 14 
FARMACOLOGIA DOS ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS E ANTIPIRÉTICOS 16 
FARMACOLOGIA DOS ANALGÉSICOS OPIÓIDES 29 
FARMACOLOGIA DOS ANESTÉSICOS LOCAIS 45 
ANESTESIA LOCAL EM EQUINOS 55 
ANESTÉSICOS GERAIS INTRAVENOSOS 61 
SEDAÇÃO, ANALGESIA E ANESTESIA EM EQUINOS À CAMPO 72 
ANESTÉSICOS GERAIS INALATÓRIOS 81 
ANESTESIA GERAL INALATÓRIA E VENTILAÇÃO CONTROLADA EM EQUINOS 91 
MONITORAÇÃO EM EQUINOS 95 
EQUILÍBRIO ÁCIDO BÁSICO 102 
EQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO E ANESTESIA 119 
ANESTESIA EM EQUINO COM SÍNDROME CÓLICA 136 
TERAPIA DE SUPORTE DO PACIENTE ANESTESIADO 145 
ANESTESIA LOCAL E REGIONAL EM BOVINOS 149 
ANESTESIA EM SUINOS 159 
Anestesiologia Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu - SP - 2016 
 
 3
PREPARO DO PACIENTE PARA A ANESTESIA 
 
FRANCISCO JOSÉ TEIXEIRA NETO e STELIO PACCA LOUREIRO LUNA 
 
 
Avaliação pré anestésica: considerações gerais: 
 A anestesiologia veterinária é uma ciência multidisciplinar que envolve conhecimentos integrados de 
farmacologia, fisiologia e clínica. O exame clínico pré-anestésico é a primeira etapa antes da realização do 
procedimento anestésico. Nesta fase, a condição física do paciente é avaliada através de exames clínico-
laboratoriais e, de acordo com o estado fisiológico do paciente, o risco anestésico é determinado. Com base no 
exame pré-anestésico também se determinam quais as medidas terapêuticas a serem empregadas visando a 
estabilização das funções fisiológicas vitais no paciente que vai ser submetido à anestesia. 
Identificação do animal 
 Na primeira fase da avaliação pré-anestésica deve-se ter à disposição os dados de identificação do 
paciente, como espécie, raça, idade, sexo e estado reprodutivo, já que estes aspectos vão influenciar na escolha 
da técnica anestésica. 
Espécie: 
 Espécies de grande porte como os eqüinos e bovinos apresentam particularidades fisiológicas que devem 
ser reconhecidas em função de seu impacto na anestesia. A anestesia em espécies de grande porte (eqüinos), 
apresenta maior risco de complicações durante o procedimento anestésico quando comparada à anestesia em 
pequenos animais. Em função do seu porte e temperamento, há também de se considerar que a anestesia em 
eqüinos apresenta maior risco de injúrias ao profissional. Em bovinos o maior risco está associado à regurgitação 
e possível aspiração do conteúdo gástrico, com a possibilidade de ocorrência de pneumonia aspirativa. 
Raça: 
 Nos bovinos, as fêmeas de origem européia (Bos Taurus, exemplo Jersey) e os machos de origem indiana 
(Bos indicus, exemplo Nelore) são normalmente dóceis, enquanto que os machos de origem européia e as fêmeas 
de origem indiana são indóceis e de difícil avaliação pré-anestésica. Nos eqüinos, os Puro Sangue Inglês e Árabes 
são normalmente mais indóceis e podem apresentar alguma dificuldade no exame clínico. Asininos e Muares são 
também difíceis de serem contidos e manipulados. 
Idade: 
 Os animais idosos e muito jovens apresentam dificuldade de manter a temperatura corporal e compensar 
eventuais alterações cardiopulmonares. Neonatos (animais com menos de oito semanas de idade) apresentam 
pouca capacidade de metabolizar os fármacos administrados, uma vez que o sistema enzimático hepático ainda 
se encontra imaturo. Da mesma forma, os pacientes geriátricos (animais que excederam 75% da expectativa de 
vida) apresentam dificuldade de metabolizar e excretar os fármacos anestésicos e apresentam uma menor 
porcentagem de água, reduzindo o volume de distribuição dos fármacos. 
 
Sexo: 
 O sexo dos animais não altera as respostas anestésicas. Entretanto, é importante salientar que fêmeas 
em cio podem apresentar maior risco de hemorragia intra-operatória e as gestantes apresentam alterações 
fisiológicas que podem alterar as respostas anestésicas. 
Anamnese 
 Em relação à anamnese, devem ser pesquisados os diversos sistemas facilmente avaliados por meio da 
anamnese inicial, de acordo com o quadro a seguir: 
Anestesiologia Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu - SP - 2016 
 
 4
 
SISTEMAS OBSERVAÇÕES 
Respiratório tosse, dispnéia, secreções 
Endócrino hipo ou hipertireoidismo, Síndrome de Cushing 
Sistema nervoso central convulsões, epilepsias 
Digestório diarréias 
Cardiovascular cansaço fácil, ascite, síncopes 
Hematológico transfusões recentes, mucosas 
 É importante que o anestesista se informe com o proprietário sobre a ocorrência de outras doenças. Além 
disso, faz-se necessário conhecer quais as medicações foram administradas ao animal, uma vez que vários 
agentes podem interferir na ação dos anestésicos e fármacos adjuvantes. 
Exame Físico 
 No exame físico, é importante verificar o peso, a constituição física e o estado nutricional. Os animais 
desnutridos podem apresentar hipoproteinemia, ocorrendo, assim, incremento na fração livre de fármacos que se 
ligam às proteínas, como o tiopental, aumentando o efeito farmacológico dos mesmos e a conseqüente depressão 
que possam causar. Isto se agrava no paciente desnutrido, onde há diminuição da resposta imunológica, da 
capacidade vital pulmonar devido à diminuição da massa muscular, maior incidência de edema pulmonar e 
intersticial e maior sensibilidade aos anestésicos em geral. 
 Freqüentemente, animais anêmicos, desidratados e/ou com perdas sanguíneas significativas são 
apresentados para a anestesia, devendo-se realizar em todo paciente a avaliação do estado volêmico, por meio 
de sinais clínicos como o elasticidade da pele, coloração das mucosas aparentes e tempo de preenchimento 
capilar (TPC). 
 Deve–se verificar a temperatura corpórea do animal. Pacientes que apresentam hipotermia previamente à 
indução anestésica certamente terão este problema agravado pela anestesia, com as suas conseqüências 
inerentes. Animais de porte reduzido (neonatos eqüinos e bovinos, ovinos, caprinos) são mais susceptíveis à 
hipotermia que animais de grande porte. Esta ocorrência é atribuída ao fato de que animais relativamente 
pequenos apresentam maior relação superfíce/massa. 
 No exame do sistema cardiovascular deve-se procurar identificar por auscultação a possível presença de 
sopros e arritmias. Os sopros tem incidência relativamente baixa em grandes animais. Em muitas situações 
observa-se a presença de sopros “inocentes”, que não estão associados à doença cardíaca. No entanto presença 
de sopro cardíaco associado a outros sinais como edema periférico, ascite e/ou dispnéia é forte indicativo de 
doença cardíaca avançada. Animais com histórico de síncope (desmaio), cansaço ou fraqueza devem idealmente 
ser submetidos à avaliação cardiológica previamente ao procedimento anestésico, tal como um eletrocardiograma 
e/ou ecocardiograma. 
 Com relação ao sistema respiratório, deve-se realizar auscultação cuidadosa dos pulmões para se avaliar a 
possível presença de sibilos e estertores, que são indicativos de doença pulmonar. A amplitude e a freqüência dos 
movimentos respiratórios deve ser adequada, indicando que a ventilação é normal. A observação de cianose das 
mucosas aparentes é indicativo de hipoxemia grave devido à comprometimento da função pulmonar. A 
hemogasometria arterial (ver a frente) é indicada em situações onde há alteração significativa da função pulmonar, 
como hérnia diafragmática, traumatismo torácico e doença pulmonar avançada. 
Exames Laboratoriais 
 A seleção dos exames laboratoriais adicionais é baseada no exame físico, classificação do risco 
anestésico (Tabelas 1 e 2) e no tipo de procedimento a ser realizado. 
 
Anestesiologia Veterinária– FMVZ – UNESP – Botucatu - SP - 2016 
 
 5
Tabela 1 - Classificação do estado físico e risco anestésico segundo a American Society of Anesthesiology 
 
Classificação 
ASA 
Descrição Exemplos 
I Paciente hígido Ausência de doença sistêmica. Animais submetidos a 
procedimentos eletivos como tenotomias e orquiectomia. 
II Paciente com afecção 
sistêmica discreta 
Pacentes neonatos e geriátricos; gestantes, obesos, cardiopatas 
compensados, infecções localizadas, fraturas não complicadas. 
III Paciente com afecção 
sistêmica moderada 
Desidratação moderada / hipovolemia; anorexia; caquexia; anemia; 
fraturas complicadas. 
IV Paciente com afecção 
sistêmica grave 
Choque; uremia; toxemia; desidratação grave; hipovolemia severa; 
anemia grave; síndrome cólica; doença cardíaca 
descompensadas. 
V Moribundos sem expectativa 
de sobrevivência, com ou 
sem cirurgia nas 24 horas 
Falência de múltiplos órgãos, choque em fase terminal, 
traumatismo craniano. 
 
Preparo do Paciente para a Anestesia 
Jejum: 
 A presença de conteúdo gástrico aumenta o risco de regurgitação, com possível aspiração e obstrução de 
vias aéreas durante o ato anestésico e pneumonia aspirativa após a anestesia. 
 Nos pacientes em aleitamento (lactentes), o jejum não é recomendado pelo esvaziamento gástrico ser 
extremamente rápido. Portanto em neonatos, o jejum não é necessário, pois podem rapidamente desenvolver 
hipoglicemia quando submetidos ao jejum. 
 Os eqüinos adultos são submetidos a jejum sólido de 12 horas antes da anestesia geral, não sendo 
necessário jejum hídrico devido ao rápido esvaziamento do compartimento gástrico. Em casos de urgência não é 
necessário realizar jejum em eqüinos, já que nesta espécie praticamente não há risco de regurgitação. 
 O jejum assume particular importância em ruminantes adultos submetidos à anestesia geral ou 
procedimentos envolvendo decúbito prolongado, uma vez que o risco de regurgitação de conteúdo ruminal com 
conseqüente pneumonia aspirativa é muito grande. Devido ao tamanho do compartimento gástrico, bovinos 
adultos devem ser submetidos à jejum alimentar e hídrico de 24 horas antes de procedimentos envolvendo 
anestesia geral ou sedação com décubito. O jejum recomendado para pequenos ruminantes (ovinos, caprinos) 
antes da anestesia geral é de 24 e 12 horas para alimentos sólidos e água, respectivamente. Mesmo assim ocorre 
grande risco de regurgitação e os cuidados preventivos quanto a este aspecto devem ser levados em 
consideração. 
 Em casos em que a intubação orotraqueal seja realizada é importante que a cavidade oral seja higienizada 
antes da indução anestésica, para evitar o risco de contaminação respiratória no momento da intubação 
endotraqueal. 
Vias de administração de fármacos 
Os fármacos anestésicos podem ser administrados pelas vias oral (VO), retal, subcutânea (SC), 
intramuscular (IM), intravenosa (IV), intraperitoneal, intracardíaca, epidural, intratecal (subaracnóidea), inalatória, 
intraóssea e intraarticular. 
A via subcutânea apesar de apresentar uma absorção lenta é útil em animais cujo acesso venoso esteja 
impossibilitado. Esta via é contraindicada em eqüinos pois normalmente ocorre inflamação do local. O efeito 
farmacológico normalmente ocorre a partir de 15 minutos e apresenta efeito mais prolongado que as demais vias 
injetáveis. 
A via intramuscular apresenta tempo de ação intermediário entre a via subcutânea e a intravenosa. Tem as 
mesmas indicações e precauções da via subcutânea, levando-se em consideração a maior rapidez de efeito que 
esta última. Como desvantagem principal o volume do fármaco deve ser reduzido. É uma das vias mais utilizadas 
em grandes animais, devendo ser administrada na região cervical e na músculo glúteo no membro posterior. 
A via intravenosa é uma das mais utilizadas em anestesia, tendo em vista a rapidez de ação e a 
possibilidade de administração de grandes volumes, particularmente para fluidoterapia. É freqüentemente utilizada 
Anestesiologia Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu - SP - 2016 
 
 6
em casos de emergência quando necessita-se de um efeito imediato. Outro uso freqüente desta via é durante a 
anestesia intravenosa contínua, quando pode-se controlar de modo relativamente preciso a(s) concentração(ões) 
do(s) anestésico(s) administrados por meio de bombas de infusão. Diversos fármacos que não podem ser 
administrados pelas vias subcutânea e intramuscular, dada a possibilidade de irritação, podem ser administrados 
pela via intravenosa. Durante uma anestesia deve-se sempre ter disponibilidade de acesso intravenoso para casos 
de emergência, mantendo-a veia canulada. Em grandes animais a melhor opção é a veia jugular. Como alternativa 
tem-se a veia mamária em vacas e a torácica lateral em eqüinos. 
A via intraperitoneal apresenta um efeito mais rápido que a via IM e mais lento que a IV. É indicada para 
animais de laboratório ou de porte muito pequeno, quando o acesso venoso é inviável. Pode também ser utilizada 
para fluidoterapia. 
Uma outra via de acesso de efeito tão rápido quanto a IV e que também permite a administração de grandes 
quantidades de fluidos é a intraóssea. Entretanto é mais utilizada em pequenos animais. Normalmente utiliza-se o 
trocanter maior do fêmur ou a tuberosidade ilíaca como via de acesso, podendo-se ou não lançar mão de agulhas 
específicas. 
A via intracardíaca apesar de apresentar efeito extremamente rápido deve ser evitada pela possibilidade de 
dano do miocárdio e lesão das estruturas torácicas. É utilizada na área de auscultação cardíaca. As vias epidural, 
intratecal e intraarticular são normalmente utilizadas para administração de anestésicos locais e serão discutidas a 
seguir, bem como a via inalatória. 
 
Anestesiologia Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu - SP - 2016 
 
 7
 
AVALIAÇÃO DA DOR E SOFRIMENTO ANIMAL 
 
STELIO PACCA LOUREIRO LUNA 
 
Não existe nada pior que a dor. Ela fragmenta o ser e o incapacita para viver 
 
O QUE FAZ OS ANIMAIS SOFREREM? 
O principio de analogia é uma ótima forma de responder esta questão de um modo simples. Todos os estímulos 
ou fenômenos que desencadeiam sofrimento no ser humano podem potencialmente desencadeá-lo em animais. 
Entretanto, devido às diferenças nos comportamentos de cada espécie, em muitos casos alguns estímulos que 
não causam sofrimento no ser humano, podem desencadear em animais e vice-versa. Os principais estímulos 
desencadeantes de sofrimento nos animais são a dor, ansiedade, medo, estresse, desconforto e injúria ou trauma. 
Assim, além dos estímulos físicos, o sofrimento pode ser causado por sensações emocionais desagradáveis como 
por exemplo em casos de contenção, barulho e/ou iluminação excessivos, odores de predadores ou qualquer 
situação em que haja incapacidade do animal de manifestar o comportamento normal, situações estas freqüentes 
em animais silvestres em cativeiro e em animais de produção contidos em espaços exíguos, como é o caso de 
aves, suínos e ruminantes em confinamento. 
Dentre as causas de sofrimento, um dos conceitos que é mais estudado para melhor abordar esta questão é o 
estresse, definido como a energia necessária para resistir e reverter os efeitos adversos impostos por um estímulo 
físico, fisiológico e/ou emocional considerado nocivo, que levam a uma alteração da homeostase. Esta reação de 
adaptação produz a uma resposta comportamental e/ou fisiológica do organismo, caracterizada por alterações 
cardiovasculares, endócrinas e metabólicas. A resposta ao estresse pode ser benéfica e é fundamental para a 
sobrevivência, quando uma alteração imediata de comportamento é suficiente para o animal se livrar do estímulo 
ou se adaptar ao mesmo. Por exemplo, quando os animais procuram abrigo e apresentam modificações 
fisiológicas frente às condições adversas do ambiente ou quando uma presa foge do predador com sucesso. 
Desta forma a resposta de estresse salva a vida na maioria das situações. Animais adrenalectomizados e 
incapazes de produzircortisol são muito susceptíveis aos pequenos insultos, como extremos de frio, calor, 
infecção e trauma, que um animal normal facilmente suportaria. Apesar da resposta de estresse ser fundamental 
para a manutenção da vida, caso o estímulo seja muito intenso ou persistente e o organismo não consiga se 
adaptar, esta resposta pode ser deletéria se prolongada e prejudicar o organismo, causando distúrbios sociais, 
alimentares, digestivos, reprodutivos, cardiovasculares e imunes, entre outros descritos a seguir. 
Além das injúrias, traumas e doenças, os animais são susceptíveis a outros estímulos que causam dor e 
sofrimento. Em eqüinos as maiores causas de estresse são confinamento, alimentação inadequada causando 
desconforto abdominal e alterações ortopédicas. Cavalos mantidos em Jockeys ou Hípicas apresentam acima de 
95% de incidência de úlceras gástricas, demonstrando claramente o manejo inadequado a que estes animais 
estão submetidos. Cães e gatos sofrem por ansiedade de separação e solidão. Na Grã-Bretanha, 25% destes 
animais apresentam estresse, hiperatividade e depressão, principalmente pelo fato que os donos passam muito 
tempo longe de casa, bem como pela mudança na rotina, como a chegada de um bebê ou um novo animal de 
estimação. 
As causas principais de dor e sofrimento em animais de produção são: em ruminantes a marcação à quente ou 
frio, castração, descorna, mastite e laminite, onde mesmo após a resolução clínica da laminite, o limiar de dor 
destes animais está reduzido, dada sensibilização central do sistema nervoso; em aves domésticas a muda 
forçada, debicagem e doença degenerativa articular e em suínos a caudectomia e o corte de dentes. O próprio 
manejo dos animais pode ser uma causa considerável de estresse, tal como o transporte e confinamento, este 
último particularmente importante em casos de aves de postura e de corte e em criações intensivas de suínos e 
“baby beef”. As aves de postura são confinadas em áreas muito restritas e de alta densidade populacional, o que 
causa aumento da agressividade e histeria extrema em determinadas linhas genéticas. Na muda forcada estes 
animais são submetidos a longos períodos de restrição alimentar, chegando a perder 35% do peso e apresentar 1 
a 2% de mortalidade (Underwood 2002). 
Além de atividades relacionadas ao manejo para produção, muitos animais estão sujeitos a práticas de “esporte” 
que causam ao sofrimento, tais como algumas provas de rodeio e torneios ilegais de luta. Estas atividades não 
deflagram apenas a dor física, mas estão imbuídas de um dano emocional devido ao estresse psíquico e a 
frustração que muitas vezes acarretam (Prada et al 2002). 
 
Conseqüências do estresse. 
O cientista inglês Charles Darwin em 1872 estabeleceu que diferentes tipos de estímulos externos 
desencadeariam uma resposta orgânica similar. Em 1929, Cannon fez esta colocação de forma mais científica e 
caracterizou o estresse como uma resposta fisiológica produzida pelo aumento da atividade do sistema nervoso 
simpático. Esta alteração seria a mesma para excitação, fome, dor e medo. Em 1935, o austríaco erradicado no 
Canadá, Hans Selye definiu a “síndrome geral de adaptação", estabelecendo as três fases do estresse: 1) reação 
de alarme (luta ou fuga), caracterizada pela fase aguda de ativação do sistema nervoso simpático; 2) fase de 
Anestesiologia Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu - SP - 2016 
 
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adaptação ou resistência, que depende das condições ambientais e do passado da história do animal, da 
experiência prévia, da presença de outros estímulos simultâneos, como fome e frio, da idade que quanto menor, 
menor a resistência e do sexo, já que a glândula adrenal das fêmeas é maior que a dos machos e 3) exaustão do 
sistema biológico de defesa, em que a resposta passa a ser danosa e até irreversível. 
O estresse crônico pode causar alterações comportamentais, como vocalização, movimentação e fuga, tendência 
anti-social e agressiva, fraqueza e tremores musculares, atrofia dos músculos faciais, alopecia simétrica, aumento 
do abdômen, aumento do consumo de água, aumento do apetite em estresse agudo, redução do apetite em 
estresse crônico, redução da conversão alimentar, perda de peso, formação de úlceras digestivas, 
imunodepressão, dificuldade de cicatrização, hipertensão arterial, desequilíbrio eletrolítico, poliúria, aumento do 
estímulo sexual, com masturbação, copulação excessiva ou redução da capacidade reprodutiva, com redução na 
libido, infertilidade e redução do desenvolvimento fetal. 
A resposta de estresse envolve um componente emocional e pode variar de acordo com a espécie, indivíduo, 
idade, sexo, estado geral do animal, intercorrência de estímulos simultâneos, entre outros. A intensidade da 
resposta fisiológica depende da percepção de cada indivíduo e da severidade do estímulo. De modo geral a 
experiência prévia minimiza a resposta de estresse e diferentes estímulos podem desencadear diferentes 
respostas fisiológicas. Desta forma a resposta de estresse não é específica e qualitativamente a mesma 
independente da natureza do insulto, mas pode variar de acordo com o tipo e qualidade do estímulo. Dada a estas 
considerações não há um único teste biológico fidedigno e específico para se avaliar a resposta ao estresse e o 
conjunto de alterações psíquicas, comportamentais e fisiológicas devem ser avaliadas em conjunto. 
Fisiologicamente o estresse é caracterizado por alterações de comportamento, sistema nervoso autônomo e 
neuro-endócrino. Ocorre todo um movimento do organismo para aumentar o catabolismo, por meio de alterações 
cardiovasculares, com estímulo do sistema nervoso simpático, onde o sangue é dirigido da pele, vísceras e rins 
para órgãos vitais, como o coração, cérebro e musculatura esquelética. As alterações endócrinas se caracterizam 
por aumento dos hormônios catabólicos, como o hormônio liberador da corticotrofina, ACTH, opióides endógenos, 
cortisol, vasopressina, prolactina, glucagon, hormônio do crescimento, renina e catecolaminas e redução dos 
hormônios anabólicos, como a insulina, para aumentar a produção de energia. O cortisol é um hormônio chave 
durante o estresse, pois aumenta o catabolismo de carboidratos, por meio do aumento da gliconeogênese, 
glicogenólise e efeito anti-insulina, causando hiperglicemia. Aumenta o metabolismo de proteínas, por aumento da 
gliconeogênese, dos níveis de proteínas plasmática e hepática, da concentração de aminoácidos no sangue e 
balanço negativo de nitrogênio e aumenta o metabolismo de lipídeos, por aumento da gliconeogênese, 
mobilização de ácidos graxos e aumento da síntese e armazenamento de lipídios. Adicionalmente interfere no 
balanço hidro-eletrolítico, pois causa retenção de sódio e cloro e aumenta a excreção de potássio. Quanto aos 
efeitos cardiovasculares, aumenta a sensibilidade do miocárdio às catecolaminas, protege contra os efeito tóxicos 
das catecolaminas e apresenta efeito inotrópico positivo no miocárdio. O cortisol ainda atua nas células 
sanguíneas e órgãos linfáticos, com redução do número de eosinófilos, basófilos e linfócitos e redução do 
tamanho dos órgãos linfáticos. Atua também na função renal, com aumento da filtração glomerular, diurese, 
redução da retenção de potássio, aumento da reabsorção de sódio e excreção de fosfato, nos ossos, onde reduz 
a formação de cartilagem e o crescimento. No sistema gastrointestinal, aumenta a secreção de ácido gástrico e de 
pepsina, com potencial ulcerogênico. Pode induzir o parto em determinadas espécies e apresenta efeito 
antiinflamatório, antialérgico e imunossupressivo. 
Em casos de animais silvestres, a contenção produz uma resposta aguda de estresse, já que o animal é 
impossibilitado de fugir ou lutar, ocasionando assim uma frustração e conseqüente exaustão física. O estresse 
deste modo pode facilmente causar o óbito, podendo ser o mesmo imediato, caso ocorra imediatamente após o 
estresse, causado por traumas, hemorragia, hipoglicemia, anóxia, fibrilação ventricular ou paradacardíaca; 
mediato, caso ocorra na primeira hora após o estresse, tal como trauma, timpanismo gástrico, hipocalcemia, 
hipoglicemia, hipo ou hipertermia ou acidose e finalmente tardio, quando a morte ocorre algumas horas ou até 30 
dias após, tal como timpanismo gástrico, trauma, pneumonia aspirativa e miopatia de captura. A miopatia por 
captura é um dos problemas mais comuns observados durante a captura, contenção ou transporte, sendo uma 
doença muscular degenerativa caracterizada por liberação de potássio, mioglobina e lactato, podendo ocasionar 
fibrilação ventricular, necrose tubular com insuficiência renal e acidose. 
 
Contexto histórico-evolutivo da abordagem da dor e sofrimento e comparação entre o 
ser humano e os animais 
A dor tem sido historicamente negligenciada no ser humano, quiçá em animais, nos quais historicamente, a dor foi 
desconsiderada por muito tempo. A visão Cartesiana estabelecida por René Descartes no século XVII, propunha 
que os animais eram fisiologicamente diferentes do homem e que a reação destes seres a um estímulo doloroso 
seria puramente mecânica, sem haver consciência da dor. A resposta demonstrada frente a um estímulo nocivo 
seria apenas um reflexo de proteção, determinado pelo sistema nervoso autônomo. Levando-se em conta que 
nesta época não se conseguia provar que os animais sentiam dor, simplesmente se assumia que a dor não fazia 
parte das sensações dos animais. Dentro da visão atual, graças à teoria evolutiva de Charles Darwin no século 
XX, considera-se o homem descendente dos animais. Desta forma, estes são usados para estudar a fisiologia e a 
farmacologia de mecanismos da dor no homem. Assim estabeleceu-se o dilema que se o comportamento da dor é 
puramente mecânico nos animais, sem haver consciência da mesma, não seria necessário tratar a dor, nem se 
Anestesiologia Veterinária – FMVZ – UNESP – Botucatu - SP - 2016 
 
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preocupar com o bem estar dos animais. Entretanto, ao mesmo tempo, não haveria justificativa para se usar 
animais em modelos de dor para que os resultados sejam aplicados no ser humano. O bom senso sugere que a 
falha em provar alguma coisa não significa a não existência do fenômeno, ou seja “a ausência de evidencia não 
significa a evidencia da ausência” (Prada et al 2002). 
Da mesma forma que não há dúvida de que o homem sofre e sente dor, há evidências claras de que os animais 
sofrem e sentem dor como o homem, tendo em vista a anatomia, a fisiologia e respostas farmacológicas similares, 
reações semelhantes à um estímulo nocivo e comportamento de esquiva frente a uma experiência dolorosa 
repetida. O sofrimento é subjetivo e a melhor forma de avaliá-lo é em nós mesmos. Daí a máxima, “ponha-se no 
lugar do animal”, pois está é a melhor forma de avaliar o sofrimento alheio. Segundo Charles Darwin “não há 
diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades mentais... os animais, como os 
homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento”. 
 
Implicações e abordagem da dor em animais 
Dentre os conceitos atuais, a dor pode ser classificada em nociceptiva (somática ou visceral), neuropática e 
psicogênica. A dor nociceptiva é a clássica dor aguda relacionada, por exemplo, a um trauma ou à cólica digestiva. 
A dor neuropática na maioria das vezes origina-se a partir da dor aguda não tratada ou tratada de forma 
insuficiente, passando a ser crônica. Neste caso, a dor passa de sintoma, no caso da dor nociceptiva, à própria 
doença, no caso da dor neuropática, caracterizando-se como uma forma de estresse. O componente psicogênico 
da dor também é muito importante não apenas no ser humano. Vinte e cinco por cento dos pacientes que 
procuram tratamento para dor, não apresentam nenhuma lesão. Em animais, a situação talvez não seja diferente, 
tendo em vista que boa parte das fibras que transmitem impulsos nervosos relacionados à dor conectam-se 
diretamente ao sistema límbico, que é o centro das emoções. Desta forma a dor em animais apresenta além do 
aspecto físico, um componente emocional importante. 
A dor é considerada o quinto sinal vital, juntamente com a função cardiorrespiratória e a térmica. Apesar de todo o 
avanço tecnológico da medicina, a dor é um dos maiores escândalos desta especialidade, dada muitas vezes à 
impotência diante da obtenção de um tratamento eficaz para a mesma. Do lado de quem prescreve, as razões 
pelas quais a dor não é tratada apropriadamente se devem a falta de conhecimento e de objetividade, falha de 
prescrição, questões econômicas e temor de efeitos colaterais advindos do tratamento farmacológico. Por outro 
lado, a medicina humana e veterinária muitas vezes é impotente para o tratamento adequado da dor, mesmo 
quando o método é bem selecionado, dada a complexidade dos mecanismos envolvidos na deflagração da dor. 
De forma geral, em animais, esta questão se agrava e, mais ainda, quando se trata de animais de grande porte. 
Nestes seres, o uso de analgésicos é ainda restrito e de pequena magnitude. Um estudo demográfico realizado no 
Brasil revelou que dos veterinários que usam analgésicos, quase 90% utilizam antiinflamatórios não esteróides e 
apenas 4% usam opióides em pequenos animais (Santos et al 2003). O primeiro levantamento do uso de 
analgésicos no pós-operatório de pequenos animais foi realizado nos EUA e indicou que apenas 28% dos cães 
recebiam analgésicos após cirurgias e apenas 19% dos cães foram tratados após 8 horas de pós-operatório 
(Hansen & Hardie 1993). Neste mesmo estudo apenas 6,7% dos gatos recebiam analgésicos. No Canadá 84% 
dos cães e 70 % dos gatos recebiam analgésicos após procedimentos ortopédicos e em torno de 9 a 17% dos 
animais após cirurgias de castração (Dohoo & Dohoo 1996ab). Na Austrália, até 1996, apenas 5% dos médicos 
veterinários utilizavam antiinflamatórios não esteróides em cirurgias de castração em cães e cadelas (Watson et al 
1996). Na Grã-Bretanha em estudos mais recentes, mais de 90% dos veterinários utilizavam analgésicos em cães 
e gatos após cirurgias ortopédicas, entretanto o uso de analgésicos após castração foi 53% e 32% em fêmeas e 
machos caninos e 26% e 16% em fêmeas e machos felinos (Capner et al 1999, Lascelles et al 1999). Estes 
números foram similares em outros países como a África do Sul e Nova Zelândia (Joubert 2001, Williams et al 
2005). Pode-se ver claramente que está havendo uma maior conscientização da necessidade do uso de 
analgésicos em pequenos animais, porém ainda aquém do necessário e que os gatos são tratados em menor 
porcentagem que os cães. 
Além da questão ética e moral do bem estar animal, a dor é biologicamente danosa, por dificultar a cura de lesões, 
devido à resposta de estresse; causar emagrecimento, tanto pela redução do apetite, como pelo aumento do 
consumo de energia; risco de automutilação; possibilidade de se tornar crônica; depressão da função imune e em 
casos de pós cirúrgico, aumento do tempo de recuperação e maior risco de complicações pós-operatórias. Como 
exemplo, ratos portadores de câncer e submetidos a analgesia apresentaram 80% menor incidência de lesões de 
metástase que os que cuja dor não foi tratada (Page et al 1993). 
A questão puramente econômica também seria um argumento relevante para abordar este tema em animais com 
mais atenção. A produção dos animais pode ser profundamente afetada em presença de dor, interferindo no bem 
estar e no estado de saúde dos mesmos. Em estudo recente (Sturlini & Luna 2006), observou-se que leitões 
castrados sob efeito de anestesia local apresentaram maior ganho de peso na semana após a cirurgia, que 
aqueles em que o procedimento foi realizado sem anestesia. Este aumento de peso superou os gastos com o 
procedimento anestésico, demonstrando a vantagem e a viabilidade econômica de se evitar o sofrimento 
desnecessário de animais. É comum o argumento de que o tratamento da dor em animais submetidos a 
procedimentos ortopédicos deve ser limitado dada à possibilidade do animal “forçar” o membro e interferir na 
recuperaçãoda cirurgia. Entretanto, cães submetidos à correção de fratura de fêmur apresentaram melhor 
recuperação do ponto de vista cirúrgico, em termos de melhor cicatrização, consolidação da fratura mais rápida e 
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menor edema, infecção e migração de pino, quando tratados com analgésicos antiinflamatórios do que os não 
tratados (Cruz et al 2000). Em eqüinos, cujo uso de analgésicos opióides é polêmico dada à possibilidade de 
excitação, o risco de efeitos adversos com o emprego de morfina é inversamente proporcional à intensidade da 
dor (Muir, 1981), podendo a mesma ser indicada para esta espécie em casos de dor. Assim, frente a diversos 
estudos, é irrefutável que a dor seja prevenida e tratada nos animais. 
 
Meios da avaliação da dor em animais 
A avaliação da dor em animais é difícil, pela ausência de entendimento de sua capacidade de comunicação ou 
pela própria falta de sonorização, da mesma forma que os neonatos humanos. As atitudes com relação ao uso de 
analgésicos em animais variam de acordo com o sexo e idade dos veterinários. As mulheres são mais sensíveis 
na avaliação da dor e normalmente estabelecem escores de dor mais altos que os homens, da mesma forma que 
veterinários com menor tempo de graduação em relação aos graduados há mais tempo (Dohoo & Dohoo 1996ab 
Capner et al 1999, Lascelles et al 1999). 
O comportamento é o componente principal na avaliação, já que normalmente está alterado. Entretanto, no caso 
de animais exóticos, diversas vezes sequer se conhece o que é o comportamento normal da espécie em questão. 
Há diversos estudos referentes a métodos de interpretação de dor em animais, onde se descrevem escalas de 
avaliação, que apesar de aparentemente subjetivas são extremante úteis na prática (Holton et al 2001, Price et al 
2003). Dentre as escalas, normalmente utilizam-se escores, escala analógica visual, onde se traça uma linha de 
zero a dez cm, sendo zero correspondente a um animal sem dor e dez a pior dor possível e escala de contagem 
variável, onde se associam vários parâmetros de avaliação. Para uma avaliação mais abrangente da dor, as 
alterações comportamentais devem ser complementadas com a observação das alterações fisiológicas. As 
alterações comportamentais mais óbvias de dor em cães a gatos são agressão, vocalização e inquietude. Quanto 
à vocalização, no cão pode ocorrer de acordo com a intensidade da dor latido, uivo, gemido e choro e no gato, 
sibilo, choro, gemido e grito. Alguns animais se escondem e relutam em se levantar e movimentar, aparentando 
estarem sedados. Andam, sentam-se ou deitam-se de forma anormal e com dificuldade. Ficam desinteressados 
do ambiente, “rígidos” e com tremores. Os cães e gatos apresentam dorso arqueado, posicionam o rabo entre as 
pernas e abaixam a cabeça, protegem a área afetada, lambem e olham para o local afetado. A dor nos membros 
causa claudicação e pode haver automutilação. Gatos com dor abdominal adotam posição de esfinge com tensão 
da musculatura abdominal. Os cães não abanam a cauda e os gatos pouco a movimentam. Os gatos não se 
lambem e não praticam a auto-limpeza. 
Os cavalos ao sentir dor podem apresentar movimentos de arranque em poucos passos, parar, balançar o trem 
posterior e reiniciar o mesmo movimento. Podem ranger os dentes, morder a área afetada, apresentar movimento 
de esquiva, balançar a cabeça e a cauda e resfolegar. Os lábios podem ficar enrugados. Alguns animais enchem 
a boca de alimento, mas não mastigam, nem engolem e podem brincar e espalhar a água sem ingestão. Sinais de 
dores nos membros se caracterizam por apoiar e levantar constantemente o membro, aliviar o peso do membro 
afetado, mantendo o discretamente flexionado e relutância em se movimentar (Taylor et al 2002). Cavalos 
submetidos à artroscopia passaram menor tempo se alimentando, se movimentando, em comportamento 
exploratório e em decúbito esternal e demonstraram maior ocorrência de comportamento anormal entre 24 e 48 
horas após a cirurgia em relação à cavalos não submetidos à cirurgia (Price et al 2003). Os cavalos com dor 
lombar apresentam além dos sinais gerais de dor já mencionados, intensa sensibilidade ao serem selados ou 
montados, se rebaixando nestas atividades, dificuldade em se curvar ou permitir ser cavalgado, tropeço, passos 
curtos, relutância em se moverem e perda de performance. Os sinais de dor abdominal em eqüinos são clássicos 
e envolvem desde depressão ou agitação intensa, abaixamento da cabeça, relutância em se movimentar, olhar 
para o flanco, movimentos de cavar com a pata, sudorese profusa, mímica de micção sem urinar ou urinar pouco e 
até decúbito, com rolamento e movimentação das patas, havendo a possibilidade de choque neurogênico e óbito. 
O óbito de um eqüino com dor abdominal é uma cena chocante e inesquecível. Em casos de dor crônica, os 
animais apresentam tensão abdominal, depressão, abaixam a cabeça, apresentam postura anormal de cabeça, 
evitam outro cavalos, ficam isolados, com olhar fixo, indiferente e distante (Taylor et al 2002). 
Bovinos normalmente vocalizam com grunhidos e urros, rangem os dentes, relutam em se moverem, alteram a 
expressão facial e reduzem a produtividade. Suínos gritam, não se levantam, não respondem à presença de 
outros animais e se tornam irritados ou mesmo agressivos. Ovinos podem balir, ranger os dentes, alterar a 
expressão facial, parecerem desinteressados e isolados do grupo. Além das alterações anteriores, observadas em 
ruminantes, os caprinos alternam freqüentemente a postura e parecem agitados, batendo o pé. Em aves de 
produção pode haver alterações de postura, reações de fuga, vocalização e movimentos excessivos de cabeça e 
pescoço. Pássaros portadores de dor crônica podem ficar passivamente imóveis em postura agachada, olhos 
cerrados e cabeça encolhida no corpo (Underwood 2002). 
Sem mencionar os animais silvestres, mesmo em animais domésticos, de laboratório ou de produção, pouco ainda 
se conhece sobre o comportamento. Desta forma, a avaliação da dor em animais não deve levar em conta apenas 
o comportamento. As respostas variam muito e as interpretações podem ser equívocas. Por exemplo, estudos 
utilizando câmaras de vídeo demonstraram que a simples presença física do observador altera completamente o 
comportamento de coelhos (Flecknell 2006). Na dúvida deve-se utilizar o principio da analogia, ou seja, tudo o que 
dói no homem, dói no animal. 
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As alterações fisiológicas relacionadas à dor se caracterizam por estímulo do sistema nervoso simpático, com 
aumento da freqüência cardíaca, respiratória e da pressão arterial, dilatação da pupila, sudorese no coxim, no 
caso de gatos e generalizada e abundante no caso de eqüinos. Adicionalmente ocorre ativação do metabolismo 
com aumento da secreção de hormônios do catabolismo, da mesma forma que na resposta de estresse 
anteriormente mencionada. 
 
Controle da dor em animais 
 A complexidade da dor ultrapassa a fronteira física. A dor também se estabelece pelas influências do meio 
ambiente e do aspecto psicológico do animal, daí ser considerada como um fenômeno biopsico-social, que 
envolve os aspectos biológico, psíquico e social do indivíduo. Está relacionada ao ambiente que o animal vive e 
conseqüentemente às condições de tratamento do mesmo. Assim, a abordagem da dor em animais deve ser 
multidisciplinar, mesmo quando se trata de animais de produção e fatores externos aos animais devem ser 
levados em consideração. 
Os conceitos recentes demonstram que a melhor forma de controle da dor é a prevenção. Desta forma, evita-se a 
sensibilização periférica e central do sistema nervoso, esta última muitas vezes irreversível, dada à dificuldade de 
tratamento. Isto se deve ao fato de que neurônios com poucos receptores podem se tornar ricos em receptores de 
dor, com ampliação da sensibilidade. Este estado de hipernocicepção pode perdurar toda avida, tornando-se 
crônico. Muitas dores crônicas se iniciam com estados dolorosos agudos e podem ocorrer sem nenhuma 
evidência de lesão. Desta forma a dor pode continuar mesmo que a lesão inicial seja curada. Em algumas 
situações não existe terapia para alívio total, apenas o sono. Como citado anteriormente este tipo de dor é 
conhecida como neuropática e é gerada por uma deformação plástica das membranas nervosas, reorganização 
da neuroanatomia, alteração genética da medula espinhal e morte dos neurônios inibitórios da dor. 
Um mito normalmente considerado é que os animais jovens não possuem o sistema nervoso tão desenvolvido e 
desta forma o sofrimento é menor. Entretanto, a ciência mostra que neonatos apresentam maior sensibilidade que 
adultos na percepção da dor (Hellebrekers 2002). É importante lembrar que até o início da década de 80, eram 
realizados procedimentos cruentos em neonatos humanos, inclusive cirúrgicos, sem anestesia ou analgesia, 
simplesmente pelo fato que não se percebia que os bebês apresentavam dor. 
Da mesma forma que a dor deve ser avaliada de forma multidisciplinar, também deve ser tratada 
preferencialmente por associação de vários métodos. Apesar da grande importância dos métodos convencionais, 
como o uso de opióides, antiinflamatórios, anestésicos locais, sedativos e anestésicos gerais, outras técnicas, tais 
como acupuntura, homeopatia, fitoterapia e métodos físicos, entre outros, são tão ou mais importantes de acordo 
com a etiologia e a categoria da dor, bem como, por exemplo, o uso de antidepressivos em casos de dor crônica, 
assim como no ser humano. 
 
Considerações finais 
 A dor é a única doença incapacitante de toda a plenitude do corpo. Mesmo animais deficientes físicos, 
podem compensar as deficiências com outras atividades ou fortalecer outras funções ou sentidos. Entretanto, 
nenhum ser pode exercer suas atividades como um todo quando sofre de dor. 
 Todo o embasamento científico demonstra que os animais sentem dor, dado não apenas a resposta 
comportamental, mas também a bioquímica e fisiológica. Porém, com exceção de animais de estimação em que 
há uma maior preocupação com o tema, os animais de produção estão constantemente sujeitos a experiências 
extremante dolorosas, na sua esmagadora maioria, sem o uso de anestésicos e/ou analgésicos. Estas práticas, 
tais como debicagem em aves de postura, caudectomia e corte de dentes em leitões, castração, desvio lateral de 
pênis para produção de rufiões e descorna em ruminantes, bem como outras práticas de manejo que causam dor 
e sofrimento intensos, tal como a marcação a fogo, deveriam ser reavaliadas quanto à necessidade e a forma de 
realização. 
O que diferencia um animal destinado a consumo alimentar para um animal de estimação? Por que damos direitos 
diferentes a eles? Por que os de estimação são considerados “membros da família”, cuja função é companhia, 
com direitos quase similares e algumas vezes até superiores aos dos seres humanos e os de consumo sequer são 
considerados no que concerne ao sofrimento que padecem durante o período de criação, sendo submetidos a 
práticas de confinamento e de mutilação? Esta é uma visão limitada e utilitarista do animal, onde este é tratado de 
acordo com a função para o homem. Originalmente e até meados do século passado, a criação animal se 
embasava numa situação quase simbiótica, em que o homem entrava com o alimento, cuidado com a saúde e 
proteção contra predadores e intempéries, para aumentar a capacidade de sobrevivência dos animais e os 
animais em contrapartida entravam com a produção. Nesta relação havia uma certa “justiça” entre as partes. A 
partir da industrialização da agricultura, este contexto se alterou profundamente. A produtividade passou a ser 
prioridade sem se levar em consideração a posição do animal neste novo modelo de criação. O custo do 
sofrimento animal não foi levado em consideração, assim como o custo que a natureza tem sido submetida às 
práticas agrícolas voltadas à monocultura e a degradação ambiental em prol da suposta produtividade, medida 
apenas em quantidade de toneladas por área e não na herança do impacto ambiental, que apresenta um custo 
muitas vezes irrecuperável. 
Adicionalmente na área científica o número de estudos com animais aumentou de forma galopante, visando 
principalmente uma suposta aplicação na saúde humana. Uma maior preocupação com o bem estar animal no 
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apenas se iniciou a partir de década de 90, dado principalmente à impossibilidade de se publicar artigos científicos 
em revistas internacionais sem o parecer de comissões de ética. 
Pode-se questionar se os animais têm emoção e/ou inteligência, mas um fato inquestionável é que eles podem 
sofrer. Já que o ser humano usa os animais em benefício próprio, é questão de bom senso, independente da 
abordagem filosófica no que concerne o bem estar animal, que estes sejam tratados de forma digna, evitando-se a 
dor e o sofrimento destes seres. 
 
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MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA DOR 
 
STELIO PACCA LOUREIRO LUNA 
 
ESCALA ANÁLOGA VISUAL (VAS) 
 
• linha horizontal de 100 mm de comprimento com duas descrições comportamentais em cada extremo, que 
representa todo o espectro da dor. O observador desenha uma linha vertical que melhor representa a dor no 
animal. O VAS pode resultar numa maior variabilidade do que as escalas simples descritivas. 
 
 0 ______________________________________100 
 Sem dor Pior dor possível imaginável 
 
• Principal desvantagem: o VAS depende totalmente do observador identificar, reconhecer e interpretar a dor em 
animais. Caso o observador não desconheça o tratamento analgésico, ele pode ser induzido na sua resposta. 
Portanto, há uma grande variabilidade entre observadores e isto pode influenciar a interpretação de resultados, 
principalmente entre pesquisas diferentes. 
 
ESCALA SIMPLES DESCRITIVA 
 
� 1. Sem dor 
� 2. Dor leve 
� 3. Dor moderada 
� 4. Dor severa 
 
•Consiste na observação do animal e não no tipo de procedimento cirúrgico. A vantagem é que não há a 
interferência pela acuidade visual, como no VAS. Cada número se torna o escore do paciente. Fácil utilização. 
• Principal desvantagem: não é uma escala sensitiva (poucas categorias) 
 
 
Escala de contagem variável para avaliação da dor aguda pós-operatória em eqüinos (adaptada de (Raekallio, 
Taylor et al., 1997; Pritchett, Ulibarri et al., 2003; Bussieres, Jacques et al., 2008). 
Variável Critério Escore 
1. Parâmetros fisiológicos 
Frequência Cardíaca Porcentagem de aumento em relação ao valor basal de 0–10% 0 
Pressão Arterial Média Porcentagem de aumento em relação ao valor basal de 11 – 30% 1 
 Porcentagem de aumento em relação ao valor basal de 31 – 50% 2 
 Porcentagem de aumento em relação ao valor basal maior que 50% 3 
2. Postura 
Posicionamento na baia Na porta, observando o ambiente e disposto a interagir 0 
 Em pé, no meio e de frente para a porta da baia 1 
 Em pé, no meio e de frente para as laterais da baia 2 
 Em pé, no meio e de frente para o fundo da baia, não está 
interessado ambiente, nem disposto a interagir 
3 
 
Posição do pescoço Acima da cernelha ou pastando 0 
 Na altura da cernelha 1 
 Abaixo da cernelha 2 
3. Movimento 
Locomoção espontânea Move-se livremente 0 
 Move-se pouco ao redor da baia 1 
 Não se movimenta, relutância em se mover 2 
 Agitado, inquieto. Redução do tempo em que permanece em 
decúbito esternal 
3 
Comportamento exploratório Normal: explorar e/ou cheirar o ambiente em que se encontra, 
quando está em pé ou durante a locomoção 
0 
 Diminuição do comportamento exploratório 1 
 Aumento do comportamento exploratório 2 
4. Socialização 
Resposta a abertura da porta Move-se em direção a porta 0 
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 Olha para a porta 1 
 Não responde 2 
Resposta a aproximação Move-se em direção ao observador, orelhas para frente 0 
 Olha para o observador, orelhas para frente 1 
 Move-se para longe do observador 2 
 Não se move, orelhas para trás 3 
Comportamento de interação Presta atenção nas pessoas e no ambiente 0 
 Resposta exagerada a estímulos auditivos 1 
 Resposta agressiva a estímulos auditivos 2 
 Prostração, não responde a estímulos auditivos 3 
Resposta ao alimento Move-se até a porta e come o feno prontamente 0 
 Move-se até a porta, mas hesita para comer 1 
 Demonstra pouco interesse, come muito pouco ou apanha o feno 
com a boca, mas não mastiga ou engole 
2 
 Não demonstra interesse pelo feno, não come 3 
5. Interação 
Tentativa de levantar um dos 
membros torácicos 
Levanta espontaneamente o membro quando solicitado 0 
 Levanta o membro após ser estimulado 1 
 Extremamente relutante 2 
 Torna-se agressivo e não levanta do membro 3 
 
Resposta a palpação da área 
operada 
Nenhuma reação (confortável) 0 
 Reação moderada (incomodado) 1 
 Reação violenta a palpação (dolorido) 2 
 Não permite palpar (comportamento agressivo de antecipação) 3 
 
6. Miscelânea de comportamentos sugestivos de dor. (Observar a presença dos comportamentos 
descritos abaixo) 
• Olhar para o flanco 
• Chutar o abdome (apenas em cirurgia abdominal) 
• Movimentos intermitentes ou contínuos de cabeça lateralmente ou verticalmente 
• Patear o chão 
• Sudorese 
• Movimentar a cauda brusca e repetidamente 
Todos os comportamentos acima relacionados estão ausentes 0 
Presença de 1 dos comportamentos acima relacionados 1 
Presença de 2 dos comportamentos acima relacionados 2 
Presença de 3 ou mais dos comportamentos acima relacionados 3 
 
7. Ingestão de alimento Normal 0 
 Diminuída 1 
 Anorexia 2 
 
 
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ANALGESIA EM GRANDES ANIMAIS 
 
STELIO PACCA LOUREIRO LUNA 
 
Considerações gerais: 
 
A importância da dor em medicina veterinária foi despertada apenas recentemente, dado tanto à questões de 
ordem ética, como pelos melhores resultados em termos de prognóstico, quando a mesma é tratada de forma 
adequada. Pode ser considerada juntamente com a pressão arterial, freqüência cardíaca, temperatura e 
respiração, o 5o. sinal vital. Entretanto a dor ainda não é tratada apropriadamente tendo em vista a falta de 
conhecimento e de objetividade no tratamento, a falha de prescrição e o receio de efeitos colaterais. 
A dor tem uma abrangência biopsico-social, mesmo em animais e sua detecção é primordial para se elaborarem 
condutas adequadas. Existem varias formas de avaliação da dor, sendo que em condições clínicas, predominam 
os métodos subjetivos. Em termos de tratamento, a dor deve sempre ser abordada de uma forma multidisciplinar. 
Muitas vezes não basta o tratamento farmacológico, sendo necessária uma associação de métodos para se atingir 
um resultado mais adequado. 
Defini-se dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável, que é associada ou descrita em termos 
de lesões teciduais. Os estímulos são carreados a partir dos nociceptores pelas fibras A delta e C. É importante 
reconhecer os mecanismos pelos quais a dor ocorre para melhor prevení-la e interferir no seu curso diante das 
várias formas de tratamento. Inicialmente ocorre ativação dos nociceptores (A delta e C), fenômeno conhecido por 
transdução, seguido de transmissão do impulso pelo nervo aferente, modulação do impulso na medula, com a 
deflagração de vários mecanismos, encerrando com a percepção no córtex cerebral. Desta forma podemos 
interferir em uma ou mais etapas, para o combate da mesma. Idealmente o que se postula na atualidade é uma 
associação de métodos, atuando desta forma se possível em todas estas etapas. 
A dor pode ser classificada em nociceptiva (somática ou visceral), neuropática e psicogênica. Para que ocorra a 
sensação da dor deve haver a nocicepção, caracterizada pela transmissão de impulsos em resposta a um 
estímulo nocivo e a percepção da dor, que seria a consciência da dor. A nocicepção ocorre mesmo em um 
paciente inconsciente, entretanto, a dor não é percebida se o paciente estiver inconsciente, como por exemplo 
durante a anestesia. Porém quando o indivíduo desperta, em casos que a nocicepção não foi evitada, a dor torna-
se presente, daí a importância de se prevenir a nocicepção com anestésicos locais, AINES, opióides e outros 
métodos, mesmo num animal anestesiado. 
Por muito tempo se questionou a necessidade do tratamento da dor em animais, tendo em vista a possibilidade de 
quando os mesmos não sentem dor, eles poderiam se automutilar e conseqüentemente interferirem no processo 
de recuperação cirúrgica. Porém se confundia dor fisiológica, que possui a função de proteção, é localizada, 
transitória e de alto limiar, e portanto fundamental que seja mantida, com a dor clínica, que causa inflamação, 
devido ao dano em tecido periférico, é de baixo limiar (alodinia), de resposta exagerada (hiperalgesia) e com 
aumento da área afetada (hiperalgesia secundária). Desta forma o que se preconiza atualmente é deixar a dor 
fisiológica intacta, por razões óbvias de proteção, sendo porém importante prevenir o desconforto e o 
desenvolvimento da dor clínica, evitando-se assim tanto a sensibilização periférica, que causa aumento da 
sensibilidade dos neurônios sensitivos de nociceptores de alto limiar, estimulados por mediadores inflamatórios 
(“sopa inflamatória”), com liberação de bradicinina, 5-HT, histamina, prostaglandinas, leucotrienos, citocinas, 
neuropeptídeos, entre outros e diminuição do limiar dos nociceptores, como a sensibilização central, em que 
ocorre alteração da excitabilidade dos neurônios da medula espinhal, onde neurônios do corno dorsal passam a 
responder à estímulos inócuos, fibras A beta passam a transmitir impulsos dolorosos, as células do corno dorsal 
respondem a áreas periféricas mais amplas e a resposta à dor torna-se mais longa e prolongada. As implicações 
da sensibilização são que a dor passa a ser deflagrada pela atividade dos nociceptores e torna-se auto 
permanente. Desta forma é mais fácil prevenir a dor que tratá-la, já que de aguda a dor pode-se tornar crônica. 
De forma geral a dor em animais tem sido subestimada, particularmente em felinos, devido à pouca informação 
sobre farmacologia clínica e farmacocinética, extrapolação de doses de cães e medo do uso de opióides e de 
AINES. 
Dentre os analgésicos disponíveis, como métodos de analgesia preventiva periférica, pode se lançar mão de 
anestésicos locais que previnem o estímulo nocivo, AINES que reduzem produção de prostaglandina e a 
sensibilização das terminações nervosas e opióides periféricos (ex: articulações), que reduzem o efeito de 
neuropeptídeos locais. Para se realizar a analgesia preventiva central, pode-se utilizar opióides que agem na pre e 
pós-sinapse, reduzindo a liberação de neurotransmissores e causando hiperpolarização da membrana do núcleo 
dorsal da rafe. Adicionalmente têm-se os antagonistas de NMDA na medula espinhal (ex: quetamina) que 
previnem a excitação induzida pelo glutamato e agonistas adrenorreceptores alpha-2, que agem em receptores da 
medula espinhal. 
 
 
 
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OPIÓIDES 
Os opióides reduzem os efeitos psicológicos da dor, podendo causar excitação, apresentam estabilidade 
cardiovascular, leve sedação, depressão respiratória, diminuem a motilidade gastrointestinal e podem provocar 
náusea e vomito. Os agonistas totais apresentam um efeito teto mais alto e os parciais e agonistas/antagonistas 
apresentam um efeito máximo reduzido em relação aos totais. Dentre os opióides temos os agonistas �mi puros, 
os agonistas mi parciais e os agonistas (kappa)/antagonistas (mi), que possuem poucos efeitos colaterais. Os 
opioides além de causar sedação, são indicados principalmente nas primeiras horas após a cirurgia, entretanto é 
ideal que sejam associados com antiinflamatórios não esteróides. 
 
AINES 
Os AINES são inibidores da enzima ciclooxigenase COX, que é responsável por funções homeostásicas, tais 
como proteção gástrica, tornando a camada de muco espessa e prevenindo a erosão ácida da mucosa; proteção 
renal, contribuindo para autoregulação do fluxo sangüíneo renal e estabelecendo um equilíbrio entre agregação 
plaquetária e trombose. Quando estes fármacos são utilizados, além de reduzirem a inflamação, também afetam 
os efeitos homeostásicos, dai a importância do uso de fármacos que inibam predominantemente a COX induzida 
(COX-2) e liberada em grandes quantidades pela inflamação ao invés da COX constitutiva (COX-1), que é 
responsável pela homeostase. Seu efeito periférico se dá por inibição da COX com diminuição da síntese de 
prostaglandina e redução da excitabilidade das fibras nervosas, levando a um efeito antiinflamatório. 
Centralmente, atuam no hipotálamo, apresentando efeito antipirético e fraca ação analgésica. Seus efeitos 
colaterais pela inibição da prostaglandina, ocorrem no trato GI, induzindo úlceras e vômito; no rim, causam perda 
da autoregulação do fluxo sangüíneo renal, insuficiência renal e necrose papilar; no fígado, podem levar a 
toxicidade parenquimatosa e finalmente no sangue, podem causar discrasias sangüíneas, com aumento do tempo 
de sangramento. 
 
 
Opióides mais freqüentemente utilizados em grandes animais: 
Morfina 
0,1 a 0,2 mg/kg IM 
analgesia de 2 a 4 horas 
pequeno efeito cardiovascular 
Metadona 
0,1-0,2 mg/kg - IM 
potência similar a morfina 
Tramadol 
2 mg/kg - IV, IM 
considerado analgésico fraco (duração 8 horas) 
alta seletividade por receptores mu, porém baixa afinidade 
Buprenorfina 
0,005 a 0,01 mg/kg –SC, IM, IV 
33 vezes mais potente que a morfina (porém se considera que sua eficácia 
analgésica é menor que a da morfina) 
longo período de latência 
longa duração de ação: 8-10 hs 
Butorfanol 
0,1 a 0,4 mg/kg – SC, IM, IV 
3 a 5 vezes mais potente que a morfina (porém de eficácia analgésica limitada 
em comparação à morfina) 
efeito na CAM dos anestésicos inalatório é limitado. 
 
OUTROS FÁRMACOS 
 
A cetamina, como antagonista de receptor NMDA, previne a despolarização de acumulação para liberação de 
glutamato e em doses subanestésicas produz analgesia. Além de poder ser utilizada para indução de anestesia, 
pode-se realizar infusão no trans e pós-operatório. 
Os anestésicos locais (lidocaina, bupivacaina e ropivacaina) interrompem a condução elétrica de nervos 
periféricos, prevenindo a propagação do impulso para o corno dorsal da medula e sensibilização central. Causam 
bloqueio regional, podendo ser usados no pré, trans ou pós-operatório. Dentre os mecanismos de analgesia 
produzidos pela lidocaina estão a supressão dos neurônios nociceptivos da medula espinhal, redução da 
descarga nervosa das fibras nervosas periféricas e depressão cortical, podendo reduzir a CAM dos anestésicos 
inalatórios, potencializar a anestesia intravenosa e produzir analgesia pós-operatória. Normalmente usam-se bolus 
de 1,5 mg/kg, seguido de infusão de 0,25 mg/kg/min. 
Os adrenorreceptores alfa-2 agonistas (xilazina, detomidina, dexmedetomidina) atuam no corno dorsal da medula; 
nas vias adrenérgicas descendentes, com efeito analgésico sistêmico. Produzem maior analgesia visceral que 
somática. 
Outros métodos de analgesia incluem analgesia epidural, transdermal (adesivos de fentanil), acupuntura, TENS e 
fitoterapia (Salix - chorão, Cannabis – maconha, Capsicum, pimenta pela capsaicina, menta). Deve-se também 
empregar métodos de apoio, como imobilizar a área, bandagem, tratar a causa, reduzir inflamação e edema, 
sempre tendo-se uma abordagem multidisciplinar. 
 
 
 
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FARMACOLOGIA DOS ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS E 
ANTIPIRÉTICOS 
 
PAULO VINICIUS MORTENSEN STEAGALL 
NOELI PEREIRA ROCHA 
Histórico e conceitos 
Os AINES formam um grupo heterogêneo de compostos, em geral com relação química semelhante, mas 
com fórmula estrutural variada, e que possui ações antiinflamatórias, analgésicas e antipiréticas. São substâncias 
não esteróides que inibem componentes da cascata inflamatória. 
O primeiro uso de um AINES sintético, o ácido salicílico, ocorreu em meados de 1875 e 23 anos após 
Felix Hoffmann ter utilizado a aspirina (derivado do acetil do ácido salicílico) para o tratamento da artrite de seu 
próprio pai. Entretanto, há alguns séculos atrás, desde a época de Hipócrates há 2000 anos atrás, já se conhecia 
as propriedades antipiréticas de extratos da Salix Alba (árvore salgueiro branco) no tratamentoda febre, de onde 
no século XIX foi isolado a saligenina, um glicosídio contendo álcool salicílico como componente ativo. Entretanto, 
os efeitos gastrointestinais indesejáveis e o sabor amargo da substância levaram à pesquisa de novos produtos 
derivados desse grupo. 
Ainda no final do século XIX, ocorreu a descoberta de outros medicamentos que compartilhavam as 
mesmas ações farmacológicas da aspirina, como por exemplo o paracetamol, ainda hoje utilizado em grande 
escala na América do Norte, embora apresente reduzida atividade antiinflamatória. Após a segunda guerra 
mundial, em 1952, a fenilbutazona foi sintetizada e utilizada em eqüinos. 
Até 1971, os salicilatos, os paraminofenóis,as pirazolonas e a indometacina foram utilizados clinicamente 
sem que houvesse uma compreensão dos mecanismos de ação que justificasse seus efeitos antiinflamatórios, 
antitérmicos e analgésicos, observados em uma gama de processos inflamatórios. Enfim, em 1971,foi descoberto 
que o ácido acetilsalicílico, a indometacina, a fenilbutazona eram inibidores da enzima ciclooxigenase, e 
conseqüentemente, bloqueadores da síntese das prostaglandinas. Esta descoberta forneceu grande impulso aos 
estudos do processo inflamatório e da participação das prostaglandinas (principalmente PGE2 e PGI2), assim 
como de outros mediadores presentes no foco inflamatório, como histamina, bradicinina etc. 
A partir desta época, as pesquisas começaram a objetivar a produção de antiinflamatórios mais potentes, 
mas com menor incidência de efeitos colaterais. Os principais compostos lançados no período de 1975 a 1990, e 
que ainda permanecem no mercado, são os ácidos propiônicos, acéticos, fenamatos, oxicans e ácido 
aminonicotínico. Alguns destes medicamentos se revelarammais potentes do que a aspirina, como por exemplo, 
os oxicans, os fenamatos, o diclofenaco, a flunixina. Entretanto, a ocorrência de efeitos adversos não diminuiu. 
Com a descoberta das duas isoformas distintas da ciclooxigenase (COX) em 1991, ocorreu o surgimento em 1999, 
do primeiro inibidor seletivo da COX-2, o celecoxibe. Tais fármacos são os mais utilizados na Medicina Humana 
nos processos inflamatórios agudos e crônicos e terão uma abordagem especial neste capítulo. 
 
O PROCESSO INFLAMATÓRIO 
 Os mediadores inflamatórios são formados em resposta à lesão ou dano tecidual (químico, térmico ou 
mecânico) quando as membranas celulares fosfolipídicas liberam ácidos graxos de cadeia curta, como por 
exemplo, o ácido aracdônico (AA), sob ação enzimática da fosfolipase A2. A atividade biológica destes compostos 
é geralmente localizada, com uma meia-vida extremamente curta (segundos). 
 O AA serve como substrato para quatro grupos de enzimas: ciclooxigenase (COX), também denominada 
de prostaglandina sintetase, 5-lipooxigenase (5-LO), 12- lipooxigenase (12-LO) e 15-lipooxigenase (15-LO). 
 A conversão do AA em PGG2 e depois em PGH2, também chamadas de endoperoxidases cíclicas, ocorre 
por meio das enzimas prostaglandinas G/H sintetase (COX), respectivamente, e por reações de oxidação e 
redução. Após uma série de reações em cascata, há a formação dos eicosanóides, derivados do ácido 
eicosanóide, formado por cadeia de 20 carbonos, e que incluem outras prostaglandinas (PGs - PGE2, PGI2, PGD2) 
e tromboxana (TX - TXA2 e TXB2), leucotrienos (LT -LTA4, LTB4, LTC2 e LTD2) e outras de menor importância 
(Figura 1). 
 As PGs são as principais substâncias do processo inflamatório e responsáveis pela manifestações clínicas 
da inflamação, como o eritema e o calor, mediados pela PGE2 e PGI2, por meio da vasodilatação local. A produção 
de edema e inchaço local são resultados do aumento da permeabilidade capilar mediados pela histamina e a 
bradicinina, e potencializados pelas prostaglandinas. 
 Nos estágios tardios da inflamação, as PGs mantêm a resposta inflamatória por meio da quimiotaxia das 
células polimorfonucleares. Os leucócitos são responsáveis pela produção e ativação de uma variedade de 
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citocinas e mediadores inflamatórios, entre eles as interleucinas (IL), fator de necrose tumoral, histamina, 
bradicinina e prostaglandinas. 
 A febre é uma resposta de origem central produzida pela PGE2, a qual atua no hipotálamo, que aumenta o 
limiar termoregulatório. A produção da PGE2 é estimulada pela IL-1, liberada em infecções virais e bacterianas, 
contribuindo nos estados febris durante a infecção sistêmica. 
 As prostaglandinas por si só não estimulam diretamente os nociceptores, mas intensificam os estímulos 
nociceptivos produzidos por outros mediadores, como a bradicinina e histamina, fenômeno conhecido como 
hiperalgesia. Desta forma estímulos não dolorosos, como o toque, passam a ser dolorosos, fenômeno conhecido 
como alodinia, que também possui a participação das PGs. 
 Nas plaquetas, por meio da ação da enzima TX sintetase, há a formação da TXA2, que induz a agregação 
e adesão plaquetária e causa vasoconstricção. Por outro lado, nas células do endotélio vascular, a PGI2 
(prostaciclina) é formada pela ação da enzima prostaciclina sintetase, e que em geral, possui efeitos opostos aos 
da TX (inibição da agregação plaquetária e vasodilatação). A produção das TX e das prostaciclinas possui um 
papel fundamental na manutenção da integridade das plaquetas na corrente sanguínea. 
 A formação dos LT após a ação enzimática da LO é importante no processo inflamatório, especificamente 
o LTB4, como agente quimotáxico. Os LTC4 e LTD4, sintetizados nas células brancas e em outros tecidos possuem 
atividade importante nas broncoconstricções alérgicas e nas reações anafiláticas. A figura 1 demonstra a cascata 
inflamatória. 
 
Mecanismo de ação dos AINES 
 O mecanismo de ação dos AINES é objeto de estudo intenso nos dias de hoje, mas primariamente, ocorre 
pela inibição da enzima COX, enzima que catalisa a incorporação de uma molécula de oxigênio ao AA para a 
produção de eicosanóides nas membranas celulares (Vane, 1971) e está presente possivelmente em todos os 
tipos de células, excluindo os eritrócitos. Conseqüentemente, há o bloqueio da síntese de PGs e dos efeitos 
deletérios destas. 
 Há pelo menos duas isoformas de ciclooxigenase, composta por 600 aminoácidos, os quais 60% são 
homólogos, sendo o que as difere é uma leve alteração na estrutura dos seus longos canais hidrofóbicos. 
 A maioria dos AINES atua por meio da ligação reversível ao local de ação do chamado complexo 
enzimático COX, onde se ligaria o AA. Portanto, os AINES inibem de forma competitiva a ligação do AA a este 
complexo (figura 2) (Taylor, 1999). No caso da COX-2, o canal hidrofóbico é maior e mesmo quando o AINES está 
ligado, ainda há a possibilidade que o AA se ligue ao complexo enzimático COX. Neste caso, o AINES é 
considerado um fraco inibidor de COX-2 ou inibidor não seletivo de COX-2. O ácido acetilsalicílico é o único 
AINES que se liga de forma irreversível ao complexo, e portanto, não permite que a atividade da enzima COX seja 
readquirida até que novas sejam formadas pelas células (figura 2). 
 Desta forma, os AINES foram classificados em três classes, baseados na maneira a qual se ligam aos 
complexos enzimáticos COX. A classe I seria os AINES, em sua maioria, que se ligam de forma simples, 
competitiva e de forma reversível. A classe II difere da classe I pela sua ligação tempo-dependente, de forma 
rápida, seguida da formação de um complexo que se dissocia de forma lenta, como resultado de uma alteração 
transicional (ex. ácido meclofenâmico). A classe III seria da aspirina e dos salicilatos, que formam uma ligação 
tempo-dependente, competitiva, irreversível, com a modificação covalente do complexo enzimático COX. 
 A COX-1 é a forma constitutiva da enzima encontrada em diversos tecidos e é responsável pela 
regulação da homeostase por meio da produção de PGs na mucosa gastrointestinal, pela agregação plaquetária e 
manutenção do fluxo sanguíneo renal. A COX-2 também é expressa embaixas concentrações nas células 
endoteliais e do músculo liso, condrócitos, fibroblastos, monócitos, macrófagos, células sinoviais e órgãos como os 
ovários, cérebro e os rins, atuando em funções importantes como a ovulação e o parto. Entretanto, primariamente, 
é induzida pelo dano ou lesão tecidual, ativando a cascata de inflamação e produzindo eicosanóides, mediadoras 
da inflamação que aumentam a transmissão de impulsos nociceptivos para o cordão espinhal, principalmente nos 
estágios iniciais da inflamação (Fu et al., 1990; Kujubu et al., 1991), nos casos de inflamação, infecção e 
neoplasias. Diversas citocinas e outros mediadores inflamatórios, como as IL-1α, IL-1β, fator de necrose tumoral 
(FNT)-α, fator de crescimento epidermal e derivado das plaquetas podem rapidamente induzir a formação de 
COX-2 (Smith, 1998). 
 Sucintamente, a inibição da COX-1 está relacionada aos efeitos adversos dos AINES, enquanto que a 
inibição da COX-2 é responsável pelas propriedades antiinflamatórias. 
 Todavia, já há estudos demonstrando a ação da COX-2 na produção de mediadores antiinflamatórios na 
fase tardia ou de resolução da inflamação (Gilroy et al. 1999). Pela COX-2 estar presente também em atividades 
homeostáticas, acredita-se que possa ocorrer o atraso na cicatrização e aumento na incidência de efeitos 
colaterais no rim e no trato reprodutivo, e principalmente sérios efeitos deletérios no sistema cardiovascular 
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quando há a inibição da COX-2 pelos AINES. Além disso, a COX-1 e COX-2 são expressas na forma constitutiva 
no SNC, variando entre as diferentes espécies animais. Todavia, ainda não se sabe o efeito e a importância 
dessas enzimas no SNC. 
 A existência de uma terceira forma de COX, a COX-3, identificada no SNC de cães (Chandrasekharan et 
al. 2002) pode ter relação com o efeito analgésico central produzido pelos AINES, como diminuição da dor e da 
febre. Acredita-se que a dipirona e o paracetamol possam ser inibidores preferenciais de COX-3. A COX-3 surge a 
partir da transcrição do gene da COX-1, mas retém o intron 1 em seu mRNA. 
 
Classificação dos AINES 
Os AINES podem ser classificados de acordo com o tipo de ligação com o complexo enzimático COX 
(vide mecanismo de ação), baseados na sua fórmula estrutural (figura 3) ou ainda, de acordo com sua capacidade 
de inibição da COX-1 e COX-2 (tabela 1). 
Baseados na sua fórmula estrutural, os AINES formam um grupo de ácidos orgânicos fracos, derivados 
dos ácidos carboxílico e dos ácidos enólicos com propriedades antiinflamatórias, analgésicas (mecanismos de 
ação central e periférico) e antipiréticas (mecanismo de ação central). Dentro desta classificação, podem ser 
classificados como ácidos salicílicos, acético, propiônico, fenâmico, pirazolonas, oxicam (tabela 1). 
Os AINES ainda foram classificados por Lees et al. (2004), de acordo com sua capacidade de inibição da 
COX-1 e COX-2, podendo ser divididos em inibidores não seletivos (piroxicam, ácido acetilsalicílico, indometacina, 
ibuprofeno, paracetamol, fenilbutazona, cetoprofeno, ácido meclofenâmico, ácido tolfenâmico), inibidores 
preferenciais de COX-2 (meloxicam, carprofeno, nimesulida, etodolac) e inibidores seletivos de COX-2, que 
incluem os coxibs, divididos em primeira geração (celecoxib, rofecoxib e etoricoxib) e segunda geração 
(lumaricoxib, valdecoxib, parecoxib), além do vedaprofeno. O deracoxib e o firocoxib são inibidores seletivos de 
COX-2 desenvolvidos para o uso veterinário (Lees et al., 2004; McCann et al., 2004). Finalmente, há uma classe 
chamada de inibidores de COX e 5-lipooxigenase (liclofelone e tepoxalina), pois inibem ambas as vias da 
inflamação (Lees et al., 2004). 
O uso em Medicina Veterinária de inibidores preferenciais e seletivos de COX-2 aumentou a margem de 
segurança terapêutica e resultou na diminuição dos efeitos colaterais quando comparados aos inibidores não 
seletivos (Luna et al., 2007), mas mesmo estes fármacos podem causar úlceras gastrointestinais, principalmente 
quando doses e intervalos adequados não são respeitados, ou ainda, quando o AINES é associado ao uso de 
corticóides (Lascelles et al., 2005b). Provavelmente, isto se deve aos efeitos colaterais serem relacionados a 
outros tipos de mecanismos de ação e não só apenas à inibição das PGs. A tepoxalina, apesar de pouco seletiva 
para COX-2, possui uma ampla margem de segurança para uso em cães com osteoartrite crônica, provavelmente 
devido à inibição da 5-LO e por algumas propriedades farmacocinéticas intrínsecas do fármaco. 
 
COXIBES: Uma nova subclasse de AINES 
 A necessidade de desenvolvimento de AINES mais eficazes e que apresentassem menores efeitos 
colaterais, intensificou as pesquisas nos últimos anos. O resultado foi a introdução de uma nova subclasse de 
AINES: os coxibs, fármacos que possuem o sufixo coxib e que inibem COX-2, mas possuem pouquíssima 
atividade sobre COX-1. Devido à forma molecular destes compostos (figura 3), há uma limitação na inibição de 
COX-1, mesmo em doses apropriadas que inibam a COX-2. Além do uso já conhecido com outros AINES, o uso 
dos coxibs tem se expandido nos campos da neurologia e oncologia. 
 Os fármacos deste grupo possuem um anel tricíclico ligado a um grupo sulfonamida ou sulfona, exceto 
pelo lumiracoxib, que possui apenas dois anéis. Este último fármaco é um derivado do ácido fenilacético que 
possui uma curta meia-vida de eliminação e uma afinidade maior por COX-2 do que os outros coxibs. 
Além de apresentarem uma menor incidência de efeitos colaterais em relação aos inibidores não seletivos, 
os coxibs são mais lipossolúveis e atravessam mais facilmente a barreira sangue-cérebro, o que poderia aumentar 
a distribuição sistêmica destes fármacos e facilitar a inibição da COX-2 no SNC, visto que há um incremento da 
produção de PGE2 no SNC após estímulos nociceptivos. 
Estudos recentes com os coxibs demonstraram que há um efeito promissor no tratamento contra o 
crescimento de células neoplásicas, visto que a COX-2 é expressa em células mesenquimais e podem 
potencializar o crescimento do tumor por estimular os fatores de crescimento (VEGF, bFGF, HGF), a angiogênese, 
a resistência à apoptose e a invasão tumoral. Alguns tumores possuem concentrações elevadas de PGE2, o que 
aumenta a expressão de COX-2 no local, mas não nas células normais. Um estudo retrospectivo recente 
demonstrou um aumento no tempo de sobrevida em cães com carcinoma prostático que foram tratados com 
meloxicam e carprofeno (Sorenmo et al. 2004). 
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Entretanto, os efeitos destes AINES no sistema cardiovascular têm sido objeto de discussão devido ao 
aumento na taxa de mortalidade e aumentam o risco de problemas cardiovasculares, relatados no homem e 
experimentalmente em porcos, com o uso de inibidores seletivos COX-2, visto que a expressão da COX-2 
aumenta após infarto do miocárdio e é importante na preservação da função ventricular esquerda (Mengle-Gaw & 
Schwartz, 2002; Timmers et al. 2007). Entretanto, outros estudos de meta análise envolvendo milhares de 
pacientes humanos não conseguiram demonstrar o aumento na incidência de eventos cardiovasculares com o uso 
do celecoxib comparados a outros AINES ou com pacientes que receberam placebo (White et al. 2007). 
 
Outros efeitos farmacológicos importantes na terapia com AINES 
 
EFEITOS ANALGÉSICOS DOS AINES E OUTROS MECANISMOS DE AÇÃO 
Os AINES exercem seu efeito analgésico principalmente por meio da inibição da produção de PGE2 e 
PGF2α. A PGE2 aumenta as concentrações de AMP cíclico nos nociceptores e com isso, diminui o limiar 
nociceptivo. Esta sensibilização dos nociceptores depende, basicamente, da liberação da PGE2 e da prostaciclina 
(PGI2) (figura 4 e 5), que por meio de um mecanismo de transdução intracelular metabotrópico, com ativação de 
proteína G estimuladora da enzima adenilato ciclase, eleva as concentrações

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