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w w w. u n i s u l . b r E stratég ias d e Trad e M arketin g Estratégias de Trade Marketing Universidade do Sul de Santa Catarina Estratégias de Trade Marketing Este livro reúne conceitos e ferramentas que visam instrumentalizar os acadêmicos para planejar, implementar e avaliar estratégias de Trade Marketing. O conteúdo está estruturado em 4 capítulos que abordam os temas: contextualização e perspectivas; canais de distribuição, novas relações entre fabricantes, varejistas e consumidores; estratégias de Trade Marketing; métricas e mensurações de resultados. A abordagem está alicerçada na compreensão do contexto prático referente às transformações nas relações entre fabricantes e canais de venda, em busca da eficiência no atendimento às necessidades do shopper. UnisulVirtual Palhoça, 2014 Universidade do Sul de Santa Catarina Estratégias de Trade Marketing Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Reitor Sebastião Salésio Herdt Vice-Reitor Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional Luciano Rodrigues Marcelino Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos Valter Alves Schmitz Neto Diretor do Campus Universitário de Tubarão Heitor Wensing Júnior Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual Fabiano Ceretta Campus Universitário UnisulVirtual Diretor Fabiano Ceretta Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) - Educação, Humanidades e Artes Marciel Evangelista Cataneo (articulador) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços Roberto Iunskovski (articulador) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria Diva Marília Flemming (articuladora) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social Aureo dos Santos (articulador) Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos Moacir Heerdt Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão Roberto Iunskovski Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos Márcia Loch Gerente de Prospecção Mercadológica Eliza Bianchini Dallanhol Livro didático UnisulVirtual Palhoça, 2014 Designer instrucional Marina Melhado Gomes da Silva Estratégias de Trade Marketing Kristiane Rico Sanchez Livro Didático Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Copyright © UnisulVirtual 2014 Professor conteudista Kristiane Rico Sanchez Designer instrucional Marina Melhado Gomes da Silva Projeto gráfico e capa Equipe UnisulVirtual Diagramador(a) Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro Revisor(a) Jaqueline Tartari Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. 658.81 S19 Sanchez, Kristiane Rico Estratégias de Trade Marketing : livro didático /Kristiane Rico Sanchez; design instrucionalMarina Melhado Gomes da Silva. – Palhoça :UnisulVirtual, 2014. 150 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. 1. Vendas – Administração. 2. Marketing. 3.Comércio varejista. I. Silva, Marina Melhado Gomes da. II. Título. Sumário Introdução | 7 Capítulo 1 Trade Marketing: contextualização e perspectivas | 9 Capítulo 2 Canais de distribuição, novas relações entre fabricantes, varejistas e consumidores | 45 Capítulo 3 Estratégias de Trade Marketing | 83 Capítulo 4 Métricas e mensurações de resultados | 115 Considerações Finais | 141 Referências | 143 Sobre o Professor Conteudista | 149 Introdução O Trade Marketing surgiu, em meados da década de noventa, a partir da alteração da relação entre a indústria, varejoe clientes. Constitui uma área complexa devido à multiplicidade de interações e do suporte à estratégia comercial, integrando o marketing, distribuição e vendas. As mudanças que impulsionaram a criação do Trade Marketing envolvem o excesso de marcas e produtos (e a consequente falta de espaço para exposição no ponto de venda), o fortalecimento dos intermediários (concentração dos varejistas, acesso à informação do shopper, automatização das lojas, práticas de resposta eficiente ao consumidor e gerenciamento por categorias), a especialização dos canais de vendas e a infidelidade do consumidor. Nesse cenário, o Trade Marketing atua no fortalecimento da relação entre indústrias e canais de venda, considerando as necessidades entre marcas dos produtos, pontos de venda e consumidores. O escopo de atuação do Trade Marketing envolve a análise de hábitos e preferências dos consumidores no sentido de orientar os canais que deverão ser utilizados, produtos a serem desenvolvidos e meios de distribuição adequados para atender às necessidades e preferências do mercado-alvo. A leitura do capítulo 1, Trade Marketing: contextualização e perspectivas, possibilita o reconhecimento dos principais conceitos e fundamentos que norteiam a área, assim como de inúmeras oportunidades quanto à forma de atuação dos canais de distribuição e da relação com o shopper (quem realiza a compra). Ao compreender os pressupostos que norteiam o Trade Marketing, se criam as condições necessárias para o desenvolvimento de habilidades práticas na atuação profissional com o devido reconhecimento das potencialidades e fragilidades inerentes à área. No capítulo 2, Canais de distribuição, é possível entender novas relações entre fabricantes, varejistas e consumidores que se moldam diante dos canais de marketing e sua importância como redes de organizações interdependentes alinhadas para disponibilizar produtos e serviços no percurso que envolve desde o produtor até o consumidor final. Em relação à indústria de bens de consumo, precisamos considerar que, embora o produto possa ser excelente, se não estiver disponível ao cliente no ponto de venda, a venda não se efetiva. A repercussão é negativa, uma vez que se fragiliza algo fundamental para a sobrevivência das organizações, ou seja, a conquista da vantagem competitiva sustentável no ponto de venda. Assim, ao entender os pressupostos que norteiam o diálogo das organizações com os canais de marketing, busca-se o desenvolvimento de habilidades no sentido de compor uma visão prática em relação ao contexto da gestão da distribuição. O capítulo 3, Estratégias de Trade Marketing, promove o entendimento de estratégias alicerçadas na análise do comportamento do shopper, a partir das variáveis que o estimulam a decidir pela realização da compra. Dessa forma, se mobilizam habilidades analíticas e de execução a partir do desenvolvimento de competências gerenciais em relação ao shopper marketing e comunicações integradas considerando o ambiente, o reconhecimento de hábitos de compra, a jornada de compra e o processo decisório. Finalmente, a leitura do capítulo 4, Métricas e mensurações de resultados, demonstra a importância dos instrumentos de gestão, com ênfase no planejamento e mensuração de resultados em Trade Marketing. Esses instrumentos orientam o gestor quanto ao investimento e retorno de recursos destinados ao fortalecimento da relação entre fabricantes e varejistas e na conquista da preferência do cliente no ponto de venda. A leitura de Estratégias de Trade Marketing possibilita o entendimento da área como elo que conecta vendas (canais), marketing e os interesses financeiros da própria empresa. OTrade Marketing contempla grande abrangência e múltiplas interações, com decisões alinhadas no sentido dos canais de distribuição ou marketing e relacionadas ao shopper (reação em relação à marca na jornada de compra). Bons estudos! Profa. Kristiane Rico Sanchez. 9 Seções de estudo Habilidades Capítulo 1 Trade Marketing: contextualização e perspectivas Os conteúdos desenvolvidos neste capítulo inicial possibilitarão a compreensão a respeito dos conceitos e fundamentos do Trade Marketing, com o objetivo de criar condições para o desenvolvimento de habilidades práticas na atuação profissional dos (as)estudantes. Seção 1: Trade Marketing: histórico e conceitos Seção 2: Papel desempenhado pelo profissional de Trade Marketing Seção 3: Objetivos do Trade Marketing 10 Capítulo 1 Seção 1 Trade Marketing: histórico e conceitos Em um ambiente de negócios caracterizado por permanentes mudanças e que vem se tornando cada vez mais competitivo, é impossível ampliar ou até mesmo manter resultados sem revisar estratégias, a estrutura de empresa, sua conexão e a formação de parcerias. É nesse ambiente que emerge o Trade Marketing, que representa o reconhecimento de inúmeras oportunidades em relação à forma de atuação dos canais de distribuição e da relação com o shopper (quem realiza a compra não necessariamente é quem irá consumir) e os consumidores. Nota-se que o maior entendimento em relação aos canais de distribuição e dos processos de comunicação abre espaço para agregar valor ao processo decisório da compra, algo fundamental e que impacta em resultados para a existência das empresas. Assim, ao longo deste capítulo, vamos trabalhar assuntos que promovem a contextualização do Trade Marketing na gestão de empresas. O Trade Marketing (TM) se associa ao desenvolvimento do relacionamento entre indústrias e canais de venda, considerando as necessidades entre marcas dos produtos, pontos de venda e consumidores. Dessa forma, envolve a análise de hábitos e preferências dos consumidores no sentido de orientar os canais que deverão ser utilizados, produtos a serem desenvolvidos e meios de distribuição adequados para atender às necessidades e preferências do mercado alvo. O Trade Marketing (TM) também contempla todos os esforços de marketing por parte do fabricante junto aos canais de distribuição para otimizar as vendas de seus produtos. Dessa forma, fortalecem-se ações de marketing e comunicação entre fabricante – distribuidor – atacadista e, posteriormente, no ambiente do varejo, para a conquista de maior fatia de mercado (market share). Podemos considerar o TM como um componente importante da estratégia comercial (marketing, distribuição e vendas). Constitui uma área de atuação relativamente recente no Brasil e vem se consolidando na interação com os canais de distribuição e alavancagem dos resultados. Cabe a análise de que o ambiente de negócios vem sendo impactado por significativas transformações que afetam os mercados consumidores, bem como as ações das empresas em relação a esses mercados. Estratégias de Trade Marketing 11 1.1 Definições e características A evolução da negociação entre a indústria e o varejo, frente a um cenário cada vez mais competitivo, intensificou uma atuação diferenciada nos pontos de venda, determinando a efetividade das cadeias de suprimentos. Assim, o poder de negociação que até a década de 90 esteve sob a égide da indústria está passando das mãos dos produtores para as mãos dos varejistas, que buscam desenvolver as suas próprias ações mercadológicas e criam sua própria imagem junto ao consumidor final. (ALVAREZ, 1999). O Trade Marketing vem proporcionar uma resposta à efetivação dessas práticas no sentido de ofertar ferramentas que têm como objetivo alavancar resultados financeiros decorrentes das vendas envolvendo todos os elos da cadeia de suprimentos, desde o fabricante até o ponto de venda (PDV). Assim, antecipar as necessidades de canais, consumidores, shoppers, pontos de venda e promover respostas que atendam a essas demandas se tornou uma conduta crítica tanto para a indústria, quanto para o varejo. Na perspectiva da indústria, é necessário determinar o equilíbrio entre investir em estratégias de pull (atrair consumidores) e de push (aumentar a oferta de produtos). A partir da necessidade de realinhamento nas relações entre fornecedores e varejistas, surgiu nas empresas, em resposta a esse desafio, a área de Trade Marketing (TM), cujo foco é unificar as estratégias de marketing da indústria e do varejo no que diz respeito a sua efetiva implantação dentro do ponto de venda. Motta, Santos e Serralvo (2008, p. 39) destacam que: [...] a evolução dos canais de distribuição no mundo e no Brasil foi decisiva para o surgimento do Trade Marketing. O mercado está diante de uma nova perspectiva nas relações indústria, varejo e consumidor. Com o fortalecimento do varejo no Brasil, as indústrias mudaram de atitude, transformando os varejistas em clientes. Não há consenso entre os autores quanto à origem precisa do Trade Marketing, sendo atribuída aos europeus ou americanos no final da década de 1980 e início dos anos 90. (MOTTA; SANTOS; SERRALVO, 2008). É, portanto, um conceito relativamente jovem, que nasceu e vem se consolidando a partir da prática de negócios. Você deve estar se perguntando: o que significa o termo Trade Marketing? 12 Capítulo 1 O termo trade, traduzido literalmente, significa comércio, sendo que os primeiros estudos surgiram na década de 1980 na Europa. Cônsoli e D’Andrea (2010, p. 9) enfatizam que o Trade Marketing: Desenvolve estratégias de distribuição com base nas premissas de marketing para cada produto ou serviço e na rede de clientes atendida por vendas, desenvolvendo ações promocionais por canal, planos de incentivo a vendas e campanhas, não ao consumidor, mas aos agentes de distribuição além de exercer os devidos controles financeiros e estatísticos. No novo cenário de negócios, é preciso entender e interagir com os canais de distribuição de forma diferente ao status vigente até então. A visão em relação ao ponto de venda não poderia continuar linear e restritiva, considerando-o como uma variável controlável. A nova perspectiva que emerge remete a um tratamento personalizado, tão bom ou melhor em relação àquele que era oferecido aos consumidores de bens de consumo. (SCHNEIDER, 2013). É importante analisar que a transformação na estrutura organizacional na indústria de bens de consumo não duráveis no Brasil e no mundo é decorrente da existência de dois departamentos: marketing e vendas, ambos com papéis bem caracterizados. A responsabilidade do departamento de marketing alinhava ações para o desenvolvimento de planos de negócios que impactassem o consumidor final, alicerçadas nas variáveis do marketing mix (produto, preço, promoção e ponto de venda). Randall, citado por Motta, Santos e Serralvo (2008), analisa que até os anos 80 o gerente de produto se caracterizava como a função mais importante, tendo em vista a responsabilidade pelas estratégias de marketing e pelo marketing mix (produto, preço, promoção e praça), sendo que o ponto de venda era considerado uma variável controlável. O departamento de vendas focava a rotina de abastecimento dos varejistas. O conceito de Trade Marketing está alicerçado na mudança de perspectiva da indústria ao perceber o distribuidor/intermediário como um cliente e não como um canal de distribuição. Motta, Santos e Serralvo (2008) analisam, a partir dos estudos de Corstjens e Corstjens (1995), que o Trade Marketing constitui marketing industrial realizado entre empresas (o denominado B2B), que é permeado pelos seguintes desafios: • Maximizar o valor oferecido aos varejistas, tendo em vista que a aquisição de produtos é realizada para a revenda, sendo que o foco é a obtenção de lucro nesta transação. Dessa forma, a decisão de compra é focada em critérios econômicos. Estratégias de Trade Marketing 13 • Efetivar os esforços necessários para que a equação de valor ofertada, bem como o conjunto de atividades necessárias para desenvolver o negócio de cada cliente, sejam realizados de forma rentável para a indústria. • O fornecedor deve dividir e dominar, uma vez que a base de clientes é mais concentrada em mercados industriais. Cônsoli e D’Andrea (2010, p. 44) definem o Trade Marketing como: Conjunto de práticas de marketing e vendas entre fabricantes e seus canais de distribuição com o objetivo de gerar valor através da satisfação das necessidades e melhoria da experiência de comprados shoppers podendo beneficiar mutuamente fabricantes e seus clientes conforme as relações de poder entre ambos. Cabe destacar que o processo de compra do shopper se inicia muito antes de entrada na loja. O acesso a diferentes meios de comunicação e interação tende a remeter a compra a um processo que pode contemplar pesquisa de preço na internet, interação nas redes sociais, fórum, blogs, visando maiores informações sobre o produto, bem como a coleta de opiniões de outros consumidores. Essa conduta impacta o Trade Marketing, que precisa entender de forma clara o papel que todas as mídias representam e de que forma convergem e influenciam o shopper a tomar sua decisão de compra. Que tal realizarmos um exercício para entendermos este processo? Nesse momento, imagine-se entrando em um supermercado para comprar um biscoito: qual a primeira coisa que você caracteriza em sua necessidade? Biscoitos podem ser doces ou salgados, portanto temos aí o primeiro critério de seleção. Se for doce, você pode selecionar opções de biscoito recheado ou não, este é o segundo critério. Na sequência, você pode identificar o volume, ou seja, a quantidade definida na embalagem – terceiro critério, depois temos a busca pela marca - quarto. E, por fim, o quinto critério de seleção - preço. É um processo tão automático que nem parece que existem tantos critérios de seleção. Se o cliente for fidelizado a uma marca o processo é abreviado. Note que esse processo de compra não está alicerçado somente no preço. Dessa forma, do ponto de vista do estabelecimento e da indústria há uma estratégia que pode motivar o cliente a executar a compra, como, por exemplo, a visibilidade do item na gôndola. Essa contextualização mostra que, quando a empresa consegue entender como o cliente pensa, tem plenas condições de oferecer o que ele quer. 14 Capítulo 1 É importante considerar essa percepção em um plano estratégico, uma vez que há uma forte subjetividade em todo o contexto e que o cliente não fala quando escolhe. Diante desta perspectiva, é evidente que o Trade Marketing não se destina, apenas, ao contexto tático, mas envolve a atuação estratégica. Alvarez (2008) destaca que, além da promoção de ações de marketing no ponto de venda, o TM contempla as estratégias de negociação das empresas para a conquista do consumidor final. 1.2 Colaboração entre indústria e varejo Em relação a uma perspectiva estratégica, as motivações básicas para a formação de alianças e parcerias é abordada por Costa (2007, p. 178): • convicção de que a operação em rede deve ser mais eficiente e mais flexível que a atuação individual; • atuação conjunta, aproveitando-se a sinergia entre as empresas, o que pode gerar um algo mais para os clientes, para os fornecedores e para as próprias empresas; • existência de áreas distintas de complementaridade a serem exploradas, como de competências, de tecnologias, de métodos ou processos, de cobertura do mercado, de suprimento, ou do público-alvo; • aumento do valor de mercado de ambas as instituições pela percepção externa de que, atuando em conjunto, elas têm maior “poder de fogo” do que operando isoladamente. Na visão de D’Andrea (2014), a estrutura de colaboração acontece conforme apresentado na Figura 1.1. Figura 1.1 - Alinhamento de visão entre varejistas e fabricantes Fonte: Adaptação de D’Andrea (2014). + = VAREJISTA: deve prover informação a todos os envolvidos MARCAS: devem ouvir o varejista e planejar para o longo prazo (o que fazer se o piloto der errado) VISÃO: deve ser ampla, grandiosa e promover união por um propósito comum, oferecer soluções ao shopper Estratégias de Trade Marketing 15 Na figura, podemos observar que a visão é fruto de uma perspectiva integrada entre varejista e marcas que definem o compartilhamento de ações no sentido de oferecer soluções ao shopper. Caxito (2011, p. 125) enfatiza que “podemos considerar natural o conflito nos canais de distribuição porque, apesar de haver uma dependência de fabricantes, distribuidores e consumidores, nem sempre existe um alinhamento estratégico entre as partes”. Vamos entender, por meio de uma situação prática, como a colaboração entre indústria e varejo é viável e necessária. A seguir é apresentado o case do Grupo Pão de Açúcar, que retrata estratégia, ganhos e forma de parceria desenvolvida com os fabricantes. Os conflitos entre a indústria e o varejo podem ser atribuídos a aspectos como: falta de confiança entre as partes, divergência de pontos de vista e pressão por resultados de curto prazo. Vantagens do trade marketing no varejo 22/10/2011 O Grupo Pão de Açúcar é um dos primeiros no Brasil a criar seu próprio setor de Trade Marketing – um departamento que, até agora, só a indústria tinha. A tendência é que outras redes de autosserviço sigam esse exemplo. Aumentar o tíquete médio e a rentabilidade era um dos desafios do Grupo Pão de Açúcar (GPA) quando decidiu investir num projeto para deixar o checkstand da bandeira Extra Hiper mais estratégico. A ideia era explorar uma área bastante favorável à compra por impulso. Entre fim de 2009 e começo de 2010 foi dado o primeiro passo. A empresa firmou parceria com um fornecedor, que disponibilizou uma pesquisa detalhada sobre o comportamento do público nos checkstands. O estudo revelou que os produtos capazes de garantir sensação de recompensa e aqueles que costumam ser esquecidos, como fósforos e isqueiros, têm melhor saída quando expostos nas regiões próximas aos checkouts. 16 Capítulo 1 Outra constatação foi de que o ideal é padronizar a exposição nesses equipamentos para facilitar a visualização. Essas informações levaram o grupo a remodelar as áreas de checkstand de cerca de 20 lojas do Extra Hiper. O trabalho é especial não apenas pelo aumento de vendas que garantiu ao GPA, mas principalmente porque foi realizado pelo departamento de Trade Marketing da própria companhia. É isso mesmo: há quatro anos, a empresa decidiu criar sua própria área de trade com o objetivo de otimizar os resultados de ações nas lojas. A ideia é somar esforços com o Trade Marketing da indústria e não substituí-lo. Para termos uma ideia de como o trabalho do novo departamento pode mudar a vida dos supermercados, os checkstands do Extra passaram a oferecer – além de itens como balas, chicletes e biscoitos – produtos de higiene pessoal, como loções, aparelhos de barbear, escovas de dentes, antissépticos bucais, pilhas, revistas e itens sazonais, além de lançamentos. A organização dos produtos nos expositores também passou a ser feita por segmentos, além de ser sinalizada. Já a exposição dos produtos que ficam nas pontas tem formato de pirâmide. Antes do projeto, as mercadorias eram escolhidas aleatoriamente e cada fornecedor tinha seu expositor. O sucesso foi tanto que, há poucos meses, o grupo decidiu fazer o mesmo trabalho em unidades da rede Pão de Açúcar, levando em consideração o perfil do público. Segundo Simone Terra, consultora de varejo, a tendência é que aos poucos a implementação da área no varejo ganhe força no País. Entre os benefícios para o autosserviço está a melhor comunicação com a indústria para organização de ações no PDV, o que inclui projetos de exposição de produtos, merchandising e promoção, além de estratégias de preço e, até mesmo, de gestão por categorias. Parceria com a indústria: Sozinho é mais difícil o trade dar certo Até agora, o departamento comercial do varejo tem sido o responsável por atender à área de Trade Marketing da indústria. «O problema é que ambos não falam a mesma língua», diz Maurício de Almeida Prado, sócio e diretor executivo da agência de comunicação Plano1. «O pessoal de compras pensa bem mais nas negociações de mercadorias do que em estratégias para aumentar vendas nas lojas», completa. À medida que o novo modelo for adotado pelo autosserviço, as duas áreas de trade passarão a compartilhar informações. Isso permitirá aos SUPERMERCADOSter maior conhecimento sobre o que funciona ou não em suas lojas, podendo recusar ações que não gerem bons resultados. Já o fabricante conseguirá implementar ações que nem sempre são compreendidas pela área comercial das lojas. Para Prado, o trabalho em parceria com a indústria é inevitável, pois os supermercados trabalham com um grande número de categorias. “Seria impossível Estratégias de Trade Marketing 17 para uma empresa varejista investir em pesquisas de apoio ao Trade Marketing. Ela teria de conhecer o desempenho de item por item, e o comportamento do shopper”, avalia. É por essa razão que o Pão de Açúcar procura trabalhar com os fornecedores em seus projetos de Trade Marketing. Eles entram com estudos e dados sobre o comportamento de compras do shopper, como ocorreu no caso dos checkstands. Se a rede tivesse comprado uma pesquisa, como a que foi disponibilizada, o custo teria sido muito elevado. Em contrapartida, a varejista dispõe de informações estratégicas, como as melhores áreas para negociação com os fornecedores. “O importante é que os dois setores trabalhem juntos e troquem ‘figurinhas’ para desenvolver ações que façam diferença no PDV”, destaca Marlety Gübel, diretora executiva da Via Vendas, consultoria de estratégia comercial. Fonte: Adaptação de Sousa (2011). O case apresentado visa mostrar as ações de TM com destaque à parceria entre fornecedor e varejista com ênfase em aumentar o tíquete médio e a rentabilidade a partir da compra por impulso na frente de caixa, os chamados checkstands. Essa é uma área muito disputada em função da visibilidade que proporciona às marcas. Existem empresas reconhecidas pela “inteligência em frente de caixa”. Um exemplo é a Cadbury Brasil, uma das maiores empresas no segmento de confeitos no mundo (marcas Trident, Halls, Adams, Tic-Tac, entre outras) recentemente adquirida pela Kraft Foods. Esse portfólio de produtos de baixo valor agregado e que motiva a compra por impulso necessita de observação crítica e contínua em relação à exposição, reposição e ao sortimento. Fica evidente, a partir deste caso, que quando vamos a supermercado e vemos uma plaquinha e uma exposição diferenciada de produtos, isso não é por acaso, há intencionalidade do fabricante e do varejista nessa exposição. Note que “neste cenário, mais e mais empresas vêm se voltando para o mercado, a fim de buscar entender o seu cliente e comprador, otimizando os seus recursos investidos em comunicação e na forma de influenciar o processo de compra”. (SANTOS; MULLER, 2014, p. 3). Arbache e outros autores (2006, p. 136) enfatizam a perspectiva do fortalecimento das relações e caracterizam o Trade Marketing como “ciência que investiga e discute o desenvolvimento das relações entre fabricantes e canais de venda, pelo entendimento da relação entre as marcas, pontos de venda e consumidores”. 18 Capítulo 1 Alvarez (2008, p. 71) avança para aspectos internos que envolvem as áreas de marketing e vendas, remetendo-as ao atendimento de necessidades do cliente final. Enfatiza o caráter de filosofia que podemos entender sob a ótica de construção de estratégia. Assim, determina que o Trade Marketing: É uma forma de orientar e apoiar as atividades de marketing e vendas, trabalhando em conjunto para conseguir satisfazer as necessidades do consumidor final e do cliente varejista. O Trade Marketing é, acima de tudo, uma filosofia da empresa, a qual entende que o foco no consumidor final deve ser ampliado para ação diante deste consumidor no ponto de venda, local da arena competitiva. A Figura 1.2 mostra que o Trade Marketing resulta da integração entre fabricantes, varejistas e consumidores a partir do alinhamento de ações entre as áreas de Marketing, Comercial e Merchandising. Figura 1.2 - Trade Marketing como área de integração Fonte: Cônsoli e D’Andrea (2010, p.43). Nas relações de mercado tradicionais, a ação do varejista não era vista como estratégica, mas sim considerada operacional, contemplando apenas uma etapa intermediária entre o fabricante e o consumidor final. Nota-se, a partir do contexto apresentado na Figura 1.2, que a implantação do Trade Marketing impulsiona a interação, de forma direta e indireta, com diferentes setores que compõem uma organização, tais como: marketing, vendas, finanças, TI, promoção, logística. Cônsoli e D’Andrea (2010) enfatizam que os papéis das Marketing Trade Marketing Shopper/ Consumidor Varejista Merchandising Comercial Fabricante PDV Estratégias de Trade Marketing 19 áreas internas e dos componentes do TM envolvem: • desenvolvimento de estratégias para melhorar a experiência de compra dos shoppers com a marca; • criação de estratégias e políticas comerciais para canais de vendas; • especialização em shopper insights; • desenvolvimento de práticas internas que estimulem as estratégias de canais e ponto de venda; • estabelecimento de alavancas de volume no ponto de venda, por intermédio do gerenciamento de sortimento, preço, espaço e planograma, publicidade, ponto extra e promoção. Vimos que surge uma nova visão em relação ao contexto da compra, na relação com o shopper. Assim, você deve estar se perguntando: Qual a diferença entre shopper e consumidor? Na análise deste cenário, continuamos considerando o consumidor como o foco central do ambiente de marketing, o qual vem sendo exaustivamente estudado, analisado, desmistificado. É o consumidor que utiliza os produtos. Assim, se considerarmos que o shopper realiza a compra, podemos concluir que a diferença entre essas duas figuras é que o shopper pode, ou não, ser consumidor, porém é necessariamente o comprador. Um erro frequentemente cometido por parte das empresas que atuam tanto no segmento varejista como de manufatura é atribuir ao trabalho de comunicação abrangência de alcance, tanto para conquistar o consumidor quanto o shopper. Será que isso se configura em uma verdade na prática atual de negócios? Para entendermos o contexto, nossa primeira reflexão remete à campanha de comunicação: será que o conteúdo proposto para o ponto de venda é efetivo, considerando que, em muitas situações, o responsável pela decisão de compras não é a mesma pessoa que irá utilizá-las? Conquistar o consumidor é diferente de conquistar o shopper. Assim, as lojas podem estar repletas de shoppers sem, na verdade, serem consumidores. Dessa forma, mesmo todas as ações de comunicação (como merchandising, exposição, sinalização), ou seja, todo o esforço de atratividade em relação aos produtos que compõem a sua loja podem não elevar o status de atributos relevantes na decisão de compra. 20 Capítulo 1 Assim, na prática, é necessário mudar o paradigma vigente introduzindo variáveis até então não exploradas, sendo que a observação sistemática é fundamental. É possível iniciar pela exposição, identificar critérios, conduta, acesso, entre outros aspectos. Migramos, portanto, para um novo foco de definição de estratégias: o shopper passa a ser figura central no processo de análise para o desenvolvimento do gerenciamento por categorias e merchandising no PDV. Dessa forma, é fundamental que indústria e varejo trabalhem em conjunto no sentido de obter vantagem competitiva e duradoura sobre sua concorrência. Arbache e outros autores (2004) enfatizam aspectos essenciais que devem ser observados na relação com os clientes: • pontos de venda adquirem produtos que resultam em lucro; a velocidade de venda do produto e o seu giro no estoque são fatores chave na relação comercial do ponto de venda; • entender os hábitos de compra dos consumidores e suas expectativas em relação aos produtos e serviços é fundamental no convencimento do cliente, pela indústria, em relação à importância de se ter uma determinada marca na prateleira; • planos promocionais e de apoio de comunicação das marcas, nos pontos de venda, repercutem no estreitamento da relação comercial entre as indústrias e os seuscanais de comercialização, além de influenciarem positivamente as decisões de compra dos consumidores finais; • pontos de venda normalmente gerenciam categorias e não marcas; o objetivo é oferecer um número amplo de ofertas de produtos para atender, com diferentes tamanhos, sabores, embalagens e preços, as expectativas do consumidor final; qualquer indústria que queira estabelecer vantagem competitiva dentro dos pontos de venda deve entender o papel das suas marcas e produtos dentro da categoria e até influenciar o ponto de venda nessa gestão; • é preciso entender o posicionamento da imagem do ponto de venda, inclusive com o desenvolvimento de ofertas customizadas alinhadas às expectativas do cliente; • é necessário administrar informações em conjunto com o ponto de venda, por sistemas integrados com a venda e o estoque (EDI – Eletronic Data Interchange – Troca Eletrônica de Informações), o que facilita a adoção do selling-out, isto é, venda para o varejo de acordo com a demanda de consumo, e gera como benefícios: maior Estratégias de Trade Marketing 21 economia para o ponto de venda na gestão dos estoques e menor risco de falta de produtos nas prateleiras; • novas técnicas de exposição de produtos e materiais de merchandising diferenciados são normalmente bem aceitos pelos pontos de venda de menor volume e menos sofisticados em termos de técnicas de vendas; já nas grandes redes, geralmente são vistos com desconfiança por parecer que os resultados advindos da sua utilização beneficiarão apenas a indústria em questão. No case da empresa Kanui, apresentado a seguir, pode-se ter uma ideia de que os empresários utilizam os conceitos do Trade Marketing, obtendo resultados práticos e, principalmente, mensuráveis. A loja on-line Kanui mede tudo: ao analisar dados sobre vendas e hábitos dos clientes, Luís Fernando Barreiro, Bruno Henriques e Bruno Nardon fizeram da loja on-line Kanui um negócio que faturou 150 milhões de reais em 2013. Bruno Nardon, Bruno Henriques e Luís Fernando Barreiro: métricas até para o lazer. O paulistano Luís Fernando Barreiro, de 35 anos, é apaixonado por esportes de aventura. Quase todos os fins de semana ele viaja para Cajamar e Guararema, cidades do interior de São Paulo, para praticar motocross. Ao lado dos paulistas Bruno Henriques, de 28 anos, e Bruno Nardon, de 27, ele é sócio da loja on-line Kanui, que faturou 150 milhões de reais em 2013, segundo estimativas de mercado, vendendo artigos para ciclismo, skate, surfe e corrida, entre outros esportes. A expectativa é dobrar as receitas neste ano. “Aqui quem manda são os números”, diz Barreiro. O trio se divide em três áreas que eles consideram vitais para o negócio e que trabalham trocando dados a toda hora: compras, marketing e gestão de inventário. A equipe de compras da Kanui é dividida por esporte, e não por tipo de produto, como costuma acontecer na maior parte das varejistas. O funcionário responsável por negociar pranchas de surfe, por exemplo, é o 22 Capítulo 1 mesmo que compra bermudas, óculos de sol, tênis e todas as mercadorias que compõem o comportamento de consumo de quem é surfista ou se identifica com o estilo. “Contratamos pessoas que praticam o esporte para ocupar o cargo”, diz Nardon. “É alguém que está em contato direto com o público- alvo e sabe apontar as tendências.” Para o departamento de marketing, os sócios preferem contratar engenheiros, em vez de especialistas em comunicação, e os dividem por canal, como Facebook, Google e e-mail marketing. Esses funcionários têm metas diárias e cada um pode monitorar em torno de 500 anúncios ao mesmo tempo. “Funciona como uma bolsa de valores”, afirma Henriques. “Conforme o desempenho dos anúncios sobe e desce, a equipe altera cores, fotos e frases, entre outras variáveis.” No ano passado, Nardon, Henriques e Barreiro decidiram criar um departamento para gestão de inventário, derivado do marketing. “Notamos que seria importante um grupo preparado para nos responder a questões como: este modelo de tênis está vendendo mais porque fizemos uma grande campanha ou porque tem aceitação natural do consumidor?”, diz Nardon. Oito engenheiros especializados em estatística cruzam mais de 70 indicadores e apontam para os demais departamentos a quantidade exata de produtos a comprar e quando é a hora certa de fazer promoções para girar o estoque. Desde a criação dessa área, a conversão de visitantes em compradores aumentou 40%. Recentemente, a equipe do departamento de gestão de inventário identificou oportunidades escondidas nos números. Um exemplo são faixas de preço até então não exploradas por nenhuma marca vendida no site. “A descoberta nos incentivou a criar cinco marcas próprias, que deverão gerar 10% de nossas receitas em 2014”, diz Henriques. O culto às métricas na Kanui é, em parte, herdado do estilo de gestão da alemã Rocket, que mantém o fundo de capital de risco que estruturou e financiou a operação em 2011. Nardon, Henriques e Barreiro ajudaram a fundar a empresa e estão lá desde as primeiras semanas. “A premissa era que faltava uma loja na internet que conseguisse juntar muitas marcas de esportes de aventura”, diz Nardon. Fonte: Adaptação de Ginesi (2014). Notem que a determinação das compras “por esporte, e não por tipo de produto” evidencia um esforço em qualificar as ações com ênfase em um público. “O funcionário responsável por negociar pranchas de surfe, por exemplo, é o mesmo que compra bermudas, óculos de sol, tênis e todas as mercadorias que compõem o comportamento de consumo de quem é surfista ou se identifica com o estilo”. Cabe destacar, ainda, que os profissionais devem Estratégias de Trade Marketing 23 praticar o esporte, demonstrando que a empresa visa ampliar e qualificar a decisão dos gestores de área. Ao adotar essa conduta, os gestores enfatizam que se diferenciam “da maior parte das varejistas”. Outras ações que evidenciam a ênfase na relação com o cliente/shopper envolvem o monitoramento proativo em relação ao perfil de vendas e definição de indicadores que possibilitaram à empresa descobrir “oportunidades escondidas nos números”. Em relação à abordagem utilizada pela Kanui, merece destaque a argumentação de Arbache et al. (2004, p. 123) que enfatiza que o Trade Marketing transcende a utilização de ferramentas de comunicação e promoção de mercadorias. O conceito é, na verdade, bem mais amplo que isso, pois estabelece a necessidade de se adaptar produtos, logística e estratégias de marketing, de modo a conquistar o consumidor nos pontos de venda, com um modelo de parceria entre os fabricantes e seus canais de distribuição, tendo como foco as indústrias de consumo de massa. Notem que o foco remete aos detalhes, que são pensados dentro da aliança entre marca fabricante e o distribuidor antes de ser exposto ao público-alvo. A ação reflete um contexto de intencionalidade que se faz prática, na medida em que se consegue desenvolver um relacionamento adequado por meio dos pontos de venda. Você e o contexto: Na próxima vez que você se dirigir à farmácia ou a um supermercado, visualize o ambiente de forma crítica e note se um produto possui posicionamento diferente, com indicações de chamada específica. Essa ação pode ser resultado do Trade Marketing, a partir da parceria entre o produtor e distribuidor/vendedor. Cônsoli e D’Andrea (2010, p. 33) indicam os seguintes fatores como condicionantes para o surgimento de um setor específico encarregado das novas atividades: • o excesso de marcas e produtos (e a consequente falta de espaço para exposição no ponto de venda); • o fortalecimento dos intermediários (concentração dos varejistas, acesso à informação do shopper, automatização das lojas, práticas de ECR e gerenciamento por categorias); • a especialização dos canais de vendas e a infidelidade do consumidor. 24 Capítulo 1 A esses fatores associam-se outros aspectos que fomentaram o surgimento do TradeMarketing, tais como: dificuldades econômicas, ampliação e globalização da concorrência e fortalecimento dos grandes clientes do varejo. Assim, o oferecimento de marcas fortes constitui a essência das negociações; no entanto, constatou-se que a formulação de uma estratégia alicerçada em foco preciso para atender aos grandes clientes poderia repercutir em ganhos de mercado. Corroborando essa perspectiva, Motta, Santos e Serralvo (2008, p.13) salientam que, até a década de 80, “as indústrias de bens de consumo, com suas marcas potentes e desejadas pelos consumidores, que contavam com equipes profissionais, dominavam a relação com os varejistas, que eram obrigados a aceitar os termos oferecidos por seus fornecedores”. 1.3 Histórico e evolução do Trade Marketing A evolução do Trade Marketing se associa ao contexto das alterações do modelo de compra de produtos e serviços pelos consumidores. Arbache et al. (2004) evidenciam estes fatores: • aumento das ofertas e facilidades nos transportes urbanos e carros particulares, o que permitiu aos consumidores se movimentar com mais facilidade para novos pontos de venda; • aumento maciço de ofertas de produtos e serviços no mercado, dando aos consumidores maior poder de decisão de compra e, consequentemente, oferecendo maiores ofertas de preços, prazos, promoções e mix de produtos; • tecnologia da informação em constante evolução, o que permitiu que os modelos de distribuição se sofisticassem, dando às indústrias, independentemente do seu tamanho, maior capacidade de aumentar a oferta de suas marcas com um número cada vez maior de pontos de venda, maior conhecimento sobre os hábitos e preferências dos consumidores e maior controle sobre o gerenciamento de estoques, diminuindo, assim, a falta de produtos nas prateleiras; • globalização das ofertas de produtos e serviços pela presença cada vez maior, direta ou indiretamente, de empresas multinacionais, de forma isolada ou em parceria com empresas nacionais já estabelecidas. Silva Neto, Soares e Pitasso (2011) evidenciam, conforme os estudos de Castillo (2000), que o Trade Marketing, desde o seu surgimento, vem passando por processo de evolução constante, conforme pode ser observado o progresso em três etapas distintas no Quadro 1.1, apresentado a seguir. Estratégias de Trade Marketing 25 Quadro 1.1 - Evolução do Trade Marketing Perfil 1ª Etapa TM Inicial 2ª Etapa – TM Interativo 3ª Etapa – TM Estratégico Iniciativa Sempre do fabricante, que exerce sua força no momento de implantar ações de marketing dentro do ponto de venda. Abandonam estratégias puras de crescimento em favor de estratégias de eficiência e de diferenciação competitiva. Não depende apenas das indústrias e do comércio, mas também da possibilidade de se gerar uma massa crítica de acordos entre os diferentes concorrentes do setor, de forma a garantir uma relação comercial saudável de longo prazo. Clientes Adotam quase sempre uma postura passiva. Com a concentração das grandes redes de varejo mundial, os clientes passam a exercer seu papel de líder do canal, não apenas como comprador, mas também como colaborador do fabricante no desenvolvimento das atividades de marketing destinadas ao consumidor final que vai a sua loja. Surgem movimentos como o Efficient Consumer Response (ECR), que visam padronizar processos entre as indústrias e o comércio de maneira a aumentar a eficiência das suas operações. Fonte: Adaptação de Silva Neto, Soares e Pitasso (2011). Em relação à iniciativa, na etapa 1 temos o fabricante com o monopólio das atitudes, exercendo seu domínio em relação à colocação de produtos nos pontos de venda. Já na etapa 2 o foco passa a ser o desenvolvimento de estratégias de eficiência e de diferenciação competitiva, que tende a promover a interação entre os stakeholders. Finalmente, na etapa 3, surge a iniciativa de gerar uma massa crítica de acordos entre os diferentes concorrentes do setor, com ênfase no desenvolvimento de uma relação comercial proativa e de longo prazo. No contexto de clientes, na etapa 1, é evidente a adoção de uma postura quase sempre passiva, ou seja, não há uma atitude crítica. Dessa forma, na etapa 2, os clientes mudam o estilo de exercer o seu processo de compras, ou seja, migram da passividade à colaboração, junto ao fabricante, no desenvolvimento das atividades de marketing destinadas ao consumidor. E, na etapa 3, o Efficient Consumer Response (ECR), promove um novo envolvimento entre indústrias e o comércio focado em aumentar a eficiência das suas operações. Sobre o ECR, conforme a Figura 1.3, as propostas de relacionamento colaborativo podem compor um volume maior de compartilhamento de informações e alinhamento estratégico em gestão de suprimentos. 26 Capítulo 1 Figura 1.3 - Diferentes tipos de relação entre clientes e fornecedores Fonte: Adaptação de Wanke (2003). Assim, a Resposta Eficiente ao Consumidor (ECR) se associa ao EDI (Eletronic Data Interchange), que diz respeito à transferência eletrônica de informações entre ponto de venda e fabricante (podendo incluir outros componentes da cadeia de suprimentos, como transportadoras), à medida que preconiza a troca simultânea de informações. Wanke (2003) relata que o ECR se originou nos EUA, mais especificamente no segmento de alimentos, quando foi alinhando o comprometimento entre fabricantes e supermercadistas no sentido de compartilhar informações em tempo real e promover o gerenciamento de categorias (envolve análise em relação ao agrupamento de produtos com as mesmas características mercadológicas) para realizar a reposição contínua e estabelecer o custeio baseado em atividades e padronização. Na perspectiva de Hara (2005, p. 70), o ECR está alicerçado na informação em tempo real e implica “transmissão de dados, padronização do transporte e pesquisa nos hábitos de compra do consumidor que podem dizer se uma garrafa de cerveja deve ocupar esse ou aquele lugar no supermercado”. Dessa forma, conceitualmente, o ECR pode ser definido como “uma iniciativa conjunta entre o varejo e a produção com a finalidade de otimizar e sincronizar a cadeia de valor, desde o produtor até o consumidor final”. (BERTAGLIA, 2003, p. 238). De forma prática, Pires (2009) analisa que o ECR foca em um melhor atendimento às necessidades dos consumidores nos pontos de vendas por meio da adoção de um sistema de reposição automática de produtos nas gôndolas com maior giro. Compartilhamento de Informações Consignação de Estoques ECRPrevisão: ressuprimento, fluxo enxuto – ênfase na Estratégias de Trade Marketing 27 ECR na prática Vamos imaginar que você se dirija a um supermercado e que este estabelecimento esteja interligado com o seu fornecedor por meio da troca eletrônica de informações (EDI - bancos de dados do supermercado e da indústria fornecedora do produto estão interligados). Se o produto for uma caixa de sabão em pó da marca OMO, a venda é registrada pelo caixa do supermercado que realiza a leitura ou informa o código de barras. Essa operação vai gerar, simultaneamente, a baixa desta unidade para o estabelecimento que vende e para a Gessy Lever, fabricante do produto, bem como o registro da venda naquele estabelecimento que vai alimentar todo um contexto de programação da produção e distribuição, com determinação de prazos de entrega. Em algumas situações, quando se utiliza um serviço de transporte terceirizado, a informação também pode ser transmitida para este elo da cadeia de abastecimento. A partir da exposição do contexto evolutivo do TM, evidenciado no Quadro 1.1, é possível entender que esta nova área contempla como desafio, tanto para a indústria quanto o varejo, conhecer a preferência do consumidor, para que, nesse sentido, se conheça o que ele quer comprar. O Trade Marketing tem atuação tática ou podemos considerar que sua atuação tem impacto estratégico? As empresas precisam ver o Trade Marketingcomo área de atuação estratégica, e não como área tática. Na prática, é preciso entender o que motivou a decisão de compra, pois esse ‘algo invisível’ é que faz a diferença. Notem que o cliente migrou de uma postura passiva ao domínio da exigência, o que lhe confere uma conduta que necessita ser interpretada. Para entendermos um pouco mais da relação dialógica presente entre indústria e cliente (estabelecimento de diálogo no qual existem situações em que o cliente influencia a indústria e, por sua vez, outras situações em que a indústria influencia o cliente), vamos ler a notícia “Danone ouve consumidores e relança Danette Ovomaltine - Produto ganhou flocos crocantes, que não estavam presentes na primeira edição da sobremesa, vendida em 2010”. 28 Capítulo 1 A Danone relança o Danette Ovomaltine, a pedido dos consumidores no Facebook. O produto foi vendido inicialmente em 2010 e, neste ano, a sobremesa ganhou um novo ingrediente: flocos crocantes de Ovolmatine, sugeridos pelos internautas. O lançamento passa a se chamar agora Danette Ovolmatine Mix, com preço sugerido de R$ 3,74. Com a iniciativa, a Danone espera estreitar ainda mais o relacionamento com o target jovem de Danette na internet, criando novidades em conjunto com os consumidores. (MARTINS, 2012). Notem que a influência dos clientes nessa negociação foi fundamental e a indústria redesenhou a proposta para atrair e manter clientes, diferenciando-se da concorrência. Em relação à concorrência, segundo Wright, Kroll e Parnell (2000), esta intensifica-se quando uma ou mais empresas de um setor percebem a oportunidade de melhorar sua posição frente a outras organizações. Nesse contexto, entender o que mobiliza o cliente a decidir pela realização da compra é um grande desafio para as empresas. Nota-se que essa reflexão alcança a formulação de estratégias, tendo em vista que a fidelização de clientes torna-se um importante foco, inclusive, de sobrevivência. Chiavenato (2004) analisa que a estratégia empresarial, na prática, representa um esforço conjunto e concentrado de alcançar objetivos organizacionais impostos pela missão da organização em um ambiente em que estão localizados mercados (oportunidades), e concorrentes (ameaças), e com os recursos que a organização dispõe ou pode alocar. Assim, a estratégia organizacional é a compatibilização entre três variáveis: os objetivos organizacionais a serem alcançados, a análise ambiental e análise organizacional. Estratégias de Trade Marketing 29 Esta contextualização nos remete a diferenciar a mentalidade operacional da estratégica, ou seja, diferenciar a empresa que alicerça sua tomada de decisões considerando apenas fatos do cotidiano, reproduzindo situações já vivenciadas, da empresa que, com mentalidade estratégica, contempla uma visão de futuro, na qual o gestor abstrai as situações rotineiras, projetando-as num ambiente de prospecção em longo prazo. As contribuições estratégicas do Trade Marketing vão desde a participação nas decisões e orientações da empresa, passando pelas definições de objetivos nos clientes adequados às necessidades traçadas na empresa, pelo entendimento do comportamento do consumidor, pelo canal de distribuição e até a mensuração e o controle dos resultados alcançados. (PIRES, 2008). Cônsoli e D’Andrea (2010, p. 44) analisam que o contexto para o desenvolvimento do TM foi marcado pela existência de três fatores: • ponto de venda como restrição ao número de marcas; • shopper superestimulado e confuso; • objetivos antagônicos entre varejistas (preços mais baixos, otimização da categoria) e fornecedores (valor agregado, otimização de SKU). Diante dessas constatações, os autores enfatizam que o principal objetivo que o TM preconiza é “diminuir, e se possível extinguir, os conflitos existentes nos canais de distribuição”. (CÔNSOLI; D’ANDREA, 2010, p. 44). A seguir, a Figura 1.4 delineia a evolução do TM considerando cinco fases que mostram uma alteração de ênfase, conforme o maior aprofundamento na relação dialógica entre os stakeholders que influenciam o processo de negociação. SKU é a sigla de Stock Keeping Unit, ou seja, unidades de materiais/ produtos distintas, mantidas em estoque. 30 Capítulo 1 Figura 1.4 - Evolução da implementação do TM Fonte: Adaptação de Cônsoli e D’Andrea (2010). Ao analisarmos a Figura 1.4, podemos perceber que, na fase de vendas, a partir do aumento na eficiência dos processos produtivos, foi registrado o crescimento dos estoques, sendo necessário grande esforço de vendas para escoar toda a produção. Dessa forma, a atuação foca ações de merchandising e de valorização do cliente. É uma etapa na qual as ações são desenvolvidas com foco no curto prazo e não há verba própria para a área de TM. Na fase de marketing, a visão se amplia no sentido de estabelecer apoio à comunicação e lançamento de produtos e campanhas. Assim, na fase de cliente, é evidenciada a análise do mix de produtos, giro, margens e gerenciamento de categoria. No topo do processo evolutivo, a fase de resultado financeiro envolve o controle de rentabilidade das ações e dos custos de servir e margens de clientes, sendo que, no momento atual que caracteriza a fase de desenvolvimento de negócio, há a identificação de oportunidades, de negócios e de estratégias de produto/canal. 1.3.1 A evolução do Trade Marketing no Brasil No Brasil, assim como em âmbito internacional, a evolução do TM não é associada a uma empresa específica, mas há uma clara influência das matrizes de empresas multinacionais nas filiais brasileiras, como Kolynos (atual Colgate- Palmolive), Nestlé e Unilever. (CÔNSOLI; D’ANDREA, 2010). Vendas • Apoio à área de vendas. • Atender às demandas vindas dos clientes e da própria área de vendas da empresa. • Apoio à atividade de marketing. • Objetivo é buscar ganhos no ponto de venda por meio de ações promocionais e de merchandising. • Área começa a interagir de maneira mais eficaz com as áreas de marketing e de vendas. • Organiza as atividades nos clientes de forma a trazer benefícios mútuos, tanto para a indústria como para seus parceiros comerciais. • Foco é a melhoria do resultado financeiro do negócio, do ponto de vista da empresa e do cliente. • Desenvolvimento de novos negócios com base na importância da interação com o consumidor dentro dos pontos de venda. Marketing Cliente Resultado financeiro Desenvolvimento de negócios VISÃO Estratégias de Trade Marketing 31 O Quadro 1.2 resume a evolução do varejo no Brasil a partir da década de 70, considerando como paradigmas: formatos, expansão, mercado e estratégia. Quadro 1.2 - Evolução dos varejistas no Brasil a partir de 1970 Parâmetros 1970 1980 1990-1995 1996-2000 2010 Paradigma Localização Produto Consumidor Polarização Conveniência Formatos Lojas de departamento tradicionais; venda direta; shopping centers Lojas de departamento especializadas e de desconto Lojas temáticas e multiespecializadas; clubes de atacado; Home TV Shopping Lojas ultraespecializadas; varejo como entretenimento (entertaining); internet Disponibilidade universal; mescla de produtos e serviços Expansão Regional Nacional Internacional Global Bairro Mercado Massificado Segmentado Nichos One-to-one Segmentação de massa Estratégia Ser uma opção Oferecer produtos diferenciados Atender a desejos Encantar o consumidor Ser multicanal e oferecer proximidade Fonte: Adaptação de Cônsoli e D’Andrea (2010). Na década de 1970, o ambiente de negócios se caracterizava por uma atuação mais restrita, em âmbito regional, sendo massificado e direcionado para lojas de departamentos tradicionais. O momento mostra o pouco poder de barganha, tendo em vista a estratégia ser uma opção, para os varejistas, sendo estes pressionados pelas indústrias. A partir da década de 1980, o cenário global é impactado por mudanças, tais como: globalização das grandes e consolidação das redesde supermercados, surgimento de novos formatos varejistas, aparecimento de marcas próprias (e também proliferação das marcas em geral), constituição de centrais de negócios por parte de pequenos varejistas, concorrência entre varejistas de configurações distintas e implementação de iniciativas do varejo on-line. (MOTTA; SANTOS; SERRALVO, 2008). No Brasil, a atuação ainda se mantém em nível nacional, com a ampliação de perspectiva no sentido de se oferecerem produtos diferenciados. As décadas seguintes são marcadas pela ampliação do escopo de atuação e do esforço de se ofertar a diferenciação como resposta à pressão exercida, tanto pela concorrência, quanto pelos clientes. 32 Capítulo 1 Seção 2 Papel desempenhado pelo profissional de Trade Marketing A jornada diária de um profissional da área de Trade Marketing envolve um caráter multidisciplinar e com forte influência de negociação. Assim, há constante interação com a área de marketing, em ações referentes a produto, promoção, material no ponto de venda, comportamento do consumidor e preços. Além disso, como é necessário agregar valor aos clientes por meio da disponibilidade de produtos no ponto de venda, há a interação com a área de logística e programação de produção. Também não podemos esquecer-nos das atividades que envolvem finanças, administração de vendas, entre outros inúmeros contatos e acesso. Cônsoli e D’Andrea (2010, p. 167) avaliam que os profissionais de Trade Marketing necessitam de habilidades, atitudes e competências, conforme evidenciado na Figura 1.5 apresentada a seguir. Figura 1.5: Perfil dos profissionais de Trade Marketing Fonte: Cônsoli e D’Andrea (2010). HABILIDADES COMPETÊNCIAS ATITUDES Negociação Planejamento Comunicação Liderança Conhecimento do negócio Energia Adaptabilidade Maturidade Trabalhos em equipe Criatividade Vendas Distribuição Marketing Finanças Informática Estratégias de Trade Marketing 33 Ao analisarmos a Figura 1.5 cabe, inicialmente, nos reportarmos ao conceito de habilidades, competências e atitudes. Conforme Chiavenato (2004, p. 19), habilidades dizem respeito à “capacidade de transformar conhecimento em ação e que resulta em um desempenho desejado”. Na situação de Trade Marketing, portanto, as habilidades envolvem comunicação, articulação e conhecimentos para negociar, planejar e liderar. As competências envolvem “qualidades de quem é capaz de analisar uma situação, apresentar soluções e resolver assuntos ou problemas”. (CHIAVENATO, 2004, p. 20). Assim, conforme a Figura 1.5, temos o contexto prático que envolve vendas, distribuição, marketing, finanças e informática. Por fim, a atitude “significa o comportamento pessoal do administrador diante das situações com que se defronta no seu trabalho. A atitude representa o estilo pessoal de fazer as coisas acontecerem, a maneira de liderar, de motivar, de comunicar e de levar as coisas para frente”. (CHIAVENATO, 2004, p. 21). Se observarmos a Figura 1.5 temos, em relação à atitude, o impulso e a determinação de inovar e de articular pessoas, uma vez que a proposição envolve energia, adaptabilidade, maturidade, trabalhos em equipe e criatividade. Alvarez (2008, p. 99) enfatiza que o profissional de Trade Marketing deve demonstrar uma variedade de características e competências que atendam à perspectiva multidisciplinar e multiinterativa: • Do ponto de vista comportamental: deve ter capacidade de interagir em grupo, motivar equipes (formais e informais), saber lidar com os diversos níveis hierárquicos, ser proativo, preocupado com os detalhes, rigoroso no cumprimento dos objetivos e com capacidade criativa. • No âmbito técnico: deve dominar as questões de marketing e vendas de sua organização, bem como as questões de gestão de varejo em geral. É necessário um bom conhecimento de técnicas de merchandising e promoções em pontos de venda, conhecimentos de logística, domínio de controles financeiros e da metodologia de elaboração e execução de planos. • Perspectiva de gestão: deve focar em resultados, ter capacidade de negociação formal e informal, dominar técnicas de planejamento e programação de atividades, ou seja, uma visão ampla sobre os negócios, ao mesmo tempo em que deve saber trabalhar com objetivos e focos claros. 34 Capítulo 1 Cabe destacar que a multidisciplinaridade e a atitude exigidas ao profissional que busca o intercâmbio e integração se devem à origem das ações da área de Trade Marketing, ou seja, à composição de conteúdos das áreas de vendas e marketing. Os níveis do processo decisório, conforme interfaces e principais processos do Trade Marketing, são apresentados no Quadro 1.3, no qual se observam quatro segmentações ajustadas ao escopo de atuação. Quadro 1.3 - Processo decisório e a relação com interfaces internas e principais processos em TM Escopo Interfaces internas Principais processos Estratégico Vendas Marketing Finanças Suprimentos e logística Serviços ao consumidor Recursos humanos Tecnologia da informação Revisão do plano de conta e canal (interno) Gerenciamento das contas chave de grandes clientes (com cliente) Orçamento anual Tático Vendas Marketing Recursos humanos Relações públicas Merchandising Planejamento de calendário promocional Desenvolvimento de menu promocional Colaboração com clientes Planejamento da demanda Operacional Vendas Finanças Recursos humanos Tecnologia da Informação Merchandising Gestão de equipe de merchandising Definição de indicadores chave e acompanhamento Suporte à decisão Marketing Vendas Tecnologia da informação Acompanhamento de concorrentes e mercado Fonte: Adaptação de Cônsoli e D’Andrea (2010). Estratégias de Trade Marketing 35 Conforme se pode observar no Quadro 1.3, existem interfaces internas que são comuns aos diferentes escopos que envolvem os níveis do processo decisório. Dessa forma, por exemplo, marketing e vendas permeiam todos os níveis: o que diferencia essas interfaces internas são os processos atribuídos a cada contexto de atuação. Notem que, no escopo de suporte à decisão, há uma atuação forte em relação ao ambiente externo da organização, sendo que se pode, a partir do cenário descrito, identificar ameaças e oportunidades que vão impactar os resultados da organização em longo prazo, além de fomentar subsídios à construção de estratégias. Definir estratégia em vendas significa perguntar-se, conforme evidenciam Peppers e Rogers (2005, p. 123): “Por que os seus clientes optam por comprar de você e não de seu concorrente?” A resposta de mais de 2000 executivos distribuídos em várias partes do mundo foi “confiança, confiabilidade e força do relacionamento, assim, como... conveniência, facilidade de negociar e assistência técnica”. (PEPPERS; ROGERS, 2005). Em relação ao perfil do profissional de TM, Alvarez (2006) analisa que os chamados Trade Marketers constituem gerentes de negócios. Ultrapassando as fronteiras da atividade de vendas, considera-os como: Consultores, planejadores e principalmente pessoas com um profundo conhecimento de seus clientes. Dominam todas as informações financeiras e de marketing necessárias para aperfeiçoar o volume de vendas de suas linhas de produtos, entendendo o posicionamento de mercado e as necessidades de seus clientes varejistas. Quanto à estrutura organizacional, a área de TM pode ser localizada de diversas formas, o que demonstra a não existência de uma proposta, reconhecida pelo mercado, como a mais eficiente. (SILVA NETO; SOARES; PITASSO, 2011). Conforme Randall, citado por Motta, Santos e Serralvo (2008), antes das alterações registradas em relação ao cenário competitivo e do surgimento do Trade Marketing, os departamentos de marketing estavam organizados com gerentes de produtos ou marcas, enquanto os departamentos de vendas estavam estruturados a partir da responsabilidade de gerentes de contas chave e/ou região geográfica. 36 Capítulo1 Dessa forma, o papel, muitas vezes, é dividido entre os setores de vendas e de marketing/comunicação, que atuam de forma conjunta para atender ao varejo. Motta, Santos e Serralvo (2008) analisam a partir de pesquisa direcionada a 25 executivos de TM, marketing e vendas que 65% das empresas têm o departamento de TM dentro da estrutura de vendas, o que indica o foco no desenvolvimento dos canais de distribuição. Em 25% das empresas o departamento está ajustado à área de marketing; a ênfase, portanto, encontra-se na proteção das marcas. No restante das empresas, há uma diretoria de TM. Essas são organizações com mais tempo de estruturação da área, atribuindo mais autonomia para o desenvolvimento de ações. Arbache et al. (2004) enfatizam que o papel do profissional de Trade Marketing está alinhado no sentido de garantir a rentabilidade dos canais de venda que comercializam as marcas da empresa. Além disso, é necessário maximizar a proposta de valor das marcas e produtos. Kotler (1998) analisa que a diferenciação através do canal de distribuição envolve cobertura, experiência e desempenho e cita o exemplo da empresa Dell em marketing direto, tendo em vista que esta empresa se distingue ao desenvolver e administrar o canal de marketing em contato direto com o cliente final. Conforme apresentado na Figura 1.6, a composição do desenho organizacional pode estar alicerçada em diferentes proposições, conforme o direcionamento de estratégias, podendo ser por: canal de distribuição, regional, categoria ou canal por categoria. Participaram do estudo empresas como a Arcor, Bauducco, Bombril, Coca-Cola, Johnson & Johnson, entre outras. Estratégias de Trade Marketing 37 Figura 1.6 - Diferentes tipos de estrutura organizacional Fonte: Cônsoli e D’Andrea (2010). A Figura 1.6 indica diferentes tipos de estrutura organizacional que podem ser desenvolvidos para alocar a área de TM com status de maior independência, uma vez que, em algumas situações, a área ainda está subordinada à área de vendas/ comercial ou marketing. Notem que a definição é alicerçada no escopo de atuação preconizada, sendo que se deve considerar a complexidade da empresa, que diz respeito ao portfólio de produtos, abrangência regional, número de canais de distribuição e número de ações de ponto de venda. Gerente nacional de Trade Marketing Gerente trade grande varejo Gerente trade pequeno varejo Gerente desenvolvimento vendas Canal: Estrutura segmentada por canal de distribuição Gerente nacional de T rade Marketing Gerente trade regional 1 Gerente trade regional 2 Gerente desenvolvimento vendas Regional: Estrutura segmentada pela distribuição geográ�ca da equipe de vendas Gerente nacional de T rade Marketing Gerente trade categoria 1 Gerente trade categoria 2 Gerente desenvolvimento vendas Categoria: Estrutura seguindo a estrutura de agrupamento de produtos Gerente nacional de Trade Marketing Gerente trade grande varejo Gerente trade pequeno varejo Gerente desenvolvimento vendas Canal por Categoria: Estrutura que contempla os canais de distribuição e o agrupamento de produto Assistente categoria 1 Assistente categoria 2 38 Capítulo 1 Assim, a estrutura mais abrangente, sob o ponto de vista de faturamento (analisar o custo versus benefício de implantar estruturas mais enxutas) e complexidade é a de canal por categoria, que direciona o desenho organizacional para atender ao tipo de canal, bem como à categoria de produto. Na outra ponta, encontramos as estruturas que focam categoria, canal e canal/regional, que determinam a composição a partir do enfoque que é delineado de atuação. Motta, Santos e Serralvo (2008, p. 92) enfatizam que, nas indústrias nas quais se determina a existência de uma diretoria de Trade Marketing, “o conceito é reconhecido como imprescindível”. Liria, citado por Almeida et al. (2012), afirma que há uma tendência evolutiva no desenvolvimento de uma área focada em Trade Marketing. Assim, aponta o desenvolvimento da estrutura em duas etapas distintas: a. criação do departamento responsável pelas ações que atendam às novas necessidades dos clientes, como a realização de promoções ad hoc, ofertas e operações específicas, incrementando a dinâmica no ponto de venda; b. delimitação do escopo e campo de atuação, o que vai determinar novos enfoques, como: planificação de vendas, ofertas especiais, sistemas de informação, promoções e ações de suporte a vendas e a gestão por categorias. Nas organizações nas quais os canais de distribuição necessitam de mais atenção e não há uma consolidação da área de Trade Marketing, a subordinação ocorre em relação à área de vendas. Uma possível restrição que pode ser atribuída a esta configuração diz respeito à ênfase no curto prazo. Em indústrias com foco em fortalecer marcas e produtos, a opção é alocar a área de Trade Marketing subordinada ao marketing. 2.1 Conflitos internos em Trade Marketing Alvarez (2008) enfatiza que uma das características da atividade de Trade Marketing se associa à multidisciplinaridade que decorre da atuação com diversas áreas, tanto do cliente como internamente, na empresa. Internamente o autor retrata a interação, conforme pode ser observado no quadro 1.4. Ad hoc: criado para esta finalidade. Estratégias de Trade Marketing 39 Quadro 1.4 – Multidisciplinaridade do Trade Marketing – interações na empresa Área Interações Marketing Entendimento das estratégias de marketing e do posicionamento de mercado da empresa por marca, linha de produtos e itens. Elaboração de planos conjuntos de penetração de mercado. Feedback sobre a aplicação da estratégia no ponto de venda. Informação sobre ações dos competidores no ponto de venda, lançamento de novos produtos. Discussão sobre lacunas de mercado e potenciais segmentos. Vendas Entendimento das políticas comerciais por setor e por cliente. Discussão sobre estratégias e instrumentos de negociação com os clientes. Elaboração de planos conjuntos de selling in e out, para o comprimento das metas de vendas. Discussão sobre custos de servir os clientes e metas de ações promocionais. Finanças Entendimento da alocação do orçamento de comunicação e de ações promocionais no ponto de venda. Discussão sobre a rentabilidade dos produtos e elasticidade custo. Elaboração de planos de rentabilidade por cliente. Logística Entendimento dos procedimentos, da flexibilidade e da velocidade de resposta das atividades logísticas. Discussão de planos de abastecimento para ações promocionais. Elaboração de controles sobre o abastecimento dos produtos no ponto de venda. Agências de promoção Elaboração de planos de ações de promoção de ponto de venda. Preparação de ações e materiais padronizados por cliente e canal. Desenvolvimento de sistemáticas de ações promocionais. Elaboração e controle de orçamento e retorno das ações promocionais. Fonte: Alvarez (2008, p.78). Apesar da convergência e da evidente necessidade de integração entre as áreas, Corstjens e Corstjens, citados por Motta, Santos e Serralvo (2008, p. 95), ressaltam as potenciais áreas de atrito entre Marketing e Trade Marketing: 40 Capítulo 1 a. Competição por recursos: a divisão do orçamento entre o Marketing voltado para o consumidor e o Trade Marketing é uma realidade questionada pelos executivos de marketing, pois os recursos para o desenvolvimento de marcas nas mentes dos consumidores são reduzidos percentualmente. Além disso, o tempo e a energia que a indústria no passado alocava para as atividades de Marketing passam a ter de ser repartidos com as novas e cada vez mais relevantes atividades de Trade Marketing. b. Produção de marcas próprias: os executivos de marketing encaram a produção de marcas próprias de forma muito negativa. Se essas marcas tiverem boa qualidade e forem incentivadas pela indústria, assim como é feito pelos varejistas, existirá a ameaça da quedanas vendas dos produtos próprios das indústrias ou, então, da perda de rentabilidade existente, já que mais recursos serão utilizados para promover esses produtos de forma a mantê-los competitivos em relação às marcas próprias. c. Precificação: nas negociações de calendários promocionais com os canais de distribuição, em especial com as contas chave, os executivos de Trade Marketing podem taticamente optar por reduções de preços que geram benefícios de curto prazo. Os executivos de marketing se opõem ao aumento e ao incentivo dessas práticas devido ao risco de colocarem em perigo o posicionamento de preços de suas marcas na mente dos consumidores, que é, em sua visão, a principal fonte geradora de rentabilidade em longo prazo. d. Novos produtos e gerenciamento de categorias: enquanto os profissionais de Marketing buscam lançar produtos que capturem novos nichos de mercado, quem trabalha em Trade Marketing enxerga outras possibilidades, como o desenvolvimento de produtos dentro do mesmo segmento dos produtos principais da indústria com boa qualidade e com outras marcas. A definição de qual dos projetos priorizar pode gerar disputa entre Marketing e Trade Marketing. Conforme evidenciam Toledo et al. (2007), a organização pode ser estruturada a partir de business teams, que constituem grupos formados contemplando a participação de diversos setores. Esses grupos focais são estruturados para desenvolver um projeto ou negócio específico, envolvendo gerentes de contas especiais ou nacionais e de categorias responsáveis por um grupo pequeno de clientes especiais. Estratégias de Trade Marketing 41 Dessa forma, as políticas estariam sendo estabelecidas pelo grupo de trabalho, sendo que os gerentes de contas teriam autonomia para tomar decisões táticas conforme determinado nas políticas estabelecidas. O que pensam os gestores sobre a existência da área de Trade Marketing? Em entrevista concedida à Revista Eletrônica Comunicações e Tendências, Nivaldo de Barros, Diretor de Trade Marketing da L’Óreal e Mestre no assunto, comenta: Comunicação & Tendências: Qual a sua opinião com relação ao Trade Marketing no Brasil? Você acha que as grandes empresas estão passando a dar mais foco nisso? E com relação à existência de um departamento de Trade Marketing, quando você acha que ele deve ser criado? Nivaldo: O Trade Marketing é um departamento relativamente novo na maioria das empresas brasileiras, porém, com certeza, vem aumentando significativamente sua importância estratégica nas mesmas. A cada dia a área se torna mais importante e passa a exercer papéis estratégicos dentro das organizações. É uma área que se fortalece com o crescimento da importância da construção de bons relacionamentos entre indústria e varejo. Esses dois agentes já entenderam que precisam trabalhar juntos para que o processo de compra para o consumidor se torne uma experiência cada vez mais prazerosa. Nesse aspecto, o Trade Marketing tem um papel fundamental para o alcance desse objetivo. Acredito que todas as empresas de bens de consumo que tenham a necessidade de comercialização de seus produtos através de distintos canais de distribuição devam pensar em criar e fortalecer departamentos de Trade Marketing em suas estruturas. A partir do momento em que a complexidade de relação entre indústria e varejo passa a se tornar uma barreira para o crescimento das empresas, é necessário que se crie uma área estruturada de Trade Marketing com o objetivo de facilitar essa relação. Fonte: Adaptação de Carrasqueira (2014). Para a operacionalização do sistema de Trade Marketing a empresa deverá atuar de forma diferenciada, voltada para o cliente em suas diversas áreas: produtos; preços; equipes de vendas; serviços; resultados e rentabilidade. Diante do exposto, nota-se que a estruturação da área de Trade Marketing é decorrente de um processo que tem por objetivo promover a solução de deficiências específicas de acordo com a realidade de cada empresa. Dessa forma, não há um modelo único, uma receita a ser seguida. 42 Capítulo 1 Seção 3 Objetivos do Trade Marketing Alvarez (2008, p. 71) considera o Trade Marketing como “uma filosofia da empresa, a qual entende que o foco no consumidor final deve ser ampliado para a ação diante deste consumidor no ponto de venda, local da arena competitiva”. A partir desse conceito é possível entendermos que o Trade Marketing é fruto da evolução das relações entre as empresas e o seu cliente (shoppers e/ ou consumidores). Hoje o varejo se preocupa, assim como a indústria, em reconhecer as necessidades a serem atendidas. Dessa forma, é um conceito em evolução, uma vez que não há fórmula pronta ou modelo que se possa aplicar indistintamente. Simoneti (2009) evidencia que os desafios para lidar com o mercado alteram e estabelecem novas perspectivas para varejistas, fabricantes e provedores de serviços, considerando: • Mudanças no ambiente familiar: uma vez que há mais pessoas morando sozinhas; muitas famílias lideradas pelas mulheres; mulheres que permanecem mais tempo fora de casa, trabalhando; aumento de casais sem filhos; necessidade de cuidar do corpo e saúde. • Crescimento dos índices de obesidade, doenças cardíacas e outras enfermidades: gera maior preocupação e gastos com a saúde; aumento de doenças modernas que impactam o consumo; ampliação do consumo de produtos funcionais; busca por maior qualidade de vida; existência de um padrão de beleza, de corpo perfeito, à venda. • Produtos exclusivos: massificação dos produtos não atende a todos os públicos; clientes estão dispostos a pagar mais pela exclusividade; fortalecimento de marca própria. • Novos ambientes de compras: novos canais de vendas (internet, lojas especializadas); novas formas de comunicar dentro das lojas (aromas, sons, experiências); demanda por mais serviços dentro do PDV, não somente por produtos. Neste ambiente complexo nota-se que o escopo de atuação do Trade Marketing é amplo, uma vez que envolve o alinhamento de estratégias e compõe o conjunto de processos que vão desde marketing industrial, canais de distribuição, comunicação, força de vendas, definição de preços (precificação), segmentação, entendimento do comportamento do consumidor, entre outros aspectos. Estratégias de Trade Marketing 43 Alvarez (2008, p. 74) analisa que os principais objetivos de Trade Marketing contemplam: • Promover a atratividade do produto no ponto de venda: estudar a posição do produto na área de vendas em geral, e na gôndola, em particular, procurando por meio deste posicionamento e de ações específicas ressaltar sua visibilidade para o consumidor final. • Ocupação do espaço físico no ponto de venda: ocupar o maior espaço possível no ponto de venda melhora a visibilidade do produto e limita as ações dos concorrentes; buscar espaços distintos ou incomuns que ressaltem a presença do produto e motivem o consumidor a comprá-lo, seja do ponto de vista de sua percepção física, seja de ações de comunicação que remetam a sua presença. • Garantir a visibilidade da estratégia de marketing da empresa: orientar as ações de comunicação, de localização física, de mix de produtos, de merchandising e de posicionamento de preço para que atendam e potencializem as estratégias de marketing estabelecidas pela empresa. • Apoiar e orientar os novos lançamentos de marketing: desenvolver opções para que os novos produtos ganhem visibilidade e destaque na área de vendas, para que sejam reconhecidos e gerem curiosidade e motivação de experimentação; desenvolver ações integradas com o processo de comunicação tradicional, identificar pontos físicos de destaque para exposição e promover ações de conhecimento dos produtos no ponto de venda. • Apoiar e orientar a força de vendas, desenvolvendo o potencial dos clientes: desenvolver ações de selling out para os clientes, de tal forma que a equipe de vendas tenha maior quantidade de argumentos de negociação
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