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RESENHA LIVRO CONTARDO CALLIGARIS - A ADOLESCÊNCIA

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RESENHA DO LIVRO ADOLESCÊNCIA DE CONTARDO CALLIGARIS
Aluna: Daiane Formolo Portinho
“O dever dos jovens é envelhecer. Suma sabedoria. Mas o que acontece quando a aspiração dos adultos é manifestamente a de rejuvenescer?” (CALLIGARIS, p. 74) 
Esta resenha inaugura com o último parágrafo do livro, com a finalidade de a partir da reflexão desta leitura eu possa trazer reflexões e refletir com as demais leituras propostas na disciplina.
O livro “A Adolescência” de Contardo Calligaris, conta o que os jovens modernos atravessam o período da adolescência, como é abandonado a fase da infância e o que os adultos e sociedade esperam deste sujeito como adulto. Ler este livro requer um posicionamento e identificação de onde permeia o olhar de Contardo, em quais adolescentes pode-se pensar de acordo com alguns apontamentos e quais principais inquietudes que marcam o início e o fim dessa de transição vivenciada por todos.
Adolescência como ideal cultural, é marcada pelo interesse e pelo desejo do que representa ser a adolescência, ou seja, atualmente é considerada uma ferramenta de desejos e fantasias, mas mesmo que não sendo compreendido pela população há consequências desse poder. (ROCHA; GARCIA, 2008). 
Conforme Calligaris (2000, p.14-16) quando as crianças chegam aos doze anos já são integrantes da nossa cultura e aprendem que a sociedade preza por dois campos importantes para chegar à felicidade e ao reconhecimento: relações amorosas e o poder. Sendo estas qualidades essenciais para ser desejável e invejável. Contudo, os adultos não permitem a inserção desse adolescente na comunidade, é imposto a moratória, ou seja, amplia-se o período de preparação desse jovem para que estejam aptos às atividades comuns dos adultos.
Esse período ampliado pela imposição dos adultos, acaba deixando os jovens confusos e sem um direcionamento concreto. Durante esta transformação intensa da adolescência, muitas vezes é solicitado aos adolescentes uma independência, ou seja, saber fazer certas atividades sozinhos e depois impedir a sua evolução natural que está sendo alcançada, o que acarreta o surgimento de mais angústias e uma confusão de sentimentos.
No período da adolescência o sujeito vive o impedimento de se realizar através do corpo que está pronto. Não se tornam reconhecidos, não estão prontos para atingir a maturidade. Então, os jovens passam a viver uma privação, que ao ponto de vista de do autor, trará para este período certa inquietude. A maturação do adolescente em nossa cultura é reprimida. (CALLIGARIS, 2000, p. 17).
Em nossa cultura, conforme entendimento conduzido através das leituras propostas, a sociedade costuma instigar o adolescente a se tornar independente. Este jovem, por sua vez, se torna um sujeito reconhecido como adulto quando pode se afirmar como independente e autônomos, como os adultos afirmam ser. Mas, os adolescentes estão tendo espaço e oportunidade para se tornarem independentes conforme as instruções que recebem? De fato, esse é o desejo dos adultos?
O início da adolescência tem como marco as mudanças fisiológicas e esse período é marcado pela puberdade. Onde os jovens adquirem as funções e atributos do corpo dos adultos. (CALLIGARIS, 2000, p.19). Como diz Aberastury (1983, p.17), é difícil para o adulto aceitar a maturação da criança, isto leva o adulto a qualificar como uma idade difícil, muitas vezes esquecendo que é um período difícil para ambos.
O problema central desse período trazido por Calligaris (2000, p.20) e pelos demais autores que trabalhamos até o momento, é quando termina a adolescência? Como se sair da adolescência? O que é preciso provar para os adultos que já estão preparados para essa nova “fase”? 
Além disto, Calligaris (2000) nos desvela que esse sujeito é alguém que esbarra por uma moratória injusta, onde tem os deveres impostos pela sociedade, ou seja, os adolescentes devem ser pessoas felizes, os adultos idealizam este período de vida. Quem nunca escutou: por que ele está quieto? Ele tem tudo? O que mais ele quer da vida? Vai trabalhar, já está bem grandinho (mas isso só para trabalhar).
A adolescência também é marcada por insegurança, uma vez que, perde-se a graça da criança, o espelho é capaz de mostrar a criança que se foi e o adulto que ainda não chegou. (CALLIGARIS, 2000, p.25). Então, muitos sentimentos rondam essa imagem refletida, gerando autoestima ou baixa, depressão e tentativas de suicídio. 
A insegurança vivida pelos adolescentes é configurada pelas mudanças físicas e emocionais, onde vive-se um período de separação, perda do olhar carinhoso que recebia durante a infância e se manifesta pela insegurança ao olhar dos outros, causa timidez para uns ou manifestações estrondosas em outros casos, ou seja, busca o desconhecido temido, mas desejado. (MACEDO; GOBBI; WASCHBURGER, 2010). 
Atualmente esse período de satisfação pelo corpo e pelas mudanças têm se iniciado na infância, onde vários fatores psicopatológicos vêm surgindo nos últimos anos, tais quais surgem pela imagem vendida nos corpos perfeitos das bonecas e super heróis, nas redes sociais e nas propagandas. (FERREIRA et al., 2014).
A insegurança e incerteza sobre o que esperam dos adolescentes, faz este se questionar e tentar interpretar o que os adultos esperam deles, ou seja, uma tentativa de reconquistar aquele olhar que era recebido na infância. Os adultos não sabem o que querem e se contradizem, em certos momentos querem que as crianças continuem subordinadas ainda a eles e aqui se liga um sentimento vivido pelos adultos: se ele crescer estou envelhecendo, consequentemente chegando mais próximo à morte. (CALLIGARIS, 2000, p.26)
Assisti um diálogo no café filosófico que tratava de carreira e colaboração, onde os palestrantes diziam que muitos adultos chegam a uma certa idade e querem trocar o que escolheram e ficam se punindo por causa que a sociedade espera outra coisa de você. Logo, comecei a refletir que, é muito provável que este sentimento tenha sido fortalecido durante a adolescência e talvez as escolhas destas pessoas foi muito mais pelo o que a sociedade estava impondo, “sucesso” que deveriam atingir, do que esperavam por você e consequentemente para ser aceito como par dos adultos, seguiu os desejos dos adultos. Porém, agora está surgindo o arrependimento e a escolha pela mudança, o que coloca muitas vezes a idealização de pertencer-se aquele mundo dos adolescentes.
Calligaris (2000) traz a ideia de que os adolescentes buscam interpretar os desejos inconscientes dos adultos. A partir disto, reflito se esta busca poderia gerar um efeito cascata na sociedade, uma vez que estes adultos, um dia foram adolescentes e por terem passado por tudo isso, ainda aplicam as mesmas regras de moratória aos adolescentes que surgem. Me questiono, o quanto está faltando um olhar sensível para estes sujeitos, para esta sociedade parar de adoecer.
Na busca por reconhecimento dos adultos e em fazer parte deles o adolescente tem esse pedido de inserção negado por essa moratória imposta. A partir dessa rejeição, passam a procurar por algum espaço em que sejam ouvidos e aceitos, surgindo então os grupos, as tribos. O reconhecimento desejado passa a ser alcançado e passam a conseguir a atenção do público que negou esse espaço. A sociedade passa a descrever esta fase como rebelde, não se dando por conta, que talvez seja mais um sonho sucumbido nos adultos ou a nostalgia explicita. Os valores pela conformidade que os adultos também impõem os adolescentes à se adaptar, são como se fossem os sonhos que desejavam estar experenciando, porém, foram silenciados por essa moral imposta na sociedade e hoje privam os adolescentes de realizar coisas que na sua época também não pode executar. (CALLIGARIS, 2000, p. 27-30).
A finalidade da adolescência é tornar-se um adulto para ter permissão de fazer parte desse clube e ter o poder de realização dos seus desejos. Mas para se tornarem adultos, precisam antes transgredir, esse é um grande paradoxo, ora os adultos falam sobre responsabilidades e ora desejam a transgressão. Além disto
o adolescente procura interpretar os sonhos dos adultos, os quais, podem ser interpretados das formas mais variadas possíveis, uma vez que as pessoas têm uma identidade subjetiva. Então a conduta dos adolescentes são as mais diversas, pois podem transgredir aos sonhos explícitos e implícitos dos adultos. (CALLIGARIS, 2000, p. 31-33).
Questiono-me sobre este sonho dos adolescentes em se tornarem adultos, pois a adolescência de hoje ao meu ponto de vista, tem uma certa liberdade conquistada e de certa forma nesse contexto abre o cenário dos adultecentes. (ROCHA; GARCIA, 2008). 
Na visão dos adultos a adolescência pode ser considerada uma patologia ou o lugar onde as patologias psíquicas e sociais acontecem, são considerados ameaças à paz familiar. Se é uma patologia, é uma patologia oriunda dos desejos de rebeldia reprimido nos adultos. (CALLIGARIS, 2000, p. 34). Na contemporaneidade, caracterizar os adolescentes e aplicar suas manifestações associando às patologias tem sido cada vez mais comuns, e consequentemente a medicação entra como uma alternativa para tratar esses comportamentos. Isso gera grande ameaça na identificação dos sentimentos, na ressignificação dos movimentos que acontecem ao nosso redor. É preciso viver e sentir o que está passando, ao invés de obstruir com medicamentos, deve-se utilizar a escuta para entender o que se passa na vida do sujeito e entender o que precisamos fazer para dar outro sentido para o que tem acontecido.
A transgressão do adolescente é a realização dos desejos dos adultos que foram reprimidos e optaram por esquecê-los. Os adolescentes transgridem para que sejam reconhecidos e os adultos criam estas visões para caracterizar os adolescentes. (CALLIGARIS, 2000, p.35). Concordo com o autor, quando diz que isso pode ser extremo e pode gerar entendimento intenso, mas estas chaves de acesso à adolescência, é o que hoje organiza a vida da maioria dos adolescentes. É diferente para cada sujeito que enfrenta esse período, pois o há muitos contextos que podem gerir esse adolescente.
O adolescente gregário é o modelo de adolescente que percebe a mudança no corpo e por não conseguir entrar no estatuto do adulto, vai em busca de novas condições sociais, procurando uma forma de reconhecimento e pertencimento. Assim, procuram formar um grupo que compreenda a sua faixa etária social, onde se reconheçam e os adultos sejam excluídos, estes grupos são conhecidos como microssociedades, onde a inserção é mais simples e explicita do que o mundo dos adultos. A família agora são os amigos, pois estes te aceitam e não julgam ou reprimem. (CALLIGARIS, 2000, p.36).
Os gregários na minha opinião é a chave mais comum que identificamos na comunidade adolescente. A grande maioria se estabelece em grupo de amigos, gangues e o acesso a eles está em algum look, roupa, tatuagem, estilo. Surgem como forma de insubordinação aos adultos e dispensam os adultos por já terem encontrado os seus pares. (CALLIGARIS, 2000, p.37).
Estes grupos geralmente agem em conjunto (passeios no shopping, festas clandestinas, cometendo alguma infração), praticando os desejos reprimidos dos adultos e quanto mais o pensamento for transgressor, mais será o reconhecimento dos adolescentes ou seja, quanto mais reconhecerem e punirem esse comportamento como infrator, mais distanciamento vão tomar das regras sociais.
Acredito que, esses grupos não podem ser vistos como perigosos e como infratores. A sociedade precisa ser capaz de conduzir esses sujeitos, e para isto é necessário oferecer uma escuta empática e um olhar mais sensível. Precisamos nos reeducar para dar a chance de os adolescentes aprender e construir suas crenças e valores, e assim garantir a sua identidade, se tornando indivíduos independentes.
O adolescente delinquente expressa através da força e violência o que a sociedade não escuta. Busca constantemente ser reconhecido, pois entende que já é capaz de ser independente. Estes adolescentes cometem crimes em grupos para que sejam reconhecidos mutualmente. (CALLIGARIS, 2000, p. 39).
O número de adolescentes que se tornam “delinquentes” não é expressivo. Os adultos reprimem as atitudes manifestadas por este grupo, referindo-as como sem maturidade. Por consequência desta visão dos adultos, procuram mais formas violentas de se impor na sociedade. Eles imaginam que como delinquentes serão amados por serem portadores dos sonhos recalcados dos adultos. (CALLIGARIS, 2000, p. 41-42)
Os adultos geralmente reprimem preventivamente e isso leva o adolescente a entender que o gesto não foi entendido e pode levar ao aumento da dose de rebeldia. Tolerar também não é uma opção, pois estes jovens procuram através dos seus atos serem escutados e só levaria a mais violência. (CALLIGARIS, 2000, p. 43). Este exesso de zelo, me faz lembrar quando os pais privam os seus filhos de fazerem uma série de coisas, aprisionando-os e consequentemente o que se torna proibido, gera mais prazer de fazer, mais atenção vai receber. Tal atenção desejada, na maioria das vezes é inconsciente.
O adolescente toxicômano é considerado na visão dos adultos o mais preocupante, pois trata-se dos jovens que tem um charme para as drogas ilegais. Segundo Calligaris (2000, p.45), esse interesse tem origem na geração descendente, a qual, ligou o uso das drogas aos sonhos de liberdade e revolução. Foi uma geração que agitou e depois abandonou, como consequência essa rebeldia está sendo herdada. 
De acordo com os dados levantados por (MARQUES; CRUZ, 2000) o consumo de álcool e de drogas entre os jovens se inicia na passagem da infância para a adolescência. O uso destas substâncias é um fenômeno multidimensional, ou seja, a partir desse uso podem surgir outros transtornos psicológicos, comportamentais e sociais. O adolescente é seduzido justamente pelo risco que o álcool e as drogas representam. 
Talvez a toxicomania seja a transgressão mais preocupante, uma vez que a droga promete a satisfação que não é possível alcançar de outra maneira e sem ela permanece a insatisfação. A maioria dos adolescentes apenas flertam com as drogas, buscam através delas status social, e não objetos e posses. Desta forma, danifica os valores da sociedade capitalista. (CALLIGARIS, 2000, p. 47)
Há adolescentes que se drogam para chamar atenção, para precisar de uma reabilitação. Pedem “ajuda” na cara do adulto, fazem isso para precisar de um socorro, para mostrar que realmente passou por um perigo e então não terá um olhar de infantilização. Quer mostrar que a vida está acontecendo e que não estão no limbo. (CALLIGARIS, 2000, 48). Acho que muito mais do que chamar a atenção dos adultos, as drogas podem ser um refúgio para os problemas vividos na família e na sociedade, podendo atuar como inibidores de angústias e sofrimento.
Conforme Calligaris (2000, p.49), existem na visão dos adultos, os adolescentes que se enfeiam, com o objetivo de desafiar a estética dos adultos. Esse grupo, passa a criar o seu próprio padrão para se diferenciar dos adultos. Existe também a ideia destes adolescentes estarem ligados à recusa da sexualidade e do desejo como valor financeiro, podendo ser entendido como um modo para se proteger e não ser considerado desejável. Lendo essa passagem do livro, penso sobre os assédios vividos na adolescência, onde tal tema tem gerado grande preocupação mundial. Essa forma de violência, gera inúmeras consequências no desenvolvimento cognitivo e comportamental dos jovens, podendo ficar presente por toda a sua vida. 
Os adolescentes barulhentos são fortemente criticados por gostarem de marcas, adularem ídolos e sua identidade geralmente está ligada à imitação de alguns personagens. Segundo Calligaris (2000), isso é uma ironia, pois vivem nos mesmos filmes dos adultos. Essa imitação e idolatria são formas básicas da socialização moderna.
É importante destacar que esse grupo de adolescentes vivem a vida com base nos videoclipes, envolvendo-se através das histórias, imagens e músicas. A trilha sonora é capaz de inspirar. O tipo de escuta é parte da sua provocação, às vezes, o
som alto ou viver de fone de ouvido deixa-os capazes de escutar os adultos. O volume da música é uma metáfora da intensidade, uma maneira de gritar.
Mas os adultos, por mais que protestem, também ligam os seus aparelhos para extravasar as emoções insustentáveis. Infelizmente em todas as tentativas do adolescente de desafiar e provocar, encontra uma dificuldade: pois cada vez que encontra um jeito de chamar atenção, a cultura encontra jeitos de idealizar essas maneiras e transformá-las em comportamentos aceitos, até desejáveis e invejáveis. Através da rebeldia do adolescente encontra-se um alimento para os ideais sociais dos adultos. (CALLIGARIS, 2000).
No quarto capítulo o autor fala sobre a adolescência como ideal cultural e como neste período é difícil se afastar da interpretação dos desejos dos adultos, uma vez que a chave para inserção à vida adulta em nossa cultura, não tenha um ritual e a cultura venera a autonomia. Esse desejo por autonomia está presente na vida contemporânea, como as férias desejadas, para sentir-se livre. O período da adolescência, também é visto como um período de limbo, encarnando o maior dos sonhos da nossa cultura, ou seja, a liberdade. Com base nos ideais culturais a adolescência se torna um símbolo que transcendendo todas as fases.
As condutas dos jovens se tornam um ideal social, uma vez que eles encenam os mais variantes sonhos abandonados dos adultos. Se reúnem em grupos, cujas características se tornam uma identidade marcante, própria e bem definida. Por surgir uma série de apetrechos que os representem, se tornam os consumidores ideais, e marketing para vender a adolescência para qualquer idade. (CALLIGARIS, 2000, p.58). Identificamos muitas vezes adultos ou crianças com roupas de jovens. As crianças se vestem com a imagem que os pais querem ver, os adolescentes.
Os grupos de adolescentes surgem inicialmente com a proposta de rebeldia contra à moratória e depois se tornam ideais para os adultos. É justamente por serem rebeldes que seduzem o mercado, atuando como influência sobre a moda. O estilo “cool” dos adolescentes são para todos, se transformam em modelos de consumo dos adultos. (CALLIGARIS, 2000, p.59). 
Esses grupos mudam com muita rapidez. Existe uma constante variação e construção nos estilos, como se o adolescente estivesse tentando correr desde comercialização que tenta alcançá-lo e descrevê-lo. (CALLIGARIS, 2000, p.60). Seria como se os adolescentes tentassem escapar da normalidade que lhe é alcançada, fugindo da “rebeldia” dos adultos. 
Invenção da adolescência surge nos últimos 50 anos para manter o bom desempenho psíquico dos adultos. (CALLIGARIS, 2000) Isto porque, tem como função suportar a modernidade e preencher o ideal social que é construído com base no desejo do Homem. Antes, não era um fato social reconhecido, não era grupo social e nem um ideal cultural. A preocupação era o devir dos jovens, o físico moral e econômico. O autor, diz que para entender isso, é preciso lembrar que a infância também é uma invenção moderna.
Airès explica que, qualquer adulto está disposto a investir na criança e torná-las felizes. Isso surge, pois na nossa espécie nascemos completamente prematuros, necessitando de cuidados. Esse período de acolhimento na infância não era somente os primeiros anos de vida do sujeito, mas sim, um cuidado até tornar-se adulto. Esse período é miticamente herdado como um tempo feliz e tal ideia é herdada pela adolescência. (CALLIGARIS, 2000, p. 61).
As crianças devem ser felizes e satisfazer os adultos, é a consolação e esperança dos adultos, dando expectativas e sentido à vida. Airés descobriu a transformação que a modernidade construiu na maneira de ver e amar as crianças. Construímos a imagem das crianças em torno de felicidade, inocência e paz, a infância como utopia. (CALLIGARIS, 2000, p. 64-65).
A modernidade sofre com algumas contradições, como preparar as crianças para o futuro sem comprometer a imagem de sua felicidade. A invenção da adolescência surge para suportar o consolo estético da infância, ou seja, é o período em que é necessário se preparar para alcançar o sucesso que faltou dos adultos. (CALLIGARIS, 2000, p. 67)
Com o tempo os adultos vão percebendo que as crianças um pouco mais crescidas apresentam características similares aos adultos. Estes por sua vez, tentam proteger e assisti-las. A ideia é um olhar protegido aos adolescentes, tê-los como irresponsáveis como as crianças, mas com exigências e qualidades como dos adultos, sendo a imagem de um sonho do adulto. A adolescência é como um espelho para contemplar a satisfação dos desejos sem obrigações que os constrangem. (Calligaris, 2000, p. 68)
A imagem do adolescente não é somente um ideal comparativo, mas um identificatório do que o adulto possa querer ser. São como adultos de férias e sem lei.
Talvez adoremos mais essa imagem de adolescente do que a imagem dos adultos. (CALLIGARIS, 2000, p. 69). É como a satisfação de ter corpos de adultos e satisfazer os desejos, sem compromissos que exigem neste grupo.
Claramente até os anos 60 o ideal do adolescente era a vida adulta, mas começou a mudar aos poucos uma vez que a idealização seria uma vida menos rígida e aos poucos a adolescência se tornou o ideal dos adultos. Quando os adolescentes passaram a procurar o que estes adultos esperavam deles, se deparavam com a sua própria imagem. Nas últimas décadas as crianças perderam a sua estética cada vez mais estão parecidas com adultos, inicialmente pela vestimenta. São uma espécie de adulto miniatura e ainda, estão camufladas em meio aos adolescentes. (CALLIGARIS, 2000, p.72). Este é um fato preocupante, pois se a adolescência é vista como símbolo de uma marginalidade perigosa, e mesmo assim os pais vestem as criancinhas como os adolescentes membros de gangue, malandros, não estão sabendo separar o que idealmente é bom, ou seja, ideal do adulto também é o adolescente que. Exemplo disto são as mães e pais vestindo os filhos como eles (Tal mãe tal filha). A estética da adolescência atravessa todas as idades.
Calligaris (2000), relata sobre a americanização forçada, que surge com esses ideais e formas estéticas, começando a espalhar-se a partir do século 20 como uma superpotência.
A adolescência se torna um ideal global e para todas as idades, consequentemente torna-se um ideal para si mesmo. Nesse pensamento a adolescência não precisaria acabar, pois, não teria nada em troca. É como se saíssemos do ideal da adolescência para se tornar adulto que sonha com a adolescência. (CALLIGARIS, 2000, p. 73). Quando reflito sobre esta ideia trazida pelo autor, novamente lembro dos adultescentes, ou seja, esse ideal da adolescência ultrapassa a ideia do estético, se torna ampla. É um ideal de liberdade, onde não se tenha obrigações como os adultos.
Então acaba a ideia do adolescente ser reconhecido pelos adultos.
Quando o adolescente quer crescer, enxerga no adulto sua própria face e recebe do adulto um olhar que admira justamente o casulo que este quer abandonar.
Além de toda carga cultural e histórica, os adolescentes de hoje têm o desafio de fazer um bom uso da tecnologia. São emergidos pelos algoritmos e pelas facilidades no mundo digital. O que algumas vezes pode facilitar um processo de comunicação também pode tornar-se perigoso. As redes é um caminho para suprir a falta de comunicação em casa, para interagir mais com os seus grupos, mas pode trazer uma série de consequências ligadas à imagem, propensos à depressão e a ansiedade.
O monitoramento familiar para o uso das redes, das companhias e para o uso das drogas é de extrema importância. A participação familiar sempre irá ajudar na prevenção ou enfrentamento desse período, sendo a escuta, acolhimento e a paciência, um dos combustíveis mais importantes para o desenvolvimento dessa fase.
A psicanálise é muito importante para explicar e dar sentido para as transformações que vivemos durante as gerações, mas para se ter um panorama mais atual e entender os enfrentamentos da adolescência, acredito que a psicologia social possa
nos fornecer mais subsídio para entender por que os adolescentes não conversam com ninguém sobre a “coisa” que lhes incomoda.
REFERÊNCIAS EXTRAS
Neste tópico incluo as referências de artigos utilizados para contribuir na elaboração deste texto e reflexão a cerca da adolescência. Estas referências são buscas realizadas além das leituras propostas em aula. 
Ferreira, M. E. C, Castro, M. R., & Morgado, F, F. R, (2014), Imagem Corporal: reflexões, diretrizes e práticas de pesquisa. Juiz de Fora, MG: Ed. UFJF.
ZAPPE, Jana Gonçalves; DAPPER, Fabiana. Drogadição na Adolescência: Família como Fator de Risco ou Proteção. Revista de Psicologia da IMED, Passo Fundo, v. 9, n. 1, p. 140-158, nov. 2017. ISSN 2175-5027. Disponível em: https://seer.imed.edu.br/index.php/revistapsico/article/view/1616. Acesso em: 01 out. 2020. doi:https://doi.org/10.18256/2175-5027.2017.v9i1.1616.
MARQUES, Ana Cecília Petta Roselli; CRUZ, Marcelo S. O adolescente e o uso de drogas. Rev. Bras. Psiquiatr.,  São Paulo ,  v. 22, supl. 2, p. 32-36,  Dec.  2000 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462000000600009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:  01  Out.  2020.

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