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[FICHAMENTO] BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica

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BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. In.: ADORNO et al. Teoria de cultura de massa. Trad. de Carlos Nelson Coutinho. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 221-254
Embora as obras de arte sejam suscetíveis a reprodução (o que um homem faz o outro pode repetir), as técnicas que possibilitam isso é um fenômeno novo que ocorre em ritmo acelerado.
Com o século XX, as técnicas de reprodução atingiram um tal nível que estão agora em condições não só de se aplicar a todas as obras de arte do passado e de modificar profundamente seus modos de influência, como também de que elas mesmas se imponham como formas originais de arte. P. 224
Entretanto, por mais que a reprodução seja perfeita, faltará à obra a sua unicidade, autenticidade (hic et nunc) a presença no próprio local onde ela se encontra, o que faz sua história.
Há dois pontos que faz a obra original conservar sua autoridade:
· Em primeiro lugar, a reprodução técnica é mais independente do original. No caso da fotografia, ela pode ressaltar aspectos do original que escapam ao olho e só podem ser apreendidos por uma câmera que se mova livremente para obter diversos ângulos de visão. P. 125
· Em segundo, a técnica pode transportar a reprodução para situações nas quais o próprio original jamais poderia se encontrar. Sob a forma de foto ou disco, ela permite sobretudo aproximar a obra do espectador ou do ouvinte. P. 125
Apesar de nada alterar o conteúdo de uma obra, a sua reprodução desvaloriza seu hic et nunc.
O que faz com que uma coisa seja autêntica é tudo o que ela contém de originalmente transmissível, desde sua duração material até seu poder de testemunho histórico. P. 125
Poder-se-ia condensar todos esses desaparecimentos recorrendo-se à noção de aura e afirmar: na época da reprodutibilidade técnica, o que é atingido na obra de arte é sua aura. Este processo tem valor de sintoma; sua significação ultrapassa o domínio da arte. P. 226
A aura é definida como uma única aparição de uma realidade distante, apesar de sua proximidade material. 
Em uma tarde de verão, num momento de repouso, se alguém segue no horizonte, com o olhar, uma linha de montanhas, ou um galho cuja sombra protege o seu descanso, ele sente a aura dessas montanhas, desse galho. P. 227
O valor da unicidade próprio à obra de arte “autêntica” se baseia nesse ritual que foi originalmente o suporte de seu antigo valor de uso. P. 229
A reprodutibilidade também faz surgir um fato novo: a emancipação da obra sua existência “parasitária” (que só servia ao seu verdadeiro valor de uso). Exemplo disso é o cinema, cuja produção depende da reprodução.
Reproduz-se cada vez mais obras de arte que foram feitas, justamente, para ser reproduzidas. De um negativo em fotografia, por exemplo, pode-se tirar um grande número de provas; seria absurdo perguntar qual delas é a autêntica. P. 230
Destaca-se dois modos pelos quais uma obra de arte pode ser acolhida: o valor como objeto de culto (o que possibilitou o reconhecimento de “obra de arte”) e seu valor como realidade capaz de ser exposta (o que possibilitou a função artística e acessória.
A produção artística começa por imagens que servem ao culto. Pode-se admitir que a presença mesma dessas imagens tenha mais importância do que o fato de serem vistas. p. 230-231
À medida que as obras de arte se emancipam de seu uso ritual, tornam-se mais numerosas as ocasiões de serem expostas. P. 231
No teatro, a aura do ator e a do personagem é a mesma, porque depende de sua autenticidade. O que não ocorre com o ator de cinema, cuja aura desaparece.
Aí ocorre uma situação que pode ser assim caracterizada pela primeira vez – e isso é obra do cinema – o homem deve agir, seguramente com toda sua pessoa viva, e todavia privada de aura. Pois sua aura depende do seu hic et nunc. Ela não suporta reprodução alguma. No teatro, a aura de Macbeth é inseparável da aura do ator que desempenha o papel, tal como ela é sentida pelo público vivo. A filmagem no estudo tem como peculiaridade o fato de substituir o público pelo aparelho. A aura dos intérpretes necessariamente desaparece e, com ela, a dos personagens que representam. P. 237
Além do desaparecimento da aura, o cinema constrói artificialmente a “personalidade” do ator, proporcionando um culto da “estrela” (e uma pretensão em se tornar uma, em se expor aos outros).
À medida que restringe o papel da aura, o cinema constrói artificialmente, fora do estúdio, a “personalidade” do ator: o culto da “estrela”, que favorece o capitalismo dos produtores cinematográficos, protege essa magia da personalidade, que há muito já está reduzida ao encanto podre de seu valor mercantil. P. 239
Hoje não existe ninguém que não possa alimentar a pretensão de ser filmado. P. 240
O processo se iniciou quando os jornais abriram suas colunas para um “correio dos leitores”; hoje, não existe um só europeu, qualquer que seja sua profissão, que não esteja seguro de poder encontrar, em princípio, quando assim o desejar, uma tribuna para relatar sua experiência profissional, para expor uma denúncia, para publicar uma reportagem ou um outro estudo do mesmo tipo. [...]A todo momento, o leitor está prestes a se tornar escritor. P. 241	Comment by Kennet Anderson: Cultura da convergência?
Com a especialização crescente do trabalho, cada indivíduo foi obrigado a se tornar, voluntária ou involuntariamente, um especialista em sua matéria – ainda que se trate de uma matéria de pouca importância – e essa qualificação lhe confere uma certa autoridade. P. 241	Comment by Kennet Anderson: Jornalismo especializado
A filmagem fornece um espetáculo que não seria imaginável de outra forma. É uma realidade artificial criada pelos aparelhos técnicos.
A realidade despojada do que a aparelhagem lhe acrescentou tornou-se aqui a mais artificial de todas; assim, no mundo da técnica, a captação imediata da realidade enquanto tal é agora uma simples quimera. P. 242
Diferença entre o pintor e o cameraman: enquanto que o primeiro retrata a realidade a partir de sua perspectiva, o segundo penetra sobre a realidade.
O pintor observa, em seu trabalho, uma distância natural entre a realidade dada e ele mesmo; o cameraman penetra em profundidade na própria trama do dado. As imagens que obtém diferem extraordinariamente. A do pintor é global, a do cameraman fragmenta-se num grande número de partes, cada uma das quais obedece a leis próprias. P. 243
As técnicas de reprodução das obras de arte modificam a atitude das massas quanto a determinados contextos: embora a massa possa ser reacionária diante da reprodução de obras como Picasso, ela pode ser progressista diante de Chaplin. Progressistas no sentido da ligação entre o prazer do espetáculo e a experiência vivida (ligação daquela obra com sua vida individual).
À medida que diminui a significação social de uma arte, assiste-se no público a um divórcio crescente entre o espírito crítico e a fruição da obra. Frui-se, sem criticar, aquilo que é convencional; o que é verdadeiramente novo é criticado com repugnância. No cinema, o público não separa a crítica da fruição.
Outra mudança social é que, se antes os quadros podiam ser contemplados por apenas um espectador (ou um pequeno número), agora um importante público pode contemplá-lo conjuntamente.	Comment by Kennet Anderson: Observações de Martín-Babeiro
O fato de, a partir do século XIX, um importante público poder contemplá-los conjuntamente corresponde a um primeiro sintoma dessa crise, que não foi somente provocada pela invenção da fotografia, mas de maneira relativamente independente a essa descoberta, pela pretensão da obra de arte de se dirigir às massas. P. 244
Ora, acontece precisamente que é contrário à própria essência da pintura poder ela se oferecer a uma recepção coletiva; ao contrário, este sempre foi o caso da arquitetura, da poesia épica (durante um certo tempo) e é hoje o caso do cinema. P. 244
Ainda sobre a perda da aura
A pintura convida à contemplação; em sua presença, as pessoas abandonam-se às próprias associações de ideias. Nada dissoocorre no cinema; tão logo o olho capta uma imagem, esta já foi substituída por outra; o olhar jamais consegue se fixar. P. 249
Há de se considerar que a reprodução em massa das obras, corresponde a uma produção das massas. É a partir dos aparelhos técnicos que as massas têm a oportunidade de se ver.
À reprodução em massa, com efeito, corresponde uma reprodução das massas. Nos grandes cortejos festivos, nos gigantescos comícios, nas manifestações esportivas que agrupam multidões, finalmente na guerra, isto é, em todas as oportunidades em que hoje opera o aparelho que executa as filmagens, a massa pode se ver a si própria face a face. P. 250

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