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aula de 12 de Maio - Liturgia

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FACULDADE DE FILOSOFIA E TEOLOGIA PAULO VI - JARDEL CERQUEIRA
RGM: 20162008 Prof. Pe. Gabriel Gonzaga Bina - Liturgia I
A TEOLOGIA LITÚRGICA E O SEU OBJETO DE ESTUDO
A teologia da liturgia é o discurso crítico sobre a celebração a partir da própria liturgia concreta. O percurso de estudo pode ser sistematizado da seguinte forma: em primeiro lugar a História da Salvação; o nº06 da Sacrosanctum Concilium afirma que a obra da salvação é continuada pela Igreja e realizada na liturgia. Este grande mistério da fé católica é fundante para uma concepção de liturgia. Todo o processo histórico de salvação que acompanha-se desde o A.T até a plenitude dos Tempos em Jesus Cristo, agora é executado pela Igreja na liturgia. 
Visto isso, o próximo passo é a Presença do Senhor. Quando a Igreja celebra a liturgia, intensifica de forma extraordinária a presença do Divino Salvador. O nº07 da SC afirma que: “Para levar a efeito obra tão importante, Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. Presente está no sacrifício da missa [...] Presente está pela sua força nos sacramentos [...] Presente está pela sua palavra [...] Está presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia”. Esta certeza da presença de Cristo na ação litúrgica da Igreja é como que uma coluna mestra dos ensinamentos do Vaticano II. 
Esta certeza, é muito clara para a fé da Igreja hoje, e embora, muitas vezes, os fiéis não tenham consciência do grande feito que a liturgia proporciona para a Igreja, e que a fé católica não cansa de proclamar esta verdade. O terceiro percurso desse caminho é o estudo do Mistério Pascal como centro da liturgia, nenhum conceito está mais presente na teologia litúrgica do que ele. Toda celebração, compreende-se, é a renovação do mistério pascal de Jesus Cristo. Um axioma evidente e sempre presente em todos os rituais. 
Na concepção veterotestamentária, o mistério pascal é a essência do mistério da “passagem”. Passagem de situações periclitantes, como a miséria da escravidão (Ex 14,15-31) para a descoberta do caminho de liberdade. Que é o processo de construção do próprio destino, com sua fé e sua força. Para o cristão, a vitória de Jesus sobre a morte é o ápice desse mistério. A libertação do túmulo é o ápice da libertação dos males que rondam as ações do ser humano.
Já o penúltimo passo é estudo sobre a Assembleia Celebrante. O nº 41 da SC afirma que a principal manifestação da Igreja se realiza na plena e ativa participação de todo o povo santo de Deus nas mesmas celebrações litúrgicas, sobretudo na mesma Eucaristia, numa única oração, junto a um só altar, presidido pelo bispo, cercado de seu presbitério e ministros. Esta afirmação conciliar evoca a grandiosidade da liturgia, isto é, na liturgia congregam-se os irmãos que de maneira visível expressam a Igreja.
O último passo é o estudo da Palavra de Deus; é na celebração litúrgica é máxima a importância das Sagradas Escrituras. Pois delas são lidas as lições e explicadas na homilia e cantam-se os salmos. É de sua inspiração que surgem as preces, as orações e hinos litúrgicos. “E é dela também que os atos e sinais tomam a sua significação” (SC 24). Com base na palavra do Concílio Vaticano II, que ressalta esta importância da Palavra de Deus na liturgia, a exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini afirma no nº52 que: “considerando a Igreja como ‘casa da Palavra’, deve-se antes de tudo dar a atenção à liturgia sagrada. 
Esta constitui, efetivamente, o âmbito privilegiado onde Deus nos fala no momento presente da nossa vida: fala hoje ao seu povo, que escuta e responde. Cada ação litúrgica está, por sua natureza, impregnada das Sagradas Escrituras. Assim, a liturgia torna-se o lugar para encontrarmos com Deus. Um lugar onde pode-se dialogar com o Divino Salvador. Este diálogo deve ser constante, e não pode ser apático ou superficial, mas deve atingir o ser humano de tal forma que a relação com Deus cada vez se torna mais profunda e eficaz. No escutar a Palavra de Deus que o ser humano dar sua resposta às propostas que o Senhor faz para a humanidade.
Percebe-se nesse percurso que a teologia da liturgia tem um conteúdo dogmático, não se esgotando na liturgia (considerada como lugar teológico). A teologia da liturgia é uma interpretação, a partir de critérios científicos, da celebração da fé eclesial, a fim de purificá-la de toda falsidade possível. E a teologia litúrgica é uma parte integradora da teologia sistemática, em sua realidade ontológica (constitutiva), cujo objeto é o estudo do culto da Igreja. 
Em outras palavras, é uma interpretação teológica do acontecimento cúltico. Isto implica na exigência da experiência do culto, de uma hermenêutica de culto, garantido afirmar que um bom teólogo da liturgia é também um bom celebrante. Ela não é um produto teológico, antes é uma reflexão a partir do culto e que conduz novamente a ele. Ela é a reflexão sobre o mistério pascal, permitindo-nos sempre participar e experimentar a liturgia como uma verdadeira resposta de Jesus a nosso pedido: “Sim, venho muito em breve!” (Ap 22,20).
Assim, a teologia litúrgica que se seguiu à reforma conciliar do Vaticano II estendeu-se a alguns espaços da compreensão da celebração cristã, abrindo novos horizontes para as comunidades. A revisão dos pontos de reflexões que foram elaborados incita a revisão do repertório litúrgico; isso impõem a restauração de práticas litúrgicas primitivas e a descentralização dos sistemas doutrinais dos últimos séculos, enveredados nas trilhas do rigidismo e do formalismo litúrgico, que se descuida com a subjetividade da assembleia e a frutuosidade do rito, nada mais que o tradicional ex-opere operandis.

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