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PRÁTICAS DE CONDICIONAMENTO FÍSICO Carlos Rey Perez Yoga: origem, história e evolução Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir a origem e princípios da yoga. Reconhecer a evolução da modalidade ao longo dos anos. Avaliar a perspectiva de crescimento da yoga nos próximos anos. Introdução O termo “holístico” deriva da palavra grega holos, que significa “todo”, cuja preocupação é expandir o pensamento cartesiano de que o ser humano é fragmentado e dividido, implantando uma concepção de que o ser humano é um todo. Corpo, mente e alma se inter-relacionam e se inserem em um contexto cósmico, em uma troca constante de energia com o universo. A yoga, dentro desse sistema holístico, aborda o ser humano em sua totalidade: físico, energético, psíquico e espiritual. Desse modo, busca tornar o corpo físico mais saudável para que o fluxo de energia vital circule adequadamente, melhorando o desempenho da mente e, com isso, proporcionando uma vivência espiritual voltada à expansão da consciência. Neste capítulo, você estudará detalhes sobre a origem e a evolução da yoga e perspectivas futuras para sua prática e inserção na sociedade moderna. 1 Origem e princípios da yoga Na mitologia hindu, a criação da yoga remonta a Shiva, um bailarino que costumeiramente ia as montanhas para meditar. Após uma de suas meditações, improvisou uma dança com movimentos belos e graciosos que transbordava do seu íntimo, produzindo lindas coreografi as. As pessoas que assistiam fi cavam deslumbradas e extasiadas e solicitaram que Shiva as ensinasse aqueles passos de dança. Depois de um longo tempo de ensinamentos, Shiva fi cou conhecido como Nataraja, o Rei dos Bailarinos. Por trás daqueles movimentos coreo- grafados, Shiva também criou sua própria fi losofi a de vida e, após sua morte, seus discípulos continuaram a transmitir aqueles ensinamentos aos demais. A palavra yoga tem sua raiz no sânscrito yug, que significa unir (reunir, jun- tar), no caso, a alma individual com a alma universal (MONIER-WILLIAMS, 2008). Em estudos arqueológicos, a civilização do vale do Indo, percussora da yoga, teria se estabelecido às margens do rio em Harappa e Mohenjoadro, hoje território do Paquistão, entre 3.000 e 2.000 a.C., onde foram encontradas relí- quias representando Shiva realizando várias posturas e praticando meditação. Durante muito tempo os ensinamentos da yoga foram transmitidos dos mestres aos discípulos via relatos orais e pela própria prática. Os primeiros textos que mencionam a existência da yoga são Vedas, Ramayana e Mahabha- rata, hinos épicos da Índia em prosa ou verso que transmitem conceitos sobre a vida como um todo, datados do período entre 500 e 100 a.C. A yoga atravessou os séculos e somente foi introduzida entre mais adeptos no Ocidente no final do século XIX e começo do século XX, por Swami Vivekananda, monge hindu que em suas palestras sobre a yoga, o hinduísmo e outras religiões do mundo impressionava o público. A yoga chegou ao Brasil no final dos anos 1940, por intermédio de um francês, Sêvánanda Swámi, batizado Léo Costet, criador da yoga integral (sarva yoga), que em suas palestras no Rio de Janeiro explicava as características da yoga. Na década seguinte, Sêvánanda construiu um centro de atividades da yoga na cidade de Rezende (RJ). Foi nesse centro que se deu a formação de vários mestres da prática, difundindo-a por todo o Brasil. Essa filosofia milenar, se adaptou aos tempos atuais, mas conservou seus objetivos e sua essência. Os princípios norteadores foram fundamentados e sistematizado por Patanjali, cuja época de vida ainda é debatida, com alguns historiadores a situando em 200 a.C. e outros até 400 d.C. Nos seus textos, Patanjali apresentou o caminho da yoga por oito passos, a yoga ashtanga: yama, niyama, ásana, pranayama, pratyahara, dharana, dhyana e samadhi. Yama e niyama são princípios que conduzem a vida do praticante e re- presentam uma conduta moral, ética e disciplinar. Eles fornecem um dire- cionamento para lidar consigo mesmo e com o outro, de forma respeitosa e amorosa, proporcionando um estado de consciência mental que deixa-a livre de preconceitos e identificações, tornado o praticante apto a uma realização plena e integral. O yama regem os atos conscientes da não violência, da verdade, do desapego, da não possessividade e do domínio dos vícios. De outro lado, o Yoga: origem, história e evolução2 niyama refere-se aos atos e sentimentos que devemos estimular: a simplicidade, a alegria a perseverança, a autoanálise e a confiança. A principal finalidade de um ásana é sempre de natureza mental (HER- MÓGENES, 1988). São posturas psicofísicas de alongamento, força isométrica e equilíbrio para ter uma consciência corporal e um estado de presença, ou seja, ter a mente e o corpo em um mesmo lugar, tornando-a livre de distrações e promovendo o diálogo corpo–mente. Para Baptista e Dantas (2002, p. 18): “Cada postura deve ser realizada com concentração, onde o praticante deve ter em mente que ele é a própria postura e não apenas executá-la como um exercício físico apenas”. Pranayama se traduz na mobilização, conhecimento e “administração” da energia vital, a prana. Representa os exercícios e técnicas de controle respiratório, para acalmar e ajudar a controlar a mente. Para a yoga, a respi- ração é muito mais importante que um estado fisiológico, pois insere-se no psicológico e no prânico. A percepção da respiração começa pela percepção contínua do f luxo de expiração e inspiração. Pode ser ao mesmo tempo um processo voluntário, quando queremos acelerar ou parar, ou um processo involuntário, quando ocorre pelos processos vegetativos. Pela interligação com o estado psíquico, a respiração se torna acelerada em momentos de inquietude ou medo e mais lenta nas ocasiões de tranquilidade e conforto, ou irregular quando temos um conflito de desejos. Cada expiração pro- porciona uma agradável sensação de limpeza, enquanto cada inspiração oferece uma sensação igualmente agradável de nutrição. As técnicas do pranayamas nos levam a encontrar integração e liberdade de contradições, estabelecendo a paz entre o corpo e a mente, facilitando a absorção da prana que está no ar. Pratyahara é a capacidade de se abstrair, afastar-se dos cinco sentidos. É o primeiro passo para a meditação. No pensamento da yoga, as sensações de audição, tato, visão, paladar e olfato são impressões que nutrem a mente, ao mesmo tempo que fazemos associações das sensações com fatos e pessoas que, assim, nutrem a alma. Com isso, podemos ao mesmo tempo estabelecer impressões e associações que podem ser certas ou erradas e, como em uma dieta alimentar, devemos descartar o que nos faz mal e manter aquilo que nos faz bem. Ao retirar de nossa consciência as impressões negativas, o pratyahara fortalece os poderes de imunidade da mente, afastando as influências sensoriais negativas ao seu redor. Sem isso, você não será capaz de meditar. Dharana é o segundo passo para a meditação. A concentração e o foco são os elementos da dharana. Segundo Feuerstein (1998), a concentração é o controle da mente em um estado de imobilidade, com o direcionamento da 3Yoga: origem, história e evolução atenção e do foco a uma determinada ação, como uma parte específica do corpo, ou a um objeto ou um evento, como um som externo. Dhyana é a meditação propriamente dita. É um método pelo qual a mente se concentra cada vez mais em menos ações, objetos e eventos. Seu objetivo é o do esvaziamento mental e, ao mesmo tempo, não perder o estado de alerta. A meditação é a fase evolutiva do exercício mental, passando pelo estágio de pratyahara (abstração) e, em seguida, pelo aperfeiçoamento da concentração (dharana), que é a continuação direta do processo de inibição sensorial. Por fim, de acordo com Kupfer (2002), samadhi significa iluminação, o objetivo final da yoga. É o início e o fim de um percursode evolução, a au- torrealização, a contemplação da paz, da consciência plena, do sentimento de estar completo, sem apegos, ódios ou identificação. É o estado mais elevado da meditação prolongada e profunda, unificando corpo, mente e alma e criando a expansão da consciência humana ao universo cósmico. A Figura 1 traz uma representação dos caminhos da yoga pelos oito passos propostos por Patanjali. Figura 1. Oito passos da yoga segundo Patanjali. Yoga: origem, história e evolução4 A essência da yoga é a auto-observação, por meio da qual ocorre, entre outras coisas, o refinamento das posturas propostas. No decorrer das técnicas de ásana, a auto-observação traz consigo uma sensação de distância psico- lógica em relação ao corpo, uma percepção de um espaço entre a mente e os movimentos do “eu” físico. Pelos caminhos da yoga, na sua prática, existem duas vertentes principais: a yoga tradicional (ashtanga) e a yoga ação (kriya). No âmbito da forma tradicio- nal, ashtanga, destacamos algumas modalidades: bhakti, jnana, karma e raja. A bhakti é essencialmente voltada para a devoção à sua divindade, levando o praticante à autorrealização, arraigada pelo amor, buscando a felicidade e um estado de completa entrega e servindo a Deus. Acessar o conhecimento transcendente é o objetivo da jnana. Essa mo- dalidade lida com um tipo específico de conhecimento, de sabedoria e de intelecto. Não se trata do conhecimento para resolver problemas do cotidiano ou usado na argumentação dos pensamentos, na sua relação com o mundo que nos cerca. Jnana treina a mente para ser uma ferramenta de autorrealização para investigar a nossa própria natureza, transpondo o ego e o pensamento para além da mente. Por sua vez, a karma yoga é a ação desinteressada, sem pensar em ganho ou recompensa. Sua atitude altruísta permite desprender de possíveis benefícios de nossas ações, oferecendo-as aos outros e, principalmente, a Deus. Muitas vezes chamada de “yoga real” ou “yoga integral”, a raja yoga é um método de controlar o pensamento e a mente, transformando a energia mental e física em energia espiritual. A prática principal da raja yoga é a meditação, incluindo também outros métodos que ajudam a controlar o corpo físico, a energia vital, a respiração (prana), os sentidos e a mente. Quando o corpo e sua energia estão sob controle, a meditação flui naturalmente. Ao contrário da ashtanga, de influência mental e espiritual, a kriya yoga tem como método a aprendizagem das técnicas de meditação. Quando praticada cor- retamente, a meditação faz com que o coração, a respiração e o sistema nervoso desacelerem de forma natural. As técnicas praticadas em conjunto proporcionam ao praticante o alcance da união com Deus e a libertação da alma. Eis a seguir algumas das principais técnicas de meditação da kriya yoga (DALE, 2011): Energização — exercícios psicofísicos preparam o corpo para a medi- tação. A prática regular harmoniza o físico com o mental. Utilizando a respiração, a técnica possibilita atrair a energia vital do ar para o corpo, purificando-o e fortalecendo-o. Os exercícios de energização ajudam a eliminar o estresse e a ansiedade. 5Yoga: origem, história e evolução Técnica de concentração de Hong-Só — com esta técnica, o praticante aprende a eliminar do pensamento a energia das distrações externas e a se concentrar em qualquer situação que precise de solução, além de colocar a atenção e concentração necessárias no “eu” interior. Técnica de meditação de Om — este método antigo ensina a experimen- tar a onipresença divina com o Om, que é o mantra mais importante, o som do universo (mantra é uma sílaba ou poema recitado ou cantado repetidamente pelos fiéis do hinduísmo, de forma a ajudar na concentra- ção durante a meditação). A técnica permite expandir a consciência além das limitações de corpo e mente, levando-nos a alcançar a percepção de nosso potencial infinito. Entender os princípios da yoga é resgatar suas origens e ampliar seu alcance, tornando o conhecimento do corpo, da mente e da alma uma única consciência e sendo capaz de transportá-la a um universo cósmico a ser descoberto. 2 A evolução da yoga ao longo dos anos A evolução da yoga ao longo da história pode ser dividida em quatro principais períodos de inovação, prática e desenvolvimento (SOVIK; BHAVANANI, 2016), examinados caso a caso a seguir. Pré-clássica ou período védico (1500–600 a.C.) Os ensinamentos foram transmitidos oralmente do professor (guru) para o discípulo (shishya). Esses ensinamentos foram compilados em escritos antigos, os Vedas, que são textos contendo canções, mantras e rituais usados pelos brâmanes e rishis (sábios místicos), que, por sua vez, são divididos em quatro partes: samhitas (coletâneas de hinos usados em rituais védicos); brahmanas e aranyakas (comentam e expandem os samhitas); upanishads (parte fi nal dos textos). Os upanishads ensinam que devemos sacrifi car o ego por meio do autoconhecimento, da ação desinteressada (karma yoga) e da sabedoria (jnana yoga), trazendo consciência para as dimensões meditativas da vida humana. Era clássica ou pós-védica (600–100 a.C.) No período subsequente à compilação dos Vedas, uma enorme coleção de ideias, crenças e técnicas foi registrada e disponibilizada para prática e estudo, Yoga: origem, história e evolução6 muitas vezes confl itantes entre si. Seja como for, começaram a mudar os rituais védicos com objetivos altamente personalizados para o autodesenvolvimento, uma vida equilibrada e para a autorrealização Nesse período, as práticas da yoga foram codifi cadas e ocorreu a primeira apresentação sistemática da yoga, promovida por Patanjali (caminho dos oito passos), que infl uenciou profundamente a maioria dos estilos da yoga moderna. Pós-clássico (100 a.C. ao século XVII) Poucos séculos depois de Patanjali, obras devocionais, histórias e ensinamentos de adeptos de yoga criaram um sistema de práticas com o objetivo de reju- venescer o corpo e prolongar a vida, utilizando-se do corpo como meio para alcançar a iluminação. Foram desenvolvidas técnicas radicais para “limpar” o corpo e a mente (tantra yoga). Desta exploração e vinculação físico-espirituais com práticas centradas no corpo, surge a hatha yoga, que sobreviveu até o período moderno, juntamente com os Sutras de Patanjali e os ensinamentos do Bhagavad Gita, o mais célebre texto sobre autoconhecimento da yoga, do qual desenvolve 20 valores essenciais para os praticantes evoluírem ao plano espiritual (da relação com a vida, com o mundo e com os outros). Período moderno No fi nal do século XIX e início do XXI, a yoga e seus ensinamentos viajaram do leste para o oeste, com a chegada de Swami Vivekananda aos Estados Unidos em 1893. Baseado no Bhagavad Gita, ele destrinchou cada um dos quatro ensinamentos: raja yoga (meditação), karma yoga (ação altruísta), bhakti yoga (religiosidade) e jnana yoga (transcendental). No início do século XX, Swami Kuvalayananda, do Instituto Kaivalya- dhama de Yoga, e Yogendraji, do Instituto de Yoga de Mumbai, iniciaram a prática sistemática e a pesquisa em yoga. Entre os anos de 1920 e 1930, o hatha yoga foi intensamente desenvolvido e promovido na Índia com o trabalho de Tirumalai Krishnamacharya e Swami Sivananda, que escreveram mais de 200 livros sobre a yoga e estabeleceram vários centros de prática e meditação pelo mundo. A Universidade S-VYASA (Swami Vivekananda Yoga Anusandhana Samsthana), em Bangalore, dá prosseguimento aos estudos sobre a yoga e promove com ênfase a yoga como terapia. Desde 2002, Swami Ramdev continuou a popularizar a yoga em toda a Índia, além de iniciar os estudos sobre eficiência da yoga nos cuidados com a saúde e a qualidade de vida. Desde então, várias tradições se espalharam 7Yoga: origem, história e evolução pelo mundo, mas com a presença de uma linhagem de professores dos estudos antigos, certificam que determinada técnica e ensinamento é de fato genuíno. Chegandoaos dias de hoje, Barros et al. (2014) comentam que, apesar da diversidade de benefícios da yoga no mundo fitness, quase sempre os prati- cantes são motivados a obter somente um corpo atraente, esquecendo-se do potencial dessa prática de forma global. Numa época marcada por valores como consumismo, individualismo, narcisismo, a busca pelo sucesso e o acúmulo de bens materiais, o corpo tornou-se também objeto de consumo. N sociedade contemporânea, a yoga entra no século XXI com um afas- tamento do culto ao corpo, trazendo um olhar para recuperar os sentimentos mais profundos, ou seja, um olhar do praticante na busca por seu “eu” interior. Nesse sentido, também percebe-se que a saúde, como energia vital, permite recuperar um estado ideal de equilíbrio. Ainda segundo essa visão holística do século XXI, a yoga vai além de prá- ticas para manter a saúde e o bem-estar. A prática de ásana traze um conforto ao corpo físico desgastado pela vida agitada e estressante. Os exercícios de respiração e de relaxamento promovem uma volta à calma da mente em tempos de inquietação e angústia. Com isso, voltam-se os olhares para os princípios fundamentais da yoga, permitindo que os praticantes encontrem sua própria passagem para se conectar com sua essência, tornando-as capazes de manifestar equilíbrio e harmonia com o que está à sua volta. Em síntese, segundo Barros et al. (2014, p. 1311): “[...] a yoga sem os princípios da consciência relacionados à espiritualidade se reduz a uma prática física”. O Dia Internacional da Yoga é comemorado em 21 de junho. A data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em sua 69ª assembleia geral, em 2014. Esse dia marca o solstício de verão no Hemisfério Norte (de inverno no Hemisfério Sul), que tem um significado especial em várias partes do mundo. Além disso, é considerada uma data especial, quando as influências cósmicas se tornam benéficas às práticas espirituais e holísticas. A Resolução 69/131 da ONU (UNITED NATIONS, 2014) reconhece que a yoga pro- porciona uma abordagem holística da saúde e da qualidade de vida e que a maior conscientização sobre os benefícios das práticas da yoga seria benéfica para a saúde física e mental das pessoas. Yoga: origem, história e evolução8 Com o desenvolvimento das práticas do yoga no transcorrer do tempo e com sua introdução e consolidação no mundo ocidental apenas no último século, é cada vez mais necessário capitalizar toda a influência desses ensinamentos milenares e avaliar quais avanços ainda são possíveis, seja na área terapêutica ou no encontro da espiritualidade. 3 Perspectiva de crescimento da yoga nos próximos anos Com a entrada da civilização no século XXI, as pessoas têm o entendimento de que é preciso voltar as atenções para a saúde, a qualidade de vida e a espiritualidade. Esse cenário de retorno à herança advinda da ancestralidade e de práticas milenares, como a yoga, enquadra-se perfeitamente como um caminho espiritual. Se de início a prática da yoga cresceu principalmente como uma atividade física combinada com exercícios respiratórios e de relaxamento, com uma nova reorientação no âmbito da globalização não apenas no sentido da cultura e dos aspectos sociais, mas no retorno à espiritualidade, as práticas de meditação da yoga voltadas ao encontro do “eu” interior e da aproximação com a divindade marcam a presença como uma terapia holística. A espiritualidade, segundo Monteiro (2004, p. 167): “É um processo interior que centra a consciência do homem em Deus ou no self, isto é, o Deus em nós, dando um significado ao existir”. Além disso, Monteiro (2004, p. 178) aconselha o profissional de saúde a usar da espiritualidade do paciente “[...] para motivá-lo no tratamento e principalmente para dar suporte na hora da morte em razão da complexidade da situação vivida”. A tradição da yoga que propõe uma medicina holística é baseada na ideia de que os males do nosso corpo podem ser causados pelo desequilíbrio ou bloqueio dos movimentos da energia vital nos chacras do sistema nervoso central (GOSWAMI, 2006). De outro lado, a Organização Mundial da Saúde (2002) reconhece a yoga como uma prática integrativa e auxiliar da saúde, complementar aos métodos da medicina tradicional, produzindo efeitos be- néficos no funcionamento físico, fisiológico, cognitivo e ético. Com isso, a yoga se sintoniza com práticas médicas e paramédicas promotoras de saúde e longevidade na forma de prática preventiva. Nesse sentido, está mais em- penhada no aumento de seu leque de práticas terapêuticas, contribuindo para uma autorreflexão dos praticantes. Isso promove maior conhecimento no 9Yoga: origem, história e evolução cotidiano, no estilo de vida e nas relações pessoais, aspectos quase sempre ignorados pelos profissionais de saúde e com um profunda importância na promoção integral da saúde (BARROS et al., 2014). Na yoga, aprendemos que, para encontrar equilíbrio e harmonia, devemos fazer um gerenciamento dos aspectos da saúde ao praticar flexibilidade e tonificação muscular, bem como “higiene” profunda para revigorar o corpo e mente, além de expandir a respiração reconhecendo as tensões, aprender a relaxar, administrar o estresse, encontrar um ritmo de vida mais pausado, simplificar a vida e recuperar o tempo. Além dessas perspectivas da yoga como uma terapia comportamental e espiritual ou para a promoção da saúde, também abre-se uma vertente da yoga no âmbito escolar. Essa inserção nas fases de escolarização deve se dar por movimentos e desafios corporais, além, é claro, das técnicas de meditação, de acordo com o desenvolvimento motor de cada criança e adolescente, pro- movendo também o desenvolvimento de capacidades e habilidades cognitivas e psíquicas próprias ser humano (LORENZ, 1995). A yoga na escola deve objetivar o desenvolvimento das dimensões cognitivas, afetivas e psicossociais, além de reforçar que mente e corpo não estão separados e que devem andar no mesmo compasso. Nesse sentido, Arenaza (2003, p. 2) afirma: “O corpo é o instrumento e o recinto da mente e do espírito, e deve ser afinado para desempenhar harmoniosamente suas funções. E, neste contexto escolar, a yoga pode ser considerado como um trampolim para a aprendizagem, visando desenvolver as potencialidades humanas”. Na educação infantil (3–5 anos) e no primeiro ciclo de alfabetização (6–9 anos), a criança expressa uma necessidade de estímulos afetivos e uma busca pelo prazer por meio de jogos simbólicos e “faz-de-conta”, situação em que desenvolve sua imaginação criando histórias. Com isso, essa fase se identifica por atitudes e movimentos caracterizados, que são formas de interpretação e interação, em que podem ser utilizadas músicas ou narrativas acompanhadas de movimentos espontâneos que se mostram de uma maneira expressiva (FREIRE, 1989). Dessa forma, com a prática de ásana, a criança vai sendo conduzida a investigar o seu próprio corpo por meio dos movimentos e, ao adotar as pos- turas físicas e incorporar suas qualidades mentais, pode experimentar ser firme como uma árvore, livre como um pássaro, forte como um guerreiro e brilhante como o Sol (MARTINS, 2011). Por as vez, as técnicas de respiração e de concentração (pranayamas e dharana), podem ser utilizadas com o objetivo de desenvolver a calma e a concentração, acarretando uma diminuição da ansiedade e agressividade, características típicas dessa faixa etária. Yoga: origem, história e evolução10 No canal do YouTube TV Rá Tim Bum, você pode encontrar uma coleção de vídeos em episódios, intitulados “Yoga com histórias”. Cada vídeo mostra posturas e técnicas de yoga voltados ao público infantil. Você pode encontrar a referência completa para o Episódio 1 ao final deste capítulo, na seção Leituras Recomendadas. Essa dita pedagogia holística, no seu amplo leque de compilações, pode inserir a yoga como um viés formador e na preparação de uma consciência individual e coletiva na preparação de um cidadão parao novo milênio. As perspectivas do crescimento da yoga para o século XXI passam necessariamente por uma abordagem terapêutica relacionada à saúde e qualidade de vida (yogaterapia), além da inserção das práticas e filosofia da yoga no contexto escolar. Assim, a história da yoga e seu desenvolvimento ao longo do tempo, bem como as perspectivas para o futuro, podem ser introduzidos no corpo de co- nhecimento da educação física, e seus profissionais serão capazes identificar os benefícios dessa prática milenar. ARENAZA, D. O yoga na sala de aula. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2003. BAPTISTA, M. R.; DANTAS, E. H. M. Yoga no controle de stress. Fitness & Performance Journal, v.1, n.1, p.12–20, 2002. BARROS, N. F. et al. Yoga e promoção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n. 4, p. 1305–1314, 2014. DALE, C. Kundalini: divine energy, divine life. Minnesota: Llewellyn, 2011. FEUERSTEIN, G. A tradição do yoga. São Paulo: Pensamento, 1998. FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. São Paulo: Scipione, 1989. GOSWAMI, A. O médico quântico: orientações de um físico para a saúde e a cura. São Paulo: Cultrix, 2006. HERMÓGENES, J. Auto-perfeição com Hatha Yoga: um clássico sobre saúde e qualidade de vida. Rio de Janeiro: Record,1988. 11Yoga: origem, história e evolução Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. KUPFER, P. Hatha Yoga Pradipiká. Florianópolis: Instituto Dharma-Yogashala, 2002. LORENZ, F. V. Bhagavad Gita: a mensagem do mestre. São Paulo: Pensamento, 1995. MARTINS, F. S. Yoga com crianças: um caminho pedagógico-didáctico. 2011. Dissertação (Mestrado) — Universidade do Minho, Braga, 2011. MONIER-WILLIAMS, M. A Sanskrit-English On-line Dictionary. Universität Zu Köln, 2008. Dis- ponível em: http://www.sanskrit-lexicon.uni-koeln.de/monier/. Acesso em: 10 abr. 2020. MONTEIRO, D. M. R. Espiritualidade e envelhecimento. In: PY, L. et al. Tempo de envelhecer: percursos e dimensões psicossociais. Rio de Janeiro: Nau, 2004 ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Estratégia de la OMS sobre medicina tradicional 2002-2005. Genebra: OMS, 2002. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index. php?option=com_docman&view=download&alias=796-estrategia-oms-sobre-me- dicina-tradicional-2002-2005-6&category_slug=vigilancia-sanitaria-959&Itemid=965. Acesso em: 10 abr. 2020. SOVIK, R.; BHAVANANI, A. B. History, philosophy, and practice of yoga. In: KHALSA, S. B. S. et al. (Org.). Principles and practice of yoga in health care. Scotland: Handspring, 2016. p. 17–29. UNITED NATIONS. Resolution adopted by the General Assembly on 11 December 2014. Disponível em: https://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/ RES/69/131. Acesso em: 10 abr. 2020. Leitura recomendada TV RÁ TIM BUM. Yoga Com Histórias — Episódio 1. 22 fev. 2019. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=CzTS0p9nE8I. Acesso em: 10 abr. 2020. Yoga: origem, história e evolução12
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