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14 - Processo Administrativo - Intensivo II

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Não temas; Eu sou contigo – Isaías, 41:10.
- Processo Administrativo; Lei 9.784/99.
1 – Processo x Procedimento;
a) Processo; é a sucessão formal de atos que são realizados por determinação legal, ou em atendimento a princípios sacramentados pela ciência jurídica, com vistas a dar sustentação à edição do Ato Administrativo.
b) Procedimento; é o conjunto de formalidades que devem ser observadas para a prática de certos Atos Administrativos; equivale a rito, a forma de proceder; o procedimento se desenvolve dentro de um processo administrativo.
2 – Objetivos do Processo;
a) Serve para contar a história da administração;
b) Forma de documentação dos seus atos;
c) Legitima a conduta dos administradores;
d) Deve preceder todo ato final para instruí-lo, prepará-lo e fundamentá-lo = requisito de Forma do Ato Administrativo;
e) Resguarda contra atitudes arbitrárias;
f) Mecanismo de Defesa – seja para o cidadão e até mesmo para o servidor;
g) Instrumento de Controle;
h) Visa a transparência e clarividência;
3 – Princípios do Processo Administrativo;
3.1 – Princípio do Devido Processo Legal; art. 5º, LIV, CRFB.
Trata-se de princípio norteador de todo ordenamento jurídico; informa a maneira de se realizar todos os procedimentos processuais.
O processo de tomada de decisão não pode ser arbitrário, mas um meio de afirmação da própria legitimidade e de afirmação perante o indivíduo.
A ideia do processo é de que as relações sejam participativas e igualitárias.
* Inf. 598, STJ;
A instauração de processo disciplinar contra servidor efetivo cedido deve ocorrer, preferencialmente, no órgão em que tenha sido praticada a suposta irregularidade. Por outro lado, o julgamento e a eventual aplicação de sanção só podem ocorrer no órgão ao qual o servidor efetivo estiver vinculado – STJ, Corte Especial, MS 21.991/DF.
3.2 – Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa;
Até 1988 não era necessário contraditório e ampla defesa no Processo Administrativo.
a) Contraditório; é a cientificação da parte acerca da existência do processo.
Neste momento, constitui-se a bilateralidade da relação processual.
b) Ampla Defesa; oportunidade de a parte apresentar sua defesa.
* Exigências;
- Defesa anterior ao julgamento;
- Procedimento previsto em Lei; consequências e atos previamente estabelecidos.
- Direito à informação;
Obs; embora o Processo Administrativo não possa ser retirado do órgão mediante carga, a Administração deve permitir a extração de cópia do processo, que serão custeadas pelo interessado.
* Defesa Técnica;
- Lei 8.112/90 – art. 156 – defesa técnica é facultativa em PAD.
- STJ – Súmula 343 – defesa técnica é obrigatória em PAD.
- Súmula Vinculante 5 – não ofende a Constituição – é facultativa a defesa técnica no PAD.
* Direito de Produção e Avaliação do Julgador;
Não adianta prova produzida para meramente ser acostada aos autos; o Julgador deve rebater as provas produzidas.
Obs; prova ilícita é vedada.
Obs; e-mail institucional – pode ser acostado como prova, não sendo ilícita, ainda que contra a vontade do servidor – ademais, trata-se de banco de dados do Poder Público.
* Direito de Recurso;
Deverá ser facultado ao interessado o direito de submeter a matéria a nova análise.
Neste ponto, vale visitar a Súmula Vinculante 21:
É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.
* Decisão Fundamentada;
É necessário que exista acesso a espelho de prova.
Não pode existir fases de concurso público em que não caiba recurso.
* Súmula Vinculante 3:
Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.
Neste caso, trata-se de Ato Administrativo complexo – manifestação da Administração e também do TCU ou (TCE). Observe que quando o TC vai analisar ele não está retirando direito do sujeito, ademais, por ser ato complexo, o direito só é adquirido após a manifestação de vontade dos dois órgãos (Administração e TC).
Portanto, diferentemente da primeira parte da SV 3 – em que o direito já existe, esta segunda parte o direito ainda não se aperfeiçoou.
Portanto, nesta segunda parte o contraditório e a ampla defesa ocorrerão na Administração Pública.
Entrementes, o STF tem entendido que passado longo período (média de 5 anos), é necessário oportunizar o contraditório.
Importante visitar o STF, RE 594.296/MG – exige processo administrativo com contraditório e ampla defesa para anulação de ato administrativo.
3.3 – Princípio da Verdade Real / Material;
Em verdade, a doutrina moderna sinaliza no sentido de que atualmente o que se busca é a verossimilhança – o que mais se aproxima do verdadeiro possível.
3.4 – Princípio da Oficialidade;
Como a perseguição ininterrupta do interesse público constitui dever impostergável da Administração, impõe à autoridade administrativa competente a obrigação de dirigir, ordenar e impulsionar o procedimento, de tal forma a resolver ou esclarecer adequadamente a questão posta.
3.4.1 – Consequências da Oficialidade;
a) impulso oficial;
O processo administrativo irá avançar independentemente de qualquer questionamento ou requerimento pelo interessado.
b) busca da verdade material/real, não se limitando à verdade formal;
c) prerrogativas de iniciativa investigatória por parte da autoridade conducente do procedimento;
d) informalidade em favor do administrado;
Obs; para o Poder Público, o processo deve ser formal – atender às exigências previstas em Lei.
3.5 – Princípio da Celeridade;
Por meio da Emenda Constitucional 45 – inserindo o inciso LXXVIII no art. 5º da CRFB, o processo administrativo deve durar pelo prazo razoável – menor prazo possível.
Sabe-se a razoabilidade do prazo, considerando que a Lei institui os prazos para a execução dos atos processuais no âmbito do processo administrativo.
4 – Aspectos Importantes da Lei 9.784/99;
4.1 – Normas Básicas do Processo Administrativo;
A Lei 9.784/99 dispõe sobre normas básicas para o processo administrativo no âmbito da Administração Federal, Direta e Indireta – nos 03 (três) Poderes.
4.2 – Proteção de Direitos;
Visa a proteção de direitos dos administrados com o melhor cumprimento dos fins da Administração Pública – fala-se aqui do Interesse Público.
* Inf. 617, STJ;
O IBGE está legalmente impedido de fornecer a quem quer que seja as informações individualizadas que coleta, no desempenho de suas atribuições, para que sirvam de prova em quaisquer outros procedimentos administrativos – STJ, REsp 1.353.602/RS.
4.3 – Aplicação Subsidiária;
A Lei 9.784/99 tem aplicação subsidiária; cada processo específico tem a sua Lei específica – art. 69 da Lei 9.784/99. Portanto, a Lei 9.784/99 somente será aplicável no silencio da Lei específica.
Ex; Processo Administrativo Licitatório – aplica-se a Lei 8.666/93 e, subsidiariamente a Lei 9.784/99.
* Inf. 602, STJ;
Há fatos ilícitos administrativos que, se cometidos de forma continuada pelo servidor público, não se sujeitam à sanção com aumento do quantum sancionatório previsto no art. 71, caput, do CP – STJ, REsp 1.471.760/GO.
4.4 – Competência Legislativa;
Cada ente tem sua competência para legislar sobre o Processo Administrativo; como muitos ainda não se desincumbiram deste ônus legislativo, valem-se da Lei 9.784/99.
4.5 – Publicidade;
Ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição Federal.
4.6 – Custas;
Ressalvadas as custas previstas em Lei, não se admite a cobrança de despesas processuais.
4.7 – Contagem de Prazo;
Trata-se de prazo processual, não incluindo o dia do começo e considerando o dia do final.
4.8 – Prova Ilícita;
Não é admissível.
* Inf. 576, STJ;
As informações obtidas por monitoramento de e-mail corporativo de servidor público não configuram prova ilícita quando relacionadas com aspectos "não pessoais" e de interesse da Administração Pública e da própria coletividade,especialmente quando exista, nas disposições normativas acerca do seu uso, expressa menção da sua destinação somente para assuntos e matérias afetas ao serviço, bem como advertência sobre monitoramento e acesso ao conteúdo das comunicações dos usuários para cumprir disposições legais ou instruir procedimento administrativo – STJ, RMS 48.665/SP.
* Inf. 834, STF;
É possível que as provas provenientes de interceptações telefônicas autorizadas judicialmente em processo criminal sejam emprestadas para o processo administrativo disciplinar – STF, RMS 28.774/DF.
* Inf. 834, STF;
O servidor processado, que também é réu no processo criminal, tem acesso à integralidade das interceptações e, se entender necessário, pode juntar no processo administrativo os eventuais trechos que considera pertinentes ao deslinde da controvérsia. O acusado em processo administrativo disciplinar não possui direito subjetivo ao deferimento de todas as provas requeridas nos autos, ainda mais quando consideradas impertinentes ou meramente protelatórias pela comissão processante (art. 156, § 1º, Lei nº 8.112/90) – STF, RMS 28.774/DF.
* Súmula 591, STJ:
É permitida a “prova emprestada” no processo administrativo disciplinar, desde que devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa.
* Súmula 611, STJ:
Desde que devidamente motivada e com amparo em investigação ou sindicância, é permitida a instauração de processo administrativo disciplinar com base em denúncia anônima, em face do poder-dever de autotutela imposto à Administração.
4.9 – Atos Processuais;
a) não dependem de forma determinada, salvo quando prevista em Lei;
b) devem realizarem-se em dias úteis, no horário normal de funcionamento da repartição, só sendo concluídos depois do horário normal quando o adiamento prejudique o curso regular do procedimento ou cause danos;
c) no silêncio da Lei, o interessado terá 5 dias para manifestação;
4.10 – Intimação;
a) o legislador no âmbito administrativo não faz distinção entre Citação, Intimação e Notificação;
b) poderá ser efetuada de diversas formas previstas em Lei;
c) para os casos de comparecimento, é necessário que se respeite no mínimo 3 dias úteis de antecedência;
d) o desatendimento da intimação não importa o reconhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo Administrado;
4.11 – Fases do Processo Administrativo;
a) Instauração do Processo;
A instauração pode ocorrer de ofício, pela própria Administração, ou a requerimento da parte interessada.
b) Instrução;
Antes mesmo da apresentação de Defesa, deverá proceder-se à produção de provas.
Obs; todas admitidas em Direito.
c) Defesa;
Como regra, o prazo para apresentação de Defesa será de 10 (dez) dias, podendo variar de acordo com a Lei – no silencio da Lei específica, aplica-se este prazo geral.
d) Relatório;
Nada mais é do que um resumo do processo.
Obs – ‘Inquérito Administrativo’; é composto pela Instrução, Defesa e Relatório no Processo Administrativo.
Obs; como a Comissão Processante não é quem julga o processo, o Relatório – produzido pela Comissão Processante deverá ser conclusivo – propor um resultado – condenar ou absolver.
* Inf. 834, STF;
Não há qualquer impeditivo legal de que a comissão de inquérito em processo administrativo disciplinar seja formada pelos mesmos membros de comissão anterior que havia sido anulada – STF, RMS 28.774/DF.
* Inf. 834, STF;
Não é obrigatória a intimação do interessado para apresentar alegações finais após o relatório final de processo administrativo disciplinar. Inexiste previsão na Lei nº 8.112/1990 de intimação do acusado após a elaboração do relatório final da comissão processante – STF, RMS 28.774/DF.
e) Decisão;
A Decisão não é proferida pela Comissão Processante e sim, pela Autoridade Superior – que determinou a instauração do Processo.
A Autoridade Superior Julgadora está vinculada ao Relatório, podendo julgar contrariamente ao Relatório, somente quando este for divergente das provas dos autos.
f) Recurso;
f.1) Pedido de Reconsideração à Autoridade Julgadora;
f.2) Não sendo reconsiderada a Decisão, no mesmo ato, requer-se à Autoridade que converta a Reconsideração em Recurso Hierárquico.
Obs 1; se o Superior Hierárquico estiver no mesmo órgão/estrutura – ‘Recurso Hierárquico Próprio’; se estiver em outro órgão/estrutura – ‘Recurso Hierárquico Impróprio’.
Obs 2; não necessariamente existirão as 03 (três) instâncias, a depender da estrutura da Administração.
Obs 3; após as instâncias existentes e cabíveis, haverá a “Coisa Julgada Administrativa”.
*Inf. 657, STJ
O art. 141, I, da Lei nº 8.112/90 prevê que as penalidades disciplinares de demissão e cassação de aposentadoria ou disponibilidade de servidores públicos ligados ao Poder Executivo federal devem ser aplicadas pelo Presidente da República. Por meio do Decreto nº 3.035/99, o Presidente da República delegou aos Ministros de Estado e ao Advogado-Geral da União a atribuição para aplicar tais penalidades. Assim, o Advogado-Geral da União, com base no Decreto nº 3.035/99, possui competência para, em processo administrativo disciplinar, aplicar pena de demissão a Procurador da Fazenda Nacional, que é membro integrantes da carreira da AGU. Vale ressaltar, contudo, que cabe recurso hierárquico próprio ao Presidente da República contra a aplicação dessa penalidade. STJ. 1ª Seção. MS 17.449-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 14/08/2019 (Info 657). 
f.3) Revisão;
Entrementes, surgindo um fato novo, caberá Revisão – que não se submente a prazo.
Atenção; em Recurso Administrativo ADMITE-SE reformatio in pejus – reforma para pior; todavia, em Revisão NÃO admite reformatio in pejus.
- Não se Admite Recurso;
a) Intempestivo;
b) Autoridade Incompetente;
c) Parte Ilegítima;
d) Coisa Julgada Administrativa;
- Endereçamento;
O Recurso é endereçado à Autoridade Julgadora, tendo em vista a possibilidade de Revisão.
- Caução;
Independe de caução.
- Prazo;
Vai depender de cada Lei; pela Lei 9.784/99, o prazo é de 10 dias.
- Decisão;
A Autoridade competente goza do prazo de 30 dias para julgamento.
* Súmula 592, STJ:
O excesso de prazo para a conclusão do processo administrativo disciplinar só causa nulidade se houver demonstração de prejuízo à defesa.
- Efeito Suspensivo;
Normalmente, o Recurso não tem efeito suspensivo – exatamente em decorrência da Presunção de Legitimidade dos Atos Administrativos; excepcionalmente – em casos previstos em Lei, poderá gozar de Efeito Suspensivo.
* Inf. 559, STJ;
É possível o cumprimento imediato da penalidade imposta ao servidor logo após o julgamento do PAD e antes do julgamento do recurso administrativo cabível – STJ, MS 19.488/DF.
4.12 – Prazo Decadencial – Art. 54 da Lei 9.784/99;
* Inf. 833, STF;
A Administração Pública não pode, depois de terem se passado mais de 5 anos, anular a anistia política concedida mesmo que, antes de completar este prazo, a AGU tenha emitido nota questionando os critérios adotados na concessão. A nota emitida pela AGU teve efeito similar ao de um parecer e, por isso, não impediu o fluxo do prazo decadencial, não podendo ser classificada como "exercício do direito de anular", para os fins do § 2º do art. 54 da Lei nº 9.784/99. Vale ressaltar que, no caso concreto, não ficou demonstrada má-fé do interessado. Além disso, não houve flagrante inconstitucionalidade na concessão de anistia, mas sim nova interpretação da Administração Pública quanto ao efetivo enquadramento como anistiado político – STF, RMS 31.841/DF.
* Inf. STF;
[...] Já nas hipóteses em que (II) o TCU ainda não julgou a legalidade e nem procedeu ao registro das aposentadorias, pensões e reformas (ato complexo não perfeiçoado, portanto), o regime será o seguinte: a) não se opera a decadência prevista no art. 54 da Lei 9.784/99 no período compreendido entre o ato administrativo concessivo de aposentadoria ou pensão e o posterior julgamento de sua legalidade e registro pelo TCU, que consubstancia o exercício da competência constitucional de controle externo (art. 71 , III , CF ), por ser o atode aposentadoria complexo e sujeito à homologação pelo Colegiado de Contas – STF, Pleno, MS 24.268/MG, rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes, DJ 17.09.2004, p. 53.
- O que é a Teoria do Fato Consumado? Segundo esta teoria, as situações jurídicas consolidadas pelo decurso do tempo, amparadas por decisão judicial, não devem ser desconstituídas, em razão do princípio da segurança jurídica e da estabilidade das relações sociais (STJ, REsp 709.934/RJ).
Assim, de acordo com essa posição, se uma decisão judicial autorizou determinada situação jurídica e, após muitos anos, constatou-se que tal solução não era acertada, ainda assim não deve ser desconstituída, para que não haja insegurança jurídica. "A teoria do fato consumado foi construída ao longo dos anos como um mecanismo de estabilização de atos ou decisões, em casos excepcionais, nos quais a restauração da estrita legalidade seria faticamente impossível ou, ainda que possível, causaria danos sociais de grande monta e irreparáveis, com malferimento do postulado da segurança jurídica." (Min. Raul Araújo). Em suma, seria uma espécie de convalidação da situação pelo decurso de longo prazo.
* Inf. 753, STF;
Não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista – STF, Plenário, RE 608.482/RN (repercussão geral).
* Inf. 600, STJ;
Quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias e o servidor se aposentou, antes do julgamento final de mandado de segurança, por tempo de contribuição durante esse exercício e após legítima contribuição ao sistema, a denegação posterior da segurança que inicialmente permitira ao servidor prosseguir no certame não pode ocasionar a cassação da aposentadoria – STJ, MS 20.558/DF.
* Inf. 911, STF;
Em regra, não produzem fato consumado a posse e o exercício em cargo público decorrentes de decisão judicial tomada à base de cognição não-exauriente. Em outras palavras, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista. Trata-se do entendimento firmado no RE 608.482/RN (Tema 476). A situação é diferente, contudo, se a pessoa, após permanecer vários anos no cargo, conseguiu a concessão de aposentadoria. Neste caso, em razão do elevado grau de estabilidade da situação jurídica, o princípio da proteção da confiança legítima incide com maior intensidade. Trata-se de uma excepcionalidade que autoriza a distinção (distinguish) quanto ao leading case do RE 608.482/RN (Tema 476) – STF, RE 740.029 AgR/DF.
5- Processo Sumário
5.1 – Sindicância
Segundo José Cretella Júnior (1969, v. 6:153), no idioma de origem, os elementos componentes da palavra sindicância, de origem grega, são o prefixo syn (junto, com, juntamente com) e dic (mostrar, fazer ver, pôr em evidência), ligando-se este segundo elemento ao verbo deiknymi, cuja acepção é mostrar, fazer ver. Assim, sindicância significa, em português, à letra, “a operação cuja finalidade é trazer à tona, fazer ver, revelar ou mostrar algo, que se acha oculto”.
O mesmo autor define a sindicância administrativa como “o meio sumário de que se utiliza a Administração do Brasil para, sigilosa ou publicamente, com indiciados ou não, proceder à apuração de ocorrências anômalas no serviço público, as quais, confirmadas, fornecerão elementos concretos para a imediata abertura de processo administrativo contra o funcionário público responsável”. Nesse conceito, a sindicância seria uma fase preliminar à instauração do processo administrativo; corresponderia ao inquérito policial que se realiza antes do processo penal.
A Lei Federal nº 8.112/90 prevê sindicância para a apuração de irregularidade (art. 143), dela podendo resultar: arquivamento do processo; aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 dias; e instauração do processo disciplinar (art. 145).
A lei não estabelece procedimento para a sindicância, que pode ser realizada por funcionário ou por comissão de funcionários.
5.2 – Verdade Sabida
Verdade sabida é o conhecimento pessoal e direto da falta pela autoridade competente para aplicar a pena. É o conceito que consta do artigo 271, parágrafo único, do Estatuto paulista. Pelo caput do dispositivo, é possível aplicar a pena pela verdade sabida, quando se tratar de repreensão e suspensão.
Esse dispositivo estatutário não mais prevalece, diante da norma do artigo 5º, LV, da Constituição, que exige o contraditório e ampla defesa nos processos administrativos. Mesmos antes da atual Constituição, já se entendia que o princípio da ampla defesa, previsto no artigo 153, § 16, para o processo penal, era aplicável às esferas civil e administrativa.
A lei federal não prevê a aplicação da pena pela verdade sabida.
6 - jurisprudência
*Inf. 649, STJ
IMPORTANTE: Súmula 635-STJ: Os prazos prescricionais previstos no art. 142 da Lei nº 8.112/1990 iniciam-se na data em que a autoridade competente para a abertura do procedimento administrativo toma conhecimento do fato, interrompem-se com o primeiro ato de instauração válido - sindicância de caráter punitivo ou processo disciplinar - e voltam a fluir por inteiro, após decorridos 140 dias desde a interrupção. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/06/2019, DJe 17/06/2019. 
*Inf. 651, STJ
IMPORTANTE
MUDANÇA DE ENTENDIMENTO – SUPERAÇÃO DO INFORMATIVO 502 DO STJ
O prazo prescricional previsto na lei penal se aplica às infrações disciplinares também capituladas como crime independentemente da apuração criminal da conduta do servidor. Para se aplicar a regra do § 2º do art. 142 da Lei nº 8.112/90 não se exige que o fato esteja sendo apurado na esfera penal (não se exige que tenha havido oferecimento de denúncia ou instauração de inquérito policial). Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, deve ser aplicado o prazo prescricional previsto na legislação penal independentemente de qualquer outra exigência. STJ. 1ª Seção. MS 20.857-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 22/05/2019 (Info 651). 
*Inf.666, STJ
É possível a cassação de aposentadoria de servidor público pela prática, na atividade, de falta disciplinar punível com demissão. MS 23.608-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por maioria, julgado em 27/11/2019, DJe 05/03/2020 
obs1: Entendeu o Relator pela inconstitucionalidade da aplicação da penalidade da pena de cassação de aposentadoria, eis que "o colendo STF, realmente, não proclamou a inconstitucionalidade da sanção da cassação de aposentadoria do ex-Servidor, prevista no art. 134 da Lei 8.112/1991, mas as decisões até então proferidas, no entanto, não analisaram a mudança da natureza da aposentadoria, o que se deu, frise-se, apenas após a vigência da EC 20/98"; que a sanção "fere o direito adquirido do ex-Servidor público, além do ato jurídico perfeito" e também "viola o princípio da dignidade da pessoa humana" 
obs2: Prevalece no STJ e no STF a tese de que a cassação de aposentadoria é compatível com a Constituição Federal, a despeito do caráter contributivo conferido àquela, mormente porque nada impede que, na seara própria, haja o acertamento de contas entre a Administração e o servidor aposentado punido. Assim, constatada a existência de infração disciplinar praticada enquanto o servidor estiver na ativa, o ato de aposentadoria não se transforma num salvo conduto para impedir o sancionamento do infrator pela Administração Pública. Faz-se necessário observar o regramento contido na Lei n. 8.112/1990, aplicando-se a penalidade compatível com as infrações apuradas. 
Vejamos:
"AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. FALTA DISCIPLINAR. CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. CONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO DESPROVIDO. 1. A jurisprudência do STF é firme quanto a possibilidade de cassação de aposentadoria pela prática, na atividade, de falta disciplinar punível com demissão, inobstante o carátercontributivo de que se reveste o benefício previdenciário. 2. Tendo o acórdão a quo dissentido da jurisprudência da Corte, o provimento do recurso extraordinário e o consequente restabelecimento dos efeitos da sentença proferida em primeira instância é medida que se impõe. 3. Agravo regimental a que se nega provimento" (STF, ARE 1.092.355 AgR, Rel. Ministro EDSON FACHIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 24/05/2019). 
"Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito Administrativo. 3. Servidor Público. Processo Administrativo Disciplinar. Penalidade de cassação de aposentadoria. 4. A jurisprudência desta Corte já reconheceu a constitucionalidade da previsão legal de perda do direito como sanção disciplinar, apesar do caráter previdenciário da verba. 5. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. 6. Agravo regimental a que se nega provimento. Majoração dos honorários advocatícios em 10%" (STF, ARE 1.091.968 AgR, Rel. Ministro GILMAR MENDES, SEGUNDA TURMA, DJe de 30/11/2018) 
"DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. 1. Pena de cassação de aposentadoria aplicada a ex-Auditor da Receita Federal do Brasil, em razão da prática de improbidade administrativa (art. 132, IV, da Lei 8.112/1990). 2. É pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido da constitucionalidade da pena de cassação de aposentadoria prevista no art. 127, IV c/c 134 da Lei 8.112/1990, não obstante o caráter contributivo de que se reveste o benefício previdenciário. 3. Nos termos do art. 201, § 9°, da Constituição Federal, ‘para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de previdência social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei’. 4. Recurso desprovido" (STF, RMS 34.499 AgR, Rel. Ministro ROBERTO BARROSO, PRIMEIRA TURMA, DJe de 21/09/2017). "ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO. CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. CONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTE DO PLENÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. INAPLICÁVEL O ART. 85, § 11, DO CPC/2015, HAJA VISTA TRATAR-SE DE MANDADO DE SEGURANÇA (LEI 12.016/2009, ART. 25)" (STF, RE 848.019 AgR, rel. Ministro TEORI ZAVASCKI, SEGUNDA TURMA, DJe de 03/10/2016). 
obs3: Sobre o tema, ressalta-se a fundamentação do Ministro ROBERTO BARROSO, no julgamento do mencionado AgR no RMS 34.499 (PRIMEIRA TURMA, DJe de 21/09/2017), em que asseverou que, "mesmo com a cassação da aposentadoria, o agravante não ficará desamparado, porquanto, a despeito de não lhe ser assegurado um suposto direito de resgate das contribuições previdenciárias pagas, a Constituição prevê uma solução para o caso, consistente na possibilidade de contagem do tempo de contribuição no regime próprio para a aposentadoria no Regime Geral de Previdência Social (art. 201, §9º)". 
*STJ
"PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONSTITUCIONALIDADE DA PENA DE CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. PRECEDENTES DO STF E DO STJ. 1. Nas decisões anteriormente proferidas assentou-se expressamente a constitucionalidade da pena de cassação de aposentadoria, com citação de inúmeros julgados do STJ e do STF sobre a matéria. Na mesma linha, o seguinte precedente: ARE 1.091.968 AgR/SP, Relator Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe-256 29/11/2018. 2. Nenhuma perplexidade há nesse entendimento, pois, em caso análogo e hipotético de demissão de servidor da ativa, não há o reembolso das contribuições vertidas aos cofres públicos. A Constituição de 1988 desenhou um sistema previdenciário de teor contributivo, mas também solidário, em que as contribuições (tributos) servem para custear os benefícios atualmente devidos. 3. Embargos de Declaração providos para fins de esclarecimento, sem efeitos modificativos" (STJ, EDcl no AgInt no RMS 54.249/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 28/05/2019). 
"RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. DELEGADO DE POLÍCIA. DESVIO DE ENTORPECENTES APREENDIDOS EM OPERAÇÃO POLICIAL. ATO DO GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO QUE APLICOU PENALIDADE DE CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. 1. O mandado de segurança não é meio adequado para a análise da proporcionalidade e razoabilidade da penalidade administrativa imposta a servidores públicos, por não admitir dilação probatória. Precedentes do STJ e do STF. 2. Não obstante a natureza contributiva do benefício previdenciário, é constitucional a pena de cassação de aposentadoria. Precedentes do STJ e STF. 3. Recurso em mandado de segurança não provido. Por consequência, revogo a liminar anteriormente deferida pelo Relator originário" (STJ, RMS 50.717/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ acórdão Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, DJe de 13/06/2018). 
*Inf.667, STJ
Processo administrativo. Cadastro e peticionamento no Sistema Eletrônico de Informações. Intimação eletrônica. Presunção de ciência. Regularidade. O cadastro e o peticionamento no Sistema Eletrônico de Informações denotam a ciência de que o processo administrativo tramitará de forma eletrônica. MS 24.567-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 11/03/2020, DJe 16/03/2020 
Obs.: Ressalta-se que a comunicação eletrônica atende plenamente à exigência de assegurar a certeza da ciência pelo interessado, como exige a Lei n. 9.784/1999 (art. 26, §3º), que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal.

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