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FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE CHARLISSON MENDES GONÇALVES ACESSO DO JOVEM AO ENSINO SUPERIOR POR MEIO DO ENEM: A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO SOCIOCULTURAL Venda Nova do Imigrante - ES 2019 CHARLISSON MENDES GONÇALVES ACESSO DO JOVEM AO ENSINO SUPERIOR POR MEIO DO ENEM: A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO SOCIOCULTURAL Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da Faculdade Venda Nova do Imigrante como requisito parcial para obtenção do título de licenciatura em Pedagogia Venda Nova do Imigrante - ES 2019 DEDICATÓRIA Dedico a Deus os esforços do nosso trabalho, por me conduzir à graça e à justiça todos os dias. AGRADECIMENTOS Com o coração transbordando de gratidão, agradeço meus pais pela dádiva da vida e todo suporte necessário para que nossos sonhos se tornem realidade. Agradeço meus irmãos, familiares e comunidade de fé por sempre caminharem comigo e me conduzirem no Caminho que devo seguir. EPÍGRAFE Para quem pertence a Cristo, seguir o próprio caminho e deixar para depois as necessidades dos outros são atitudes que ficaram cravadas na cruz. Gal. 5:24 [A MENSAGEM] RESUMO O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) não representa uma avaliação dos 3 últimos anos da Educação Básica, desde de 2009, tem servido com porta de entrada para as Universidades, ou seja, tem possibilitado a jovens homens e mulheres, das diferentes classes sociais, a inserção no Ensino Superior. Essa nova demanda reconfigurou a relação das escolas e dos estudantes com o exame. O presente trabalho busca analisar o acesso do jovem ao ensino superior por meio do ENEM e as possíveis influências do contexto sociocultural nessas escolhas. Utilizando-se de questionário estruturado aplicado a alunos concluintes do ensino médio das redes públicas e privadas da região metropolitana de BH, buscou analisar as expectativas dos estudantes do terceiro ano do Ensino Médio em relação à avaliação nacional e correlacionar se o contexto socioeconômico no qual os estudantes estão inseridos influencia na opção pela realização do ENEM e a escolha do curso superior. Palavras chave: Ensino Médio, ENEM, Juventude e Políticas Públicas. ABSTRACT The ENEM does not represent an assessment of the last 3 years of basic education, since 2009, has served as the gateway to the Universities, has allowed the young men and women of different social classes, the integration in Higher Education. This new demand has reconfigured the relationship of schools and students with the exam. This new demand reconfigured the relationship of schools and students with the examination. The present work seeks to analyze the access of young people to higher education through ENEM and the possible influences of the sociocultural context in these choices. Using a structured questionnaire applied to high school graduates of the public and private networks of the metropolitan region of BH, it sought to analyze the expectations of the students of the third year of High School in relation to the national evaluation and to correlate if the socioeconomic context in which the Students are included influence on the option for the ENEM and the choice of the higher education. Keywords: High School, ENEM, Youth and Public Policies. LISTA DE ILUSTRAÇÕES GRAFICO1 - Qual é o seu sexo? ................................................................................... 29 GRÁFICO 2 - Qual é a sua idade? ................................................................................. 30 GRÁFICO 3 - Qual é a sua religião? .............................................................................. 31 GRÁFICO 4 - Qual seu estado civil? ............................................................................. 31 GRÁFICO 5 - Onde e como você mora atualmente? ..................................................... 32 GRÁFICO 6 - Até quando seu pai estudou? .................................................................. 32 GRÁFICO 7 - Até quando sua mãe estudou?................................................................. 33 GRÁFICO 8 - Somando a sua renda com a renda das pessoas que moram com você, quanto é, aproximadamente, a renda familiar? ............................................................... 33 GRÁFICO 9 - Você gostaria de fazer o ENEM? ........................................................... 34 GRÁFICO 10 - Porque você gostaria de fazer o ENEM? .............................................. 34 GRÁFICO 11 - Você trabalhou ou teve alguma atividade remunerada durante seus estudos? .......................................................................................................................... 36 GRÁFICO 12 - Com que finalidade você trabalhava enquanto estudava? .................... 36 GRÁFICO 13 - Selecione o item ou os itens que consideram como conhecimentos adquiridos no ensino médio ............................................................................................ 37 GRÁFICO 14 - O conhecimento que os (as) professores (as) têm das matérias e a maneira de transmiti-lo ................................................................................................... 40 GRÁFICO 15 - A dedicação dos (as) professores (as) para preparar aulas e atender aos (as) estudantes ................................................................................................................ 40 GRÁFICO 16 - As iniciativas da escola pra realizar excursões, passeios culturas, estudos do meio ambiente............................................................................................... 41 GRÁFICO 17 - A biblioteca da escola ........................................................................... 42 GRÁFICO 18 - As condições das salas de aula ............................................................. 42 GRÁFICO 19 - As condições dos laboratórios .............................................................. 42 GRÁFICO 20 - Acesso a computadores e outros recursos de informática .................... 43 GRÁFICO 21 - O interesse dos (das) estudantes ........................................................... 44 GRÁFICO 22 - Sobre as atividades extracurriculares.................................................... 45 GRÁFICO 23 - “Pensando nos conhecimentos adquiridos no Ensino Médio, como você considera o seu preparo para conseguir um emprego, exercer alguma atividade profissional?” .................................................................................................................. 45 SUMÁRIO 1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE JUVENTUDE ........................... 9 1.1 Juventudes e territorialidades ............................................................................... 11 1.2 Juventude e trabalho .............................................................................................. 12 2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE .................................................... 14 2.1 Políticas públicas para educação ........................................................................... 16 2.2 O Exame Nacional Do Ensino Médio – ENEM .................................................... 18 3 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 21 4 PERGUNTA DE PESQUISA ................................................................................... 22 5 OBJETIVO GERAL .................................................................................................23 5.1 Objetivos Específicos .............................................................................................. 23 6 PERCURSO METODOLÓGICO ........................................................................... 24 6.1 Tipo de pesquisa ..................................................................................................... 24 6.2 Natureza da Pesquisa ............................................................................................. 25 6.3 Métodos de procedimento ...................................................................................... 25 6.4 Técnicas de pesquisa ............................................................................................... 25 6.5 Delimitação do universo ......................................................................................... 26 7 APRESENTANDO OS RESULTADOS DA PESQUISA ...................................... 27 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 47 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 49 APÊNDICE ................................................................................................................... 52 9 1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE JUVENTUDE A Organização das Nações Unidas define a juventude como grupo cuja faixa etária compreende a idade entre 15 a 24 anos. A orientação da Unesco, é que a juventude seja percebida como um segmento populacional e social específico (cf. UNESCO, 2005, p.94). Carrano (2013) chama atenção para o fato de que a juventude não pode ser vista nem compreendida apenas pelo fator idade, já que os jovens constroem suas subjetivações a partir de referências culturais específicas associadas à realidade social e econômica na qual estão imersos. Para esse autor, a juventude vista a partir desse prisma com demandas e características específicas, nos leva a reconhecer que ainda temos que caminhar no sentido de ouvir a voz dos jovens e como sociedade, nos mobilizarmos para que os mesmos sejam percebidos como sujeitos de direitos. Na contemporaneidade, é válido considerar que a percepção social de um sujeito como jovem, ou não é moldada de acordo com concepções familiares, políticas, culturais, etc. É muito comum que se produza uma imagem da juventude com um “vir a ser” adulto. A tendência sob essa perspectiva, é a de enxergar a juventude a partir de uma lente ofuscada, incompleta. O jovem é o que ainda não chegou a ser. Nega-se assim o presente vivido. Negligencia-se o fato de que o sujeito jovem é protagonista nos processos que vivencia. O jovem não é um pré-adulto. Pensar assim é destituí-lo de sua identidade no presente em função da imagem que projetamos para ele no futuro. Dayrell (2014). Perceber o jovem como sujeito de direitos é contribuir para a desconstrução dessa imagem limitativa da juventude, pois retira o mesmo desse espaço de passividade e o considera como um ator ativo capaz de produzir cultura e influenciar a realidade com um todo Considera-se que um ator social é o homem ou a mulher que intenta realizar objetivos pessoais em um entorno constituído por outros atores, entorno que constitui uma coletividade à qual ele sente que pertence e cuja cultura e regras de funcionamento institucional faz suas, ainda que ainda em parte. Ou, dito com palavras mais simples, são necessários três ingredientes pra produzir um ator social: objetivos pessoais, capacidade de comunicar-se e consciência de cidadania. (TOURAINE, 1998,p.5). Os problemas que geralmente são considerados comuns dessa fase, nem sempre são produzidos pelos próprios jovens, mas a partir da negligencia da escuta em 10 relação à eles e da interpretação dos mais velhos. No artigo Protagonismo Juvenil: o discurso da juventude sem voz, Regina Magalhães de Souza aponta para o fato de que Tanto o "ator estratégico" quanto o "jovem protagonista" são formulações que reúnem numa só figura a ambivalente posição daquele que é alvo de investimento, mas que, por essa mesma razão, deve oferecer sua contrapartida à comunidade ou ao país. Desse modo, as políticas e medidas que antes seriam destinadas, relativas o para a juventude (ONU, 1995;1998b, p. 161-62), nos anos 2000 são referidas como de/para/com juventudes (cf. UNESCO 2005, p. 20). Na perspectiva dessa autora, utilizar a expressão dar voz a esses sujeitos pressupõe pensar as relações de poder presentes na hierarquia social. Porque quem “dá” é dono, detentor, benfeitor que autoriza a fala do outro. É preciso reconhecer as vozes e possibilitar a existência de espaços em que os jovens possam ser ouvidos e percebidos em todas as dimensões da própria existência. Esse diálogo possibilitará a oportunidade de ações coletivas que sejam eficazes no sentido de mapear necessidades e proporcionar que o todo seja visto como solução. Em Juventude e Ensino Médio, Juarez Dayrell (2014) cita, por exemplo, a questão da violência policial, que faz de suas vítimas prioritárias jovens, negros e das periferias. Com esse novo olhar – o jovem como sujeito de direitos – os problemas que o atingem podem ser vistos como expressão de necessidades e demandas não atendidas. Isso pode resultar no reconhecimento de um campo de direitos que desencadeie novas formas e conteúdos de políticas públicas e, principalmente, práticas que reconheçam a juventude nas suas potencialidades e possibilidades e não apenas a partir de seus problemas. Carrano (2014). Desse modo, é preciso considerar a possibilidade da existência de mais de uma juventude. O universo juvenil comporta diferentes sentidos e significados traduzidos em identidades, territorialidades, trabalho, entre outros. Faremos adiante apontamentos sobre algumas dimensões do múltiplo universo juvenil. 11 1.1 Juventudes e territorialidades De acordo com OLIVEIRA (2014) o território é um espaço de relações de poder, por isso é tão importante pensar na juventude inserida em sua própria localidade. Se pensarmos, por exemplo, nos espaços rurais e urbanos, perceberemos que existem demandas oriundas da juventude provenientes das mesmas, similares e outras completamente diferentes. Será que para o jovem urbano a acessibilidade a espaços de produção e difusão cultural chegam a ser um desafio? O jovem que habita em regiões predominantemente rurais ou sertanejas tem as mesmas possibilidades de lazer? A luta de classes se dá também em âmbito territorial. A saber, quais os bairros mais visados pela polícia? Conhecer os territórios em que os jovens estudantes vivem e circulam é, sem dúvida, muito importante para compreendermos os próprios jovens, seus estilos, seus modos de ser e star no mundo, e também para compreendemos a especificidade socioespacial da escola onde estamos inseridos. Além disso, conhecer os territórios e mapear suas potencialidades podem nos auxiliar a perceber espaços sociais educativos para além dos muros da escola. O território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de coisas criadas pelo homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da resistência, das trocas materiais e espirituais e da vida sobre as quais ele flui. Quando se fala e território, deve-se, pois, de logo, entender que está se falando em território usado, utilizado por uma dada população. Durante a elaboração desse trabalho, visitamos escolas de todas as regionais metropolitana de Belo Horizonte, mais adiante discorreremos sobre o levantamento de dados resultante dessas pesquisas; por agora, é válido reforçar que a localização geográfica de um indivíduo,de uma comunidade escolar interfere na construção da visão de si mesmo e do mundo. Analisar as diferenças da organização econômica e social entre uma família que vive numa região central e uma outra que vive em uma região periférica, evidencia o fato de que a territorialidade não se trata apenas de uma questão geográfica, mas sim, de uma questão social. Essas questões pertinentes colaboram para a construção dos perfis dos jovens, os atores de nossos cenários atuais. Ao se dar conta desse fato, a escola enquanto instrumento de promoção social deve se apropriar dessas especificidades, 12 dialogando sempre com a realidade dos educandos para que os mesmos sejam capazes de se relacionarem como esses espaços de maneira sadia e crítica. É importante ressaltar que a solução de muitos problemas relacionados à estrutura, meio ambiente e convívio social, partem desses espaços de escuta igual entre toda comunidade escolar. 1.2 Juventude e trabalho Um estudo do Banco Mundial intitulado The Economic Mobility and the Rise of the Latin American Middle Class revela que 43% dos latinos americanos mudaram de classe entre meados dos anos 1990 e o final da década passada. Um fato que vale a pena citar aqui é que as pessoas que passaram mais tempo na escola foram as principais beneficiadas por aumento de renda. Ou seja, vivemos em uma sociedade que associa mobilidade social à escolarização. O jovem pode ser visto tanto como estudante, tanto quanto trabalhador. Corrochano (2014), afirma que: “a permanência do jovem na escola é resultado também de questões sociais a qual os indivíduos estão sujeitos”. No Brasil, a relação dos jovens com o trabalho é marcada por muitas desigualdades, e o Ensino Médio parece ser um espaço significativo para evidenciar esse fenômeno. Para uns, o tempo no Ensino Médio é vivido como etapa de formação e preparação para o acesso à universidade, ficando o trabalho como um projeto para depois da conclusão do Ensino Superior. Porém, para a maior parte daqueles que tiveram acesso a esse nível de ensino nas duas últimas décadas, a realidade de trabalho, de bicos ou de um constante “se virar para ganhar a vida” combinam-se às suas vidas de estudantes. Segundo Leão (2014), o trabalho deve ser pensado a partir das necessidades juvenis de formação, do desenvolvimento profissional, da participação social e do acesso ao lazer e à cultura. Assim, não se pode pensar o trabalho juvenil sem uma rede de proteção social que garanta o atendimento às suas demandas e a preservação de sua integridade física e moral. Fortunato (2008) inspirado nos estudos feitos por Bordieu, chama a atenção para o fato de que as sociedades se organizam em classes e essas se distinguem por diferenças culturais. Assim sendo, a escola não considera as diferenças socioculturais e elege a cultura da classe dominante. A escola favorece aquelas crianças e jovens que já 13 dominam este aparato cultural. Desta forma a escola, para este sujeito, é considerada uma continuidade da família e da sua prática social, enquanto os filhos das classes trabalhadoras precisam assimilar a concepção de mundo dominante. Para Bourdieu (1989) a escola é eficaz em legitimar e reproduzir as diferenças sociais que existem fora dela. Bourdieu apud Sposito e Carrano (2003), afirma que as políticas públicas funcionam como mecanismos de promoção social e estão presentes principalmente nos países subdesenvolvidos devido às demandas de emergência que estes locais apresentam. Para Sposito e Carrano (2003) as políticas públicas podem ser entendidas como um “conjunto de decisões e ações destinadas à resolução de problemas políticos”. Dessa forma, elas sempre terão um objetivo, uma meta a ser alcançada, focando as necessidades da população e buscando atender aquilo que as políticas governamentais não estão alcançando. 14 2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE As políticas públicas funcionam como mecanismos de promoção social e estão presentes principalmente nos países subdesenvolvidos devido às demandas de emergência que estes locais apresentam. Para Sposito e Carrano (2003) elas podem ser entendidas como um “conjunto de decisões e ações destinadas à resolução de problemas políticos”. Dessa forma, elas sempre terão um objetivo, uma meta a ser alcançada, focando as necessidades da população e buscando atender aquilo que as políticas governamentais não estão alcançando. Para Araújo e Lima (2003), A desigualdade social brasileira tem fortes raízes, que necessitam ser sempre consideradas na elaboração de políticas e na formação de expectativas quanto a resultados imediatos de programas sociais. (ARAUJO; LIMA, 2003). Correa (2005) afirma que no Brasil, as desigualdades sociais não param de aumentar, colocando em risco o futuro dos jovens e de toda a sociedade. Afirma ainda que, quase a metade dos jovens brasileiros vivem em zonas cinzas, de vulnerabilidade. De acordo com a UNESCO: Nos tempos atuais, os jovens têm se destacado como uma população vulnerável em várias dimensões, figurando com relevo nas estatísticas de violências, desemprego, gravidez não desejada, falta de acesso a uma escola de qualidade e carências de bens culturais, lazer e esporte. Este quadro desperta preocupações, na medida em que os jovens além de uma promessa de futuro para o país constituem uma geração com necessidades no presente (UNESCO, 2004). Diante do que foi exposto e em face das dificuldades apontadas acima, compreende-se a importância de se criar políticas públicas voltadas para o público jovem, que embora seja ainda um tema recente, que vem tomando espaço no cenário brasileiro desde a segunda metade da década de 1990, onde se constatou um aumento da população entre 15 e 24 anos. O que se espera dessas ações e seus desafios é construir projetos que assegurem igualdade de direitos, valorização da diversidade juvenil e respostas que dizem respeito às demandas desse segmento. As políticas setoriais voltadas para o público jovem, quando não são feitas de modo geral, sem se preocupar 15 com a diversidade entre os indivíduos, são criadas quando esse público se torna algum tipo de problema ou uma ameaça social. Segundo Sposito e Carrano (2003) “Assim, somente quando alcançam a condição de problemas de natureza política e ocupam a agenda pública, alguns processos de natureza social abandonam o ‘estado de coisas’”. Essa é uma das preocupantes formas do governo lidar no tratamento da juventude, onde apenas se cria novas ações quando esse grupo da sociedade representa incômodo e transtorno para a sociedade. Segundo Carmo e Leão: A compreensão da juventude deveria se expressar tanto sob a forma de políticas públicas democráticas que reconheçam o não cumprimento de direitos historicamente negados como educação, saúde e trabalho, quanto com a abertura de outras modalidades de ação que contemplem novos direitos da juventude. (CARMO E LEÃO, 2012). Segundo os autores, a sociedade deveria não apenas legitimar os direitos historicamente negados, mas também intervir de maneira a assegurar os novos direitos, evidenciando assim a necessidade de uma “contribuição efetiva para a construção de uma nova maneira de compreender os jovens” Carmo e Leão (2012). Vê-los não apenas como o futuro da nação, mas como participantes do presente. É preciso entender esse jovem como um sujeito de direitos, não apenas como os que foram pensados, alocados, como carentes, excluídos e marginais. Como cita Arroyo: Será necessário entender a condição juvenil na diversidade de formas de vivê-las. Entender as relações entre o universo juvenil e a sociedade, especificamente entender aquelas experiências sociais que mais marcam a condição dos jovens trabalhadores. (ARROYO, 2012). Apesardos avanços que o Brasil tem feito em relação à juventude, há ainda muitos limites nesse campo. Percebemos a desarticulação com entre as políticas implantadas. Observamos também uma espécie de improvisação e da precariedade das ações, que acontecem devido ao baixo investimento financeiro, o que faz com que essas tenham pouco tempo de duração, fazendo com que a intervenção afetiva ocorra. O governo não atua com projetos concretos e suficientes de políticas públicas, o que faz com que os projetos sejam temporários e de caráter assistencialista e excludente. Pode ser notado que os programas são implementados nas comunidades de qualquer maneira, 16 com uma imposição, sem antes haver um levantamento para saber qual é a real necessidade daquela comunidade. 2.1 Políticas públicas para educação Para se refletir sobre os meios educacionais que existem na atualidade, as variadas formas e modelos estabelecidos na escola pública brasileira e os objetivos a serem atingidos, é preciso antes de tudo, um diagnóstico tomando como princípio a união entre os interesses do Estado e a sociedade. Faz-se necessário entender quais influências e modelos definem as políticas públicas implantadas, o que se esperam dessas políticas e a quem se destinam essas políticas, tendo em vista que é papel do Estado implantar e fazer valer as medidas compensatórias propostas de acordo com as necessidades da população. Como afirma Bresser-Pereira (2008), uma nação só existe realmente quando o povo possui um Estado ou está lutando por ele. [...] o Estado é sempre a expressão da sociedade; é a instituição que a sociedade cria para que regule o comportamento de cada um, e assim assegure a consecução dos seus objetivos políticos. [...] Quanto menores forem diferenças de poder derivado de dinheiro e conhecimento, e quanto coesas forem tanto a nação quanto a sociedade civil, mais democrático e mais forte será o Estado – mais capaz, portanto, de desempenhar seu papel de instrumento de ação coletiva da sociedade. (BRESSER-PEREIRA, 2008, p.175) A educação é um dos âmbitos mais importantes para o desenvolvimento de um país, é através da construção de conhecimento, valores sociais e elaboração sócio afetiva do individuo, funções atribuídas ao papel da escola, que uma nação cresce e evolui. Embora o Brasil tenha avançado neste campo nas últimas décadas, ainda há muito para ser feito, pois o processo é lento e precisa, sobretudo, de paciência e principalmente, ação. Diante disso, podemos observar que ao longo dos anos, não muito longe a educação vem se destacando nas políticas públicas e as tentativas de reformar o sistema educacional no seu conjunto são muitas antigas, isto devido a necessidade de mudar a crise do sistema educativo. Desse ponto de vista Tedesco afirma que: Democratizar a educação seria uma condição necessária para a democratização social. Depois da Segunda Guerra Mundial, a expansão educativa foi considerada como uma necessidade para o crescimento 17 econômico. Gastar em educação seria investir, tanto ao nível individual quanto social. Dessa forma, a democratização e o desenvolvimento econômico apareceram com os objetivos básicos da política educacional, e foi a partir dessa perspectiva que o funcionamento real dos sistemas educacionais existentes foi avaliado” (1995, p. 92). A educação é um direito principal e universal, e é função do Estado efetivar políticas públicas que são os instrumentos para que se torne capaz de assegurar sua qualidade social, bem como o acesso e permanência de todos. Outra questão que devemos estar atentos é sobre o construir espaços de participação direta, indireta e representativa, nos quais a sociedade civil possa atuar efetivamente na definição, gestão, execução e avaliação dessas políticas públicas educacionais. Para que tais políticas sejam realmente efetivas, e como foi dito no início, é importante que a elaboração dessas políticas sejam elaboradas com base no conhecimento desses indivíduos que estão nas escolas e perceber os mesmos como sujeitos no processo educativo. É preciso compreender também o cotidiano da instituição escolar e os atores que lhe dão vida, alunos, professores, gestores, funcionários, e familiares e outros são parte integrante da sociedade e expressam, de alguma forma, os desafios e problemas mais amplos. Apesar dos avanços legais na esfera da garantia dos direitos para jovens e adolescentes e da formação de instituições governamentais para o desenvolvimento de políticas a eles destinadas instauradas nas últimas duas décadas, é preciso aceitar que ainda há muito que se fazer no campo das políticas públicas voltadas para esse grupo. Para falarmos de juventude, temos que entender quem são esses atores que chegam às escolas e entende-los como indivíduos que já são protagonistas nas suas ações e vivências, e não apenas como o pré-adulto, um individuo que ainda não chegou a ser (Dayrell, 2014, p.106). Dessa forma, entendendo o jovem como sujeito de direitos, podemos compreender suas necessidades e apontar suas demandas. Isso pode ocasionar no reconhecimento de um campo de direitos que desencadeie novas formas e conteúdo de políticas públicas e, principalmente, atitudes que possam ver a juventude em todo o seu potencial e não somente a partir de seus problemas. O Estado enquanto instância de poder de uma determinada sociedade conserva na sua totalidade, a autonomia necessária para administrar as ações de suas políticas públicas, e aqui em especial, as educacionais. A partir de políticas compensatórias se pode chegar a soluções de grandes demandas sociais e mais do que 18 oferecer “serviços” à população, essas políticas devem se voltar para a construção de direitos sociais. 2.2 O Exame Nacional Do Ensino Médio – ENEM O Exame Nacional do Ensino Médio foi criado em 1998 com o objetivo de avaliar o desempenho dos alunos concluintes do Ensino Médio e de dar subsídios às discussões sobre a qualidade do ensino na Educação Básica, além de ser uma política pública que visa à busca permanente da melhoria da qualidade do ensino no Brasil, a inserção do jovem no mercado de trabalho e o exercício da cidadania. A matriz referencial do exame, instituída pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), foi inicialmente estruturada para que se verificasse o domínio das competências e habilidades associadas aos conteúdos de ensino, estimulando o raciocínio e a construção do conhecimento promovida pela interdisciplinaridade e pela contextualização das experiências vivenciadas ao longo da jornada do estudante. Por competência, segundo o documento básico, entendeu-se que “(...) as modalidades estruturais da inteligência, ou melhor, ações e operações que utilizamos para estabelecer relações com e entre objetos, situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer”. (Inep, 1999, p.7). Já por habilidades, o documento afirmou que elas decorrem das competências adquiridas e que “(...) referem-se ao plano imediato do “saber-fazer”, sendo vinte e uma as habilidades relacionadas”. (Inep, 1999, p.7). O objetivo foi estimular os alunos a articularem os conteúdos aprendidos durante os estudos para resolver as questões de forma reflexiva. Além disso, criou-se um questionário sócio e econômico a ser respondido no momento da inscrição no exame, que pretendia conhecer melhor o perfil dos alunos, pois além de perguntas sobre o contexto em que esse aluno e sua família se inserem, procurou conhecer opiniões sobre assuntos gerais, seus interesses e planos e que pudessem subsidiar dados sobre as escolas frequentadas pelos alunos, sua convivência nas mesmas, suas opiniões sobre o aprendizado, o trabalho dos professores, e assim, construir uma análise do estado do ensino médio no país. 19 O primeiro ponto a destacaré que a avaliação proposta pelo Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM foi pensada para que as autoridades responsáveis pelo desenvolvimento de políticas públicas para educação utilizassem os dados coletados e os resultados recolhidos como desempenho dos alunos para a formulação de tais políticas e a discussão das possibilidades e necessidades de financiamento destas mesmas políticas. Assim, ZANCHET (2003), explica que, se por um lado, a avaliação torna-se um eixo estruturante de políticas públicas educacionais, por outro, surgem as críticas de que ela seria forte mecanismo de controle social na configuração de uma concepção de Estado. Em 2009, foi publicada nova orientação do ENEM que passou a ser chamado de NOVO ENEM. O MEC, com o apoio do INEP, apresentou proposta de reformulação e utilização do Exame, sugerindo, pois, uma mudança de paradigma. Em outros termos, o ENEM passou a ser uma forma de seleção unificada nos processos seletivos das universidades públicas federais. A proposta deste Novo ENEM teve como principais finalidades tornar democráticas as oportunidades de entrada ás vagas federais de educação superior, possibilitar a mobilidade acadêmica e conduzir a reestruturação dos currículos do ensino médio. O primeiro efeito que se buscou com a unificação do Exame foi aumentar a mobilidade de alunos nas diversas regiões do país. (MEC, 2009). A matriz referencial mudou, passando a verificar quatro competências e 30 habilidades. À vista dessa alteração a proposta foi reformular as questões para que elas passassem a ser um meio-termo entre o vestibular tradicional (que prioriza conceitos acadêmicos) e o antigo ENEM (que continha questões prioritariamente voltadas para o cotidiano). Na prática, o ENEM passou a contar com 180 questões contra 63 do modelo antigo e manteve a redação. Essas mudanças na confecção da prova visaram estabelecer diferenciações entre os alunos altamente qualificados. A principal característica do Novo ENEM é a perda de caráter avaliativo, ou seja, o INEP já não realiza o Relatório Pedagógico ou envia para as escolas o Boletim de Resultados da Escola, que eram documentos base e influenciadores para estimular uma melhora do sistema de educação básica no Brasil. As provas do ENEM no decênio 1998/2008 foram estruturadas a partir de uma matriz de 21 habilidades, em que cada uma dessas habilidades era avaliada por três questões. Assim, a parte objetiva, ou seja, múltipla escolha, até 2008 era composta por 63 itens interdisciplinares. A partir de 2009, segundo o INEP, o novo ENEM passou estruturado por quatro matrizes, sendo uma para cada área do conhecimento, a saber: 20 Linguagens; Códigos e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e suas Tecnologias. Atualmente, cada uma das quatro áreas é composta por 45 questões, o que resulta no total de 180 questões a cada edição do Exame. Na época da transição do novo ENEM, o então Ministro da Educação, Fernando Haddad considerava o novo modelo de exame como uma forma de organizar o currículo do ensino médio, além de ser um instrumento para avaliação do desenvolvimento das instituições de ensino médio. Porém há algumas críticas quanto ao discurso do ex-ministro. Segundo Carneiro, os papeis se invertem e as exigências dentro de sala de aula e nas práticas cotidianas se adaptem de acordo com os resultados obtidos nos exames. Dessa forma, vêm sendo atribuídas novas responsabilidades aos professores para a reversão de um possível resultado negativo de seus alunos, não levando em consideração o fato de o ENEM ser uma avaliação centralizada nacionalmente, e que desconsidera as diferenças regionais, o contexto e a realidade de cada escola, bem como as diferentes condições de trabalho em cada uma delas. A fala do presidente do INEP testifica esse dado quando afirma que “assim como todos os outros indicadores sociais e econômicos, o desenvolvimento da região também vai se refletir na educação.” Por se tratar de uma política da avaliação, o ENEM avalia a todos igualitariamente, desconsiderando o contexto educacional e o fato de que nem todos têm acesso a uma educação de qualidade. Em 2009, de acordo os dados disponibilizados pelo INEP, por escola, sobre o desempenho no predito exame, observou-se que das 50 escolas que obtiveram melhor pontuação, 19 estão situadas no Rio de janeiro e 10 em São Paulo e 41 são escolas particulares; já entre as 50 com o desempenho mais baixo do Brasil, estão escolas localizadas principalmente nas regiões Norte e Nordeste do país. Em oposição, a relação das mil escolas com o pior desempenho no ENEM 2009 é constituída, sobretudo, por escolas estaduais, num total de 979, além de 18 escolas municipais e 03 privadas (sendo 02 rurais). As médias dessas escolas oscilaram entre 249,25 a 461,45, resultado a partir do qual pode se efetuar diferentes tipos de análises de natureza política, social, econômica e cultural, manifesta na explicitação desses números. A presente pesquisa problematiza a maneira como essas diferentes naturezas podem interferir nos resultados obtidos pelos estudantes e como o contexto social, econômico e cultural podem vir afetar o desempenho dos mesmos. 21 3 JUSTIFICATIVA A pesquisa possui como eixo norteador a influência do contexto sociocultural e o acesso do jovem ao ensino superior por meio do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). A relevância dessa pesquisa está relacionada a necessidade de estudos sobre a temática da juventude, e sobretudo, análises especificas que tratem questões que associem juventude escolas públicas e escolhas. Nesse sentido, ao tratar o tema sobre o que os estudantes oriundos de escolas públicas e particulares de belo Horizonte apontam como fatores elementares para inserção da jornada acadêmica, profissionalização adequada e formação humana eficiente, busca-se iluminar pontos relevantes necessários para a formação numa perspectiva cidadã. 22 4 PERGUNTA DE PESQUISA Considerando as especificidades de cada regional da capital mineira, nosso problema emerge na forma da pergunta: “Como o contexto socioeconômico influencia na opção por realizar ou não, o ENEM e a escolha da profissão?”. Nossa hipótese é que o impacto da família desde a alfabetização interfere consideravelmente na trajetória escolar dos indivíduos, não há como desassociar os contextos dos sujeitos de seus percursos escolares, sendo assim, é válido considerar que as condições financeiras, a localização geográfica, a escola e seus atores são fatores determinantes para o sucesso ou fracasso no que diz respeito às escolhas acadêmicas dos estudantes. 23 5 OBJETIVO GERAL Essa pesquisa objetiva analisar como os contextos sociais, culturais, econômicos e familiares interferem no desejo de iniciar um curso superior e no desempenho dos alunos nos exames. 5.1 Objetivos Específicos Como objetivos específicosbusca-se: Verificar quais são as expectativas dos alunos em relação ao ENEM e o ingresso na universidade; Observar o papel do professor e demais funcionários das escolas em relação à preparação para o ENEM; Observar a influência da família na perspectiva de formação na modalidade de ensino superior; Analisar os recursos disponíveis para os alunos e escolas de cada contexto (material didático, computador, internet, transporte, trabalho, idioma, entre outros). 24 6 PERCURSO METODOLÓGICO 6.1 Tipo de pesquisa Para a realização da pesquisa em pauta, buscou-se desenvolver um compilado de estudos teóricos que versam sobre conceitos básicos relacionados à discussão proposta, quais sejam: juventude, juventude e trabalho, políticas públicas para a juventude, o Exame Nacional Do Ensino Médio e a representação do jovem neste exame. Dada à natureza do trabalho, buscou-se enfocar apenas em questões basilares para a contextualização da temática eleita para a pesquisa. Assim, foi construído um arcabouço teórico que serviu como referencial para criação do questionário utilizado na pesquisa de campo. A pesquisa de campo consistiu na aplicação de um questionário, a partir do próprio compilado de perguntas do ENEM, que, posteriormente, foram aplicados em 5 escolas públicas e 1 escola particular localizadas nem diferentes regiões do município de Belo Horizonte. As turmas selecionadas para a realização da pesquisa foram do terceiro ano do Ensino Médio, justamente porque esses estudantes fazem parte do grupo aspirante às vagas universitárias no país. O principal intuito do questionário foi observar se as condições socioeconômicas podem afetar nas escolhas dos cursos que esses estudantes desejam ingressar. Portanto, foi analisada a opinião dos discentes a respeito do contexto social familiar, em que eles estão inseridos, e se acham adequado o ensino que receberam na escola para disputar vagas nos cursos pretendidos por meio do ENEM. Posteriormente, os dados foram compilados em tabelas e analisados à luz do referencial teórico. 25 6.2 Natureza da Pesquisa A pesquisa empregada neste estudo foi a Quali-quantitativa. A escolha pela pesquisa quantitativa justifica-se por permitir extrair informações relevantes a partir de uma grande quantidade de dados. Já em relação à abordagem qualitativa, justifica-se por trabalhar com questões que não podem ser mensuradas, pois as bases são crenças, valores e outras questões subjetivas. Sendo assim, Ensslin e Viana (2008), alertam que a pesquisa de base quali-quantitavia nos permite explorar melhor as questões pouco estruturadas, os territórios ainda pouco explorados e questões que se relacionam aos atores, seus processos e seus contextos. 6.3 Métodos de procedimento O procedimento empreendido, nesta pesquisa, deu-se de maneira interpretativa e reflexiva, analisando a fala dos sujeitos participantes e, posteriormente, utilizou-se o método de tabulação dos dados encontrados para sistematizar os procedimentos, criando critérios de avaliação. 6.4 Técnicas de pesquisa A coleta dos dados foi obtida por meio de aplicação de questionários elaborado a partir de questões contidas no questionário primário do próprio ENEM, buscou-se fazer uma avaliação sistemática dos perfis dos alunos ingressantes das universidades na cidade de Belo Horizonte -MG, isso porque o questionário investiga se o perfil socioeconômico irá influenciar os estudantes no momento de optarem por um determinado curso e não outro. Feito a compilação dos dados encontrados, procurou-se interpretá-los a partir do arcabouço teórico construído inicialmente, na tentativa de compreender como essas questões socioeconômicas influenciam no momento da escolha da profissão de formação. 26 6.5 Delimitação do universo A pesquisa foi realizada com cerca de 63 estudantes da rede pública e particular do município de Belo Horizonte, já o número de instituições participantes foi 6 escolas, e os questionários foram respondidos por estudantes concluintes do terceiro ano do Ensino Médio durante os meses de Maio a Agosto de 2016. 27 7 APRESENTANDO OS RESULTADOS DA PESQUISA O presente capítulo trata da apresentação dos dados e discussão dos resultados, coletados a partir de questionários aplicados no terceiro ano do ensino médio de escolas públicas de diferentes regiões de Belo Horizonte e uma escola particular da região de Venda Nova. Como o objeto de estudo dessa pesquisa seria o ENEM e sua relação quanto a preparação do jovem do ensino médio para enfrentar o exame, decidimos basear nossas perguntas em questões do próprio questionário pedido para realização do exame, definindo quais perguntas eram de maior relevância para realização do presente estudo. Uma vez escolhidas as perguntas e montados os questionários, partimos para a aplicação nas escolas. Os primeiros contatos, de forma geral, foram feitos por telefone e os representantes das escolas, diretores ou vice-diretores, autorizavam ou não nossa ida à instituição de ensino. Nas escolas públicas foram poucos os fatores que impediam o estudo de ser realizado, porém pôde ser notado pouco interesse na realização da pesquisa, uma vez que, estando a visita à escola marcada, na maioria das vezes os representantes não se recordavam e precisavam interromper as aulas dos professores para que a aplicação do questionário fosse realizada, causando constrangimento de ambas as partes, tanto professores quanto pesquisadores. Nas escolas particulares, por sua vez, não foi permitida a aplicação da pesquisa pelo pesquisador, não sendo permitida nem mesmo sua entrada na sala de aula para poder realizar o estudo. O questionário foi aplicado pelo coordenador do terceiro ano, impossibilitando um maior contato com esse aluno e com o contexto em que está inserido. Os alunos se mostraram dispostos a contribuir com a pesquisa, e em sua maioria mostravam interesse no que estava sendo proposto. Ao longo da aplicação, se ouvia comentários em relação ao futuro, aqueles que tinham convicção de qual carreira seguir, e aqueles que paravam e refletiam sobre o que queriam para suas vidas. Pôde-se notar também um alto nível crítico quanto à qualidade da educação oferecida na instituição. Em certo momento, uma das afirmações de uma determinada aluna ao entregar a pesquisa respondida foi: “Que esse estudo que vocês estão fazendo sirva para melhorar nossa educação”. (Aluno X) 28 Tal afirmação mostra a capacidade desses alunos de compreenderem que tipo de formação lhes foi oferecida e a consciência de que se sentem preparados ou não para enfrentar o mundo após o ensino médio, questão que será analisada mais adiante nesse estudo. As questões iniciais do questionário foram elaboradas de forma a conhecer quem são esses sujeitos e como o contexto socioeconômico influência a opção pela realização ou não do ENEM e a opção pelo curso escolhido. Compreende-se que a trajetória escolar e a trajetória pessoal emergem como fenômenos imbricados e por vezes indissociáveis. pode ser definida por Bourdieu apud Silva (1995), como “capital cultural”, uma estratégia que o autor utiliza para explicar as relações de classe na sociedade. O capital cultural é mais do que uma subcultura de classe; é tido como um recurso de poder que equivale e se destaca - no duplo sentido de se separar e de ter uma relevância especial - de outros recursos, especialmente, e tendo como referência básica, os recursos econômicos. Daí o termo capital associado ao termo cultura; uma analogia ao poder e ao aspecto utilitário relacionado à posse de determinadas informações, aos gostos e atividades culturais. Além do capitalcultural existiriam as outras formas básicas de capital: o capital econômico, o capital social (os contatos) e o capital simbólico (o prestígio) que juntos formam as classes sociais ou o espaço multidimensional das formas de poder (SILVA, 1995). A partir dessa ótica, é possível analisar a postura muitas vezes hegemônica do ambiente escolar. Na perspectiva de Bordieu, as relações de poder estão tão impregnadas nas estruturas do sistema educacional, que a escola reproduz as desigualdades sociais que existem fora dela. Um meio da legitimação da distinção de classes se dá pelo currículo. Ou seja, os indivíduos “dominantes” tentam a todo custo manter sua posição enquanto privilegiados, apresentando a própria cultura como superior às demais. Um exemplo, seria a supremacia do discurso formal em detrimento do discurso coloquial a qual os indivíduos oriundos das camadas populares estão expostos. No livro Linguagem e Escola: uma perspectiva social, Magda Soares aponta para o fato de que a distância entre a linguagem utilizada no seio familiar e a linguagem utilizada pela escola podem determinar ou o sucesso, ou o fracasso escolar. A autora trabalha com a teoria de deficiência linguística. Na lógica dessa teoria, os alunos não são individualmente responsáveis pelo fracasso escolar, mas tem o percurso na escola favorecido ou prejudicado pelo ambiente em que vivem. 29 Segundo a teoria do déficit linguístico, o principal problema estaria na linguagem deficiente – no código restrito – usada pelos alunos oriundos das classes trabalhadoras. Essa linguagem se caracterizaria pelo vocabulário pobre, pela sintaxe confusa, por abundantes erros de concordância e pronúncia etc. As crianças deficitárias linguisticamente enfrentariam, assim, um grande obstáculo à aprendizagem escolar e esse déficit estaria na origem dos problemas da educação popular. Desse modo, enganado seria dizer que Wesley repete o ano porque é desleixado ou inapto para o estudo. O correto seria dizer, que Wesley enfrenta dificuldades maiores porque, sendo pobre, não tem em sua família acesso aos mesmos recursos culturais e linguísticos que tem João Pedro, aluno de classe média. De acordo com Bernstein, no exemplo acima, Wesley usa um código restrito, ao passo que João Pedro usa um código elaborado. Em conjunto, os dados informam que diversos fatores interferem nas escolhas dos sujeitos, tais como, modos de vida, a cultura, vivências, experiências, economia doméstica, entre outros interferem no processo de escolha de suas trajetórias profissionais. Os gráficos a seguir buscam demonstrar esses impactos. O primeiro gráfico, mostra o perfil dos estudantes a partir do gênero. Observa-se que as mulheres estão em maior número que os homens. GRAFICO1 - Qual é o seu sexo? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. De acordo com o gráfico, 73% dos entrevistados são meninas que cursam o ensino médio e que pretendem cursar o ensino superior. Como aponta a análise do Exame Nacional do Ensino Médio em edições anteriores, a participação feminina vem crescendo exponencialmente. A análise do ENEM de 2005 aponta que Na análise da composição dos inscritos e participantes no ENEM 2005 por sexo, o aspecto que mais salta aos olhos é a preponderância feminina, o que confirma o acentuado processo de feminilização em curso no sistema educacional brasileiro. De fato, a participação das mulheres na matrícula cresce à medida que avançam nas séries do ensino fundamental, tornando-se 30 majoritária a partir da 5a série e ampliando a vantagem no ensino médio e no ensino superior, onde já representam mais de 60%. O ENEM 2005 reflete esta tendência: entre os inscritos, as mulheres são 61,7%, percentual que cresce para 62,2% entre os participantes. Os homens representam 38,3% e 37,8%, respectivamente. O contraste pode ser estabelecido em números absolutos: dos 2.199.637 que compareceram à parte objetiva da prova, 1.368.830 eram mulheres e 830.732, homens. Ou seja, a superioridade feminina chega a mais de meio milhão de participantes. (INEP, p.23, 2005). Segundo o Inep, o número de mulheres que ingressam no ensino superior supera o de homens. Esses dados apontam o espaço conquistado pela mulher ao longo dos anos, chegando a conclusão do ensino médio e consequentemente sua entrada na universidade. Dos entrevistados, 76,2% tem 17 anos de idade; 17,5% tem entre 19 e 25 anos e apenas 6,3% tem menos que 17 anos. GRÁFICO 2 - Qual é a sua idade? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. Sobre a religião dos alunos, a maioria deles se autodeclaram católicos com 39,7%; 19% declararam que não possuem religião, 17,5% declararam ter outra religião não descrita no formulário, 15,9% se dizem protestantes e 7,9% se declaram espírita. 31 GRÁFICO 3 - Qual é a sua religião? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. A grande maioria dos estudantes são solteiros, 98,4% e apenas 1,6% se declara casado. 90,3% deles vivem em casa ou apartamento com a família; 1,6% declararam que vivem em casa ou apartamento sozinhos; 1,6% vivem em hotel, pensionato ou república e 6,5% afirmaram que vivem em outra situação não descrita no formulário. GRÁFICO 4 - Qual seu estado civil? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. 32 GRÁFICO 5 - Onde e como você mora atualmente? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. Ao serem perguntados com quem moram os entrevistados, 85,7% responderam que vivem com a mãe, somando os que vivem com o pai e a mãe juntos e os que declararam que viviam apenas com a mãe e outros membros da família; 52,4% vivem com os pais; 54% vivem com outros irmãos; 4,8% declararam viver com outros parentes; 7,9% vivem em outra situação que não foi descrita no questionário, 1,6% declararam casados; 1,6% declararam ter filhos. Quanto ao grau de instrução dos pais, analisemos os gráficos: GRÁFICO 6 - Até quando seu pai estudou? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. 33 GRÁFICO 7 - Até quando sua mãe estudou? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. Os gráficos apresentados indicam respectivamente, o nível de instrução dos pais e das mães dos alunos entrevistados. Pode-se notar que as mães tem conseguido avançar com seus estudos mais do que os pais. 24,2% delas possuem ensino médio completo em relação aos 22,2% dos homens. As mulheres ultrapassram também no nível superior com 25,8% delas com nível superior completo, já os homens, 14, 3% deles completaram o nível superior. As mulheres também ultrapassam no ensino fundamental com 19,4% que terminaram o ensino fundamental em relação a 15,9% dos pais. Quanto a função que os pais exercem, tantos os pais quanto as mães trabalham predominantemente na categoria comércio, banco, transporte, hotelaria ou outros. São 38,1% para os pais e 33,3% para as mães. Em relação a renda familiar, 47,6% declararam que a família recebe em média de 2 a 5 salários mínimos por mês. GRÁFICO 8 - Somando a sua renda com a renda das pessoas que moram com você, quanto é, aproximadamente, a renda familiar? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. Quando perguntado quantos deles gostariam de fazer o ENEM, 95,2% dos estudantes responderam que sim e apenas 4,8% não irão fazer o exame. 34 GRÁFICO 9 - Você gostaria de fazer o ENEM? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. Pode se notar aqui o interesse da grande maioria dos alunos em realizar o exame por diversas razões. Como veremos mais adiante, a maioria deles fará o ENEM para entrar na universidade, e um incentivo para que isso ocorra é o aumento das políticas públicas por de meio de programas como FIES, ProUni e Sisu. Outro interresse em realizar o exame é a chance que esse estudantes tem de conseguir um emprego com renda maior e mudar a sua situaçãofinanceira. A questão de número 16 do questionário interroga porquê o aluno gostaria de fazer o ENEM. Verifiquemos o gráfico abaixo: GRÁFICO 10 - Porque você gostaria de fazer o ENEM? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. Como podemos perceber 74,6% dos entrevistados se submeterá ao exame para entrar na faculdade, 15,9% para entrar no mercado de trabalho e apenas 4,8% para testar os conhecimentos. Essa demanda é compatível com o novo formato do ENEM, que segundo o próprio Inep, não tem mais o objetivo único avaliar o desempenho do estudante no final de sua carreira na Educação Básica, mas também funciona como 35 mecanismo de seleção para ingresso no Ensino Superior. Podemos analisar esses resultados a partir de vários prismas, mas considerando o momento atual, vale questionar se o modelo educacional vigente não tem servido para promoção do tecnicismo, preparando os estudantes apenas para o mercado de trabalho. Se por um lado, há uma corrente ideológica que defende que cumpre à Educação organizar o processo de aquisição de habilidades, de conhecimentos específicos para que os sujeitos possam se integrar, na máquina do sistema social global. (LUCKEZI, 1994). Nessa perspectiva, a escola teria um papel de levar os educandos ao desenvolvimento dessas habilidades e a descoberta do seu potencial transformador. Outra linha de pensamento defende que “a escola tradicional foi instituída para combater a ignorância, não tendo cumprido seu papel.” (SAVIANI, 2001). Essa dicotomia nos leva a refletir sobre a relevância da escola para os estudantes. Se a escola serve apenas para conduzir os alunos a uma universidade e consequentemente ao mercado de trabalho, será que a mesma faz sentido para os educandos? Refletir sobre essa questão nos leva a vários caminhos, inclusive, analisar a evasão no Ensino Médio, principalmente da parte dos estudantes do sexo masculino. (Como vimos anteriormente, 73% dos alunos entrevistados são do sexo feminino.). O próximo tópico da entrevista nos remete à questão do trabalho. Perguntamos se os estudantes desenvolvem ou desenvolveram atividade remunerada durante os estudos. 41% dos alunos responderam que não tinham/tem jornada fixa, ou tem jornada inferior a 10 horas semanais. 25,6% disseram cumprem jornadas de 11 a 20 horas semanais, enquanto 20,5% cumprem jornada de 21 a 30 horas semanais. Quando questionados sobre a finalidade de associar trabalho e estudo, 32,2% disseram que objetivavam independência, 13,6% aspiravam adquirir experiência e 11,9% dos estudantes responderam que trabalhavam para ajudar com as despesas de casa. Os jovens não têm igualitariamente a mesma relação com o trabalho. A inserção no mundo do trabalho se dá por motivos distintos e a relação com o mesmo é individual. Podemos observar no gráfico abaixo: 36 GRÁFICO 11 - Você trabalhou ou teve alguma atividade remunerada durante seus estudos? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. GRÁFICO 12 - Com que finalidade você trabalhava enquanto estudava? Fonte: Dados da pesquisa, 2016. A maioria dos estudantes afirma que conciliam trabalho e estudo com o objetivo de ser independentes e ganhar o próprio dinheiro. A segunda resposta mais votada, foi a combinação de ocupação e escola para adquirir experiência. Para Geraldo Leão, “o período da juventude é um tempo de preparação, quando, em geral, as primeiras experiências se dão através de estágios e cursos de formação profissional.” De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), para o grupo de 15 a 19 anos, a taxa de desemprego passou de 13% para 23% entre 1995 e 2004, enquanto, para os jovens entre 20 e 24 anos saltou de 10% para perto de 16% (CARDOSO & GONZÁLEZ, 2007, p. 30). Deve-se ressaltar que esta taxa de desemprego só não está ainda maior, porque, entre outras razões, os jovens têm progressivamente adiado a sua entrada no 37 mercado de trabalho, em particular aqueles com 15 a 19 anos. Isto é expresso pelo fato de a taxa de participação dos jovens estar caindo, e caindo mais do que a de outras faixas etárias: para a faixa entre 15 e 19 anos, a queda foi de 57% para 49% entre 1995 e 2004 e, para o grupo entre 20 e 24 anos, permaneceu praticamente estável (em torno de 76%). [...] Em alguma medida, isso é consequência de o mercado ter ficado mais exigente do ponto de vista da qualificação, o que faz com que os jovens busquem se qualificar mais, mesmo quando já estão trabalhando (CARDOSO & GONZÁLEZ, 2007, p. 31). As exigências do mundo do trabalho e expectativas em relação do futuro por vezes levam os adolescentes a adiarem um trabalho remunerado em função da oportunidade de adquirir experiência, levando ao contentamento com bolsas de cursos profissionalizantes, visando suprir as exigências mercadológicas. Muitas vezes a entrada precoce no mercado de trabalho é a única solução para os jovens oriundos das famílias de baixa renda. Sendo assim, aliar trabalho e estudo não é uma opção, mas possibilidade de sobrevivência. A próxima questão traz uma reflexão sobre o conteúdo explorado no ensino médio. GRÁFICO 13 - Selecione o item ou os itens que consideram como conhecimentos adquiridos no ensino médio Fonte: Dados da pesquisa, 2016. 86,2% dos estudantes consideraram que o conhecimento adquirido no Ensino Médio proporcionou cultura e conhecimento. Isso significa que os mesmos jovens que muitas vezes não reconhecem o sentido da escola, atribuem significado ao ensino. Para alguns jovens alunos, a escola representa uma obrigação imposta pelos pais ou pela sociedade. Para outros, estudar está diretamente relacionado à sua inserção no mercado de trabalho. Assim traçam planos para o futuro profissional e esperam que a escola contribua para sua mobilidade social. Outros valorizam a escola do ponto de vista dos aprendizados que ela 38 proporciona para a vida. [...] Não existe processo educativo sem sujeitos concretos, com suas práticas, experiências, valores e saberes. A tarefa da escola é construir um vínculo entre a identidade juvenil e a experiência de ser aluno. 7 A maioria dos entrevistados cursou o ensino fundamental e médio em escola pública. Quase metade dos alunos e teve oportunidade de iniciar os estudos em um segundo idioma (43,1%) *esse dado não representa continuidade e cursinho preparatório para o vestibular (41,2%). Durante a aplicação dos questionários, alguns estudantes revelaram que a escola foi responsável pelo encaminhamento dos mesmos para atividades fora do ambiente escolar, como cursos e atendimentos. Evidenciando que o papel da escola não se resume só a escolarização e ensino formal. Ela pode ser um importante espaço de socialização e promoção de oportunidades. [...] para a classe trabalhadora a "educação é, antes de mais nada, desenvolvimento de potencialidades e apropriação de ‘saber social’ (conjunto de conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que são produzidos pelas classes, em uma situação histórica dada de relações, para dar conta de seus interesses e necessidades)" (GRYZYBOWSKI apud FRIGOTTO, 1998, p. 26), objetivando a formação integral do homem, ou seja, o desenvolvimento físico, político, social, cultural, filosófico, profissional, afetivo, entre outros. Nessa ótica, a concepção de educação que estamos preconizando fundamenta-se numa perspectiva crítica que conceba o homem na sua totalidade, enquanto ser constituído pelo biológico, material, afetivo, estético e lúdico. Portanto, no desenvolvimento das práticas educacionais, precisamos ter em mente que os sujeitos dos processos educativos são os homens e suas múltiplas e históricas necessidades. A motivação para participação em atividades extracurriculares, como aprendizado de uma segunda língua, ou cursos profissionalizantes, pode estardiretamente ligada a questões intrísecas de cada família. Por exemplo, se no ambiente familiar o indivíduo recebeu noções de valorização de pro atividade, estímulo e exemplo de leitores assíduos, provavelmente a familiaridade com essas questões tornará mais fácil a opção pela inserção em atividades para além do conteúdo escolar básico. Nogueira (2006) ressalta que: Os pais tornam-se, assim, os responsáveis pelos êxitos e fracassos (escolares, profissionais) dos filhos, tomando para si a tarefa de instalá-los da melhor forma possível na sociedade. Para isso, mobilizam um conjunto de estratégias visando elevar ao máximo a competitividade e as chances de sucesso do filho, sobretudo face ao sistema escolar – o qual, por sua vez, ganha importância crescente como instância de legitimação individual e de definição dos destinos ocupacionais. (p.161, 2006) Nessa perspectiva, o hábito dos pais pode influenciar os filhos. Segundo Brito (2010): 39 [...] a leitura não se constitui em um ato solitário, nem em atividades individuais, o leitor é sempre parte de um grupo social, certamente carregará para esse grupo elementos de sua leitura, do mesmo modo que a leitura trará vivências oriundas do social, de sua experiência prévia e individual do mundo e da vida. Considerando a experiência social da leitura, ou seja, que o contato estabelecido com o material de leitura não é neutro, é condicionado pelo histórico do leitor. A próxima questão levantada pelo formulário busca analisar a relação dos estudantes dom diferentes materiais de leitura. A maioria dos alunos entrevistados respondeu que lê frequentemente algum tipo de material impresso como revistas gerais, jornais, romances, etc. A grande maioria (46,4%), no entanto, respondeu que a relação com a informação se dá por meio das novas tecnologias como tablets, computadores e smatphones. Essa constatação nos remete a uma outra questão: qual tem sido a relação da escola com as novas tecnologias? Em uma questão anterior, observamos que a maioria dos estudantes (77,8%) tem 3 ou mais celulares por família, sendo que a média de membros por família é de 3 a 4 pessoas (dado levantado na questão 7), sendo assim, concluímos que na maior parte das famílias cada membro tem seu próprio celular. Esse dado inclui os protagonistas da nossa pesquisa. Vale refletir se a escola tem dado conta dessa demanda e dialogado com essa nova geração, no sentido de incluir as tecnologias no processo de ensino/aprendizagem. A próxima questão, convida o estudante para refletir sobre a realidade da escola que realizou ensino médio para cada item deve-se seleciona 01 para "Insuficiente a regular", 02 para "Regular a bom" e 03 para "Bom a Excelente". A análise será feita de modo separado: 40 GRÁFICO 14 - O conhecimento que os (as) professores (as) têm das matérias e a maneira de transmiti-lo Fonte: Dados da pesquisa, 2016. GRÁFICO 15 - A dedicação dos (as) professores (as) para preparar aulas e atender aos (as) estudantes Fonte: Dados da pesquisa, 2016. Nos dois quadros podemos perceber que os estudantes se mostraram satisfeitos em relação ao desempenho dos professores. O trabalho do professor nunca é unidirecional. A relação professor X aluno passa pelas trilhas da afetividade. O aspecto afetividade influi no processo de aprendizagem e o facilita, pois nos momentos informais, os alunos aproximam-se do professor, trocando idéias e experiências várias, expressando opiniões e criando situações para, posteriormente, serem utilizadas em sala de aula. O relacionamento baseado na afetividade 2 é, portanto, um relacionamento produtivo auxiliando professores e alunos na construção do conhecimento e tornando a ambos se conheçam, se entendam e se descubram como seres humanos e possam crescer. Educar, do latim educare, é conduzir de um estado a outro, é 41 modificar numa certa direção o que é suscetível de educação, conforme é explicado por LIBÂNEO: “o ato pedagógico pode ser, então definido como uma atividade sistemática de interação entre seres sociais tanto no nível do intrapessoal como no nível de influência do meio, interação esta que se configura numa ação exercida sobre os sujeitos ou grupos de sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes que os tornem elementos ativos desta própria ação exercida. Presume-se aí, a interligação de três elementos: um agente (alguém, um grupo, etc.), uma mensagem transmitida (conteúdos, métodos, habilidades) e um educando (aluno, grupo de alunos, uma geração) (...)”1994 p.56. A partir dessas observações, conclui-se que o trabalho do professor vai além da formação conteudista, mas articula-se com a formação de competências humanas e sociais e por vezes tem impacto superior ao percebido na rotina escolar. GRÁFICO 16 - As iniciativas da escola pra realizar excursões, passeios culturas, estudos do meio ambiente Fonte: Dados da pesquisa, 2016. Mais da metade dos estudantes considera ineficazes as iniciativas da escola para mobilizar ações que vão além da rotina. As próximas questões analisam aspectos estruturais da escola. 42 GRÁFICO 17 - A biblioteca da escola Fonte: Dados da pesquisa, 2016. GRÁFICO 18 - As condições das salas de aula Fonte: Dados da pesquisa, 2016. GRÁFICO 19 - As condições dos laboratórios Fonte Dados da pesquisa, 2016. 43 Sabe-se que a escola pública tem passado por um sucateamento em sua estrutura física e esse fenômeno está claro para a maioria dos alunos. Os mesmos se mostram insatisfeitos com as condições físicas das escolas. E as respostas dos formulários revelam que as escolas estão distantes da infraestrutura próxima da ideal para acolher os estudantes. Baseado nesse resultado, podemos indagar se a educação de qualidade pode ser garantida num espaço desprovido de condições materiais básicas para p êxito do processo de ensino/aprendizagem. Para Karino e Neto (2013). [...] muitos equipamentos escolares não podem ser disponibilizados devido aos custos. Para esses casos, soluções viáveis economicamente devem ser buscadas. Não se trata somente de comprar equipamentos; prover condições de infraestrutura envolve condições físicas como energia e água, além de condições de uso e manutenção dos equipamentos. Outra questão que vale a pena ser considerada é a percepção dos alunos sobre as condições das bibliotecas escolares. 37,7% consideram que os espaços de leitura, pesquisa e empréstimos de livros são insuficientes a regulares. GRÁFICO 20 - Acesso a computadores e outros recursos de informática Fonte: Dados da pesquisa, 2016. A maior parte dos alunos entrevistados considera que o acesso aos computadores e recursos de informática na escola não é bom. Em parte isso se dá devido à precariedade da estrutura física da escola. Também é fato que muitos professores não foram formados na era digital, sendo assim, não se sentem preparados para incluir as novas tecnologias no plano de aula. Segundo Shirlei Rezende(2014). 44 Os jovens tem um grau mais elevado de ciborguização do que os docentes. Normalmente, a juventude ciborgue tem mais desenvoltura no ciberespaço do que os professores e isso coloca em xeque a relação de poder e as hierarquias de saber na sala de aula. É Como se a cibercultura ameaçasse o status do docente enquanto exclusivo detentor do conhecimento. Nessa perspectiva, a escola entra em conflito com a cibercultura, atuando de modo a desqualificar ou até mesmo tentar banir suas práticas. GRÁFICO 21 - O interesse dos (das) estudantes Fonte: Dados da pesquisa, 2016. Os mesmos estudantes que se mostraram satisfeitos em relação ao desempenho dos professores, foram enfáticos ao dizer que o próprio desempenho não é satisfatório. 49,2% dos alunos reconheceramque falta interesse em relação aos estudos e a dinâmica da escola. A relação da juventude com a escola, é uma questão que tem sido discutida a tempos em vários contextos diferentes. Segundo DAYRELL (2007). Para os jovens, a escola se mostra distante dos seus interesses, reduzida a um cotidiano enfadonho, com professores que pouco acrescentam à sua formação, tornando-se cada vez mais uma “obrigação” necessária, tendo em vista a necessidade dos diplomas. Parece que assistimos a uma crise da escola na sua relação com a juventude, com professores e jovens se perguntando a que ela se propõe. É preciso portanto que a escola seja ressignificada para que faça sentido para todos os seus atores. Se a lógica da escola não dialoga com a realidade dos alunos, fatalmente a relação escola X aluno resultará em desinteresse de um dos lados e ao analisarmos, percebemos que o desinteresse geralmente acontece por parte dos alunos. Sobre os itens: Trabalho em equipe; Práticas de esporte; Atenção e o respeito dos funcionários e professores; Direção da escola, Organização dos horários; Segurança, Respeito à diversidade, Acessibilidade Atenção às questões ambientais os estudantes avaliaram como regular a bom. 45 GRÁFICO 22 - Sobre as atividades extracurriculares Fonte: Dados da pesquisa, 2016. As mesmas são oferecidas com o intuito de melhorar a formação dos estudantes. As mesmas são oferecidas com o intuito de melhorar a formação dos estudantes. De acordo com pesquisa feita nas diretrizes nacionais e nos parâmetros curriculares, constatamos que não existe uma definição do que seriam atividades extras curriculares ou obrigatoriedade em relação as mesas, ficando a cargo das escolas oportunizarem aos alunos atividades diversificadas. Nas escolas particulares, a oferta por essas atividades acontece como estratégia de marketing. A próxima pergunta do questionário traz outra questão reflexiva: GRÁFICO 23 - “Pensando nos conhecimentos adquiridos no Ensino Médio, como você considera o seu preparo para conseguir um emprego, exercer alguma atividade profissional?” Fonte: Dados da pesquisa, 2016. 46 A grande maioria dos alunos se considera preparado para entrar no mercado de trabalho. Pensar sobre a “dinâmica” do trabalho na vida dos jovens é refletir também sobre a qualidade desse trabalho, sua concepção e filosofia. Será que quando um jovem se diz apto para o mercado, está se referindo a “ganhar a vida” ou desempenhar seu papel enquanto cidadão consciente do impacto de suas ações? Corrochano (2014) afirma que “olhar para a realidade de trabalho dos estudantes do Ensino Médio significa, não apenas indagar sobre seu presente ou seu projeto de inserção no ‘mundo dos empregos’, mas também para outras atividades e relações sociais” 39,7% dos entrevistados se consideraram despreparados para o mercado de trabalho e apontam que esse despreparo está ligado à deficiências do sistema de ensino. 47 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Num momento tão importante no qual passa o país agora, em que se discutem as questões de reforma do ensino médio, não se pode deixar de refletir sobre as transformações e impactos que essas mudanças irão trazer para o cotidiano dos alunos e professores. Com um ensino mais tecnicista, voltado para o mercado de trabalho, com disciplinas humanistas como Sociologia, Filosofia e Artes não sendo obrigatória, esta proposta diminui com as possibilidades de uma formação mais crítica e voltada para construção do individuo em todas as suas dimensões sociais, afetivas, emocionais, culturais entre outros. Mais uma vez a capacidade de fazer suas próprias escolhas e pensar por si mesmo é posta em xeque, uma vez que a educação nesta última etapa da educação básica será voltada para o mundo posterior, “o mundo do trabalho”, colocando o jovem brasileiro mais uma vez como um sujeito que ainda virá a ser, um pré-adulto. As reformas educacionais pautadas pela reforma do Ensino Médio têm se identificado como meios de se padronizar e massificar os setores administrativos e pedagógicos, com uma suposta organização sistêmica e garantia de abranger todos os indivíduos, mas que seu objetivo é a redução dos custos e uma inclinação para a centralização das políticas de avaliação externa e de financiamento, priorizando o padrão voltado para os resultados, em detrimento do processo. Essa pesquisa reflete questões relacionadas ao processo educacional, o que de acordo com as questões selecionadas, valorizamos não só os conteúdos propostos, mas também como se dão as relações professor-aluno, quais os contextos sociais e econômicos os estudantes estão inseridos, entre outros. Entendemos esse aluno como sujeito na construção de seu conhecimento, portanto esse trabalho busca compreender quais são suas aspirações e anseios nessa etapa de encerramento da Educação Básica. Ao finalizar o trabalho, vimos que muitas questões vieram ao encontro de nossas expectativas e outras figuram como surpreendentes. A exemplo, a maioria dos alunos (inclusive os oriundos de escolas públicas) declararam que o Ensino Médio proporcionou cultura e conhecimento e as ofertas de ensino das instituições foram adequadas ao que o mercado de trabalho solicita. 54% dos estudantes avaliaram o Ensino Médio como satisfatório. Esse resultado derrubou uma de nossas hipóteses 48 iniciais de que o currículo das escolas públicas aos olhos dos alunos é pouco competitivo e gera desesperança em relação ao ingresso nas universidades. Outra questão que nos surpreendeu foi a maioria dos alunos declararem que, com base nos conhecimentos adquiridos durante o Ensino Médio, se sentem preparados para entrar no mercado de trabalho. 47% deles afirmaram que estão preparados, e 23,8% disseram que tiveram uma educação de qualidade, porém não foi suficiente para se conseguir um bom emprego. Observamos que os alunos têm expectativas de ingressar no Ensino Superior e principalmente, prestar o ENEM e a maior parte dos estudantes pretende conciliar a vida acadêmica ao mundo do trabalho. Ao analisar os gráficos gerados a partir do retorno dos estudantes, percebemos que grande parte dos entrevistados associa mobilidade social aos estudos e direcionam o conhecimento adquirido no percurso escolar ao mercado de trabalho. Outra questão que surgiu durante o tratamento dos dados foi a relevância da relação saudável entre os atores que atuam no cenário escolar. Um fato que saltou aos nossos olhos foi a relação professor X aluno. A maior parte dos estudantes se mostrou satisfeita com a atuação dos professores, destacou a afetividade no processo de ensino/aprendizagem e o quanto os educadores podem se apresentar como referencias. Apesar do baixo nível de escolaridade de alguns pais, a pesquisa revelou que os mesmos incentivam os estudos dos filhos e os encorajam a avançar até a universidade. A configuração das famílias também corrobora para estimular o desejo de avanço dos estudantes. Apenas 52,4% dos entrevistados tem a figura paterna presente em casa. Grande parte dos entrevistados declarou que almeja alcançar estabilidade financeira, por meio de estudos, para ajudar a família. Em sua maioria, os alunos não estão satisfeitos com os recursos disponíveis e a estrutura física das escolas. Os mesmos apontam que a situação de algumas instituições é insatisfatória. Desse modo, pode-se afirmar que o contexto socioeconômico influencia na escolha dos estudantes de optarem ou não por realizarem o Exame Nacional do Ensino Médio, mas a escola tem surpreendido na sua representação social no sentido de proporcionar aos estudantes possibilidades como os cursos de formação, e estímulo para continuidade nos estudos. 49 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS . ALVES, Maria Zenaide;
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