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Stephane D’arc – 5° semestre Medicina Introdução É a resposta inflamatória sistêmica à infecção grave decorrente de qualquer tipo de microrganismo (bactérias, vírus ou fungos). Doenças graves, como traumatismos de grande porte, pancreatites e queimaduras extensas, podem desencadear reações sistêmicas inflamatórias indistinguíveis, daquela de corrente da sepse. Para evitar a confusão, essas condições são descritas como Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica – SIRS. Dentro desse contexto pode-se considerar a sepse como uma SIRS decorrente de infecção. Definimos sepse quando encontramos pelo menos dois de quatro sinais da SIRS: 1. Febre > 38°C ou hipotermia (<36°C) 2. Taquicardia 3. Taquipneia, hipocapnia PCo2 < 32 mmHg, ou necessidade de ventilação mecânica. 4. Leucocitose > 12.000 células/mm’ leucopenia < 4.000 células/mm’ ou um desvio para esquerda > 10% de células em bastão – imaturas) A sepse grave é definida pela evidência clínica de sepse acompanhada de disfunção grave, de um ou mais órgãos e sistemas, tais como alterações de: 1. Nível de consciência ( Glasgow < 14) 2. Diminuição do debito urinário 3. Diminuição PaO2/FIO2 < 300 4. Hipotensão arterial 5. Hiperlactatemia – aumento de lactato 6. Coagulopatia O choque séptico é a sepse acompanhada de hipotensão refratária a infusão inicial de fluidos, necessitando de algum agente vasopressor para manter a perfusão adequada. Etiologia A causa etiológica da sepse tem variado no correr dos anos, modificando-se com a evolução da antibioticoterapia. As bactérias frequentemente observadas em culturas de sangue e outras secreções obtidas de pacientes com sepse são as enterobactérias (E. coli, Klebsiella sp, Enterobacter sp, Proteus sp etc.), os estafilococos (principalmente o S. aureus) e a Pseudomonas aeruginosa. Na população infantil, têm importância:o Streptococcus agalactiae do grupo B e o pneumococo, no período neonatal; nos lactentes, o Haemophilus influenzae e a Neisseria meningitidis. O tipo de bactéria que causará sepse está intimamente relacionado com o local do foco ou com o tipo de manipulação, em locais onde há flora bacteriana normal. As enterobactérias são causa frequente de sepse, e dentre elas a E. coli predomina. As principais fontes de infecção comunitária por E. coli são o trato urinário e o trato biliar. Dentre as bactérias gram-positivas vem ganhando importância os estafilococos coagulase negativos, principalmente o S. epidermidis. Esse germe causa infecções hospitalares com bacteremia relacionadas com cateteres intravasculares, com alta morbidade e mortalidade. As bactérias anaeróbias são causa de infecções graves, relaciona das com o trato gastrointestinal, com o trato genital feminino, com a orofaringe, com gangrena e com as úlceras de decúbito. O gênero mais frequente é o Bacteroides sp, sendo o B. fragilis a espécie mais prevalente. Além dele, o Fusobacterium sp, o Clostridium sp e os cocos anaeróbios também são responsáveis pela sepse. Os fatores que predispõe à sepse por anaeróbios são: abcessos, neoplasias malignas, cirurgia, obstrução e/ou perfuração intestinal e presença de corpo estranho. A Stephane D’arc – 5° semestre Medicina incidência de infecções por anaeróbios é relativamente baixa, atualmente. Obs: As doenças de base imunossupressivas, predispõem ao aparecimento de bacteremia e sepse pelos distúrbios que causam no sistema imune. Além disso, alcoolismo, DM, IRC, DPOC também predispõem á instalação de focos de infecção na pele, pulmões e outros lugares, levando á sepse. Situações graves, como choque hemorrágico, politraumatismo, grandes cirurgias e queimaduras extensas, também predispõem á invasão bacteriana e a sepse. Patogenia Sabemos que o ser humano é habitado por uma flora bacteriana normal, vivendo em equilíbrio dinâmico com bilhões de bactérias existentes na pele e na mucosa do TGI. Qualquer ruptura desse equilíbrio, poderá permitir a invasão de tecidos e da corrente sanguínea, estabelecimento de focos infecciosos e sepse. Qualquer bactéria pode causar bacteremia e sepse, basta encontrar condições adequadas de desenvolvimento e invasão da circulação sanguínea. Resposta Normal a infecção A resposta do hospedeiro a uma infecção é iniciada quando as células imunes inatas, particularmente os macrófagos, reconhecem e se ligam aos componentes microbianos. Isso pode ocorrer por vários caminhos: Receptores de reconhecimento de padrões (PRRs) na superfície das células imunes do hospedeiro podem reconhecer e se ligar aos padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) de micro-organismos. Dentre as famílias de PRRs, os receptores Toll-like (TLRs) representam um grupo importante nesta etapa da fisiopatogenia. Os PRRs também podem reconhecer sinais de perigo endógenos, os chamados padrões moleculares associados a danos (DAMPs), que são liberados durante o insulto inflamatório. × Os receptores desencadeantes, expressos em receptores de células mieloides (TREM-1) e de lectina mieloide DAP12 (MDL-1) em células imunes do hospedeiro, podem reconhecer e se ligar a componentes microbianos. A ligação dos receptores da superfície celular a componentes microbianos tem múltiplos efeitos, voltados para a destruição do agente infeccioso: × O envolvimento de TLRs desencadeia uma cascata de sinalização via ativação do fator nuclear citosólico-kb (NF-kb). O NF-kb ativado move-se do citoplasma para o núcleo, liga-se a sítios de transcrição e induz a ativação de um grande conjunto de genes envolvidos na resposta inflamatória do hospedeiro, como citocinas pró-inflamatórias [TNFa] e interleucina-1 [IL-1], quimiocinas (molécula de adesão intercelular-1 [ICAM- 1], molécula de adesão celular vascular-1 [VCAM-1]) e óxido nítrico. × Os leucócitos polimorfonucleares (PMNs) tornam-se ativados e expressam moléculas de adesão que causam sua agregação e marginação ao endotélio vascular. Isto é facilitado pelo endotélio que expressa moléculas de adesão para atrair leucócitos. Os PMNs, então, passam por uma série de etapas (rolagem, adesão, diapedese e quimiotaxia) para migrar para o local da lesão. A liberação de mediadores por PMNs no local da infecção é responsável pelos sinais cardinais da inflamação local: calor e eritema devido a vasodilatação e hiperemia locais, e edema rico em proteínas devido ao aumento da permeabilidade microvascular. Este processo é altamente regulado por uma mistura de mediadores pró-inflamatórios e anti-inflamatórios, secretados por macrófagos, desencadeados e ativados pela invasão de tecidos por bactérias. O equilíbrio de mediadores pró-inflamatórios e anti- inflamatórios regula os processos inflamatórios, incluindo a aderência, quimiotaxia, fagocitose de bactérias invasoras, morte bacteriana e fagocitose de detritos do tecido lesionado. Se os mediadores se equilibrarem e o insulto infeccioso inicial for superado, a homeostase será restaurada. O resultado final será a reparação e cicatrização tecidual. Desregulação da Resposta Inflamatória e Funções Orgânicas: Sepse Os conceitos antigos, de que a resposta inflamatória exacerbada provocava toda a cascata de eventos fisiopatológicos da sepse e que a essa resposta inflamatória exacerbada seguia-se resposta anti- inflamatória compensatória, não são mais aceitos. Atualmente, entende-se que a sepse é decorrente de fenômenos tanto pró como anti-inflamatórios, que ocorrem concomitantemente, ambos contribuindo Stephane D’arc – 5° semestre Medicina para a destruição do agente infeccioso e reparação tecidual, bem como para lesão orgânica e predisposição a novos eventos infecciosos. A sepse ocorre quando há desregulação dessa resposta inflamatória, com liberação de mediadores pró e anti- inflamatórios em resposta a uma infecção,ultrapassando os limites do ambiente local, levando a resposta generalizada e a disfunção orgânica. Ainda é incerto porque a resposta imune, que geralmente permanece localizada, se dissemina além do ambiente local, característica da sepse. A causa é provavelmente multifatorial e pode incluir os efeitos diretos dos micro-organismos invasores ou de seus produtos tóxicos, a liberação de grandes quantidades de mediadores pró-inflamatórios e a ativação do complemento. Além disso, alguns indivíduos podem ser geneticamente mais suscetíveis ao desenvolvimento de sepse e particularidades dos micro-organismos também podem influenciar a progressão de uma infecção para sepse. Alterações decorrentes da sepse Alterações Metabólicas Nas fases precoces do processo séptico, há aumento das necessidades metabólicas celulares, desencadeado por um estímulo neuroendócrino, caracterizado por aumentos nos níveis séricos de catecolaminas, glucagon e cortisol. A insulina aumenta pouco, e há resistência periférica à sua ação. Ocorre o catabolismo muscular, com maior utilização de aminoácidos de cadeia ramificada (leucina, isoleucina e valina) para obtenção de energia no nível muscular. A lipólise está aumentada e a lipogênese diminuída, com utilização de ácidos graxos, principalmente os de cadeia média. Observa-se hipertrigliceridemia por diminuição da depuração periférica de triglicérides, por bloqueio da enzima lipoproteína-lipase, mediado pelo TNF-α, e pelo o aumento da produção hepática. O consumo global de oxigênio aumenta e é dependente da disponibilidade de oxigênio (DO2), que, por sua vez, está alterada pela lesão endotelial e má distribuição do fluxo nos capilares. Nesse estado de consumo de oxigênio (VO2) elevado e má distribuição de fluxo com vasodilatação, a pressão arterial média sistêmica é mantida em níveis normais, por um débito cardíaco elevado. Disfunção cardiovascular Pacientes com sepse grave ou choque séptico podem apresentar dilatação de ambos os ventrículos cardíacos, com queda na fração de ejeção do ventrículo esquerdo e alterações na relação pressão-volume, sugerindo uma complacência cardíaca aumentada. O volume sistólico é mantido e o índice cardíaco se eleva com a taquicardia. A capacidade dos ventrículos de se dilatarem pode ser uma resposta adaptativa à situação hiperdinâmica, e a falta dessa dilatação pode resultar em edema cardíaco, com redução da complacência, com consequente redução na capacidade de responder à queda da resistência vascular sistêmica, seguida por hipotensão e choque. Essas alterações são decorrentes da ação de mediadores inflamatórios como TNF, IL-1β, IL-6, o óxido nítrico e, até mesmo, as exotoxinas de bactérias. O ventrículo direito também é afetado da mesma maneira que o esquerdo, e pode também sofrer redução de seu tamanho por desvio do septo interventricular, levando a menor enchimento diastólico. Essas alterações caracterizam a depressão miocárdica induzida pela sepse, e podem ser confirmadas pela elevação de marcadores de lesão miocárdica, como a troponina e o CK-mB, o que não significa que exista isquemia miocárdica, e são resultantes da ação de mediadores inflamatórios. DISFUNÇÃO DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS E SISTEMAS (DMOS) A baixa oxigenação tecidual resultante da má distribuição de fluxo, diante das necessidades metabólicas aumentadas, é um dos principais mecanismos primários de produção de disfunções orgânicas e morte. Outro fator importante no estabelecimento da DMOS é quebra da barreira intestinal com translocação bacteriana. Esse fenômeno acontece quando há lesão da mucosa intestinal associada a fatores como imunossupressão, má nutrição e alteração da flora intestinal normal, com supercrescimento de flora gram-negativa aeróbios. A lesão pulmonar, com edema por aumento da água extravascular e hipertensão pulmonar, leva a aumento da fração de shunt arteriovenoso pulmonar. A relação ventilação-perfusão (VA/QT) diminui, e a relação espaço morto-volume corrente (VD/VT) aumenta. A hipoxemia resultante é resistente às altas frações de oxigênio inspirado. Os raios X de tórax mostram infiltrado intersticial difuso bilateralmente. Esse quadro é conhecido como edema pulmonar não cardigênico, pulmão de choque ou síndrome da angústia respira tória do adulto (SARA). Ocorre, Stephane D’arc – 5° semestre Medicina geralmente, 24 a 72 horas após o início da sepse ou choque séptico, e é considerada uma disfunção orgânica precoce. A insuficiência renal aguda (IRA) pode ocorrer por diversos mecanismos, incluindo fatores pré-renais, como hipoperfusão e isquemia ou vasoconstrição por mediadores humorais, e fatores renais propriamente ditos, ou seja, substâncias tóxicas bacterianas ou humorais que levam à necrose tubular aguda. A hipoperfusão renal por si pode não ser sficiente para induzir lesões tubulares, mas se acompanhada da presença de endotoxina produz reduções significativas da função renal, agravando os efeitos da isquemia. A disfunção hepática da sepse e DMOS manifesta-se, geralmente, nas fases mais tardias, após a ocorrência de SARA e IRA. Observa-se a infiltração perisinusoidal de PMN no fígado, mesmo que o foco inicial da infecção seja distante desse órgão. Acredita-se que os PMN sejam atraídos para o fígado pelas citocinas secretadas pelas células de Kupffer, e lá chegando produzem lesões celulares, por meio da secreção de radicais livres de O2 e de enzimas proteolíticas, como a elastase. Quadro Clínico As manifestações clínicas da sepse são variadas e dependem muito das circunstâncias em que se instala o processo infeccioso. A febre é bastante frequente, mas alguns casos podem apresentar hipotermia, sobretudo em recém-nascidos prematuros e pacientes idosos, que previamente possuem um processo degenerativo do sistema nervoso central. A hiperventilação ocorre precocemente e é caracterizada por aumento na frequência respiratória, e na amplitude dos movimentos respiratórios. Concomitantemente, aparecem alterações do nível de consciência, ansiedade, agitação psicomotora, distúrbios de comportamento, podendo chegar a quadros mais graves como sonolência, torpor e coma. Tardiamente, pode aparecer polineuropatia periférica, caracterizada por fraqueza muscular e diminuição dos reflexos tendíneos. As lesões cutâneas decorrentes de infecção da pele ou de coagulopatia são fundamentais para a suspeita precoce, podendo fornecer elementos indicativos importantes para o diagnóstico etiológico. Outras lesões cutâneas, como as úlceras com necrose central, podem sugerir a Pseudomonas aeruginosa como agente etiológico. Já as lesões necróticas com produção de gás e crepitação no subcutâneo sugerem a presença de microrganismos anaeróbios, como os clostrídios, entre outros. Outras lesões como celulites ou reações eritematosas semelhantes às erisipelas podem preceder os quadros de sepses causadas por germes gram-positivos, como os estafilococos ou estreptococos. A icterícia ocorre por diversos mecanismos: hemólise, colestase intra-hepática ou falência hepática. Pode ser uma manifestação precoce, geralmente acompanhada de hepatomegalia discreta. O choque séptico é didaticamente dividido em: choque quente ou hiperdinâmico caracterizado por: hipotensão, taquicardia e vasodilatação periférica. Choque frio ou hipodinâmico: palidez, vasoconstrição e anúria. A insuficiência respiratória aguda é caracterizada por taquipneia, dispneia, tiragem intercostal e ausculta pulmonar, com estertores crepitantes e subcrepitantes disseminados. Os raios X de tórax mostram infiltrados intersticial com ou sem focos de consolidação por infecção pulmonar. Esses pacientes apresentam hipoxemia grave (PaO2 < 60 mmHg), que resiste à administração de oxigênio, caracterizando a síndrome da angústiarespiratória do adulto ou pulmão em choque. Outras insuficiências orgânicas podem ocorrer, sequencial ou concomitantemente, levando ao quadro de disfunção de múltiplos órgãos e sistêmicas (DMOS), também conhecida como sepse crônica. Quanto maior o número de órgãos com prometidos, maior a letalidade e mais difícil o controle terapêutico. A insuficiência renal aguda é uma complicação temível, principalmente na sua forma oligoanúrica, pois torna a manipulação de líquidos muito difícil e acaba levando a procedimentos invasivos complicados, como a hemodiálise. Diagnóstico O diagnóstico de sepse baseia-se no quadro clínico e, se possível, na positividade de hemoculturas. A coleta Stephane D’arc – 5° semestre Medicina de hemoculturas é fundamental, mas a ausência de crescimento bacteriano não exclui o diagnóstico. Por outro lado, a positividade no crescimento bacteriano enriquece o diagnóstico, por permitir uma melhor conduta terapêutica, com base no isolamento do agente etiológico e antibiograma. As hemoculturas sempre devem ser realizadas logo que houver suspeita clínica de sepse, por mais tênue que seja essa suspeita. A febre é bastante sugestiva de sepse, mas pode estar ausente em pacientes imunossuprimidos, idosos e neonatos. Fatores preditivos de bacteremia: Hipoalbumineia Disfunções orgânicas inexplicáveis (principalmente renal) Alteração do nível de consciência História de quedas frequentes em idosos As hemoculturas devem ser coletadas por punção venosa ou arterial, com técnica asséptica, utilizando material estéril e meios de cultura de boa qualidade. Não devem ser coletados a partir de cateteres, pois eles favorecem a contaminação, exceto nos casos de suspeita de infecção relacionada com o cateter, quando pelo menos uma amostra é coletada do cateter, em paralelo as amostras coletadas de sangue periférico. O liquor também constitui material de em que se pode cultivar e isolar o agente etiológico; nos casos suspeitos de sepse e meningite, deve-se, portanto, levar em consideração a punção liquórica como método de investigação diagnóstica. Outros materiais, tais como líquido ascítico, abcessos, derrames pleural ou pericárdico e escarro, também podem conter os microrganismos responsáveis pela sepse. A dosagem dos níveis plasmáticos da procalcitonina (PCT) pode auxiliar no diagnóstico da sepse grave e do choque séptico, distinguindo a SIRS de origem infecciosa daquelas de outra natureza. Valores de PCT acima de 2 ng/mL são altamente sugestivos de infecções bacterianas graves e sepse, enquanto os níveis entre 0,5 a 2 ng/mL podem ocorrer em casos de SIRS não infecciosa, como trauma e queimaduras extensas. Valores abaixo de 0,5 ng/mL indicam infecções bacterianas leves, infecções virais e outros processos inflamatórios. Entretanto, valores baixos de PCT na presença de quadro clínico de sepse não excluem o diagnóstico de infecção bacteriana grave, por causa da sensibilidade não muito elevada do teste. Mas, valores baixos são confiáveis para excluir o diagnóstico, por causa da sua alta especificidade. No período neonatal, os valores normais de PCT são, consideravelmente, mais elevados e variam conforme a idade do recém-nascido, podendo chegar até a 20 ng/mL. Valores acima desse limite são considerados significativos para o diagnóstico de sepse neonatal. A proteína C-reativa pode ser utilizada para auxiliar no diagnóstico de infecções bacterianas. Valores elevados, acima de 10 mg/dL, são muito sugestivos de infecções bacterianas. O hemograma apresenta leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda, anaeosinofilia e linfopenia na série branca. A série vermelha pode apresentar anemia em graus variados. Alguns casos podem apresentar, inicialmente, leucopenia com contagem diferencial alterada, mas isso não é patognomônico de infecções por germes gram-negativos. Em pacientes neutropênicos graves, com menos de 100 neutrófilos/mm3, a infecção se desenvolve na ausência dessas alterações. Há plaquetopenia em metade dos casos de sepse associada à coagulopatia, mas somente uma minoria cursa com coagulação intravascular dissemina da (CIVD) caracterizada pelo consumo do fibrinogênio sérico e elevação dos produtos de degradação da fibrina (PDF). A dosagem do lactato sérico é um indicador da perfusão tecidual, estando elevado quando há isquemia e hipóxia decorrentes de choque ou hipovolemia. Níveis acima de 2 mmol/L associados a hipotensão arterial são indicativos de quadros graves; quanto mais alto o lactato sérico, pior o prognóstico. A dosagem sérica de eletrólitos é importante para identificar alterações possíveis de causar disfunção cardiovascular. A hipocalcemia é encontrada, com frequência, em cerca de 2/3 dos casos de choque, e está associada a maior incidência de complicações e a maior mortalidade. Aparentemente há uma desregulação na homeostase do cálcio na sepse, envolvendo as paratireoides e o metabolismo da vitamina D. A hipofosfatemia está relacionada com a insuficiência respiratória, disfunção leucocitária, acidose metabólica, e distúrbios do SNC, podendo levar a falha na resposta à administração de catecolaminas. A hipomagnesemia, geralmente por perdas intestinais ou renais, pode causar fraqueza muscular (que é potencializada pelo uso de aminoglicosídeos), além de predispor a arritmias cardíacas e insuficiência cardíaca. Stephane D’arc – 5° semestre Medicina O potássio em concentrações séricas baixas também está associado às arritmias cardíacas. Outros exames importantes para a avaliação incluem os testes que medem função renal (ureia, creatinina, fração de excreção de sódio), função hepática (bilirrubina, transaminases, fosfatase alcalina etc.) e função respiratória (gasometrias arterial e venosa, espirometria). Os métodos radiológicos, radioisotópicos e ultrassonográficos ajudam a localizar os focos de infecção, podendo ser de valia no acompanhamento evolutivo do tratamento. A radiografia de tórax é fundamental e indispensável. Tratamento O PACOTE DE 6 HORAS Reconhecimento precoce: É sobre o rápido atendimento e reconhecimento de um paciente com disfunções orgânicas. Faz-se necessário treinar profissionais para que esse reconhecimento seja rápido. Coleta de lactato: O lactato é um marcador de disfunção orgânica, gravidade, prognóstico e também orienta a terapêutica a ser instituída. A presença de hiperlactatemia, por si, já demonstra a gravidade desse paciente. Nos casos em que o paciente apresente hiperlactatemia, deve ser considerado a infusão inicial de solução cristaloide (30 mL/kg), pois na fase aguda a hiperlactatemia deve ser abordada como sinal de hipoperfusão, até que se prove o contrário, de acordo com a monitoração e evolução do caso. Após a infusão inicial de fluidos, nova mensuração do lactato deve ser realizada, pois aqueles que evoluírem com clareamento do lactato de pelo menos 10% nas primeiras 6 horas, apresentam um prognóstico melhor. A otimização da perfusão é fundamental para tal raciocínio, pois se houver persistência da elevação dos níveis de lactato, mesmo após o incremento de fluxo e da oferta de oxigênio, provavelmente a hiperlactatemia deve estar associada a alterações relacionadas com a sepse. Coleta de cultura: As hemoculturas devem ser coletadas. É recomendado que seja coletado de 2 a 3 pares de amostras, em locais diferentes de punção, não havendo necessidade de aguardar intervalos entre a coleta das amostras. Não se deve aguardar pico febril para realizar a coleta. As outras culturas pertinentes como urina, liquor, líquido ascítico, líquido pleural, não devem atrasar o início dos antimicrobianos. Isso significa que a partir da identificação, pode-se aguardar até 45 minutos para realizar as coleta das culturas pertinentes e não atrasaro início do antibiótico da primeira hora. Por exemplo, um indivíduo que tem suspeita do foco infeccioso ser urinário, e apresenta sepse grave, deve ter realizada prontamente a coleta das amostras de hemoculturas, e aguardar no máximo o tempo de 45 minutos para coletar a amostra de urina para realizar a cultura. Caso o indivíduo não apresente diurese, administra-se a dose dos antimicrobianos e coleta-se posteriormente a urina para cultura. Antibióticos de primeira hora: Após a coleta de culturas, inicia-se esquemas de antimicrobianos de amplo espectro, de acordo com o foco infeccioso, local de aquisição da infecção, dos riscos relacionados com o paciente, como imunodeprimidos, ou portadores de cateter de longa permanência em antibioticoterapia empírica. resistente a esse antibiótico. A utilização de antibioticoterapia empírica na sepse comprovadamente reduz a mortalidade e a morbidade, diminuindo a incidência de choque séptico e outras complicações. No caso específico da sepse causada por bactérias gram- , a utilização de penicilinas de espectro ampliado (ticarcilina, piperacilina etc.) como droga única mostrou-se ineficaz. A combinação desses antimicrobianos com inibidores das β-lactamases, como a amoxicilina ou a ticarcilina com o ácido clavulânico, a ampicilina com a sulbactama, e a piperacilina com a tazobactama, aumentou significativamente sua potência, o espectro antibacteriano e a eficácia, permitindo seu uso em monoterapia. A monoterapia das infecções comunitárias, com baixo índice de resistência, pode ser introduzida empiricamente utilizando-se antibióticos de espectro muito amplo e potentes, como as penicilinas de espectro ampliado associadas a inibidores das β- lactamases: amoxicilina/clavulanato, ampicilina/sulbactama, ticarcilina/clavulanato e piperacilina/tazobactama), cefalosporinas de terceira geração com atividade antipseudomonas (ceftazidima), as Stephane D’arc – 5° semestre Medicina cefalosporinas de quarta geração (cefepima,) ou os carbapenems (imipenem, meropenem, ertapenem). Todavia, as infecções nosocomiais (hospitalares) geralmente requerem a introdução de esquemas empíricos combinados, como a associação de glicopeptídeos (vancomicina, teicoplanina) com os β- lactâmicos , visando cobrir estafilococos resistentes à oxacilina, gram-negativos entéricos, a Pseudomonas aeruginosa e outros germes não fermentadores multirresistentes. A utilização inicial de glicopeptídeos nos esquemas empíricos deve se restringir a casos de infecções adquiridas no âmbito dos serviços de saúde, como no caso das infecções nosocomiais, principalmente naqueles serviços, em que a incidência de germes resistentes é frequente, onde há a presença frequente de estafilococos resistentes à oxacilina. Nos esquemas iniciados sem glicopeptídeos, a evolução sem melhora após 24 a 72 horas de tratamento empírico impõe a introdução desses medicamentos. Sequencialmente, não havendo melhora em mais de 24 a 72 horas, é necessário ampliar o espectro antimicrobiano, dando cobertura para fungos, que podem tanto ser agentes primários da infecção como também podem derivar de superinfecção. O agente antifúngico de escolha inicial pode ser qualquer um dos fármacos presentes na classe das equinocandinas (caspofungina, micafungina, anidulafungina). Referência Veronesi : tratado de infectologia / editor científico Roberto Focaccia. -- 5. ed. rev. e atual. -- São Paulo : Editora Atheneu, 2015.
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