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Instrumentação Científica e Tratamento de Dados Experimentais Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Paulo Cezar Frangiosa Revisão Textual: Mateus Gonçalves Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos • Introduzir conceitos fundamentais sobre os métodos espectroscópicos; • Aplicar corretamente as técnicas para a determinação da estrutura de substâncias desconhecidas; • Interpretar detalhadamente espectros de modo a extrair o maior número de informa- ções possíveis; • Mostrar a relevância do tema na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, bem como na vida acadêmica do profissional em química; • Exemplificar as aplicações de acordo com situações que impactam no nosso dia a dia. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução à Espectroscopia; • Espectroscopia de Infravermelho (IV); • Espectrometria de Massas (MS); • Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN); • Espectroscopia de Ultravioleta-Visível (UV-Vis); • Espectrometria de Absorção Atômica (AAS). UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos Introdução à Espectroscopia A espectrometria compreende um grupo de métodos analíticos baseados nas pro- priedades dos átomos e moléculas de absorver ou emitir energia eletromagnética em uma determinada região do espectro eletromagnético. A fim de entender como a espec- troscopia é empregada para a determinação de estruturas, primeiramente precisamos rever algumas das características básicas da radiação eletromagnética e da matéria. A Natureza da Radiação Eletromagnética A radiação eletromagnética (luz) exibe tanto propriedades ondulatórias como proprie- dades de partícula. Quando vista como uma onda, ela consiste em campos elétrico e magnético oscilantes e perpendiculares, como ilustra a Figura 1. Figura 1 – Campos elétrico e magnético oscilantes e perpendiculares associados à radiação eletromagnética Fonte: Pixabay E: campo elétrico; B: campo magnético; C: direção de propagação: λ: com- primento de onda . O comprimento de onda (λ) descreve a distância entre duas cristas de onda, medido em direção à progressão de onda, enquanto a frequência (ν) representa o número de oscilações completas que uma onda faz a cada segundo. A unidade de frequência é s–1 (uma oscilação por segundo equivale a 1 Hertz: 1Hz = 1 s –1). Assim, um comprimento de onda longo equivale a uma frequência pequena, e vice-versa. Tal relação inversa pode ser expressa na equação mostrada a seguir, onde a constante de proporcionalidade equi- vale à velocidade da luz no vácuo (c): ν = c λ (1) Onde: • c = 2,99793 x 108 m . s–1 8 9 Quando há emissão ou absorção da radiação eletromagnética, ocorre uma transfe- rência permanente de energia no objeto emissor ou no meio absorvente. Para descrever esse fenômeno, devemos entender a radiação eletromagnética não como uma coleção de ondas, mas sim como uma corrente de partículas discretas chamadas fótons. A ener- gia de cada fóton é diretamente proporcional à sua frequência: E = h ν (2) Onde: • h = constante de Planck (6,626 x 10 –34 J . s) A faixa de todas as frequências possíveis é chamada espectro eletromagnético, que se apresenta dividido em várias regiões em função do comprimento de onda (Figura 2). Figura 2 – Espectro eletromagnético e a classifi cação das regiões espectrais Fonte: ATKINS, 2012, p.212 A Interação entre Radiação Eletromagnética e Matéria De acordo com Klein (2016), cada forma de espectroscopia utiliza uma região distin- ta do espectro eletromagnético, envolvendo tipos diferentes de excitação. As radiações visível e ultravioleta, por exemplo, têm energia suficiente para provocar as transições somente de elétρons da camada mais externa, ou dos elétrons de ligação. As frequências dos raios X, por outro lado, são muitas ordens de grandeza mais energéticas, sendo ca- pazes de interagir com os elétrons mais próximos do núcleo dos átomos. A Tabela 1 ilustra os diferentes tipos de transição que ocorrem nos átomos, íons e moléculas de acordo com as regiões do espectro eletromagnético. Tabela 1 – Absorção de Radiação Eletromagnética Região do Espectro Tipo de Transição Raios γ Transições nucleares Raios X Quebra de ligações Ultravioleta / Visível Transições eletrônicas Infravermelho Vibração e rotação Micro-ondas Rotação Radiofrequências Spin nuclear (ressonância magnética nuclear) Spin eletrônico (ressonância de spin eletrônico) 9 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos Os diferentes aspectos da estrutura molecular são investigados por meio das diferen- tes regiões do espectro eletromagnético, como mostra a Tabela 2. Tabela 2 – Algumas Formas Comuns de Espectroscopia e suas Utilizações Tipos de Espectroscopia Região do Espectro Eletromagnético Informação Obtida Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) Ondas de rádio O arranjo específico de todos os átomos de carbono e hidrogê- nio na substância. Espectroscopia de Infravermelho (IR) Infravermelho Os grupos funcionais presentes na substância. Espectroscopia de UV-VIS Visível e ultravioleta Qualquer sistema π conjugado presente na substância. Espectroscopia de Infravermelho (IV) Introdução ao Método Sejam orgânicos ou inorgânicos, praticamente todos os compostos que apresentem ligações covalentes absorvem várias frequências de radiação na região do infravermelho do espectro eletromagnético. De acordo com McMurry (2011), a região infravermelha do espectro eletromagnético abrange a extensão que vai do visível (7,8 x 10–5 cm) até aproximadamente 10–2 cm, mas somente a porção intermediária (entre 2,5 x 10–4 cm e 2,5 x 10–3 cm) é usada pelos químicos orgânicos. Os comprimentos de onda da região de IV são dados em micrômetros (1μm = 10–4 cm) e as frequências são expressas em termos de número de ondas (ν ), que é simplesmente o inverso do comprimento de onda (cm–1). Número de onda, ν (cm–1) = 1 � � cm� � (3) Dessa forma, a região útil do infravermelho vai de 4000 cm–1 a 400 cm–1. Por que uma molécula orgânica absorve energia em alguns comprimentos de onda de ra- diação IV e não em outros? A resposta é simples: as ligações químicas possuem frequências (energias) de vibração específicas! Processo de Absorção no Infravermelho e Modos de Estiramento e Dobramento De acordo com McMurry (2011), todas as moléculas apresentam certa quantidade de energia distribuída por sua estrutura, causando deformações lineares e angulares das ligações, além de outras vibrações moleculares. 10 11 A absorção da radiação no infravermelho corresponde a alterações de energia da ordem de 4,8 a 48 kJ/mol. A radiação nessa faixa de energia equivale à faixa que en- globa frequências vibracionais de estiramento e dobramento das ligações na maioria das moléculas mais covalentes. Nesse processo de absorção, são absorvidas as frequências de radiação no infravermelho que equivalem às frequências vibracionais naturais da mo- lécula, aumentando a amplitude dos movimentos vibracionais das ligações. Os tipos mais simples de movimento vibracional em uma molécula, ativos no infra- vermelho – e que, portanto, dão origem a absorções – são o estiramento e o dobra- mento (deformação angular), como sintetizado na Figura 3: Figura 3 – Movimentos Vibracionais Fonte: McMURRY, 2011, p. 398 A energia que uma molécula possui é quantizada, significando que ela pode vibrar apenas em determinadas frequências que correspondem a níveis específicos de energia. Finalmente, como cada frequência absorvida pela molécula equivale a um movimento molecular específico, eles podem ser monitorados por seus espectros de IV. Da interpre- tação desses movimentos, descobrem-se os tipos de ligações (grupos funcionais) presen- tes na molécula. Espectro IV Quais movimentos moleculares? Quais grupos funcionais? Figura 4 Usos do Espectro de Infravermelho Uma vez que cada tipo de ligação apresenta sua própria frequência natural de vibra- ção, aliadoao fato de que dois tipos idênticos de ligações presentes em dois diferentes compostos encontram-se em ambientes químicos levemente diferentes, os padrões de absorção no IV em duas moléculas com estruturas distintas nunca serão exatamente iguais. Assim, apesar das frequências absorvidas nos dois casos poderem ser iguais, jamais os espectros de IV serão idênticos! Em outras palavras, da mesma forma que as impressões digitais servem para seres humanos, os espectros de IV são ferramentas para distinguir diferentes moléculas. Uma segunda utilização em relação ao espectro de IV é o de fornecer informações estruturais das moléculas. Desse modo, as absorções de cada tipo de ligação (C-H, N-H, O-H, C-Cl, C-O, C=O, C=C, C ≡ C, C ≡ N, entre outros) são encontradas em estreitas regiões do infravermelho vibracional. Por exemplo: absorções na faixa 3000 ± 150 cm –1 normalmente referem-se à presença da ligação C-H, enquanto que uma absorção na 11 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos faixa 1715 ± 100 cm–1 se deve à presença da carbonila C=O na molécula. O esquema geral mostrado na Figura 5 ilustra o que acabamos de discutir. X – H C C 4000 2700 2300 2100 1850 1600 400 Ligações simplesLigações com o H Região da impressão digital Número de onda (cm -1) Ligações triplas Ligações duplas ––– C C–– C N–– C O–– C–C C–N C–OC N ––– O–H C–H N–H Figura 5 – As quatro regiões do espectro de IV: ligações simples com o hidrogênio, l igações triplas, ligações duplas e região da impressão digital Fonte: Adaptado de KLEIN, 2016, p.7 Espectrômetro de Infravermelho Em um espectrômetro de IV, uma determinada amostra é irradiada com frequências de radiação infravermelha, sendo que as frequências que atravessam a amostra – e que, portanto, não são absorvidas – são detectadas. Uma representação gráfica é então construída de modo a mostrar essas frequências. Dois tipos de espectrômetros de IV são particularmente utilizados em laboratórios químicos: Espectrômetros de infravermelho dispersivos Esse equipamento (Figura 6) gera um feixe de radiação no IV a partir de um resis- tor aquecido que, atravessando espelhos, fraciona-se em dois feixes paralelos de igual intensidade de radiação: um dos feixes atravessa a amostra, enquanto o outro atinge a referência. Ambos os feixes chegam a um dispositivo óptico – o monocromador – que funciona como um ”cortador de feixes” dispersando cada um em espectros contínuos de frequência de luz infravermelha. A rede de difração giratória (ou primas em equipamen- tos mais antigos!) dispersa a radiação em diferentes comprimentos de onda (frequências), chegando ao detector que, sensível à razão entre as intensidades dos feixes de referência e da amostra, amplifica o sinal, que é finalmente registrado na forma de um espectro. Figura 6 – Esquema geral de um espectrômetro de IV dispersivo de duplo feixe Fonte: Adaptado de lume.ufrgs.br 12 13 Espectrômetros de transformada de Fourier (IV-TF) Mais modernos e rápidos, esses equipamentos operam de forma diferente, uma vez que irradiam a amostra com todas as frequências ao mesmo tempo. O traçado do caminho óp- tico produz um padrão denominado interferograma – sinal complexo traduzido como um gráfico de intensidade versus tempo – que contém todas as frequências que compõem o espectro infravermelho. Em seguida, uma operação matemática conhecida como transfor- mada de Fourier determina quais frequências passaram pela amostra, individualizando-as e convertendo-as em gráficos típicos de intensidade versus frequência – os espectros de IV. Preparação de Amostras para Espectroscopia no Infravermelho Várias técnicas estão disponíveis na preparação de amostras para a espectroscopia no infravermelho. Em todas elas, as amostras devem ser colocadas em recipientes ou celas confeccionadas com materiais que não absorvam na região de 4000 a 400 cm –1. O método mais comum envolve o emprego de placas de sal (cloreto de sódio), pelo seu baixo custo e por serem transparentes na região de 4000 a 650 cm –1 – região abaixo da qual poucas bandas importantes aparecem. Assim, teremos: • Líquidos: uma gota do composto a ser analisado é colocada entre duas placas polidas de sal formando um “sanduíche”. O espectro assim obtido é denominado espectro do líquido puro, pois não contém qualquer solvente ; • Sólidos: a amostra pode ser dissolvida em um solvente apropriado e colocada entre duas placas de sal. Alternativamente, substâncias insolúveis podem ser misturadas com KBr em pó de alta pureza que, após compressão sob alta pressão, originam um filme fino e transparente – a pastilha de KBr. Forma Geral de um Espectro de Absorção de IV Um espectrômetro de IV mede a porcentagem de transmitância em função da frequência, resultando na representação gráfica denominada espectro de absorção. Os sinais são as bandas de absorção, e todas apontam para baixo em um espectro de IV. Cada um dos sinais no espectro é individualizado em termos de uma unidade relacionada com a frequência da radiação absorvida, o número de ondas (ν ) (em cm –1). Todo sinal apresenta três características relevantes: número de onda, intensidade e forma. A Figura 7 traz o espectro de IV do etanol. Número de onda (cm-1) Tr an sm itâ nc ia 0.8 1 H H H H 3000 2000 H – C – C – OH 1000 0.6 0.4 0.2 Figura 7 – Espectro de IV do Etanol Fonte: Adaptado de webbook.nist.gov 13 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos Tabelas de Correlação A maioria dos grupos funcionais apresentam bandas de absorção de IV típicas que va- riam muito pouco de um composto para outro. A Tabela 3 resume as principais absorções no IV de grupos funcionais. Tabela 3 – Absorções Características do IV de Alguns Grupos Funcionais Grupo Funcional Absorção (cm–1) Intensidade Alcanos C - H 2850-2960 Média Alcenos = CH - H C = C 3020-3100 1640-1680 Média Média Alcinos ≡ C – H C ≡ C 3300 2100-2260 Forte Média Haletos de alquila C – Cl C - Br 600-800 500-600 Forte Forte Álcoois O – H C - O 3400-3650 1050-1150 Forte, larga Forte Éster C - O 1100-1300 Forte Éter C - O CH3 – O - C 1100-1300 2810-2820 Forte Forte Arenos C – H Aromáticos 3030 1660-2000 1450-1600 Fraca Fraca Média Aminas N – H C - H 3300-3500 1030-1230 Média Média Composto carbonílico C = O 1670-1780 Forte Ácidos carboxílicos O – H C - O 2500-3100 1100-1300 Forte, muito larga Forte Nitrilas C ≡ N 2210-2260 Média Nitrocompostos NO2 1540 Forte Interpretando Espectros de Infravermelho A interpretação integral de um espectro de IV torna-se difícil devido ao fato de que a maioria das moléculas orgânicas é grande, apresentando muitos movimentos diferen- tes de estiramento e deformação angular das ligações – resultando em espectros com dezenas de bandas de absorção. Felizmente, muitas informações estruturais relevantes podem ser desvendadas sem que seja necessária a interpretação integral do espectro. 14 15 Na sequência, estrutras de compostos orgânicos conhecidos foram estudadas por IV. Buscou-se mostrar as principais bandas de absorção dos grupos funcionais, identifican- do-as no espectro de IV e tabelando-as. Bom estudo! Tr an sm itâ nc ia Número de onda (cm-1) 0.8 1 2 3 4 3000 2000 1000 0.6 0.4 0.2 C – H O – H 12500 - 3100 2850 - 2960 2 H O OH H H – C – C Ácido Acético Grupo Funcional Absorção (cm-1) Banda Figura 8 Fonte: Adaptado de webbook.nist.gov Número de onda (cm-1) 1 2 3 Tr an sm itâ nc ia 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 3000 2000 1000 C – H 3030 1 Bezeno Grupo Funcional Absorção (cm-1) Banda Figura 9 Fonte: Adaptado de webbook.nist.gov 0.8 C O 3000 2000 1000 12850 - 2960 0.6 0.4 0.2 Po rce nt ag em de Tr an sm iss ão (T ra ns m itâ nc ia ) Número de onda (cm-1) 1 2 C – H H3C CH3 Propanona (Acetona) Grupo Funcional Absorção (cm-1) Banda Figura 10Fonte: Adaptado de webbook.nist.gov Número de onda (cm-1) 1 2 3 Tr an sm itâ nc ia 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 3000 2000 Etoxietano (Éter Etílico) 1000 C – H H– C – C – O – C – C – H 2850 - 2960 1 Grupo Funcional Absorção (cm-1) Banda H H H H H H H H Figura 11 Fonte: Adaptado de webbook.nist.gov 15 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos Tetracloreto de Carbono Grupo Funcional Absorção (cm-1) Banda Tr an sm itâ nc ia 0.8 0.6 0.4 0.2 Número de onda (cm-1) 3000 2000 1000 1 CI – C – CI CI CI Figura 12 Fonte: Adaptado de webbook.nist.gov Número de onda (cm-1) 1 2Tr an sm itâ nc ia 0.8 NO2 H3C CH3 0.6 0.4 0.2 3000 2000 1000 C – H 2850 - 2960 1 2 - Nitropropano Grupo Funcional Absorção (cm-1) Banda Figura 13 Fonte: Adaptado de webbook.nist.gov Apesar do volume de dados parecer de difícil assimilação, na verdade não é! Aos poucos vamos nos familiarizando com as informações e, consequentemente, nossa ha- bilidade em interpretar os detalhes mais finos de um espectro no infravermelho vai se ampliando naturalmente. Espectrometria de Massas (MS) Introdução ao Método A espectrometria de massas (MS – Mass Spectrometry), ou simplesmente EM, cons- titui-se numa importante ferramenta de análise orgânica, cujo propósito central é o de converter uma substância em subprodutos – ou fragmentos moleculares – mensuráveis, que são indicativos da estrutura original da molécula. Dessa forma, é uma técnica utili- zada para medir a massa e, portanto, a massa molecular (MM) de uma molécula. Espectrômetro de Massa De acordo com McMurry (2011), existem vários tipos diferentes de espectrômetros de massas comerciais disponíveis (como o ilustrado na Figura 14), dependendo da apli- cação, mas todos possuem os seguintes componentes básicos: • Fonte de Ionização: o processo de ionização converte as moléculas ou átomos da amostra em espécies iônicas em fase gasosa. A energia acumulada durante a 16 17 ionização é dissipada por toda a molécula, quebrando-as em fragmentos menores característicos e previsíveis para cada estrutura molecular ; • Analisador de Massas: a separação e análise das massas do íon molecular e seus fragmentos iônicos ocorre com base em suas razões m/z (massa/carga) ; • Detector: a corrente iônica formada devido às massas iônicas separadas é medida, amplificada e registrada na forma de um espectro de massas (EM). Figura 14 – Representação de espectrômetro de massas de ionização por elétron Fonte: McMURRY, 2011, p.386 Uma pequena quantidade da amostra é vaporizada na fonte de ionização, sendo bom- bardeada por um fluxo de elétrons de energia em torno de 70 elétrons-volt (eV) (equivalentes a 1600 kcal/mol). No primeiro momento, ocorre a remoção de um elétron da camada de valência, produzindo um íon molecular carregado positivamente – o cátion radicalar. RH+. Molécula Orgânica Cátion Radicalar RH + e– (elétron) 70 eV Figura 15 Os íons moleculares (cátions radicalares) formados inicialmente contém um excesso de energia, suficiente para produzir novas quebras de ligações (as energias das ligações covalentes estão na faixa de 50 a 100 kcal/mol). Fragmentação Os 70 eV são suficientes não somente para deslocar um elétron da camada de valência da molécula, mas também para ocasionar uma extensiva quebra de ligações químicas, originando uma série de fragmentos. Tais fragmentos podem ser instáveis e, por sua vez, quebram-se em fragmentos ainda menores. Os íons positivos são separados da mistura resultante com base nas suas razões massa/carga (m/z), e as suas abundâncias relativas são registradas em um gráfico de Abundância Relativa (ou Intensidade, %) VERSUS m/z – o que chamamos de espectro de massas. 17 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos O cátion radicalar não fragmentado é denominado pico principal ou íon molecular (M+) e, dependendo de sua estabilidade, pode ter um tempo de vida suficientemente grande dentro do tubo analisador para que seja observado como pico base, ou seja, o pico mais intenso (arbitrariamente atribui-se uma intensidade de 100%) do EM. Se, por outro lado, o íon molecular for uma espécie instável, sua vida média pode ser tão curta que é observado somente em baixa abundância ou mesmo não ser observado. Uma vez que todos os fragmentos observados no EM são espécies carregadas positi- vamente, suas abundâncias relativas estão relacionadas com a estabilidade dos respectivos carbocátions. Assim, muitos fragmentos – os menos estáveis – sofrem futuras fragmenta- ções. Como resultado, o espectro de massas de um composto consiste de um pico para o íon molecular e uma série de picos de íons fragmentos. A Figura 16 traz o EM do metano. M = 16 Re l. I nt en sid ad e 100 80 60 40 20 0.0 11 12 13 14 15 16 17 18 H– C – H H H m/z + Figura 16 – Espectro de massa do metano Fonte: Adaptado de webbook.nist.gov Tabela 4 – Dados do Espectro de Massa do Metano Fragmentação m/z Intensidade (%) CH4 → CH4 + + e– 16 100 CH4 + → CH3 + + H• 15 85,0 CH3 + → CH2 + + H• 14 9,2 CH2 + → CH+ + H• 13 3,9 CH+ → C+ + H• 12 1,0 O padrão de fragmentação e a abundância relativa dos picos é única para cada tipo de substância e característica da mesma, o que se constitui numa excelente ferramenta na determinação estrutural. Os fundamentos químicos do mecanismo de fragmentação podem ser entendidos em termos de formação e estabilidade de carbocátions: quando a fragmentação ocorre for- mando novos carbocátions, o mecanismo de fragmentação que origina a espécie mais estável é favorecido. Interpretando Espectros de Massa Quais tipos de informação podemos obter por meio de um espectro de massas? Certamente a principal informação é a massa molecular, que, por si só, é de extrema 18 19 importância quando se quer identificar um composto desconhecido em um laboratório de pesquisa, por exemplo. Analisemos a molécula do pentano (MM = 72 g/mol), que apresenta cinco átomos de carbono ligados através de uma série de quatro ligações C – C, suscetíveis à frag- mentação, originando quatro cátions (Figura 17). Lembrando que o espectrômetro de massas não detecta os fragmentos radicais, mas somente os íons, teremos: H– C – C – C– C – C – H [CH3– CH2 – CH2 – CH2– CH3] H H H H H H H H H H +. + e- (eletrón) 70 eV CH3– CH2 – CH2 – CH2 .CH3 CH3– CH2 – CH2 .CH2 – CH3 CH3– CH2 .CH2 – CH2 – CH3 CH3 .CH2 – CH2 – CH2 – CH3 (M –15) (M –29) (M – 43) (M – 57) + + + + Figura 17 – Mecanismo de fragmentação do pentano Fonte: Adaptado de KLEIN, 2016, p. 33 Re l. I nt en sid ad e 100 80 60 40 20 0.0 2010 30 40 50 60 70 80 m/z M = 72M -15 = 57 M - 29 = 43 (Pico Base) M - 57 = 15 M - 43 = 29 + Figura 18 – Espectro de massa do pentano Fonte: Adaptado de webbook.nist.gov Outro exemplo interessante é o 2-metil-3-pentanol, um álcool de cadeia aberta que pos- sui M+ = 102, cuja fragmentação resulta em cátions radicalares como os mostrados a seguir: Perda de C3H7 (M – 43) Por quebra alfa produz um pico de massa 59 Perda de C2H5 (M – 29) Por quebra alfa produz um pico de massa 73 ++ + OH OH H3C C3H C3H M = 102 Re l. I nt en sid ad e 100 80 60 40 20 0.0 0.0 20 40 60 80 100 120 m/z M - 43 = 59 (Pico Base) M - 29 = 73 Figura 19 – Espectro de massa do 2-metil-3-pentanol Fonte: Adaptado de webbook.nist.gov 19 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos Você Sabia? Podem ser analisadas as massas com até, aproximadamente, 2500 unidades de massa atômica (μ) por espectrofotometria de massas! Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) Introdução ao Método Silverstein (2019) destaca que a espectrometria de ressonância magnética nuclear (RMN) é provavelmente a técnica mais poderosa disponível para os químicos orgânicos empregada para a determinação de estruturas moleculares, haja vista fornecer a maior parte das informações necessárias paratal objetivo. A rotina de um laboratório de aná- lise instrumental normalmente utiliza a combinação de técnicas espectroscópicas como IV, MS e RMN para a elucidação de estruturas moleculares mais complexas. Entretanto, em algumas situações específicas, a RMN sozinha basta! A espectroscopia de RMN baseia-se no estudo da interação entre a radiação eletro- magnética e os núcleos atômicos com número ímpar de prótons e/ou número ímpar de nêutrons, por apresentarem a propriedade quântica chamada spin nuclear (estados de spin de +1/2 e –1/2), incluindo-se 1H, 13C, 15N, 19F e 31P. Na prática, uma vez que os átomos de hidrogênio e carbono são os principais constituintes das moléculas orgânicas, os químicos utilizam mais frequentemente a espectroscopia de RMN de 1H, 13C. A análise de um espectro de RMN fornece informações sobre o modo como os áto- mos de H e C ligam-se individualmente um ao outro em uma molécula, sendo possível, então, a determinação do quebra-cabeças da estrutura C-H de uma substância. Espectrômetro de Ressonância Magnética Nuclear O funcionamento simplificado de um espectrômetro de RMN está ilustrado na Fi- gura 20. Uma amostra, dissolvida em um solvente adequado (tal como o clorofórmio deuterado, CDCl3, que não contém hidrogênios), é carregada em um tubo fino de vidro submetido a um forte campo magnético. Dessa forma, os núcleos de 1H e 13C presentes na amostra se alinham em uma das duas possíveis orientações de spin, sendo irradiada com energia de radiofrequência constante. À medida que a força do campo é variada, cada núcleo entrará em ressonância em uma força do campo diferente – que é lida em um detector sensível – emitindo-se um sinal eletrônico que, uma vez amplificado, resulta em um pico registrado graficamente. 20 21 Figura 20 – Operação esquemática de um espectrômetro de RMN Fonte: McMURRY, 2011, p. 419 Os espectros de de 1H e 13C não podem ser vistos simultaneamente no mesmo equipamento, uma vez que são requeridas quantidades energéticas distintas para as transições de spin dos diferentes tipos de núcleos. Nosso estudo será focado na espec- troscopia de RMN de 1H. Blindagem: Hidrôgenios Protegidos Se todos os hidrogênios abservessem a mesma quantidade de energia em um certo campo magnético, a RMN de nada nos ajudaria. Entretanto, os núcleos de H são circun- dados por elétrons que os protegem do campo externo aplicado (B0), criando um campo magnético induzido local (Binduzido) que se opõe a B0 (Figura 21), resultando num campo efetivo (Befetivo), tal que: Befetivo = B0 - Binduzido Figura 21 – Campo magnético induzido pelo movimento dos elétrons ao redor do próton Fonte: Adaptado de KLEIN, 2016, p. 53 21 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos De fato, dependendo de seu ambiente químico, os hidrogênios podem estar blindados em maior ou menor extensão. Você já se perguntou se é cientificamente possível para um ser humano levitar? Quando um objeto qualquer é colocado em um campo magnético forte, seus elétrons movem-se de modo a produzir um pequeno campo magnético que se opõe ao campo magnético externo e, como consequência, o objeto repele e é repelido por pelo campo externo: trata-se do fenômeno conhecido como diamagnetismo. Em teoria, qualquer objeto vai levitar se for colocado em um campo magnético suficientemente forte. Infelizmente os eletroímãs mais fortes disponíveis não permitem, ainda, que o ser humano levite! Deslocamento Químico A posição no espectro na qual um núcleo absorve denomina-se deslocamento quími- co, definido em relação à frequência de absorção de uma substância de referência, o tetra- metilsilano [TMS: (CH3)4Si] que, adicionado à amostra, atua como padrão interno. Uma vez que o silício é menos eletronegativo que o carbono, os núcleos de H do TMS são alta- mente blindados, de modo que seu sinal é definido como “ponto zero”, por convenção. Os gráficos de RMN são calibrados empregando-se uma escala arbitrária denominada escala delta (δ), na qual “1” equivale a uma parte por milhão (ppm) da frequência de operação do espectrofotômetro. Para a maioria das substâncias orgânicas, os sinais produzidos irão se situar numa faixa compreendida entre 0 a 12 ppm. A Tabela 5 resume os deslocamentos químicos importantes, sendo interessante familiarizar-se com esses números. Tabela 5 – Deslocamentos químicos em diferentes ambientes eletrônicos Tipo de Próton Deslocamento Químico (δ) Tipo de Próton Deslocamento Químico (δ) Metila ~0,9 Haleto de Alquila 2–4 Metileno ~1,2 Álcool R O H 2–5 Metino ~1,7 Vinílico 4,5–6,5 Alílico ~2 Arila 6,5–8 Alquinila ~2,5 Aldeído ~10 Metila Aromática ~2,5 Ácido Carboxílico ~12 Fonte: Adaptado de KLEIN, 2016, p. 70 R CH3 C H R R X CH2 CH H H H R H R H O CH3 R H O O 22 23 Multiplicidade: Acoplamento Spin-Spin Definida pelo número de picos do sinal, a multiplicidade é o resultado dos efeitos mag- néticos de prótons vizinhos “não equivalentes”. De acordo com Silvertein (2019), os pró- tons que ocupam ambientes eletronicamente idênticos são chamados de quimicamente equivalentes (produzindo apenas um sinal!). O esquema a seguir mostra que um simpleto tem um pico, um dupleto tem dois picos, um tripleto tem três picos, e assim por diante. Figura 22 Fonte: Acervo do conteudista Se Ha e Hb não são equivalentes entre si, ou seja, apresentam ambientes químicos diferentes, eles produzirão sinais distintos. Consideremos um cenário em que Ha apre- senta dois vizinhos: C C Ha Hb Hb Figura 23 O deslocamento químico de Ha sofre influência de ambos os prótons tipo Hb, cada um dos quais podendo ser alinhado “com” ou “contra” o campo magnético externo (B0): em cada molécula, Ha pode encontrar-se em um dos três possíveis ambientes ele- trônicos, resultando em um tripleto (Figura 24). Há, na verdade, um padrão: se “n” é o número de prótons vizinhos, então a multiplicidade será n + 1! Figura 24 – Origem de um Triplete Fonte: KLEIN, 2016, p.74 Interpretando Espectros de 1H-RMN Nos espectros de 1H-RMN, o número de picos (absorções) representa quantos ti- pos distintos de hidrogênios quimicamente equivalentes estão presentes; a localização dos sinais mostra a extensão da proteção (ou blindagem) dos núcleos; a intensidade (integração ou área) do sinal retrata o número de átomos de H do mesmo tipo e o 23 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos desdobramento do sinal traduz o número de hidrogênios presentes em átomos de car- bono adjacentes (multiplicidade). A Figura 25, a seguir, mostra o espectro de 1H-RMN do Etanol. 4 3 2 1 0 H C C OH H H H H H H H Quadrupleto Simpleto Tripleto Figura 25 – Espectro de 1H-RMN do Etanol Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons Tabela 6 – Dados de Espectro dE 1H-RMN do Etanol Tipo de próton Integração Multiplicidade: n+1 δ HA 3 2+1 = 3 ~ 1,2 HB 2 3+1 = 4 ~ 3,7 HC 1 0+1 = 1 ~ 2,7 O acetato de etila apresenta o espectro de 1H-RMN ilustrado na Figura 26. Observe atentamente a multiplicidade dos sinais. 7 6 5 4 C = 4.11 A = 1.26 B = 2.04 B B J = 7.2 Hz B O O – CH2 – CH3 C B A TMS 90 Hz 3 2 1 0 δ ppm H3C — C AC Quadrupleto Simpleto Tripleto Figura 26 – Espectro de 1H-RMN do Acetato de Etila Fonte: Adaptado de chemistry.msu.edu 24 25 Tabela 7 – Dados de Espectro de 1H-RMN do Acetato de Etila Tipo de próton Integração Multiplicidade: n+1 δ HA 3 2+1 = 3 1,26 HB 3 0+1 = 1 2,04 HC 2 3+1 = 4 4,11 Espectroscopia de Ultravioleta Visível (UV-Vis) Introdução ao Método A espectroscopia no ultravioleta-Visível (UV-Vis) é aplicada em química orgânica ape- nas a sistemas conjugados, sendo por isso menos utilizada que técnicas espectroscópicas como IV, EM e RMN. Um espectrofotômetro UV-Vis irradia a amostra com comprimentos de onda que variam de 200 a 800 nm, sendo a luz inicialmente dividida em dois feixes: um passa através de uma cubeta (de vidro ou quartzo), que contém a substância orgânicadissolvida em solvente adequado; o outro feixe (de referência) passa através de uma segunda cubeta contendo somente o solvente. A partir da comparação das intensidades dos feixes em cada comprimento de onda (λ), graficam-se os resultados como absorbância em função de λ: é o espectro de absorção no UV-Vis. A absorbância é definida como: A = log I I 0 (4) Onde: • I0 = intensidade do feixe de referência ; • I = intensidade do feixe da amostra . A característica mais importante de um espectro de absorção é o comprimento de onda da absorção máxima (λmax, leia-se como “lâmbda máximo”). Para o β-caroteno, por exemplo, λmax = 455 nm (Figura 27). 25 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos 300 β- caroteno β- caroteno β- caroteno λmax = 455 nm Licopeno λmax = 474 nm Licopeno Licopeno 550nm Figura 27 – Comparação de espectros de absorção do UV-Vis do β-Caroteno e Licopeno A quantidade de luz UV absorvida no λmax para qualquer substância é descrita pela absor- tividade molar (ε), sendo expressa pela equação a seguir, denominada Lei de Beer: ε= A C xl�� � Onde: • ε = absortividade molar (cm–1mol–1L); • A = absorbância; • C = concentração da solução (mol/L); • l = caminho ótico (comprimento da cubeta, cm). Importante! O licopeno é o responsável pela cor vermelha dos tomates e o β-caroteno pela cor laranja em cenouras. Ambos são coloridos por apresentarem um sistema π conjugado. O β-caroteno absorve luz em 455 nm (luz azul), mas reflete a luz laranja – motivo pelo qual a cenoura é laranja! Colorimetria A cor aparente da solução será sempre o complemento da cor absorvida. Assim, uma solução que absorve na região do azul (465 a 480 nm) parecerá laranja; a que absorve na região do verde parecerá vermelha, e assim por diante (Figura 28). A base (5) 26 27 de uma análise colorimétrica é a variação da cor da solução em função da concentração do analito, seja essa cor originada pela adição de um reagente apropriado ou inerente à própria amostra a ser analisada. Desse modo, a intensidade da cor da solução que contém a amostra é comparada com uma série e soluções-padrão, cujas concentrações são conhecidas. Neutro Amarelo Amarelo - Laranja Laranja Vermelho - Laranja Vermelho Roxo - Vermelho Roxo Roxo - Azul Azul Azul - Verde Verde Verde - Amarelo Preto Branco Marrom Cinza Figura 28 – Cores complementares Os espectros de absorção no UV-Vis constituem um instrumento valioso na identifi- cação de compostos orgânicos insaturados, uma vez que as curvas de absorção retraram um tipo de “impressão digital” capaz de caracterizar a presença do composto. Compa- ração direta entre o espectro do composto desconhecido com os de compostos-modelo (de estruturas conhecidas) é frequentemente utilizada pelos químicos. Absorção da Luz De acordo com Ewing (1972), a absorção da energia radiante nas regiões do espec- tro visível e ultravioleta depende primeiramente do número e arranjo dos elétrons nas moléculas ou íons absorventes. Entre as substâncias inorgânicas, espera-se uma absorção seletiva sempre que um nível de energia eletrônico não preenchido é protegido por um nível de energia completo – normalmente formado por meio de covalências coordenativas com outros átomos. Para os compostos orgânicos, a absorção seletiva também se relaciona à deficiência de elétrons na molécula: a energia absorvida corresponde à quantidade necessária para promover um elétron de um orbiral para outro em uma molécula conjugada. Ao sistema conjugado completo de um composto denomina-se cromóforo, enquanto os grupos a eles ligados são chamados de auxocromos. Os comprimentos de onda da absorção máxima (λmax) de um composto fornecem a ferramenta para identificação do cromóforo presente, sendo que os auxocromos podem deslocar as bandas de absorção, afetando o valor de λmax (Tabela 8). 27 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos Tabela 8 – Cromóforos Representativos Composto Cromóforo Solvente λmax (nm) Octeno-3 C = C Hexano 185 230 Acetileno C ≡ C (Vapor) 173 Acetona C = O Hexano 188 279 Acetato de diazoetila N = N Etanol 252 371 Butadieno C = C – C = C Hexano 217 Vitamina A [- C = C -]5 Etanol 328 Benzeno Hexano 198 255 Fonte: Adaptado de EWING, 1972, p. 43 Compostos totalmente saturados não apresentam absorção na região do UV-Vis. Em com- postos aromáticos o anel benzênico é o cromóforo mais simples. O valor de λmax de sua ban- da etilênica desloca-se de 198 nm para 210 nm no clorobenzeno, chegando a 230 nm na anilina – confirmando o efeito dos auxocromos! Espectrometria de Absorção Atômica (AAS) Introdução ao Método Espectrometria de absorção atômica (AAS – do inglês Atomic Absorption Spectrometry) é uma técnica espectroanalítica empregada para determinar qualitativamente e quantitativamente elementos (metais, semi-metais e alguns não metais) em uma solução qualquer (embora possam ser usadas amostras sólidas). Emprega como princípio a absorção de radiação ultravioleta por parte dos elétrons que, ao sofrerem um salto quântico depois de devidamente excitados por uma fonte de energia primária – que pode ser a chama de um gás e um comburente (como uma mistura ar/acetileno a 2250°C), no caso da espectrometria de absorção atômica de chama (FAAS) - devolvem a energia recebida para o meio, voltando assim para a sua camada orbital de origem. Entre os principais elementos analisados, encontram- se: Ca, Na, K, Mn, Fe, Zn, Se, Cd, Pb e Cu. Além da FAAS, existem outras variações do método: • Espectroscopia de absorção atômica em forno de grafite (GFAAS); • Espectroscopia de absorção atômica por geração de hidretos (HGAAS); • Espectroscopia de absorção atômica de vapor a frio (CVAAS). 28 29 Principios da Técnica AAS De acordo com Welz (1999), uma vez que absorve a radiação, o átomo sofre relaxa- ção e o elétron retorna ao nível de energia mais estável, liberando a energia absorvida nas formas de luz ou calor (∆E). Considerando-se “M” um átomo gasoso neutro no esta- do fundamental e “M*” um átomo no estado excitado, podemos representar o processo de absorção de energia como: M + energia → M* e a emissão de radiação pelo átomo excitado por: M* → M + hν Para o metal sódio, Na, por exemplo, teremos: • Absorção de energia: Na + energia → Na* • Emissão de radiação: Na* → Na + hν Importante enfatizar que, na AAS, a energia absorvida pelo átomo gasoso no estado fundamental é proveniente de uma fonte de radiação eletromagnética apropriada, ou M + hν → M*. A maioria dos sistemas de atomização utiliza energia térmica para os processos de atomização, de modo que os átomos excitados no atomizador retornam ao estado fundamental, emitindo o mesmo comprimento de onda da fonte de radiação. Por meio de um artifício eletrônico – a modulação – o detector faz a leitura, idealmente, somente a radiação proveniente da fonte de radiação. Tabela 9 – Fração de Átomos em Estados Excitados a Várias Temperaturas Elemento λ (nm) Temperatura 2000 K 3000 K 4000 K Cs 852,1 4 x 10 –4 7 x 10 –3 3 x 10 –2 Na 589,0 1 x 10 –5 6 x 10 –4 4 x 10 –3 Ca 422,7 1 x 10 –10 4 x 10 –5 6 x 10 –4 Zn 213,8 7 x 10 –19 6 x 10 –10 1 x 10 –7 Espectrômetro de Absorção Atômica Como componentes básicos de um espectrômetro (Figura 29) tem-se: • Fontes de radiação: as principais fontes de radiação que promovem a excitação de elementos capazes de emitir radiação nas regiões do UV-Vis são as lâmpadas de catodo oco (HCL – do inglês Hollow Cathode Lamp), fontes de emissão contínuas e lâmpadas de descarga sem eletrodos (EDL – do inglês Electrodeless Discharge Lamp) ; • Atomizador: é onde serão gerados os átomos gasosos no estado fundamental, que absorverão a radiação de comprimento de onda característico proveniente da fonte de radiação, determinando-se a concentração do elemento de interesse. O tipo mais comum é o atomizador de chama, utilizando uma mistura ar/acetileno (C2H2) a2250°C. A chama redutora (amarela) é obtida aumentando-se a quantidade de ace- 29 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos tileno em relação ao ar, sendo empregada na determinação de elementos como Be, Mg, Ca, Sr, Ba, Mo, Cr, Sn (que tendem a formar óxidos refratários). Por outro lado, a chama oxidante (azul), obtida pela redução da quantidade de acetileno em relação ao ar, favorece aqueles elementos com características mais voláteis e metais nobres, como Au, Ir, Pd, Pt, Rh, para citar apenas alguns. A atomização também pode ser eletrotérmica (forno de grafite a 1400-2600°C) ou com geração de hidretos (1000 a 1400°C com chama e 800 a 1000°C, com forno); • Monocromador: separa a linha espectral de interesse das outras linhas emitidas pela fonte de radiação, através da utilização de um prisma ou rede de difração associado a duas fendas estreitas que servem para entrada e saída da radiação; • Detectores: são as válvulas fotomultiplicadoras ou detectores de estado sólido. Figura 29 – Representação esquemática de FAAS Fonte: Adaptado de usp.br Aplicações A AAS é rotineiramente utilizada na determinação qualitativa e quantitativa de ele- mentos inorgânicos em diversos tipos de amostras: materiais biológicos (sangue, urina, cabelo); análises em perícias forenses (Pb em projéteis de arma de fogo, elementos tóxi- cos em casos de envenenamentos), amostras coletadas do meio ambiente (águas, solos, rochas, sedimentos, plantas, fumaça das chaminés); materiais oriundos da indústria me- talúrgica (pureza ou presença de contaminantes em ligas); alimentos naturais e/ou pro- cessados; aditivos (em alimentos, medicamentos e cosméticos); materiais tecnológicos. Você Sabia? Quando sal de cozinha cai sobre a chama do fogão, os íons sódio são convertidos a áto- mos no estado fundamental, que também absorvem energia térmica da chama. Os elé- trons excitados adquirem um estado de instabilidade e, ao retornarem ao estado funda- mental, liberam a energia absorvida na forma de energia luminosa – é a chama amarela que vemos, relacionada às emissões na região visível do espectro eletromagnético! 30 31 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Fourier Transform, Fourier Series, and frequency spectrum https://youtu.be/r18Gi8lSkfM CH404 19.5 Fourier Transform IR Spectroscopy https://youtu.be/-ZoYuEuaPPc Infrared spectroscopy (IR) https://youtu.be/DDTIJgIh86E FTIR Basics – Principles of Infrared Spectroscopy https://youtu.be/KRoWMB3AR3s How a Simple UV-visible Spectrophotometer Works https://youtu.be/wxrAELeXlek Ultraviolet/Visible Spectroscopy (UV-Vis) https://youtu.be/O39avevqndU Proton Nuclear Magnetic Resonance (NMR) https://youtu.be/uNM801B9Y84 Mass Spectrometry MS https://youtu.be/J-wao0O0_qM Leitura Espectroscopia no infravermelho: uma apresentação para o Ensino Médio https://bit.ly/3qSSrwK Aplicação da espectroscopia fotoacústica na identificação das cores do algodão naturalmente colorido https://bit.ly/385bzPs Espectrômetro de infravermelho que cabe em um chip https://bit.ly/3nl2TuV 31 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Espectroscópicos Referências ATKINS, P. W.; DE PAULA, J. Físico-Química. 9.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. v.1. (e-book) EWING, G. W. Métodos instrumentais de análise química. São Paulo: Edgard Blücher, 1972. v.1. HAGE, D. S.; CARR, J. D. Química analítica e análise quantitativa. São Paulo: Pearson, 2012. (e-book) HARRIS, D. C. Análise química quantitativa. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. (e-book) KLEIN, D. Química orgânica. 2.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. v.2. McMURRY, J. Química orgânica. 7.ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. v.1. SILVERSTEIN, R. M. et al. Identificação espectrométrica de compostos orgânicos. 8.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2019. SKOOG, D. A. et al. Fundamentos de química analítica. 9. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. (e-book) VOGEL, A. I. et al. Análise química quantitativa. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. WELZ, B.; S. M. Atomic absorption spectrometry. 3.ed. Weinheim: VCH, 1999. 32
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