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Universidade do Sul de Santa Catarina Palhoça UnisulVirtual 2007 Psicologia da Educação I Disciplina na modalidade a distância psicologia_da_educacao.indb 1psicologia_da_educacao.indb 1 26/4/2007 15:01:1826/4/2007 15:01:18 Créditos Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina UnisulVirtual - Educação Superior a Distância Campus UnisulVirtual Rua João Pereira dos Santos, 303 Palhoça - SC - 88130-475 Fone/fax: (48) 3279-1541 e 3279-1542 E-mail: cursovirtual@unisul.br Site: www.virtual.unisul.br Reitor Unisul Gerson Luiz Joner da Silveira Vice-Reitor e Pró-Reitor Acadêmico Sebastião Salésio Heerdt Chefe de Gabinete da Reitoria Fabian Martins de Castro Pró-Reitor Administrativo Marcus Vinícius Anátoles da Silva Ferreira Campus Sul Diretor: Valter Alves Schmitz Neto Diretora adjunta: Alexandra Orsoni Campus Norte Diretor: Ailton Nazareno Soares Diretora adjunta: Cibele Schuelter Campus UnisulVirtual Diretor: João Vianney Diretora adjunta: Jucimara Roesler Equipe UnisulVirtual Administração Renato André Luz Valmir Venício Inácio Bibliotecária Soraya Arruda Waltrick Cerimonial de Formatura Jackson Schuelter Wiggers Coordenação dos Cursos Adriano Sérgio da Cunha Aloísio José Rodrigues Ana Luisa Mülbert Ana Paula Reusing Pacheco Cátia Melissa S. Rodrigues (Auxiliar) Charles Cesconetto Diva Marília Flemming Itamar Pedro Bevilaqua Janete Elza Felisbino Jucimara Roesler Lilian Cristina Pettres (Auxiliar) Lauro José Ballock Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo Luiz Otávio Botelho Lento Marcelo Cavalcanti Mauri Luiz Heerdt Mauro Faccioni Filho Michelle Denise Durieux Lopes Destri Moacir Heerdt Nélio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrícia Alberton Patrícia Pozza Raulino Jacó Brüning Rose Clér E. Beche Tade-Ane de Amorim (Disciplinas a Distância) Design Gráfi co Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro (Coordenador) Adriana Ferreira dos Santos Alex Sandro Xavier Evandro Guedes Machado Fernando Roberto Dias Zimmermann Higor Ghisi Luciano Pedro Paulo Alves Teixeira Rafael Pessi Vilson Martins Filho Gerência de Relacionamento com o Mercado Walter Félix Cardoso Júnior Logística de Encontros Presenciais Marcia Luz de Oliveira (Coordenadora) Aracelli Araldi Graciele Marinês Lindenmayr Guilherme M. B. Pereira José Carlos Teixeira Letícia Cristina Barbosa Kênia Alexandra Costa Hermann Priscila Santos Alves Logística de Materiais Jeferson Cassiano Almeida da Costa (Coordenador) Eduardo Kraus Monitoria e Suporte Rafael da Cunha Lara (Coordenador) Adriana Silveira Caroline Mendonça Dyego Rachadel Edison Rodrigo Valim Francielle Arruda Gabriela Malinverni Barbieri Josiane Conceição Leal Maria Eugênia Ferreira Celeghin Rachel Lopes C. Pinto Simone Andréa de Castilho Tatiane Silva Vinícius Maycot Serafi m Produção Industrial e Suporte Arthur Emmanuel F. Silveira (Coordenador) Francisco Asp Projetos Corporativos Diane Dal Mago Vanderlei Brasil Secretaria de Ensino a Distância Karine Augusta Zanoni (Secretária de Ensino) Ana Luísa Mittelztatt Ana Paula Pereira Djeime Sammer Bortolotti Carla Cristina Sbardella Franciele da Silva Bruchado Grasiela Martins James Marcel Silva Ribeiro Lamuniê Souza Liana Pamplona Marcelo Pereira Marcos Alcides Medeiros Junior Maria Isabel Aragon Olavo Lajús Priscilla Geovana Pagani Silvana Henrique Silva Vilmar Isaurino Vidal Secretária Executiva Viviane Schalata Martins Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coordenador) Ricardo Alexandre Bianchini Rodrigo de Barcelos Martins Equipe Didático- pedagógica Capacitação e Apoio Pedagógico à Tutoria Angelita Marçal Flores (Coordenadora) Caroline Batista Enzo de Oliveira Moreira Patrícia Meneghel Vanessa Francine Corrêa Design Instrucional Daniela Erani Monteiro Will (Coordenadora) Carmen Maria Cipriani Pandini Carolina Hoeller da Silva Boeing Dênia Falcão de Bittencourt Flávia Lumi Matuzawa Karla Leonora Dahse Nunes Leandro Kingeski Pacheco Ligia Maria Soufen Tumolo Márcia Loch Viviane Bastos Viviani Poyer Núcleo de Avaliação da Aprendizagem Márcia Loch (Coordenadora) Cristina Klipp de Oliveira Silvana Denise Guimarães Pesquisa e Desenvolvimento Dênia Falcão de Bittencourt (Coordenadora) Núcleo de Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel psicologia_da_educacao.indb 2psicologia_da_educacao.indb 2 26/4/2007 15:01:5826/4/2007 15:01:58 Apresentação Este livro didático corresponde à disciplina Psicologia da Educação I. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma, abordando conteúdos especialmente selecionados e adotando uma linguagem que facilite seu estudo a distância. Por falar em distância, isso não signifi ca que você estará sozinho. Não esqueça que sua caminhada nesta disciplina também será acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade. Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois sua aprendizagem é nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual psicologia_da_educacao.indb 3psicologia_da_educacao.indb 3 26/4/2007 15:01:5926/4/2007 15:01:59 psicologia_da_educacao.indb 4psicologia_da_educacao.indb 4 26/4/2007 15:02:0026/4/2007 15:02:00 Maria da Glória Silva e Silva Palhoça UnisulVirtual 2007 Design instrucional Viviani Poyer Psicologia da Educação I Livro didático psicologia_da_educacao.indb 5psicologia_da_educacao.indb 5 26/4/2007 15:02:0026/4/2007 15:02:00 Copyright © UnisulVirtual 2007 N enhum a parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer m eio sem a prévia autorização desta instituição. Edição --- Livro Didático Professor Conteudista Maria da Glória Silva e Silva Design Instrucional Viviani Poyer ISBN 978-85-60694-55-6 Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagram ação Vilson Martins Filho Revisão Ortográfica B2B 370.15 S58 Silva, Maria da Glória Silva e Psicologia da educação I : livro didático / Maria da Glória Silva e Silva ; design instrucional Viviani Poyer. – Palhoça : UnisulVirtual, 2007. 124 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-60694-55-6 1. Psicologia educacional. I. Poyer, Viviani. II. Título. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03 Palavras da professora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE 1 – Um pouco de história da Psicologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 UNIDADE 2 – Primeiras interfaces entre Psicologia e Educação: o escolanovismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 UNIDADE 3 – A Psicologia Cognitivista e a aprendizagem . . . . . . . . . . . . 55 UNIDADE 4 – Concepções de desenvolvimento e práticas pedagógicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 UNIDADE 5 – A Psicologia da Educação na realidade brasileira . . . . . . . 97 Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 Sobre a professora conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 Sumário psicologia_da_educacao.indb 7psicologia_da_educacao.indb 7 26/4/2007 15:02:0026/4/2007 15:02:00 psicologia_da_educacao.indb 8psicologia_da_educacao.indb 8 26/4/2007 15:02:0026/4/2007 15:02:00 Palavras do professor ou professora Caro aluno, Seja bem-vindo à disciplina de Psicologia da Educação I! Existem diferentes modos de entender o desenvolvimento e a aprendizagem de crianças, jovens e adultos na escola. Cada teoria psicológica eleita como referência para tratar destas questões traz em seu bojo uma série de implicações para o entendimento das relações estabelecidas entre o professor e os alunos e dos alunos entre si na realidade escolar. Para compreender melhor tudo isso, é necessário conhecer como as teorias da Psicologia vêm abordando este assunto ao longo da história desta ciência. Os conteúdos estudados na disciplina Psicologia da Educação I são fundamentais para que você possa analisar o processo de ensino-aprendizagem a partir de diferentes pontos de vista. Ingresse no conteúdo da Psicologia da Educação I e bons estudos! Profa. Maria da Glória Silva e Silva psicologia_da_educacao.indb 9psicologia_da_educacao.indb 9 26/4/2007 15:02:0026/4/2007 15:02:00 psicologia_da_educacao.indb 10psicologia_da_educacao.indb 10 26/4/2007 15:02:0126/4/2007 15:02:01 Plano de estudo O plano de estudos visa orientá-lo/la no desenvolvimento da Disciplina. Nele, você encontrará elementos que esclarecerão o contexto da Disciplina e sugerirão formas de organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na Unisul Virtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam. Assim, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação. São elementos desse processo: o livro didático; o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem - EVA; as atividades de avaliação (complementares, a distância e presenciais). Ementa Matrizes epistemológicas da Psicologia. As concepções de desenvolvimento, inatismo, comportamentalismo e cognitivismo, e suas implicações para a educação. Inserção histórica da Psicologia da Educação no Brasil. Projeto de prática de ensino. Objetivos identifi car as matrizes epistemológicas da Psicologia e suas implicações para a compreensão do desenvolvimento e da aprendizagem na escola; psicologia_da_educacao.indb 11psicologia_da_educacao.indb 11 26/4/2007 15:02:0126/4/2007 15:02:01 12 Universidade do Sul de Santa Catarina descrever as características das concepções de desenvolvimento e aprendizagem inatista, comportamentalista e cognitivista, relacionando-as com diferentes práticas pedagógicas; compreender o processo de inserção da Psicologia da Educação na realidade brasileira; fundamentar projetos de prática de ensino com conhecimentos da Psicologia. Carga horária A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula. Conteúdo programático/objetivos Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao fi nal de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade defi nem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação. Unidade 1 - Um pouco de história da Psicologia Nesta unidade, você conhecerá algumas teorias da Psicologia, também chamadas de escolas. Você observará que estas teorias fazem parte da história desta ciência e apresentam implicações umas para as outras, sendo que algumas delas trazem conceitos signifi cativos até hoje para a prática pedagógica. Estas teorias são: o Estruturalismo, o Funcionalismo, o Behaviorismo, a Psicologia da Gestalt, a Psicanálise e o Humanismo. psicologia_da_educacao.indb 12psicologia_da_educacao.indb 12 26/4/2007 15:02:0226/4/2007 15:02:02 13 Nome da disciplina Unidade 2 -Primeiras interfaces entre Psicologia e Educação: o escolanovismo Esta unidade trata do escolanovismo, movimento que procurou renovar a educação tradicional colocando o aluno numa posição ativa no processo de ensino e aprendizagem. Você conhecerá a Escola Nova por meio do estudo do pensamento de dois pesquisadores de grande relevância: John Dewey e Edouard Claparède. Unidade 3 - A Psicologia Cognitivista e a aprendizagem Na Unidade 3, você conhecerá as características dos processos mentais e o modo como o cognitivismo os estuda. Aprenderá sobre duas teorias da aprendizagem consideradas cognitivistas: a teoria da aprendizagem signifi cativa de David Ausubel e a teoria cognitivista de Jerome Bruner. Unidade 4 - Concepções de desenvolvimento e práticas pedagógicas Esta unidade trata de concepções de desenvolvimento e de aprendizagem relacionadas às teorias estudadas até este momento. Você conhecerá as concepções inatista, comportamentalista e cognitivista do desenvolvimento e da aprendizagem e suas implicações para a prática pedagógica. Unidade 5 - A Psicologia da Educação na realidade brasileira Nesta unidade, serão estudados alguns marcos importantes da história da Psicologia da Educação no Brasil. Você terá a oportunidade de caracterizar diferentes formas de entender o fracasso escolar das crianças pobres a partir de refl exões produzidas pela Psicologia no Brasil e de conhecer campos de atuação da Psicologia na aprendizagem escolar. psicologia_da_educacao.indb 13psicologia_da_educacao.indb 13 26/4/2007 15:02:0226/4/2007 15:02:02 14 Universidade do Sul de Santa Catarina Agenda de atividades/ Cronograma Verifi que com atenção o EVA, organize-se para acessar periodicamente o espaço da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura; da realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas e tutor. Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas, com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina. psicologia_da_educacao.indb 14psicologia_da_educacao.indb 14 26/4/2007 15:02:0226/4/2007 15:02:02 15 Atividades obrigatórias Demais atividades (registro pessoal) psicologia_da_educacao.indb 15psicologia_da_educacao.indb 15 26/4/2007 15:02:0226/4/2007 15:02:02 psicologia_da_educacao.indb 16psicologia_da_educacao.indb 16 26/4/2007 15:02:0226/4/2007 15:02:02 UNIDADE 1 Um pouco de história da Psicologia Objetivos de aprendizagem Defi nir os principais conceitos elaborados por algumas escolas psicológicas que fundaram a Psicologia como ciência. Identifi car implicações de alguns dos conceitos psicológicos estudados para o pensamento educacional. Seções de estudo Seção 1 A “era das escolas da Psicologia” Seção 2 Psicologia da Forma ou Gestalt Seção 3 O Behaviorismo Seção 4 A Psicanálise e o Humanismo 1 psicologia_da_educacao.indb 17psicologia_da_educacao.indb 17 26/4/2007 15:02:0226/4/2007 15:02:02 18 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de conversa Para que você dê início ao seu percurso nesta disciplina, necessita conhecer um pouco da história do estudo dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem pela Psicologia. Estudar a história de uma disciplina é importante, porque os conceitos que a constituem não nascem “do nada”. Toda idéia tem uma origem. O conhecimento dessa origem pode ser um importante subsídio para a compreensão dos caminhos pelos quais seguiram as pesquisas sobre o processo de desenvolvimento e de aprendizagem de crianças, adolescentes e adultos. Como o objetivo principal é compreender de que forma as teorias psicológicas geraram implicações para o que acontece dentro da escola, não abordaremos todas as teorias existentes, mas apenas as que apresentam infl uências relevantes para o pensamento pedagógico sobre a aprendizagem e o desenvolvimento. Você terá contato com muitos nomes, fatos e conceitos que, possivelmente, lhe serão novos. Você se sente preparado para esta jornada? Respire fundo, concentre-se e dê o próximo passo para este novo desafi o! psicologia_da_educacao.indb 18psicologia_da_educacao.indb 18 26/4/2007 15:02:0326/4/2007 15:02:03 19 Psicologia da Educação I Unidade 1 SEÇÃO 1 – A “era das escolas da Psicologia” A subjetividade e o comportamento são objeto de produção de conhecimento pelo ser humano desde a antiguidade. A Filosofi a clássica já se preocupava com temas psicológicos como a origem da alma e o modo como os sujeitos se relacionam com o mundo. Ainda assim, foi apenas a partir do fi nal do século XIX que estas questões tornaram-se objeto de estudo de uma disciplina científi ca independente: a Psicologia. Ao fi nal do século XIX e durante as primeiras décadas do século XX, a Psicologia passou a ter o status de ciência. Procurou-se, assim, desenvolver propostas metodológicas para verifi car se as teorias sobre o funcionamento da mente e o comportamento dos seres humanos, existentes já na Filosofi a antiga, correspondiam à realidade. Nesta época, cinco principais pontos de vista tornaram-se foco do trabalho dos pesquisadores em Psicologia: o do Estruturalismo, o do Funcionalismo, o do Behaviorismo, o da Psicologia da Gestalt e o da Psicanálise. Este período é denominado pelos historiadores de “era das grandes escolas da Psicologia”. Os partidários de cada um desses cinco pontos de vista aglutinavam-se em grupos coesos que produziam pesquisa e digladiavam entre si. Já em meados do século XX, muitas dessas escolas foram perdendo a força, mantendo-se ativos até hoje apenas o Behaviorismo e a Psicanálise. A partir da segunda metade daquele século, o Humanismo de Carl Rogers fez-se tão forte e com tantos adeptos que poderia também ser visto como uma escola da Psicologia. Surgiu ainda neste período o Cognitivismo, com o estudo do processamento das informações pela mente humana. Nesta unidade, conheceremos um pouco do que foi produzido pelos defensores de cada uma dessas linhas de estudo, a fi m de identifi car, na história das pesquisas sobre a aprendizagem e o desenvolvimento humano pela Psicologia, elementos que infl uenciam o pensamento pedagógico até a atualidade. A palavra Psicologia deriva das palavras latinas psique (alma) e logos (razão ou conhecimento). psicologia_da_educacao.indb 19psicologia_da_educacao.indb 19 26/4/2007 15:02:0326/4/2007 15:02:03 20 Universidade do Sul de Santa Catarina Nesta seção, iniciaremos pelo Estruturalismo e pelo Funcionalismo. Estruturalismo O Estruturalismo de Wilhelm Wundt (1832–1920) e de Edward Bradford Titchener (1867-1927) não teve implicações pedagógicas e extinguiu-se com a morte destes pesquisadores, de modo que dedicaremos apenas poucas palavras a esta escola da Psicologia, para que você possa compreender a relação desta com as demais. É interessante que você saiba que Wilhelm Wundt fundou o primeiro laboratório de estudos experimentais em Psicologia, o que o faz fundador desta ciência. O objetivo do Estruturalismo era descobrir tudo sobre a estrutura e o conteúdo da mente humana. Seus partidários sustentavam que cada totalidade psicológica compõe-se de elementos (sensações, imagens e sentimentos) que se encontram justapostos, associados entre si. A tarefa do pesquisador seria descobrir como são estes elementos e como estes conteúdos mentais se combinam. O método eleito para este estudo era a introspecção. Buscando especifi car bem as características de cada um dos processos psicológicos básicos, especialmente os de atenção, percepção e memória, os estruturalistas fundaram os primeiros laboratórios de Psicologia na Europa, migrando, posteriormente, para os Estados Unidos. Funcionalismo O Funcionalismo desenvolveu-se nos Estados Unidos. Os funcionalistas preocupavam-se em entender o “porquê” da experiência e do comportamento. Em lugar de fazer isso buscando os elementos componentes da mente, como faziam os estruturalistas, buscavam examinar as atividades da mente, procurando compreender como ela realiza as funções de adaptação à realidade. A introspecção deveria ser realizada por observadores altamente treinados. Estes se concentrariam em analisar as suas próprias experiências vividas no contato com os estímulos do ambiente, procurando descrever o mais precisamente possível as sensações experienciadas e analisar as relações existentes entre elas. psicologia_da_educacao.indb 20psicologia_da_educacao.indb 20 26/4/2007 15:02:0326/4/2007 15:02:03 21 Psicologia da Educação I Unidade 1 O funcionalismo preocupa-se com a utilidade prática das idéias e dos comportamentos para a sobrevivência do organismo no meio ambiente. Essa busca de utilidade confere aos funcionalistas um modo pragmatista de ver o mundo, pois, para eles, só tem valor estudar os processos mentais que têm um sentido prático. William James, médico, fi lósofo e psicólogo, professor da Universidade de Harvard, pode ser considerado o fundador do Funcionalismo em Psicologia. Observamos o seu forte pragmatismo quanto este afi rma que as idéias só tem sentido se tiverem efeitos ou conseqüências. Para James, idéias que não têm nenhuma implicação prática não têm por que existir. Outra idéia que identifi camos no pensamento de Willian James é a de que a evolução biológica fez com que o ser humano desenvolvesse a capacidade de refl exão, que permite que este se adapte ao ambiente em que está inserido. O pensamento permite que possamos reagir aos estímulos do meio de modo indireto, mediado pela inteligência, e não apenas por meio de respostas imediatas, como ocorre com os animais. Assim, James valoriza muito a capacidade que o homem tem de desenvolver o auto-controle por meio da vontade, constituindo a sua própria consciência pela seleção de bons hábitos. A noção de hábito como constituinte da personalidade é expoente no pensamento de James. Para ele, a personalidade é constituída de inclinações orgânicas e do hábito. A atividade repetida muitas vezes produz uma trilha no cérebro. Esta seria a base fi siológica do hábito. Segundo sua visão, o principal objetivo da educação seria contribuir para a criação de bons hábitos. Desta forma, James defendia a aprendizagem por repetição ou memorização. psicologia_da_educacao.indb 21psicologia_da_educacao.indb 21 26/4/2007 15:02:0326/4/2007 15:02:03 22 Universidade do Sul de Santa Catarina Atualmente, acredita-se que os conteúdos aprendidos desta forma são apenas decorados, mas não são aprendidos de modo signifi cativo. Na unidade 2, você conhecerá o trabalho de dois importantes teóricos funcionalistas que desenvolveram idéias sobre como ocorre a aprendizagem e qual é o papel da educação para o desenvolvimento humano: John Dewey (1859-1952) e Edouard Claparède. Você verá como o funcionalismo se desenvolveu inclusive no Brasil, dando fundamento científi co ao ideário educacional escolanovista. SEÇÃO 2 – Psicologia da Forma ou Gestalt A escola gestaltista da Psicologia deu grande relevo ao estudo sistemático do processo psicológico da percepção e procurou esclarecer o papel deste processo na organização da aprendizagem. Foi uma reação à visão associacionista, presente no Estruturalismo e, de outro modo, no Funcionalismo e no Behaviorismo, que você conhecerá na próxima seção. As teorias associacionistas vêem os fenômenos psicológicos como resultantes da soma de pequenas sensações, reações, percepções, enfi m, de um somatório de partes que se combinam de maneira mecânica. Para os psicólogos da Gestalt, não se pode analisar os fenômenos mentais e comportamentais em elementos pré-determinados arbitrariamente, pois o todo psicológico é mais do que a soma de suas partes. Assim, os fenômenos psicológicos merecem ser compreendidos em sua totalidade. O conceito de Gestalt, forma ou estrutura foi expresso como um conjunto de coisas que se prendem, se apóiam e se determinam reciprocamente.[...] Gestalt signifi ca psicologia_da_educacao.indb 22psicologia_da_educacao.indb 22 26/4/2007 15:02:0426/4/2007 15:02:04 23 Psicologia da Educação I Unidade 1 um padrão ou todo organizado, ao invés de uma soma de partes. A maneira de ser de cada parte depende da estrutura do conjunto e das leis que o regem (CAMPOS, 1997, p. 32). A Psicologia da Gestalt é representada historicamente pelos pesquisadores Wertheimer, Kohler e Koff ka. Wertheimer pesquisou os processos de percepção visual. Ele defendeu a idéia de que o todo é mais do que a soma das partes nos fenômenos psicológicos demonstrando-a por meio de experimentos, como o apresentado a seguir. Veja a fi gura: Figura 1.1 – Triângulo Observando esta fi gura, uma pessoa pode interpretá-la como um triângulo. No entanto, não há nada em cada um dos pontos que remeta a tal fi gura geométrica. É a relação entre os pontos, estabelecida pelo observador, que leva a esta percepção total. Wolfgang Kohler (1887-1967) concentrou-se no estudo do desenvolvimento da inteligência e da aprendizagem. Estudou chimpanzés em situações de resolução de problemas práticos e, dos resultados obtidos com estes animais, derivou idéias sobre a aprendizagem humana. Para Kohler, não é o treino ou o hábito, como proposto pelo Funcionalismo de William James, nem o condicionamento, como proposto pelo Behaviorismo, que explica a aprendizagem, mas sim o fenômeno do insight. psicologia_da_educacao.indb 23psicologia_da_educacao.indb 23 26/4/2007 15:02:0426/4/2007 15:02:04 24 Universidade do Sul de Santa Catarina Figura 1.2 - Foto de experimento de Kohler com macacos Fonte: http://www.ufrgs.br/faced/slomp/edu01135/chimpanze3.jpg O insight é o momento em que o campo perceptivo se reorganiza frente a um conhecimento novo. Neste fenômeno, o animal compreende as relações entre as partes da situação-problema que lhe é apresentada, ao dar-se conta do todo, e age em conformidade com as relações percebidas. Num de seus experimentos, Kohler colocava do lado de fora da gaiola de um macaco um pedaço de uma vara que podia ser encaixado a outro pedaço, colocado dentro da jaula. Era colocado ainda um cacho de bananas a uma altura inacessível para o macaco, além de um caixote. A tarefa do macaco era pegar o cacho de bananas e, para isso, ele precisaria estabelecer as relações certas entre os objetos disponíveis, dando-se conta da solução a partir destas conexões. Kohler percebeu que todos os elementos envolvidos na solução do problema necessitavam estar dentro do campo de visão do macaco para que ele percebesse as relações possíveis, reunindo os objetos do modo adequado para alcançar suas bananas. Deriva-se deste experimento que a forma de apresentação dos estímulos num campo tem grande infl uência na organização subseqüente. Será que esta idéia se relaciona com a forma de apresentação dos materiais didáticos ao aluno? psicologia_da_educacao.indb 24psicologia_da_educacao.indb 24 26/4/2007 15:02:0426/4/2007 15:02:04 25 Psicologia da Educação I Unidade 1 Nos seres humanos, o insight provoca a sensação agradável da descoberta repentina da solução de um problema: Eureka! Veja as fi guras a seguir. Cada uma destas fi guras pode ser percebida de mais de um modo. Mais do que os traços das próprias fi guras, o que determina a interpretação que será dada a elas é o olhar do observador. Figura 1.3 – Idosa e jovem Fonte: http://www.ufrgs.br/faced/slomp/edu01135/idosa-jovem2.gif Figura 1.4 - Perfi s e taça Fonte: http://www.ufrgs.br/faced/slomp/edu01135/perfi s-taca1.gif psicologia_da_educacao.indb 25psicologia_da_educacao.indb 25 26/4/2007 15:02:0426/4/2007 15:02:04 26 Universidade do Sul de Santa Catarina Figura 1.5 – Pato e coelho Fonte: http://www.ufrgs.br/faced/slomp/edu01135/patocoelho1.gif Você conseguiu ver mais de uma possibilidade de interpretação para cada uma das fi guras apresentadas? Como você se sentiu ao descobrir a segunda possibilidade, que você não viu logo no primeiro olhar? Esta é a sensação do insight. A Psicologia da Gestalt defende o isomorfi smo entre os fenômenos psíquicos e os processos cerebrais a eles subjacentes. Isso signifi ca que o funcionamento psicológico apresenta propriedades semelhantes às do funcionamento cerebral. Qualquer estado de consciência tem propriedades estruturais semelhantes no córtex. Se vemos um quadrado, haveria uma parte topologicamente igual formada de quatro lados no córtex visual (ENGELMANN, 1978, p.17). Para os gestaltistas, os estímulos não atingem o córtex cerebral de modo isolado. Pelo contrário, o cérebro os organiza em formas que os inter-relacionam, sendo que a forma a ser percebida depende das características do cérebro em questão. Para a Psicologia da Gestalt, o olhar do observador é mais importante do que as características do estímulo. Assim, quando falamos em percepção ou compreensão de uma situação problema, haveria uma propensão do sujeito para perceber as fi guras ou situações desta ou daquela forma. É por isso que a Psicologia da Gestalt é apontada como apriorística, ou inatista, na medida em que características inatas do cérebro psicologia_da_educacao.indb 26psicologia_da_educacao.indb 26 26/4/2007 15:02:0526/4/2007 15:02:05 27 Psicologia da Educação I Unidade 1 determinariam as diferenças individuais de percepção, de aprendizagem e de resolução de problemas. Você estudará mais sobre as implicações da concepção inatista da aprendizagem para a educação na unidade 4. Neste momento, cabe ressaltar que esta visão inatista da aprendizagem sustentada pela Psicologia da Gestalt enfrentou fortes oposições representadas pelas teorias ambientalistas e pelas teorias interacionistas. As teorias interacionistas, como a de Jean Piaget, por exemplo, sustentaram que o importante para que se aprenda nunca é somente o que é inato, quer dizer, o que nasce com o indivíduo. Também nunca é somente o que se encontra no ambiente, o que vem de fora, mas a interação de aspectos inatos e ambientais. Voltaremos a este assunto mais tarde. O Behaviorismo, por sua vez, não valoriza aspectos inatos do ser humano como importantes para que ocorra a aprendizagem, e sim os comportamentos adquiridos a partir da estimulação externa, isto é, a partir dos estímulos encontrados no ambiente. Você estudará o Behaviorismo na próxima seção. SEÇÃO 3 - O Behaviorismo O Behaviorismo é considerado uma teoria ambientalista. Os behavioristas procuram estudar os aspectos objetivos, observáveis e mensuráveis da atividade psicológica, deixando de lado aspectos subjetivos, considerados não mensuráveis. Por isso, seus partidários deixaram de lado o estudo da mente e voltaram- se para o estudo do comportamento. O estudo do comportamento animal é parte importante do behaviorismo. O comportamento dos animais não pode ser pesquisado por introspecção, já que os animais, naturalmente, não podem narrar o que estão sentindo se psicologia_da_educacao.indb 27psicologia_da_educacao.indb 27 26/4/2007 15:02:0526/4/2007 15:02:05 28 Universidade do Sul de Santa Catarina questionados sobre isso. Para conhecer a psicologia animal, o método da observação, defendido pelos behavioristas, acaba sendo o caminho possível. Este método foi também usado por estes pesquisadores para o estudo dos seres humanos. Para conhecer esta escola da Psicologia, é interessante evidenciar que desde 1860 pesquisadores russos chamados de refl exologistas, como I. M. Sechenov (1829-1905), Ivan P. Pavlov (1849-1936) e Vladimir Bechterev (1857-1927), já sustentavam que o caminho adequado para estudar a aprendizagem era a investigação fi siológica dos refl exos. Destes pesquisadores, o que fi cou mais conhecido foi Ivan Pavlov. Você já ouviu falar de Pavlov? Estudando secreções digestivas em seu laboratório, Pavlov observou eventos interessantes que ocorriam com a salivação dos cães utilizados em seus experimentos e, a partir disso, passou a pesquisar o que chamou de refl exos condicionados. Em seu experimento mais famoso, demonstrou que um estímulo inicialmente neutro, como o som de uma campainha, que não está associado à salivação dos cães, poderia passar a produzir esta resposta se a campainha fosse tocada juntamente com a apresentação do alimento por repetidas vezes. O processo de associação da campainha (estímulo - S) à salivação (resposta - R) foi denominado condicionamento. John B. Watson (1878-1958) foi o principal divulgador do Behaviorismo. Ele entendia que, se a observação objetiva era um método adequado para conhecer o comportamento animal, por que não utilizá-la com seres humanos? Para Watson, o processo de condicionamento, isto é, a associação de um estímulo inicialmente neutro a uma resposta, por meio do treinamento ou repetição, era a chave para a compreensão do comportamento. A afi rmação a seguir é famosa, e foi feita por este pesquisador num de seus livros – “O Behaviorismo” (1925): Refl exo é o nome dado a comportamentos que disparam quando o indivíduo se encontra em determinadas situações. No bebê, por exemplo, o desconforto dispara o choro. Nos animais em geral, a presença do alimento dispara a salivação. psicologia_da_educacao.indb 28psicologia_da_educacao.indb 28 26/4/2007 15:02:0626/4/2007 15:02:06 29 Psicologia da Educação I Unidade 1 Dêem-me uma dúzia de crianças sadias e bem formadas e o mundo por mim especifi cado dentro do qual criá-las, e garanto que tomarei uma delas ao acaso e treina-la-ei para que se torne um especialista em qualquer tipo que eu escolha – médico, advogado, dentista, comerciante, bem como mendigo ou ladrão, - quaisquer que sejam seus talentos, tendências, capacidade ou vocação. (apud WERTHEIMER, 1989, p.154). Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) foi o pesquisador behaviorista mais conhecido. Suas idéias, originadas no Behaviorismo clássico de Watson e nas pesquisas sobre condicionamento de Pavlov, aprimoraram o estudo do comportamento pelo Behaviorismo, e estão vivas até hoje. Skinner ultrapassou o condicionamento clássico, desenvolvendo o que chamou de condicionamento operante. O condicionamento clássico, como você pôde verifi car estudando as idéias de Pavlov e de Watson, diz respeito à reprodução de respostas naturais, como salivação ou medo, em situações que antes não produziam estas reações. A associação é feita diretamente entre estímulos e respostas, e nenhuma outra variável é incluída. No condicionamento operante, o comportamento do sujeito é modelado por suas conseqüências, que se constituem numa terceira variável, além do estímulo e da resposta. Você compreenderá melhor isso se entender o conceito de reforço. Reforço é tudo aquilo que aumenta a probabilidade de uma resposta associada anteriormente a um estímulo acontecer novamente. É a conseqüência dos comportamentos, como as recompensas, por exemplo, que costuma fazer com que eles se repitam. Quando desejamos que um organismo tenha um comportamento que não lhe é peculiar, começamos por reforçar o desempenho que se aproxime do esperado, premiando-o. Posteriormente, premiam-se somente respostas mais específi cas e relacionadas ao objetivo, deixando de lado as respostas próximas, porém não Figura 1.6 - Burrhus Frederic Skinner Fonte: www.psychology. uiowa.edu psicologia_da_educacao.indb 29psicologia_da_educacao.indb 29 26/4/2007 15:02:0626/4/2007 15:02:06 30 Universidade do Sul de Santa Catarina exatas. A premiação tende a funcionar muito bem. Prêmios são denominados, na teoria, de reforços positivos. Comportamentos indesejáveis tendem a extinguir-se quando não são premiados ou quando a conseqüência deles se apresenta como um estímulo aversivo, isto é, um castigo ou punição. No condicionamento operante de Skinner, é possível também reforçar um comportamento pela retirada de um estímulo aversivo da situação em questão. A retirada de estímulos aversivos é chamada de reforço negativo. Esta retirada também aumenta a probabilidade de a resposta desejada ocorrer. Para chegar a estes conceitos, Skinner utilizou-se de experimentos que fi caram famosos realizados com ratos de laboratório num equipamento que ganhou o nome de Caixa de Skinner. Cada rato era colocado sozinho no interior da caixa, a qual era equipada com um bebedouro acionável pelo experimentador ou pelo próprio rato, na medida em que pressionasse numa pequena barra existente no interior do equipamento. Como ensinar o rato a pressionar a barra? A estratégia era deixá-lo privado de água, isto é, com sede, antes da realização do experimento. Em seguida, buscava- se treinar o rato para pressionar a barra. A água lhe era oferecida cada vez que este realizava comportamentos que se aproximavam da pressão à barra. Mais adiante, a água era oferecida ao rato somente se ele pressionasse a barra de fato. Observando as conseqüências de seus comportamentos anteriores, o rato passava a pressionar a barra com mais freqüência do que antes. Este tipo de método, chamado de reforçamento, é muito usado com os alunos na educação. Figura 1.7 – Caixa de Skinner Fonte: http://www.str.com.br psicologia_da_educacao.indb 30psicologia_da_educacao.indb 30 26/4/2007 15:02:0726/4/2007 15:02:07 31 Psicologia da Educação I Unidade 1 Aliás, dentre os behavioristas, o trabalho de Skinner é o que tem mais implicações educacionais. Sua abordagem teve profundo impacto nas tecnologias de ensino, especialmente no que se refere à instrução programada. O sujeito que se submete a este tipo de instrução vai passando por etapas curtas de exposição a conteúdos com grau de difi culdade crescente. Recebe o conteúdo, responde exercícios e verifi ca os resultados obtidos com suas respostas para, só então, passar à etapa seguinte. O resultado das respostas, positivo ou negativo, funciona como incentivo para continuar o estudo, isto é, um reforço positivo. O objetivo é levar o aluno a acumular o maior número possível de respostas corretas em seu “repertório”. É o material instrucional que orienta todo o processo de aprendizagem, e não o interesse ou a atividade do aluno, ou as características do conteúdo, entre tantas outras possibilidades. Os professores costumam, tradicionalmente, utilizar punições para modelar o comportamento dos sujeitos. Com a instrução programada, vai se tornando desnecessário utilizar estímulos aversivos ou punições para levar o aluno a desenvolver o comportamento desejado, pois ele mesmo vai modelando suas respostas de acordo com o que é solicitado pelo material instrucional. O planejamento do professor torna-se fundamental para o sucesso do processo de ensino e aprendizagem. A instrução programada pode ser realizada por meio das chamadas máquinas de ensinar. Nelas, são apresentadas fi chas com sentenças que contêm lacunas a serem preenchidas com a resposta correta. O conteúdo das fi chas pode ser apresentado também em programas de computador. Em entrevista dada a uma revista brasileira, em 1974, Skinner defi niu sua máquina de ensinar da seguinte maneira: psicologia_da_educacao.indb 31psicologia_da_educacao.indb 31 26/4/2007 15:02:0726/4/2007 15:02:07 32 Universidade do Sul de Santa Catarina Minha “máquina de ensinar” consiste, muito simplesmente, em programar o material didático de maneira que o estudante seja recompensado pelos seus esforços não no fi m do curso ou de seus estudos – o que é causa de baixa produtividade –, mas em cada uma das etapas de sua aprendizagem. Isto é, ao aprender uma lição, o aluno não é recompensado pelos seus esforços um mês depois, quando recebe a nota X, mas enquanto está trabalhando na lição. Se um aluno pode ver a resposta de um problema matemático apenas quando terminou de resolvê-lo, ele é estimulado por vários fatores: o triunfo de ter resolvido o problema corretamente ou o descobrimento da resposta correta. Se ele fi ca esperando a nota do professor, que deve ter um valor punitivo, ele não tem verdadeiras razões positivas para se interessas por problemas matemáticos. É fundamental entender que o organismo humano, em relação com o seu comportamento, é reforçado pela sua capacidade de efetividade. (SKINNER, 1974) Estudando o conteúdo desta seção, você pode concluir que, para o Behaviorismo, a aprendizagem se refere a mudanças observáveis no comportamento das pessoas, causadas unilateralmente pela ação sobre elas do ambiente material e social. São as mudanças de comportamento, ou aprendizagens acumuladas, que correspondem ao desenvolvimento do sujeito. Assim, nesta teoria, aprendizagem e desenvolvimento são termos sinônimos, pois se referem ao mesmo processo coordenado por agentes externos ao sujeito, estudante ou aprendiz. Skinner é criticado até hoje por sua visão ambientalista da aprendizagem. As críticas tomam a proposta de Skinner de modelagem do comportamento como algo autoritário, que desconsidera o que se passa na mente do aprendiz, impondo a ele o desenvolvimento dos comportamentos socialmente valorizados. Isso retiraria do sujeito a sua liberdade de escolha. Aos críticos, num texto muito importante publicado em 1971, Skinner responde que a liberdade é um mito. Por causa deste texto e da contribuição que suas idéias deram para o ensino tecnicista no Brasil, Skinner fi cou associado ao posicionamento político de direita. psicologia_da_educacao.indb 32psicologia_da_educacao.indb 32 26/4/2007 15:02:0726/4/2007 15:02:07 33 Psicologia da Educação I Unidade 1 SEÇÃO 4 – A Psicanálise e o Humanismo A Psicanálise desenvolveu-se a partir do trabalho de Sigmund Freud (1856-1939). Este médico propôs a Psicanálise, com suas técnicas de hipnose, expressão e associação livre de idéias pelos pacientes, como uma proposta terapêutica para os distúrbios emocionais, e também como uma via de investigação dos processos mentais. Sigmund Freud distinguiu três zonas do funcionamento mental: o consciente, o subconsciente e o inconsciente. No inconsciente, situam-se as representações inacessíveis voluntariamente. Seus conteúdos aparecem disfarçados nos sonhos, nos atos falhos, nos sintomas, mas nunca em forma pura. Os conteúdos do inconsciente estão relacionados ao que foi denominado por Freud de Id. O consciente e o subconsciente estão reunidos numa região psíquica denominada Ego. O ego administra a relação do indivíduo com o meio, coordenando os seus processos mentais e dando-lhe a unidade de uma identidade. Os conteúdos conscientes e subconscientes são acessíveis voluntariamente pelo sujeito. É possível para ele saber razoavelmente o que está pensando ou sentindo a respeito dos conteúdos que estão em sua consciência. A instância psíquica responsável pela censura gratuita aos conteúdos do id é o Superego. Esta instância é constituída a partir do moralismo e das repressões da sociedade. A Psicanálise preocupa-se com o funcionamento do inconsciente, diferentemente de outras linhas psicológicas que se debruçam sobre o funcionamento da mente tomando-a exclusivamente como consciência. psicologia_da_educacao.indb 33psicologia_da_educacao.indb 33 26/4/2007 15:02:0826/4/2007 15:02:08 34 Universidade do Sul de Santa Catarina Freud apontou a existência de instintos inatos no ser humano quando do seu nascimento, que o estimulam internamente a buscar a satisfação de necessidades como fome, sede e liberação de energia sexual. Os instintos são os propulsores da dinâmica de desenvolvimento da personalidade. Como Freud identifi ca o termo “instinto” com as características animais, prefere usar os termos “impulso” ou “pulsão” para tratar destes estímulos internos quando se refere aos seres humanos. Devido ao funcionamento do id, os seres humanos estariam sempre em busca de satisfação para seus impulsos, pois o id ignora juízos de valor, a moral, o bem e o mal, sendo regido pelo princípio do prazer. O ego desempenha o papel de mediador entre o id e o mundo exterior, sendo regido pelo princípio da realidade. Toda vez que o ego se sente ameaçado pelas exigências de satisfação imediata do id, este produz a sensação de angústia. Tanto o id quanto o ego confl itam com o superego, a instância moralista que já foi citada. Para não sucumbir à sensação de angústia provocada pela pressão das pulsões, o ego se utiliza de certos mecanismos de defesa, que acabam por constituir em grande parte a personalidade. São exemplos destes mecanismos: a negação, a fantasia, a projeção, a racionalização, a regressão, entre outros. Procure saber mais sobre os mecanismos de defesa. Pesquise na internet o signifi cado de cada um destes termos e procure criar exemplos que os ilustrem. Discuta esses exemplos com seus colegas no EVA. psicologia_da_educacao.indb 34psicologia_da_educacao.indb 34 26/4/2007 15:02:0926/4/2007 15:02:09 35 Psicologia da Educação I Unidade 1 Estágios do desenvolvimento psicossexual Na teoria psicanalítica, o desenvolvimento da personalidade passa pelos seguintes estágios psicossexuais: Estágio oral – se estende do nascimento até o segundo ano de vida. Neste estágio, a estimulação da boca é a fonte primária de satisfação erótica; Estágio anal – coincide com o período de treinamento para aprender a ir ao banheiro autonomamente e de desenvolvimento de competências para a higiene pessoal. Neste estágio as crianças derivam prazer da zona anal; Estágio fálico – acontece por volta do quarto ano de idade. A satisfação erótica está relacionada à região genital e surge muita curiosidade em torno das diferenças entre os sexos e da origem dos bebês. É quando costuma ocorrer o chamado Complexo de Édipo, que consiste na identifi cação com o genitor do sexo oposto. É também o estágio em que se desenvolve o superego, que infl ige à criança vergonha e culpa; Período de latência – ocorre dos cinco aos dez anos, aproximadamente. Caracteriza-se por maior interesse em questões intelectuais e pela sublimação do interesse por questões sexuais que caracterizava o estágio anterior. A sublimação também é um mecanismo de defesa; Estágio genital – preparação para a formação de família, início dos relacionamentos amorosos e da heterossexualidade. A partir desta estrutura teórica proposta por Freud, muitos trabalhos vêm se desenvolvendo até hoje no sentido da compreensão do ser humano. No campo da educação, os conceitos propostos por Freud são largamente utilizados para a compreensão e intervenção sobre as difi culdades de aprendizagem pela Psicopedagogia Clínica. psicologia_da_educacao.indb 35psicologia_da_educacao.indb 35 26/4/2007 15:02:1026/4/2007 15:02:10 36 Universidade do Sul de Santa Catarina A Psicopedagogia Clínica, ao inspirar-se na Psicanálise, entende as difi culdades de aprendizagem como sintomas. Como vimos, os sintomas são uma das formas de expressão dos conteúdos do id, conteúdos estes que não são conscientes e, portanto, não podem ser controlados pelo sujeito. A Psicanálise também é acionada para a compreensão das questões subjetivas que envolvem o relacionamento professor-aluno. O conceito de transferência, tomado da psicoterapia psicanalítica, costuma ser utilizado para tratar desta relação. A transferência é entendida como uma repetição pelo sujeito, em suas relações atuais, de modalidades de relacionamento vividas por ele com outras fi guras signifi cativas e outros espaços. Pelo processo de transferência, relações infantis carregadas de afetividade podem ser revividas no relacionamento com outras pessoas, mesmo muito tempo depois, ou num contexto completamente diferente. Assim, um professor pode ser um suporte dos investimentos de seu aluno, porque é objeto de uma transferência. Então, mais além da fi gura pessoal do professor, o educador vai representar, para o aluno, uma função, substituindo, nesse momento, as fi guras parentais e/ou pessoas que lhe foram importantes, representando então esse lugar de ‘saber’, de idealização, de poder (NUNES, 2004. p.12). O professor que conhece o conceito de transferência pode compreender atitudes agressivas ou despropositadamente amorosas que partam de um aluno para com ele. Nem sempre essas atitudes são realmente pessoais para com o professor, mas sim correspondentes a um estilo de relacionamento que o aluno está repetindo, resgatado de relações passadas, vividas em outros espaços ou ainda que o aluno gostaria de viver e não consegue na relação com outras pessoas. Desta forma, seus desejos inconscientes acabam por projetar-se na fi gura do professor. É interessante lembrar ainda que tal processo também pode se dar da parte do professor em relação ao aluno. psicologia_da_educacao.indb 36psicologia_da_educacao.indb 36 26/4/2007 15:02:1026/4/2007 15:02:10 37 Psicologia da Educação I Unidade 1 A Psicanálise é uma abordagem muito interessante da subjetividade, com diversas implicações ainda não exploradas. Desde a década de 1950, no entanto, enfrenta a oposição do Humanismo. O Humanismo surgiu como uma reação, tanto ao Behaviorismo, quanto à Psicanálise. A Psicologia humanista concentra-se no conceito de pessoa, e não no de comportamento, como o Behaviorismo, e enfatiza a liberdade, em oposição ao controle. O Humanismo rejeita a Psicanálise pela ênfase excessiva que dá ao inconsciente. Acredita que as pessoas são seres conscientes, capazes de dirigir a própria vida. Enfatiza a espontaneidade e o poder criador do ser humano. O mais famoso representante deste movimento é Carl Rogers. Para ele, o principal fator promotor do desenvolvimento da personalidade é uma tendência inata dos seres humanos para a auto-realização. As pessoas que vivem todo o seu potencial são aquelas que vivem plenamente cada momento, deixando-se guiar por seus próprios instintos, em lugar de levar em consideração opiniões alheias. São pessoas de pensamento livre e alta criatividade. O pensamento de Carl Rogers infl uenciou a educação centrada no aluno e espontaneísta, sendo mais uma contribuição da Psicologia à busca por uma escola renovada. psicologia_da_educacao.indb 37psicologia_da_educacao.indb 37 26/4/2007 15:02:1026/4/2007 15:02:10 38 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades de auto-avaliação Efetue as atividades de auto-avaliação e, a seguir, acompanhe as respostas e comentários. Para melhor aproveitamento do seu estudo, confi ra suas respostas somente depois de fazer as atividades propostas. 1) Verifi que se você captou os conceitos apresentados na descrição das diferentes teorias psicológicas. Que tal sistematizar o seu conhecimento com a ajuda do quadro a seguir? ESCOLA OU TEORIA PALAVRAS-CHAVE ESTRUTURALISMO FUNCIONALISMO PSICOLOGIA DA FORMA/GESTALT BEHAVIORISMO PSICANÁLISE HUMANISMO psicologia_da_educacao.indb 38psicologia_da_educacao.indb 38 26/4/2007 15:02:1126/4/2007 15:02:11 39 Psicologia da Educação I Unidade 1 2) Caracterize e diferencie os conceitos de condicionamento clássico e de condicionamento operante, que compõem as teorias behavioristas. 3) Relacione dois motivos que podem justifi car o fato de a Psicologia da Gestalt ser considerada uma teoria inatista. psicologia_da_educacao.indb 39psicologia_da_educacao.indb 39 26/4/2007 15:02:1226/4/2007 15:02:12 40 Universidade do Sul de Santa Catarina 4) Pesquise no livro didático e responda: quais são as formas pelas quais os conteúdos do inconsciente dos sujeitos se manifestam, de acordo com a Psicanálise? Cite exemplos de cada uma destas formas. psicologia_da_educacao.indb 40psicologia_da_educacao.indb 40 26/4/2007 15:02:1226/4/2007 15:02:12 41 Psicologia da Educação I Unidade 1 Síntese Nesta unidade, você estudou os principais conceitos de importantes teorias que fazem parte da história da Psicologia: Estruturalismo, Funcionalismo, Psicologia da Gestalt, Behaviorismo e Psicanálise. O Estruturalismo pensou a mente humana como uma estrutura composta por elementos associados, e procurou estudar cada um destes elementos por meio do método de introspecção. Seu principal representante é considerado o fundador da Psicologia científi ca: Wilhelm Wundt. O Funcionalismo, em lugar de defi nir a estrutura da mente, preocupa-se com o seu funcionamento em situações reais de adaptação do sujeito ao ambiente. Seu principal representante é William James. A Psicologia da Gestalt é considerada uma teoria inatista da aprendizagem, pois valoriza a idéia de que a percepção do sujeito sobre as coisas se baseia em modelos já existentes em sua mente a priori. O Behaviorismo é oposto à Psicologia da Gestalt e valoriza a ação modeladora dos estímulos existentes no meio sobre o comportamento do sujeito. Das escolas psicológicas estudadas nesta unidade, é a que tem mais implicações para a prática pedagógica até hoje. A Psicanálise tem como “pai” o famosíssimo Sigmund Freud. Suas idéias são muito utilizadas na compreensão da personalidade e na clínica psicológica, mas também têm implicações educacionais, especialmente na compreensão da relação professor-aluno e no entendimento das difi culdades de aprendizagem. O Humanismo se opõe à Psicanálise e ao Behaviorismo, pois valoriza a consciência da pessoa como motor de sua existência, e não o inconsciente ou os estímulos do ambiente apenas. psicologia_da_educacao.indb 41psicologia_da_educacao.indb 41 26/4/2007 15:02:1226/4/2007 15:02:12 42 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba mais Existem diversos sites na internet com informações interessantes sobre as escolas psicológicas. Para saber mais, consulte os links relacionados em http://www.ufrgs.br/faced/slomp/psico.htm. psicologia_da_educacao.indb 42psicologia_da_educacao.indb 42 26/4/2007 15:02:1226/4/2007 15:02:12 UNIDADE 2 Primeiras interfaces entre Psicologia e Educação: o escolanovismo Objetivos de aprendizagem Caracterizar a proposta de escola democrática de John Dewey e a visão organicista do desenvolvimento de Edouard Claparède e identifi car as infl uências destas propostas na realidade escolar. Seções de estudo Seção 1 A escola democrática de John Dewey Seção 2 A educação funcional de Edouard Claparède 2 psicologia_da_educacao.indb 43psicologia_da_educacao.indb 43 26/4/2007 15:02:1226/4/2007 15:02:12 44 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Na primeira unidade, você estudou diversas teorias psicológicas que buscaram compreender a mente e o comportamento do ser humano, sua personalidade, seu desenvolvimento e suas formas de interação com os outros. Nesta unidade, discutiremos as primeiras relações mais signifi cativas estabelecidas entre a Psicologia e a Educação no ensino escolar, que ocorreram com o movimento da Escola Nova. Este movimento foi fundamental para a constituição da Psicologia da Educação como campo de estudo. Entre os marcos históricos que ajudaram a determinar o percurso da Psicologia da Educação, identifi camos, numa fase inicial, os pensadores da Escola Nova. Eles buscaram renovar a educação num tempo em que a aprendizagem escolar era vista como a capacidade de repetir e memorizar conteúdos acadêmicos geralmente distantes da experiência de vida das crianças. O bom professor era aquele que dominava os conteúdos, e o bom aluno era aquele que os decorava. O movimento da Escola Nova defendeu que o ensino deveria tomar como ponto de partida a ação do aluno. A educação deveria oportunizar às crianças condições de experimentar, produzir, fazer, manipular e refl etir sobre os resultados obtidos. John Dewey e Edouard Claparède foram importantes expoentes do pensamento escolanovista na Psicologia da Educação. Dedicaremos esta unidade ao aprofundamento dos seus conhecimentos sobre as idéias destes pesquisadores. Neste estudo, você perceberá que, apesar de ambos teóricos serem identifi cados com o movimento da Escola Nova, existem algumas diferenças em seus modos de compreender o desenvolvimento humano e o papel da educação. Que tal conhecer um pouco mais sobre as idéias destes pesquisadores? psicologia_da_educacao.indb 44psicologia_da_educacao.indb 44 26/4/2007 15:02:1226/4/2007 15:02:12 45 Psicologia da Educação I Unidade 2 SEÇÃO 1 – A escola democrática de John Dewey John Dewey (1859-1952), fi lósofo, educador e participante da vertente funcionalista da Psicologia, cunhou uma proposta de como deveria funcionar uma escola que rompesse com os métodos de ensino tradicionais e educasse para a democracia. Seu trabalho nos Estados Unidos repercutiu no mundo todo e tem, até hoje, implicações para o pensamento pedagógico. A noção de movimento é central no pensamento de Dewey. Para ele, a sociedade está em constante transformação. Para Dewey, a Filosofi a não deve pretender se colocar como o “farol da sabedoria”, impondo dogmas imutáveis e verdades absolutas que conduzam a humanidade. Pelo contrário, a Filosofi a deve se colocar sempre na transitoriedade em que se encontra a realidade, norteando a busca dos homens para soluções para os problemas vividos em sua experiência cotidiana. O ponto de vista de Dewey confere um caráter essencialmente pragmático e instrumental à Filosofi a. Para os seguidores de Dewey, aceitar a mudança, a transitoriedade, a alteração das coisas signifi cava colocar a produção de conhecimento à disposição do bem-estar coletivo. A busca do modo de vida cooperativo em benefício de todos era o que daria signifi cado à democracia. A educação proposta por Dewey tinha como princípios a iniciativa, a originalidade e a cooperação. Deveria liberar as potencialidades dos indivíduos rumo a uma ordem social que, por sua vez, deveria ser progressivamente aperfeiçoada (mas não totalmente transformada). Seria um processo de reconstrução da experiência da realidade, para torná-la melhor, e um processo de melhoria permanente da efi ciência individual segundo os próprios interesses. Além disso, a proposta de John Dewey pode se caracterizar ainda pelas seguintes oposições: À imposição de cima para baixo, opõe-se a expressão e cultivo da individualidade; à disciplina externa, opõe-se a atividade livre; É interessante perceber que a difusão do tema transformação constante da realidade, que assumiu posição de centralidade no discurso pedagógico nessa primeira metade do século XX, estava relacionada à necessidade de aceitação das mudanças tecnológicas e das mudanças sociais atreladas ao processo de modernização e industrialização. Era necessário que as pessoas estivessem dispostas a viver com otimismo essas mudanças. psicologia_da_educacao.indb 45psicologia_da_educacao.indb 45 26/4/2007 15:02:1326/4/2007 15:02:13 46 Universidade do Sul de Santa Catarina a aprender por livros e professores, aprender por experiência; à aquisição por exercício e treino de habilidades técnicas isoladas, a sua aquisição como meios de atingir fi ns que respondam a apelos diretos e vitais do aluno; à preparação para um futuro mais ou menos remoto opõe-se aproveitar ao máximo as oportunidades do presente; a fi ns e conhecimentos estáticos opõe-se a tomada de contato com o mundo em mudança. (DEWEY apud GADOTTI, 1999, p.150.) Para Dewey (apud GADOTTI, 1999), o ato de pensar ocorre sempre que estamos diante de um problema. Nesta situação, o pensamento passa por cinco estágios: 1) uma necessidade sentida que coloque o sujeito numa situação de experiência real e atividade contínua que o interesse por si mesmo; 2) a análise da difi culdade do problema por meio do pensamento; 3) as alternativas de solução do problema – neste momento é necessário buscar informações para agir na situação, fazendo as observações necessárias para este fi m; 4) a experimentação de várias soluções, desenvolvendo-as de modo bem ordenado até que o teste mental aprove uma delas; 5) a ação como prova fi nal para a solução proposta, que deve ser verifi cada de maneira científi ca. Pondo à prova as próprias idéias, aplicando-as e tornando clara sua signifi cação, o sujeito descobre por si mesmo o valor das soluções desenvolvidas. A vida real e as experiências que nela vivemos estão repletas de problemas a serem resolvidos. A educação proposta por Dewey deveria se aproximar da realidade e defrontar-se com os problemas que os homens nela encontram, desencadeando o ato de pensar na busca de soluções. psicologia_da_educacao.indb 46psicologia_da_educacao.indb 46 26/4/2007 15:02:1426/4/2007 15:02:14 47 Psicologia da Educação I Unidade 2 No funcionalismo de John Dewey, “o ensino não é uma tarefa do acaso ou da rotina, e deve-se considerá-lo uma atividade consciente, intencional, com método e processo defi nidos” (CARVALHO, 2002, p.53). O professor e o conteúdo, nesta perspectiva, assumem grande importância para a formação mental e moral da criança, pois o pensamento depende de fontes informativas e de alguém que as organize adequadamente, sem oferecer soluções prontas para os problemas, pois o aspecto ativo de aprendizagem não pode ser esquecido. Carvalho (2002, p.53) mostra que a escola de John Dewey teria três funções: a) proporcionar um ambiente simplifi cado, selecionando experiências úteis e estabelecendo uma progressão, com o objetivo de conduzir os alunos à compreensão real das coisas mais complexas; b) eliminar os aspectos desvantajosos do meio ambiente que exercem infl uência sobre os hábitos mentais; c) coordenar, na vida mental de cada indivíduo, as diversas infl uências dos vários meios sociais em que vive. Ao partir da idéia de que o conhecimento verdadeiro a ser aprendido é o que funciona como solução na vida prática, Dewey traz uma concepção utilitária da educação. “À escola é atribuído um papel fundamental de selecionar as experiências úteis realizadas pela humanidade para construir os conteúdos cognitivos necessários a uma sociedade futura mais perfeita, uma sociedade democrática” (CARVALHO, 2002, p.53). A cooperação na resolução de problemas práticos no contexto escolar ensinaria sobre a convivência democrática, sem questionar as desigualdades sociais, naturalizando-as. A busca de soluções contribuiria tanto para a formação dos alunos quanto para o desenvolvimento da sociedade. Assim, Dewey traduzia para o campo da educação a ideologia liberal dos Estados Unidos. William Kilpatrick (1871-1965) foi um dos principais discípulos de John Dewey. Ele desenvolveu o “método dos projetos”, que era centrado na atividade prática dos alunos, de preferência manual. psicologia_da_educacao.indb 47psicologia_da_educacao.indb 47 26/4/2007 15:02:1426/4/2007 15:02:14 48 Universidade do Sul de Santa Catarina Os projetos poderiam ser: manuais, como a produção de uma maquete; de descoberta, como a realização de um passeio; de competição, como um jogo; de comunicação, como contar uma história; entre outros. As etapas de execução do projeto envolveriam a determinação do objetivo, a preparação do projeto, a execução e a apreciação do resultado. Os projetos poderiam envolver a produção de algo, a aprendizagem sobre como utilizar algo que já foi produzido, a resolução de algum problema ou o aperfeiçoamento de alguma técnica. De preferência, o projeto deveria ser realizado num ambiente natural, próximo da situação real em que a prática em questão ocorre na sociedade. SEÇÃO 2 - A educação funcional de Edouard Claparède O médico Edouard Claparède (1873-1940) nasceu em Genebra, na Suíça. Em 1912, fundou o Instituto Jean-Jacques Rousseau nesta cidade. Esta instituição voltava-se para o desenvolvimento de estudos na área da Psicologia Infantil e suas aplicações na educação. Da mesma forma que John Dewey fez nos Estados Unidos, Edouard Claparède procurou defender uma nova escola, diferente da tradicional, no contexto europeu. Enquanto Dewey ingressou nas questões educacionais por meio da Filosofi a, Claparède o fez por meio de estudos em biologia, o que faz diferença na constituição de seus pontos de vista. Claparède defendia que se conhecessem as características “naturais” da criança, por meio da pesquisa experimental psicológica, numa visão claramente organicista, e via a Psicologia como a única ciência que poderia de fato trazer informações úteis para o direcionamento da educação. Jean Piaget veio a ser chefe de trabalhos deste instituto a convite de Edouard Claparède e lá realizou a maior parte de suas pesquisas. psicologia_da_educacao.indb 48psicologia_da_educacao.indb 48 26/4/2007 15:02:1526/4/2007 15:02:15 49 Psicologia da Educação I Unidade 2 A educação deveria adaptar-se às aptidões naturais do aluno e estimular seus interesses para a busca de resolução de problemas da vida prática nos conteúdos escolares. Nessa perspectiva, o interesse do sujeito tem muito mais peso do que os conteúdos escolares em si, ainda que estes sejam organizados a partir dos problemas que a vida coloca. Para Claparède, assim como para os demais representantes do movimento da Escola Nova, o desenvolvimento de cada ser humano e de toda a espécie signifi ca uma luta ou uma procura pela conservação da vida, o que ocorre pela interação com o ambiente. A vida corresponde a um processo de adaptação contínuo, guiado pela lógica da utilidade e da efi ciência. O pensamento seria uma atividade biológica a serviço do organismo humano, que ocorre para confrontar situações com as quais não se pode lidar por meio de comportamento aprendido, automático, ou simples refl exo característico dos animais. Quando a pessoa se defronta com uma situação nova, a tensão resultante a leva a proceder por tentativa e erro, refi nando a experimentação da situação. Este processo seria o pensamento. Se a infância tem uma signifi cação biológica, é necessário estudar as manifestações naturais das crianças e ajustar a ação educativa a elas. Os métodos e os programas devem girar em torno das crianças, e não as crianças girarem em torno de um programa. De acordo com Claparède, a atividade educacional deveria ser individualizada, correspondendo sempre à função vital do homem, à expressão natural de sua atividade e desenvolvimento. A escola deve estimular a independência intelectual da criança, fazendo-a atuar sobre o que aprende, diferentemente da postura passiva exigida do aluno na educação tradicional. Claparède acusou a escola de não saber tirar o máximo rendimento das inteligências, desperdiçando o capital intelectual das nações, num contexto em que o investimento em educação vinha sendo alto na Europa. psicologia_da_educacao.indb 49psicologia_da_educacao.indb 49 26/4/2007 15:02:1526/4/2007 15:02:15 50 Universidade do Sul de Santa Catarina Valorizava os testes de inteligência e o diagnóstico psicológico como meios para conhecer as aptidões naturais dos sujeitos e direcioná-los para uma educação mais adequada. Para ele, as melhores inteligências seriam pouco desenvolvidas na escola por se verem obrigadas a adaptarem-se ao ritmo do grande número de alunos medianos. Recomendava a criação de classes diferentes para os estudantes mais inteligentes e para aqueles com maior difi culdade de aprendizado. Assim, os estudantes que se revelassem mais aptos poderiam ser submetidos a exigências maiores em classes constituídas apenas de bons alunos. Ao defender uma escola sob medida, Claparède dizia que, na impossibilidade de haver uma escola para cada criança ou para cada tipo de inteligência, o sistema mais próximo disso seria o que permitisse a cada aluno reagrupar o mais livremente possível os elementos favoráveis ao desenvolvimento de suas condutas pessoais. Para isso, pregava a redução do currículo obrigatório a conteúdos sufi cientes para a transmissão de um conhecimento que constituísse uma espécie de legado espiritual de uma mesma geração, deixando a maior parte do período letivo para atividades escolhidas pelo próprio aluno. Propôs ainda que um mesmo aluno pudesse acompanhar diferentes disciplinas em ritmos diferentes, mais acelerados ou mais lentos, de acordo com suas aptidões. Outra contribuição importante de Claparède é a defesa que fez da atividade pedagógica como atividade lúdica. O jogo é uma das principais necessidades da criança. Por isso, serviria como um meio para despertar o seu interesse pelo conhecimento escolar. Assim, seja qual for a atividade que se queira realizar na sala de aula, deve-se encontrar um meio de apresentá-la como um jogo, partindo da necessidade da criança de brincar. Conforme a criança cresce, a idéia de jogo vai sendo substituída pela de trabalho, seu complemento natural. A necessidade é o que movimenta os indivíduos. Toda atividade desenvolvida pela criança é sempre suscitada por uma necessidade a ser satisfeita e pela qual ela está disposta a mobilizar energias. psicologia_da_educacao.indb 50psicologia_da_educacao.indb 50 26/4/2007 15:02:1526/4/2007 15:02:15 51 Psicologia da Educação I Unidade 2 É isso que se pode notar em todo lugar e sempre, exceto, é verdade, nas escolas, porque estas estão fora da vida, dizia Claparède. Para fazer um indivíduo agir devemos colocá-lo nas condições próprias ao aparecimento da necessidade, em que ação que se deseja despertar tem a função de satisfazer. Cabe então ao professor colocar o aluno na situação adequada para que seu interesse seja despertado e permitir que ele adquira o conhecimento que vá ao encontro do que procura. Desta forma, está se aproximando à escola da vida. O educador, segundo Claparède (apud CARVALHO, 2002, p.55): Em vez de tornar-se um plasmador de espíritos, tornar- se-á um estimulador de interesses; em vez de fi car no meio do palco (onde muitas vezes pontifi ca, sem outros resultados tangíveis, a não ser a satisfação de suas tendências autoritárias), deverá, daí em diante, permanecer nos bastidores, de onde disporá e organizará o meio da maneira mais favorável ao despertar das necessidades intelectuais e sociais da criança. A escola, assim, deve ser ativa, um laboratório e não um auditório. E, se o interesse é o motor da educação, são desnecessários castigos ou recompensas, bastando a adequação entre o que se há de fazer e o sujeito que faz. Deste modo a disciplina vem de dentro do sujeito, e não de fora dele. psicologia_da_educacao.indb 51psicologia_da_educacao.indb 51 26/4/2007 15:02:1626/4/2007 15:02:16 52 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades de auto-avaliação Efetue as atividades de auto-avaliação e, a seguir, acompanhe as respostas e comentários. Para melhor aproveitamento do seu estudo, confi ra suas respostas somente depois de fazer as atividades propostas. 1) Para Claparède, os conceitos de necessidade e de interesse aparecem relacionados no contexto da prática pedagógica. Defi na e estabeleça relações entre estes conceitos, procurando ser fi el ao pensamento do pesquisador. 2) Você estudou o funcionalismo na seção 1. Explique por que Edouard Claparède e John Dewey são tidos como funcionalistas. psicologia_da_educacao.indb 52psicologia_da_educacao.indb 52 26/4/2007 15:02:1626/4/2007 15:02:16 53 Psicologia da Educação I Unidade 2 3) Existem diferenças sutis entre o ponto de vista de John Dewey e o de Edouard Claparède sobre o papel da educação e do trabalho docente para o desenvolvimento humano. Você identifi cou essas diferenças? Procure caracterizá-las, indo além do exposto na síntese da unidade. psicologia_da_educacao.indb 53psicologia_da_educacao.indb 53 26/4/2007 15:02:1726/4/2007 15:02:17 54 Universidade do Sul de Santa Catarina Síntese Nesta unidade, você conheceu o pensamento de dois representantes da escola nova: John Dewey e Edouard Claparède. Embora ambos tenham uma visão do desenvolvimento e da aprendizagem caracterizada pelo funcionalismo, pois preocupam- se com a adaptação do sujeito ao ambiente em que vive, naturalizando este ambiente, Dewey tem um olhar mais aguçado para o papel do ensino sobre o desenvolvimento. Edouard Claparède, por outro lado, enfatiza mais o processo natural de desenvolvimento humano, valorizando uma educação que não interfi ra muito no processo de desenvolvimento – educação esta que poderia ser interpretada como espontaneísta. Saiba mais Para saber mais sobre o pensamento escolanovista, sobre John Dewey e sobre Edouard Claparède, leia o livro de Moacir Gadotti denominado História das Idéias Pedagógicas. É uma sugestão interessante. Ele traz um capítulo específi co deste assunto. Você encontra a referência completa ao fi nal do livro didático. psicologia_da_educacao.indb 54psicologia_da_educacao.indb 54 26/4/2007 15:02:1726/4/2007 15:02:17 UNIDADE 3 A Psicologia Cognitivista e a aprendizagem Objetivos de aprendizagem Descrever os principais conceitos de algumas teorias psicológicas consideradas cognitivistas, identifi cando suas implicações para a prática pedagógica. Seções de estudo Seção 1 Os processos mentais Seção 2 A teoria da aprendizagem signifi cativa de David Ausubel Seção 3 A teoria cognitivista de Jerome Bruner 3 psicologia_da_educacao.indb 55psicologia_da_educacao.indb 55 26/4/2007 15:02:1726/4/2007 15:02:17 56 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo A Psicologia Cognitivista é um dos mais recentes ramos da investigação da mente e do comportamento humano. Desenvolveu-se como uma área separada desde os fi ns dos anos 1950 e princípios dos anos 1960. O pesquisador americano Ulrich Neisser, nascido em 1928, foi um importante expoente desta linha da Psicologia. O Cognitivismo estuda os processos de processamento da informação e de organização do conhecimento pelo ser humano. Busca compreender os diferentes estilos de pensamento e estilos de aprendizagem. As investigações dos cognitivistas se baseiam na análise do funcionamento dos processos psicológicos cognitivos. Nesta unidade, vamos conhecer um pouco mais sobre cada um destes processos, que também são chamados de processos mentais. Você sabe o que são processos mentais? Se não sabe, corra para a Seção 1 desta unidade, pois você vai descobrir! psicologia_da_educacao.indb 56psicologia_da_educacao.indb 56 26/4/2007 15:02:1726/4/2007 15:02:17 57 Psicologia da Educação I Unidade 3 SEÇÃO 1 – Os processos mentais De certa forma, mesmo que nunca tenha ouvido falar deste termo, você sabe o que são processos mentais. Você sabe porque você os vive e, muitas vezes, refl ete sobre o seu funcionamento em seu cotidiano. Quando dizemos para nós mesmos: “Hum, minha memória não anda boa! Esqueci de buscar meu fi lho na escola!” ou “Puxa, não posso me distrair, este assunto é importante! Vou concentrar minha atenção na leitura desta seção deste livro!”, estamos falando de nossos próprios processos mentais. No Cognitivismo, os processos mentais são comparáveis aos softwares executados num computador que, neste caso, seria o cérebro. Os processos mentais são responsáveis pelo conjunto de competências cognitivas que diferenciam o ser humano dos outros animais. As capacidades cognitivas permitem que os humanos acessem e conheçam as características da realidade que os cerca, obtendo, armazenando e utilizando, de modo mais ou menos inteligente, a informação sobre esta realidade. São os processos mentais que, combinados e desenvolvidos de modo singular em cada ser humano, nos tornam capazes de resolver problemas de lógica, de lembrar de nossos entes queridos e de nossa história pregressa, de perceber diferenças sutis entre dois aromas ou dois padrões de cores. Entre estes processos, estão a atenção, a percepção, a memória, o pensamento, a linguagem e a imaginação. O controle consciente do funcionamento de nossos próprios processos mentais e a refl exão sobre eles é chamada de metacognição. A capacidade de metacognição é fundamental para que o sujeito seja capaz de resolver os problemas que se apresentam a ele na realidade, e para realizar muitas das tarefas que se impõem no cotidiano. A atenção é um processo mental de grande importância para a aquisição de conhecimento. É este processo que confere ao sujeito a capacidade de concentrar o esforço mental num estímulo específi co, deixando de lado outros estímulos que não merecem ser considerados para a realização da tarefa em questão. Estes estímulos desconsiderados costumam permanecer como um psicologia_da_educacao.indb 57psicologia_da_educacao.indb 57 26/4/2007 15:02:1726/4/2007 15:02:17 58 Universidade do Sul de Santa Catarina “pano de fundo”. Os psicólogos da Gestalt, que você estudou nesta disciplina, foram precursores do Cognitivismo e estudaram a fundo os processos mentais de atenção e de percepção. Os pesquisadores cognitivistas buscam compreender que fatores infl uenciam na concentração dos sujeitos. O tempo de concentração possível em cada fase da vida e em diferentes situações é um dos fatores pesquisados. As crianças da educação infantil, por exemplo, podem concentrar a atenção num determinado estímulo por menos tempo do que as crianças que já freqüentam o último ano das séries iniciais. A motivação para aprender sobre o estímulo, no entanto, faz diferença para a defi nição do tempo de concentração. A memória é outro processo mental, responsável por armazenar e recuperar no momento certo as nossas representações das experiências vividas ou transmitidas por outras pessoas. Isso pode acontecer de diferentes maneiras, por muito ou pouco tempo, o que depende da relevância da informação, do contexto em que foi aprendida, do signifi cado atribuído à informação, entre outros fatores. Os estudos dos cognitivistas sobre o processo mental da memória chegaram à formulação de diferentes conceitos: memória de curto e de longo prazo, memória episódica, memória semântica, memória autobiográfi ca, entre outros. O processo mental de
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