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Instrumentação Científica e Tratamento de Dados Experimentais Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Paulo Cezar Frangiosa Revisão Textual: Mateus Gonçalves Santos Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos • Introduzir conceitos fundamentais sobre os métodos eletroanalíticos; • Estudar as propriedades eletroquímicas das soluções; • Discutir detalhadamente as titulações potenciométricas, amperométricas, condutométricas e coulométricas; • Mostrar a relevância do tema nas áreas de P&D e análises químicas na indústria, bem como na vida acadêmica do profissional em química; • Interpretar os diversos tipos de erro que afetam uma medida analítica. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução aos Métodos Eletroanalíticos; • Potenciometria; • Condutometria; • Voltametria, Polarografia e Técnicas Relacionadas; • Eletrogravimetria; • Coulometria; • Propagação de Erros e Tratamento de Dados Experimentais. UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Introdução aos Métodos Eletroanalíticos Uma série de processos importantes baseia-se nas propriedades eletroquímicas das soluções. Imaginemos uma solução contendo um eletrólito em um recipiente de vidro, em contato com dois condutores metálicos. Se ligarmos essa cela a uma fonte exter- na de energia elétrica, salvo se a voltagem for muito baixa, um fluxo de corrente será observado através da cela. Dependendo da cela, tais efeitos ficam na dependência da natureza e composição da solução, dos materiais com os quais os eletrodos são produ- zidos, de certas características mecânicas como espaçamento e tamanho desses eletro- dos, bem como da presença ou ausência de agitação, isso sem falar da temperatura. Dessa forma, os métodos eletroanalíticos baseiam-se nas propriedades elétricas de um analito em solução, quando este faz parte de uma célula eletroquímica. Uma série de propriedades elétricas podem ser monitoradas, como mostra a Tabela 1: Tabela 1 – processos eletroanalíticos Propriedade Método Eletroanalítico Diferença de potencial Potenciometria Carga Coulometria Resistência Condutometria Corrente-voltagem Voltametria e Polarografia Em algumas dessas situações, as propriedades elétricas são convenientemente medidas em função do tempo ou do volume, através de titulações, o que permite baixos limites de detecção e instrumentação a custos relativamente baixos. A Figura 1 traz a representação esquemática dos métodos eletroanalíticos que estudaremos nesta aula! Potenciometria Titulações Potenciométricas Estáticos Dinâmicos Condutimetria Titulações Condumétricas Potencial Controlado Voltametria Amperometria Eletrogravimetria Eletrogravimetria Coulometria a Potencial Constante Titulações Coulométricas Corrente Constante Métodos Eletroanalíticos Métodos Interfaciais Métodos Não-Interfaciais Figura 1 – Métodos eletroanalíticos Ewing (1972) sintetiza os princípios fundamentais dos processos eletroanalíticos: • Potenciometria: mede os potenciais de eletrodos não polarizados sob condições de corrente zero, através da aplicação analítica direta da equação de Nernst; 8 9 • Voltametria e Polarografia: estudam a composição de soluções eletrolíticas diluídas por meio de curvas de corrente-voltagem. No processo normal, a volta- gem aplicada a um eletrodo polarizável (em relação a um eletrodo de referência) aumenta negativamente numa expansão de um a dois volts, observando-se a varia- ção da corrente através da solução. Voltametria seria o nome geral de tal processo, enquanto o termo polarografia restringe-se normalmente a aplicações envolvendo o eletrodo gotejante de mercúrio (EGM); • Amperometria: técnica semelhante à voltametria, exceto pelo fato de que ambos os eletrodos devem ser polarizáveis; • Condutometria: mede-se a condutância (recíproco da resistência) através de dois eletrodos inertes; • Coulometria: método de análise que envolve a aplicação das leis de Faraday para a eletrólise. Células Galvânicas: Estrutura e Terminologia Uma célula galvânica (ou voltaica) é uma célula eletroquímica que produz corrente elétrica a partir de uma reação química espontânea. Em 1836, o químico e físico britânico John Frederic Daniell (1790-1845) construiu uma célula voltaica formada por dois eletrodos separados em duas meias-células (Figura 2). Se esses dois eletrodos são conectados por um circuito externo, que vai do zinco – através de uma lâmpada ou outro dispositivo elétrico – até o cobre, observa-se que os elétrons fluem espontaneamente do eletrodo de zinco para o eletrodo de cobre. Neste momento, os elétrons que fluem geram uma corrente elétrica capaz de acender a lâmpada. Lâmpada acesa Fio condutor Ponte salina Cobre metálico Cátodo (polo positivo onde ocorre a redução) Zinco metálico Ânodo (polo negativo onde ocorre a oxidação) e- e- SO 2- 4 SO 2- 4 Cu 2+ Cu 2+ Zn 2+ Zn 2+ Zn 2+ Cu Zn Figura 2 – Pilha de Daniell Zinco-Cobre Fonte: Reprodução Podemos representar a reação global redox da célula voltaica como: Semi-reação do ânodo: Zn(s) → Zn2+(aq) + 2 e – Eo = + 0,76 V Semi-reação do cátodo: Cu2+(aq) + 2 e – → Cu(s) Eo = + 0,34 V Zn(s) + Cu 2+ (aq) → Zn2+(aq) + Cu(s) 0 célula E = + 1,10 V 9 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Potenciais Padrão de Eletrodo Em termos didáticos, as tendências de oxidação e redução de espécies envolvidas em eletroquímica são organizadas como potenciais de semicélulas de reduções, consideran- do-se uma célula voltaica construída a partir de um eletrodo padrão. O eletrodo que nor- malmente é escolhido para a meia célula com potencial igual a zero é o Eletrodo Padrão de Hidrogênio (EPH), que consiste em um eletrodo de platina inerte mergulhado em solução de HCl 1M com hidrogênio gasoso a 1 atm borbulhando pela solução. Se consi- derarmos o EPH agindo como cátodo, podemos escrever a seguinte meia reação: 2 H+ (aq) + 2 e – → H2(g) 0 cátodo E = 0,00 V A Tabela 2 ilustra alguns dos Potenciais Padrão de Redução para diferentes semi-re- ações quando conectadas a um eletrodo padrão de hidrogênio (EPH), nos seus estados- -padrão (concentração dos reagentes = 1M; pressão = 1 atm; temperatura = 25 °C). Com essas informações podemos determinar o potencial padrão da célula para qual- quer par de semi-reações utilizando a equação: 0 célula E = 0 cátodo E - 0 ânodo E Tabela 2 – Potencias Padrão de Redução a 25°C: Eo (V) Meia-reação de redução E0 (V) Agente oxidante mais forte Agente oxidante mais fraco F2 (g) + 2e – → 2 F (aq) 2.87 Agente redutor mais forte Agente redutor mais fraco H2O2 (aq) + 2 H + (aq) + 2 e– → 2 H2O(I) 1.78 MnO4 –(aq) + 8 H+ (aq) + 5 e– → Mn2+ (aq) + 4 H2O (I) 1.51 Cl2(g) + 2 e – → 2 Cl–(aq) 1.36 Cr2O72 –(aq) + 14 H+(aq) + 6 e– → 2 Cr3+(aq) + 7 H2O (I) 1.33 O2(g) + 4 H +(aq) + 4 e– → 2 H2O(I) 1.23 Br2(I) + 2 e – → 2 Br–(aq) 1.09 Ag+(aq) + e– → Ag(s) 0.80 Fe3+(aq) + e– → Fe2+(aq) 0.77 O2(g) + 2H +(aq) + 2 e– → H2O2(aq) 0.70 I2(s) + 2 e – → 2 I–(aq) 0.54 O2(g) + 2H2O(I)+ 2 e – → 4 OH–(aq) 0.40 Cu2+(aq) + 2 e– → Cu (s) 0.34 Sn4++ 2 e– → Sn2+(aq) 0.15 2 H+(aq) + 2 e– → H2 (g) 0 Pb2+(aq) + 2 e– → Pb (s) –0.13 Ni2+(aq)+ 2 e– → Ni (s) –0.26 Cd2+(aq)+ 2 e– → Cd (s) –0.40 Fe2+(aq)+ 2 e– → Fe (s) –0.45 Zn2+(aq)+ 2 e– → Zn (s) –0.76 2 H2O(I)+ 2 e – → H2 (g) + 2 OH–(aq) –0.83 Al3+(aq)+ 3 e– → Al (s) –1.66 Mg2+(aq)+ 2 e– → Mg (s) –2.37 Na+(aq)+ 2 e– → Na (s) –2.71 Li+ (aq) + e– → Li (s) –3.04 Fonte: Adaptada de TRO, 2017, p. 279 10 11 Potencial de Célula, Energia Livre e Constante de Equilíbrio O potencial padrão da célula, 0célula E , a variação de energia livre padrão, ΔG0 e a constante de equilíbrio da reação, K, relacionam-se por meio do diagrama a seguir: ∆G0= – nF E 0célula ∆G0= – RTIn K E0célula K ∆G0 0,0592 V n E = log K0célula Figura 3 Onde: • ΔG0 = variação de energia livre padrãoda reação; • 0célulaE = potencial padrão da célula; • K = constante de equilíbrio da reação redox balanceada a 25°C; • n = número de mols de elétrons transferidos na reação redox; • F = constante de Faraday: 96.485 Coulombs.mol de elétrons –1; • R = 8,314 J.mol –1.K –1; • T = temperatura absoluta (K). Equação de Nernst A equação de Nernst pode ser escrita como: Ecélula = 0 célula E – 0,0592 V n log Q Onde: • Ecélula = potencial de célula em volts; • 0célulaE = potencial padrão da célula em volts; • n = número de mols de elétrons transferidos na reação redox; • Q = quociente da reação, obtido com base na equação global balanceada e nas concentrações dadas dos reagente e produtos. Potenciometria Como apresentada anteriormente ( tópico "Equação de Nernst"), a equação de Nernst fornece uma relação relativamente simples entre o potencial relativo de um eletrodo e a concentração das espécies iônicas correspondentes presentes em solução. Dessa forma, Equação de Nernst 11 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos a medida do potencial de um eletrodo reversível nos possibilita calcular a atividade ou concentração de um determinado componente presente na solução. Potenciometria é, pois, o conjunto de métodos quantitativos instrumentais que têm como objetivo a determinação de concentrações, mediante medidas de diferenças de potenciais entre dois eletrodos – um de referência e outro indicador – sendo que este último forma, com a solução sob análise, um sistema único com um potencial que será função da concentração da própria solução! Muitas são as aplicações da pontenciometria, podendo-se destacar: • Determinações de pH; • Determinações volumétricas tipo: ácido-base (neutralização), oxidação-redução, precipitação, formação de complexos. Vantagens e Especificidades Várias são as vantagens da técnica potenciométrica se comparada aos métodos con- vencionais: • Equipamento relativamente simples e de baixo custo, constituído basicamente de um eletrodo de referência, um eletrodo indicador e um dispositivo para leitura de potencial; • A potenciometria nos permite trabalhar com soluções fortemente coloridas ou mesmo turvas (exceção deve ser feita às dispersões coloidais!); • A técnica potenciométrica possibilita a sistematização da análise; • A potenciometria apresenta elevada precisão dos resultados, haja vista independer de erros pessoais de observação de mudanças de cores, por exemplo, ou formação de precipitados. Aparelhagem As medidas de diferenças de potenciais em uma dada determinação volumétrica não podem ser feitas em aparelhos convencionais (voltímetros), já que teríamos que conside- rar a resistência ôhmica do sistema, que gera perda de potencial – calculado pela lei de Ohm. A Figura 4 mostra um esquema simplificado para o potenciômetro: Figura 4 – Esquema simplificado de um potenciômetro B1: Bateria de corrrente contínua; R: Resistor; C: Célula formada pelos dois eletrodos e pela solução em estudo; C’: Célula-padrão; G: Galvanômetro; AB: Fio calibrado de alta resistência (108Ώ). 12 13 Para medir o potencial de uma célula “C”, ela é conectada em série com um galva- nômetro “G”, entre “A” e um contato móvel sobre o fio. Tal contato é deslocado através do fio até que seja atingido um ponto “P”, onde o galvanômetro não apresente deflexão. Assim, a diferença de potencial entre “A” e “P” deve ser a mesma que o potencial da célula, podendo ser determinada por meio da distância “AP”. Isto se faz comparando com uma célula-padrão, C’, que fornece AP’ sobre o fio, de modo que: PE = ( ' AP AP ) ' PE Onde: • PE = potencial da célula em estudo ; • ' PE = potencial da célula-padrão . Eletrodos Em aplicações eletroanalíticas, deseja-se que um dos eletrodos apresente um potencial conhecido, constante e completamente insensível à composição da solução em estudo – estamos nos referindo ao eletrodo de referência. A seguir são apresentados os eletrodos mais usuais e importantes. Idealmente, deseja-se que um eletrodo de referência seja reversível e obedeça à equação de Nernst, exiba potencial constante com o tempo e que retorne ao seu potencial original após ser submetido a pequenas correntes, além de apresentar apenas pequenas alterações com variações de temperatura. Eletrodo Padrão de Hidrogênio O eletrodo normalmente escolhido para a meia célula com potencial igual a zero é o Eletrodo Padrão de Hidrogênio (EPH, Figura 5), como discutido no tópico "Potenciais Padrão de Eletrodo" . Entrada de hidrogênio gasoso Eletrodo de platina H+(aq) 1 mol dm-3 Figura 5 – EPH: Eletrodo Padrão de Hidrogênio Fonte: Reprodução 13 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Eletrodo de Calomelano É o mais usual entre os eletrodos de referência e bem mais prático que o próprio EPH. É formado por uma mistura de mercúrio e cloreto de mercúrio (I), Hg2Cl2 (calomelano), envolvida por KCl 0,1N ou saturado, constituindo a semi-pilha Hg0 (l), Hg2Cl2 (s) // Cl –. A equação de equilíbrio do eletrodo será tal que: Hg2Cl2 (s) + 2 e – ↔ 2 Hg0 (l) + 2 Cl– O eletrodo de calomelano é um eletrodo de referência ideal por possuir um potencial constante e reprodutível, além de não ser afetado sensivelmente por variações de tem- peratura. Atualmente, usam-se eletrodos com solução de KCl 3M. Figura 6 – EPH: Eletrodo de Calomelano Fonte: Adaptada de ufjf.br Eletrodo de Prata-Cloreto de Prata Trata-se de um eletrodo usualmente utilizado como eletrodo interior de referência nos eletrodos de vidro, bem como eletrodo exterior de referência. Esse eletrodo consiste de um fio de prata, Ag0, recoberto por um de seus sais insolúveis, AgCl, imerso em uma solução de sal solúvel, KCl, estando presente o íon comum, Cl–. Estabelece-se o seguinte equilíbrio: AgCl + e– ↔ Ag0 + Cl– , ou seja, Ag+ + e– ↔ Ag0 Interessante aplicarmos a equação de Nernst: E = E 0 + 0,0591log [Ag+], E0 = 0,7991 volts Temos outro equilíbrio presente: AgCl ↔ Ag+ + Cl–, cujo produto de solubilidade é dado por: SAgCl = [Ag +] ∙ [Cl–] = 1,2 x 10–10 → [Ag+] = [ ] SAgCl Cl− (1) (2) 14 15 Substituindo-se (2) em (1) teremos: E = E0 + 0,0591log [ ] SAgCl Cl− → E = E0 + 0,0591log SAgCl – 0,0591log [Cl–] Podemos concluir que, uma vez que SAgCl é constante, o potencial do eletrodo depende da [Cl–], ou seja, da concentração da solução de KCl! Eletrodo de Vidro É, sem dúvida, o mais importante eletrodo sensível ao pH. Ele é constituído de um bulbo de vidro fino contendo uma solução molar ou 0,1 molar de HCl, onde está imerso um eletrodo interno estabilizador (normalmente de Hg0 – calomelano ou Ag0 – AgCl). O eletrodo de vidro tornou-se extremamente importante industrialmente, substituin- do praticamente todos os outros sistemas sensíveis ao pH. Eletrodo de Platina Este eletrodo é constituído por um fio de platina imerso em uma solução que con- tém íons em dois níveis de oxidação, de forma que o eletrodo adquire um potencial que é proporcional ao logaritmo da relação entre as concentrações da forma oxidada e reduzida. Para o par de oxidação-redução Fe+3 + e– ↔ Fe+2, o potencial do eletrodo será: E = E0 + 0,0591log [ ] [ ] Fe 3 Fe 2 + + , E0 = 0,770V Desse modo o eletrodo de Pt é útil para medir a relação [ ] [ ] Fe 3 Fe 2 + + , funcionando ele próprio como um mero condutor. Eletrodos Indicadores Metálicos de 1ª Classe Os eletrodos indicadores metálicos dependem da atividade, “a” de uma espécie iônica. Os de 1º classe encontram-se em equilíbrio direto com o cátion derivado do metal. Podemos citar o eletrodo de Ag (fio de prata), que apresenta como única reação: Ag+ + e – → Ag(s) O eletrodo de Ag fornece uma medida direta da Aga + na solução. Seu potencial será tal que: Eind = 0 AgE – RT nF ln 1 Aga + 15 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Eletrodos Indicadores Metálicos de 2ª Classe Tratam-se de eletrodos metálicos que respondem à atividade de um ânion ao qual seucátion origina um precipitado ou um complexo estável. Como exemplo temos o eletrodo para haletos (pilhas de concentração): AgCl(s) + e – ↔ Ag(s) + Cl– Seu potencial será: Eind = E 0 – RT nF ln Cla − Eletrodos Indicadores Metálicos de 3ª Classe E algumas circunstâncias, um eletrodo metálico pode responder a diversos cátions diferentes. Como exemplo temos o eletrodo de mercúrio utilizado para a determinação de íons Ca+2 em solução. Eletrodos Indicadores Metálicos Redox ou Inertes Eletrodos tais como de Pt, Au, Pd e metais inertes atuam como indicadores em siste- mas do tipo oxidação-redução. Eles agem como fonte para elétrons transferidos a partir de um sistema redox em solução. Podemos citar como exemplo o eletrodo de Pt em solução contendo íons Ce+3 e Ce+4, cujo potencial será dado por: Eind = E 0 – RT nF ln 3 4 aCe aCe + + Titulações Potenciométricas A determinação do ponto final de titulações potenciométricas pode ser feita de forma direta, gráfica ou por cálculos baseados em fórmulas empíricas. Frequentemente utiliza-se o método gráfico pelo ponto de inflexão da curva E = f (V), pela derivada primeira ou derivada segunda. Ponto de Inflexão Em uma curva E = f (V), registram-se os volumes adicionados de reagente (ml) e os respectivos valores de potenciais (milivolts). Determina-se o ponto de inflexão, P.I. que, como vemos na Figura 6-a, não se apresenta muito nítido, tornando o método impreciso. Derivada Primeira Partindo-se dos valores e E e V, calcula-se ΔE, ΔV e ΔE/ΔV. O volume de equivalên- cia, Veq, corresponde ao valor máximo da derivada primeira, como vemos na Figura 6-b. Certamente este método é mais preciso que o anterior. 16 17 Derivada Segunda A partir dos valores de E, V, ΔE, ΔV e ΔE/ΔV, obtém-se a derivada segunda ΔE2/ΔV2. No ponto onde ΔE2/ΔV2 = 0, a curva corta o eixo das abscissas – que corresponde ao volume de equivalência, Veq (Figura 6-c). Figura 7 – Determinação Gráfi ca Fonte: KOBAL; SARTORIO, 1982, p. 141 Condutometria Introdução Neste tópico estudaremos o significado analítico das propriedades das soluções que independem da ocorrência de reações nos eletrodos. A Lei de Ohm nos diz que: E = I ∙ R Onde: • E = voltagem aplicada (volts); • I = corrente (ampéres); • R = resistência elétrica (ohms). (3) 17 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Define-se condutância, L (ohm–1), como sendo o inverso da resistência, de modo que I = EL. Resulta que a condutância observada em uma determinada solução é inver- samente proporcional à distância, “d”, entre os eletrodos e diretamente proporcional à sua área, “a”. Depende, também, da concentração, “ci”, de íons por unidade de volume da solução, bem como da condutância iônica equivalente, “λi” desses íons. Temos: L = a d i i i c λ∑ Para a situação onde temos um único composto ionizado em solução, a somatória ∑ pode ser substituída por 0i ic λ . Convenciona-se chamar de constante de célula, “θ”, a relação “d/a”, o que nos leva a: L = 1 θ 0i ic λ A condutância específica, “K”, definida como sendo a condutividade correspondente a um cubo de 1cm de lado será, finalmente, dada pela equação: K = L d a = Lθ → θ = K L Assim, a constante da cela pode ser determinada experimentalmente por meio da equação (6): realizam-se medidas de condutância numa solução cujo valor de “K” seja conhecido, como soluções de cloreto de potássio, por exemplo, a 25 °C . Vantagens e Especificidades A condutividade iônica equivalente é, sem dúvida, uma importante propriedade dos íons, uma vez que fornece informação quantitativa em relação às contribuições relativas dos íons às medidas de condutância. A Tabela 3 traz “λ0” de uma série de íons: traduz os valores numéricos de condutividade iônica equivalente à diluição infinita (concentração se aproxima de zero), ou “mobilidade iônica”. Tabela 3 – condutividade iônica equivalente à diluição infinita (25°C) Íons λ0 (mili-mhos.cm–1) H+ 349,8 K+ 73,5 NH4 + 73,4 Ag+ 61,9 Na+ 50,1 Li+ 38,7 OH– 198,6 Br– 78,1 I– 76,8 Cl– 76,4 NO3 – 71,4 ClO4 – 67,3 CH3CO2 – 40,9 Fonte: Adaptada de EWING, 1972, p. 281 (4) (5) (6) 18 19 Aparelhagem A condutometria baseia-se em medidas de resistência realizadas por aparelhos que contenham circuitos do tipo da ponte de Wheatstone (Figura 8). Quando a corrente se anular, a leitura da resistência é efetuada. Assim, as respectivas condutividades são cal- culadas como sendo os recíprocos dessas medidas das resistências. A fonte “E” fornece energia à ponte através de um oscilador, sendo “R1” e “R2” os chamados braços de razão que podem ser iguais ou munidos de um interruptor seletor de modo a colocar a razão R1 /R2 em qualquer dos vários valores (como 0,1, 1 e 10). “Rx” representa a resistência da cela de condutância, enquanto “R3” é a resistência de equilíbrio (variável). A capacitância “Cx” encontra-se em paralelo com “Rx”. Inclui-se o transformador “T” que permite a ligação do oscilador e amplificador à “terra”. Figura 8 – Ponte de Wheatstone de c.a. para medidas de condutância Fonte: Adaptada de EWING, 1972, p. 282 Aplicações Sabemos que a maior parte das medidas de condutância está relacionada com solu- ções aquosas, mas podemos imaginar aplicações com outros solventes ou mesmo sais fundidos. A água em particular é um condutor muito fraco, mas os eletrólitos fortes nor- malmente mostram um aumento de condutância praticamente linear à medida que se aumenta sua concentração (até cerca de 10 a 20% em peso), passando por um máximo, como vemos na Figura 9. Figura 9 – Curvas de condutividade-concentração de eletrólitos Fonte: EWING, 1972, p. 285 19 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Titulações Condutométricas Para situações onde haja diferença significativa entre as condutâncias específicas da solução original e dos produtos da reação, esta técnica eletroanalítica pode ser emprega- da para seguir o curso de titulações. Para tal, basta dispormos de um bureta, que contém a solução-padrão. O gráfico obtido pode ser dividido em duas partes: a primeira até o ponto de equiva- lência e a segunda, após esse ponto. Da intersecção dessas duas partes, encontramos o ponto de equivalência. Condutometria de Precipitação Analisemos o caso da titulação de uma solução de cloreto de sódio com nitrato de prata, formando-se AgCl(s) como precipitado: Ag+ + NO3 – + Na+ + Cl– → NO3– + Na+ + AgCl(s)↓ Vemos claramente que a concentração dos íons NO3 – não se altera, enquanto que, antes do ponto de equivalência, os íons Ag+ vão sendo substituídos por Na+. Tabela 4 Íons λ0 a 25°C (mili-mhos.cm–1) Ag+ 61,9 Na+ 50,1 Cl– 76,4 NO3 – 71,4 A condutância decresce suavemente antes do ponto de equivalência; após, ocorre um aumento da condutância como resultado da adição de excesso de íons Na+ e Cl–. Figura 10 – Curva condutométrica de precipitação Fonte: KOBAL; SARTORIO; 1982, p. 151 Condutometria de Neutralização Vamos considerar o que acontece quando titulamos HCl com solução de NaOH: inicialmente o valor da condutância é elevado devido à alta mobilidade dos íons H+ em solução. A contribuição dos íons Cl– permanece constante durante todo percurso da 20 21 titulação, enquanto que a dos íons H+ diminui até o valor “zero”, ao se atingir o ponto de equivalência. O que ocorre é a substituição dos íons H+ por igual número de íons Na+ (que apresen- tam mobilidade baixa), de modo que a condutância total diminui abruptamente próximo ao ponto de equivalência. Após esse ponto, a condutância volta a crescer, resultado do acúmulo dos íons Na+ e OH – em solução. Tabela 5 Íons λ0 a 25°C (mili-mhos.cm –1) H+ 349,8 Na+ 50,1 OH – 198,6 Cl – 76,4 Figura 11 – Titulação condutométrica de HCl por NaOH Fonte: EWING, 1972, p. 287 a) experimental: ponto final pela intersecção das duas retas; b) interpreta- ção: a condutância após a adição de cada incremento de reagente equivale à soma das contribuições de todos os íons presentes. Voltametria,Polarografia e Técnicas Relacionadas Introdução Nosso foco, nesta unidade, serão os fenômenos que ocorrem em uma célula de ele- trólise onde um dos eletrodos é polarizável, e o outro não: sistema estudado por meio de curvas tipo corrente-voltagem. Genericamente a técnica é chamada de voltametria, sendo o termo polarografia usado principalmente no caso do eletrodo polarizável ser o eletrodo gotejante de mercúrio (EGM). Para fins analíticos, as medidas eletroquímicas podem ser efetuadas sob condições de equilíbrio (corrente nula) com sensores potenciométricos, ou fora do equilíbrio, com sensores amperométricos ou voltamétricos. Estes últimos baseiam-se nos fenômenos que ocorrem na interface entre o eletrodo e a solução, sob potencial controlado, na presença de corrente. Assim, a voltametria estuda a relação existente entre a voltagem, a corrente e o tempo, durante uma eletrólise. 21 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Uma vez que o campo elétrico ocasiona a migração dos íons eletroativos, adiciona- -se uma solução (eletrólito suporte) contendo concentração elevada de eletrólito inerte (concentração pelo menos cem vezes maior do que as espécies eletroativas), a fim de minimizar tal fenômeno. O material a ser empregado como eletrodo fica na dependência da zona de potencias úteis do eletrodo no solvente utilizado, bem como da qualidade e pureza do material. Dessa forma, podem ser usados metais inertes (Pt, Au e Ag), carbono e mercúrio. Figura 12 – célula polarográfica Fonte: Adaptada de EWING, 1972, p. 234 O eletrodo gotejante de mercúrio (EGM) tem como vantagens ser renovável, de excelente reprodutibilidade, superfície lisa e uniforme, além do fato do metal ser de elevada pureza. Potencial de Meia-Onda Característico da substância eletroativa, o potencial de meia-onda (E1/2) reflete a facili- dade de redução ou oxidação da substância em um dado eletrólito, sendo útil para análi- ses qualitativas de espécies presentes em uma determinada amostra. Corresponde à meia altura da onda polarográfica, ponto em que i = / 2di (sendo “id” a corrente de difusão). A equação de Nernst para uma onda polarográfica catódica, a 25 °C, assume a forma: E = E1/2 + 0,0592 n log ( )di i i − Aplicações Analisemos as regiões do polarograma relativo a uma solução contendo íons Cd+2 em meio ácido. (7) 22 23 Figura 13 – Polarograma. A: Solução 0,5.10 –3 mol.L –1 de Cd+2 em HCl 1,0 mol.L –1; B: Solução de HCl 1,0 mol.L –1 Fonte: ufjf.br • Região 1: E > 0 V → corrente anódica como resultado da oxidação do mercúrio do eletrodo de trabalho (Hg ↔ Hg+2 + 2e –). Nessa região a polarografia não pode ser utilizada! • Região 2: 0V > E > – 0,5V → presença da corrente residual, decorrente da oxi- dação/redução de impurezas do eletrólito de suporte (HCl 1,0 mol.L –1) ; • Região 3: E = – 0,6 V → observa-se um aumento acentuado da corrente em vir- tude da redução do cádmio na superfície do EGM: Cd+2 + 2e – + Hg ↔ Cd(Hg) • Região 4: – 0,7V > E > –1V → a corrente atinge um valor limite (corrente limite), independente do potencial aplicado. Ocorre a redução do Cd+2 tão logo chegue na superfície do eletrodo via processo de transporte por difusão de seus íons do interior da solução até a superfície do eletrodo: a corrente resultante é chamada corrente de difusão ; • Região 5: E < –1,0V → como resultado da redução de H3O+ (ou simplesmente H+) do eletrólito de suporte, a corrente aumenta em função do potencial: H+ + e – ↔ 12 H2 Importante ! A polarografia não pode ser utilizada nessa região, uma vez que ocorre uma sopre- posição da corrente devido ao eletrólito suporte e da corrente de difusão produzida pela espécie eletroativa – o analito. 23 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos A Figura 14 mostra o processo de oxidação anódico do íon ferroso (curva c) compa- rada com a redução do íon férrico (curva a). Obtém-se a curva b quando as duas formas estão presentes em concentrações equivalentes. As linhas verticais tracejadas em ver- melho representam as posições dos potenciais de meia-onda, E1/2 (que são idênticos!). Figura 14 – Polarogramas Fonte: Adaptada de EWING, 1972, p. 241 a) ferro (III) 1,4 mF; b) ferro (II) e ferro (III) 0,7mF cada um e c) Fe (II) 1,4mF. Saturou-se o eletrólito suporte com ácido oxálico contendo 0,0002% de vermelho de metila. Eletrogravimetria Introdução A eletrogravimetria é uma técnica eletroanalítica que se baseia na eletrodeposição quantitativa de um elemento (ou seu óxido), a partir de íons em solução, sobre um ele- trodo específico. Para fins analíticos, busca-se idealmente um depósito aderente, denso e liso, permitindo uma lavagem rápida sem perdas. É claro que se deseja uma deposição quantitativa, ou seja, que reste em solução apenas quantidades desprezíveis do elemento sob análise. Por fim, mas não menos importante, devemos destacar que o processo de eletrodeposição deve ocorrer em tempo razoável (média de uma hora, podendo variar entre meia e três horas!). Importante! Deve-se evitar depósitos esponjosos, pulverulentos ou granulosos, pois estes aderem muito mal aos eletrodos, adsorvendo impurezas e sofrendo oxidação. 24 25 Especificidades Para satisfazer as condições de deposição, uma série de fatores devem ser conside- rados no processo: Composição do banho eletrolítico A natureza do elemento a ser eletrodepositado determina a composição da solução a ser eletrolisada: os íons cobre, por exemplo, depositam quantitativamente a partir de uma solução ácida nítrico-sulfúrica; os íons níquel requerem meio amoniacal; íons prata sofrem eletrodeposição mais eficiente a partir de banho cianídrico; íons zinco requerem excesso de hidróxido alcalino em solução, enquanto os de chumbo solicitam concentra- ções elevadas de ácido nítrico. Em suma, para cada tipo de eletrodeposição, estudos minuciosos devem ser feitos em relação à composição do banho eletrolítico. Natureza e forma dos eletrodos Os eletrodos mais utilizados são os de platina e platina-irídio. Menos frequente são os cátodos de tântalo, ouro, prata e cobre. O cátodo apresenta-se geralmente com geometria cilíndrica, produzido por folha ou tela do metal. O ânodo tem forma espiralada, retangular ou mesmo cilíndrica, sendo aqueles confeccionados em tela recomendáveis nos casos onde a deposição do metal ocorre sob a forma de óxido, no polo positivo, como por exemplo o chumbo, que é depositado sob a forma de PbO2. Temperatura A velocidade de difusão iônica aumenta com a temperatura, resultando numa rápida deposição, mesmo na ausência de agitação. Por outro lado, devemos lembrar que a so- lubilidade do depósito aumenta com a temperatura! Agitação Eletromecânicos ou magnéticos, os agitadores favorecem a eletrodeposição, haja vis- ta evitarem a formação de concentrações diferentes em solução, o que causaria polari- zação. Além disso, a agitação auxilia na eliminação de gases, de modo que a densidade de corrente pode ser consideravelmente aumentada. Correntes até 5 amperes podem ser empregadas sob agitação adequada Potencial aplicado Primeiramente deve-se considerar a tensão de decomposição abaixo da qual a eletro- deposição não ocorre. Ela representa o mínimo de potencial aplicado capaz de produzir eletrólise contínua e varia com a natureza dos eletrodos e com a resistência ôhmica da solução. A Tabela 6 traz exemplos de potenciais de decomposição em soluções normais com eletrodos polidos de Pt. 25 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Tabela 6 – potenciais de decomposição Substância Potencial de decomposição (volts) CuSO4 1,49 Pb(NO3)2 1,52 NiSO4 2,09 H2SO4 1,67 Fonte: Adaptada de KOBAL; SARTORIO; 1982, p. 128 Controle da eletrólise A variação da cor do banho eletrolítico é uma boa indicação do andamento do pro- cesso de eletrodeposição: uma solução contendo Cu+2 passará gradualmente do azul ao incolor, por exemplo. Lavagem e secagem dos eletrodos ao finalda operação Antes da eletrólise, os eletrodos são secos em acetona e levados em estufa a 100- 110 °C por 5 minutos. Uma vez finalizada a deposição do metal, o eletrodo é lavado com água destilada (corrente ainda ligada). A seguir, uma lavagem posterior com acetona é feita e o eletrodo é levado em estufa a 110 °C por não mais que 5 minutos, evitando-se a oxidação do depósito. Após esfriar, efetua-se a pesagem. Aparelhagem O esquema básico para a eletrogravimetria é mostrado na Figura 15. Figura 15 – Esquema simplificado de aparelhagem para eletrogravimetria Fonte: Adaptada de KOBAL; SARTORIO; 1982, p. 125 A: Amperômetro (até 10 amperes); V: Voltímetro (10-15 volts); E: Célula eletrolítica; R1 e R2: Resistores; M: Fonte de corrente contínua. Aplicações Eletrogravimetria do Cobre O cobre pode ser eletrodepositado a partir de soluções aquosas através de potenciais da ordem de 2 volts. Via de regra, adiciona-se à solução ácidos sulfúrico e nítrico, que ajudam na formação de depósitos puros e aderentes. O depósito de Cu obtido é liso, aderente e vermelho-coral. 26 27 Eletrogravimetria do Chumbo O chumbo é quantitativamente eletrodepositado na forma de dióxido de chumbo (PbO2), no ânodo, na presença de elevada concentração de HNO3. Eletrodos de tela de Pt recebem depósitos de até 0,1g de chumbo como PbO2, sendo lisos e aderentes. Eletrogravimetria do Níquel Usualmente a eletrodeposição analítica do níquel é feita após a do cobre, em li- gas metálicas. Assim, após a deposição do cobre ( tópico "Eletrogravimetria do Cobre"), evapora-se a solução até o completo desprendimento dos vapores sulfúricos densos, eliminando-se a mistura de ácidos que interfere na deposição do níquel. Após resfria- mento e diluição com água destilada (25ml), adiciona-se excesso de hidróxido de amô- nio. O níquel é finalmente eletrodepositado da solução, sob a forma de Ni (NH3)4 +2 : níquel-tetra-amina. Eletrogravimetria do Cobalto Utiliza-se uma solução fortemente amoniacal, contendo sulfato de amônio. O depó- sito é liso, aderente e brilhante, de coloração cinza-escura, sobre o cátodo. O cobalto apresenta-se como sulfato e, na ausência de agitação, o processo pode demorar entre 12 e 15 horas. O final da eletrólise é observado pelo clareamento da solução, que se torna incolor. Eletrogravimetria do Zinco Deposita-se quantitativamente o zinco a partir de uma solução alcalina de zincato, sob excesso de base forte. Devido à dificuldade de remoção, o zinco não deve ser de- positado diretamente sobre a superfície de platina: ou se utiliza um eletrodo de platina recoberto com cobre ou um cátodo de fios de prata ou de níquel. Coulometria Esta técnica eletroanalítica tem como princípio básico medidas da quantidade de ele- tricidade necessária para converter, quantitativamente, um analito em uma outra espécie (com estado de oxidação diferente). A princípio, qualquer reação, seja catódica ou anódica, pode ser empregada em uma determinação coulométrica. Condição fundamental é que deve ocorrer uma única rea- ção, onde a eficiência da corrente seja 100% (sem reações secundárias!). A lei de Faraday para eletrólise nos diz que uma determinada quantidade de eletricidade que passa através de um eletrólito produz nos eletrodos uma transfor- mação proporcional a essa quantidade. Tal relação pode ser traduzida matematica- mente como: W = QM nF (8) 27 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Onde: • W = massa da substância cuja fórmula-massa é “M”, oxidada ou reduzida pela pas- sagem de “Q” coulombs; • n = número de equivalentes por fórmula-massa; • F = constante de Faraday: 96.485 Coulombs.mol de elétrons–1. A aplicação dessa lei permite a determinação quantitativa de qualquer substância que sofra uma reação eletroquímica com uma eficiência de corrente de 100%. Dois procedi- mentos distintos são possíveis em relação aos métodos coulométricos: Coulometria a corrente constante (amperostática) Nesta operação aplica-se uma corrente fixa ao longo de todo o experimento, e o potencial varia. Se por um lado, para amostras complexas, os potencias de oxidação ou redução de outras espécies presentes podem ser atingidos, gerando erros, por outro, a integração da corrente é bem simples. Q = it Onde: • Q = carga (coulombs); • i = corrente (amperes); • t = tempo (segundos). Coulometria a potencial controlado (potenciostática) Como o título sugere, nesta operação o potencial do eletrodo de trabalho é mantido constante ao longo de toda eletrólise, caso em que a corrente diminui exponencialmente com o tempo, desde um valor relativamente grande até praticamente zero. Dessa forma, evitam-se reações paralelas indesejáveis. A carga (em coulombs) é obtida pela integração de uma curva tipo corrente/tempo: Q = idt∫ Como vantagens da técnica podemos destacar: • Independe de padrões (não requer calibração); • Boa seletividade e moderada rapidez na obtenção dos resultados; • Precisão; • Exatidão. Aparelhagem Uma célula coulométrica é constituída por dois eletrodos: um eletrodo gerador (um fio enrolado de Pt, onde o reagente se forma) e um eletrodo auxiliar (para completar o circuito). No exemplo da determinação coulométrica de ácido ascórbico (vitamina C) com iodo, teremos: (9) (10) 28 29 • Eletrodo gerador: 2 I – ↔ I2 + 2 e – • Eletrodo auxiliar: 2 H2O + 2 e – ↔ 2 OH – + H2 (g) Figura 16 – Célula Coulométrica O reagente pode ser gerado: • Internamente – reação primária ou direta: Operação aplicada a casos específi- cos como, por exemplo, na determinação de ácidos que, por eletrólise, pode gerar íons H+ ou OH –; • Internamente – reação secundária ou indireta: São as operações mais utilizadas, pois permitem quantificar espécies impossíveis de serem determinadas diretamente; • Externamente: Aplica-se a geração externa de reagentes nos casos onde a amos- tra contém outras espécies capazes de reagir a nível de eletrodo. O caso mais co- mum é a geração coulométrica de H+ ou OH –. Aplicações Ewing (1972) nos ensina que os procedimentos coulométricos analíticos baseiam-se em qualquer tipo de reação que ocorra no eletrodo: dissolução, eletrodeposição, oxida- ção ou redução. Alguns desses processos são chamados “diretos” (reação do eletrodo envolve a substância que será determinada), enquanto outros são “indiretos” (a reação do eletrodo consome ou libera uma substância que não é determinada em si, podendo ser relacionada quantitativamente à substância que efetivamente se quer determinar). Titulações Ácido-Base A titulação coulométrica de ácidos fracos e fortes ocorre com alta precisão, por meio dos íons OH- gerados no cátodo pela reação: 2 H2O + 2 e – ↔ 2 OH – + H2 (g) Em relação a bases fracas e fortes, utilizam-se os íons H+ gerados em um ânodo de platina, Pt. H2O ↔ 12 O2 (g) + 2 H + + 2 e – 29 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Reações de Neutralização, Precipitação e Complexação Tabela 7 – Determinações coulométricas: neutralização, precipitação e complexação Espécie determinada Reação no eletrodo gerador Reação envolvida Ácidos 2H2O + 2 e – ↔ 2OH– + H2 (g) OH – + H+ ↔ H2O Bases H2O ↔ 12 O2 (g) +2 H ++ 2 e– H+ + OH– ↔ H2O Cl–, Br–, I– Ag ↔ Ag+ + e– Ag+ + Cl–↔ AgCl(s) Ag+ + Br–↔ AgBr(s) Ag+ + I– ↔ AgI(s) Mercaptanas Ag ↔ Ag+ + e– Ag+ + RSH ↔ AgSR(s) + H+ Zn+2 Fe(CN)6 –3+ e– ↔ Fe(CN)6 –4 3Zn +2 + 2K++ 2 Fe(CN)6 –4 ↔ K2Zn3[Fe(CN)6]2 (s) Fonte: Adaptada de ufjf.br Reações de Oxidação-Redução Tabela 8 – Determinações coulométricas: oxidação-redução Reagente Reação no eletrodo gerador Substância determinada Br2 2Br – ↔ Br2 + 2e – As(III), Sb(III), U(IV), Tl(I), I–, SCN–, NH3, N2H4, NH2OH, fenol, anilina, etc. Cl2 2Cl – ↔ Cl2 + 2e – As(III), I– I2 2I – ↔ I2 + 2e – As(III), Sb(III), S2O3 –2, H2S Ce+4 Ce+3 ↔ Ce+4 + e– Fe(II), Ti(III), U(IV), As(III), I – , Fe(CN)6 –4 Mn+3 Mn+2 ↔ Mn+3 + e– H2C2O4, Fe(II), As(III) Ag+2 Ag+ ↔ Ag+2 + e– Ce(III), V(IV), H2C2O4, As(III) Fe+2 Fe+3+ e– ↔ Fe+2 Cr(VI), Mn(VII), V(V), Ce(IV) Ti+3 TiO+2 + 2H+ + e– ↔ Ti+3 + H2O Fe(III), V(V), Ce(IV), U(VI) Fonte: Adaptada de ufjf.br Propagação de Erros e Tratamento de Dados Experimentais Algarismos Significativos • Todos os algarismos, exceto zero, são significativos; • Algarismos nulos (zeros) entre dois algarismos não nulos são significativos; • Zeros à direita de outro algarismo significativo são significativos; Figura 17 30 31 • Um zero é significativo no fim de um número que inclui uma vírgula decimal; Figura 18 • Zeros à esquerda da vírgula não são significativos; • Zeros à esquerda do primeiro algarismo diferente de zero após a vírgula não são significativos; Figura 19 • Zeros no final de um número sem vírgula decimal devem ser avaliados para deci- dir se são ou não significativos: dependerá do algarismo duvidoso! Figura 20 Algarismos Significativos em Cálculos Analisemos algumas situações que podem ocorrer no trabalho do profissional em química: Adição e subtração • Uma amostra pesou 2,1 g numa balança cuja sensibilidade é 0,1 g e outra 0,1142 g quando pesada em uma balança analítica. Calcular a massa total das amostras, nestas condições. 2,1 0,1142 + 2,2142 O resultado a ser tomado deve ser 2,2 g, uma vez que o valor 2,1 apresenta a maior incerteza absoluta, na primeira casa decimal. 31 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos • Um pedaço de polietileno pesou 6,8 g numa balança cuja incerteza 0,1 g. Um pe- daço deste corpo foi retirado e pesado em uma balança analítica cuja massa medida foi de 2,6367 g. Calcular a massa do polietileno restante. 6,7xxx 2,8791 – 3,8209 A massa do polietileno restante é 3,8 g. Importante! Adição e subtração: o resultado final apresenta o número de casas decimais igual ao da medida com menor número de casas decimais. Multiplicação e divisão • Calcular a quantidade e o número de mols “n” existentes em 0,303 g de KCl. N = n/M → N = 0,303/74,5513 = 0,004064 A massa do sal possui três algarismos significativos, e a massa molar apresenta quatro algarismos significativos, portanto, o resultado deve apresentar apenas três algarismos significativos: 0,004064 = 0,00406 = 4,06.10–3 . Importante! O resultado da operação deve apresentar o mesmo número de algarismos significativos da me- dida de menor certeza, ou seja, daquela que tem o menor número de algarismos significativos. Erros Sistemáticos A maior preocupação dos profissionais em química que realiza uma medição é, natu- ralmente, a de tomar todas a precauções para minimizar os erros durante o experimen- to. Os erros sistemáticos podem ser de três tipos: • Erros Instrumentais: São causados pelo comportamento não ideal do instrumento usado para a análise, que podem apresentar algum defeito ou estarem descalibra- dos. Um exemplo clássico é a balança que, se não estiver calibrada, levará a resul- tados maiores ou menores que o valor verdadeiro. É muito comum também erros por falta de calibração de buretas, pipetas e balões volumétricos devido a defeitos de fabricação ou uso inadequado dos mesmos; • Erros Pessoais: Estão associados ao analista, que pode não ter a habilidade necessá- ria para a manipulação de um equipamento, seja uma simples observação do menis- co no ajuste do volume de uma bureta, pipeta ou balão volumétrico, ou ainda para a observação de cor de uma solução, como é necessário na detecção do ponto final de uma titulação. Com o objetivo de minimizar tais erros, o operador deve ser treinado para essas observações e manipulações antes de iniciar a análise das amostras; 32 33 • Erros de Método: Os erros de método são frequentemente introduzidos pelo com- portamento não ideal, físico e químico, dos reagentes e da reação na qual uma análise está baseada. Ao se escolher um método, supõe-se que apenas o analito responda a esse método, sem considerar que podem existir outras espécies presen- tes na amostra (interferentes) que também reagem da mesma forma que o analito ou apresentam uma propriedade físico-química semelhante a ele. Desta forma, o resultado da análise não representará apenas o analito, mas também o interferente, levando a um valor maior que o valor verdadeiro para todas as replicatas. Fórmulas Estatísticas A Tabela 9 resume as principais fórmulas utilizadas para o tratamento de dados experimentais. Tabela 9 – Fórmulas estatísticas fundamentais Parâmetro Representação/Fórmula Número de Medidas N Valor da i-ésima medida Xi Média da População (ou referência) µ Erro Absoluto vE x x= − Erro Relativo v v x xr x E − = Média Aritmética 1 2 1... , n in i xx x xx n n =+ + += = ∑ Média Ponderada 1 1 2 2 1 2 1 1 ... ... n n p n n i ii p n ii x p x p x pM p p p x p M p = = + + + = + + + = ∑ ∑ Variância 2 2 2 2 1 1 ( ) ( ) 1 ( 1) i n n ii i x x x nx s n n = = − − = = − − ∑ ∑ Desvio Padrão 2( ) 1 ix xs n ∑ − = − Coefi ciente de Variação / 100%CV s x= × Função de Distribuição Normal ( ) 2 2 ( ) 2 2 1 2 x f x e µ σ πσ − − = 33 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos Eletroanalíticos Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Video Potenciometria (Grupo 2) https://youtu.be/z9oVfl7aGXQ Leitura Medição e Propagação de Erros https://bit.ly/3lIfSpx Metodologia Básica de Tratamento de Dados Experimentais https://bit.ly/3lGcEmm Medição de Dados Experimentais, Incerteza e Propagação de Erro https://bit.ly/2ILDMSi 34 35 Referências EWING, G. W. Métodos instrumentais de análise química. São Paulo: Edgard Blücher, 1972. v.1. GALLI, A. et al. Utilização de técnicas eletroanalíticas na determinação de pes- ticidas em alimentos. Quím. Nova, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 105-112, fev. 2006. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- -40422006000100020&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19/10/2020. HAGE, D. S .; CARR, J. D. Química analítica e análise quantitativa. São Paulo: Pearson, 2012. (e-book) HARRIS, D. C. Análise química quantitativa. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. (e-book) REIS, N. S.; SERRANO, S. H. P.; MENEGHATTI, R.; GIL, É. S. Métodos eletroquími- cos usados para avaliação da atividade antioxidante de produtos naturais. Revista Latin American Journal of Pharmacy vol. 28, no. 06, 2009. Disponível em: <http:// sedici.unlp.edu.ar/handle/10915/7862>. REZENDE, S. G. Métodos eletroanalíticos e ensaios de atividade antioxidante no controle de qualidade de mel. 2015. 53 f. 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