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A Importância do Laço Com o Outro no Processo de Constituição Psíquica

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A Importância do Laço Com o Outro no Processo de Constituição Psíquica
Pedro Teodósio Mansur
	O processo de constituição do Sujeito, para a psicanálise, se dá fundamentalmente em sua relação com o outro. Pensando em termos de uma economia libidinal, essa relação, esse laço, será a fonte de catexia das libidos que possibilitará ao Sujeito sua organização psíquica, inclusive por conta do investimento que o outro faz nele.
	Isso porque viemos ao mundo em um estado de descentralização pulsional e corporal. A essa dinâmica, Freud chamará de autoerotismo: uma forma fragmentária de organização pulsional, que resulta no chamado prazer de órgão, que se dá em zonas localizadas e erogeneizadas de um corpo que ainda não vivencia uma unidade.
	O que se segue ao autoerotismo é a entrada no narcisismo primário. Sendo o narcisismo para a psicanálise o investimento libidinal que o sujeito direciona a si – ou ao seu ego, tomado como objeto de catexia -, esse momento se caracteriza pela tentativa subjetiva de organização da experiência corporal, através da delimitação das fronteiras do ego (e resultante da mesma).
	Esse é um dos pontos cruciais no processo de constituição psíquica no que tange ao laço entre Sujeito e outro. Isso porque a libido direcionada ao ego é fruto do primeiro momento de articulação dos investimentos – afetivos, simbólicos, amorosos, etc. que foram direcionados ao Sujeito desde antes do nascimento. Essa apropriação da libido que o toma como objeto é o que possibilitará que se organize, da melhor forma possível, uma futura balança libidinal.
	O narcisismo primário, portanto, se dá fundamentalmente na relação entre a criança e seu núcleo familiar, em socialização primária. No entanto, justaposta (mesmo que não exatamente) à dissolução do complexo de Édipo, se dá a entrada no narcisismo secundário, marcada por uma maior articulação e independência do Sujeito com relação a libido narcísica e objetal. Nesse momento, porém, é interessante retornarmos nossa atenção justamente ao complexo de Édipo.
	A configuração edipiana na criança na posição masculina é majoritariamente marcada por uma busca na mãe por investimento. Essa busca é uma resposta à radical experiência de desamparo vivida na primeira infância: percebendo a mãe como Sujeito desejante, o bebê se depara com a possibilidade de ser ou não objeto desse desejo. Esse momento é um dos marcos também de inauguração de uma distinção entre o bebê e seu outro fundamental, essencial ao processo de constituição psíquica.
	Esse corte na realidade subjetiva é, em grande parte, efeito do que Freud chamou de função paterna, que consiste em uma interdição ao Sujeito de seu principal objeto de desejo – no caso a mãe.
	O complexo de Édipo, portanto, que se dá ao redor da posição masculina da qual tratamos acima, instaura um momento de grande angústia ao Sujeito. Isso porque nesse momento, o investimento nas figuras parentais é acompanhado de uma experiência angustiante de castração fundada exatamente no laço que o menino criou com o pai, aquele que operou a barragem ao seu objeto de desejo.
	É importante marcar a radicalidade do complexo de castração: a inacessibilidade à mãe é inicialmente tida como um impedimento àquele outro fundamental cujo desejo é imprescindível para que se sobreviva, numa configuração simbólica e familiar onde o principal responsável pelos cuidados do bebe é a mãe. Esse conflito de investimento nas figuras parentais é seguido do chamado período de latência, caracterizado pelo retraimento da libido ao ego, no objetivo de apaziguar esse conflito. Se dando, mais ou menos, entre os 7 e os 10 anos, esse período é fruto de um certo mecanismo de defesa que protege o Sujeito da angústia causada pelos dois complexos – de Édipo e da castração.
	Vemos que o laço com o outro permeia todos os momentos e dinâmicas que estão em jogo no processo de constituição psíquica. Desde a experiência primordial de desamparo, tomamo-nos como Sujeitos permeados e dependentes do desejo do outro. O laço social, o encontro com a alteridade, imprimem uma marca no Sujeito pensado pela psicanálise que vai dizer tanto de uma experiência desse Sujeito com objetos exteriores a ele como de um jogo de investimentos libidinais que é fundamental à constituição psíquica.

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