Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Metodologia e Prática Pedagógica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Cristina Barroco Massei Fernandes Revisada por Rita de Cássia Geraldi Menegon (janeiro/2013) APRESENTAÇÃO É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Metodologia e Prática Pedagógica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis- ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple- mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 5 1 A RELAÇÃO PEDAGÓGICA .............................................................................................................. 7 1.1 O Professor Precisa Saber o Conteúdo que Vai Ensinar ....................................................................................7 1.2 Gostar dos Alunos ...........................................................................................................................................................7 1.3 Dom para Ensinar ............................................................................................................................................................8 1.4 Resumo do Capítulo .......................................................................................................................................................9 1.5 Atividades Propostas ......................................................................................................................................................9 2 O PERFIL DO PROFESSOR ............................................................................................................. 11 2.1 Ser um Profissional Leitor ..........................................................................................................................................11 2.2 Ser um Profissional Escritor.......................................................................................................................................12 2.3 Planos e Planejamentos .............................................................................................................................................12 2.4 Formação Permanente ...............................................................................................................................................13 2.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................14 2.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................14 3 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM .......................................................................................... 17 3.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................18 3.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................19 4 FORMAS DE GERENCIAMENTO ................................................................................................. 21 4.1 Organização Nacional .................................................................................................................................................21 4.2 Organização da Sala de Aula ....................................................................................................................................21 4.3 Organização da Prática ...............................................................................................................................................22 4.4 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................24 4.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................24 5 A APRENDIZAGEM ESCOLAR E A DIVERSIDADE .......................................................... 25 5.1 Construir na Escola .......................................................................................................................................................26 5.2 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................27 5.3 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................28 6 OS PROFESSORES, A ESCOLA E O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM............. 29 6.1 O Que Aprendemos Quando Aprendemos ........................................................................................................30 6.2 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................31 6.3 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................32 7 O QUE SABEM OS ALUNOS .......................................................................................................... 33 7.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................35 7.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................36 8 A RELAÇÃO PEDAGÓGICA E A GESTÃO DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM ...... 37 8.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................39 8.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................39 9 PRÁTICAS .................................................................................................................................................. 41 9.1 Interação entre Alunos de Diferentes Turmas na Escola ...............................................................................42 9.2 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................44 9.3 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................4410 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 45 RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 49 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 53 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 INTRODUÇÃO Tenho o direito de ter raiva, de manifestá-la, de tê-la como motivação para minha briga tal qual tenho o direito de amar, de expressar meu amor ao mundo, de tê-lo como motivação de minha briga porque, histórico, vivo a História como tempo de possibilidade, e não de determinação. Paulo Freire Caro(a) aluno(a), no presente módulo, trataremos de Metodologia e Prática Pedagógica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Nesta disciplina, pretendemos discutir: a relação pedagógica (complexa, que merece atenção e superação do senso comum); como se dá o processo de aprendizagem (as diversas formas de interação professor/conheci- mento/alunos); as formas de gerenciamento e de acompanhamento da prática (a gestão da sala de aula e o sentido da circulação do conhecimento). Para tanto, buscaremos nos orientar pelas seguintes questões: O que deve ter em mente um profissional que pretende trabalhar com essa faixa etária? Quais conhecimentos serão colocados em jogo no dia a dia? Que competências deve ter esse professor? O que ele deve desenvolver com seus alunos? Atuando no espaço da instituição escolar, com outros professores e, principalmente, na interação com os alunos, é extremamente importante para nós compreender o que se dá na relação professor- -aluno, pensando no processo ensino-aprendizagem. É no âmbito da sala de aula que a relação pedagó- gica se estabelece. Não uma relação qualquer, mas aquela que envolve os sujeitos do processo ensino- -aprendizagem. Como você verá, ao tratar da prática pedagógica, faz-se imprescindível abordar o tema da apren- dizagem. Compreendemos a possibilidade de aprender, na escola, como uma construção pessoal na qual professores e alunos desempenham importantes funções. Cabe ao professor planejar sua ação/in- tervenção de modo a possibilitar a apreensão dos conteúdos pelos alunos. Cabe aos alunos o esforço pessoal e coletivo de interagir com o objeto de conhecimento, para sua apropriação/compreensão. Cabe, certamente, a professores e alunos vivenciarem todo esse processo. É uma relação de parceria que se es- tabelece, na qual cada um precisa desempenhar seu papel, para que o processo resulte em avanços para todos os envolvidos. Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 6 Assim, neste Módulo, nosso foco estará na relação pedagógica, na gestão dos processos de apren- dizagem pelo professor, na importância de se considerar o estado inicial dos alunos e seus conhecimen- tos prévios e em situações práticas que permitam uma aproximação à atuação direta do profissional da educação. Pretendemos, aqui, analisar esses aspectos como pontos de partida que nos levem a uma reflexão mais aprofundada e à formação de um perfil profissional do professor, que é bastante complexo. Então, vamos ao trabalho! Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 A RELAÇÃO PEDAGÓGICA1 Caro(a) aluno(a), Como você leu anteriormente, verificamos que, com base no senso comum, ainda se acre- dita que para ser um bom professor é suficien- te saber o conteúdo que vai ensinar, gostar dos alunos e ter “dom” para ensinar. Podemos afirmar que é esse “senso comum” em relação à figura do professor que tanto contribui para sua desprofis- sionalização. Assim, necessitamos iniciar nossas reflexões acerca da prática pedagógica qualifi- cando esse fazer docente. Saiba maisSaiba mais Paulo Freire aborda essa desprofissionalização no livro Professora sim, tia não, no qual a denominação “tia” nos aproxima do familiar e nos distancia do pro- fissional. O livro Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar está disponível no site: http://www.cipedya. com/web/LibraryDetails.aspx?IDLibrary=98. E muito além disso! Cada vez mais, aqueles que optam por uma formação muito especializa- da perdem espaço para os que transitam nas di- versas áreas de conhecimento, em que a capaci- dade de pesquisa e reelaboração dos conteúdos e práticas reafirmam o caráter de qualidade do educador. É intrínseco ao professor que ele saiba aquilo que vai ensinar, mas não se pode pensar isoladamente, de forma seletiva, como se cada conhecimento pertencesse a uma caixinha que não se relaciona com as demais e que não tem li- gação com a vida fora da escola. 1.1 O Professor Precisa Saber o Conteúdo que Vai Ensinar De acordo com Perrenoud (2001, p. 17), [...] esperamos que o professor tenha um domínio dos conteúdos que lhe permita não só planejar e ministrar cursos, mas também partir das perguntas dos alunos, de seus projetos e intervir na regulação de situações de ensino-aprendizagem, que podem ser muito menos planejadas que uma sucessão de lições. 1.2 Gostar dos Alunos Agora, você vai refletir acerca de uma ques- tão importante, que é quando se aponta que é necessário “gostar dos alunos”. Vamos lá? Precisamos distinguir “ter afeto” com “dar carinho”. Afeto está ligado, na sala de aula, com dar atenção, com o compromisso com o ensino e a aprendizagem, com a qualidade do ensino Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 que é propiciado aos estudantes. O que esta- mos defendendo aqui está longe daquele trata- mento que minimiza situações por considerar o aluno “pobrezinho” ou incapaz. Defendemos um compromisso ético e profissional com aqueles que constituem junto com o professor uma sala de aula, a construção de uma relação de parceria em que cada qual, responsável por uma parte do processo, empenha-se ao máximo para que todos avancem no sentido do conhecimento. 1.3 Dom para Ensinar O chavão “ter dom para ensinar” pode ser substituído por “necessidade de capacitação e atualização frequente”. Como Perrenoud (2001, p. 18) indica, [...] a formação dos professores ganharia muito se passasse pelo domínio dos sa- beres enraizados nas ciências humanas e sociais, não só na didática das disciplinas, mas também na psicologia da aprendiza- gem, na abordagem psicanalítica da ida- de psicossociológica das relações edu- cativas e dos grupos, na sociologia, na antropologia e na história da educação. Por exemplo, a atividade docente precisa ser caracterizada como: atividade intelectual, que implica res- ponsabilidades individuais; atividade erudita, que não se presta a atividades rotineiras e repetitivas; lugar onde teoria e prática se fundem e interagem; dependente de longa (e constante) for- mação. O professor é um observador, sempre, es- tando dentro ou fora do espaço escolar. Observa a reação dos alunos, a “não reação”, a prática de outros colegas educadores, as crianças da pró- pria família, as crianças da rua. É um pesquisador. Isso reforça a tese de que precisamos de critérios consistentes que nos guiem nos momentos de escolha (tomada de decisão), critérios que devem estar embasados na função social do ensino e no conhecimento de como se aprende. Ao professor é necessário “tempo para refle- tir”, para teorizar a prática e para praticar. De acordo com Zabala (1998, p. 16), “[...] a prática é algo fluido, fugidio, difícil de limitar com coordenadas simples e, além do mais, complexa, já que nela se expressam múltiplos fatores, ideias, valores, hábitos pedagógicos e etc.” AtençãoAtenção O professor é um observador, sempre, estando dentro ou fora do espaço escolar. Observa a rea-ção dos alunos, a “não reação”, a prática de outros colegas educadores, as crianças da própria famí- lia, as crianças da rua. É um pesquisador. Metodologia e Prática Pedagógica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 O que é necessário para ser professor? Alguns aspectos são relevantes para o fazer docente, como nos indica Perrenoud (2001): atividade intelectual, que implica responsabilidades individuais; atividade erudita, que não se presta a atividades rotineiras e repetitivas; lugar onde teoria e prática se fundem e interagem; dependente de longa (e constante) formação. Escolher ser professor implica, necessariamente, escolher dedicar-se a, pelo menos, esses aspectos. 1.4 Resumo do Capítulo Agora que terminamos este capítulo, responda às seguintes questões: 1. Para Paulo Freire (1997), há um desvio na questão da profissionalização quando nos coloca- mos no papel de tia, e não de professora. Faça um comentário acerca dessa afirmação. 2. Existem dois conhecimentos que são importantes na formação do professor. Quais são eles? 1.5 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você lerá acerca do perfil de- sejado para o professor. Vamos lá? Bem, para que alguém se veja como profis- sional, é preciso que seja reconhecido pela socie- dade como tal, inclusive no seu processo de for- mação. No senso comum, existe uma forte ideia de que ensinar é tarefa fácil, que qualquer pessoa dedicada e paciente pode realizar. A complexida- de que tal tarefa envolve – necessidade de conhe- cimentos, capacidades e práticas específicas (o que de fato configura o ensino como um campo profissional) –, em geral, não é levada em conta. A transformação dessa concepção, por parte dos próprios professores, é fator im- portante para a mudança das condições de trabalho e da própria organização institucional O PERFIL DO PROFESSOR2 dos sistemas educativos. Acreditamos que tais mudanças dependem também, e em altíssimo grau, de transformações legais, vontade política e condições econômicas, mas é no modo de pensar e na construção da autoimagem dos professores que a transformação pode iniciar. Caro(a) aluno(a), informa-nos, a esse respei- to, Cardoso (2007, p. 19): Ser profissional pressupõe, além de uma preparação específica para realizar as ta- refas da área de atuação, um processo de desenvolvimento permanente para fazer frente aos desafios constantes que deve enfrentar e para acompanhar os avanços e modificações produzidos no campo do trabalho. 2.1 Ser um Profissional Leitor Para Cardoso (2007), a leitura sistemática de referenciais teóricos possibilita que os professo- res aprofundem e ampliem seus conhecimentos sobre diferentes conteúdos relevantes para sua tarefa, transformando a leitura em uma ferramen- ta para sua formação permanente, uma ferramen- ta que possam utilizar de maneira cada vez mais autônoma. O espaço da escola pode estar organizado para: incorporar ativamente os professores à categoria de leitores profissionais da educação; tornar-se uma comunidade cujos inte- grantes frequentam, comentam, discu- tem, inter-relacionam, confrontam as obras produzidas vinculados à profis- são docente. Aos poucos, mesmo aqueles que ainda não têm o hábito de estudar adquirem a autonomia no uso dessa ferramenta, cuja concretização só se fará possível por meio de um trabalho sistemáti- co e compartilhado, sobretudo no início da vida docente. Caro(a) aluno(a), a esse respeito, Cardoso (2007, p. 175) afirma: “[...] ou quando a dificulda- Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 12 de dos textos assim o exigir, não só a discussão sobre os artigos que são lidos, como também – em alguns casos – a própria leitura tem lugar nas reuniões com os professores.” Como você já deve saber, escrever é fun- damental para nossa profissão, pois ela se ca- racteriza como uma prática que requer previsão, reflexão, trocas com colegas, comunicação e discussão de experiências, estudo constante de aportes teóricos que contribuem para enriquecê- -la e aprofundá-la. Caro(a) aluno(a), segundo Cardoso (2007, p. 205), escreve-se quando se planeja o que será feito, quando se registra o desenvolvi- mento de algumas aulas para torná-las objetivas e analisá-las com certa distân- cia, quando se anotam as respostas dos alunos se elas chamam a atenção por al- gum motivo: porque parecem surpreen- dentes, porque evidenciam que algumas 2.2 Ser um Profissional Escritor crianças progrediram ou mostram que precisam de determinada ajuda, porque demonstram a produtividade da intera- ção entre crianças com relação a um cer- to conteúdo, porque são relevantes para avaliar a situação didática que foi posta em prática. Escreve-se para compartilhar com outros as propostas que se põem em ação na sala de aula, anotam-se as ideias que vão sendo elaboradas enquanto se lê um material bibliográfico, as relações que vão se estabelecendo e que parece signi- ficativo conservar. No entanto, escrever é não é tarefa fácil, e isso pode se transformar em obstáculo para a reflexão sobre o ensino; combinado a outros fa- tores, pode transformar o ensino em uma mera rotina. Você já refletiu acerca da importância do planejamento? Por que devemos planejar? Quais os benefícios que o planejamento apresenta? Iniciamos a abordagem desse tema desta- cando a importância do ato de planejar (planeja- mento), que resulta em um registro de trabalho (plano), registro este que deve ser um mapa que conduz aos objetivos definidos. Tal mapa pode ser atualizado no decorrer do processo, sofrendo as adaptações que a avaliação aponte como ne- cessárias. De acordo com Silva (2002, p. 47), ao entrar numa sala de aula, indepen- dente do nível, o educador deve trazer consigo uma proposta estruturada e con- solidada num plano, dirigida à realização de determinados objetivos. Ao assumir o compromisso de ensinar um grupo de 2.3 Planos e Planejamentos estudantes, o educador deve planejar cri- ticamente o seu esquema de ação – o tra- balho de planejamento, no meu ponto de vista, é tão importante quanto a própria execução prática do programa, pois é na previsão, no delineamento dos conteú- dos e dos horizontes a serem estudados que o educador se desvela, mostrando aos alunos aquilo que ele realmente é e sabe. Nenhum educador trabalha ‘no va- zio’; o educador é um operário da cultura, que trabalha e opera, a partir de referen- ciais ou conteúdos selecionados e previs- tos. Os novos conhecimentos (políticos e técnicos) não se separam do repertório pré-adquirido do professor, mas o recu- peram e o transformam, e isso, dentro da vida agitada que levamos, sempre exigi- rá calma, paciência e muita persistência não-precipitada. Metodologia e Prática Pedagógica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 Agora, você retomará alguns paradigmas da História da Educação... Acompanhando a História da Educação, no que diz respeito à Prática Pedagógica, percebe- mos que existiram posições educativas ao longo dos anos que colocavam o professor como centro de transmissão da informação aos alunos, sen- do que estes deveriam apenas acatar e seguir as orientações do docente. Mais tarde, encontramos o professor como uma figura complementar, se- cundária, que deixa o protagonismo aos alunos, limitando-se a acompanhar a proposta destes. Defendemos, aqui, o lugar do professor como gestor de sua sala de aula; ele é o profis- sional que articula e coordena o processo de en- sino. Seu papel não pode se restringir ao de um espectador de um processo em que só o alunoé valorizado. O que propomos é uma mudança qualitativa desse lugar. Caro(a) aluno(a), conforme diz Nemirovsky (2002, p. 48), [...] estabelecido o espaço fundamental que na vida escolar deve atribuir-se aos alunos e a cada um em particular, pode- ria dizer-se que a tarefa dessa atribuição, bem como o seu fazer, é uma das funções docentes. Definitivamente, o que ocorre em sala de aula está determinado, quase em sua totalidade, pelas decisões do pro- fessor. E o estudo à formação do educador? Finali- za quando a graduação termina? Não... A formação do educador se dá muito além de seu curso de Pedagogia (que é o começo de tudo e, como tal, deve produzir uma base for- te). Acontece na prática, no cotidiano, por meio de ações que parecem pequenas, na sala de aula, na avaliação, na entrada ou saída da escola, no corredor... De acordo com Gadotti (apud SILVA, 2002, p. 9), temos nos equivocado quando não sou- bemos reconhecer que o professor não é o dono da verdade, que ele também comete erros; temos nos equivocado quando caímos no maniqueísmo, con- siderando tudo em bloco, como se não existissem contradições no seio do Esta- do, da sociedade e entre nós mesmos. Em seu livro O professor e o combate à alie- nação imposta, o Professor Ezequiel Theodoro da Silva destaca características de um mau professor. Dentre elas, temos: 2.4 Formação Permanente disserta diariamente sobre a matéria, não admitindo o diálogo; não utiliza a linguagem corporal, não se movimenta pela sala, nem permite que os alunos se movimentem; fala sem parar, sem permitir interrup- ções; mantém-se sério e sisudo, como se com isso ganhasse ar de autoridade; usa vocabulário que os alunos não en- tendem e palavras estrangeiras, para impressionar, mesmo que não tenha muita certeza do que está falando; critica o trabalho de outros professores, para se afirmar perante a classe; despreza as perguntas dos alunos quando não sabe respondê-las ou diz que isso já está previsto para ser tratado em outro momento e nunca mais volta a ele. No mesmo trabalho, podemos encontrar marcas de um bom professor, sendo aquele que: Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 privilegia a transmissão de conteúdos culturais significativos, empenhando- -se para que todos aprendam; faz de seus planos de aula (ensino, cur- so) um exercício de seleção crítica de conteúdos; garante a continuidade de um ensino integrado com outros conteúdos, áreas do conhecimento, professores; mostra que os conteúdos foram produ- zidos por pessoas “de carne e osso”, e não seres de outro planeta. “Se as rela- ções não ficaram claras, o aluno pode- rá pensar, por exemplo, que Pitágoras (o do teorema) ainda está vivo e reside numa pacata rua de Caruaru” (SILVA, 2002, p. 33); atualiza-se sempre, dedica- -se a leituras relacionadas à sua área de conhecimento e também a outras, como a história, política e economia; age intencionalmente para eliminar a repetência e a evasão escolar; prepara os alunos para uma aprendiza- gem significativa. “Sem um repertório com pontos de ancoragem, os novos conhecimentos serão inevitavelmente memorizados e rapidamente esqueci- dos pelo aluno.” (SILVA, 2002, p. 34). AtençãoAtenção “Ser profissional pressupõe, além de uma prepa- ração específica para realizar as tarefas da área de atuação, um processo de desenvolvimento permanente para fazer frente aos desafios cons- tantes que deve enfrentar e para acompanhar os avanços e modificações produzidos no campo do trabalho.” (CARDOSO, 2007, p. 19). Um profissional deseja ser reconhecido pela sociedade. E o professor não seria diferente. É impor- tante que o mestre cuide, então, dos seus fazeres para que ocorra mudança das condições de trabalho e da própria organização institucional dos sistemas educativos. Para tanto, além das transformações legais, vontade política e condições econômicas, é no modo de pensar e na construção da autoimagem dos professores que a transformação pode iniciar. Como já mencionamos no capítulo anterior, o professor deve ser um profissional em formação constante, e a esse trabalho, em geral, são inerentes as condições de leitura e de escrita. 2.5 Resumo do Capítulo 2.6 Atividades Propostas Agora que terminamos este capítulo, responda às seguintes questões: 1. Segundo a Professora Socorro Silva (apud LERNER, 2010 p. 19), “a promoção e a realização do seminário vivenciado pelos educadores é [foi] um momento marcante enquanto valorização e promoção [...] pessoal, visto que promove e eleva a autoestima, bem como cria um estímulo e faz atentar para a necessidade do trabalho em grupo. Os profissionais passam a ‘enxergar-se’, ou ‘ver-se’, ‘olhar-se’ como pessoas capazes e competentes de realizar o seu trabalho com mais segurança [...].” Metodologia e Prática Pedagógica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 Que relações você pode estabelecer com o capítulo 2? 2. Analise a seguinte situação: “A professora Eliane iniciou suas atividades em uma nova escola e observou que a direção não solicita aos professores a comparecer aos encontros de formação, pois: a escola não paga pelos horários de estudo coletivo, os docentes trabalham em mais de uma escola, e a prioridade é dada às tarefas individuais (como corrigir lição de casa) em detrimento das coletivas. Ela está assustada, pois notou que seus alunos de 3º Ano mal con- seguem escrever. E a escola passará no final do ano por uma avaliação em que serão medidas as competências dos alunos.” O que podemos sugerir diante da situação encontrada? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 Caro(a) aluno(a), neste capítulo, você lerá algumas questões relativas ao processo de apren- dizagem. Vamos lá? Existem algumas questões que são relevan- tes para o professor; dentre elas, gostaríamos de destacar algumas. Como ensinar? Quem tem a última palavra acerca do tema? O que é antigo? O que é tradicio- nal? O que é inovador? Estamos tratando de um assunto tão abrangente e complexo que a discus- são e o debate podem nos levar a posturas coinci- dentes ou, muitas vezes, discordantes. Precisamos partir da concepção de ensino que se tem para, posteriormente, passar à discus- são acerca do processo de aprendizagem. Houve um tempo em que a educação estava centrada na quantidade de informações que se conseguia guardar e devolver, assim como se havia recebi- do. Em um movimento de oposição, passamos a afastar práticas que eram vistas como tradicio- nais, assim como copiar, decorar, organizar aulas expositivas, entre outras. É necessário voltarmos à raiz de algumas atividades para analisarmos suas verdadeiras in- tenções, pois o tradicional não é sinônimo de ultrapassado. E o “moderno” nem sempre está traduzido em práticas pedagógicas inovadoras. Copiar pode ter sentido quando se intenta regis- O PROCESSO DE APRENDIZAGEM3 trar algo, da mesma forma que “de cor, decorar” (saber de coração) pode estar ligado à ideia de conhecer, internalizar... Como organizar uma proposta de trabalho que se apresente como desafio e que faça com que todos avancem? Um trabalho de qualidade está ligado a descobrir algo novo (quem investiria horas de estudo em um assunto para o qual não tem interesse ou do qual já sabe o resultado fi- nal?); portanto, ensinar previamente as respostas é matar o pensamento antes que ele tenha tempo de se desenvolver. As respostas nos dão um chão duro, de cimento; as perguntas levam-nos por caminhos de aventura. Para formular perguntas, há uma relação entre os conhecimentos prévios e aquilo que ainda queremos descobrir. É importante que você, caro(a) aluno(a), compreenda quea busca pelo novo tem uma orientação. É a partir do que já sabe (conheci- mentos prévios – válidos ou não, que podem ser complementados ou substituídos no decorrer do processo de aprendizagem) que o aluno pode fazer uma primeira leitura do novo conteúdo, atribuindo-lhe um primeiro nível de significado e sentido e iniciar o seu processo de aprendizagem. Caro(a) aluno(a), informa-nos, a esse respei- to, Coll (1990, p. 61): Saiba maisSaiba mais Educação bancária.... Segundo Paulo Freire, a educação que é centrada na quantidade de informações que se consegue guardar e devolver assim como se havia recebido é chamada de Educação Bancária. Saiba maisSaiba mais Vocábulos e mais vocábulos... “Explanar” vem de “tornar plano”, assim como “expli- car” vem de “retirar as pregas (dobras, vincos)”. Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 18 [...] quando o aluno enfrenta um novo conteúdo a ser aprendido, sempre o faz armado com uma série de conceitos, concepções, representações e conheci- mentos adquiridos no decorrer de suas experiências anteriores, que utiliza como instrumentos de leitura e interpretação e que determinam em boa parte as infor- mações que selecionará, como as organi- zará e que tipo de relações estabelecerá entre elas. Vivemos na Sociedade da Informação, mar- cada pela velocidade de acontecimentos e por sua transmissão simultânea pelo globo; essa é a era dos novos paradigmas, os tempos são de aprender e esquecer (uma vez que não conse- guimos guardar tantas informações e que as ver- dades não são absolutas). A escola não é neutra, mas marcada pelas características da sociedade na qual está inserida; assim, essas mudanças nas formas de aprender e de ensinar refletem no fazer docente. Para Hargreaves (2004), as escolas podem moldar um mundo de grandes oportunidades, de melhorias econômicas, se as pessoas pude- rem aprender a trabalhar de forma mais flexível, investir em sua segurança financeira, reciclar suas habilidades, reencontrar seu lugar enquanto a economia se transforma e o trabalho criativo e colaborativo é valorizado. O espaço da escola, que é o espaço do co- nhecimento, cada vez mais traz um movimento que engloba a informação, a comunicação e a educação. Para muitos indivíduos, hoje, os luga- res da Educação já são a escola, a própria casa e o mundo. Aqueles que acreditam em uma escola significativa e que atenda ao aluno do século XXI buscam fazer dela um lugar de conexões. É importante pensar, caro(a) aluno(a), que é a escola é um espaço de conhecimento para to- dos que lá estão. Não é apenas um local de apren- dizagem dos alunos, e sim de todos aqueles que compartilham o espaço. O professor pode, então, atuar como pro- positor de desafios, que indica caminhos, dispo- nibiliza-os, mas permite que o aluno se relacione com a informação, interferindo, modificando, produzindo e compartilhando mensagens, impri- mindo nela suas considerações. O docente que se faz necessário não é mais o especialista em áre- as específicas do conhecimento, mas aquele que está apto a lidar com as incertezas, pesquisador e parceiro na construção do conhecimento, com habilidades para estabelecer uma formação fun- dada na reflexão sobre a ação. AtençãoAtenção Precisamos partir da concepção de ensino que se tem para, posteriormente, passar à discussão acerca do processo de aprendizagem. 3.1 Resumo do Capítulo Olhar para o processo de aprendizagem requer refletir acerca de alguns parâmetros que embasam a prática do professor. São eles: a concepção de ensino; a concepção de aprendizagem; os conteúdos; os objetivos; os procedimentos; a avaliação. Metodologia e Prática Pedagógica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 Deve-se sempre lembrar que vivemos na Sociedade da Informação, marcada pela velocidade de acontecimentos e por sua transmissão simultânea pelo globo; essa é a era dos novos paradigmas, os tempos são de aprender e esquecer (uma vez que não conseguimos guardar tantas informações e que as verdades não são absolutas). A escola não é neutra, mas marcada pelas características da sociedade na qual está inserida; assim, essas mudanças nas formas de aprender e de ensinar refletem no fazer docente. Agora que terminamos este capítulo, responda às seguintes questões: 1. Segundo Zabala (2010), o termo ‘competência’ surge como superação à visão simplista da educação e, nesse caso, entre um ensino fundamentado somente na memorização e outro baseado na ação pela ação. Devemos memorizar ou não conteúdos? Justifique. 2. Comente o excerto a seguir, levando em consideração que ele se refere ao professor. “Ele não livra o aluno de se jogar na água, de se lançar em uma aventura inédita para ele, mas lhe dá alguns conselhos para não se afogar, indica-lhe alguns apoios para avançar e prevê uma corda no caso de um passo em falso.” (MEIRIEU, 2006, p. 20). 3.2 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 FORMAS DE GERENCIAMENTO4 [...] é preciso tornar os alunos pessoas capazes de enfrentar situações e contextos variáveis, que exijam deles a aprendizagem de novos conhecimentos e habilidades. Por isso, os alunos que hoje aprenderem a aprender estarão, previsivelmente, em melhores condições de adaptar-se às mudanças culturais, tecnológicas e profissionais que nos aguardam. Juan Ignacio Pozo Caro(a) aluno(a), trataremos, a seguir, das formas de organização da escola em diferentes níveis: A LDB (Lei Federal nº 9.394/96) traz os prin- cípios da Educação Nacional, dentre os quais des- tacamos: acesso e permanência; liberdade de aprender e de ensinar; pluralismo de ideias e concepções pe- dagógicas; respeito à liberdade e à tolerância; valorização do profissional da educa- ção escolar; garantia de padrão de qualidade; valorização da experiência extraescolar; 4.1 Organização Nacional vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas escolares. Em relação à organização, a Lei Federal defi- ne: “[...] poderá organizar-se em séries anuais, pe- ríodos semestrais, ciclos [...], ou por forma diversa de organização.” Portanto, esperamos que você perceba, as- sim, que a Lei Nacional permite uma série de con- figurações do ensino, tornando-o mais adequado às condições de cada lugar, havendo espaço para a diversidade, em busca de um “padrão de quali- dade”. 4.2 Organização da Sala de Aula Acabamos de ver que há parâmetros para organização da educação no nível amplo, da União. No entanto, a organização da sala de aula em filas, duplas, pequenos grupos, grandes gru- pos (círculos ou outras formas de organização), está ligada diretamente à concepção de educa- ção que se tem. Portanto, em uma sala de aula organizada em fileiras, o foco é sempre o professor; não são facilitadas as interações entre os alunos. Percebe- mos, ainda, em alguns lugares, que existem tabla- dos para que o professor fique em um nível mais alto do que os alunos. Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 22 Caro(a) aluno(a), de acordo com Kenski (2007, p. 108), há algum tempo, não sei se ainda é assim, pensava-se que cada aluno deveria ocupar algo em torno de um metro quadrado na sala de aula. Uma sala para 50 alunos deveria ter 60 metros de área, dez metros para o professor. Sem dizer mais nada, a arquitetura das salas de aula e a disposição dos móveis (mesas, cadeiras, armários e lousas) de- finem o tipo de proposta teórico-meto- dológica vigente. O espaço destinado a professores e alunos também declara de quem é a primazia da ação. Os espaços físicos concretos de nossas escolas estão comprometidos com um tipode educa- ção que privilegia a atuação do professor, o seu movimento e a centralização do processo no ato de ‘ensinar’, de transmitir, de informar. O protagonista dessa novela é o professor. Os alunos exercem papéis secundários; em muitos casos são segui- dores, coadjuvantes, participantes sem direito a voz, sem falas ligadas aos enre- dos das aulas. Essa organização do espaço reflete clara- mente a orientação do trabalho. No caso de or- ganização em U ou semicírculos, todos se veem, o tom de voz (de professores e alunos) não precisa ser muito alto; como a comunicação fica facilita- da, aparece como aliada, e não obstáculo. Você gosta de música? Já pensou acerca da utilização da música na escola? A música ambiente (de boa qualidade e cui- dadosamente escolhida) também é uma estraté- gia que pode ser usada nas aulas e que contribui para: uma educação que passa por diferentes canais de recepção dos alunos; ligar a aprendizagem à sensação de prazer, bem-estar; trabalhar com ritmo, concentração. Para que tenha uma função social clara, a escola proposta deve ter tempos e espaços pen- sados para as diferentes faixas etárias a que se propõe atender e para o lúdico, em que as falas são ouvidas, respeitadas (não no sentido restrito de simplesmente acatadas, mas em que vivências democráticas são possíveis: argumentar, defen- der seus interesses, chegar a consensos). Sempre é bom lembrar que as práticas, caro(a) aluno(a), estão ancoradas em teorias. Des- sa forma, para desenvolver uma prática pedagó- gica consciente, coerente, é preciso que se tenha clareza acerca da concepção do processo de aqui- sição de conhecimento, que historicamente foi se transformando, modificando seu foco (pelo pró- prio conhecimento, pelo professor, pelo aluno, pela família...). Seguindo a concepção construtivista e so- ciointeracionista (Piaget, Vygostky e Wallon), sa- bemos que o conhecimento não é inato e nem simplesmente transmitido, mas passa por pro- cessos de interação do sujeito com o objeto de 4.3 Organização da Prática estudo, e é nisso que está a responsabilidade do professor/educador: a qualidade das mediações e intervenções que oferece, possibilita, facilita. Nessa perspectiva, o currículo deve ser pen- sado para que o aluno tenha uma melhor com- preensão de si próprio, do outro, do mundo que o cerca (natural e social), da arte, da cultura, da tecnologia, dos sistemas de produção… tudo isso para que torne um sujeito ativo na construção de uma sociedade mais democrática. É importante destacar, caro(a) aluno(a), que o planejamento se constitui em uma ação que visa a organizar o trabalho de forma encadeada, significativa, superando a fragmentação que co- Metodologia e Prática Pedagógica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 mumente percebemos na escola mais tradicional, na qual cada disciplina é apresentada como uma caixinha específica, não interagindo com as de- mais. Segundo Xavier e Dalla Zen (1997), [...] diferentes maneiras de planejar o en- sino têm sido preconizadas ao longo da história da escola, desde a listagem de conteúdos a serem vencidos pelos alu- nos, por etapas, da chamada Educação Tradicional, passando pelas propostas de organização destes conteúdos em torno de um assunto – como Centros de Inte- resse e Unidades de Trabalho da Escola Nova – até as proposições contemporâ- neas que envolvem as questões de inter- disciplinaridade, caminhando por Temas Geradores, Eixos Temáticos, etc. Talvez por uma negação à chamada “peda- gogia dos eventos” ou mesmo em uma tentativa de romper com o que parecesse tradicional, os Temas Cíclicos (datas comemorativas), como Car- naval, Dia das Mães, Dia dos Pais e até mesmo a Independência do Brasil, perderam espaço nos Planos de Ensino (por algum tempo tudo que pa- recesse ligado à “educação cívica” carregava con- sigo o ranço do período de ditadura militar). Não se trata aqui de defender seu trabalho indiscriminadamente, mas de ressignificá-los. Al- gumas comemorações são partes da memória lo- cal da comunidade na qual a escola está inserida, e sua valorização passa também por dar maior legitimidade ao que é feito na escola e pela apro- ximação da comunidade. Aquilo que normalmen- te é tratado na escola como folclore (em geral, abstrato e longe da realidade) pode estar muito mais perto do que pensamos se resgatarmos o conhecimento que as famílias que compõem a comunidade escolar podem trazer, enriquecendo o dia a dia escolar e todos os envolvidos em seus projetos. Em uma Pedagogia de Projetos temos algu- mas características básicas: o aluno é agente ativo na construção de seu conhecimento e nunca está sozi- nho; as interações são seu apoio para a realização de experimentos, confronto de ideias, conflitos, consensos; o que é decidido precisa ser desenvolvi- do com responsabilidade, pois envolve todo o grupo, inclui compromisso, ava- liação e replanejamento, se necessário; o trabalho é cooperativo (e isso não é sinônimo de tranquilidade), pois as fun- ções são divididas entre seus membros e todos são responsáveis por fracassos e sucessos, havendo, portanto, espaços para conflitos e solidariedade; o conhecimento passa de todos para todos, tirando da figura do professor o único caminho para chegar à informa- ção. Isso, porém, não diminui a impor- tância de termos professores bem pre- parados, pesquisadores, prontos para as intervenções que sejam necessárias. Caro(a) aluno(a), segundo Zabala (1998, p. 28), nós, os professores, podemos desenvol- ver a atividade profissional sem nos colo- car o sentido profundo das experiências que propomos e podemos nos deixar levar pela inércia ou pela tradição. Ou po- demos tentar compreender a influência que estas experiências têm e intervir para que sejam o mais benéficas possível para AtençãoAtenção Para desenvolver uma prática pedagógica cons- ciente, coerente, é preciso que se tenha clareza acerca da concepção do processo de aquisição de conhecimento, que historicamente foi se transformando, modificando seu foco (pelo pró- prio conhecimento, pelo professor, pelo aluno, pela família...). Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 o desenvolvimento e o amadurecimento dos meninos e meninas. Mas, de qualquer forma, ter um conhecimento rigoroso de nossa tarefa implica saber identificar os fatores que incidem no crescimento dos alunos. O segundo passo consistirá em aceitar ou não o papel que podemos ter neste crescimento e avaliar se nossa intervenção é coerente com a ideia que temos da função da escola e, portanto, de nossa função social como educadores. [...] É preciso insistir que tudo quanto fazemos em aula, por menor que seja, incide em maior ou menor grau na formação de nossos alunos. A maneira de organizar a aula, o tipo de incentivos, as expectativas que depositamos, os materiais que utilizamos, cada uma destas decisões veicula determinadas experiências educativas, e é possível que nem estejam em consonância com o pensamento que temos a respeito do sentido e do papel que hoje em dia tem a educação. A seguir, queremos apresentar propostas reais de trabalho que pretendem servir como base para a criação de tantas outras e que possam fazer da nossa prática uma boa prática pedagógi- ca (no sentido da qualidade). O Governo Federal propõe os princípios da Educação Nacional para o Brasil: acesso e permanência; liberdade de aprender e de ensinar; pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; respeito à liberdade e à tolerância; valorização do profissional da educação escolar; garantia de padrão de qualidade; valorização da experiência extraescolar; vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas escolares. Como se pode observar, a Lei Nacional permite uma série de configurações do ensino, tornando-o mais adequado às condições de cada lugar, havendo espaço para a diversidade, em busca de um “padrão de qualidade”. 4.4 Resumo do Capítulo 4.5 Atividades Propostas Agora que terminamos este capítulo, responda às seguintes questões: 1. Imagine a cena: “Uma sala de aula com carteiras enfileiradas. Os alunos com maiores dificulda- des sentados longe da professora. Os mais desarrumados sentados no fundo da sala.” O que essa imagem pode nos revelar? 2. Por que devemos planejar o processo ensino-aprendizagem? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 Caro(a) aluno(a), você já observou as pesso- as que estão ao seu redor? É claro que sim. Todos nós observamos as pessoas que nos rodeiam. É bem verdade que algumas pessoas são mais detalhistas que outras e acabam notando mais minúcias. Temos certeza de que você observa a diver- sidade cultural que o circunda. Assim como não podemos entender o de- senvolvimento humano sem cultura, dificilmen- te poderemos entender as práticas pedagógicas sem considerar sua diversidade. O acesso à cultu- ra e a possibilidade de a interpretarmos de forma pessoal implica considerar as práticas escolares, também produzidas em uma cultura. Mediante essas práticas, objetiva-se assegurar uma inter- venção planejada e sistemática, cuja finalidade é a de promover determinados aspectos do desenvolvimento dos alunos. Por meio da escola, da família, dos meios de comunicação, entramos em contato com uma cultura e contribuímos para a sua conservação. Assim, havemos de nos preocupar com uma es- cola que não seja estática e nem alienante, sendo esta uma preocupação entre pensadores de di- versas disciplinas e de outras instituições sociais. O caráter social e socializador da escola é, justamente, uma das razões da sua existência. No que se refere ao aluno, já estão longe as expli- cações que o inseriam em um plano reativo (até passivo), diante do que lhe é oferecido como ob- jeto/conteúdo de aprendizagem. A APRENDIZAGEM ESCOLAR E A DIVERSIDADE5 Segundo Solé e Coll (2002, p. 18), “a educa- ção escolar promove o desenvolvimento na me- dida em que promove a atividade mental cons- trutiva do aluno, responsável por transformá-lo em uma pessoa única, irrepetível, no contexto de um grupo social determinado.” Por que a escola é importante para os seres humanos? Ainda segundo os autores, a concepção construtivista da aprendizagem e do ensino parte do fato óbvio de que a escola torna acessíveis a seus alunos aspectos da cultura que são funda- mentais para seu desenvolvimento pessoal, não só no âmbito cognitivo; a educação é motor para o desenvolvimento, considerado globalmente, e isso também supõe incluir as capacidades de equilíbrio pessoal, de inserção social, de relação interpessoal e motoras. Considerando o caráter ativo da aprendiza- gem, compreendemos que esta é fruto de uma construção pessoal, na qual o sujeito aprende e os outros são elementos imprescindíveis para essa construção, para o desenvolvimento. Caro(a) aluno(a), conforme Solé e Coll (2002, p. 19), a aprendizagem contribui para o desen- volvimento na medida em que aprender não é copiar ou reproduzir a realidade. Para a concepção construtivista, apren- demos quando somos capazes de ela- borar uma representação pessoal sobre um objeto da realidade ou conteúdo que pretendemos aprender. Essa elaboração pressupõe a aproximação do objeto ou conteúdo com a finalidade de apre- DicionárioDicionário Circundar: rodear; cercar. Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 endê-lo, não se tratando de uma aproximação vazia e a partir do nada – pelo contrário, partindo de experiências, interesses e conhecimentos pré- vios que possam dar conta do novo. No proces- so de aprender-conhecer, não só modificamos as ideias e os conhecimentos que já tínhamos, como interpretamos o novo de forma peculiar para po- der integrá-lo e torná-lo nosso. Quando esse pro- cesso ocorre, dizemos que estamos aprendendo significativamente, construindo um significado próprio e pessoal para um objeto de conheci- mento que existe. Segundo Solé e Coll (2002), fica claro que aprender não é um processo que conduz ao acú- mulo de novos conhecimentos, mas à integração, AtençãoAtenção Segundo Solé e Coll (2002, p. 18), “a educação escolar promove o desenvolvimento na medida em que promove a atividade mental construtiva do aluno, responsável por transformá-lo em uma pessoa única, irrepetível, no contexto de um gru- po social determinado.” à modificação, ao estabelecimento de relações e à coordenação entre esquemas de conhecimento que já tínhamos, dotados de certa estrutura e or- ganização que varia a cada aprendizagem que realizamos. 5.1 Construir na Escola Bem, agora, você vai olhar um pouco mais para o âmbito escolar, no qual a intensa ativida- de mental, que caracteriza a aprendizagem, ad- quire algumas características peculiares. Embora as crianças aprendam na escola coisas que não estavam previstas, não se pode negar que aí es- tão para aprender algumas outras, previamente planejadas, e que são bastante identificáveis e desejáveis. Observe, aqui, que retomamos a questão da importância do planejamento. É importante lembrar que os conteúdos aparecem no referencial da concepção constru- tivista como um elemento crucial para entender, articular, analisar e inovar a prática docente. Entretanto, convém destacar que esses con- teúdos, sejam eles quais forem, já estão elabora- dos e fazem parte da cultura e do conhecimento, o que faz com que a construção dos alunos seja uma construção própria. Embora se possa resol- ver situações-problema de diversas maneiras (e interessantes), embora a ortografia possa ser utili- zada de maneira criativa e pouco convencional, é óbvio que a construção pessoal deve ser orienta- da no sentido de aproximar-se do culturalmente estabelecido. Segundo Solé e Coll (2002), a concepção construtivista assume todo um conjunto de pos- tulados em torno da consideração do ensino como um processo conjunto, compartilhado, no qual o aluno, com a ajuda que recebe do profes- sor, pode mostrar-se progressivamente compe- tente e autônomo na resolução de tarefas, na uti- lização de conceitos, na prática de determinadas atitudes e em numerosas questões. É o aluno que realiza a construção, que aprende. No entanto, é o professor que possibili- ta a aprendizagem pelo aluno, por meio de uma prática intencional, planejada e competente, fa- zendo os devidos ajustes às necessidades do alu- no, partindo de suas possibilidades, favorecendo Saiba maisSaiba mais Resolução de situações-problema... O que fa- zer? As crianças podem resolver situações-problema apoiadas em desenhos e representações simbólicas (bolinhas, pauzinhos), mas sempre estamos enca- minhando as notações para formas mais conven- cionais, organizadas e econômicas. Metodologia e Prática Pedagógica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 sua progressão e o desenvolvimento de sua capacidade e suas habilidades. A criança, o jovem ou o adulto vão cons- truindo aprendizagens mais significativas ou menos significativas, não só porque têm deter- minados conhecimentos, tampouco porque os conteúdos sejam estes ou aqueles, e constroem- -nas com o apoio que recebem do professor, tan- to para usar sua bagagem pessoal quanto para ir progredindo em sua apropriação. O apoio dos educadores em um ambiente em que prevaleça a autonomia possibilita a construção de conheci- mentos e significados por parte dos alunos.Há que se considerar, também, os aspectos de motivação e afetivos que se criam e entram em jogo a propósito das interações estabelecidas em torno dos conteúdos a serem apreendidos. A importância desses aspectos não pressupõe depositá-los exclusivamente no aluno; pelo con- trário, requer uma reflexão sobre o que faz com que emirjam em sentido mais ou menos positivo, reflexão que não pode deixar à margem o impac- to das expectativas dos alunos em relação ao que vai se suceder no processo de ensino e em relação aos resultados a serem obtidos. Assume-se, portanto, que na escola os alu- nos aprendem e se desenvolvem à medida que podem construir significados adequados em tor- no de conteúdos que configuram o currículo es- colar. Essa construção inclui a contribuição ativa e global do aluno, sua disponibilidade e conhe- cimentos prévios no âmbito de uma situação interativa, na qual o professor é o responsável por gerir os processos de aprendizagem em sua abrangência. 5.2 Resumo do Capítulo Quando voltamos o nosso olhar, a nossa atenção, para a escola, devemos entender o desenvolvi- mento humano dentro de uma determinada cultura, pois dificilmente poderemos entender as práticas pedagógicas sem considerar sua diversidade. O acesso à cultura e a possibilidade de a interpretarmos de forma pessoal implica considerar as práticas escolares também produzidas em uma cultura. Mediante essas práticas, objetiva-se assegurar uma intervenção planejada e sistemática, cuja finalidade é a de pro- mover determinados aspectos do desenvolvimento dos alunos. A proposta apresentada neste capítulo é a de que a aprendizagem seja um processo que não obje- tive o acúmulo de novos conhecimentos, mas a integração, a modificação, o estabelecimento de relações e a coordenação entre esquemas de conhecimento que já tínhamos, dotados de certa estrutura e orga- nização que varia a cada aprendizagem que realizamos. A concepção que pode propiciar essa organização é a construtivista, pois nela é o aluno que realiza a construção, que aprende. Porém, é o professor que possibilita a aprendizagem pelo aluno, por meio de uma prática intencional, planejada e competente, fazendo os devidos ajustes às necessidades do aluno, partindo de suas possibilidades, favorecendo sua progressão e o desenvolvimento de sua capacidade e suas habilidades. Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 Agora que terminamos este capítulo, responda às seguintes questões: Leia o excerto abaixo e faça uma análise de acordo com Solé e Coll (2002). 1. “No século passado [...] aprender conhecimentos implicava a memorização e a reprodução mais ou menos literal de textos, definições e enunciados com uma visão acumulativa e enci- clopédica do saber.” (ZABALA, 2010, p. 47). 2. Existem práticas que nos induzem a pensar que o que existe para saber já está estabelecido, como algo fechado, pronto e não modificável. Existem práticas que levam a criança a ficar fora do conhecimento, como espectador passivo ou receptor mecânico, sem nunca encontrar respostas aos “para quês” e aos “porquês” que já nem sequer se atreve a formular em voz alta. Como são orientadas as práticas construtivistas? 5.3 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 29 OS PROFESSORES, A ESCOLA E O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM6 Caro(a) aluno(a), para que servem as teo- rias? Teorias ou referenciais explicativos são úteis para a tomada de decisões que caracteriza o en- sino. De forma sintética, poderíamos elencar as questões recorrentes aos professores e que se co- locam para o exercício da sua prática educativa: a) O que significa aprender? b) O que ocorre quando um aluno apren- de (e quando não aprende)? c) Como se pode ajudá-lo? Você já pensou nessas questões? Por que são importantes para o profissional da educação? Bem, a melhor compreensão do processo ensino-aprendizagem e dos demais aportes teó- ricos que venham subsidiar a prática pedagógica oferecem ao professor referencial para analisar e fundamentar muitas das decisões que toma no planejamento e no decorrer do ensino acerca de critérios para seleção de conteúdos e metodolo- gia, para análise e seleção de materiais didáticos, elaboração de instrumentos de avaliação coeren- tes, elaboração de atividades, unidades didáticas etc. Paralelamente, proporciona critérios para compreender o que acontece na aula: Por que um aluno não aprende? Por que essa unidade cuida- dosamente planejada não funcionou? Por que, às vezes, o professor não tem indicadores que lhe permitam ajudar seus alunos? Permite, ainda, a reflexão e a tomada de decisões compartilhadas, que pressupõe trabalho em equipe de uma esco- la, das grandes decisões que afetam o ensino e que estão sistematizadas em projetos educativos. De acordo com Gadotti (apud SILVA, 2002, p. 10), é correto e lúcido, neste momento, acei- tarmos que não temos respostas. Entre- tanto, isso nos deve lançar em busca de uma direção possível. O presente é pro- blemático como o futuro. Mas é porque o futuro é problemático que ele é aber- to. Não existe uma solução unívoca, ab- soluta. O que podemos fazer é apontar futuros possíveis, inseridos na nossa luta presente. Ao desânimo podemos opor a esperança, utopias concretas, não como uma expectativa passiva de crença num salvador ou numa teoria miraculosa da educação, mas como um fator dinâmico de ação, uma fonte permanente de práxis transformadora. Precisamos, sem dúvida, de teorias, mas não é por carência de teo- rias que a educação vai mal. O que preci- samos é de teorias que nos apontem um futuro melhor e como transitar para ele. DicionárioDicionário Sintética: dotado de capacidade natural para a sín- tese. Síntese: resumo. Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 30 [...] pode-se dizer que uma aprendizagem se realiza quando um indivíduo toma informação em seu meio em função de um projeto pessoal. Philippe Meirieu 6.1 O Que Aprendemos Quando Aprendemos Bem, quando nos colocam uma situação que se constitui realmente em um problema de- safiador (e não exercício de aplicação do já co- nhecido ou repetição de conceitos), mobilizamos todos os nossos conhecimentos para chegar a uma solução. Essa mobilização permite que fa- çamos novas conexões entre aquilo que já sabía- mos (conscientemente) e o que foi exigido nesse trabalho, resultando em ampliação dos nossos saberes. Quando aprendemos, nos envolvemos glo- balmente na aprendizagem, e o processo e seu resultado também repercutem em nós de ma- neira global. Na aprendizagem, interferem os as- pectos afetivo-relacionais e tudo o que se refere a capacidades de equilíbrio pessoal. Por isso, aprender é algo mais que a possibi- lidade de construir significados sobre conteúdos concretos. Caro(a) aluno(a), informa-nos a esse respei- to Solé e Coll (2002, p. 31): “Quando falamos de atribuir significado, falamos de um processo que nos mobiliza em nível cognitivo, e que nos leva a revisar e a recrutar nossos esquemas de conheci- mento para dar conta de uma nova situação, tare- fa ou conteúdo de aprendizagem.” Essa mobilização não acaba nisso, mas, em função do contraste entre o dado e o novo, os esquemas utilizados podem sofrer modificações, de leves a drásticas, com o estabelecimento de novos esquemas, conexões e relações em nossa estrutura de pensamento. Segundo os autores, esse processo foi ca- racterizado como animado por um interesse, uma motivação, em que se quebra o equilíbrio inicial, provocando um desequilíbrio que obriga o indi- víduo a empreender determinadas ações para conseguir um novo estado de equilíbrio (reequilí- brio). Se, após o processo, tudo sair bem, o indiví- duo terá aprendido. Se não sair tãobem, não terá aprendido aquilo que se pretendia que apren- desse, embora possa ter aprendido outras coisas. Aprendemos coisas mesmo quando alguns con- ceitos estão equivocados, construímos saberes provisórios, que mais tarde serão substituídos por outros mais acertados. O processo de aprender pressupõe mobili- zação cognitiva desencadeada por interesse, por necessidade de saber. O que torna possível esse interesse? Seria o desequilíbrio provocado pelo novo diante dos conhecimentos prévios? Ou não? Diante da situação de desequilíbrio, algu- mas pessoas dedicam-se a fundo até chegar a se reequilibrar novamente, e outras (ou as mesmas pessoas em oportunidades diferentes) simples- mente abandonam a tarefa, não conquistando seu objetivo (que é aprender). Podemos observar nossos alunos (adultos ou crianças) em situações de jogos. Alguns se concentram e se entregam aos desafios até che- garem ao final, outros se mostram irritados e de- sistem ao mínimo sinal de dificuldade. Uma das condições que se considera indis- pensável para a realização de aprendizagens sig- nificativas é que o aluno manifeste uma disposi- ção para a aprendizagem, isto é, disposição para aprofundar no tratamento da informação que se pretende aprender, para estabelecer relações en- tre ela e o que já se sabe. Uma relação complexa acontece quando os alunos passam de um professor a outro e de DicionárioDicionário Cognitiva: relativo ao conhecimento. Metodologia e Prática Pedagógica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 31 uma matéria a outra sem solução de continuida- de, situando-se a cada espaço de tempo no âm- bito de um conhecimento com pouca ou nenhu- ma relação aparente com o anterior ou posterior, ocupando ainda boa parte dos seus esforços para conhecer e adaptar-se às diferentes e novas exi- gências, aos estilos e às manias dos professores. Para Solé e Coll (2002), nas condições ante- riores e em outras semelhantes, a ansiedade (ou o desequilíbrio), que em certo grau sempre está presente na aprendizagem, pode vir a tornar-se intensa, provocando medo do fracasso e, conse- quentemente, a adoção de enfoques de apren- dizagens que o evitem (sobretudo enfoques su- perficiais), orientados a preencher os requisitos mais formais da tarefa. Por vezes, essa ansiedade excessiva pode levar a negar a necessidade de aprender, o que se manifesta por meio de condu- tas ou falas estereotipadas: “já sei isto”, “é a mesma coisa de sempre”, constituindo-se em fatores im- peditivos de avanços. As perguntas feitas pelos professores acerca dos conteúdos em estudo, muitas vezes, são de caráter fechado e convidam os alunos a reprodu- zir dados, conceitos ou noções que foram trata- dos anteriormente. Caro(a) aluno(a), de acordo como Solé e Coll (2002, p. 37), o fomento do enfoque superficial ocorre, então, por uma via dupla: pedir aspectos concretos tal como são encontrados nos livros (mais do que uma interpretação pessoal deles, que estaria mais de acordo com um enfoque profundo) e desenca- dear a ansiedade do aluno, que se mos- trará preocupado com a forma de recor- dar a informação que deve permitir-lhe cumprir os requisitos da tarefa. Compre- ende-se facilmente que tudo isso se agra- va quando, além do mais, as provas são frequentes, pois instala-se então a prática de ‘estudar para a prova’. Que os alunos aprendam significativamen- te não é uma questão aleatória, mas o produto de diversas variáveis, algumas das quais têm a ver com o que lhes propomos fazer e com os meios que utilizamos para avaliá-los. Levar em conta que a elaboração do conhecimento requer tem- po, esforço e envolvimento pessoal, bem como ajuda especializada, incentivo e apoio, pode con- tribuir para modificar, em certo grau, o proces- so de modo a ajustá-lo àquilo que esperamos: que os alunos aprendam e fiquem satisfeitos em aprender; que os professores comprovem que seus esforços são úteis e sintam-se gratificados. Aprender qualquer um dos conteúdos es- colares pressupõe atribuir um sentido e construir os significados implicados em tal conteúdo. É importante relembrar que essa construção não acontece a partir do zero, nem mesmo nos mo- mentos iniciais da escolaridade. O aluno constrói um significado (ou o re- constrói do ponto de vista social) com base nos significados que pode construir previamente. Com essa base é possível continuar aprendendo, continuar construindo novos significados. AtençãoAtenção Que os alunos aprendam significativamente não é uma questão aleatória, mas o produto de diver- sas variáveis, algumas das quais têm a ver com o que lhes propomos fazer e com os meios que utilizamos para avaliá-los. 6.2 Resumo do Capítulo Neste capítulo, você pôde retomar a questão da aprendizagem significativa, na qual o aluno que realiza a construção, que aprende. Porém, é o professor que possibilita a aprendizagem pelo aluno, por meio de uma prática intencional, planejada e competente, fazendo os devidos ajustes às necessidades do aluno, partindo de suas possibilidades, favorecendo sua progressão e o desenvolvimento de sua ca- pacidade e suas habilidades. Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 32 Uma das melhores formas de se aprender é quando nos colocam uma situação que se constitui realmente em um problema desafiador (e não exercício de aplicação do já conhecido ou repetição de conceitos); mobilizamos todos os nossos conhecimentos para chegar a uma solução. Agora que terminamos este capítulo, responda às seguintes questões: 1. Como ensinar quem tem necessidades educacionais especiais? 2. Por que trabalhar com situação-problema? 6.3 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 33 Caro(a) aluno(a), Será que uma criança que vai à escola pela primeira vez sabe alguma coisa? Você acredita que ela já traz conteúdos para a escola? É muito importante partir do que o aluno já sabe (diagnóstico) e organizar-se em função do que ele ainda deve aprender em relação a de- terminado conteúdo (expectativas de aprendiza- gem). Em linhas gerais, e apesar de serem aspec- tos que sem dúvida estão inter-relacionados, a concepção construtivista assinala três elementos básicos que determinam aquilo que se denomina estado inicial dos alunos (MIRAS, 2002), como que uma radiografia, no momento de iniciar qualquer processo de aprendizagem. Os alunos, em primeiro lugar, apresentam determinada disposição para realizar a aprendi- zagem proposta. Essa disposição ou enfoque com o qual abordam a situação de aprendizagem de novos conteúdos geralmente não é algo inexpli- cável ou imprevisível, mas surge como resultado da confluência de numerosos fatores de índole pessoal e interpessoal. Caro(a) aluno(a), informa-nos a esse respei- to Miras (2002, p. 59): O grau de equilíbrio pessoal do aluno, sua autoimagem e autoestima, suas expe- riências anteriores de aprendizagem, sua capacidade de assumir riscos e esforços, de pedir, dar e receber ajuda, são alguns aspectos de tipo pessoal que empenham um papel importante na disposição do aluno diante da aprendizagem. O QUE SABEM OS ALUNOS7 Estes, no entanto, não são os únicos fatores que incidem ou podem incidir na disposição dos alunos para aprender. Outros elementos, como a representação inicial dos alunos sobre as caracte- rísticas da tarefa que deverão realizar (conteúdo, atividades, material, avaliação etc.), seu interesse por ela ou, em outra ordem de coisas, a represen- tação e as expectativas que têm em relação ao professor e aos seus próprios colegas, sem dúvida fazem parte do conjunto de fatores que acabam determinando o ânimo com o qual os alunos se posicionam diante da tarefa de aprender. Em segundolugar, em qualquer situação de aprendizagem, os alunos dispõem de determi- nadas capacidades, instrumentos, estratégias e habilidades gerais para completar o proces- so. Por um lado, o aluno conta com determinadas capacidades cognitivas gerais ou, em termos mais correntes, com certos níveis de inteligência, racio- cínio e memória, que lhe permitirão um determi- nado grau de compreensão e realização da tarefa. Mas essas capacidades gerais não são apenas de caráter intelectual ou cognitivo. O aluno também conta com determinadas capacidades motoras, de equilíbrio pessoal e de relação interpessoal. Nesse sentido, entendemos que o aluno põe em jogo um conjunto de recursos diferentes que, de maneira mais ou menos geral e estável, é capaz de utilizar em qualquer tipo de aprendizagem. Todavia, em estreita inter-relação com es- sas capacidades para empreender a aprendiza- gem, o aluno dispõe de um conjunto de instru- mentos, estratégias e habilidades gerais que foi adquirindo em contextos diferentes, ao longo de seu desenvolvimento e no contexto escolar. Instrumentos como a linguagem (oral e escrita), a representação gráfica e numérica, habilidades Cristina Barroco Massei Fernandes Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 34 como sublinhar, anotar ou resumir, estratégias gerais para pesquisar e organizar informação, para revisar, para ler um texto de maneira com- preensiva ou para escrever reflexivamente sobre um tema são alguns exemplos desse conjunto de recursos de tipo geral que podem fazer parte, em uma ou outra medida, do repertório inicial do alu- no e com os quais conta (ou não) para enfrentar a aprendizagem do novo conteúdo. Sem dúvida, os dois aspectos globais a se- guir constituem elementos importantes do re- pertório dos alunos no início da aprendizagem de um novo conteúdo: 1. a disposição apresentada pelos alunos diante da aprendizagem; 2. as capacidades, instrumentos, habilida- des e estratégias gerais que são capa- zes de utilizar. Dessa forma, poderíamos perguntar-nos se é preciso levar em conta algo mais para poder determinar suas possibilidades de aprendizagem no início do processo e, consequentemente, para organizar e planejar o ensino do novo conteúdo. A concepção construtivista responde afir- mativamente a essa questão e propõe que se considere um terceiro aspecto, indispensável à radiografia inicial dos alunos: os conhecimentos que já têm sobre o conteúdo concreto que se propõem aprender, conhecimentos prévios que abrangem tanto conhecimentos e informações sobre o próprio conteúdo como conhecimentos que, de maneira direta ou indireta, estão relacio- nados ou podem relacionar-se com ele. Como se justifica a necessidade de conside- rar esses conhecimentos prévios como elemento fundamental do estado inicial do aluno? A justificativa está na própria definição da aprendizagem escolar. Nessa perspectiva, enten- demos que a aprendizagem de um novo conteú- do é, em última instância, produto de uma ativi- dade mental construtivista realizada pelo aluno, atividade mediante a qual constrói e incorpora à sua estrutura mental os significados e representa- ções relativos ao novo conteúdo. Segundo Miras (2002), essa atividade men- tal construtiva não pode ser realizada no vácuo, partindo do nada. A possibilidade de construir um novo significado, de assimilar um novo con- teúdo, em suma, a possibilidade de aprender, passa, necessariamente, pela possibilidade de en- trar em contato com o novo conhecimento. É a partir do que sabe que o aluno pode fazer uma primeira leitura do novo conteúdo, atribuindo-lhe um primeiro nível de significado e sentido e iniciar o seu processo de aprendizagem. Bem, além de lhe permitir realizar esse con- tato inicial com o novo conteúdo, os conheci- mentos prévios são os fundamentos da constru- ção dos novos significados. Uma aprendizagem é tanto mais significativa quanto mais relações com sentido o aluno for capaz de estabelecer entre o que já conhece, seus conhecimentos prévios e o novo conteúdo que lhe é apresentado como ob- jeto de aprendizagem. A possibilidade de esta- belecer relações determinará que os significados sejam construídos de forma mais ou menos signi- ficativa, funcional e estável. Sempre existem conhecimentos prévios trazidos pelos alunos? Em qualquer idade? O fato de ter conhecimentos prévios parece mais óbvio em alguns casos do que em outros, e parece ló- gico pensar, por exemplo, que os alunos que ini- ciam o ensino médio têm conhecimentos prévios sobre linguagem escrita, e, em compensação, não é tão evidente que tenham conhecimentos nesse âmbito nos momentos iniciais da escolaridade. A partir de uma perspectiva externa ao alu- no e de forma abstrata, determinar se existem ou não conhecimentos prévios sobre um novo con- teúdo de aprendizagem é uma questão difícil ou, pelo menos, discutível, pois dependerá de quem decide o que constitui o conhecimento prévio so- bre tal conteúdo. Mas, de qualquer forma, se nos colocamos na perspectiva do aluno, é possível afirmar que sempre podem existir conhecimen- tos prévios a respeito do novo conteúdo a ser aprendido, pois, de outro modo, não seria possí- vel atribuir um significado inicial ao novo conhe- cimento, não seria possível a sua leitura em uma primeira aproximação. Metodologia e Prática Pedagógica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 35 Diante de um novo conteúdo de aprendiza- gem, os alunos podem apresentar conhecimen- tos prévios mais ou menos elaborados, mais ou menos coerentes, mais ou menos pertinentes, mais ou menos adequados em relação a esse con- teúdo. Embora os conteúdos de aprendizagem se- jam um critério necessário para determinar quais são os conhecimentos prévios que devem ser explorados nos alunos, não pode ser considera- do um critério único e suficiente. Outro critério a considerar são os objetivos concretos que perse- guimos em relação a esses conteúdos e ao tipo de aprendizagem que pretendemos que os alunos alcancem. O ensino de um mesmo conteúdo de aprendizagem pode ser abordado com diferentes objetivos, por professores diferentes ou por um mesmo professor, em função das circunstâncias em que se realiza a prática educativa. Segundo Miras (2002, p. 69), [...] é importante considerar que mesmo que os alunos tenham conhecimentos prévios suficientes para abordar o novo conteúdo, isso não assegura que os te- nham presentes em todo momento ao longo do seu processo de aprendizagem. Nesse sentido, é tão importante que os alunos tenham conhecimentos prévios pertinentes como que os utilizem no mo- mento adequado para estabelecer rela- ções com o novo conteúdo. Em outras palavras, a atualização e a dispo- nibilidade dos conhecimentos prévios dos alunos são uma condição necessária para poderem reali- zar uma aprendizagem o mais significativa possí- vel, porém não podemos pressupor que essa con- dição esteja dada, mesmo sabendo que os alunos têm esses conhecimentos. AtençãoAtenção É muito importante partir do que o aluno já sabe (diagnóstico) e organizar-se em função do que ele ainda deve aprender em relação a determinado conteúdo (expectativas de aprendizagem). Partir do que o aluno já sabe é fundamental em um trabalho em que se considera os saberes que ele traz. Segundo Miras (2002), a concepção construtivista assinala três elementos básicos que determi- nam aquilo que se denomina estado inicial dos alunos: Os alunos apresentam determinada disposição para realizar a aprendizagem proposta. Essa disposição ou enfoque com o qual abordam a situação de aprendizagem de novos conteúdos geralmente não é algo inexplicável ou imprevisível, mas surge como resultado da confluência de numerosos fatores de índole pessoal e interpessoal;
Compartilhar