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Fonte: Rezende Obstetrícia, Rotinas em Obstetrícia, Medcurso 2019 Introdução O puerpério é um período cronologicamente variável, de definição imprecisa, durante o qual se desenrolam todas as manifestações involutivas e de recuperação da genitália materna após o parto. Em geral, a involução puerperal completa-se no prazo de 6 semanas e o período que se sucede ao parto pode ser dividido em: → Pós parto imediato: do 1º ao 10º dia; → Pós parto tardio: do 10º ao 45º dia; → Pós parto remoto: além do 45º dia. Pós parto imediato No pós-parto imediato, a crise genital predomina; prevalecem os fenômenos catabólicos e involutivos das estruturas hipertrofiadas ou hiperplasiadas pela gravidez, notadamente das que abrigavam o concepto, ao lado de alterações gerais e, sobretudo endócrinas, quase todas relacionadas com a regressão das modificações gestacionais do organismo. Involução uterina o A involução uterina ocorre principalmente por uma diminuição no tamanho das fibras musculares (miócitos) à custa de diminuição do citoplasma, mas não de seu número. o É mais rápida nas mulheres que amamentam. o Isso ocorre, pois a estimulação dos mamilos e da árvore galactófora acarreta a produção de ocitocina pela neuro-hipófise. o Este hormônio promove a ejeção do leite e desperta as contrações uterinas referidas pela paciente como cólicas. o Este fenômeno descreve o chamado reflexo útero- mamário. Útero → O fundo uterino que se encontrava à altura do escavado epigástrico situa-se um pouco acima da cicatriz umbilical, firmemente contraído. → O útero deve manter sua porção corporal firmemente contraída, e o segmento inferior acotovela-se ao limitar-se com o anel de contração do corpo da matriz na parte superior. → No útero de consistência firme, o elemento primordial da hemostasia é o chamado globo de segurança, que promove as ligaduras vivas, de Pinard, relacionadas com a constrição dos vasos parietais pelo miométrio bem contraído, fenômeno que surge com a saída da placenta. Contração uterina x Hemostasia o As contrações uterinas vigorosas no pós-parto imediato respondem pela hemostasia da ferida placentária. o A cada contração uterina, o miométrio comprime os vasos uterinos parietais e contribui para a diminuição do sangramento. o Ao útero contraído, de consistência firme, damos o nome de “globo de segurança de Pinard” e a ação hemostática da contração miometrial sobre os vasos uterinos parietais é denominada de “ligaduras vivas de Pinard”. o A hemostasia é completada pela trombose dos orifícios vasculares abertos no sítio placentário. → O ritmo da involução não é constante. Entre o 3 o e o 10 o dia, os processos regressivos desenrolam-se em compasso acelerado, alentecendo-se depois. → Até o 10 o dia, a matriz é órgão abdominal; depois retorna à pelve. → Na lactante, a involução uterina é mais rápida, em decorrência da exacerbação da retração e contratilidade uterinas a cada amamentação. O reflexo uteromamário diz respeito à estimulação dos mamilos e da árvore galactófora que desperta as contrações uterinas, acusadas pela paciente como cólicas. → O processamento da involução e da regeneração da ferida placentária, da caduca parietal e das demais soluções de continuidade sofridas pela genitália no parto, vincula-se à produção e à eliminação de considerável quantidade de exsudatos e transudados, os quais, misturados com elementos celulares descamados e sangue, são conhecidos pela designação de lóquios. → Nos primeiros 3 ou 4 dias, os lóquios são sanguíneos (lochia cruenta, lochia rubra), depois tornam-se serossanguíneos (lochia fusca), de coloração acastanhada. Lóquios vermelhos Sangue vivo que é eliminado nos primeiros dias após o parto. Lóquios serosos Depois de 3 a 4 dias de pós-parto, a eliminação fica descorada. Lóquios claros Em torno do 10º dia após o parto, a eliminação fica esbranquiçada. Vagina → As transformações regressivas de maior evidência desenrolam-se no epitélio escamoso de revestimento. → A partir do 3 o ou 4 o dia os esfregaços vaginais vão se tornando nitidamente atróficos e, ao final do pós-parto imediato (10 o dia), à metade, ou menos, o epitélio fica abreviado das 30 a 35 carreiras celulares achadas à ocasião do parto Pós parto tardio É o circuito biológico em que todas as funções começam de ser influenciadas pela lactação, que no estádio seguinte, pós-parto remoto, domina francamente o panorama puerperal. Útero → Continua a regredir, porém muito lentamente até 6 semanas, sem retornar, nunca mais, às proporções encontradas nas nulíparas. → O corrimento loquial prossegue comumente até meados do pós-parto tardio, passando de serossanguíneo a seroso (lochia flava). Vagina → Objetivada pela descamação do epitélio, reduzido às camadas profundas, a crise vaginal alcança, pelo geral, sua regressão máxima em torno do 15 o dia pós-parto; a partir de então se esboçam as primeiras manifestações regenerativas. → Nas mulheres que não amamentam, a citologia mostra aceleração do processo vaginal evolutivo, quando comparadas às nutrizes. Pós parto remoto Nas mulheres que não amamentam, a menstruação retorna, em média, com 1,5 mês e precedida de ovulação, ao contrário do que se pensava anteriormente. Nas lactantes os prazos dependem da duração do aleitamento. Assistência pós parto Hemorragia pós parto (melhor visto em resumo reparado) → A hemorragia puerperal permanece como uma das principais causas de mortalidade materna em todo o mundo. → É definida e diagnosticada clinicamente como um sangramento excessivo que torna a paciente sintomática (vertigem, síncope) e/ou que resulta em sinais de hipovolemia (hipotensão, taquicardia ou oligúria). → As quatro principais causas de hemorragia pós parto são: atonia uterina, laceração do trajeto de parto, retenção placentária ou fragmentos, coagulopatia. Episiorrafia → Caso seja executada, é preciso analgesia adequada, que pode ser feita com paracetamol 500 mg 6/6 h, VO e/ou dipirona 600 mg 6/6h, VO e/ou codeína 30 mg 6/6h, VO, se necessário, para se evitar o aparecimento da dor, que deverá melhorar a cada dia. → Não necessita de curativo, e orienta-se às pacientes que façam a higienização com água corrente e sabonete após eliminações. → Ao se examinarem as episiorrafias, devem-se afastar hematomas, infecções e deiscências. → Hematomas: se presente, deve ser avaliado quanto à necessidade de drenagem e, caso seja necessária, esta deve ser feita sob anestesia regional ou geral. → Infecção: é rara e ocorre em 0,1% dos casos, aumentando para 1 a 2% quando for após lacerações de 3º e 4º graus. Nesses casos de infecção, a ferida operatória necessita ser desbridada, com intensa lavagem, e, se houver presença de celulite, uma cobertura antimicrobiana de amplo espectro pode ser utilizada com posterior fechamento por segunda intenção. Infecção superficial de episiotomia Analgesia e observação da evolução; Infecção de fáscia superficial Antibiótico de amplo espectro (ampicilina + aminoglicosídeo + clindamicina) com cicatrização por segunda intenção. Está indicada exploração cirúrgica se: eritema e edema que se estendam além da incisão com flutuação e/ou necrose, não houver melhora clínica após 24/48 horas de antibioticoterapia, a paciente apresentar manifestações sistêmicas. Fascite necrosante Amplo desbridamento cirúrgico + antibioticoterapia de amplo espectro; Mionecrose Extremamente rara. Necrose que se estende até o músculo. Amplo desbridamento cirúrgico + penicilina. Ferida operatória (cesariana) → A ferida operatória tem de ser diária e cuidadosamente examinada, buscando-se sinais de seroma, hematoma e infecção. → Nesses casos, são feitasa abertura dos pontos e a drenagem da secreção serosa ou purulenta com observação rigorosa quanto à área de eritema ou ao aparecimento de necrose. → Devem ser feitos curativos diários com soro fisiológico e gaze inserida. → Utiliza-se antibioticoterapia quando houver área de celulite ou sinais de infecção. Infecção pós parto → De acordo com a definição de infecção puerperal, o aumento da temperatura corporal pode ser considerado fisiológico se iniciar nas primeiras 24h e durar menos do que 48h. → Além disso, é importante lembrar que a ausência de febre não significa ausência de infecção. Da mesma forma, a ocorrência de pico febril isolado é frequente no puerpério e normalmente apresenta resolução espontânea, sobretudo após parto normal. Portanto, a febre não é parâmetro único da infecção puerperal, mas sim um sinal objetivo que deve ser observado e avaliado cuidadosamente. → Infecção puerperal ou morbidade febril puerperal pode ser definida como um quadro febril (temperatura corporal superior a 38ºC) com duração superior a 48h, dentro dos primeiros dez dias do puerpério, excluindo-se as primeiras 24 horas. A cesariana é isoladamente o principal fator de risco para infecção puerperal. Em comparação aos partos vaginais, a cesárea eleva o risco de endomiometrite em 5-30 vezes, o de bacteremia em 2-10 vezes, o de abscesso e tromboflebite pélvica séptica em duas vezes e o de morte por infecção em cerca de 80 vezes. → A maioria dos processos infecciosos febris no pós-parto é causada por infecção do trato genital inferior. → A endometrite é considerada a forma clínica mais frequente de infecção puerperal e, provavelmente, constitui o início de quase todos os processos infecciosos do útero e anexos. Endometrite o Os sintomas se restringem ao útero subinvoluído, hipersensível, amolecido, colo entreaberto com lóquios piossanguinolentos e fétidos. Não há empastamento dos paramétrios ou massas palpáveis. Normalmente, cursa com febre alta. o É geralmente uma infecção polimicrobiana causada por bactérias que atingem o útero por via ascendente e que encontram no endométrio e no sítio de implantação da placenta bons meios de cultura. o As complicações da endometrite se relacionam à extensão da infecção para as cavidades pélvica e peritoneal com parametrite, salpingite, peritonite, abscesso pélvico, fascite necrotizante e choque séptico. o A antibioticoterapia deve ser iniciada logo após o diagnóstico e deve ser mantida até a paciente se tornar afebril, por 72 horas, e assintomática. o Esquema: Clindamicina: 900 mg IV 8/8h; + Gentamicina: 1,5 mg/kg IV a cada 8 horas. Infecções de episiorrafia o As infecções geralmente resultam de traumatismos e hematomas contaminados pela microflora vaginal. o Normalmente, as pacientes referem dor intensa na região perineal associada a hipertermia, calor e sinais de abscesso em formação. o A ferida operatória deve ser lavada diariamente com soro fisiológico 0,9%. o A antibioticoterapia deve ser mantida por sete a dez dias. o Esquema: Gentamicina 240 mg/dia (até 70 kg) ou 320 mg/ dia (acima de 70 kg), IV, em dose única diária + Clindamicina: 600 mg IV 6/6h ou 900 mg IV 8/8h. Infecção da parede abdominal o A ferida operatória apresenta-se com hiperemia, calor, celulite e secreção purulenta. o O tratamento consiste no uso de antibióticos por sete a dez dias. o Esquema: Gentamicina 240 mg/dia (até 70 kg) ou 320 mg/ dia (acima de 70 kg), IV, em dose única diária + Oxaciclina: 1 g IV 4/4h, por 24h; depois trocar para cefalexina de 500 mg VO de 8/8h OU Cefadroxil 500 mg VO 8/8h. Imunizações: a paciente Rh-negativa, não sensibilizada (teste de Coombs indireto negativo), cujo recém-nascido for Rh-positivo, deve receber imunoglobulina anti-D na dose de 300 mg por via intramuscular em até 72 horas após o nascimento. Cefaleia pós punção de dura-máter → Uma complicação relativamente comum é a punção acidental da dura-máter com perda de líquido cerebrospinal e redução da pressão liquórica com o surgimento de cefaleia frontal com irradiação occipital, com piora na postura ortostática, que pode ser acompanhada de tonturas, náuseas, vômitos, distúrbios visuais, dor interescapular, rigidez de nuca e sintomas auditivos. → O tratamento consiste em repouso no leito, hidratação e analgesia. → Em casos graves, pode-se utilizar até injeção de sangue da própria paciente no espaço peridural (blood patch) para se fechar o orifício por onde houve o vazamento de líquido cerebrospinal. Normas higiênicas e dietéticas, exercícios e deambulação → A vulva e o períneo devem ser higienizados várias vezes ao dia, após as micções e evacuações, utilizando-se, por exemplo, triclosana. → A genitália externa deve ser sempre protegida por absorvente higiênico pós-parto descartável, a ser substituído sempre que necessário. → As normas dietéticas são as mesmas da gravidez, um pouco alteradas nas lactantes, com maior liberdade, sobretudo, na ingesta líquida. → Deve-se estimular a paciente a mover-se livremente no leito, logo após o parto, e a exercitar os membros inferiores com frequência. Deambular, preferencialmente, 6 h após o parto vaginal evita riscos de tromboembolismo e acelera a recuperação puerperal. Cuidado com as mamas → Recomenda-se o uso de sutiãs apropriados. → No 3 o dia pós-parto, é comum ocorrer apojadura, com desconforto considerável às pacientes. As mamas ficam ingurgitadas e dolorosas. → Nesse caso, é possível aliviá-las suspendendo-as, aplicando-lhes bolsa de gelo e administrando ocitocina por via nasal, que provoca ejeção láctea, amenizando a congestão. Ocitocina spray nasal – 1 jato em cada narina 30 min antes das mamadas ou Ocitocina IM podem ajudar no estímulo a amamentação. Contraindicações para a amamentação HIV + Absoluta Lesões herpéticas mamárias Não devem amamentar na mama afetada até que as lesões sumam, porque o contato direto com as lesões pode transmitir o herpes-vírus simples para a criança. As mães devem ter higiene cuidadosa das mãos e cobrir eventuais lesões com as quais a criança possa entrar em contato; Tuberculose ativa Não devem amamentar até que não estejam contagiosas (geralmente duas semanas após o início da terapia antituberculostática), porque a tuberculose é transmitida por meio de gotículas respiratórias, e não do leite materno. As mães podem bombear o leite materno e dá-lo à criança; Varicela desenvolvida até 5 dias antes e 2 dias após o parto Devem ser separadas de seus filhos, mas o seu leite ordenhado pode ser usado para alimentá-los; H1N1 Devem ser separadas de seus filhos até que estejam afebris. As mães podem bombear o leite para ser dado à criança; Hepatite materna É compatível com a amamentação após imunoprofilaxia adequada; Abuso de substâncias O abuso de substâncias pelas lactantes não é uma contraindicação categórica à amamentação. No entanto, a amamentação é contraindicada em mães que estejam fazendo uso de drogas ilícitas, como fenciclidina, cocaína ou cannabis; Álcool Pode mascarar a resposta da prolactina à amamentação e pode afetar o desenvolvimento motor da criança. Tabagismo Apesar de o tabagismo materno não ser uma contraindicação absoluta para a amamentação, deve ser fortemente desencorajado, pois ele está associado a risco aumentado de síndrome da morte súbita do lactente e alergia respiratória infantil; Galactosemia Absoluta. Problemas mais comuns em relação à amamentação o Ingestão de leite inadequada: pode ser devida a uma falha da criança para extrair leite ou a insuficiente produção de leite. Para se determinar a causa da ingestão de leite inadequada são necessárias história completa, observação direta da amamentação e determinação do volume de leite antes e após a alimentação. Asintervenções são fundamentadas no problema específico identificado; o Dor no mamilo e/ou mama incluem a lesão do mamilo ou vasoconstrição, ingurgitamento, dutos obstruídos e infecções de mama. Esses problemas se devem, normalmente, em parte, a técnicas de amamentação incorretas. o O importante é identificar e corrigir qualquer técnica inadequada. o A dor deve ser distinguida da sensibilidade dos mamilos que normalmente se resolvem até o quarto dia pós-parto. Ingurgitamento mamário o Caracteriza-se por estase láctea repentina em puérperas com bom estado geral, acompanhada de desconforto e hiperdistensão mamária e de hipertermia local e sistêmica. o A maioria dos casos de ingurgitamento ocorre entre 48 e 72 horas pós-parto e reflete a apojadura. o São várias as causas envolvidas neste processo: pega mamilar inadequada, sucção ineficiente, dificuldade de ejeção láctea, produção excessiva de leite e obstrução do ducto mamário resultante da formação intraductal de cristais, que possivelmente decorre de dieta rica em cálcio. o Sua gênese está envolvida com: Aumento da vascularização da mama e congestão vascular secundária à saída da placenta + Acúmulo de leite nas mamas + Edema secundário à obstrução da drenagem linfática causada pela estase do leite e por aumento da vascularização dos alvéolos o Tratamento: manutenção do aleitamento, o apoio físico e psicológico à puérpera. As mamas devem ser erguidas com sutiãs adequados. A frequência das mamadas deve ser aumentada e a ordenha do excesso de leite após a amamentação, manual (preferível) ou com bombas elétricas adequadas, é recomendável. Fissuras mamárias o São erosões alongadas em torno dos mamilos resultantes, na maioria das vezes, da pega inadequada do recém-nascido por má técnica ou por ingurgitamento mamário. o Permitem a entrada de germes no parênquima e predispõem à ocorrência de mastites, pois as fissuras são soluções de continuidade. o A prevenção das fissuras consiste na exposição das mamas ao sol e na lubrificação das mamas com o próprio leite antes e após cada mamada. o A paciente deve evitar o uso de pomadas ou cremes nos mamilos. o Na presença dessas lesões, a paciente não deve suspender a lactação e deve realizar ordenha frequente para evitar e/ou tratar o ingurgitamento mamário. Mastite puerperal o A mastite é um processo infeccioso, agudo ou crônico, que pode acometer todos os tecidos mamários (glandular, subcutâneo ou pele). o Em geral, a presença de fissuras mamárias resulta em quebra dos mecanismos de defesa do organismo e em aumento do número de bactérias sobre a pele da mama. o A penetração dos germes ocorre pelos linfáticos superficiais, expostos pelas fissuras mamilares. o O principal agente etiológico é o Staphylococcus aureus. Pode ser encontrado com menor frequência o Staphylococcus epidermidis e o Streptococcus do grupo B. o Possui como fatores de risco: a primiparidade e idade menor que 25 anos, ingurgitamento mamário, fissura mamilar, episódio anterior de mastite, traumas diretos sobre as mamas, infecção da rinofaringe do lactente, má higiene e anormalidades mamilares. o O processo tem início com a estase láctea. o Depois surgem os sinais clássicos de inflamação: dor, calor, rubor, de início súbito associado à febre alta (39º a 40ºC), calafrios e turgência mamária extensa. o Como medidas profiláticas, citam-se a higiene vigorosa, a prevenção do ingurgitamento mamário e de fissuras. o O tratamento das pacientes envolve o uso de analgésicos, antitérmicos, suspensão adequada das mamas (sutiãs adequados), esvaziamento completo das mamas para evitar a estase (preferencialmente por ordenha manual) e antibioticoterapia. o As cefalosporinas de primeira geração são boa escolha (cefalexina). Outras opções são a ampicilina, eritromicina e lincomicina. o A amamentação deve ser mantida em ambas as mamas, com início preferencialmente pela mama não afetada. *A evolução arrastada da mastite está frequentemente associada à presença de germes resistentes aos antibióticos utilizados, dose insuficiente ou evolução para abscesso mamário. Abscesso mamário o Corresponde à presença de coleção purulenta no parênquima mamário. o A antibioticoterapia deve ser instituída, e a drenagem cirúrgica sob anestesia está indicada se houver flutuação. o A incisão cirúrgica deve ser radial e o mais distante possível da aréola para que se possa preservar a lactação e para se evitar a secção dos ductos principais. o Em linhas gerais, a amamentação deve ser mantida, exceto nos casos de drenagem purulenta espontânea pela papila e de incisão cirúrgica muito próxima do mamilo. o Nessas situações, a amamentação na mama contralateral deve prosseguir normalmente, e a mama afetada deve ser esvaziada por ordenha manual ou por bomba elétrica adequada. o A amamentação deve ser restabelecida tão logo o processo infeccioso tenha se resolvido. Micção e função intestinal → Ao início, muitas pacientes têm dificuldades na micção, que podem ser, por vezes, superadas, recorrendo-se a meios simples. → A constipação intestinal é frequente, principalmente, quando não há o levantar precoce, ou a paciente permanece por longo período em jejum ou já tem constipação crônica. → Após o 3 o dia sem evacuação espontânea, deve-se prescrever laxativos como sorbitol + laurilsulfato de sódio, 1 bisnaga por via retal, ou bisacodil, 1 comprimido por via oral. → Ingesta de líquidos (2.000 mℓ/dia) e dieta rica em frutas e fibras vegetais devem ser estimuladas. Exames diários até o 2º dia → Temperatura, pulso e pressão: nas primeiras 24 h, pode haver certa pirexia, o normal é a ausência de febre, caracterizada pela temperatura abaixo de 38°C. A chamada “febre do leite”, concomitantemente com a apojadura, no 3º dia, é considerada fisiológica por alguns, embora outros a encarem como resultante da ascensão de germes vaginais à cavidade uterina, habitual nessa época. O pulso tende a ser bradicárdico, 60 a 70 bpm, em virtude, provavelmente, do repouso experimentado pela puérpera. → Palpação do útero e da bexiga: o útero puerperal tem consistência firme, é indolor e altamente móvel decorrente da flacidez dos seus elementos de fixação. Ao examiná-lo, é necessário palpar sempre a bexiga; em razão de suas conexões anatômicas com a matriz, a bexiga cheia pode deslocar o útero para cima, falseando o resultado das medidas. Nas primeiras 12 h do sobreparto, a altura do fundus uteri está ao redor da cicatriz umbilical. Do 2 o dia em diante, diminui progressivamente, na média de 1 cm. → Exame dos lóquios: nos primeiros 3 ou 4 dias, observa-se corrimento abundante e sanguíneo. Os absorventes higiênicos pós-parto ficam embebidos de fluxo vermelhoescuro. O encarnado rutilante evidencia perda hemorrágica, que é anômala. Os lóquios serossanguíneos têm coloração acastanhada. Quando normais, seu cheiro é peculiar; a fetidez sugere decomposição do conteúdo vaginal por anaeróbios, e a parada do fluxo na 1 a semana do pós-parto, loquiometria, é sinal ominoso, indicativo de infecção. → Inspeção do períneo: é sempre indicada para se fiscalizar a cicatrização das eventuais suturas de episotomia ou de perineorrafia, além de se verificar a existência de hemorroidas. → Exame dos membros inferiores: objetiva reconhecer o aparecimento precoce das tromboses venosas. Depressão pós parto → De fato, durante os primeiros dias após o parto, as mães podem apresentar sintomatologia do blues pós parto: fadiga, ansiedade, sono desordenado e mudança de humor. → A depressão pós-parto caracteriza-se por mudança de humor, ansiedade, irritabilidade, depressão, pânico e fenômenos obsessivos. → Os primeiros sintomas geralmente aparecem entre a 4ª e a 6ª semana pós-parto. No entanto, a depressão pós-partopode começar a partir do momento do nascimento, ou pode resultar de uma evolução contínua desde a gravidez. → São fatores de risco: história de depressão em gestações ou puerpérios anteriores, gestação indesejada, eventos traumáticos na gestação e no parto, baixo suporte social, baixo nível socioeconômico, adolescência, história de síndrome pré-menstrual com sintomas depressivos ou presença de transtornos de humor ou mentais prévios, tabagismo ou drogas ilícitas e hiperêmese gravídica. → O tratamento consiste em aconselhamento com terapeutas treinados, grupos de ajuda e/ou medicações antidepressivas seguras para o período da amamentação. → Os antidepressivos tricíclicos estão há muito tempo em uso, e sua segurança tem sido estabelecida ao longo dos anos, particularmente a amitriptilina. Blues puerperal o Se caracteriza por alterações de humor transitórias, benignas e autolimitadas. o Apesar da tristeza e do choro fácil, a puérpera afirma que gosta do recém-nascido e tem vontade de amamentar, o que a diferencia da depressão pós- parto. o O quadro geralmente tem início no terceiro dia após o parto e desaparece espontaneamente por volta do 14º dia de puerpério. Orientações na alta hospitalar Anticoncepção → O momento da alta hospitalar é o momento adequado para se discutir com o casal o planejamento familiar. → Podem ser estimulados métodos de barreira, como o condom e o dispositivo intrauterino (DIU), como também hormonais, contendo apenas progestágenos, como o desogestrel 75 mg por via oral em administração contínua (sem intervalos entre as cartelas) ou por via intramuscular como o acetato de medroxiprogesterona 150 mg por via intramuscular 90/90 dias. Métodos hormonais combinados com estrogênios não devem ser utilizados, a fim de não prejudicar a amamentação. Vida sexual → Não há momento definido como ideal para o retorno às relações sexuais, e a recomendação é de que, após duas semanas de puerpério normal com adequada cicatrização e desejo da paciente, elas podem ser reiniciadas. → No puerpério imediato, como nas últimas semanas da gravidez, a libido está, em geral, adormecida. → A resposta sexual, 6 a 8 semanas após o parto, ainda não é satisfatória, pois há congestão vascular lenta após o estímulo, subordinada à turgência da vulva e à lubrificação excessiva da vagina, com distensão concomitante desse órgão, rugosidades ausentes e constricção muscular reduzida. → No pós-parto imediato, além de ausência de atração sexual e dispareunia – sequela habitual das episiotomias e dos diversos tocotraumatismos resultantes da passagem do feto –, muitas pacientes têm elemento negativo na amamentação. Deve-se esclarecer ao casal que relação sexual não é apenas um ato genital e que o carinho, o apoio e o conforto devem ser valorizados. → Não raro, é importante a prescrição de lubrificantes vaginais para se amenizar algum desconforto, evitando-se, assim, a dor.
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