Buscar

Candidíase Vulvovaginal

Prévia do material em texto

NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 1 
 
RESUMO: 
- Candidíase vulvovaginal (CVV) é a infecção mais 
comum do trato genital feminino 
- Aproximadamente 75% das mulheres terão pelo 
menos um episódio de CVV durante o seu período 
reprodutivo, a maioria desses episódios sendo 
causados por Candida albicans (fungo dimórfico 
comensal dos aparelhos gastrointestinal e 
reprodutor feminino) 
- Influências hormonais e o uso de ATB podem 
predispor à CVV 
- Sinais e sintomas podem incluir: 
 Prurido 
 Ardor 
 Dispareunia 
 Disúria 
 Corrimento vaginal 
- Antifúngicos orais e tópicos podem ser usados 
no tratamento da CVV, mas muitas mulheres 
preferem a terapia oral 
- Derivados azólicos orais como itraconazol e 
fluconazol são largamente utilizados e eficazes na 
terapia da CVV 
INTRODUÇÃO: 
- As candidíases são infecções fúngicas 
geralmente oportunistas que podem se apresentar 
como primárias 
- As manifestações clínicas podem produzir 
infecções superficiais ou se disseminar, raramente 
causam septicemia, endocardite e meningite 
- Sua apresentação vai desde uma simples 
irritação e inflamação para supuração aguda e 
crônica até uma resposta granulomatosa 
- A candidíase tem como agente etiológico 
leveduras do gênero Candida. Apenas algumas 
das espécies são consideradas patogênicas para 
o homem, sendo a C. albicans a mais frequente 
- As várias espécies de Candida são encontradas 
como comensais ou como patógenos nos 
organismo humano e animal, mas também podem 
ser isoladas do solo, da água e dos alimentos, em 
decorrência da provável contaminação de origem 
humana ou animal 
- No homem, a infecção por espécies de Candida 
é, na maioria das vezes, de caráter endógeno 
- Alterações nas barreiras cutâneas e mucosas 
possibilitam o aumento da incidência de infecções 
por espécies de Candida, principalmente em 
indivíduos que fazem uso abusivo de drogas 
intravenosas e de cateteres ou que apresentam 
queimaduras extensas, e também nos pacientes 
que receberam drogas citotóxicas ou agentes 
antibacterianos capazes de suprimir a microbiota 
normal 
- A microbiota interfere na infecção por Candida e 
também afetando a colonização por competições 
nutritivas e produzindo substâncias tóxicas, e na 
aderência das leveduras às células epiteliais, o 
que constitui um pré-requisito para a invasão da 
levedura 
- A imunidade celular constitui uma eficiente 
proteção contra infecções por Candida, com 
macrófagos e neutrófilos participando da defesa 
inespecífica do hospedeiro devido à sua ação 
microbicida 
- A imunidade humoral é realizada pela formação 
de anticorpos que associados ao complemento 
atuam como opsonizadores para as células 
fagocitárias ou impedem a adesão do 
microrganismo às células (IgA secretoras) 
- A candidíase mucocutânea é frequente em 
pessoas com depressão do sistema imune, nas 
quais se observa uma diminuição das células T, 
como ocorre em pacientes com a síndrome da 
imunodeficiência humana adquirida (Aids) 
- As infecção por espécies de Candida têm sofrido 
um aumento nas últimas décadas. Essas espécies 
possuem a capacidade de invadir e produzir 
 
NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 2 
 
lesões em mucosas, especialmente na mucosa 
vaginal 
CANDIDÍASE VULVOVAGINAL: 
EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA: 
- A CVV atinge um grande número de mulheres 
em idade reprodutiva e ocupa o 2º lugar entre as 
vaginites, sendo precedida pela vaginose 
bacteriana 
- Estima-se que: 
 75% das mulheres adultas manifestarão 
essa infecção 
 50% delas terão uma segunda 
manifestação 
 5% sofrerão episódios recorrentes 
- As vulvovaginites são causadas na maioria das 
vezes por C. albicans, mas outras espécies, como 
C. tropicalis, C. parapsilosis, C. glabrata, krusei, 
C. kefyr, C. guilliermondii, C. dubliniensis e 
C.lusitaniae, vêm assumindo importância 
relevante na etiologia dessa infecção 
FATORES PREDISPONENTES: 
- Devido ao caráter oportunista dessa levedura, 
uma série de fatores concorre para sua invasão 
no tecido hospedeiro 
- Mulheres diabéticas apresentam maior 
predisposição à vaginite por Candida. Essas 
pacientes apresentam, no ambiente vaginal, a 
glicosúria e a maior concentração de glicose, o 
que favorece o aparecimento da candidíase, 
provavelmente pela capacidade de assimilação e 
fermentação de açúcares pelas leveduras 
- Também pode ser influenciada por hormônios 
esteroides, uma vez que a presença de receptores 
para estrógeno e progesterona existentes no 
citosol da célula fungica favorece a aderência do 
fungo às células epiteliais vaginais, estimulando a 
germinação e a formação das pseudo-hifas, que 
correspondem às formas invasivas das leveduras 
- Os altos níveis de hormônios reprodutivos na 
gravidez propiciam uma alta concentração de 
glicogênio no ambiente vaginal e alteram o ph, o 
que resulta numa maior disponibilidade de fontes 
de carbono para o crescimento e germinação de 
leveduras do gênero Candida, e 
consequentemente no aumento de manifestações 
clínicas de candidíase 
- A antibioticoterapia sistêmica de amplo espectro, 
prolongada com tetraciclinas, ampicilinas e 
cefalosporinas, também favorece a instalação da 
CVV, uma vez que esses medicamentos eliminam 
a microbiota bacteriana vaginal que protege o 
hospedeiro contra a colonização por agentes 
patogênicos 
- Os Lactobacillus spp competem com a Candida 
pelos nutrientes, causam um processo de co-
agregação que bloqueia os receptores epiteliais 
para os blastoconídeos e produzem bacteriocinas 
que impedem a germinação do micélio 
- O uso de duchas comerciais, de desodorantes 
íntimos e de papéis higiênicos perfumados e a 
prática de natação em piscinas tratadas com cloro 
pode desequilibras a microbiota bacteriana 
protetora da vagina e assim predispor à CVV 
- O uso de vestimentas apertadas que impedem a 
ventilação e de roupas íntimas fabricadas com 
tecidos sintéticos, que aumentam a temperatura 
local e dificultam a evaporação da umidade 
vaginal, podem aumentar a incidência da CVV 
- A presença de leveduras na região anal é 
também um fator importante da instalação da CVV 
- A transmissão sexual também deve ser 
considerada, em decorrência do aumento do 
intercurso sexual. Esse fato pode acarretar leves 
erosões secundárias ao coite, que contribuiem 
para a instalação da doença 
- O ciclo menstrual pode influenciar a proliferação 
de Candida na mucosa vaginal. Os sintomas são 
geralmente exacerbados no pré-menstrual quando 
a concentração de microrganismos aeróbios 
decresce. Com o início do fluxo, verifica-se a 
melhora dos sintomas, o que pode ser explicado 
pela alcalinização do ambiente vaginal 
 
 
 
 
 
 
NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 3 
 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: 
- Os sintomas da CVV incluem: 
 Prurido 
 Corrimento  descrito como queijo cottage 
ou queijo coalhado, e sua forma varia de 
líquida a homogeneamente densa 
 Sensação de ardência genital 
 Dispareunia 
 Disúria 
- Nenhum dos sintomas é considerado específico 
- O prurido agudo e o corrimento vaginal são as 
queixas mais comuns 
- No exame ginecológico especular observa-se um 
quadro exsudativo, com corrimento e placas 
brancas, com edema e eritema da vulva e lábios 
vulvares e com discretas lesões periféricas 
- Além do sofrimento físico, é importante destacar 
o estresse nas relações sexuais e afetivas devido 
à CVV, sendo uma das queixas mais frequentes 
nos consultórios 
CANDIDÍASE VULVOVAGINAL 
RECORRENTE (CVVR): 
- É considerada recorrente quando a frequência 
dos episódios é maios que 4 em 12 meses, o que 
ocorre devido à incompleta erradicação na 
infecção inicial ou à reinfecção em casos de 
recorrências menos frequentes 
- O mecanismo da patogênese desse tipo de 
infecção ainda não é definido, porém existem 
possíveis explicações que podem ser 
consideradas: 
 A decorrência de uma infecção anterior 
cujos fungospermanecem nos órgãos 
genitais e extragenitais 
 Aumento da virulência do microrganismo 
 Desenvolvimento da resistência à droga 
- A CVVR pode ser atribuída a fatores próprios do 
hospedeiro, como a diminuição da imunidade da 
mucosa, a reação de hipersensibilidade e a perda 
da colonização bacteriana no meio vaginal 
 
 
MECANISMOS DE DEFESA NA CVV: 
- Os mecanismos de defesa da mucosa vaginal 
para leveduras do gênero Candida são muito 
complexos, pois diferem daqueles que protegem 
superfícies de outras mucosas 
- Experimentos mostraram que as células 
epiteliais próprias da mucosa vaginal são as 
responsáveis pela resistência inata contra CVV 
- Alguns estudos detectaram citocinas Th1 no 
fluido vaginal de mulheres saudáveis, o que 
possibilitou correlacionar a presença dessas 
citocinas a um efeito protetor contra CVV. Foi 
verificado que a administração de testes 
intradérmicos de Candida em mulheres saudáveis 
durante o estágio folicular do ciclo menstrual 
resulta em um aumento local de células Th1, isso 
sustenta a hipóteses de que a imunidade mediada 
por células está envolvida na homeostase imune 
na mucosa vaginal e contribui para a proteção 
local contra infecção vaginal naquelas mulheres 
normalmente resistentes à vaginite 
- A função da imunidade humoral na proteção 
contra infecções de mucosas não é bem 
conhecida, embora os anticorpos sejam facilmente 
induzidos por antígenos de Candida 
- Para reduzir a aderência da levedura às células 
epiteliais, recomendam-se as imunoglobulinas 
reativas Candida-específicas, que podem se ligar 
ao fungo e gerar a redução esperada, o que 
poderia prevenir ou manter baixos níveis de 
colonização 
- A importância da IgA secretória na mucosa 
vaginal local é outro fator que auxilia na imunidade 
humoral. Baixos níveis de IgA estão relacionados 
com infecções ativas por Candida 
DIAGNÓSTICO E IDENTIFICAÇÃO DE 
LEVEDURAS DO GÊNERO CANDIDA NA 
CVV: 
- As manifestações clínicas da CVV não fornecem 
informações específicas suficientes para 
estabelecer um diagnóstico confiável, pois vários 
microrganismos produzem sintomas similares, o 
que limita o diagnóstico clínico 
 
 
 
NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 4 
 
- Para a identificação de leveduras presentes nas 
secreções vaginais estão disponíveis métodos 
rápidos que orientam o clínico na exclusão de 
vaginites causadas por bactérias e protozoários, 
como: 
 Exame a fresco com cloreto de sódio a 
0,85% e hidróxido de potássio de 10 a 
40% 
 Coloração de Gram 
- Alguns pesquisadores têm utilizado o teste de 
ELISA para detectar a presença de manano no 
fluido vaginal. Esse teste está sendo considerado 
útil para avaliar a quantidade de leveduras em 
candidíase vaginal, mostrando-se com resultados 
semelhantes aos obtidos pelos métodos 
tradicionais de contagem de células fúngicas 
viáveis 
- Para identificação das espécies implicadas na 
infecção por Candida, é necessária a utilização de 
métodos convencionais, como o teste do tubo 
germinativo, a produção de clamidoconídeos e os 
testes bioquímicos, que ajudam a verificar a 
assimilação e fermentação de carboidratos 
correspondentes a cada espécie 
- Métodos comerciais automatizados como o API 
20C AUX Commercial System, Baxter MicroScan 
System e Vitel System também têm sido 
propostos. Esses métodos permitem a distinção 
de um grande número de espécies de leveduras 
- Para a identificação presuntiva de espécies de 
Candida, existem no mercado meios 
cromogênicos ou fluorogênicos com a capacidade 
de detectar a atividade enzimática dessas 
leveduras: 
 Albicans Id 
 Candida ID 
 CHROMagar Candida 
 Fluoroplate Candida 
 Chromalbicans 
 
 
 
 
TRATAMENTO DA CANDIDÍASE 
VULVOVAGINAL: 
- Os antifúngicos utilizados para o tratamento da 
CVV se limitam a dois grupos: 
POLIÊNICOS 
- Alteram a permeabilidade da membrana células 
fúngica 
- Os principais fármacos desse grupo são a 
anfotericina B e a nistatina 
- A afotericina B atua se ligando aos esteróis, 
especialmente ao ergosterol presente na 
membrana celular fúngica, e produzindo poros ou 
canais. Essa atuação resulta no aumento da 
permeabilidade, que acarreta o desequilíbrio 
osmótico pela perda de íons intracelulares e a lise 
e morte das células. 
- A anfotericina B é o adente de escolha para o 
tratamento de muitas micoses sistêmicas, apesar 
de sua nefrotoxicidade 
- Na CVV, o uso da anfotericina B é associado a 
antibióticos como a tetraciclina, na forma de 
creme vaginal para tratamento tópico 
- A nistatina possui estrutura química e 
mecanismo de ação semelhantes aos da 
anfotericina B. Apesar de usada por via oral no 
tratamento de candidíase bucal e digestiva, sua 
administração mais comum é por via tópica na 
forma de óvulos, cremes, loções e pomadas, no 
tratamento de candidíase de pele e de mucosa, 
especialmente vaginal 
DERIVADOS AZÓLICOS: 
- Atuam inibindo a ação da síntese do ergosterol 
presente na célula do fungo 
- Representam uma das famílias de antifúngicos 
com o maior número de derivados, que se dividem 
em imidazólicos diazólicos (miconazol, clotrimazol, 
econazol e cetoconazol) e imidazólicos triazólicos 
(fluconazol e itraconazol) 
- Para uso tópico, azólicos como butaconazol, 
clotrimazol, miconazol, econazol, tioconazol, 
terconazol e sertaconazol estão disponíveis em 
forma de cremes, loções, tabletes vaginais, 
supositórios e óvulos 
 
NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 5 
 
- Os triazólicos são drogas fungistáticas que: 
 Possuem elevada potência antimicótica 
 Alcançam uma alta concentração tecidual 
vaginal 
 Têm maior efeito residual 
 Apresentam poucas reações adverdas 
 Possuem menor potencial de toxicidade 
em relação aos imidazólicos diazólicos 
devido à sua maior especificidade de 
ligação ao citocromo da célula fúngica do 
que ao citocromo das células do 
hospedeiro 
- Posologias usadas na prática médica para uso 
específico na vaginite por Candida, com um único 
dia de tratamento (200mg 2x ao dia para o 
itraconazol e 150 mg em dose única para o 
fluconazol) tem se mostrado eficazes, alcançando 
cura clínica e micológica 
- O itraconazol é um agente de amplo espectro, 
caracterizado por uma variação interindividual 
considerável na absorção da droga e por uma 
extensiva distribuição tecidual. Sua difusão nos 
tecidos é muito maior do que no plasma e 
ocorre devido às suas propriedades lipofílicas, e 
sua penetração nas camadas mais profundas do 
tecido vaginal gera um efeito terapêutico mais 
prolongado. A meia- vida de eliminação do 
itraconazol é de cerca de 24h. Deve ser 
administrado após as principais refeições, pois 
os alimentos auxiliam na sua absorção e 
distribuição para os tecidos. Entre as reações 
adversas, destacam-se: 
 Dor abdominal 
 Náuseas 
 Dispepsia 
 Cefaleia 
 Em terapias prolongadas pode ocasionar 
hipocalcemia 
- O fluconazol também é considerado um agente 
antifúngico de amplo especto. Por ser hidrofílico, 
permanece circulando no sangue por mais tempo. 
Sua concentração nos tecidos não alcança 
níveis elevados como os atingidos pelo 
intraconazol. Sua baixa ligação com as proteínas 
permite uma alta concentração no soro e uma 
rápida e ampla distribuição aos tecidos, 
podendo chegar a uma biodisponibilidade de até 
90%. Sua meia-vida é de 30h, o que permite ser 
administrado apenas uma vez ao dia. A absorção 
desse fármaco não é afetada pela alimentação ou 
pela acidez gástrica; é rapidamente absorvido no 
TGI, apresenta concentração plasmática máxima 
de 1-3h após a administração. Seu uso apresenta 
ótimos resultados contra várias espécies de 
Candida, exceto C. krusei e C.glabrata. Dentre os 
efeitos adversos estão: 
 Náuseas 
 Cefaleia 
 Exantema 
 Dor abdominal 
 Vômitos 
 Diarreia 
- Estudos têm mostrado que o tratamento do 
parceiro sexual não influencia na candidíase 
vaginalda parceira, a não ser que ele apresente 
balanite sintomática ou dermatite peniana 
RESISTÊNCIA AOS AZÓLICOS: 
- A resistência aos agentes antifúngicos engloba 
mecanismos como: 
 Alterações genéticas 
 Expressão transitória do gene de 
resistência 
 Instabilidade genômica dentro da mesma 
cepa 
 Modificações na via biossintética do 
ergosterol 
 Alterações moleculares do gene ERG 11 
 Diminuição do acúmulo da droga 
 Mecanismo das bombas de efluxo 
 Estado imunológico do hospedeiro, como o 
sítio e a gravidade da infecção e a 
resposta ao tratamento 
 Fatores relacionados às drogas, como sua 
natureza gungistática, dosagem e dose 
acumulativa, farmacocinética e interação 
droga-droga 
- A resistência é raramente relatada em indivíduos 
imunocompetentes 
- A causa mais comum de infecções fúngicas 
refratárias ao tratamento é a presença de cepas 
nas quais a concentração inibitória mínima da 
droga se apresenta mais alta que a média

Continue navegando