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Princípios teológicos da Liturgia

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Curso de Extensão em Teologia 
Liturgia e Espiritualidade 
Diác. Cleverson Martins Teixeira 
 
Princípios Teológicos da Liturgia 
Para estudar a liturgia tomaremos como ponto de partida algumas 
perguntas: 
1. O que é celebrar? – História. 
2. O que celebramos? – Teologia litúrgica 
3. Por que celebramos? – Teologia litúrgica 
4. Onde celebramos? – Espaço sagrado 
5. Quem celebra? – Assembleia e ministérios 
6. Quando celebramos? – Domingo e o Ano litúrgico 
7. Como celebramos? – Teologia ritual. 
 
Observando esta relação temos uma forte tendência de querer a 
resposta da última pergunta, pois nos preocupamos muito com o pode isso? 
Pode aquilo? Como faz isso? Está certo fazer isso? Mas para alcançarmos a 
resposta para esta questão faz-se necessário realizarmos uma caminhada 
pelas questões anteriores, pois elas servirão de base para compreendermos a 
última pergunta. 
Portanto neste momento iremos nos dedicar às primeiras indagações: O 
que é celebrar? O que celebramos? E porque celebramos? 
O que é liturgia? 
A palavra deriva do grego leitourgos e servia para descrever alguém que 
fazia algo público ou liderava uma cerimônia sagrada. Porém a compreensão 
de liturgia é mais abrangente, pois não se restringe apenas ao culto, à 
ritualidade ou ao templo. Outra palavra associada a liturgia é “celebração”, esta 
deriva do adjetivo latino celeber, que exprime a ideia de um lugar frequentado 
por uma numerosa multidão reunida para uma festa. Portanto o verbo 
“celebrar” traz-nos a conotação de “frequentar”, mas sobretudo apresenta um 
cunho festivo, ritual e comunitário na ação. A celebração é uma categoria que 
pertence à dimensão sensível e visível da liturgia cristã. 
Se o uso do termo liturgia deseja indicar globalmente todos os aspectos 
do culto cristão, a palavra celebração indica primordialmente a liturgia em ato, a 
ação concreta que consiste em realizar um rito determinado, entendido como 
ato de culto por parte de uma assembleia de fieis, na perspectiva própria do 
cristianismo, ou seja, na medida em que “é dada a Deus uma glória perfeita e 
os homens são santificados, graças ao exercício do sacerdócio de Jesus 
Cristo” (Sacrosanctum Concilium). 
Dessa maneira, enquanto a liturgia é o culto de uma vida cristã 
transformada em fidelidade a Deus, expressa e santificada em alguns atos 
sacramentais que atualizam a presença da salvação, a celebração é o 
momento em que ocorre essa atualização mediante gestos, símbolos, ações e 
ritos. Nesse sentido, a celebração é representação – nova presença – e a 
atualização no plano local-temporal do exercício do sacerdócio de Cristo, ou 
seja, o objeto definitivo da liturgia-celebração é a realização eficaz do Mistério 
Pascal: “celebra-se” (efetua-se) um rito, mas para “celebrar” (alcançar) o 
mistério de Cristo. 
A obra salvadora de Jesus Cristo é a liturgia perfeita, início da nossa fé. 
Jesus ofereceu o sacrifício perfeito: sacrifício de expiação pelos pecados, ação 
de graças, súplica, louvor. Veio para abolir todos os sacrifícios do Antigo 
Testamento. Este sacrifício perfeito realizou a perfeição daqueles que foram 
santificados. É na Cruz e na Ressurreição de Jesus que encontramos a fonte 
inesgotável de graça e de vida para a santificação. 
A obra salvífica de Cristo traz como consequência direta a vivência da 
fé. A vida nova dada por Cristo traz como consequência imediata um novo 
modo de vida, uma vida santa. Mortos para o pecado, vivamos para Deus em 
Cristo Jesus. 
O que celebramos? 
Pela celebração litúrgica é dada a Deus uma glória perfeita e os homens 
são santificados mediante ao exercício da obra salvífica de Deus. O mistério de 
Cristo é celebrado, pois ele é o centro de toda nossa ação. A celebração se dá 
por meio do rito que é sempre: 
 Ação típica 
 Ação simbólica 
 Norma prévia 
 Linguagem ritual 
 Efeito sobrenatural 
 Peridiocidade 
Celebramos um ser, uma pessoa, um acontecimento evocado pela festa 
e que merece ser celebrado. Percebemos que o rito nos ajuda a vivenciar o 
Mistério Pascal de Cristo, por isso não celebramos sempre a mesma coisa, 
mas vivenciamos uma nova experiência e atualizamos esta em nossa vida em 
cada celebração. 
Por que celebramos? 
 O mais importante na celebração é aquilo que não vemos, aquilo que 
está invisível aos olhos humanos, a ação de Deus pelo Espírito Santo, pois o 
essencial é invisível aos olhos. Neste caso celebramos o Mistério Pascal de 
Cristo. 
 Na liturgia se unem dois movimentos complementares e inseparáveis: 
Deus volta-se para o seu povo para conceder-lhe a sua graça e santifica-lo por 
meio da obra redentora e o ser humano se volta para Deus para glorifica-lo por 
suas obras, na obra perfeita da glorificação de Deus. Vemos aqui dois objetivos 
da liturgia: a Glória de Deus e a santificação dos homens. Este dinamismo está 
presente em toda a história da Salvação: Deus é um Deus pessoal, se 
comunica, se revela ao seu povo, toma a iniciativa da salvação e coloca seu 
amor e serviço do seu povo. O mistério Pascal de Jesus Cristo está no 
centro da Economia da Salvação1/História da Salvação, recordamos que a 
Salvação é obra da Santíssima Trindade. 
 
1
 A Economia da Salvação, também chamada de Economia Divina, é aquela parte da 
revelação divina na tradição cristã que lida com a criação de Deus e a gestão do mundo, 
especialmente com o seu plano de salvação realizado através da Igreja. Do grego 
 Celebramos também o anúncio e a sua realização por obra do Espírito 
Santo, pois no mistério se encontra o dinamismo da celebração. O anúncio se 
dá na mesa da Palavra e a realização acontece por meio das palavras e ações 
que na liturgia são eficazes, realizando aquilo que proclama-se. Não se trata de 
magia, mas de um mistério escondido que se vai revelando a cada celebração. 
Por isso toda a celebração da Igreja se faz com esta dinâmica: anúncio e 
realização. 
 Celebramos o Cristo sempre presente em nosso meio, pois não haveria 
sentido celebrar o Cristo se Ele não estivesse presente. Nós não somos 
seguidores de um defunto, mas d‟Aquele que vive para sempre e permanece 
conosco “todos os dias até o fim dos tempos”. Cristo se faz presente na Igreja 
que canta e ora, na sua Palavra, no ministro, nos sacramentos e nas espécies 
eucarísticas. 
 Celebramos o Mistério Pascal de Cristo e precisamos celebrar por que é 
a partir da celebração que acolhemos os frutos que nos foram inaugurados na 
Cruz. 
História da Liturgia 
Igreja Primitiva 
Conforme os relatos do Novo Testamento, os cristãos frequentavam o 
templo e posteriormente se reuniam em suas casas para as celebrações 
próprias, por exemplo: em Jerusalém, Corinto, Trôade, Roma. Frequentemente, 
membros nobres da comunidade colocavam uma sala ou átrio de sua casa à 
disposição. Por volta de 200 d.C., surgiram as primeiras notícias de os cristãos 
terem para suas reuniões casas próprias. 
 A liturgia própria da Igreja nascente é aquela que Cristo havia confiado 
aos Apóstolos. No primeiro século, a celebração era chamada “fração do pão”, 
 
oikonomia, literalmente, "gestão de uma família" ou "mordomia". São os elementos e 
recursos revelados por Deus como necessários para a salvação através da revelação 
especial, as escrituras do Antigo Testamento e do Novo Testamento. A última expressão 
disso na teologia cristã de acordo com os ensinamentos da Igreja Católica seria a obra de 
salvação alcançada por Jesus Cristo na cruz. Seu sacrifício pagou por nossas dívidas e, 
portanto, fez o pagamento por nossos pecados - e, portanto, somos vistos como não 
culpados perante Deus por nossos pecados cometidos. 
pois estava ligada a um rito com o qual se iniciava a refeição judaica: o paide 
família partia o pão, rezava sobre ele uma benção e o distribuía. No lugar desta 
benção, Jesus disse: “Isto é o meu corpo”. Acrescia-se na refeição judaica um 
procedimento semelhante com o cálice. O tomar do cálice introduziu-se com 
uma oração em ação de graças que começou com o convite: “Demos 
graças...”. Esta oração transformou-se na liturgia cristã na grande oração de 
ação de graças pela obra divina da salvação. 
 Vários textos nos mostram como os cristãos, nos primórdios da Igreja, 
celebravam a liturgia. Segue os ensinamentos encontrados na Didaché e 
também uma carta de São Justino: 
Didaque (DIDACHÉ) 
A CELEBRAÇÃO LITÚRGICA 
CAPÍTULO VIII 
1 Os seus jejuns não devem coincidir com os dos hipócritas. Eles jejuam no 
segundo e no quinto dia da semana. Porém, você deve jejuar no quarto dia e 
no dia da preparação. 2 Não reze como os hipócritas, mas como o Senhor 
ordenou em seu Evangelho. Reze assim: "Pai nosso que estás no céu, 
santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim 
na terra como no céu; o pão-nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai nossa 
dívida, assim como também perdoamos os nossos devedores e não nos deixes 
cair em tentação, mas livrai-nos do mal porque teu é o poder e a glória para 
sempre". 3 Rezem assim três vezes ao dia. 
CAPÍTULO IX 
1 Celebre a Eucaristia assim: 2 Diga primeiro sobre o cálice: "Nós te 
agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos 
revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre". 3 Depois diga 
sobre o pão partido: "Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da vida e do 
conhecimento que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para 
sempre. 4 Da mesma forma como este pão partido havia sido semeado sobre 
as colinas e depois foi recolhido para se tornar um, assim também seja reunida 
a tua Igreja desde os confins da terra no teu Reino, porque teu é o poder e a 
glória, por Jesus Cristo, para sempre". 5 Que ninguém coma nem beba da 
Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor pois sobre isso o 
Senhor disse: "Não deem as coisas santas aos cães". 
CAPÍTULO X 
1 Após ser saciado, agradeça assim: 2 "Nós te agradecemos, Pai santo, por 
teu santo nome que fizeste habitar em nossos corações e pelo conhecimento, 
pela fé e 4 imortalidade que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, 
glória para sempre. 3 Tu, Senhor onipotente, criaste todas as coisas por causa 
do teu nome e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te 
agradeçam. A nós, porém, deste uma comida e uma bebida espirituais e uma 
vida eterna através do teu servo. 4 Antes de tudo, te agradecemos porque és 
poderoso. A ti, glória para sempre. 5 Lembra-te, Senhor, da tua Igreja, livrando-
a de todo o mal e aperfeiçoando-a no teu amor. Reúne dos quatro ventos esta 
Igreja santificada para o teu Reino que lhe preparaste, porque teu é o poder e a 
glória para sempre. 6 Que a tua graça venha e este mundo passe. Hosana ao 
Deus de Davi. Venha quem é fiel, converta-se quem é infiel. Maranatha. 
Amém." 7 Deixe os profetas agradecerem à vontade. 
Descrição da Santa Missa na Igreja primitiva por São Justino, mártir 
Nessa descrição datada da primeira metade do século segundo, 
se delineia os principais elementos da Santa Missa tal com a 
conhecemos hoje. Percebe-se já naquele tempo a primazia do 
Domingo sobre o Sábado como o dia mais solene para a Santa 
Missa, devido a Ressurreição de Cristo. Oferecemos ao leitor 
esse texto de São Justino (†165), no qual se percebe o fervor 
eucarístico da Igreja nascente assim como o desejo de explicar os 
mistérios da Santa Missa para recém convertidos ou pessoas em 
vias de se converter. 
“Terminadas as orações, damos mutuamente o ósculo da paz. 
Apresenta-se, então, a quem preside aos irmãos, pão e um vaso 
de água e vinho, e ele tomando-os dá louvores e glória ao Pai do 
universo pelo nome de seu Filho e pelo Espírito Santo, e 
pronuncia uma longa ação de graças em razão dos dons que dele 
nos vêm. Quando o presidente termina as orações e a ação de 
graças, o povo presente aclama dizendo: Amém… Uma vez 
dadas as graças e feita a aclamação pelo povo, os que entre nós 
se chamam diáconos oferecem a cada um dos assistentes parte 
do pão, do vinho, da água, sobre os quais se disse a ação de 
graças, e levam-na aos ausentes. Este alimento se chama entre 
nós Eucaristia, não sendo lícito participar dele senão ao que crê 
ser verdadeiro o que foi ensinado por nós e já se tiver lavado no 
banho [batismo] da remissão dos pecados e da regeneração, 
professando o que Cristo nos ensinou. Porque não tomamos 
estas coisas como pão e bebida comuns, mas da mesma forma 
que Jesus Cristo, nosso Senhor, se fez carne e sangue por nossa 
salvação, assim também se nos ensinou que por virtude da 
oração do Verbo, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças 
– alimento de que, por transformação, se nutrem nosso sangue e 
nossas carnes – é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus 
encarnado. E foi assim que os Apóstolos, nas Memórias por eles 
escritas, chamadas Evangelhos, nos transmitiram ter-lhe sido 
ordenado fazer, quando Jesus, tomando o pão e dando graças, 
disse: “Fazei isto em memória de mim, isto é o meu corpo”. E 
igualmente, tomando o cálice e dando graças, disse: “Este é o 
meu sangue”, o qual somente a eles deu a participar… No dia que 
se chama do Sol [domingo] celebra-se uma reunião dos que 
moram nas cidades e nos campos e alí se lêem, quanto o tempo 
permite, as Memórias dos Apóstolos ou os escritos dos profetas. 
Assim que o leitor termina, o presidente faz uma exortação e 
convite para imitarmos tais belos exemplos. Erguemo-nos, então, 
e elevamos em conjunto as nossas preces, após as quais se 
oferecem pão, vinho e água, como já dissemos. O presidente 
também, na medida de sua capacidade, faz elevar a Deus suas 
preces e ações de graças, respondendo todo o povo “Amém”. 
Segue-se a distribuição a cada um, dos alimentos consagrados 
pela ação de graças, e seu envio aos doentes, por meio dos 
diáconos. Os que têm, e querem, dão o que lhes parece, 
conforme sua livre determinação, sendo a coleta entregue ao 
presidente, que assim auxilia os órfãos e viúvas, os enfermos, os 
pobres, os encarcerados, os forasteiros, constituindo-se, numa 
palavra, o provedor de quantos se acham em necessidade” 
(Apologias). 
 Dionísio Borobio (1990) afirma que o culto cristão tem três 
características: escatológico, pois sempre remete à vida eterna, junto de 
Deus; pneumatológico, porque é o Espírito Santo que reúne a assembleia e a 
torna, de fato, uma assembleia de culto; e cristológico, já que o centro do 
culto é a confissão do querigma da fé cristã. Além dessas características, 
Borobio apresenta-nos quatro elementos fundamentais, a partir da análise de 
At 2,42: o ensinamento dos Apóstolos (didaché), a comunhão fraterna 
(koinonia, incluindo a coleta de donativos para os mais necessitados), a fração 
do pão (ponto culminante da liturgia) e as orações, pois a finalidade é sempre 
a edificação da comunidade cristã. 
 A língua litúrgica é o grego e a versão da Sagrada Escritura utilizada 
para a pregação e para ação litúrgica era a Septuaginta. 
Igreja no Império 
Constantino publicou o Edito de Milão, no ano de 313, com o qual 
concedia permissão a todos os habitantes do Império, principalmente, aos 
cristãos, para praticar suas religiões e formas de culto. 
Muitos acreditam que esse documento tornara o Cristianismo a religião 
oficial do Império Romano. Essa ideia não é correta, pois o conteúdo do Edito 
de Milão só fala em tolerância a qualquer culto, o que não tira a importância do 
documento, que pôs fim à perseguição dos cristãos. Contudo, somente com o 
Imperador Teodósio I (379-395), mais especificamente no ano de 380, o 
Cristianismo se torna religião oficial de todo o Império. Importante também para 
compreendero impacto na liturgia é o conhecimento das heresias 
desenvolvidas no começo da vida cristã: 
1) Monarquianismo dinamista ou adocionista: Jesus teria sido mero 
homem, adotado no momento de seu batismo no Jordão; 
2) Monarquianismo modalista ou patripassiano: o Filho é considerado 
como uma mera modalidade do Deus único; 
3) Arianismo: fixava uma tesa subordinacionista, considerando o Filho 
como a criatura primeira e mais perfeita de Deus; 
4) Macedonianismo: os pneumatômacos consideravam o Espírito Santo 
como criatura do Filho; 
5) Apolinarismo: Jesus não teria vontade humana ou alma espiritual, 
sendo o Lógos responsável pelas funções vitais da natureza humana assumida 
pelo próprio Lógos; 
6) Nestorianismo: afirmava que, em Jesus, havia duas pessoas, uma 
divina (o Lógos) e a outra humana, gerada por Maria, que se tornava, com isso, 
mãe de Cristo e não mãe de Deus; 
7) Monofisismo: afirma que em Jesus há uma só natureza e uma só 
pessoa (a divina); 
8) Donatismo: recusam-se a reconhecer como válido os sacramentos 
realizados por ministros que não fossem dignos; 
9) Pelagianismo: dispensa qualquer obra de Deus na salvação humana, 
reduzindo o papel de Cristo a um simples exemplo, que os homens deveriam 
esforçar-se a seguir, através de rígidas práticas ascéticas. 
A chamada “paz de Constantino” não trouxe somente conversões fáceis, 
mas também favoreceu o contato do Cristianismo com alguns elementos 
culturais das religiões pagãs. Em decorrência, alguns costumes foram 
introduzidos e cristianizados, de forma que hoje temos alguns exemplos: o 
beijo no altar e nas imagens, a multiplicação dos atributos divinos, e o costume 
de batizar voltado para o Oriente. 
Agora, as celebrações ocorrem em imponentes basílicas, o que exige 
uma liturgia mais solene e elaborada, incluindo um altar para o culto. 
Batistérios são construídos nas entradas das Igrejas, para lembrar que se entra 
no Corpo Místico de Cristo por esse sacramento. Além disso, os paramentos 
utilizados começam a se assemelhar com aqueles usados pelos soldados e 
pela corte romana. 
O domingo passa a ser protegido por lei do Estado e agora se tem o 
direito de celebrar livremente. 
Como o período de martírio havia acabado, os cristãos desenvolveram 
uma outra maneira de entregar a vida totalmente a Deus: o monarquismo 
(inicia aqui a vida nos mosteiros). 
Temos o surgimento das famílias litúrgicas. Nos grupos orientais de 
famílias litúrgicas, temos como exemplo: 
a) Liturgia maronita, da Síria central: usa uma adaptação do Cânon 
Romano; 
b) Liturgia bizantina, de Bizâncio (que já foi Constantinopla e é, 
atualmente, chamada Istambul): predominância de ícones; ano litúrgico com 
ciclo fixo (setembro a agosto) e móvel (centrado na Páscoa); 
c) Liturgia copta, do Egito: liturgia do incenso inicia a celebração 
Eucarística; quatro leituras na Liturgia da Palavra; trinta e duas festas para 
Maria. 
Nos grupos ocidentais de famílias litúrgicas, é preciso citar os dois 
principais: 
a) Liturgia romana (ou romana pura): (1) simplicidade, sobriedade e 
pouco sentimentalismo; (2) textos de notável valor literário; (3) as orações são 
dirigidas ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo; (4) possui uma única anáfora, 
que é chamada de Canon Romano; (5) pouca ou nenhuma manifestação 
exterior; (6) forte consciência de comunidade. 
b) Liturgia galicana (onde hoje encontra-se a França): (1) tom solene, 
muitas vezes prolixo; (2) considerável sentimentalismo e certo apelo à 
teatralização dos rituais; (3) as orações são dirigidas a Cristo; (4) as fórmulas 
da oração eucarística variam todos os dias; (5) maior individualismo na oração. 
Neste período começam-se a organizar os livros litúrgicos, com as 
orações para a celebração eucarística e para os sacramentos; o lecionário, 
com as leituras usadas na liturgia e as antífonas que eram cantadas nas 
celebrações. 
Liturgia de Gregório Magno a Gregório Vii 
 Gregório Magno, eleito Papa em 590, tem a difícil missão de liderar a 
conversão dos povos bárbaros que habitavam a Europa ocidental naquela 
época. Com São Gregório Magno, tem-se início ao que a Sacrossanctum 
Concilium chama de “canto próprio para a liturgia romana”, o que hoje 
conhecemos como canto gregoriano. O canto gregoriano é um tipo de música 
monofônica, de ritmo livre. O texto utilizado como letra para as melodias é, 
quase que na totalidade, retirado da Sagrada Escritura, o que (1) isenta a 
música de possíveis erros teológicos; (2) facilita sua vinculação com os textos 
bíblicos a serem utilizados nas leituras litúrgicas; e (3) promove maior contato 
do fiel com a Palavra de Deus, de forma cantada, para facilitar a memorização. 
 Foi também o Papa Gregório Magno que, em resposta à auto-atribuição 
do Patriarca de Constantinopla com o título de Ekumenikós, atribuiu-se o título 
de Servus Servorum Dei (Servo dos Servos de Deus) – título até hoje utilizado 
pelos papas ao assinar documentos oficiais. 
 Desenvolve-se a liturgia romana, chamada de “pura”, com as seguintes 
características: (1) sobriedade; (2) grandeza de estilo literário dos textos 
litúrgicos; (3) a oração sempre se orienta ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo; 
(4) não há manifestações exteriores de veneração; e (5) a liturgia tem uma forte 
noção de vivência em comunidade e sempre está ligada a ela. 
 Para reforçar a consciência da autoridade e centralidade do poder papal, 
Gregório VII: (1) aboliu a liturgia hispânica; (2) determinou que as festas dos 
papas santos fossem celebradas universalmente; e (3) instituiu o juramento de 
fidelidade ao Papa na ordenação episcopal. Os objetivos da Reforma 
Gregoriana eram: aumentar o apreço pelo sacerdócio; cultivar o sentido de 
mistério nas celebrações; e abrir espaço às devoções. 
Em sua luta pela reforma da Igreja, Gregório VII adotou a liturgia como 
mecanismo de mudança e moralização do clero. Interpretou a liturgia como 
atividade própria do clérigo e que exige retidão moral e santidade de vida para 
aqueles que são responsáveis por ela. Como a liturgia é o ato mais nobre da 
vida do clérigo, deve ser celebrada obrigatoriamente. Surge, então, a chamada 
missa privada, celebrada apenas por um sacerdote. Para que isso fosse 
possível num contexto de abundância de ministros ordenados, a solução foi a 
construção de diversos altares em uma mesma igreja. Dessa forma surgiram 
os altares laterais que hoje encontramos nas igrejas mais antigas. 
 A percepção dos sacramentos também muda nesse período. Eles 
deixam de ser vistos como aquilo que realmente são: celebração do mistério 
pascal de Cristo; e passam a ser encarados como um remédio misterioso, 
beirando um ato de superstição. 
A Liturgia do Concílio de Trento 
 Com a crescente onda protestante, a Igreja Católica necessitou rever 
seus atos e sua forma de agir com o povo, a isso chamamos de Contra 
Reforma que aconteceu com o Concílio de Trento. Este se deu em três fases: 
1) De 1545 a 1547, de modo geral, trata da Sagrada Escritura e dos 
sacramentos do Batismo e da Reconciliação; 
2) De 1551 a 1552, cuida dos sacramentos da Eucaristia, Unção dos 
Enfermos e Confirmação; 
3) De 1561 a 1563, fala da comunhão sob duas espécies, do caráter 
sacrifical da missa e da doutrina dos sacramentos do Matrimônio e da 
Ordem. Alguns autores sintetizam as vitórias de Trento em três áreas: 
fixou a doutrina católica em definições dogmáticas precisas, decretou 
numerosos documentos disciplinares, e incentivou e disciplinou a 
participação nos sacramentos. 
O concílio reformador de Trento condenou apenas os abusos mais 
graves e defendeu a verdadeira fé; mas para a uma profunda reforma da 
liturgia faltavam os pressupostos: o conhecimento da origem de cada 
elemento da liturgia e da estrutura de suas formas. Pio V publicou, em 
1570, o Missal Romano. Outros livros litúrgicos foram publicados em 
seguida: o Pontifical Romano (1596), o Cerimonial dosBispos (1600) e o 
Ritual Romano (1674). 
 A reforma estabelecida por Pio V salvaguardou a liturgia em 
diversos âmbitos, porém alguns elementos forma criando ao longo dos 
séculos uma barreira quase intransponível entre o clero e o povo, entre 
Deus e os fieis. O latim foi mantido, o que excluiu qualquer participação do 
povo na celebração. As rubricas receberam uma importância até então não 
conhecida, o que faz este período ser conhecido como “tempo das 
rubricas”. As igrejas são construídas com amplos espaços; o culto das 
relíquias desaparece quase por inteiro; a devoção exagerada dos santos é 
substituída pela veneração à Virgem Maria. Há uma forte manifestação de 
piedade pelo Santíssimo Sacramento, neste sentido, o fato de ver a hóstia 
consagrada já era o suficiente, reduzindo assim a participação na 
comunhão. Encontramos aqui a introdução dos sinos e da elevação das 
espécies após a consagração. 
A Liturgia no Concílio Vaticano Ii 
No começo do séc. XX tem início uma grande cruzada de reforma e 
renovação litúrgicas na Igreja do Ocidente. Trata-se do “movimento litúrgico”, 
que teve sua pré-história no período do Iluminismo (séc. XVIII) e da 
restauração católica (séc. XIX). 
A partir de 1909 desenvolve-se o movimento litúrgico propriamente dito: 
uma grande cruzada se inicia por meio de investigações históricas e teológicas, 
congressos, cursos, conferências e amplo trabalho de pastoral litúrgica, 
promovendo a participação do povo nas celebrações. A isso contrapõe-se uma 
secular cultura religiosa, caracterizada pelo devocionismo e que era amenizada 
pelo movimento litúrgico e sua pregação para uma volta às fontes. 
Finalmente, destacamos o maior mérito do movimento litúrgico: legou 
um amplo e alicerçado instrumental (histórico, teológico, pastoral e pessoal) 
para que o Concílio Vaticano II impusesse sua reforma litúrgica na Igreja. 
O Concílio Vaticano II, que teve abertura oficial em 1962, editou seu 
primeiro documento no dia 04 de dezembro de 1963: a Constituição 
Sacrosanctum Concilium. Este documento não trata apenas de “considerar 
as [reformas] que poderíamos definir como reformas espetaculares, como a 
comunhão sob duas espécies, a concelebração e a adoção da língua vernácula 
para o uso litúrgico. Trata-se, sobretudo, de uma visão mais profunda e de uma 
ideia mais completa do que é liturgia e de como ela, em conformidade com este 
melhor conhecimento que dela temos, deve encontrar a fonte que melhor se 
adapta ao nosso mundo de hoje.” 
Após esta constituição outros documentos foram editados. O Missal Romano 
foi reestruturado e com isso nossas celebrações ganharam nova roupagem. 
Infelizmente, muitos curas de alma, interpretaram e continuam a interpretar 
erroneamente os avanços conciliares no âmbito litúrgico, por isso nos 
deparamos com diversas extravagâncias celebrativas. 
Ano Litúrgico 
 A liturgia é feita de sinais sensíveis do nosso cotidiano. Na celebração 
eucarística um dos sinais sensíveis é a ceia, no Batismo a água e no ano 
litúrgico, o sinal sensível mais importante é o tempo. 
 Há uma estreita relação entre a nossa vida e o tempo. O nosso ritmo 
biológico marcado pelas batidas do coração e pela respiração; pelo nascer, 
crescer e morrer está em perfeita harmonia com o ritmo cósmico: o pulsar da 
terra, a alternância do dia e da noite, as fases da lua, a mudança das estações 
e a contínua gestação da terra, o tempo de plantar e o tempo de colher, tempo 
das chuvas e tempo da seca. O relógio reflete a movimentação absolutamente 
precisa dos astros à qual está condicionada a vida no universo. O relógio é a 
necessária medição do tempo que possibilita realizar acordos temporais em 
função da sobrevivência e da convivência em todos os níveis. 
 Mas o relógio traz também a consciência da finitude humana. Quanto 
mais temos a ilusão de controlar o tempo com a preciso dos nossos 
planejamentos e com a eficiência do nosso trabalho, mis compreendemos que 
o tempo nos escapa e nos consome. Para os gregos, este tempo sequencial 
que pode ser medido, este tempo que passa deixando as suas marcas, é 
kronos, o deus que devora os próprios filhos para não deixar herdeiros. Hoje, 
com o fenômeno da aceleração, que exige sempre maior rapidez, o „relógio‟ 
exerce uma verdadeira tirania na vida das pessoas, consumindo precocemente 
as energias. 
 Contudo, os gregos usam outro conceito para falar do tempo: Kairós. É 
o tempo indeterminado, não linear, o tempo surpreendente dos acontecimentos 
imprevistos que pode mudar os rumos da vida, é o tempo propício vivido 
também no corriqueiro dos nossos cotidianos. Na perspectiva do kairós a vida 
é uma oportunidade ímpar e cada momento valioso. O kairós pede que 
estejamos despertos com todos os nossos sentidos em cada momento da vida. 
Em linguagem espiritual, kairós é o tempo da graça. 
 O ano litúrgico celebra o mistério pascal de Cristo no decorrer de um ano 
solar. Ao longo desse ano, acontecem todas as festas e ações sacramentais, 
dado que é uma espécie de estrutura que sustenta todo o mistério do culto 
cristão. O ciclo do ano litúrgico, organizado em seus tempos e em suas 
grandes festas, é o ritmo fundamental da vida de oração e de celebração da fé 
dos cristãos. 
 Estudar o ano litúrgico consiste não simplesmente em conhecer um 
calendário, o qual é apenas sua expressão formal e prática, mas em entrar no 
mistério do tempo, atravessado pela obra de Deus, no qual a Igreja peregrina 
celebra suas ações salvíficas, em especial Jesus Cristo, centro da história e da 
esperança dos crentes. 
Segundo os atuais livros da liturgia romana, o ano litúrgico começa no 1º 
Domingo do Advento e se encerra na solenidade de Jesus Cristo Rei do 
Universo. O ano litúrgico foi se desenvolvendo lentamente. O surgimento dos 
livros litúrgicos conduziu aos poucos à concepção do ano eclesiástico como um 
ciclo anual diferente do ano civil em seu início e em sua estrutura. 
O ano litúrgico deve ser considerado uma verdadeira liturgia, isto é, o 
conjunto dos momentos salvíficos, celebrados ritualmente pela Igreja sobretudo 
por meio da Eucaristia, como memorial dos acontecimentos com os quais se 
realizou na história o mistério da salvação. O ano litúrgico é a celebração e 
atualização do mistério de Cristo no tempo. Portanto, ele não pode ser reduzido 
a um simples calendário de dias e meses aos quais estão ligadas as 
celebrações religiosas, sendo na verdade a presença em modo sacramental e 
ritual do mistério de Cristo no espaço humano. Ou seja, o ano litúrgico não é 
uma ideia, mas uma Pessoa, Jesus Cristo. 
A estrutura do ano litúrgico 
 O ano litúrgico encontra sua melhor representação na espiral 
ascendente: ela contém tanto o círculo, que representa o retorno anual dos 
mesmos tempos e festas, como a linha, que projeta o tempo litúrgico rumo à 
meta da Parusia (segunda vinda de Jesus Cristo). Trata-se de um circulo 
evolutivo, que jamais gira exatamente sobre si mesmo, mas que a cada volta 
encontra-se mais perto do encontro definitivo da Igreja com o Senhor. 
 
 Todo ano repete-se e ao mesmo tempo se vive algo irrepetível. Nunca 
as pessoas nem as comunidades que celebram são as mesmas do ano 
anterior, nem o é o mundo em que a Igreja está inserida. A estrutura 
celebrativa, porém, é sempre a mesma, enquanto a Igreja não a mude: também 
ela está sujeita a permanente reforma a fim de melhor responder aos sinais dos 
tempos. 
O calendário litúrgico 
 É considerado calendário litúrgico a lista ordenada cronologicamente das 
celebrações da Igreja universal e de cada Igreja particular ao longo dos dias de 
um ano. Ele é um instrumento pastoral indispensável por trazer as datas 
celebrativas (solenidades, festas, memórias e dias feriais) de cada localidade. 
Nele encontra-se especialmente os marcos para a celebração eucarística e 
para a Liturgia das Horas, pois são as celebrações mais frequentes da Igreja.O calendário, hoje utilizado, foi profundamente revisado pelos peritos do 
Concílio Vaticano II, sendo aprovado em 14 de fevereiro de 1969. 
 “Nos diversos tempos do ano litúrgico, segundo as 
práticas tradicionais, a Igreja instrui seus fiéis por meio de 
exercícios piedosos da alma e do corpo, da doutrina da 
oração e das obras de penitência e de misericórdia” 
(Introdução ao Calendário Romano, 1). 
O Domingo 
 Devido à tradição apostólica que tem sua origem do dia mesmo da 
ressurreição de Cristo, a Igreja celebra cada oitavo dia o Mistério Pascal. Esse 
dia chama-se justamente dia do Senhor (Dies Domini) ou domingo. Neste dia, 
os cristãos devem reunir-se para que, ouvindo a Palavra de Deus e 
participando da Eucaristia, lembrem-se da paixão, ressurreição e glória do 
Senhor Jesus e deem graças a Deus que os „regenerou para a viva esperança, 
pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos‟ (1Pd 1,3). Por isso, o 
domingo é um dia de festa primordial que deve ser lembrado e inculcado à 
piedade dos fiéis de modo que seja também um dia de alegria e de descanso 
do trabalho. As outras celebrações não lhe anteponham, a não ser que 
realmente sejam de máxima importância, pois o domingo é o fundamento e o 
núcleo do ano litúrgico. É o dia da ressurreição do Senhor, que desde a 
comunidade cristã neotestamentária se erige no dia da páscoa semanal, 
ritmando o tempo da Igreja pela celebração da eucaristia, memorial da morte e 
da ressurreição de Jesus Cristo. 
 O ano está dividido em três ciclos, de extensão variadas: são os ciclos 
da Páscoa e da manifestação do Senhor, que se ordenam em torno das duas 
grandes festas cristãs, a Páscoa e o Natal, e o Tempo comum. O conjunto 
deles abarca a totalidade do ano solar. 
 O ciclo pascal é composto pela Quaresma, pelo Tríduo Pascal e pela 
cinquentena pascal que culmina em Pentecostes e tem uma duração total de 
treze semanas e meia. A Quaresma começa na Quarta-Feira de Cinzas, cuja 
data é móvel, dependendo da data da celebração da Páscoa, e dura quarenta 
dias, terminando na tarde da Quinta-Feira Santa. Com a celebração da Ceia do 
Senhor temos o início do Tríduo Pascal, cujo centro é a Vigília Pascal, 
terminando com a véspera do domingo da ressurreição. 
 O ciclo da manifestação é constituído pelo tempo do Advento e pelo 
tempo do Natal, tendo uma duração variável. O Advento consta de três a 
quatro semanas que vão do 1º domingo do Advento à solenidade do Natal, e 
está marcado pelos quatro domingos. A extensão do Advento dependerá do dia 
em que ocorrer o Natal. Depois do Natal, a festa prolonga-se na “oitava” e no 
tempo do Natal, que culmina na festa do Batismo do Senhor. 
 O tempo Comum é composto por 33 ou 34 semanas. Seu ritmo é 
particularmente marcado pelos domingos. Ele é denominado “comum” por
 que não como objeto a celebração particular de algum mistério preciso 
de Cristo. Além disso, celebra-se durante o tempo comum uma série de outras 
festas do Senhor, da Virgem Maria e dos santos que ocasionalmente podem 
ocorrer dentro de outro tempo. A chave de leitura desse tempo é sempre o 
mistério de Cristo. A leitura semi contínua do evangelho ocupa o centro da 
espiritualidade cristã porque nos propõe a própria vida e as palavras de Jesus, 
não apenas nas celebrações de seus grandes mistérios, mas também na 
normalidade evangélica da palavra de Jesus, de seus gestos e de seus 
ensinamentos. Ao contemplarmos o mistério de Cristo durante este tempo nos 
enxergamos como discípulos que escutam e seguem o Mestre em sua vida 
cotidiana. 
 As festas do ano Litúrgico são: 
Móveis: 
 Santíssima Trindade: primeiro domingo depois de Pentecostes; 
 Corpus Christi: celebrado na segunda quinta-feira depois de 
Pentecostes; 
 Sagrado Coração de Jesus: terceira sexta-feira depois de 
Pentecostes; 
 Jesus Cristo, Rei do Universo: último domingo do Tempo Comum. 
Dias fixos: 
 Apresentação do Senhor: dia 02 de fevereiro; 
 Anunciação do Senhor: dia 25 de março; 
 Transfiguração do Senhor: dia 06 de agosto; 
 Exaltação da Santa Cruz: dia 14 de setembro. 
Festas da Virgem Maria 
Solenidades: 
 Santa Maria, Mãe de Deus: dia 01 de janeiro; 
 Assunção da Santíssima Virgem: dia 15 de agosto; 
 Imaculada Conceição de Maria: dia 08 de dezembro. 
Festas: 
 Visitação da Virgem Maria: dia 31 de maio; 
 Natividade da Virgem Maria: dia 08 de setembro. 
Memória obrigatória: 
 Santa Maria Rainha: dia 22 de agosto; 
 Nossa Senhora das Dores: dia 15 de setembro; 
 Nossa Senhora do Rosário: dia 07 de outubro; 
 Apresentação da Virgem Maria: dia 21 de novembro; 
 Imaculado Coração de Maria: celebrado no sábado depois do 
Sagrado Coração de Jesus 
Memórias facultativas 
 Nossa Senhora de Lourdes: dia 11 de fevereiro; 
 Nossa Senhora do Carmo: dia 16 de julho; 
 Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior: dia 05 de agosto. 
Festa dos santos 
 A Igreja, ao celebrar a cada ano a memória dos santos, celebra a 
realização do mistério pascal de Cristo na vida deles, por este motivo os santos 
são propostos como modelos de vida cristã. 
Instrução Geral ao Missal Romano 
 
O Concílio Vaticano II apresentou diversas mudanças para a Igreja, 
mostrou novos caminhos a serem seguidos, mas com um único objetivo: diante 
das mudanças apresentadas pelo mundo adaptar-se, sem perder a essência 
cristã, para anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. Uma das mudanças mais 
falada são as reformas litúrgicas. E para auxiliar os ministros ordenados e o 
Povo de Deus nesta adequação, os livros litúrgicos passaram por 
reestruturação. O Missal Romano, apresenta as normas universais do ano e do 
calendário litúrgico, orientações para as diversas funções e ministérios dentro 
das celebrações. 
A Instrução Geral ao Missal Romano (IGMR) está assim dividida: 
Proêmio 
Capítulo I – Importância e dignidade da celebração eucarística 
Capítulo II – Estrutura, elementos e partes da missa 
Capítulo III – Funções e ministérios na missa 
Capítulo IV – As diversas formas de celebração da missa 
Capítulo V – Disposição e ornamentação das Igrejas para a celebração da 
Eucaristia 
Capítulo VI – Requisitos para a celebração da missa 
Capítulo VII – Como escolher a missa e suas partes 
Capítulo VIII – Missas e orações para diversas circunstâncias e missas pelos 
fieis defuntos 
 No Proêmio encontramos uma explicação e fundamentação teológica do 
novo Missal Romano. O Missal de Pio V, promulgado em 1570, continha 
diversos elementos valorosos catequéticamente, porém era pouco prático para 
a vida pastoral. Por isso, o novo Missal promulgado por Paulo VI em 1969 traz 
elementos que favorecem o Povo de Deus a uma salutar participação das 
celebrações litúrgicas. 
 No primeiro capítulo será tratada a questão da importância da 
celebração eucarística para a vida do cristão e a dignidade com que deve ser 
celebrada. No segundo capítulo começamos a lidar com a prática da missa, 
passando pelos diversos elementos que compõe a Santa Missa, explicando as 
partes que são próprias do sacerdote e o que compete ao povo. Fala da 
importância do canto que acompanha a ação litúrgica, os gestos e posições 
celebrativos e brevemente sobre o silêncio, elemento de profunda importância 
na celebração. Vai tratar da missa parte por parte. 
 Posteriormente, no terceiro capítulo encontramos as funções que são 
desempenhadas por todos os participantes da celebração. Começa 
descrevendo as funções e ministérios da ordem sacra (Bispos, Padres e 
Diáconos), depois ensinará sobre o papel do Povo de Deus e os ministérios 
que por ele podem ser desempenhados. No quarto capítulo encontramos as 
diversas formas de celebração da missa: a missa com o povo, que é conhecida 
por todos, pois é desta celebração que usualmente participamos, sendo aqui 
descrito as funções do diácono, do acólito instituído, do leitor instituído e das 
missas concelebradas por outros sacerdotes, em torno da mesmaMesa 
Eucarística. Por fim descreve a missa celebrada sem o povo. Orienta quanto ao 
uso do incenso e da comunhão sob duas espécies. O quinto capítulo traz os 
princípios gerais sobre a disposição do espaço litúrgico e como este deve ser 
ornamentado. No capítulo que trata sobre os requisitos para a celebração da 
Santa Missa, encontramos as orientações quanto ao pão e o vinho que serão 
consagrados, as alfaias e os vasos sagrados que serão utilizados para a 
celebração, bem como as orientações quanto às vestes sagradas utilizadas 
pelos ministros ordenados. No capítulo 7º teremos algumas orientações com 
relação à escolha das missas, falando-nos das solenidades, festas, memórias e 
dias feriais. Orienta-nos também quanto à escolha dos cantos que animarão a 
celebração. Por fim, teremos no oitavo capítulo as indicações para as missas 
celebradas em diversas circunstâncias, neste caso, as missas unidas à 
celebração de certos Sacramentos e Sacramentais, missas votivas à Nossa 
Senhora, Santos padroeiros ou fundadores congregacionais. Outra orientação 
que encontramos é para as missas exequiais, ou seja, missa de corpo 
presente; também missas pelos fieis defuntos em seu sétimo dia de 
falecimento ou aniversário da Páscoa definitiva. 
 O corpo do Missal segue a seguinte ordem: 
- Próprio do tempo 
- Ordinário da Missa 
- Ordinário da Missa com Canto 
- Próprio dos Santos 
- Missas Comuns 
- Missas Rituais 
- Missas e Orações para Diversas Necessidades 
- Missas Votivas 
- Missas dos Defuntos 
- Completam o Missal quatro Apêndices, com formulários diversos. 
 
O Próprio do Tempo 
O Missal apresenta os diversos Tempos do Ano Litúrgico, do I Domingo 
do Advento ao XXXIV Domingo do Tempo Comum (Solenidade de Nosso 
Senhor Jesus Cristo Rei do Universo), dispostos pela seguinte ordem: 
 
• Tempo do Advento (p. 103-131), 
• Tempo do Natal (p. 137-164), 
• Tempo da Quaresma (p. 167-241), 
• Sagrado Tríduo Pascal (p. 245-328), 
• Tempo da Páscoa (329-391) 
• Tempo Comum (p. 395-430). 
• Solenidades do Senhor no Tempo Comum (Santíssima Trindade, Santíssimo 
Corpo e Sangue de Cristo e Sagrado Coração de Jesus) (p. 431-436). 
Para cada dia do Advento, do Natal, da Quaresma e do Tempo Pascal, o 
Missal contém a Oração da Coleta, a Oração sobre as Oblatas (ofertas) e a 
Oração depois da Comunhão, e ainda a Antífona de Entrada e a Antífona de 
Comunhão. 
Durante o Tempo Comum, as orações e antífonas próprias para cada 
Domingo, repetem-se depois durante os dias feriais, se outro critério não for 
usado. 
 
O Ordinário da Missa 
Apresenta-se em duas modalidades: uma sem canto (p. 440-549), e 
outra com canto (p. 576-800). Contém as intervenções do Presidente da 
assembleia e as respostas do Povo comuns a todas as Missas. Ou seja: 
 
1. Ritos Iniciais (p. 440-445) 
 
- Signação (Sinal da Cruz) 
- Saudação (várias formas) 
- Ato Penitencial (três formas) 
- Invocações Kyrie eleison (omite-se quando é utilizada a terceira forma ou o 
Rito para a aspersão dominical da água benta (Apêndice IV, p. 1359-1365). 
- Hino de Louvor (Glória a Deus) 
- Oração Coleta (conforme o Próprio do Tempo) 
 
2. Liturgia da Palavra 
 
Para a Liturgia da Palavra – leituras e cânticos salmódicos – é preciso 
recorrer ao Lecionário. De fato, o Missal, ao contrário daquilo que o nome 
sugere, não contém todas as partes da Missa. Para a celebração, são 
necessários dois livros: o Missal e o Lecionário. O Missal é o livro do 
Presidente; o Lecionário, o livro do Leitor. Fica assim mais patente a distinção 
de ministério e funções na assembleia celebrante. 
Os elementos da Liturgia da Palavra que constam do Ordinário são os 
seguintes: 
- Profissão de Fé 
• Símbolo Niceno-Constantinopolitano (p. 448) 
• Símbolo dos Apóstolos (449) 
- Oração Universal ou Oração dos Fiéis 
Atualmente existe um livro próprio com todos os formulários para a Oração 
Universal ou dos fiéis, no Missal existem alguns formulários no Apêndice IV (p. 
1366-1380). 
 
3. Liturgia Eucarística 
 
- Preparação das Oferendas (p. 450-451) 
- Oração sobre as Oblatas (conforme o Próprio do Tempo) 
- Oração Eucarística 
São 114 o número de Prefácios, encontrando-se no Ordinário os mais 
utilizados (p. 453-513); 
Incluídas no Ordinário, há 4 Orações Eucarísticas (p. 515-543); porém, no 
Missal, temos ainda as seguintes: 
 4 Orações Eucarísticas para as Missas diversas (p.1157-1179); 
 Orações Eucarísticas para as Missas da Reconciliação (Apêndice I, p. 
1314- 1325); 
 Orações Eucarísticas para as Missas com Crianças (Apêndice II, p. 
1326-1341). 
 
4. Ritos da Comunhão (p. 544-547) 
 
-Pai Nosso 
-Embolismo -Rito da Paz 
-Comunhão 
-Oração depois da Comunhão (conforme o Próprio do Tempo) 
 
5. Ritos de Conclusão (p. 548-549) 
 
-Bênção Final 
Em certos dias e em ocasiões especiais, a Bênção Final pode ser 
precedida de outra forma de Bênção Solene ou da Oração de Bênção sobre o 
Povo que no Missal vêm a seguir ao Ordinário (p. 553-567 e 569-574, 
respectivamente). 
-Despedida 
 
O Próprio dos Santos (p. 803-997) 
 
É o conjunto dos formulários próprios para as solenidades, as festas e 
as memórias dos Santos desde o dia 2 de Janeiro a 31 de Dezembro, bem 
como as solenidades e festas do Senhor, excetuando as que estão incluídas no 
Próprio do Tempo. 
Nas solenidades, festas e memórias obrigatórias, os formulários 
indicados no Missal são obrigatórios. Nas memórias facultativas, deixa-se uma 
grande margem de liberdade quanto à escolha de formulários. 
 
Missas Comuns (p. 1001 -1057) 
 
É um conjunto de formulários que servem indistintamente para 
comemorações do mesmo tipo. Seguem uma ordem de importância: 
 
-Comum da Dedicação de uma Igreja 
-Comum de Nossa Senhora 
-Comum dos Mártires 
-Comum dos Pastores da Igreja 
-Comum dos Doutores da Igreja 
-Comum das Virgens 
-Comum dos Santos e Santas 
 
Missas Rituais (p. 1061-1150) 
 
São Missas próprias para a celebração dos sacramentos (só a 
Penitência não tem Missa própria) e para algumas outras celebrações de 
grande importância: catecumenato, viático, bênção abacial, consagração das 
virgens, profissão religiosa e dedicação de uma igreja ou de um altar. 
 
Missas e Orações para Diversas Necessidades (p. 1155-1250) 
 
Trata-se de uma série de Missas próprias para diversas circunstâncias 
ou diferentes necessidades. No Missal, vêm distribuídas em 4 grupos: 
 
-Pela Igreja (p. 1181-1213) 
-Pela sociedade civil (p. 1214-1222) 
-Em diversas circunstâncias da vida social (p. 1223-1242) 
-Por alguma necessidade particular (p. 1243-1250). 
Esta seção do Missal abre com a Oração Eucarística V, que possui 4 
prefácios próprios e as intercessões correspondentes às diversas 
circunstâncias ou necessidades. 
 
Missas Votivas (p. 1253-1274) 
 
São Missas que podem ser escolhidas segundo a piedade dos fiéis, para 
celebrar alguns mistérios cristãos. 
Por exemplo: Na 1ª Sexta-feira do mês, se o Diretório Litúrgico não 
indicar nada em contrário, pode substituir-se a Missa do Próprio do Tempo, 
pela Missa Votiva do Sagrado Coração de Jesus. 
 
Missas de Defuntos (p. 1277-1312) 
São Missas próprias para as exéquias ou para o aniversário de um 
falecimento. Além das 3 Missas próprias para o Dia dos Fiéis Defuntos. 
 
Liturgia dos Sacramentos 
Os sete sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos 
importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do cristão origem e 
crescimento, cura e missão. Nisto existe uma certa semelhança entre as 
etapas da vida natural e as da vida espiritual. Os sacramentos devem ser sinais 
de vida, os ritos visíveis servem para expor a comunhão entre Deus e a 
humanidade. Durante muito tempo, prevaleceu na Igreja uma concepção que 
considerava os sacramentos como meros ritos, administrados aos que os 
pediam. Com a renovação litúrgica colhida e promovida pelo Vaticano II, 
modificaram-se em ampla medida a atitude e a práticamencionadas, os 
sacramentos são, portanto, reconhecidos como celebrações. 
A gratuidade do amor divino que se oferece no dinamismo sacramental é 
uma das dimensões que contemplam a espiritualidade existente nos 
sacramentos ofertados pela Igreja. A prática dos sacramentos deve ser uma 
profissão de fé que inclua toda a existência humana em toda a sua 
complexidade. Preocupamo-nos muitas vezes com ações ou omissões 
pontuais como se tratasse de satisfazer um frio código de preceitos e mal 
revisamos nossas atitudes na vida. Outra dimensão importante a ser 
considerada é a comunitária. Pelo batismo o fiel é ingresso numa comunidade, 
onde deve viver em função comum. A confirmação corrobora a ação do Espírito 
Santo na vida do cristão, esta atuação não deve ser inerte, mas dinâmica, 
como o próprio Espírito. Portanto, deve ser uma ação de inserção comunitária, 
onde se coloca os dons e talentos a serviço da Igreja. A eucaristia é recebida 
como alimento que fortalece, vivifica, plenifica e auxilia o fiel na vivencia em 
sociedade. Não se recebe a eucaristia para guardar a graça para si, de forma 
egoísta, ela deve ser transmitida aos quatro cantos do mundo. A vivência 
matrimonial e da ordenação é puramente serviçal, pois estes sacramentos 
existem para que a pessoa se realize por meio do serviço ao outro. Até mesmo 
os sacramentos de cura existem para que haja uma melhor vivencia 
comunitária, porque, tendo recebido estes, o indivíduo se compromete com 
Deus em praticar o bem, principalmente com o próximo. 
Como vimos os sacramentos podem ser classificados em três classes: 
sacramentos de iniciação cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia), de cura 
(Reconciliação e Unção dos Enfermos) e de serviço (Matrimônio e Ordem). A 
seguir iremos trabalhar cada classe dos sacramentos. 
SACRAMENTOS DE INICIAÇÃO CRISTÃ 
Pelos sacramentos de iniciação cristã são colocados os fundamentos de 
toda vida cristã, tem como finalidade a entrada num “mistério”: a inserção no 
mistério pascal de Cristo. Isto é, o cristão inicia-se no mistério pascal. O traço 
característico é o caráter pessoal desse mistério. Não se trata de um elemento 
mítico, mas sim de estritamente histórico; não se trata de uma doutrina, mas 
sim de uma pessoa. Não é a entrada numa comunidade que se auto abastece 
de sentido, mas a comunhão com o Deus revelado por Jesus Cristo na unidade 
do Espírito Santo. 
São realidades simbólicas, elementos visíveis por meio dos quais Cristo 
comunica com sua presença o que os símbolos significam: o mistério na 
história. A Igreja não se inicia no mistério por algum meio mágico, mas sim 
pelos ritos e símbolos que manifestam, contêm e realizam o mistério, de modo 
que esses ritos são, ao mesmo tempo, meio e objeto da iniciação. Em geral, 
iniciação cristã é o processo por meio do qual uma pessoa é introduzida no 
mistério de Cristo e na vida da Igreja, por meio de certas mediações 
sacramentais, que acompanham a mudança de sua atitude fundamental, de 
seu ser e de seu existir com os outros e no mundo, de sua nova identidade 
como pessoa cristã fiel. 
O Batismo 
Este sacramento é o pórtico da vida no Espírito e a porta que abre o 
acesso aos demais sacramentos. Pelo batismo somos libertados do pecado e 
regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, e somos 
incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão. 
Celebrar o batismo, de preferência no dia do Senhor, dia em que Jesus 
ressuscitou glorioso dentre os mortos, é o melhor contexto para compreender 
este sacramento como “porta” na vida da Igreja. Cristo passou das trevas do 
sepulcro à luz da vida, o mesmo acontecendo a um batizado. O domingo é o 
dia da ressurreição de Jesus, dia da assembleia dos fiéis, dia da Eucaristia. 
A vigília pascal, “mãe de todas as vigílias”, vigília da Palavra e da luz, 
oferece-nos o quadro ideal para enfatizar que o batismo é “iluminação” e que o 
batizado é um filho da luz que, pela presença do Espírito, mostra-se capacitado 
para realizar as obras da luz e, assim, envergar com dignidade sua veste 
branca sem mácula, coerente com vida de ressuscitado recebida. 
O Povo de Deus, isto é, a Igreja, representada pela comunidade local, 
tem uma participação importante no batismo, pois ela se compromete em 
auxiliar os pais e padrinhos na educação da fé do neófito. 
O rito batismal é composto por diversos elementos que expressam o 
caráter de discípulo-missionário, hoje, tanto anunciado pelo Magistério da 
Igreja. Começa com a acolhida da criança, dos seus pais e padrinhos, 
passando para o anúncio do nome que será dado a criança e o pedido do 
batismo, que é feito pelos pais. Assim iniciado, a criança é marcada com o sinal 
do cristão. Em sua fronte é traçado, pelo ministro, pais e padrinhos, o sinal da 
cruz. 
A Palavra de Deus ilumina com a verdade revelada os candidatos e a 
assembleia reunida. Com o exorcismo naquele que recebe o sacramento, tem 
a intenção de libertar a pessoa do pecado original passando à glória do 
ressuscitado. O óleo é usado como sinal de que o batizado é um atleta de 
Cristo, um homem forte que deverá resistir aos embates do mal. 
A água batismal é então consagrada por uma oração de epiclese2. Então 
o candidato é “mergulhado” em Cristo pelo banho batismal. Ser submerso na 
água e ser lavado por ela são atos que se integram ao simbolismo da sepultura 
 
2
 Na teologia cristã epiclese é a oração de invocação que pede a descida do Espírito Santo 
nos sacramentos. É especialmente importante e fundamental na missa, acontece depois 
do canto do Santo, em que o sacerdote pede que o Espírito Santo desça sobre a 
comunidade e as oferendas do pão e do vinho. 
e da purificação. A fórmula batismal é composta pela Santíssima Trindade, ou 
seja, o batismo deve ser realizado em nome do Pai e do Filho e do Espírito 
Santo. 
Após temos os ritos complementares: a unção com o santo Crisma, a 
veste branca e a vela que é acesa no Círio Pascal. Encerra-se a celebração 
com a benção à mãe, ao pai e à assembleia. 
Confirmação 
O sacramento da Confirmação constitui o conjunto dos sacramentos da 
iniciação cristã, cuja unidade deve ser salvaguardada. Pelo sacramento da 
Confirmação os fiéis são vinculados mais perfeitamente à Igreja, enriquecidos 
de força especial do Espírito Santo, e assim mais estritamente obrigados à fé 
que, como verdadeiras testemunhas de Cristo, devem difundir e defender tanto 
por palavras como por obras. 
Dentro da celebração ritual da Confirmação convém considerar os 
elementos próprios a ela: a imposição das mãos e a unção, acompanhada da 
signação ou selo espiritual. 
A imposição das mãos é um dos gestos mais repetidos na celebração 
dos sacramentos. Trata-se de um gesto polivalente, dotado da eloquente 
expressividade de mãos que se estendem sobre a cabeça de uma pessoa ou 
sobre uma coisa, se possível com contato físico. Pode indicar perdão, 
transmissão de força, consagração para uma missão, cura. Seu sentido se 
concretiza por meio das palavras que o acompanham em cada caso. 
A unção, no simbolismo bíblico e antigo, é rica de numerosos 
significados: o óleo é sinal de abundância e de alegria, ele purifica (unção 
antes e depois do banho) e amacia (unção dos atletas e dos lutadores); é sinal 
de cura, pois ameniza as contusões e as feridas, e faz irradiar beleza, saúde e 
força. Pela confirmação, os cristãos, isto é, os que são ungidos, participam 
mais intensamente da missão de Jesus e da plenitude do Espírito Santo a fim 
de que toda a vida deles exale “o bom odor de Cristo” (cf. 2Cor 2,15). 
Por esta unção, o confirmado recebe o selo do Espírito Santo. O selo é o 
símbolo da pessoa, sinal da sua autoridade, da sua propriedade sobre o objeto. 
Assim, os soldados eram marcados com o selo do seu chefe, e os escravos 
com o do seu proprietário. Também o cristão está marcado por um selo:“Aquele que nos fortalece convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, o qual 
nos marcou com um selo e colocou em nossos corações a penhor do Espírito” 
(2Cor 1,21-22). Este selo do Espírito Santo marca a pertença total a Cristo. 
A Eucaristia 
A Eucaristia é “fonte e ápice de toda a vida cristã” (LG 11). Os demais 
sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e tarefas 
apostólicas, se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a 
santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio 
Cristo, nossa Páscoa. Pela celebração Eucarística nos unimos à liturgia celeste 
e antecipamos a vida eterna, quando Deus será tudo em todos. 
A teologia litúrgica da celebração eucarística supera com clareza a visão 
dualista formulada pela teologia desde a Idade Média até o começo deste 
século. Não é possível considerar hoje a eucaristia como sacramento separado 
do sacrifício. Pelo contrário, uma visão unitária da eucaristia permite-nos 
afirmar que a celebração eucarística é o sacramento do sacrifício pascal de 
Cristo. Alimentados com essa comida, completa-se em nós a Páscoa do 
Senhor. A comunhão aumenta a nossa união com Cristo. Receber a Eucaristia 
na comunhão traz como fruto principal a união íntima com Cristo Jesus. 
SACRAMENTOS DE CURA 
O Senhor Jesus Cristo, médico de nossas almas e de nossos corpos, 
quis que sua Igreja continuasse, na força do Espírito Santo, sua obra de cura e 
de salvação, também junto de seus próprios membros. É esta a finalidade dos 
dois sacramentos de cura. 
Penitência ou Reconciliação 
Por meio deste sacramento recorre-se ao maior de Deus, sua 
misericórdia, e ao maior do homem, sua capacidade de reconhecer o mal 
causado e mudar o rumo da própria vida. Trata-se, pois, de um sacramento de 
maturidade. 
O rito do sacramento da Penitência contém ordinariamente os seguintes 
elementos: saudação e bênção do sacerdote, leitura da Palavra de Deus para 
iluminar a consciência e suscitar a contrição, exortação ao arrependimento; 
confissão que reconhece os pecados e os declara ao padre; imposição e 
aceitação da penitência; absolvição do sacerdote; louvor de ação de graças e 
despedida com a bênção do sacerdote. 
Unção dos Enfermos 
A doença é uma situação significativa da vida humana. Enfermidade, 
morte e pecado aparecem na Bíblia como realidades que se aliam e se 
conjuram contra o homem – realidades das quais Deus o liberta por meio da 
atualização da história da salvação. Por isso, a liturgia da Igreja acha-se 
presente nessa situação de sofrimento, por intermédio da celebração do 
sacramento da Unção dos Enfermos, como sinal eficaz da misericórdia salvífica 
de Deus, e para mostrar a solidariedade da própria Igreja com o enfermo. 
Na dinâmica ritual do sacramento da Unção dos Enfermos encontramos 
os elementos: ritos iniciais, que abrange a saudação inicial e a aspersão do 
enfermo, bem como o ato penitencial que só é feito quando não ocorre a 
confissão sacramental; a liturgia da Palavra; liturgia da unção, na qual o 
enfermo recebe a unção com o óleo dos enfermos na testa e nas mãos; liturgia 
de conclusão. 
SACRAMENTOS DO SERVIÇO 
Os sacramentos de iniciação cristã fundam a vocação comum de todos 
os discípulos de Cristo, vocação à santidade e à missão de evangelizar o 
mundo. Conferem as graças necessárias à vida segundo o Espírito nesta vida 
de peregrinos a caminho da Pátria Celeste. 
Dois outros sacramentos, a ordem e o matrimônio, estão ordenados à 
salvação de outrem. Se contribuem também para a salvação pessoal, é através 
do serviço aos outros. Conferem uma missão particular na Igreja e servem para 
a edificação do Povo de Deus. 
Nesses sacramentos, os que já foram consagrados pelo Batismo e pela 
Confirmação para o sacerdócio comum de todos os fiéis, podem receber 
consagrações específicas. Os que recebem o sacramento da Ordem são 
consagrados para ser, em nome de Cristo, os pastores da Igreja. Por sua vez, 
os esposos cristãos, para cumprir dignamente os deveres de seu estado, são 
fortalecidos e como que consagrados por um sacramento especial. 
Ordem 
A ordem sagrada é um sacramento, um sinal eficaz da Páscoa de Cristo, 
para o serviço da comunidade. O serviço próprio dos ministros ordenados – 
bispos, presbíteros e diáconos – é o de: “ser pastores da Igreja com a palavra e 
com a graça de Deus” (LG 10). 
O rito de ordenação é realizado dentro da celebração eucarística e tem 
características próprias para grau da ordem. Em todas as ordenações 
encontraremos a prece litânica (canto da ladainha), pois por meio dela a Igreja 
suplica aos santos que intercedam por aquele que será ordenado; encontramos 
a imposição das mãos, para os diáconos apenas impõe as mãos o bispo 
ordenante, sobre os presbíteros além do bispo ordenante temos a imposição 
das mãos dos demais sacerdotes e sobre o bispo impõe as mãos todos os 
bispos presentes (no mínimo três bispos); após a ordenação são revestidos 
dos paramentos ou insígnias próprias do seu ministério. Mas na ordenação 
diaconal temos a entrega do Evangelho, pois ele é o anunciador – por 
excelência – da Palavra de Deus. Na ordenação presbiteral o eleito é ungido 
nas mãos com o Santo Óleo do Crisma, pois tem a missão de consagrar as 
espécies eucarísticas, absolver os pecados e ungir os enfermos. Na ordenação 
episcopal o eleito é ungido com o Santo Óleo do Crisma, mas este é 
derramado sobre sua cabeça, já que ele é quem tem o múnus de conduzir a 
porção do Povo de Deus a ele confiado. Por isso, durante a oração 
consecratória o livro dos Evangelhos é aberto e colocado assim sobre a cabeça 
do novo bispo. 
Matrimônio 
Desde o início dos tempos homem e mulher se unem em uma relação 
com o objetivo de transmitir seu gene, fazendo com que a prole herde seu 
nome e sua tradição. A relação entre as duas pessoas deve, também, trazer 
aos cônjuges felicidade e segurança. Desde o AT temos a intervenção divina 
nas uniões conjugais, pois reconhecemos Deus como o criador de todas as 
coisas e a ele toda criatura deve se voltar para agradecer e dele receber a 
bênção. O matrimônio surge como sacramento `a partir do NT, para que Jesus 
Cristo fortaleça a união e ajude os cônjuges nas dificuldades que aparecerão 
no convívio comunitário. 
O ritual atual se preocupa em apresentar uma celebração mais 
significativa e participativa, criando na medida do possível um ambiente mais 
religioso e sagrado, mediante a eliminação do aparato profano que cerca a 
celebração e o favorecimento das disposições interiores dos contraentes, e até 
dos participantes, com uma adequada preparação catequética. O novo ritual é 
caracterizado pelo sincero esforço no sentido de dar forma concreta ao fato de 
que dois batizados expressam e consagram seu amor mútuo, sob o símbolo do 
amor de Cristo à sua Igreja, e isso diante da comunidade cristã, diante de 
Deus, e com intenção de criar uma comunidade de vida buscando aperfeiçoá-la 
e participar na vida da comunidade com seu propósito de fidelidade, de 
santidade e de testemunho. 
Por tudo isso, a bênção divina e sacramental não é um enfeite, mas uma 
exigência, que requer a presença operativa de Cristo, que abençoa e santifica 
essa nova comunidade de amor por meio de uma aliança selada com seu 
divino sangue. 
Dentro do rito matrimonial encontramos a acolhida aos noivos, 
manifestando a alegria da Igreja em participar da união conjugal do casal. Em 
seguida, temos a proclamação da Palavra, seguida do rito matrimonial. Neste 
há a tríplice interrogação (liberdade, fidelidade e aceitação dos filhos) aos 
noivos, o consentimento e a ratificação deste por parte do ministro da Igreja, a 
benção e a troca das alianças, a benção nupcial e a oração universal. Se os 
noivos estiverem preparados, podem receber a Eucaristia. O momento se 
encerra com uma benção sobre a nova família que se constitui e sobre todas 
as testemunhas presentes.

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