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SP.3 – NÃO ME TOQUE! MÓDULO: DOR 1. CARACTERIZAR A DOR SOMÁTICA OU PROFUNDA (MÚSCULO, ARTICULAÇÃO E FÁCIES) (SÍNDROME MIOFACIAL) A dor somática ou estrutural é localizada mais facilmente pelo paciente e com frequência está associada a traumatismo ou atividade física. A dor somática pode originar-se em músculos, articulações, ligamentos ósseos, tendões ou fáscia. A descrição do cliente pode variar desde uma dor aguda e intensa até imprecisa e dolorida. Pode ser constante ou intermitente e o cliente frequentemente a relaciona a alguma atividade física ou à postura. Tecidos estruturais podem estimular fibras nervosas aferentes em decorrência de lesões traumáticas, como lacerações ou esmagamento. Fibras aferentes também podem ser estimuladas pela pressão, p.ex., como resultado de invasão de tumor, edema, congestão venosa ou inflamação nas articulações. Dor somática ocorre quando os estímulos que vão produzir a sensação de dor provêm da periferia do corpo (pele, músculos, periósteo, articulações) ou de tecidos de suporte do organismo. Dor Somática é sensação dolorosa rude, exacerbada ao movimento (dor "incidental"). É aliviada pelo repouso, é bem localizada e variável, conforme a lesão básica. Ex.: dores ósseas, pós-operatórias, dores musculoesqueléticas, dores artríticas, etc. A dor somática é sentida com alto grau de discriminação, sendo amplamente representada na área somatosensorial (áreas 1 e 2). É transmitida de acordo com a distribuição anatômica das vias nociceptivas e pode ser superficial cutanea e profunda de acordo com a estrutura envolvida na lesão. Dor Somática Superficial: Ocorre em estruturas ricamente supridas por nociceptores, como a pele, subcutâneo, aponeurose, pleura parietal, periósteo, ligamentos e tendões. É medida por fibras aferentes A delta e C e é uma dor bem localizada. Dor Somática Profunda: Os nociceptores localizam-se no peritônio parietal e na raiz do mesentério. É mediada também por fibras aferentes A delta e C, originadas entre T6 e L1. É uma dor mais aguda e específica que a dor visceral, sendo localizada próxima ao ponto onde ocorre a estimulação. Pode ser causada por diversos agentes irritantes (conteúdo gastrintestinal, urina, bile, suco pancreático, sangue, pus) e substâncias (bradicinina, serotonina, histamina, prostaglandinas e enzimas proteolíticas). Sentida como câimbras musculares, cefaleias, dores de articulações dor em pontada ou aguda dor em queimaço/pele, tecido conjuntivo, ossos, articulações, músculos. Fisiopatologia A dor somática ou estrutural é mais facilmente localizada pelo paciente, pode se originar de músculos, articulações, ligamentos osseos, tendões ou fascia. A descrição do paciente pode variar desde uma dor aguda e intensa até imprecisa e dolorida, o paciente geralmente relaciona a alguma atividade física ou a postura. Tecidos estruturais podem estimular fibras nervosas aferentes em decorrência de lesões traumáticas ou também pela pressão. A dor somática profunda localiza-se bastante bem quando tem sua origem em tecidos situados próximo da superfície do corpo, por exemplo nos tendões ou aponeuroses superficiais, no periósteo de ossos imediatamente sob a pele, nas paredes das cavidades abdominal e torácica. Ao contrário, quando se origina em estruturas profundas, é mais difusa e só vai ser referida a um ponto distante. Quanto mais ácido for o pH ou quanto maior for a concentração de íons K+ de determinada substância, maior será o seu poder de irritação peritoneal. A irritação do peritônio parietal, além da dor, acarreta contratura muscular. Esta pode ser localizada ou generalizada (abdômen em tábua), dependendo da extensão da irritação. A contratura muscular é explicada pela inervação comum do peritônio parietal e da musculatura abdominal. Qualquer processo irritativo que atinja os troncos nervosos ou estruturas por eles inervadas, dentro ou fora do abdômen, acarreta contratura dos músculos abdominais. Por isto, a contratura da musculatura abdominal secundária à irritação do peritônio parietal (contratura muscular verdadeira) deve ser diferenciada da contratura muscular que pode ocorrer na meningite, nos traumatismos do canal medular, nos traumatismos torácicos e nas pleurites. Devemos ainda diferenciá-la da contratura muscular voluntária. Na contratura muscular verdadeira, qualquer tentativa de vencer a rigidez pela palpação não dá resultados. Ao contrário, ocorre um agravamento da dor em consequência da irritação peritoneal subjacente. A dor aumenta também com os movimentos, tosse, deambulação ou qualquer outra situação que aumente a pressão intra-abdominal, por causa da torção, tensão ou tração do peritônio doente. A presença de contratura muscular abdominal verdadeira representa, portanto, a existência de irritação peritoneal subjacente e seu achado equivale, quase sempre, à cirurgia. Manifestações clinicas Dor superficial (dor cutânea): como pequenas feridas ou queimaduras de primeiro grau, ocorre ao nível da pele ou membranas mucosas; Dor profunda: é uma dor causada, por exemplo, por rupturas, fraturas ósseas e ocorre ao nível dos músculos, ossos, articulações, ligamentos, tendões e vasos sanguíneos; Diagnostico Os componentes essenciais do processo de avaliação da dor incluem a determinação de fatores como a localização, descrição, intensidade, duração, fatores de alívio e agravamento, fatores associados (náuseas, vómitos, obstipação, confusão ou depressão) a fim de garantir o tratamento mais correto e adequado a cada doente. Tratamento As técnicas farmacológicas conservadoras envolvem, fundamentalmente, fármacos analgésicos e fármacos adjuvantes. Os analgésicos podem ser opióides e não opióides, sendo que o fármaco de referência nos opióides fortes é a morfina, nos opióides fracos a codeína, e nos analgésicos não opióides os antiinflamatórios não esteroides (AINE’s), onde também se incluem outros analgésicos antipiréticos como o paracetamol e o metamizol. A dor neuropática pode não responder tão bem aos opióides ou aos anti-inflamatórios não-esteróides (AINE) quanto a dor nociceptiva, que em geral pode ser facilmente controlada com esses fármacos, ao menos por períodos curtos. Os anti-inflamatórios não esteróides podem ser utilizados como adjuvantes no tratamento da dor nociceptiva, somática e visceral ou como terapia única, quando se trata de dor ligeira. Costumam ser indicados para o tratamento de dor aguda ou crónica, principalmente quando há inflamação. Este tipo de fármacos têm um mecanismo de ação comum – a inibição da síntese de prostaglandinas pelas isoenzimas cicloxigenase COX. Os opióides fortes são fármacos de última linha no tratamento da dor, pelo que só devem ser utilizados quando outras terapêuticas, farmacológicas e não farmacológicas, já não são suficientes. A ação analgésica destes fármacos deve-se à sua ligação aos receptores opióides. Existem vários tipos de receptores opióides e alguns medicamentos têm mais afinidade para um tipo de receptor do que para outros. Para além da afinidade, os opióides fortes, diferem também na sua potência analgésica e farmacocinética. Os relaxantes musculares podem ser úteis na dor associada a espasmos musculares. São utilizados no tratamento da dor o baclofeno, diazepam, clonazepam, ciclobenzaprina e tizanidina. O baclofeno, agonista do receptor GABA, é utilizado principalmente como um agente antiespasmódico. No entanto, a sedação, hipotonia e confusão em pessoas idosas pode complicar a terapia com este tipo de fármacos. DIFERENÇA DOR SOMÁTICA E VISCERAL Dor somática profunda e dor visceral — Não há diferença fundamental entre a dor que se origina em uma víscera e a que provém de uma estrutura somática profunda (músculos, tendõese articulações). Ambas têm a mesma qualidade, são difusas e mal localizadas. Os sistemas visceral e somático estão estreitamente vinculados. As fibras aferentes das vísceras fazem parte dos nervos simpáticos e raramente do parassimpático. Habitualmente seus impulsos não atingem níveis de consciência, salvo algumas exceções (fome e sede, plenitude do reto e da bexiga, etc.) É bem conhecido que o parênquima visceral, assim como o cerebral, pode ser manuseado sem que se desperte sensação alguma. No decurso de intervenções cirúrgicas feitas com anestesia local as vísceras de indivíduos conscientes podem ser cortadas ou cauterizadas sem provocar dor. As vísceras não são, contudo, completamente insensíveis, porém as membranas que as recobrem, o tecido de sustentação, os pedúnculos neurovasculares e os músculos viscerais é que podem ser origem de dor localizada ou irradiada. Os impulsos assim originados são conduzidos por fibras que estão incluídas em nervos simpáticos e excepcionalmente nos parassimpáticos, tal como na região pélvica, esôfago e traquéia. Já que os nervos simpáticos não são essenciais para os reflexos reguladores viscerais, a simpatectomia para aliviar a dor não provoca disfunção visceral sária. A dor somática profunda localiza-se bastante bem quando tem sua origem em tecidos situados próximo da superfície do corpo, por exemplo nos tendões ou aponeuroses superficiais, no periósteo de ossos imediatamente sob a pele, nas paredes das cavidades abdominal e torácica. Ao contrário, quando se origina em estruturas profundas, é mais difusa e é referida em um ponto distante. Na localização das sensações intervêm dois pontos importante: a representação cortical e experiência. Quanto mais desenvolvida é aquela e mais frequente esta última, mais precisa é a localização. As vísceras e os segmentos profundos têm uma representação cortical muito menos extensa do que os receptores exteroceptivos e os impulsos aferentes das vísceras e dos músculos habitualmente não chegam a ser conscientes. Esses fatos bastam para explicar porque as sensações profundas não têm um sinal local preciso e são referidas sob forma difusa ao segmento ou aos segmentos em que se originaram e as regiões da superfície de onde partem impulsos dolorosos que chegam ao neuroeixo pelas mesmas raízes medulares e estão representados nos mesmos pontos do córtex cerebral. SÍNDROME MIOFACIAL A síndrome dolorosa miofascial (SDM) é uma condição dolorosa muscular que pode afetar várias regiões corporais, como coluna cervical, coluna lombar, cintura escapular, cintura pélvica e vários outros pontos do corpo. Caracteriza-se pela ocorrência de bandas musculares tensas palpáveis (nódulos musculares), nas quais se identificam pontos intensamente dolorosos, os pontos-gatilho (PG). Esses pontos, quando estimulados, ocasionam intensa dor local que pode se irradiar para outros locais do corpo. Geralmente, a dor afeta apenas uma região e pode ser ocasionada por algum trauma (acidentes), por sobrecarga em determinadas regiões (erguer peso, alterações posturais, atletas de fim de semana) ou por estresses emocionais. Pessoas afetadas pela SDM podem ter alterações no sono, fadiga e intolerância a exercícios físicos. Epidemiologia A prevalência da SDM na população é difícil de ser determinada, pois os critérios de diagnóstico são clínicos e dependem do achado de pontos-gatilho e de bandas de tensão, sendo necessário que o profissional seja treinado para identificá-los. Há também necessidade da exclusão de afecções associadas ou de doenças de base da síndrome dolorosa miofascial. Há evidências de que a SDM seja condição comum, particularmente nos centros de dor, em ambulatórios de ortopedia e traumatologia, fisiatria, reumatologia e neurologia, e que frequentemente ocasione dor crônica e incapacidade significantes. Estudos realizados em centros de dor e em clínicas de diversas especialidades indicam que ocorre SDM em 21% a 93% dos indivíduos com queixas de dor regionalizada. Em um estudo de epidemiologia clínica, realizado no Centro de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, avaliaram 283 doentes com dor crônica. Em 85% dos casos o diagnóstico foi SDM, sendo 61% dos casos na região lombar, 10% na região cervical e 14% na cervical e lombar. Acometia predominantemente os indivíduos do sexo feminino, na proporção de 3 para 1, em relação ao sexo masculino. Quadro clínico A SDM é uma condição dolorosa muscular regional caracterizada pela ocorrência de bandas musculares tensas palpáveis, nas quais identificam-se pontos intensamente dolorosos, os PGs, que, quando estimulados por palpação digital ou durante a punção localizada com agulha, ocasionam dor local ou referida à distância. Os PGs podem ser palpados e geralmente estão associados à presença de banda tensa ou “nódulo muscular”. Os PGs são decorrentes de sobrecargas dinâmicas (traumatismos, excesso de uso) ou estáticas (sobrecargas posturais), ocorridas durante as atividades ocupacionais e da vida diária. Pontos dolorosos adicionais ou satélites podem ocorrer na área de referência do PG original ou principal. A ocorrência de contração muscular visível e palpável localizada, ou seja, do reflexo contrátil loca lizado (RCL), ou twitch response, induzido pela palpação ou punção da banda muscular ou do PG, é característica da SDM. Os PGs podem ser ativos ou latentes. O PG ativo é um foco de hiperirritabilidade sintomática muscular, situado em bandas musculares tensas (contraturadas ou enduradas, no músculo ou na fáscia), em áreas onde há queixa de dor e que, quando pressionado, gera dor referida em áreas padronizadas, reprodutíveis para cada músculo. A dor é espontânea ou surge ao movimento, limita a amplitude do movimento (ADM) e pode causar sensação de fraqueza muscular. Os PGs latentes são pontos dolorosos com características similares aos ativos, mas presentes em áreas assintomáticas. Não se associam à dor durante as atividades físicas normais. As características da SDM são: • Dor difusa em um músculo ou grupo de músculos; • Dor regional em peso, queimor ou latejamento, surtos de dor, referência de dor à distância e, às vezes, queixas de parestesias (sem padrão neuropático); • Banda muscular tensa palpável contendo PGs; • Ausência de padrão de dor radicular ou neuropática; • Reprodução das queixas ou alterações das sensações durante a compressão do ponto miálgico; • Ocorrência de RCL durante a inserção da agulha ou palpação no sentido transversal do ponto hipersensível da banda muscular; • Alívio da dor após o estiramento do músculo ou após a infiltração do ponto sensível; • Possível limitação da amplitude de movimento; • Encurtamento muscular ao estiramento passivo; • Possível redução da força muscular ao teste manual. Fisiopatologia A fibra muscular, quando sofre lesão, sobrecarga ou estresses de repetição, desenvolve PGs que resultam em contração muscular exagerada durante período de tempo prolongado. Associadamente, ocorre fadiga muscular. Isquemia focalizada e anormalidades subsequentes do ambiente extracelular das miofibrilas, além de liberação de substâncias algiogênicas, geram ciclo vicioso caracterizado por elevação da atividade motora e do sistema nervoso neurovegetativo, aumentando a sensibilidade à dor. Os eventos dolorosos podem ser auto-sustentados por fenômeno de sensibilização centrais e periféricos. Em 1976, Simons & Stolov observaram que os nódulos dos PGs são constituídos de segmentos de fibras com sarcômeros encurtados, alargados e espessados, ao lado de fibras musculares finas, que contêm sarcômeros adelgaçados e alongados, compensando os sarcômeros presentes nos músculos contraturados; há aumentoda tensão das fibras musculares, tanto no local do nódulo como ao seu redor. A tensão sustentada pode produzir sobrecarga mecânica localizada no tecido conectivo e em estruturas vizinhas à banda de tensão, causando falência dos elementos contráteis nos nódulos e liberando substâncias sensibilizadoras dos nociceptores. A formação dos PGs e das bandas de tensão é resultante dos macro ou microtraumatismos localizados que causam ruptura do retículo sarcoplasmático e liberação e acúmulo de Ca++ no sarcoplasma. O Ca++ reage com a adenosina trifosfato (ATP) e causa deslizamento e interação da actina com a miosina e encurtamento do sarcômero, do que resulta o espasmo ou hipertonia muscular localizada. Os miofilamentos não apresentam atividade elétrica e são livres de controle neurogênico; quando ativados, são responsáveis pela banda muscular tensa e encurtada. A atividade contrátil não controlada aumenta o consumo energético e colapsa a microcirculação local (compressão mecânica dos capilares). O consumo energético aumentado, sob condições de isquemia, gera depleção localizada de ATP, que resulta em comprometimento de recaptação ativa de Ca++ pela bomba do retículo sarcoplasmático. A manutenção das condições de contração muscular causa círculo vicioso auto-sustentado de contração muscular-isquemia- contração muscular; a contração persistente do sarcômero produz isquemia e deficiência metabólica tecidual. Durante o repouso, a banda muscular não apresenta atividade elétrica, ou seja, não é de natureza neurogênica. A hipersensibilidade dos PGs à palpação deve-se à excitação e sensibilização dos nociceptores pelo acúmulo de substâncias algiogênicas, causado pelas alterações biodinâmicas do traumatismo ou da crise energética e/ou pela inflamação neurogênica. A dor gera, reflexamente, espasmo muscular, que agrava a condição original. Os estímulos nociceptivos acionam os nociceptores musculares relacionados às fibras nervosas III (equivalentes das fibras Ad) e IV (equivalentes das fibras C), que se projetam no corno posterior da substância cinzenta da medula espinal, de onde as informações nociceptivas são transferidas pelos tratos de projeção rostral para unidades supra-segmentares. Os estímulos nociceptivos induzem várias modificações secundárias e sensibilizadoras no SNC, que contribuem para o quadro clínico da SDM. Ocorre aumento da excitabilidade dos neurônios na medula espinal, que passam a apresentar atividade espontânea, aumento da reação aos estímulos mecânicos, ampliação dos campos receptivos e reforço de sinapses inefetivas. A deformação plástica da membrana neuronal é a causa da cronificação de dor e referida em outras estruturas profundas (músculos, tendões, articulações, ligamentos), enquanto a visceral causa referência cutânea. Ocorre, portanto, alteração na percepção e análise discriminativa das informações nas estruturas medulares e encefálicas em decorrência das particularidades funcionais das estruturas, que detectam e processam os sinais dos aferentes musculares A aferência sensitiva inibe o sistema g do músculo lesado e compromete a atividade do fuso muscular. A ausência de controle de atividade do fuso muscular implica a necessidade de acionamento de mais fibras nervosas para ativar a motricidade com eficácia. Este mecanismo pode estar envolvido na sensação subjetiva de diminuição da força em casos de doenças musculares e de SDM. As miofibrilas intrafusais são ajustadas para padrões de atividade mais elevados, fenômeno que contribui para a sensação de tensão muscular e de aumento do reflexo de estiramento (resposta contrátil localizada), observada em casos de SDM. A ativação das fibras IV é responsável pela dor durante os movimentos, estiramento ou compressão muscular e a das fibras III, pelas parestesias e pela dor espontânea. Diagnóstico O diagnóstico da SDM depende, sobretudo, da história e do exame físico. No entanto, em virtude da subjetividade com que cada paciente refere seus sintomas, nem sempre se identificam todos os pontos na avaliação clínica. O não reconhecimento dessa síndrome é responsável por numerosos diagnósticos errôneos e insucessos terapêuticos de sintomas dolorosos crônicos, bem como pela perda da produtividade e consequente incapacidade biopsicossocial. Para o diagnóstico das SDMs, é fundamental a história detalhada sobre a condição clínica, especialmente destacando a ocorrência ou não de sobrecargas musculoesqueléticas, posturas inadequadas adotadas durante a execução de tarefas (sono, lazer, no lar e no trabalho e atividades esportivas) sobre os antecedentes pessoais e familiares, enfatizando afecções traumáticas, inflamatórias, metabólicas, oncológicas, viscerais, neuropáticas ou musculoesqueléticas pregressas e o exame físico geral, fisiátrico e neurológico, centrando a atenção para a inspeção das atitudes, posturas, conformação e padrão de movimento das estruturas muscu loesqueléticas e assimetria dos membros e para a pesquisa por palpação dos PGs. A história deve revisar os eventos de saúde cronologicamente, o uso de medicamentos e os fatores que interferem com a dor. As queixas subjetivas da ocorrência de lesão ou disfunção muscular são representadas pela dor, enrijecimento e tensão muscular, principalmente um a dois dias após a execução de atividades físicas. Os doentes com PGs ativos geralmente queixam-se de dor mal localizada, em queimor ou em peso e, muitas vezes, em pontada, num segmento corpóreo e referida à distância. Os fatores ergonômicos e posturais devem ser detalhadamente analisadas (hábitos, características dos ambientes de trabalho, modo de dormir). A análise dos eventos biomecânicos geradores dos sintomas auxilia a identificação dos músculos responsáveis pela SDM. As assimetrias corporais observadas pelos doentes devem ser valorizadas. Os trabalhadores que praticam exercícios ativos assistidos diariamente são menos propensos ao desenvolvimento dos PGs ativos que os sedentários, quando submetidos a atividades físicas vigorosas. Os históricos sobre condições clínicas presentes e passadas, atividades no lar e no trabalho, condições mentais e hábitos alimentares e uso de álcool, dietas e drogas são também fundamentais para o diagnóstico. O hábito de ingerir bebidas alcoólicas pode precipitar miopatia alcóolica aguda e mioglobinúria; a deficiência de vitamina B é associada à osteomalácia, fator causador de dor óssea ou muscular; a fraqueza decorre de deficiência de palmitiltransferase ou de carnitina e pode ocorrer particularmente durante a execução de exercícios prolongados, após jejum e após dieta rica em gordura e pobre em carboidratos. O sedentarismo, a freqüência com que são realizadas as atividades esportivas (como os atletas de finais de semana), o tipo de atividades praticadas que podem sobrecarregar estruturas musculoesqueléticas (aeróbica, musculação) e a assimetria de sobrecarga musculoesquelética (tênis, beisebol) são importantes na história clínica. O exame físico deve caracterizar o padrão da marcha, a ocorrência de posturas anormais, como cifose ou escoliose, as posturas e a evidência de assimetrias que possam sugerir o local da lesão causal ou da sobrecarga. A amplitude do movimento articular deve ser avaliada com critério; os músculos responsáveis pela limitação dos movimentos devem ser palpados, pois podem apresentar PGs que, inativados, podem contribuir para a melhora. Assim, a SDM cervical pode ser associada a PGs latentes na região da cintura escapular, músculo quadrado lombar, músculos glúteos e, freqüentemente, do músculo gastrocnêmio. Pode não haver queixa de dor na região lombar ou nos membros inferiores, porém, ao exame físico, pode-se revelar que músculos das cadeias musculares posteriores estãocomprometidos. Há necessidade adicional de tratar os PGs latentes, os espasmos musculares e os encurtamentos, pois o não tratamento dos músculos tensos e encurtados, mesmo que assintomáticos, pode tornar o resultado terapêutico insatisfatório. Os PGs ativos são frequentemente identificados nos músculos posturais da região cervical, cintura escapular e cintura pélvica, trapézio superior, escaleno, esternocleidomastóideo, elevador da escápula, quadrado lombar e musculatura mastigatória. Os PGs ativos e os satélites tornam-se mais doloridos quando os músculos são encurtados durante períodos de tempo prolongados e quando os doentes adotam posturas inadequadas durante a execução das atividades de vida diária (AVDs), de trabalho e durante o sono. Segundo Njoo (1995), Gerwin (1995) e Travell & Simons (1998), a identificação e a discriminação dos PGs e a indicação dos pontos onde há dor, pelo doente, é muito importante para o diagnóstico. A dor localizada pode ser documentada com o uso de algiômetros de pressão. A pressão necessária para induzir dor deve ser inferior a 2Kg/cm2 em relação aos pontos normossensíveis contralaterais. Quando a dor é causada por PGs ou pontos dolorosos específicos, o agulhamento seco ou a infiltração com anestésicos locais alivia-a ou abole-a. Esta manobra constitui um dos critérios diagnósticos da SDM. Os exames complementares séricos e de imagem (radiográficos, ultra-sonográficos, cintilográficos e de ressonância nuclear magnética) são normais. A recorrência das SDMs pode ser devida à não correção de fatores perpetuantes ou agravantes: mêcano- posturais, nutricionais, metabólicos ou psicossociais. No Quadro 2 são apresentadas algumas condições que podem estar associadas à ocorrência de SDM. O exame IR evidencia objetivamente os pontos-gatilho (PG) na forma de pontos aquecidos (hot spots) hiper- radiantes e com sensibilidade próxima a 98%. Essas áreas hiper-radiantes correspondem a PG dolorosos anotados no exame clínico e confirmados por US (Figura 1). Eles são corroborados pela sensibilidade local e pela confirmação da dor pelos pacientes. As alterações de imagem IR constituem, assim, importante recurso objetivo na demonstração de PG miofasciais, correlatos com as queixas claras do paciente. A identificação dos PG por imagem IR é útil no direcionamento para causa da dor, na orientação do tratamento adequado e na avaliação de sua resposta, assim como para a documentação médico-legal. Tratamento O tratamento da SDM deve abranger a complexidade de cada caso. A avaliação parcial, que não compreenda os músculos acometidos e os fatores desencadeantes e perpetuantes, pode redundar em ausência de controle da condição álgica e em perpetuação de síndrome dolorosa. Medidas simples podem ser apropriadas nos doentes com SDM que acomete um único ou poucos músculos, desde que os componentes psicossociais e comportamentais sejam mínimos. Doentes com diversas anormalidades psicossociais e fatores perpetuantes orgânicos devem ser tratados de forma abrangente por equipes interdisciplinares Medicamentos analgésicos anti-inflamatórios são importantes no controle da dor. Devem ser a primeira atitude terapêutica. São eficazes no controle da dor aguda, tornando confortável a realização da cinesioterapia. O uso crônico de AAINH em casos de SDM não se revelou eficaz. Seu uso deve ser reservado para crises de agudização ou para controle da dor após a execução da cinesioterapia ou de procedimentos de agulhamento e/ou infiltração dos PGs. Os relaxantes musculares de ação periférica não parecem ter efeito satisfatório. O relaxante muscular de ação central mais utilizado é a ciclobenzaprina (20 a 30mg VO/dia). Na experiência dos autores, a ciclo benzaprina é mais efetiva no tratamento da SDM em alguns doentes com fibromialgia. A tizanadina é um relaxante muscular de ação central que atua no receptor α-2 adrenérgico na medula espinal e em centros supra-segmentares. Não atua nas fibras musculares ou na junção mioneural. Segundo estudos duplos-cegos, randomizados e controlados, na dosagem de 2, 4 ou 8mg, 3 vezes ao dia, proporciona decréscimo de dor e melhora da mobilidade e do bem- estar. Aos analgésicos e miorrelaxantes deve-se associar psicotrópicos. Os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, clorimipramina, nortriptilina) na dose de 25 a 100mg ao dia ou alguns inibidores específicos de recaptação de serotonina e noradrenalina (venfalaxina, mirtazapina) são agentes que, além de analgésicos, normalizam o padrão do sono e relaxam os músculos. Podem ser associados às fenotiazinas (clorpromazina, levomepromazina, propericiazina) na dose de 20 a 100mg ao dia, pois estas proporcionam analgesia, ansiólise, estabilização do humor e modificação na simbologia da dor. Os benzodiazepínicos são depressores do SNC e miorrelaxantes. Aumentam a inibição pré-sináptica das fibras aferentes na medula espinal, mediados pelo complexo receptor GABA. Atuam como tranqüilizantes e apresentam propriedades miorrelaxantes. O uso prolongado proporciona mais desvantagens que benefícios: pode causar sedação, confusão mental, dependência, tolerância, agravamento da sensibilidade à dor e depressão. Mais recentemente, a gabapentina é utilizada no controle da SDM. Em vários doentes, a terapia combinada é mais eficaz que a monoterapia. O programa de Medicina física baseia-se na inativação dos PGs, na reabilitação muscular, cine sioterapia com relaxamento muscular e orientações posturais, além da remoção de outros fatores desen cadeantes e perpetuantes. Para tal, é fundamental a identificação correta dos músculos envolvidos. É necessária a atuação de equipes interprofissionais para estabelecimento do diagnóstico da dor, de suas etiologias e da gravidade do comprometimento musculoesquelético e psicossocial e para o estabelecimento dos programas de reabilitação e reformulação das atividades dos doentes, não apenas quanto aos aspectos ergonômicos, como também emocionais e psicossociais. Em casos de dor crônica, o papel do doente, do significado da dor, dos estressores psicossociais e dos tratamentos prévios deve ser considerado com cautela, pois a qualidade da avaliação e a precisão dos diagnósticos determinam o prognóstico dos programas de reabilitação. Freqüen temente, estes doentes apresentam recorrência da dor após tratamentos mal idealizados, fazem uso de numerosos medicamentos, submetem-se a vários procedimentos e comparecem a diversas consultas médicas de diferentes especialidades, sem que o diagnóstico da SDM seja realizado. Os hábitos saudáveis de vida constituem a base do tratamento da dor musculoesquelética. A dieta saudável e o sono repousante, além dos exercícios e da atividade física programada, são medidas complementares de extrema importância para qualquer programa de reabilitação de doentes com dor neuromuscular crônica. Os estresses emocionais e as anormalidades do sono podem desencadear ou agravar a dor musculoesquelética. O tabagismo provoca alterações microcirculatórias que podem agravar a dor neuropática, a distrofia simpáticoreflexa e as cefaléias. Portanto, cessar o uso do cigarro também é fator importante de melhora da qualidade do tratamento. O tratamento da SDM consiste na inativação dos PGs e na interrupção do ciclo vicioso dor-espasmo-dor. Quando o doente apresenta SDM secundária a uma condição nociceptiva primária visceral ou somática, o tratamento isolado da SDM não resulta em melhora satisfatória da dor, podendo haver recorrência muito mais frequente do que em casos de SDMs primárias. Os exercícios diminuem a sensibilidade à dor. Os exercícios e os programas regulares de atividades físicas são fundamentais e constituem a base do tratamento da dor musculoesquelética-crônica. Melhoramnão apenas o condicionamento cardiovascular ou muscular, como também reduzem o número e a intensidade dos PGs e melhoram as medidas objetivas e subjetivas da dor em doentes com SDM e fibromialgia. Os exercícios físicos em doentes com dor crônica devem ser iniciados gradualmente, com manobras de mobilização e de alongamento suave, respeitando-se a tolerância dos doentes, e devem ser realizados regularmente, para se evitar a dor muscular intensa após as atividades físicas. Diversas modalidades de métodos físicos, como a massoterapia, o calor superficial (bolsas térmicas) ou profundo (ultra-som, ondas curtas, microondas), a crioterapia (compressas de gelo, aerossóis congelantes), hidroterapia (turbilhão, tanque de Hubbard associado à hidromassagem e terapia na piscina) e a eletroterapia (estimulação elétrica transcutânea, correntes farádicas, iontoforese de agentes analgésicos e de anti-inflamatórios) podem ser utilizados para reduzir a tensão muscular e inativar os PGs. Sua ação é lenta e não satisfatória em casos complexos e crônicos. 2. IDENTIFICAR AS CARACTERÍSTICAS PROPEDÊUTICAS DA DOR 1. Localização 2. Qualidade ou Caráter 3. Intensidade 4. Duração 5. Evolução 6. Irradiação 7. Relação com as funções orgânicas 8. Fatores desencadeantes ou agravantes 9. Fatores atenuantes 10. Manifestações Concomitantes Localização Onde o paciente sente dor. Deve solicitar para ele apontar à região dolorida, que deve ser registrada conforme a nomenclatura da superfície corporal. Quando há dor em vários locais, deve registrar corretamente todos, lembrando de analisar o que possibilita reconhecer se a dor é referida ou irradiada a algum local. Mas pode não ter isso, podendo ser doença que cause dor em vários locais, AR, por exemplo, processos mórbidos independentes ou dor psicogênica. Analisar também se é bem ou mal localizada. Lembrar que a dor somática superficial tende a ser bem localizada, enquanto a dor somática profunda, visceral e neuropática tendem a ser mal localizadas. Qualidade ou Caráter Paciente descreve a sensação que a dor provoca. É comum eles terem dificuldades na descrição, pode-se oferecer termos descritores para facilitar, uma dica é fazer isso no começo e no fim da anamnese, porém trocando a ordem, já que eles tendem a falar a primeira coisa que escutam. Caso não seja possível descrever, relate que o paciente encontrou dificuldades de relatar a dor. Alguns exemplos de caráter de dor: a. Dor Contínua: mantém sem interrupção. Típica em pancreatite aguda. b. Dor em Cólica: sensação de torcedura, havendo alternância entre intensidade. Comum em cólica intestinal, biliar, nefrética ou menstrual. c. Dor em Pontada ou Fincada: lembra a sensação desencadeada por objeto pontiagudo. Ocorre nos processos pleurais. d. Dor em Queimação: lembra a sensação desencadeada por calor intenso. Dor da esofagite e úlcera péptica. e. Dor Pulsátil ou Latejante: é pulsante. Característica de enxaqueca, abscesso ou odontalgia. f. Dor Surda: dor contínua, imprecisa e de baixa intensidade. Dor lombar e dor em vísceras maciças. g. Dor Constritiva: causa impressão de aperto ou constrição. Ocorre em isquemia miocárdica, anginas e IAM. h. Dor Provocada: surge quando é provocada. i. Dor do Membro Fantasma: dor no membro afetado. Intensidade O quanto dói. É subjetivo dor, portanto isso também. Mas pode usar escalas de dor, com base na face, subjetividade e visual. Em geral, vai de 0 a 10, sendo 0 sem dor e 10 a pior dor já experimentada. Pode usar pistas para avaliar, como o quanto o desempenho tem piorado no sono, trabalho, família, sexo. Duração Inicialmente, determina-se com máxima precisão quando iniciou. Pode ser dividida de acordos com características: a. Dor Contínua: calcula o tempo desde início até o tempo da anamnese, já que para ser contínua, dói o tempo todo. b. Dor Cíclica: dor que ocorre em episódios dolorosos, deve saber data do início e duração de cada episódio. Dor que ocorre por alterações hormonais. c. Dor Intermitente: deve saber há quanto tempo começou, número de episódios e duração de cada episódio. Uma dor que ocorre em crises e desaparecendo. Evolução Descobre como a dor evoluiu desde o início até o momento da anamnese. Primeiro, investiga o modo de instalação: se súbito ou insidiosa. Se for súbita e tipo cólica, localizada no hipocôndrio direito, sugere colelitíase. Dor insidiosa, surda e na mesma área, sugere colecistite ou hepatopatia. Pode haver as mais variadas modificações na dor, como enxaqueca tornar- se mais difícil de tratar após abuso de analgésicos. Outro exemplo é a úlcera péptica que causa epigastralgia romper e causar dor súbita e intensa no abdome inteiro, por causa do extravasamento de suco digestório. A intensidade pode mudar conforme a evolução da doença. Anota se houver mudança na qualidade da dor, intensidade e frequência. Ainda a dor aguda pode evoluir e tornar-se crônica (> 3 meses). Irradiação Serve tanto para dor referida quanto para irradiada, deve-se diferenciar. Dor referida é o termo semiológico correto, mas na prática médica, falar que irradia está certo. Relação com Funções Orgânicas Avalia localização da dor com órgãos próximos. Se for cervical ou lombar, pesquisa-se relações com movimentos da coluna, se torácica, relação com respiração, movimento do tórax, tosse, espirro e esforço físico, se tiver localização retroesternal, pesquisa-se a relação com deglutição, posição e esforço físico, se for periumbilical ou epigástrica, relação com ingesta de alimentos, se for no hipocôndrio direito, relação com ingesta de gorduras, no baixo-ventre, com micção, defecação e menstruação, se articular ou muscular, relação com movimento daquela estrutura, se no MMI, relação com deambulação. Quase sempre, dor é acentuada pela atividade funcional do órgão em que se origina, portanto, na insuficiência arterial mesentérica, que é dor surda e periumbilical, a intensidade aumenta após alimentação, pelo aumento da motilidade intestinal. A dor em articulação ou músculo é intensificado por movimento dessa estrutura. Na colecistite, a dor é aumentada ao ingerir gordura. A dor retroesternal da hérnia hiatal é exacerbada em posições que favoreçam o retorno do suco gástrico, como decúbito dorsal, deglutição ou flexão do tronco, sugerem esofagite de DRGE. Porém, dor retroesternal que piora com esforço físico sugere isquemia miocárdica. Dor da úlcera péptica melhora com ingesta de alimentos, porque ela é causada pela hipercloridria, mas o alimento tampona acidez gástrica, reduzindo a dor. Fatores desencadeantes ou agravantes As funções orgânicas estão envolvidas, porém pesquisa outras causas. Exemplos: alimentos ácidos, picantes, bebidas alcoólicas, AINES e AIH pioram dor da esofagite, gastrite e úlcera péptica; alimentos gordurosos, doenças de vias biliares; chocolate, queijos, bebidas alcoólicas (vinho especialmente), barulho, luminosidade excessiva, esforço físico e menstruação, enxaqueca; decúbito dorsal prolongado, tosse e espirro, a cefaleia por HIC; flexão de nuca por estirar meninges, piora meningite e HSA; esforço físico, doenças cardíacas; emoção e estresse, dor psicogênica; movimentos que estimulem CN. V, nevralgia do trigêmeo. Fatores atenuantes O que melhora a dor? Pode ser funções orgânicas, postura ou atitudes, medicamentos (quais, dose e períodos usados). Repouso, por exemplo, melhores dores coronarianas, musculares e articulares. Peristaltismo aumenta dor no TGI, jejum e vômitos podem reduzir. Manifestações Concomitantes Dores costumam ser acompanhadas de manifestações neurovegetativas, que se devem à estimulação do SNA, expressando, por exemplo, sudorese, taquicardia, palidez, HAS, mal-estar, náusease vômitos. 3. ENTENDER A FIBROMIALGIA, SUA FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO (FARMACOLÓGICO E NÃO FARMACOLÓGICO) A fibromialgia é uma síndrome álgica musculoesquelética crônica, de duração superior a 3 meses, generalizada, na qual existe um distúrbio do processamento dos centros aferentes, causando dor. De natureza não autoimune e não inflamatória, sua etiologia permanece desconhecida, mas sua frequência na prática clínica é elevada: perde apenas para as osteoartrites nas queixas do aparelho locomotor. Além disso, a doença possui grande impacto na qualidade de vida, o que torna o conhecimento sobre ela muito importante para a prática clínica. Embora seja muito frequente, seu diagnóstico permanece um desafio, demorando em média mais de 2 anos para o diagnóstico ser feito. A fibromialgia se caracteriza por dor muscular difusa e crônica – de duração maior que 3 meses, associadas frequentemente a queixas de fadiga, distúrbios do sono e baixa tolerância aos exercícios físicos. Adormecimentos, pontadas, queimação e cãibras também podem compor o quadro. Outros sintomas vagos e inespecíficos, como edema de membros, tontura, palpitações, alterações cognitivas, ansiedade e humor deprimido podem se apresentar. Por fim, portadores de fibromialgia podem ainda ter algumas síndromes disfuncionais que acarretam dores localizadas ou em órgãos específicos, a exemplo de dor de parede abdominal por cólon irritável, sintomas da síndrome uretral feminina e da cistite intersticial. EPIDEMIOLOGIA A fibromialgia é um dos distúrbios musculoesqueléticos mais prevalentes e constitui um dos principais diagnósticos nos consultórios de reumatologia. Diferentes estudos apontam uma prevalência variando em torno de 0,7% a 5% da população, a depender do critério utilizado – a EULAR (Liga Europeia contra o Reumatismo) traz uma prevalência geral de 2% na população. Afeta com muito maior proporção o sexo feminino (8 mulheres afetadas para cada homem), e a idade mais frequente de dianóstico varia entre 35 e 60 anos – embora possa ser encontrada em outras faixas etárias. No Brasil, estudos trazem uma prevalência de 2,5%, principalmente do sexo feminino e na faixa dos 35 aos 44 anos. Outro aspecto importante de ser lembrado é que a fibromialgia pode coexistir com outras doenças reumatológicas – artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico, espondilite anquilosante, osteoartrite, etc – e que, portanto, não deve ser considerada como apenas um diagnóstico de exclusão. FISIOPATOLOGIA Alguns mecanismos fisiopatológicos da fibromialgia são postulados. Dentre os mais importantes, está a sensibilização central. Portadores de fibromialgia estão em um estado de centralização da dor, o que significa que eles sentem mais dor do que o esperado para certo estímulo nociceptivo. Algumas alterações do sistema nervoso central interpretam esse estímulo como sensações desagradáveis e os traduzem em dor, além de amplificá-los. As fibras da dor (fibras C desmielinizadas) são estimuladas repetida, rápida e prolongadamente – em um somatório temporal dos impulsos neurais. Isso amplifica os potenciais de ação nos neurônios do corno posterior da medula. E essa hiperestimulação causa despolarização dos receptores N-metil-D-aspartado (NMDA), gerando alterações da transcrição que afetam o processamento da dor. Além disso, há uma inibição das vias descendentes inibitórias da dor. Essas vias modulam a resposta medular aos estímulos dolorosos e estão prejudicadas em portadores de fibromialgia, o que potencializa a sensibilização central. Os níveis de neurotransimissores estão implicados na percepção da dor pelo indivíduo, facilitando ou dificultando a transmissão do estímulo. Esses transmissores também controlam o sono, humor, memória e atenção, e por isso pacientes com fibromialgia muito frequentemente também apresentam alterações do padrão do sono, humor, da memória e da atenção, como veremos adiante nas manifestações clínicas. Além da sensibilização central, na fibromialgia, há alterações musculares. Foram observadas, por técnicas de imunohistoquímica, atrofia muscular de fibras tipo II, bem como fibras reticulares, maior quantidade de lipídeos e de mitocôndrias. Essas alterações são secundárias à redução da microcirculação local, causando hipóxia e reduzindo a energia disponível. Como, na contração, há maior necessidade de oxigênio, isso acaba causando hipóxias focais cronicamente. Esse processo ativa os receptores adenosina A2, sensibilizando fibras nervosas não- mielinizadas. Além disso, há desregulação vascular, aumento de substância P nos músculos, de interleucina-1 (IL-1) no tecido cutâneo e fragmentação do DNA de fibras musculares. Todos esses processos parecem estar implicados também na fisiopatologia da fibromialgia. Na fibromialgia, há também importantes alterações neuro-hormonais e autonômicas. A cronicidade da dor e alterações nos mecanismos nociceptivos no SNC geram uma hipersecreção do hormônio ACTH (adrenocorticotropico). Essa hipersecreção ocasiona uma resposta sustentada ao estresse pelo eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHS). Estudos mostram aumento dos níveis de ACTH em nível basal e em estresse, além de níveis elevados de cortisol – particularmente no fim do dia – e de ciclo cicardiano interrompido. Altos níveis de ACTH aumentam os níveis do hormônio somatostatina, que, por sua vez, inibe o GH. Este hormônio também é produzido na fase IV do sono, fase esta que é interrompida nos pacientes fibromiálgicos. Logo, os níveis de GH nesses indivíduos é reduzido, particularmente durante o sono. Alterações na frequência cardíaca de repouso, diminuição da variabilidade desta ao longo do dia e hipotensão ortostática sugerem uma hiperreatividade persistente ndo sistema nervoso autônomo (SNA) em pacientes com fibromialgia. Um aumento do tônus simpático durante o sono foi sugerido como possível explicação para a fragmentação do sono, além de pode explicar fadiga, rigidez matinal, distúrbios do sono, ansiedade e irritabilidade nesses pacientes. Com relação às alterações do sono, um aspecto importante do sono desses indivíduos é a presença de sono alfa-delta. Mas o que seria isso? O sono não-REM possui quatro fases. À medida que essas fases progridem e o sono mais profundo é alcançado, a frequência das ondas cerebrais diminui. Na vigília com olhos fechados, as ondas possuem uma frequência entre 8Hz e 13Hz – chamadas de ondas alfa. A fase I é uma transição da vigília e, no eletroencefalograma, se associa a ondas teta (4 a 7Hz); já a fase IV é constituído majoritariamente por ondas delta (<4Hz). É a fase IV, formada pelas ondas delta, a responsável pelo sono reparador e recuperador da energia física. Em pacientes com fibromialgia, há redução da eficiência do sono, com pequenos despertares noturnos frequentes, diminuição da duração de sono de ondas lentas e intrusão de ondas alfa nas fases do sono profundo. Esse padrão é chamado de sono alfa- delta e está presente em cerca e 90% dos pacientes. No entanto, o sono alfa-delta não é específico da fibromialgia, podendo estar presentes em outras condições e até em indivíduos normais. QUADRO CLÍNICO Os principais sintomas da fibromialgia podem ser vistos como uma tríade que inclui: Dor difusa crônica (bilateral, acima e abaixo do tronco e no esqueleto axial, com duração maior que 3 meses); Fadiga; Distúrbios do sono. A dor na fibromialgia é generalizada, de intensidade variável ao longo dos dias e de caráter migratório. Pode começar de forma localizada, tornando-se difusa posteriormente. Além disso, de 76% a 100% dos pacientes afetados têm fadiga, que geralmente piora após esforço físico, podendo inclusive tornar-se o sintomamais incapacitante. Já os distúrbios do sono ocorrem em 55% a 80% dos portadores. O paciente geralmente apresenta exame físico normal, à exceção da presença de dor difusa. Esta pode ser identificada tanto pela contagem de pontos dolorosos, como pela palpação digital de várias regiões do corpo. A hipersensibilidade deve ser avaliada para a presença de alodinia ou hiperalgesia. O exame físico também pode auxiliar no diagnóstico diferencial de outras condições, sendo particularmente o exame articular de grande importância nesse contexto. DIAGNÓSTICO Em 1990, a American College of Rheumatology criou critérios para classificação da fibromialgia. No entanto, esses critérios foram criados com o objetivo de facilitar a condução de ensaios clínicos, não para uso na prática clínica. De qualquer forma, acabaram por ser adotados por muitos profissionais para o diagnóstico de fibromialgia. Tais critérios estão descritos abaixo: Dor difusa (bilateral, acima e abaixo do tronco, acometendo esqueleto axial, por no mínimo 3 meses); Detecção de onze pontos dolorosos à palpação (dentre 18), os chamados tender points. No entanto, essa classificação limitava a investigação da doença na medida em que não levava em consideração alterações do sono, fadiga e distúrbios cognitivos. Assim, em 2010, a American College of Rheumatology mais uma vez se reuniu e elaborou os critérios de 2010, utilizando o índice de dor generalizada (IDG) e a escala de gravidade dos sintomas (EGS). Os critérios de 2010 são apresentados a seguir: IDG Marcar as áreas em que o paciente sentiu dor nos últimos 7 dias: EGS Marcar a gravidade dos seguintes sintomas nos últimos 7 dias: Fadiga (cansaço ao executar atividades): (0) (1) (2) (3) Sono não reparador (acordar cansado): (0) (1) (2) (3) Sintomas cognitivos (dificuldade de memória, concentração): (0) (1) (2) (3) Sendo que: 0 = ausente 1 = leve ou intermitente 2 = moderado: intensidade moderada, sintoma geralmente presente 3 = grave: sintoma persistente, contínuo, com prejuízo da qualidade de vida e funcionalidade. Subtotal:___________ (máximo de 9) Sintomas somáticos: responder às seguintes questões: Você apresentou um desses sintomas nos últimos 6 meses? Dor abdominal: Não (0) Sim (1) Cefaleia: Não (0) Sim (1) Depressão: Não (0) Sim (1) Total do EGS: _____________ (máximo de 12) Total do IDG e EGS: _____________ (máximo de 18 pontos) Classifica-se como fibromialgia se as 3 condições estiverem presentes: IDG ≥ 7 e EGS ≥ 5, ou IDG 3-6 e EGS ≥ 9; Sintomas estáveis e presentes por pelo menos 3 meses; Não haver outra causa que explique os sintomas. A fibromialgia possui também uma ampla gama de diagnósticos diferenciais, principalmente aqueles que cursam com dor crônica. Dentre os principais, temos: osteoartrite, artrite reumatoide, espondiloartrites, hipotireoidismo, deficiência de vitamina D/osteomalácia, polimialgia reumática, miopatias inflamatórias, distrofias musculares, parkinsonismo, hipopotassemia, uso de certos medicamentos (estatinas, bloqueadores de H2) ou drogas ilícitas (cocaína, cannabis). Alguns exames complementares podem auxiliar no diagnósitco diferencial: reagentes de fase aguda (VHS e PCR), função tireoideana, avaliação do metabolismo ósseo (cálcio, paratormônio e vit. D), potássio sérico (uso de diuréticos), dosagem sérica de enzimas musculares (CPK e aldolase), eletroforese de proteínas séricas e sorologias (HCV, HBV, HIV, citomegalovírus, toxoplasmose parvovirose). Os reagentes de fase aguda estão geralmente ausentes na fibromialgia e aumentados em condições inflamatórias, como polimialgia reumática, miopatias inflamatórias e doenças articulares inflamatórias (artrite reumatoide e espondiloartrites). Lembre-se que a fibromialgia não é uma condição inflamatória, logo, provas inflamatória não estão tipicamente alteradas. Exames de autoanticorpos, como fator anti- nuclear (FAN) e fator reumatoide (FR), podem ajudar a excluir lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide – pois o FAN e o FR estão presentes na maioria dos casos dessas doenças, respectivamente, ao passo que sua positividade não é característica ou fala a favor da fibromialgia. No entanto, esses exames devem ser feitos com cautela, pois a fibromialgia pode ocorrer concomitantemente a outras doenças reumáticas. Nesse caso, a dor difusa crônica, fadiga e distúrbios do sono falam a favor da fibromialgia; lesões cutâneas, nódulos subcutâneos, acometimento pulmonar e renal – comuns no lúpus ou na artrite reumatoide – não compõem o quadro da fibromialgia. Exames hormonais tireoideanos ajudam a excluir tireoideopatia como possível causa, e exames de enzimas musculares são normais na fibromialgia – ao passo que podem estar aumentados em doenças musculares inflamatórias. Outro dado que pode auxiliar na diferenciação entre fibromialgia e polimialgia reumática é a epidemiologia: nesta, frequentemente a doença surge a partir dos 50 anos, enquanto naquela o diagnóstico é mais provável em idade mais jovem. A anamnese também pode ajudar no diagnóstico diferencial ao questionar o uso de medicamentos e de drogas – como cocaína e cannabis. TRATAMENTO O tratamento deve se iniciar com a educação do paciente sobre sua doença. É extremamente necessário que ele tenha informações sobre o que é a fibromialgia, seus sintomas e as possibilidades terapêuticas. A EULAR recomenda que o tratamento não medicamentoso seja a primeira tentativa do manejo da fibromialgia e, caso não haja melhora, sejam iniciadas terapias farmacológicas. Dentre o tratamento não medicamentoso, temos exercícios musculoesqueléticos, que devem ser realizados duas vezes por semana. Aeróbicos podem ser benéficos para alguns pacientes de forma individualizada e moderadamente intensa. Alongamento e programas de fortalecimento muscular também podem beneficiar alguns portadores, bem como reabilitação e fisioterapia ou relaxamento. A terapia cognitivo-comportamental pode beneficiar muitos pacientes, bem como outros tipos de suporte psicoterápicos. Já pilates, RPG, homeopatia e outras terapias alternativas não se mostraram eficazes. Em relação à terapia medicamentosa, pode-se lançar mão de antidepressivos tricíclicos, relaxantes musculares, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS’s), inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRSN’s), inibidor da monoamina oxidade (MAO), antagonista de serotonina, antiparkinsoniano e analgésicos simples e opiáceos leves demonstraram benefícios no tratamento da fibromialgia. Dentre os compostos tricíclicos, a amitriptilina e, dentre os relaxantes musculares, a ciclobenzaprina podem ser utilizadas, por reduzirem a dor e melhorarem a funcionalidade. Nortriptlina também é uma opção dentre os tricíclicos. Dentre os ISRS’s, a fluoxetina em altas doses (acima de 40mg/dia) também reduz a dor e melhora capacidade funcional. A fluoxetina, em combinação com os tricíclicos, também está recomendada. O uso isolado dos demais ISRS’s não é recomendado. Dentre os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina, temos a duloxetina e milnaciprano como as principais recomendações, também reduzindo a dor e proporcionando melhora da funcionalidade. Já a moclobemida, antidepressivo inibidor MAO, também é recomendada na melhora dos sintomas e da funcionalidade. O antiparkinsoniano pramipexol é outra recomendação, especialmente na presença de distúrbios do sono. A tropisetrona, um antagonista da serotonina, também é recomendada para o tratamento da fibromialgia. Analgésicos simples e opióides leves também podem ser utilizados, ao contrário dos opióides potentes. O tramadol é o representante recomendadodessa classe. Já os neuromoduladores gabapentina e pregabalina também são recomendados, ao contrário do topiramato. Por fim, a zopiclona e o zolpidem podem ser utilizados para o tratamento dos distúrbios do sono. Corticoesteróides e anti-inflamatórios não esteroidais (AINE’s) não são recomendados para o tratamento da fibromialgia. A dose de cada medicamento deve ser individualizada e alterada quando for necessário ou não houver resposta terapêutica. COMO A FIBROMIALGIA AFETA NA QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE Fibromialgia é uma síndrome reumática que ocorre, predominantemente, em mulheres com idade entre 40 e 55 anos, caracterizada por dor musculoesquelética difusa e crônica e sítios dolorosos específicos à palpação (tender points). Freqüentemente é associada à fadiga generalizada, distúrbios do sono, rigidez matinal, dispnéia, ansiedade e alterações de humor, que podem evoluir para um quadro de depressão. A depressão é um sintoma importante sendo apontada como um dos sintomas mais freqüentes em pacientes fibromiálgicos1. Vários estudos têm utilizado a Escala de Depressão de Beck7 para avaliar efeitos de tratamento. A avaliação da qualidade de vida através de questionários tem sido reconhecida como uma importante área do conhecimento científico no campo da saúde. Isto porque os conceitos de saúde e qualidade de vida se interpõem considerados como satisfação e bem-estar nos âmbitos físico, psíquico, socioeconômico e cultural e a prioridade nos tratamentos de quaisquer doenças ou síndromes tem sido cada vez mais, a busca pela saúde, em seu âmbito mais abrangente, e a melhora da qualidade de vida. Neste sentido o uso de questionários de qualidade de vida permite uma avaliação mais objetiva desta combinação de fatores subjetivos. Na prática clínica, eles podem identificar os âmbitos mais influenciados por determinada síndrome e avaliar a efetividade de uma intervenção e da análise de custo-utilidade do tratamento14. Estes instrumentos podem ser específicos ou genéricos. Os instrumentos específicos são capazes de avaliar, de forma particular, determinados aspectos da qualidade de vida, próprios de uma população com uma determinada doença. Em 1991, Burckhardt et al. propuseram e testaram um instrumento para avaliação da qualidade de vida específico para Fibromialgia, o Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). Este questionário é específico para a fibromialgia e envolve questões relacionadas à capacidade funcional, situação profissional, distúrbios psicológicos e sintomas físicos. Em grande parte das questões o maior escore indica maior impacto da fibromialgia na qualidade de vida. Desde então tem sido utilizado em situações clínicas e de pesquisa. Já os instrumentos genéricos foram desenvolvidos com o objetivo de estudar a qualidade de vida de indivíduos com qualquer patologia, ou mesmo de indivíduos saudáveis. Muito utilizado, o Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF- 36), é um instrumento genérico e multidimensional de avaliação da qualidade de vida que engloba oito aspectos: capacidade funcional (10 itens), aspectos físicos (4 itens), dor (2 itens), estado geral de saúde (5 itens), vitalidade (4 itens), aspectos sociais (2 itens), aspectos emocionais (3 itens), saúde mental (5 itens) e mais uma questão de avaliação comparativa entre as condições de saúde atual e de um ano atrás. Cada componente varia de zero a cem, sendo zero o pior escore e, cem o melhor. A Fibromialgia causa um impacto negativo na qualidade de vida de pacientes em idade produtiva de trabalho. Isso porque, além da dor, os sintomas de fadiga e fraqueza subjetiva causam perda da função levando à incapacidade para o trabalho e, conseqüentemente, à queda da renda familiar refletindo na qualidade de vida dessas pessoas. O FIQ, em vários estudos, é o instrumento que melhor discrimina pacientes fibromiálgicos de indivíduos saudáveis, mostrando piores índices de qualidade de vida quando comparado com o grupo não fibromiálgico. O SF-36 é outro questionário que avalia a qualidade de vida, porém menos específico que o FIQ. Os dados obtidos com este instrumento também mostram que a qualidade de vida dos fibromiálgicos é bem inferior aos indivíduos saudáveis e os domínios mais comprometidos foram o aspecto físico, a dor, a vitalidade e a capacidade funcional, em ordem decrescente. Já os domínios menos comprometidos foram o aspecto social e a saúde mental. 4. DESCREVER O MECANISMO DE AÇÃO DOS ANESTÉSICOS LOCAIS, ENTENDENDO SUAS INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES Os anestésicos locais são fármacos que provocam anestesia sem causar alteração no nível de consciência do paciente e recebem esse nome por serem administrados nas proximidades do local que se deseja anestesiar. Justamente por sua ação local, os efeitos adversos desses fármacos ocorrem quando eles atingem a corrente sanguínea (devido a problemas no processo de absorção), além das reações alérgicas que são passíveis de ocorrer com qualquer medicamento. Os anestésicos locais podem ser administrados para anestesia de mucosa (via tópica) através de cremes, pomadas ou colírios; anestesia Infiltrativa, através da injeção diretamente no tecido, sem considerar o trajeto de nervos cutâneos; e anestesia regional (exemplo: raquianestesia), que consiste no bloqueio da sensibilidade de determinada região do corpo. A concentração do anestésico no local que se deseja provocar anestesia influencia diretamente os efeitos e o tempo de duração da anestesia. A concentração do fármaco dependerá de sua taxa de lipossolubilidade, que afeta diretamente seu processo de distribuição: quanto mais lipossolúvel for o anestésico, mais facilmente ele será distribuído para os tecidos, ou seja, menor será sua concentração no local alvo. Os anestésicos locais são classificados em dois grupos: • Amino-ésteres: são biotransformados por pseudocolinesterases plasmáticas (é reduzida de forma mais rápida) e podem competir com as outras drogas que também precisam dessas enzimas para serem ativadas. Esse processo aumenta o tempo de duração do anestésico no local de aplicação. Os principais representantes deste grupo são a benzocaína, a cocaína, a procaína, a tetracaína e a cloroprocaína. • Amino-amidas: são biotransformadas por peroxidases hepáticas e, por isso, indivíduos hepatopatas podem cursar com tempo prolongado de anestesia. Os principais representantes desse grupo são a lidocaína, a prilocaína, a mepivacaína, a etidocaína, a ropivacaína, dentre outros. Mecanismo de ação Os anestésicos locais bloqueiam o início e a propagação dos potenciais de ação, por impedirem o aumento na condutância do Na + dependente de voltagem. Embora exerçam uma gama de efeitos inespecíficos sobre a função da membrana, sua principal ação é bloquear os canais de sódio, o que eles o fazem por bloquearem fisicamente o poro transmembranar, interagindo com os resíduos do domínio helicoidal transmembranar A atividade anestésica local é muito dependente do pH, sendo aumentada em pH alcalino (isto é, quando a proporção das moléculas ionizadas é baixa) e vice- versa. Isto é devido à necessidade de a substância penetrar a bainha do nervo e a membrana do axônio para alcançar a extremidade interna do canal de sódio (onde reside os sítios ligantes dos anestésicos locais). Como a forma ionizada não é permeável à membrana, a penetração é muito pouca em pH ácido. Uma vez dentro do axônio é a forma ionizada da molécula do anestésico local que se liga ao canal. Esta dependência do pH pode ser clinicamente importante, pois os tecidos inflamados são com freqüência ácidos e, portanto, um tanto resistentes aos agentes anestésicos locais. Análise posterior da ação anestésica local mostrou que muitas substâncias exibem a propriedadebloqueadora dos canais de sódio "dependente de uso", assim como afetam, em alguma extensão, a ativação dos canais. A dependência de uso significa que quanto mais canais estão abertos, maior se torna o bloqueio. E uma característica proeminente da ação de muitos fármacos antiarrítmicos da classe I e de fármacos antiepiléticos; ela ocorre porque a molécula bloqueadora penetra no canal muito mais prontamente, quando o canal está aberto, do que quando fechado. Com os anestésicos locais quaternários que agem por dentro da membrana, os canais devem estar no seu estado aberto, pouco tempo antes de aparecer o efeito bloqueador. Com os anestésicos locais terciários, por comparação, o bloqueio pode-se desenvolver mesmo se os canais não estiverem abertos e é provável que a molécula bloqueadora (não-carregada) possa penetrar no canal diretamente pela membrana ou por meio de um portão aberto. A importância relativa dessas duas vias bloqueadoras - a via hidrofóbica através da membrana e a via hidrofílica através da abertura interna do canal – varia de acordo com a lipossolubilidade do fármaco, e o grau de dependência de uso varia de modo correspondente. O canal pode existir em três estados funcionais: repouso, aberto e inativado. Muitos anestésicos locais se ligam mais fortemente ao estado inativado do canal. Em conseqüência, em um qualquer potencial de membrana, o equilíbrio entre os canais em repouso inativados, na presença de um anestésico local, estará deslocado em favor do estado inativado e este fator contribui para o efeito bloqueador total. A passagem, uma sucessão de potenciais de ação, causa aos canais ciclarem-se através dos estados aberto e inativado, ambos os quais têm maior probabilidade de se ligarem às moléculas dos anestésicos locais do que no estado de repouso; assim, ambos os mecanismos contribuem para a dependência de uso. Em geral, os anestésicos locais bloqueiam a condução nas fibras nervosas de pequeno diâmetro mais rapidamente do que em fibras maiores. Como os impulsos nociceptivos são carreados pelas fibras Ag e C, a sensação dolorosa é bloqueada mais rapidamente do que as outras modalidades sensoriais (tato, propriocepção etc). Os axônios motores sendo maiores em diâmetro são relativamente resistentes. As diferenças na sensibilidade entre diferentes fibras nervosas, embora facilmente determinadas experimentalmente, não são de muita importância prática e raramente é possível produzir um bloqueio da sensação dolorosa sem afetar as outras modalidades e causar paralisia local. Os anestésicos locais, como o seu nome indica, são principalmente usados para produzir bloqueio nervoso local. Contudo, em concentrações muito baixas para causar bloqueio nervoso, eles são capazes de suprimir a descarga espontânea em neurônios sensoriais que se acredita serem responsáveis pela dor neuropática. As substâncias que estão sendo desenvolvidas e testadas para uso oral como analgésicos em tais estados dolorosos incluem dois fármacos antiarrítimcos, a tocainida e a mexiletina. Ações dos anestésicos locais (ALs)- Resumo Os ALs bloqueiam a geração do potencial de ação por bloquearem os canais de sódio. Os ALs são moléculas alifáticas, com um grupamento aromático hidrófobo e um grupamento amino básico. Os ALs provavelmente atuam na sua forma catiônica, mas devem alcançar seu local de ação por penetrarem na bainha do nervo e na membrana do axônio como formas químicas não ionizadas; portanto eles teriam de ser bases fracas. Muitos ALs mostram dependência de uso (a profundidade do bloqueio aumenta com a frequência do potencial de ação). Isto surge: Porque as moléculas anestésicas ganham acesso ao canal, mais rapidamente quando este está aberto; Porque as moléculas anestésicas têm maior afinidade para os canais inativados, do que para os canais em repouso. A dependência de uso é principalmente importante em relação aos efeitos antiarrítimico e antiepilético dos bloqueadores do canal de sódio. Os ALs bloqueiam a condução na seguinte ordem: axônios finos mielinizados, axônios não mielinizados, grandes axônios mielinizados. Assim, as transmissões nociceptiva e simpática são inicialmente bloqueadas. Os anestésicos locais bloqueiam a ação de canais iônicos na membrana celular neuronal, impedindo a neurotransmissão do potencial de ação. A forma ionizada do anestésico local liga-se de modo específico aos canais de sódio, inativando-os e impedindo a propagação da despolarização celular. Porém, a ligação específica ocorre no meio intracelular, por isso é necessário que o anestésico local em sua forma molecular ultrapasse a membrana plasmática para então bloquear os canais de sódio. É provável que exista um segundo mecanismo de ação dos AL, que envolve a inativação dos canais de sódio pela incorporação de moléculas de AL na membrana plasmática (teoria da expansão da membrana plasmática). Esse segundo mecanismo de ação seria gerado pela forma não ionizada dos anestésicos locais, atuando de fora para dentro. As fibras nervosas possuem sensibilidades diferentes aos anestésicos locais, sendo as fibras pequenas mais sensíveis que as grandes, e as fibras mielizadas são bloqueadas mais rapidamente que as não mielizadas de mesmo diâmetro. O bloqueio das fibras nervosas ocorre gradualmente, iniciado com a perda de sensibilidade à dor, à temperatura, ao toque, à propriocepção e finalmente perda do tônus músculo esquelético. Por essa razão os indivíduos pod dem ainda sentir o toque no momento em que a dor já está ausente após aplicação do anestésico local. EFEITOS ADVERSOS Os principais efeitos indesejáveis dos anestésicos locais envolvem o sistema nervoso central (SNC) e o sistema cardiovascular e constituem a principal fonte de risco, quando os anestésicos locais são usados clinicamente. A maioria dos anestésicos locais produzem uma mistura de efeitos estimulantes e depressores sobre o SNC, resultando com freqüência agitação e tremor, com efeitos subjetivos variando da confusão à agitação extrema. O tremor pode progredir para convulsões generalizadas, e a seguir aumentando a dose, produzir depressão do SNC. A principal ameaça à vida provém da depressão respiratória nesta fase. O único anestésico local com efeitos marcantemente diferentes sobre o SNC é a cocaína, que produz euforia em doses bem abaixo daquelas que causam outros efeitos sobre o SNC. Isto se relaciona a seu efeito específico sobre a captação de monoaminas, um efeito não-exibido por outros anestésicos locais. A procaína* está particularmente sujeita a produzir efeitos centrais indesejáveis e substituída, em uso clínico, por agentes como a lidocaína e a prilocaína, os efeitos centrais são muito menos pronunciados. Os estudos com bupivacaina, um anestésico local de longa ação amplamente usado, preparado como uma mistura racêmica de dois isômeros óticos, sugeriram que seus efeitos sobre o S N C e os cardíacos são principalmente causados pelo isômero S (+). O isômero R (-) (levobupivacaína) provou ter uma margem maior de segurança e agora foi introduzido. Os efeitos cardiovasculares dos anestésicos locais resultam principalmente de depressão miocárdica e vasodilatação. A redução da contratilidade miocárdica provavelmente resulta de modo indireto de uma inibição no músculo cardíaco da corrente de N a +. A diminuição resultante da [Na+ ]; por sua vez, reduz os estoques intracelulares de C a 2 + e isto reduz a força de contração. O efeito antidisrrítmico de alguns anestésicos locais (especialmente a lidocaína) é clinicamente útil. A vasodilatação, principalmente afetando as arteríolas, resulta em parte de efeito direto sobre o músculo liso vascular e em parte da inibição do sistema nervoso simpático. A depressão miocárdicae a vasodilatação combinadas levam a uma queda na pressão arterial, que pode ser repentina e comprometedora da vida. A cocaína é uma exceção em relação aos seus efeitos cardiovasculares, por causa da sua capacidade em inibir a recaptação de noradrenalina. Isto produz um aumento da atividade simpática levando à taquicardia, débito cardíaco aumentado, vasoconstrição e pressão arterial aumentada. Embora os anestésicos locais sejam geralmente administrados de modo a minimizar o seu espalhamento a outras partes do corpo, são no final das contas, absorvidos na circulação sistêmica. Podem ser também injetados acidentalmente em veias ou artérias. Os efeitos indesejáveis mais perigosos resultam das ações sobre o SNC e sobre o sistema cardiovascular abordado anteriormente, a saber, agitação e convulsões seguidas por depressão respiratória e hipotensão ou ainda parada cardíaca. Algumas vezes, ocorrem reações de hipersensibilidade com os anestésicos locais, geralmente na forma de dermatite alérgica, mas raramente como uma reação anafilática aguda. Outros efeitos indesejáveis que são específicos a fármacos particulares incluem irritação da mucosa (cocaína) e metemoglobinemia (que ocorre após grandes doses de prilocaína, graças à produção de um metabólito tóxico). Efeitos indesejáveis e farmacocinética dos anestésicos locais (ALs)- resumo Os ALs são ésteres ou amidas. Os ésteres são rapidamente hidroxilados pela colinesterase e as amidas são metabolizadas no fígado. As meias-vidas plasmáticas são geralmente curtas, cerca de duas horas. Os efeitos indesejáveis resultam principalmente do escape dos ALs na circulação sistêmica. Os efeitos indesejáveis principais são: Efeito sobre o S N C, confusão, agitação, tremores prosseguindo para convulsões e depressão respiratória; Efeitos cardiovasculares, a saber, depressão miocárdica e vasodilatação, levando a uma queda na pressão sangüínea; Reações ocasionais de hipersensibilidade. Os ALs variam na rapidez com que penetram nos tecidos e na sua duração de ação. A lidocaína penetra nos tecidos prontamente e é apropriada para a aplicação superficial; a bupivacaína tem uma duração de ação particularmente longa. 5. COMPREENDER O MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIDEPRESSIVOS PARA O TRATAMENTO DA DOR. INTRODUÇÃO Os antidepressivos estão entre os fármacos mais prescritos no mundo e há mais de 50 anos começaram a surgir estudos sobre o efeito desta classe farmacológica no tratamento da dor. Inúmeras pesquisas têm demonstrado que os antidepressivos são eficazes no tratamento da dor crônica, especialmente na dor neuropática isolada ou associada à dor nociceptiva, na fibromialgia e na profilaxia da enxaqueca. Exercem ação sedativa, ansiolítica e miorrelaxante. Também atuam melhorando a qualidade do sono e estabilizando o humor. Os antidepressivos são moduladores da dor por meio do sistema nervoso periférico (SNP) e central (SNC) envolvendo mecanismos de bloqueio da recaptação de serotonina ou noradrenalina, ou de ambas. Têm ação nos receptores opioides, nos receptores adrenérgicos, na ativação de canais iônicos e provável efeito sobre as citocinas pró-inflamatórias. Ainda atua em áreas do SNC relacionadas tanto à dor como às emoções, e também em nociceptores periféricos. As primeiras subclasses de antidepressivos usados no tratamento da dor foram os tricíclicos que, apesar de eficazes, costumam apresentar alguns efeitos adversos importantes. Quando os inibidores seletivos de recaptação de serotonina foram lançados, notou-se que tinham um impacto no combate dos sintomas álgicos com menores efeitos adversos. Com a descoberta dos inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina, a classe chamada duais, houve um avanço considerável no tratamento da depressão e dor apresentando melhor perfil de segurança e tolerância, com redução dos efeitos colaterais. Os antidepressivos também são amplamente utilizados para tratar a dor neuropática crônica, geralmente em doses abaixo daquelas em que exercem efeitos antidepressivos. A escolha entre os diversos tipos de antidepressivo deve ser baseada no perfil de cada paciente, levando em conta os efeitos colaterais de cada classe, comodidade posológica, interação medicamentosa e obviamente os custos do tratamento. CLASSIFICAÇÃO DOS ANTIDEPRESSIVOS Tricíclicos Aminas terciárias: • Amitriptilina • Imipramina • Clomipramina • Trimipramina • Doxepina • Aminas secundárias: • Nortriptilina • Protriptilina • Desipramina • Maprotilina Os antidepressivos tricíclicos são altamente lipossolúveis e estão ligados às proteínas plasmáticas e aos tecidos. Possuem absorção rápida e completa após administração oral. Apresentam meia-vida relativamente longa e podem ser administrados em dose única diária. Porém, existe uma ampla variabilidade individual em relação à dose necessária para a resposta. Seus efeitos terapêuticos são relacionados à inibição da recaptação da serotonina e noradrenalina nos terminais pré-sinapticos, aumentando a capacidade da via descendente inibitória da dor. Como atuam em vários receptores, podem ocorrer diferentes efeitos adversos: • Receptores a-1 adrenérgicos: hipotensão ortostática com riscos de quedas, sonolência e arritmia (aumento do intervalo QT); • Receptores histaminérgicos: sedação, fadiga, náuseas e ganho de peso; • Receptores colinérgicos muscarinicos: retenção urinária, exacerbação do glaucoma de ângulo fechado, xerostomia, delírio e constipação. Portanto, devem ser usados com cautela em pacientes portadores de diabetes, tireoideopatias, doenças cardiovasculares, anorexia nervosa, síndromes convulsivas ou quando a atividade colinérgica possa ser lesiva. As aminas terciárias parecem apresentar mais efeitos anticolinérgicos e autonômicos do que as aminas secundárias. A nortriptilina é um antidepressivo tricíclico, uma amina secundária, eventualmente usado para tratar a dor neuropática e é recomendado nas diretrizes europeias, britânicas e dos EUA. As evidências científicas são maiores para a amitriptilina, tanto em ensaios clínicos isolados como em estudos de metanálise, obtendo um NNT (número necessário para tratar) de 2 (IC 95% 1,7 a 2,5). O antidepressivo, de maneira geral, tem um NNT de 3,6 (IC 95% 3 a 4,5). INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISRS) • Fluoxetina • Paroxetina • Sertralina • Fluvoxamina • Citalopram • Escitalopram Agem seletivamente na recaptação de serotonina (5- HT). A serotonina é um neurotransmissor monoamina que desempenha um papel importante tanto na nocicepção como na regulação do humor. Como exercem pouca afinidade com receptores adrenérgicos, histaminérgicos e colinérgicos, possuem um perfil de tolerabilidade melhor que os tricíclicos. Os eventos adversos mais presentes são insônia, diarreia, tremores, anorexia e diminuição da libido. Embora vários ensaios clínicos tenham sido publicados, a eficácia do ISRS como tratamento para condições dolorosas é controversa. Quando é necessária uma ação analgésica deve ser utilizada em conjunto com um tricíclico, já que isoladamente tem pouca ação no combate da dor. INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DE SEROTININA E NORADRENALINA (DUAIS) • Venlafaxina • Duloxetina • Milnaciprana Inibem a recaptação da serotonina e noradrenalina, modulando as vias descendentes de dor no cérebro e medula espinhal, o que resulta em redução do limiar de dor e da sensibilização central. A venlafaxina, na dose de até 75 mg ao dia, bloqueia apenas a serotonina e, acima desta dosagem, passa a ter ação noradrenérgica, com diminuição da intensidade da dor e remissão dos sintomas depressivos, mas pode eventualmente apresentar um risco aumentado para desenvolver hipertensão
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