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Curso de Extensão em Teologia Liturgia e Espiritualidade Diác. Cleverson Martins Teixeira Princípios Teológicos da Liturgia Para estudar a liturgia tomaremos como ponto de partida algumas perguntas: 1. O que é celebrar? – História. 2. O que celebramos? – Teologia litúrgica 3. Por que celebramos? – Teologia litúrgica 4. Onde celebramos? – Espaço sagrado 5. Quem celebra? – Assembleia e ministérios 6. Quando celebramos? – Domingo e o Ano litúrgico 7. Como celebramos? – Teologia ritual. Observando esta relação temos uma forte tendência de querer a resposta da última pergunta, pois nos preocupamos muito com o pode isso? Pode aquilo? Como faz isso? Está certo fazer isso? Mas para alcançarmos a resposta para esta questão faz-se necessário realizarmos uma caminhada pelas questões anteriores, pois elas servirão de base para compreendermos a última pergunta. Portanto neste momento iremos nos dedicar às primeiras indagações: O que é celebrar? O que celebramos? E porque celebramos? O que é liturgia? A palavra deriva do grego leitourgos e servia para descrever alguém que fazia algo público ou liderava uma cerimônia sagrada. Porém a compreensão de liturgia é mais abrangente, pois não se restringe apenas ao culto, à ritualidade ou ao templo. Outra palavra associada a liturgia é “celebração”, esta deriva do adjetivo latino celeber, que exprime a ideia de um lugar frequentado por uma numerosa multidão reunida para uma festa. Portanto o verbo “celebrar” traz-nos a conotação de “frequentar”, mas sobretudo apresenta um cunho festivo, ritual e comunitário na ação. A celebração é uma categoria que pertence à dimensão sensível e visível da liturgia cristã. Se o uso do termo liturgia deseja indicar globalmente todos os aspectos do culto cristão, a palavra celebração indica primordialmente a liturgia em ato, a ação concreta que consiste em realizar um rito determinado, entendido como ato de culto por parte de uma assembleia de fieis, na perspectiva própria do cristianismo, ou seja, na medida em que “é dada a Deus uma glória perfeita e os homens são santificados, graças ao exercício do sacerdócio de Jesus Cristo” (Sacrosanctum Concilium). Dessa maneira, enquanto a liturgia é o culto de uma vida cristã transformada em fidelidade a Deus, expressa e santificada em alguns atos sacramentais que atualizam a presença da salvação, a celebração é o momento em que ocorre essa atualização mediante gestos, símbolos, ações e ritos. Nesse sentido, a celebração é representação – nova presença – e a atualização no plano local-temporal do exercício do sacerdócio de Cristo, ou seja, o objeto definitivo da liturgia-celebração é a realização eficaz do Mistério Pascal: “celebra-se” (efetua-se) um rito, mas para “celebrar” (alcançar) o mistério de Cristo. A obra salvadora de Jesus Cristo é a liturgia perfeita, início da nossa fé. Jesus ofereceu o sacrifício perfeito: sacrifício de expiação pelos pecados, ação de graças, súplica, louvor. Veio para abolir todos os sacrifícios do Antigo Testamento. Este sacrifício perfeito realizou a perfeição daqueles que foram santificados. É na Cruz e na Ressurreição de Jesus que encontramos a fonte inesgotável de graça e de vida para a santificação. A obra salvífica de Cristo traz como consequência direta a vivência da fé. A vida nova dada por Cristo traz como consequência imediata um novo modo de vida, uma vida santa. Mortos para o pecado, vivamos para Deus em Cristo Jesus. O que celebramos? Pela celebração litúrgica é dada a Deus uma glória perfeita e os homens são santificados mediante ao exercício da obra salvífica de Deus. O mistério de Cristo é celebrado, pois ele é o centro de toda nossa ação. A celebração se dá por meio do rito que é sempre: Ação típica Ação simbólica Norma prévia Linguagem ritual Efeito sobrenatural Peridiocidade Celebramos um ser, uma pessoa, um acontecimento evocado pela festa e que merece ser celebrado. Percebemos que o rito nos ajuda a vivenciar o Mistério Pascal de Cristo, por isso não celebramos sempre a mesma coisa, mas vivenciamos uma nova experiência e atualizamos esta em nossa vida em cada celebração. Por que celebramos? O mais importante na celebração é aquilo que não vemos, aquilo que está invisível aos olhos humanos, a ação de Deus pelo Espírito Santo, pois o essencial é invisível aos olhos. Neste caso celebramos o Mistério Pascal de Cristo. Na liturgia se unem dois movimentos complementares e inseparáveis: Deus volta-se para o seu povo para conceder-lhe a sua graça e santifica-lo por meio da obra redentora e o ser humano se volta para Deus para glorifica-lo por suas obras, na obra perfeita da glorificação de Deus. Vemos aqui dois objetivos da liturgia: a Glória de Deus e a santificação dos homens. Este dinamismo está presente em toda a história da Salvação: Deus é um Deus pessoal, se comunica, se revela ao seu povo, toma a iniciativa da salvação e coloca seu amor e serviço do seu povo. O mistério Pascal de Jesus Cristo está no centro da Economia da Salvação1/História da Salvação, recordamos que a Salvação é obra da Santíssima Trindade. 1 A Economia da Salvação, também chamada de Economia Divina, é aquela parte da revelação divina na tradição cristã que lida com a criação de Deus e a gestão do mundo, especialmente com o seu plano de salvação realizado através da Igreja. Do grego Celebramos também o anúncio e a sua realização por obra do Espírito Santo, pois no mistério se encontra o dinamismo da celebração. O anúncio se dá na mesa da Palavra e a realização acontece por meio das palavras e ações que na liturgia são eficazes, realizando aquilo que proclama-se. Não se trata de magia, mas de um mistério escondido que se vai revelando a cada celebração. Por isso toda a celebração da Igreja se faz com esta dinâmica: anúncio e realização. Celebramos o Cristo sempre presente em nosso meio, pois não haveria sentido celebrar o Cristo se Ele não estivesse presente. Nós não somos seguidores de um defunto, mas d‟Aquele que vive para sempre e permanece conosco “todos os dias até o fim dos tempos”. Cristo se faz presente na Igreja que canta e ora, na sua Palavra, no ministro, nos sacramentos e nas espécies eucarísticas. Celebramos o Mistério Pascal de Cristo e precisamos celebrar por que é a partir da celebração que acolhemos os frutos que nos foram inaugurados na Cruz. História da Liturgia Igreja Primitiva Conforme os relatos do Novo Testamento, os cristãos frequentavam o templo e posteriormente se reuniam em suas casas para as celebrações próprias, por exemplo: em Jerusalém, Corinto, Trôade, Roma. Frequentemente, membros nobres da comunidade colocavam uma sala ou átrio de sua casa à disposição. Por volta de 200 d.C., surgiram as primeiras notícias de os cristãos terem para suas reuniões casas próprias. A liturgia própria da Igreja nascente é aquela que Cristo havia confiado aos Apóstolos. No primeiro século, a celebração era chamada “fração do pão”, oikonomia, literalmente, "gestão de uma família" ou "mordomia". São os elementos e recursos revelados por Deus como necessários para a salvação através da revelação especial, as escrituras do Antigo Testamento e do Novo Testamento. A última expressão disso na teologia cristã de acordo com os ensinamentos da Igreja Católica seria a obra de salvação alcançada por Jesus Cristo na cruz. Seu sacrifício pagou por nossas dívidas e, portanto, fez o pagamento por nossos pecados - e, portanto, somos vistos como não culpados perante Deus por nossos pecados cometidos. pois estava ligada a um rito com o qual se iniciava a refeição judaica: o paide família partia o pão, rezava sobre ele uma benção e o distribuía. No lugar desta benção, Jesus disse: “Isto é o meu corpo”. Acrescia-se na refeição judaica um procedimento semelhante com o cálice. O tomar do cálice introduziu-se com uma oração em ação de graças que começou com o convite: “Demos graças...”. Esta oração transformou-se na liturgia cristã na grande oração de ação de graças pela obra divina da salvação. Vários textos nos mostram como os cristãos, nos primórdios da Igreja, celebravam a liturgia. Segue os ensinamentos encontrados na Didaché e também uma carta de São Justino: Didaque (DIDACHÉ) A CELEBRAÇÃO LITÚRGICA CAPÍTULO VIII 1 Os seus jejuns não devem coincidir com os dos hipócritas. Eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana. Porém, você deve jejuar no quarto dia e no dia da preparação. 2 Não reze como os hipócritas, mas como o Senhor ordenou em seu Evangelho. Reze assim: "Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão-nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai nossa dívida, assim como também perdoamos os nossos devedores e não nos deixes cair em tentação, mas livrai-nos do mal porque teu é o poder e a glória para sempre". 3 Rezem assim três vezes ao dia. CAPÍTULO IX 1 Celebre a Eucaristia assim: 2 Diga primeiro sobre o cálice: "Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre". 3 Depois diga sobre o pão partido: "Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da vida e do conhecimento que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre. 4 Da mesma forma como este pão partido havia sido semeado sobre as colinas e depois foi recolhido para se tornar um, assim também seja reunida a tua Igreja desde os confins da terra no teu Reino, porque teu é o poder e a glória, por Jesus Cristo, para sempre". 5 Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor pois sobre isso o Senhor disse: "Não deem as coisas santas aos cães". CAPÍTULO X 1 Após ser saciado, agradeça assim: 2 "Nós te agradecemos, Pai santo, por teu santo nome que fizeste habitar em nossos corações e pelo conhecimento, pela fé e 4 imortalidade que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre. 3 Tu, Senhor onipotente, criaste todas as coisas por causa do teu nome e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam. A nós, porém, deste uma comida e uma bebida espirituais e uma vida eterna através do teu servo. 4 Antes de tudo, te agradecemos porque és poderoso. A ti, glória para sempre. 5 Lembra-te, Senhor, da tua Igreja, livrando- a de todo o mal e aperfeiçoando-a no teu amor. Reúne dos quatro ventos esta Igreja santificada para o teu Reino que lhe preparaste, porque teu é o poder e a glória para sempre. 6 Que a tua graça venha e este mundo passe. Hosana ao Deus de Davi. Venha quem é fiel, converta-se quem é infiel. Maranatha. Amém." 7 Deixe os profetas agradecerem à vontade. Descrição da Santa Missa na Igreja primitiva por São Justino, mártir Nessa descrição datada da primeira metade do século segundo, se delineia os principais elementos da Santa Missa tal com a conhecemos hoje. Percebe-se já naquele tempo a primazia do Domingo sobre o Sábado como o dia mais solene para a Santa Missa, devido a Ressurreição de Cristo. Oferecemos ao leitor esse texto de São Justino (†165), no qual se percebe o fervor eucarístico da Igreja nascente assim como o desejo de explicar os mistérios da Santa Missa para recém convertidos ou pessoas em vias de se converter. “Terminadas as orações, damos mutuamente o ósculo da paz. Apresenta-se, então, a quem preside aos irmãos, pão e um vaso de água e vinho, e ele tomando-os dá louvores e glória ao Pai do universo pelo nome de seu Filho e pelo Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de graças em razão dos dons que dele nos vêm. Quando o presidente termina as orações e a ação de graças, o povo presente aclama dizendo: Amém… Uma vez dadas as graças e feita a aclamação pelo povo, os que entre nós se chamam diáconos oferecem a cada um dos assistentes parte do pão, do vinho, da água, sobre os quais se disse a ação de graças, e levam-na aos ausentes. Este alimento se chama entre nós Eucaristia, não sendo lícito participar dele senão ao que crê ser verdadeiro o que foi ensinado por nós e já se tiver lavado no banho [batismo] da remissão dos pecados e da regeneração, professando o que Cristo nos ensinou. Porque não tomamos estas coisas como pão e bebida comuns, mas da mesma forma que Jesus Cristo, nosso Senhor, se fez carne e sangue por nossa salvação, assim também se nos ensinou que por virtude da oração do Verbo, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças – alimento de que, por transformação, se nutrem nosso sangue e nossas carnes – é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado. E foi assim que os Apóstolos, nas Memórias por eles escritas, chamadas Evangelhos, nos transmitiram ter-lhe sido ordenado fazer, quando Jesus, tomando o pão e dando graças, disse: “Fazei isto em memória de mim, isto é o meu corpo”. E igualmente, tomando o cálice e dando graças, disse: “Este é o meu sangue”, o qual somente a eles deu a participar… No dia que se chama do Sol [domingo] celebra-se uma reunião dos que moram nas cidades e nos campos e alí se lêem, quanto o tempo permite, as Memórias dos Apóstolos ou os escritos dos profetas. Assim que o leitor termina, o presidente faz uma exortação e convite para imitarmos tais belos exemplos. Erguemo-nos, então, e elevamos em conjunto as nossas preces, após as quais se oferecem pão, vinho e água, como já dissemos. O presidente também, na medida de sua capacidade, faz elevar a Deus suas preces e ações de graças, respondendo todo o povo “Amém”. Segue-se a distribuição a cada um, dos alimentos consagrados pela ação de graças, e seu envio aos doentes, por meio dos diáconos. Os que têm, e querem, dão o que lhes parece, conforme sua livre determinação, sendo a coleta entregue ao presidente, que assim auxilia os órfãos e viúvas, os enfermos, os pobres, os encarcerados, os forasteiros, constituindo-se, numa palavra, o provedor de quantos se acham em necessidade” (Apologias). Dionísio Borobio (1990) afirma que o culto cristão tem três características: escatológico, pois sempre remete à vida eterna, junto de Deus; pneumatológico, porque é o Espírito Santo que reúne a assembleia e a torna, de fato, uma assembleia de culto; e cristológico, já que o centro do culto é a confissão do querigma da fé cristã. Além dessas características, Borobio apresenta-nos quatro elementos fundamentais, a partir da análise de At 2,42: o ensinamento dos Apóstolos (didaché), a comunhão fraterna (koinonia, incluindo a coleta de donativos para os mais necessitados), a fração do pão (ponto culminante da liturgia) e as orações, pois a finalidade é sempre a edificação da comunidade cristã. A língua litúrgica é o grego e a versão da Sagrada Escritura utilizada para a pregação e para ação litúrgica era a Septuaginta. Igreja no Império Constantino publicou o Edito de Milão, no ano de 313, com o qual concedia permissão a todos os habitantes do Império, principalmente, aos cristãos, para praticar suas religiões e formas de culto. Muitos acreditam que esse documento tornara o Cristianismo a religião oficial do Império Romano. Essa ideia não é correta, pois o conteúdo do Edito de Milão só fala em tolerância a qualquer culto, o que não tira a importância do documento, que pôs fim à perseguição dos cristãos. Contudo, somente com o Imperador Teodósio I (379-395), mais especificamente no ano de 380, o Cristianismo se torna religião oficial de todo o Império. Importante também para compreendero impacto na liturgia é o conhecimento das heresias desenvolvidas no começo da vida cristã: 1) Monarquianismo dinamista ou adocionista: Jesus teria sido mero homem, adotado no momento de seu batismo no Jordão; 2) Monarquianismo modalista ou patripassiano: o Filho é considerado como uma mera modalidade do Deus único; 3) Arianismo: fixava uma tesa subordinacionista, considerando o Filho como a criatura primeira e mais perfeita de Deus; 4) Macedonianismo: os pneumatômacos consideravam o Espírito Santo como criatura do Filho; 5) Apolinarismo: Jesus não teria vontade humana ou alma espiritual, sendo o Lógos responsável pelas funções vitais da natureza humana assumida pelo próprio Lógos; 6) Nestorianismo: afirmava que, em Jesus, havia duas pessoas, uma divina (o Lógos) e a outra humana, gerada por Maria, que se tornava, com isso, mãe de Cristo e não mãe de Deus; 7) Monofisismo: afirma que em Jesus há uma só natureza e uma só pessoa (a divina); 8) Donatismo: recusam-se a reconhecer como válido os sacramentos realizados por ministros que não fossem dignos; 9) Pelagianismo: dispensa qualquer obra de Deus na salvação humana, reduzindo o papel de Cristo a um simples exemplo, que os homens deveriam esforçar-se a seguir, através de rígidas práticas ascéticas. A chamada “paz de Constantino” não trouxe somente conversões fáceis, mas também favoreceu o contato do Cristianismo com alguns elementos culturais das religiões pagãs. Em decorrência, alguns costumes foram introduzidos e cristianizados, de forma que hoje temos alguns exemplos: o beijo no altar e nas imagens, a multiplicação dos atributos divinos, e o costume de batizar voltado para o Oriente. Agora, as celebrações ocorrem em imponentes basílicas, o que exige uma liturgia mais solene e elaborada, incluindo um altar para o culto. Batistérios são construídos nas entradas das Igrejas, para lembrar que se entra no Corpo Místico de Cristo por esse sacramento. Além disso, os paramentos utilizados começam a se assemelhar com aqueles usados pelos soldados e pela corte romana. O domingo passa a ser protegido por lei do Estado e agora se tem o direito de celebrar livremente. Como o período de martírio havia acabado, os cristãos desenvolveram uma outra maneira de entregar a vida totalmente a Deus: o monarquismo (inicia aqui a vida nos mosteiros). Temos o surgimento das famílias litúrgicas. Nos grupos orientais de famílias litúrgicas, temos como exemplo: a) Liturgia maronita, da Síria central: usa uma adaptação do Cânon Romano; b) Liturgia bizantina, de Bizâncio (que já foi Constantinopla e é, atualmente, chamada Istambul): predominância de ícones; ano litúrgico com ciclo fixo (setembro a agosto) e móvel (centrado na Páscoa); c) Liturgia copta, do Egito: liturgia do incenso inicia a celebração Eucarística; quatro leituras na Liturgia da Palavra; trinta e duas festas para Maria. Nos grupos ocidentais de famílias litúrgicas, é preciso citar os dois principais: a) Liturgia romana (ou romana pura): (1) simplicidade, sobriedade e pouco sentimentalismo; (2) textos de notável valor literário; (3) as orações são dirigidas ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo; (4) possui uma única anáfora, que é chamada de Canon Romano; (5) pouca ou nenhuma manifestação exterior; (6) forte consciência de comunidade. b) Liturgia galicana (onde hoje encontra-se a França): (1) tom solene, muitas vezes prolixo; (2) considerável sentimentalismo e certo apelo à teatralização dos rituais; (3) as orações são dirigidas a Cristo; (4) as fórmulas da oração eucarística variam todos os dias; (5) maior individualismo na oração. Neste período começam-se a organizar os livros litúrgicos, com as orações para a celebração eucarística e para os sacramentos; o lecionário, com as leituras usadas na liturgia e as antífonas que eram cantadas nas celebrações. Liturgia de Gregório Magno a Gregório Vii Gregório Magno, eleito Papa em 590, tem a difícil missão de liderar a conversão dos povos bárbaros que habitavam a Europa ocidental naquela época. Com São Gregório Magno, tem-se início ao que a Sacrossanctum Concilium chama de “canto próprio para a liturgia romana”, o que hoje conhecemos como canto gregoriano. O canto gregoriano é um tipo de música monofônica, de ritmo livre. O texto utilizado como letra para as melodias é, quase que na totalidade, retirado da Sagrada Escritura, o que (1) isenta a música de possíveis erros teológicos; (2) facilita sua vinculação com os textos bíblicos a serem utilizados nas leituras litúrgicas; e (3) promove maior contato do fiel com a Palavra de Deus, de forma cantada, para facilitar a memorização. Foi também o Papa Gregório Magno que, em resposta à auto-atribuição do Patriarca de Constantinopla com o título de Ekumenikós, atribuiu-se o título de Servus Servorum Dei (Servo dos Servos de Deus) – título até hoje utilizado pelos papas ao assinar documentos oficiais. Desenvolve-se a liturgia romana, chamada de “pura”, com as seguintes características: (1) sobriedade; (2) grandeza de estilo literário dos textos litúrgicos; (3) a oração sempre se orienta ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo; (4) não há manifestações exteriores de veneração; e (5) a liturgia tem uma forte noção de vivência em comunidade e sempre está ligada a ela. Para reforçar a consciência da autoridade e centralidade do poder papal, Gregório VII: (1) aboliu a liturgia hispânica; (2) determinou que as festas dos papas santos fossem celebradas universalmente; e (3) instituiu o juramento de fidelidade ao Papa na ordenação episcopal. Os objetivos da Reforma Gregoriana eram: aumentar o apreço pelo sacerdócio; cultivar o sentido de mistério nas celebrações; e abrir espaço às devoções. Em sua luta pela reforma da Igreja, Gregório VII adotou a liturgia como mecanismo de mudança e moralização do clero. Interpretou a liturgia como atividade própria do clérigo e que exige retidão moral e santidade de vida para aqueles que são responsáveis por ela. Como a liturgia é o ato mais nobre da vida do clérigo, deve ser celebrada obrigatoriamente. Surge, então, a chamada missa privada, celebrada apenas por um sacerdote. Para que isso fosse possível num contexto de abundância de ministros ordenados, a solução foi a construção de diversos altares em uma mesma igreja. Dessa forma surgiram os altares laterais que hoje encontramos nas igrejas mais antigas. A percepção dos sacramentos também muda nesse período. Eles deixam de ser vistos como aquilo que realmente são: celebração do mistério pascal de Cristo; e passam a ser encarados como um remédio misterioso, beirando um ato de superstição. A Liturgia do Concílio de Trento Com a crescente onda protestante, a Igreja Católica necessitou rever seus atos e sua forma de agir com o povo, a isso chamamos de Contra Reforma que aconteceu com o Concílio de Trento. Este se deu em três fases: 1) De 1545 a 1547, de modo geral, trata da Sagrada Escritura e dos sacramentos do Batismo e da Reconciliação; 2) De 1551 a 1552, cuida dos sacramentos da Eucaristia, Unção dos Enfermos e Confirmação; 3) De 1561 a 1563, fala da comunhão sob duas espécies, do caráter sacrifical da missa e da doutrina dos sacramentos do Matrimônio e da Ordem. Alguns autores sintetizam as vitórias de Trento em três áreas: fixou a doutrina católica em definições dogmáticas precisas, decretou numerosos documentos disciplinares, e incentivou e disciplinou a participação nos sacramentos. O concílio reformador de Trento condenou apenas os abusos mais graves e defendeu a verdadeira fé; mas para a uma profunda reforma da liturgia faltavam os pressupostos: o conhecimento da origem de cada elemento da liturgia e da estrutura de suas formas. Pio V publicou, em 1570, o Missal Romano. Outros livros litúrgicos foram publicados em seguida: o Pontifical Romano (1596), o Cerimonial dosBispos (1600) e o Ritual Romano (1674). A reforma estabelecida por Pio V salvaguardou a liturgia em diversos âmbitos, porém alguns elementos forma criando ao longo dos séculos uma barreira quase intransponível entre o clero e o povo, entre Deus e os fieis. O latim foi mantido, o que excluiu qualquer participação do povo na celebração. As rubricas receberam uma importância até então não conhecida, o que faz este período ser conhecido como “tempo das rubricas”. As igrejas são construídas com amplos espaços; o culto das relíquias desaparece quase por inteiro; a devoção exagerada dos santos é substituída pela veneração à Virgem Maria. Há uma forte manifestação de piedade pelo Santíssimo Sacramento, neste sentido, o fato de ver a hóstia consagrada já era o suficiente, reduzindo assim a participação na comunhão. Encontramos aqui a introdução dos sinos e da elevação das espécies após a consagração. A Liturgia no Concílio Vaticano Ii No começo do séc. XX tem início uma grande cruzada de reforma e renovação litúrgicas na Igreja do Ocidente. Trata-se do “movimento litúrgico”, que teve sua pré-história no período do Iluminismo (séc. XVIII) e da restauração católica (séc. XIX). A partir de 1909 desenvolve-se o movimento litúrgico propriamente dito: uma grande cruzada se inicia por meio de investigações históricas e teológicas, congressos, cursos, conferências e amplo trabalho de pastoral litúrgica, promovendo a participação do povo nas celebrações. A isso contrapõe-se uma secular cultura religiosa, caracterizada pelo devocionismo e que era amenizada pelo movimento litúrgico e sua pregação para uma volta às fontes. Finalmente, destacamos o maior mérito do movimento litúrgico: legou um amplo e alicerçado instrumental (histórico, teológico, pastoral e pessoal) para que o Concílio Vaticano II impusesse sua reforma litúrgica na Igreja. O Concílio Vaticano II, que teve abertura oficial em 1962, editou seu primeiro documento no dia 04 de dezembro de 1963: a Constituição Sacrosanctum Concilium. Este documento não trata apenas de “considerar as [reformas] que poderíamos definir como reformas espetaculares, como a comunhão sob duas espécies, a concelebração e a adoção da língua vernácula para o uso litúrgico. Trata-se, sobretudo, de uma visão mais profunda e de uma ideia mais completa do que é liturgia e de como ela, em conformidade com este melhor conhecimento que dela temos, deve encontrar a fonte que melhor se adapta ao nosso mundo de hoje.” Após esta constituição outros documentos foram editados. O Missal Romano foi reestruturado e com isso nossas celebrações ganharam nova roupagem. Infelizmente, muitos curas de alma, interpretaram e continuam a interpretar erroneamente os avanços conciliares no âmbito litúrgico, por isso nos deparamos com diversas extravagâncias celebrativas. Ano Litúrgico A liturgia é feita de sinais sensíveis do nosso cotidiano. Na celebração eucarística um dos sinais sensíveis é a ceia, no Batismo a água e no ano litúrgico, o sinal sensível mais importante é o tempo. Há uma estreita relação entre a nossa vida e o tempo. O nosso ritmo biológico marcado pelas batidas do coração e pela respiração; pelo nascer, crescer e morrer está em perfeita harmonia com o ritmo cósmico: o pulsar da terra, a alternância do dia e da noite, as fases da lua, a mudança das estações e a contínua gestação da terra, o tempo de plantar e o tempo de colher, tempo das chuvas e tempo da seca. O relógio reflete a movimentação absolutamente precisa dos astros à qual está condicionada a vida no universo. O relógio é a necessária medição do tempo que possibilita realizar acordos temporais em função da sobrevivência e da convivência em todos os níveis. Mas o relógio traz também a consciência da finitude humana. Quanto mais temos a ilusão de controlar o tempo com a preciso dos nossos planejamentos e com a eficiência do nosso trabalho, mis compreendemos que o tempo nos escapa e nos consome. Para os gregos, este tempo sequencial que pode ser medido, este tempo que passa deixando as suas marcas, é kronos, o deus que devora os próprios filhos para não deixar herdeiros. Hoje, com o fenômeno da aceleração, que exige sempre maior rapidez, o „relógio‟ exerce uma verdadeira tirania na vida das pessoas, consumindo precocemente as energias. Contudo, os gregos usam outro conceito para falar do tempo: Kairós. É o tempo indeterminado, não linear, o tempo surpreendente dos acontecimentos imprevistos que pode mudar os rumos da vida, é o tempo propício vivido também no corriqueiro dos nossos cotidianos. Na perspectiva do kairós a vida é uma oportunidade ímpar e cada momento valioso. O kairós pede que estejamos despertos com todos os nossos sentidos em cada momento da vida. Em linguagem espiritual, kairós é o tempo da graça. O ano litúrgico celebra o mistério pascal de Cristo no decorrer de um ano solar. Ao longo desse ano, acontecem todas as festas e ações sacramentais, dado que é uma espécie de estrutura que sustenta todo o mistério do culto cristão. O ciclo do ano litúrgico, organizado em seus tempos e em suas grandes festas, é o ritmo fundamental da vida de oração e de celebração da fé dos cristãos. Estudar o ano litúrgico consiste não simplesmente em conhecer um calendário, o qual é apenas sua expressão formal e prática, mas em entrar no mistério do tempo, atravessado pela obra de Deus, no qual a Igreja peregrina celebra suas ações salvíficas, em especial Jesus Cristo, centro da história e da esperança dos crentes. Segundo os atuais livros da liturgia romana, o ano litúrgico começa no 1º Domingo do Advento e se encerra na solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo. O ano litúrgico foi se desenvolvendo lentamente. O surgimento dos livros litúrgicos conduziu aos poucos à concepção do ano eclesiástico como um ciclo anual diferente do ano civil em seu início e em sua estrutura. O ano litúrgico deve ser considerado uma verdadeira liturgia, isto é, o conjunto dos momentos salvíficos, celebrados ritualmente pela Igreja sobretudo por meio da Eucaristia, como memorial dos acontecimentos com os quais se realizou na história o mistério da salvação. O ano litúrgico é a celebração e atualização do mistério de Cristo no tempo. Portanto, ele não pode ser reduzido a um simples calendário de dias e meses aos quais estão ligadas as celebrações religiosas, sendo na verdade a presença em modo sacramental e ritual do mistério de Cristo no espaço humano. Ou seja, o ano litúrgico não é uma ideia, mas uma Pessoa, Jesus Cristo. A estrutura do ano litúrgico O ano litúrgico encontra sua melhor representação na espiral ascendente: ela contém tanto o círculo, que representa o retorno anual dos mesmos tempos e festas, como a linha, que projeta o tempo litúrgico rumo à meta da Parusia (segunda vinda de Jesus Cristo). Trata-se de um circulo evolutivo, que jamais gira exatamente sobre si mesmo, mas que a cada volta encontra-se mais perto do encontro definitivo da Igreja com o Senhor. Todo ano repete-se e ao mesmo tempo se vive algo irrepetível. Nunca as pessoas nem as comunidades que celebram são as mesmas do ano anterior, nem o é o mundo em que a Igreja está inserida. A estrutura celebrativa, porém, é sempre a mesma, enquanto a Igreja não a mude: também ela está sujeita a permanente reforma a fim de melhor responder aos sinais dos tempos. O calendário litúrgico É considerado calendário litúrgico a lista ordenada cronologicamente das celebrações da Igreja universal e de cada Igreja particular ao longo dos dias de um ano. Ele é um instrumento pastoral indispensável por trazer as datas celebrativas (solenidades, festas, memórias e dias feriais) de cada localidade. Nele encontra-se especialmente os marcos para a celebração eucarística e para a Liturgia das Horas, pois são as celebrações mais frequentes da Igreja.O calendário, hoje utilizado, foi profundamente revisado pelos peritos do Concílio Vaticano II, sendo aprovado em 14 de fevereiro de 1969. “Nos diversos tempos do ano litúrgico, segundo as práticas tradicionais, a Igreja instrui seus fiéis por meio de exercícios piedosos da alma e do corpo, da doutrina da oração e das obras de penitência e de misericórdia” (Introdução ao Calendário Romano, 1). O Domingo Devido à tradição apostólica que tem sua origem do dia mesmo da ressurreição de Cristo, a Igreja celebra cada oitavo dia o Mistério Pascal. Esse dia chama-se justamente dia do Senhor (Dies Domini) ou domingo. Neste dia, os cristãos devem reunir-se para que, ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrem-se da paixão, ressurreição e glória do Senhor Jesus e deem graças a Deus que os „regenerou para a viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos‟ (1Pd 1,3). Por isso, o domingo é um dia de festa primordial que deve ser lembrado e inculcado à piedade dos fiéis de modo que seja também um dia de alegria e de descanso do trabalho. As outras celebrações não lhe anteponham, a não ser que realmente sejam de máxima importância, pois o domingo é o fundamento e o núcleo do ano litúrgico. É o dia da ressurreição do Senhor, que desde a comunidade cristã neotestamentária se erige no dia da páscoa semanal, ritmando o tempo da Igreja pela celebração da eucaristia, memorial da morte e da ressurreição de Jesus Cristo. O ano está dividido em três ciclos, de extensão variadas: são os ciclos da Páscoa e da manifestação do Senhor, que se ordenam em torno das duas grandes festas cristãs, a Páscoa e o Natal, e o Tempo comum. O conjunto deles abarca a totalidade do ano solar. O ciclo pascal é composto pela Quaresma, pelo Tríduo Pascal e pela cinquentena pascal que culmina em Pentecostes e tem uma duração total de treze semanas e meia. A Quaresma começa na Quarta-Feira de Cinzas, cuja data é móvel, dependendo da data da celebração da Páscoa, e dura quarenta dias, terminando na tarde da Quinta-Feira Santa. Com a celebração da Ceia do Senhor temos o início do Tríduo Pascal, cujo centro é a Vigília Pascal, terminando com a véspera do domingo da ressurreição. O ciclo da manifestação é constituído pelo tempo do Advento e pelo tempo do Natal, tendo uma duração variável. O Advento consta de três a quatro semanas que vão do 1º domingo do Advento à solenidade do Natal, e está marcado pelos quatro domingos. A extensão do Advento dependerá do dia em que ocorrer o Natal. Depois do Natal, a festa prolonga-se na “oitava” e no tempo do Natal, que culmina na festa do Batismo do Senhor. O tempo Comum é composto por 33 ou 34 semanas. Seu ritmo é particularmente marcado pelos domingos. Ele é denominado “comum” por que não como objeto a celebração particular de algum mistério preciso de Cristo. Além disso, celebra-se durante o tempo comum uma série de outras festas do Senhor, da Virgem Maria e dos santos que ocasionalmente podem ocorrer dentro de outro tempo. A chave de leitura desse tempo é sempre o mistério de Cristo. A leitura semi contínua do evangelho ocupa o centro da espiritualidade cristã porque nos propõe a própria vida e as palavras de Jesus, não apenas nas celebrações de seus grandes mistérios, mas também na normalidade evangélica da palavra de Jesus, de seus gestos e de seus ensinamentos. Ao contemplarmos o mistério de Cristo durante este tempo nos enxergamos como discípulos que escutam e seguem o Mestre em sua vida cotidiana. As festas do ano Litúrgico são: Móveis: Santíssima Trindade: primeiro domingo depois de Pentecostes; Corpus Christi: celebrado na segunda quinta-feira depois de Pentecostes; Sagrado Coração de Jesus: terceira sexta-feira depois de Pentecostes; Jesus Cristo, Rei do Universo: último domingo do Tempo Comum. Dias fixos: Apresentação do Senhor: dia 02 de fevereiro; Anunciação do Senhor: dia 25 de março; Transfiguração do Senhor: dia 06 de agosto; Exaltação da Santa Cruz: dia 14 de setembro. Festas da Virgem Maria Solenidades: Santa Maria, Mãe de Deus: dia 01 de janeiro; Assunção da Santíssima Virgem: dia 15 de agosto; Imaculada Conceição de Maria: dia 08 de dezembro. Festas: Visitação da Virgem Maria: dia 31 de maio; Natividade da Virgem Maria: dia 08 de setembro. Memória obrigatória: Santa Maria Rainha: dia 22 de agosto; Nossa Senhora das Dores: dia 15 de setembro; Nossa Senhora do Rosário: dia 07 de outubro; Apresentação da Virgem Maria: dia 21 de novembro; Imaculado Coração de Maria: celebrado no sábado depois do Sagrado Coração de Jesus Memórias facultativas Nossa Senhora de Lourdes: dia 11 de fevereiro; Nossa Senhora do Carmo: dia 16 de julho; Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior: dia 05 de agosto. Festa dos santos A Igreja, ao celebrar a cada ano a memória dos santos, celebra a realização do mistério pascal de Cristo na vida deles, por este motivo os santos são propostos como modelos de vida cristã. Instrução Geral ao Missal Romano O Concílio Vaticano II apresentou diversas mudanças para a Igreja, mostrou novos caminhos a serem seguidos, mas com um único objetivo: diante das mudanças apresentadas pelo mundo adaptar-se, sem perder a essência cristã, para anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. Uma das mudanças mais falada são as reformas litúrgicas. E para auxiliar os ministros ordenados e o Povo de Deus nesta adequação, os livros litúrgicos passaram por reestruturação. O Missal Romano, apresenta as normas universais do ano e do calendário litúrgico, orientações para as diversas funções e ministérios dentro das celebrações. A Instrução Geral ao Missal Romano (IGMR) está assim dividida: Proêmio Capítulo I – Importância e dignidade da celebração eucarística Capítulo II – Estrutura, elementos e partes da missa Capítulo III – Funções e ministérios na missa Capítulo IV – As diversas formas de celebração da missa Capítulo V – Disposição e ornamentação das Igrejas para a celebração da Eucaristia Capítulo VI – Requisitos para a celebração da missa Capítulo VII – Como escolher a missa e suas partes Capítulo VIII – Missas e orações para diversas circunstâncias e missas pelos fieis defuntos No Proêmio encontramos uma explicação e fundamentação teológica do novo Missal Romano. O Missal de Pio V, promulgado em 1570, continha diversos elementos valorosos catequéticamente, porém era pouco prático para a vida pastoral. Por isso, o novo Missal promulgado por Paulo VI em 1969 traz elementos que favorecem o Povo de Deus a uma salutar participação das celebrações litúrgicas. No primeiro capítulo será tratada a questão da importância da celebração eucarística para a vida do cristão e a dignidade com que deve ser celebrada. No segundo capítulo começamos a lidar com a prática da missa, passando pelos diversos elementos que compõe a Santa Missa, explicando as partes que são próprias do sacerdote e o que compete ao povo. Fala da importância do canto que acompanha a ação litúrgica, os gestos e posições celebrativos e brevemente sobre o silêncio, elemento de profunda importância na celebração. Vai tratar da missa parte por parte. Posteriormente, no terceiro capítulo encontramos as funções que são desempenhadas por todos os participantes da celebração. Começa descrevendo as funções e ministérios da ordem sacra (Bispos, Padres e Diáconos), depois ensinará sobre o papel do Povo de Deus e os ministérios que por ele podem ser desempenhados. No quarto capítulo encontramos as diversas formas de celebração da missa: a missa com o povo, que é conhecida por todos, pois é desta celebração que usualmente participamos, sendo aqui descrito as funções do diácono, do acólito instituído, do leitor instituído e das missas concelebradas por outros sacerdotes, em torno da mesmaMesa Eucarística. Por fim descreve a missa celebrada sem o povo. Orienta quanto ao uso do incenso e da comunhão sob duas espécies. O quinto capítulo traz os princípios gerais sobre a disposição do espaço litúrgico e como este deve ser ornamentado. No capítulo que trata sobre os requisitos para a celebração da Santa Missa, encontramos as orientações quanto ao pão e o vinho que serão consagrados, as alfaias e os vasos sagrados que serão utilizados para a celebração, bem como as orientações quanto às vestes sagradas utilizadas pelos ministros ordenados. No capítulo 7º teremos algumas orientações com relação à escolha das missas, falando-nos das solenidades, festas, memórias e dias feriais. Orienta-nos também quanto à escolha dos cantos que animarão a celebração. Por fim, teremos no oitavo capítulo as indicações para as missas celebradas em diversas circunstâncias, neste caso, as missas unidas à celebração de certos Sacramentos e Sacramentais, missas votivas à Nossa Senhora, Santos padroeiros ou fundadores congregacionais. Outra orientação que encontramos é para as missas exequiais, ou seja, missa de corpo presente; também missas pelos fieis defuntos em seu sétimo dia de falecimento ou aniversário da Páscoa definitiva. O corpo do Missal segue a seguinte ordem: - Próprio do tempo - Ordinário da Missa - Ordinário da Missa com Canto - Próprio dos Santos - Missas Comuns - Missas Rituais - Missas e Orações para Diversas Necessidades - Missas Votivas - Missas dos Defuntos - Completam o Missal quatro Apêndices, com formulários diversos. O Próprio do Tempo O Missal apresenta os diversos Tempos do Ano Litúrgico, do I Domingo do Advento ao XXXIV Domingo do Tempo Comum (Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo), dispostos pela seguinte ordem: • Tempo do Advento (p. 103-131), • Tempo do Natal (p. 137-164), • Tempo da Quaresma (p. 167-241), • Sagrado Tríduo Pascal (p. 245-328), • Tempo da Páscoa (329-391) • Tempo Comum (p. 395-430). • Solenidades do Senhor no Tempo Comum (Santíssima Trindade, Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo e Sagrado Coração de Jesus) (p. 431-436). Para cada dia do Advento, do Natal, da Quaresma e do Tempo Pascal, o Missal contém a Oração da Coleta, a Oração sobre as Oblatas (ofertas) e a Oração depois da Comunhão, e ainda a Antífona de Entrada e a Antífona de Comunhão. Durante o Tempo Comum, as orações e antífonas próprias para cada Domingo, repetem-se depois durante os dias feriais, se outro critério não for usado. O Ordinário da Missa Apresenta-se em duas modalidades: uma sem canto (p. 440-549), e outra com canto (p. 576-800). Contém as intervenções do Presidente da assembleia e as respostas do Povo comuns a todas as Missas. Ou seja: 1. Ritos Iniciais (p. 440-445) - Signação (Sinal da Cruz) - Saudação (várias formas) - Ato Penitencial (três formas) - Invocações Kyrie eleison (omite-se quando é utilizada a terceira forma ou o Rito para a aspersão dominical da água benta (Apêndice IV, p. 1359-1365). - Hino de Louvor (Glória a Deus) - Oração Coleta (conforme o Próprio do Tempo) 2. Liturgia da Palavra Para a Liturgia da Palavra – leituras e cânticos salmódicos – é preciso recorrer ao Lecionário. De fato, o Missal, ao contrário daquilo que o nome sugere, não contém todas as partes da Missa. Para a celebração, são necessários dois livros: o Missal e o Lecionário. O Missal é o livro do Presidente; o Lecionário, o livro do Leitor. Fica assim mais patente a distinção de ministério e funções na assembleia celebrante. Os elementos da Liturgia da Palavra que constam do Ordinário são os seguintes: - Profissão de Fé • Símbolo Niceno-Constantinopolitano (p. 448) • Símbolo dos Apóstolos (449) - Oração Universal ou Oração dos Fiéis Atualmente existe um livro próprio com todos os formulários para a Oração Universal ou dos fiéis, no Missal existem alguns formulários no Apêndice IV (p. 1366-1380). 3. Liturgia Eucarística - Preparação das Oferendas (p. 450-451) - Oração sobre as Oblatas (conforme o Próprio do Tempo) - Oração Eucarística São 114 o número de Prefácios, encontrando-se no Ordinário os mais utilizados (p. 453-513); Incluídas no Ordinário, há 4 Orações Eucarísticas (p. 515-543); porém, no Missal, temos ainda as seguintes: 4 Orações Eucarísticas para as Missas diversas (p.1157-1179); Orações Eucarísticas para as Missas da Reconciliação (Apêndice I, p. 1314- 1325); Orações Eucarísticas para as Missas com Crianças (Apêndice II, p. 1326-1341). 4. Ritos da Comunhão (p. 544-547) -Pai Nosso -Embolismo -Rito da Paz -Comunhão -Oração depois da Comunhão (conforme o Próprio do Tempo) 5. Ritos de Conclusão (p. 548-549) -Bênção Final Em certos dias e em ocasiões especiais, a Bênção Final pode ser precedida de outra forma de Bênção Solene ou da Oração de Bênção sobre o Povo que no Missal vêm a seguir ao Ordinário (p. 553-567 e 569-574, respectivamente). -Despedida O Próprio dos Santos (p. 803-997) É o conjunto dos formulários próprios para as solenidades, as festas e as memórias dos Santos desde o dia 2 de Janeiro a 31 de Dezembro, bem como as solenidades e festas do Senhor, excetuando as que estão incluídas no Próprio do Tempo. Nas solenidades, festas e memórias obrigatórias, os formulários indicados no Missal são obrigatórios. Nas memórias facultativas, deixa-se uma grande margem de liberdade quanto à escolha de formulários. Missas Comuns (p. 1001 -1057) É um conjunto de formulários que servem indistintamente para comemorações do mesmo tipo. Seguem uma ordem de importância: -Comum da Dedicação de uma Igreja -Comum de Nossa Senhora -Comum dos Mártires -Comum dos Pastores da Igreja -Comum dos Doutores da Igreja -Comum das Virgens -Comum dos Santos e Santas Missas Rituais (p. 1061-1150) São Missas próprias para a celebração dos sacramentos (só a Penitência não tem Missa própria) e para algumas outras celebrações de grande importância: catecumenato, viático, bênção abacial, consagração das virgens, profissão religiosa e dedicação de uma igreja ou de um altar. Missas e Orações para Diversas Necessidades (p. 1155-1250) Trata-se de uma série de Missas próprias para diversas circunstâncias ou diferentes necessidades. No Missal, vêm distribuídas em 4 grupos: -Pela Igreja (p. 1181-1213) -Pela sociedade civil (p. 1214-1222) -Em diversas circunstâncias da vida social (p. 1223-1242) -Por alguma necessidade particular (p. 1243-1250). Esta seção do Missal abre com a Oração Eucarística V, que possui 4 prefácios próprios e as intercessões correspondentes às diversas circunstâncias ou necessidades. Missas Votivas (p. 1253-1274) São Missas que podem ser escolhidas segundo a piedade dos fiéis, para celebrar alguns mistérios cristãos. Por exemplo: Na 1ª Sexta-feira do mês, se o Diretório Litúrgico não indicar nada em contrário, pode substituir-se a Missa do Próprio do Tempo, pela Missa Votiva do Sagrado Coração de Jesus. Missas de Defuntos (p. 1277-1312) São Missas próprias para as exéquias ou para o aniversário de um falecimento. Além das 3 Missas próprias para o Dia dos Fiéis Defuntos. Liturgia dos Sacramentos Os sete sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do cristão origem e crescimento, cura e missão. Nisto existe uma certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da vida espiritual. Os sacramentos devem ser sinais de vida, os ritos visíveis servem para expor a comunhão entre Deus e a humanidade. Durante muito tempo, prevaleceu na Igreja uma concepção que considerava os sacramentos como meros ritos, administrados aos que os pediam. Com a renovação litúrgica colhida e promovida pelo Vaticano II, modificaram-se em ampla medida a atitude e a práticamencionadas, os sacramentos são, portanto, reconhecidos como celebrações. A gratuidade do amor divino que se oferece no dinamismo sacramental é uma das dimensões que contemplam a espiritualidade existente nos sacramentos ofertados pela Igreja. A prática dos sacramentos deve ser uma profissão de fé que inclua toda a existência humana em toda a sua complexidade. Preocupamo-nos muitas vezes com ações ou omissões pontuais como se tratasse de satisfazer um frio código de preceitos e mal revisamos nossas atitudes na vida. Outra dimensão importante a ser considerada é a comunitária. Pelo batismo o fiel é ingresso numa comunidade, onde deve viver em função comum. A confirmação corrobora a ação do Espírito Santo na vida do cristão, esta atuação não deve ser inerte, mas dinâmica, como o próprio Espírito. Portanto, deve ser uma ação de inserção comunitária, onde se coloca os dons e talentos a serviço da Igreja. A eucaristia é recebida como alimento que fortalece, vivifica, plenifica e auxilia o fiel na vivencia em sociedade. Não se recebe a eucaristia para guardar a graça para si, de forma egoísta, ela deve ser transmitida aos quatro cantos do mundo. A vivência matrimonial e da ordenação é puramente serviçal, pois estes sacramentos existem para que a pessoa se realize por meio do serviço ao outro. Até mesmo os sacramentos de cura existem para que haja uma melhor vivencia comunitária, porque, tendo recebido estes, o indivíduo se compromete com Deus em praticar o bem, principalmente com o próximo. Como vimos os sacramentos podem ser classificados em três classes: sacramentos de iniciação cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia), de cura (Reconciliação e Unção dos Enfermos) e de serviço (Matrimônio e Ordem). A seguir iremos trabalhar cada classe dos sacramentos. SACRAMENTOS DE INICIAÇÃO CRISTÃ Pelos sacramentos de iniciação cristã são colocados os fundamentos de toda vida cristã, tem como finalidade a entrada num “mistério”: a inserção no mistério pascal de Cristo. Isto é, o cristão inicia-se no mistério pascal. O traço característico é o caráter pessoal desse mistério. Não se trata de um elemento mítico, mas sim de estritamente histórico; não se trata de uma doutrina, mas sim de uma pessoa. Não é a entrada numa comunidade que se auto abastece de sentido, mas a comunhão com o Deus revelado por Jesus Cristo na unidade do Espírito Santo. São realidades simbólicas, elementos visíveis por meio dos quais Cristo comunica com sua presença o que os símbolos significam: o mistério na história. A Igreja não se inicia no mistério por algum meio mágico, mas sim pelos ritos e símbolos que manifestam, contêm e realizam o mistério, de modo que esses ritos são, ao mesmo tempo, meio e objeto da iniciação. Em geral, iniciação cristã é o processo por meio do qual uma pessoa é introduzida no mistério de Cristo e na vida da Igreja, por meio de certas mediações sacramentais, que acompanham a mudança de sua atitude fundamental, de seu ser e de seu existir com os outros e no mundo, de sua nova identidade como pessoa cristã fiel. O Batismo Este sacramento é o pórtico da vida no Espírito e a porta que abre o acesso aos demais sacramentos. Pelo batismo somos libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, e somos incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão. Celebrar o batismo, de preferência no dia do Senhor, dia em que Jesus ressuscitou glorioso dentre os mortos, é o melhor contexto para compreender este sacramento como “porta” na vida da Igreja. Cristo passou das trevas do sepulcro à luz da vida, o mesmo acontecendo a um batizado. O domingo é o dia da ressurreição de Jesus, dia da assembleia dos fiéis, dia da Eucaristia. A vigília pascal, “mãe de todas as vigílias”, vigília da Palavra e da luz, oferece-nos o quadro ideal para enfatizar que o batismo é “iluminação” e que o batizado é um filho da luz que, pela presença do Espírito, mostra-se capacitado para realizar as obras da luz e, assim, envergar com dignidade sua veste branca sem mácula, coerente com vida de ressuscitado recebida. O Povo de Deus, isto é, a Igreja, representada pela comunidade local, tem uma participação importante no batismo, pois ela se compromete em auxiliar os pais e padrinhos na educação da fé do neófito. O rito batismal é composto por diversos elementos que expressam o caráter de discípulo-missionário, hoje, tanto anunciado pelo Magistério da Igreja. Começa com a acolhida da criança, dos seus pais e padrinhos, passando para o anúncio do nome que será dado a criança e o pedido do batismo, que é feito pelos pais. Assim iniciado, a criança é marcada com o sinal do cristão. Em sua fronte é traçado, pelo ministro, pais e padrinhos, o sinal da cruz. A Palavra de Deus ilumina com a verdade revelada os candidatos e a assembleia reunida. Com o exorcismo naquele que recebe o sacramento, tem a intenção de libertar a pessoa do pecado original passando à glória do ressuscitado. O óleo é usado como sinal de que o batizado é um atleta de Cristo, um homem forte que deverá resistir aos embates do mal. A água batismal é então consagrada por uma oração de epiclese2. Então o candidato é “mergulhado” em Cristo pelo banho batismal. Ser submerso na água e ser lavado por ela são atos que se integram ao simbolismo da sepultura 2 Na teologia cristã epiclese é a oração de invocação que pede a descida do Espírito Santo nos sacramentos. É especialmente importante e fundamental na missa, acontece depois do canto do Santo, em que o sacerdote pede que o Espírito Santo desça sobre a comunidade e as oferendas do pão e do vinho. e da purificação. A fórmula batismal é composta pela Santíssima Trindade, ou seja, o batismo deve ser realizado em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Após temos os ritos complementares: a unção com o santo Crisma, a veste branca e a vela que é acesa no Círio Pascal. Encerra-se a celebração com a benção à mãe, ao pai e à assembleia. Confirmação O sacramento da Confirmação constitui o conjunto dos sacramentos da iniciação cristã, cuja unidade deve ser salvaguardada. Pelo sacramento da Confirmação os fiéis são vinculados mais perfeitamente à Igreja, enriquecidos de força especial do Espírito Santo, e assim mais estritamente obrigados à fé que, como verdadeiras testemunhas de Cristo, devem difundir e defender tanto por palavras como por obras. Dentro da celebração ritual da Confirmação convém considerar os elementos próprios a ela: a imposição das mãos e a unção, acompanhada da signação ou selo espiritual. A imposição das mãos é um dos gestos mais repetidos na celebração dos sacramentos. Trata-se de um gesto polivalente, dotado da eloquente expressividade de mãos que se estendem sobre a cabeça de uma pessoa ou sobre uma coisa, se possível com contato físico. Pode indicar perdão, transmissão de força, consagração para uma missão, cura. Seu sentido se concretiza por meio das palavras que o acompanham em cada caso. A unção, no simbolismo bíblico e antigo, é rica de numerosos significados: o óleo é sinal de abundância e de alegria, ele purifica (unção antes e depois do banho) e amacia (unção dos atletas e dos lutadores); é sinal de cura, pois ameniza as contusões e as feridas, e faz irradiar beleza, saúde e força. Pela confirmação, os cristãos, isto é, os que são ungidos, participam mais intensamente da missão de Jesus e da plenitude do Espírito Santo a fim de que toda a vida deles exale “o bom odor de Cristo” (cf. 2Cor 2,15). Por esta unção, o confirmado recebe o selo do Espírito Santo. O selo é o símbolo da pessoa, sinal da sua autoridade, da sua propriedade sobre o objeto. Assim, os soldados eram marcados com o selo do seu chefe, e os escravos com o do seu proprietário. Também o cristão está marcado por um selo:“Aquele que nos fortalece convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, o qual nos marcou com um selo e colocou em nossos corações a penhor do Espírito” (2Cor 1,21-22). Este selo do Espírito Santo marca a pertença total a Cristo. A Eucaristia A Eucaristia é “fonte e ápice de toda a vida cristã” (LG 11). Os demais sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa. Pela celebração Eucarística nos unimos à liturgia celeste e antecipamos a vida eterna, quando Deus será tudo em todos. A teologia litúrgica da celebração eucarística supera com clareza a visão dualista formulada pela teologia desde a Idade Média até o começo deste século. Não é possível considerar hoje a eucaristia como sacramento separado do sacrifício. Pelo contrário, uma visão unitária da eucaristia permite-nos afirmar que a celebração eucarística é o sacramento do sacrifício pascal de Cristo. Alimentados com essa comida, completa-se em nós a Páscoa do Senhor. A comunhão aumenta a nossa união com Cristo. Receber a Eucaristia na comunhão traz como fruto principal a união íntima com Cristo Jesus. SACRAMENTOS DE CURA O Senhor Jesus Cristo, médico de nossas almas e de nossos corpos, quis que sua Igreja continuasse, na força do Espírito Santo, sua obra de cura e de salvação, também junto de seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois sacramentos de cura. Penitência ou Reconciliação Por meio deste sacramento recorre-se ao maior de Deus, sua misericórdia, e ao maior do homem, sua capacidade de reconhecer o mal causado e mudar o rumo da própria vida. Trata-se, pois, de um sacramento de maturidade. O rito do sacramento da Penitência contém ordinariamente os seguintes elementos: saudação e bênção do sacerdote, leitura da Palavra de Deus para iluminar a consciência e suscitar a contrição, exortação ao arrependimento; confissão que reconhece os pecados e os declara ao padre; imposição e aceitação da penitência; absolvição do sacerdote; louvor de ação de graças e despedida com a bênção do sacerdote. Unção dos Enfermos A doença é uma situação significativa da vida humana. Enfermidade, morte e pecado aparecem na Bíblia como realidades que se aliam e se conjuram contra o homem – realidades das quais Deus o liberta por meio da atualização da história da salvação. Por isso, a liturgia da Igreja acha-se presente nessa situação de sofrimento, por intermédio da celebração do sacramento da Unção dos Enfermos, como sinal eficaz da misericórdia salvífica de Deus, e para mostrar a solidariedade da própria Igreja com o enfermo. Na dinâmica ritual do sacramento da Unção dos Enfermos encontramos os elementos: ritos iniciais, que abrange a saudação inicial e a aspersão do enfermo, bem como o ato penitencial que só é feito quando não ocorre a confissão sacramental; a liturgia da Palavra; liturgia da unção, na qual o enfermo recebe a unção com o óleo dos enfermos na testa e nas mãos; liturgia de conclusão. SACRAMENTOS DO SERVIÇO Os sacramentos de iniciação cristã fundam a vocação comum de todos os discípulos de Cristo, vocação à santidade e à missão de evangelizar o mundo. Conferem as graças necessárias à vida segundo o Espírito nesta vida de peregrinos a caminho da Pátria Celeste. Dois outros sacramentos, a ordem e o matrimônio, estão ordenados à salvação de outrem. Se contribuem também para a salvação pessoal, é através do serviço aos outros. Conferem uma missão particular na Igreja e servem para a edificação do Povo de Deus. Nesses sacramentos, os que já foram consagrados pelo Batismo e pela Confirmação para o sacerdócio comum de todos os fiéis, podem receber consagrações específicas. Os que recebem o sacramento da Ordem são consagrados para ser, em nome de Cristo, os pastores da Igreja. Por sua vez, os esposos cristãos, para cumprir dignamente os deveres de seu estado, são fortalecidos e como que consagrados por um sacramento especial. Ordem A ordem sagrada é um sacramento, um sinal eficaz da Páscoa de Cristo, para o serviço da comunidade. O serviço próprio dos ministros ordenados – bispos, presbíteros e diáconos – é o de: “ser pastores da Igreja com a palavra e com a graça de Deus” (LG 10). O rito de ordenação é realizado dentro da celebração eucarística e tem características próprias para grau da ordem. Em todas as ordenações encontraremos a prece litânica (canto da ladainha), pois por meio dela a Igreja suplica aos santos que intercedam por aquele que será ordenado; encontramos a imposição das mãos, para os diáconos apenas impõe as mãos o bispo ordenante, sobre os presbíteros além do bispo ordenante temos a imposição das mãos dos demais sacerdotes e sobre o bispo impõe as mãos todos os bispos presentes (no mínimo três bispos); após a ordenação são revestidos dos paramentos ou insígnias próprias do seu ministério. Mas na ordenação diaconal temos a entrega do Evangelho, pois ele é o anunciador – por excelência – da Palavra de Deus. Na ordenação presbiteral o eleito é ungido nas mãos com o Santo Óleo do Crisma, pois tem a missão de consagrar as espécies eucarísticas, absolver os pecados e ungir os enfermos. Na ordenação episcopal o eleito é ungido com o Santo Óleo do Crisma, mas este é derramado sobre sua cabeça, já que ele é quem tem o múnus de conduzir a porção do Povo de Deus a ele confiado. Por isso, durante a oração consecratória o livro dos Evangelhos é aberto e colocado assim sobre a cabeça do novo bispo. Matrimônio Desde o início dos tempos homem e mulher se unem em uma relação com o objetivo de transmitir seu gene, fazendo com que a prole herde seu nome e sua tradição. A relação entre as duas pessoas deve, também, trazer aos cônjuges felicidade e segurança. Desde o AT temos a intervenção divina nas uniões conjugais, pois reconhecemos Deus como o criador de todas as coisas e a ele toda criatura deve se voltar para agradecer e dele receber a bênção. O matrimônio surge como sacramento `a partir do NT, para que Jesus Cristo fortaleça a união e ajude os cônjuges nas dificuldades que aparecerão no convívio comunitário. O ritual atual se preocupa em apresentar uma celebração mais significativa e participativa, criando na medida do possível um ambiente mais religioso e sagrado, mediante a eliminação do aparato profano que cerca a celebração e o favorecimento das disposições interiores dos contraentes, e até dos participantes, com uma adequada preparação catequética. O novo ritual é caracterizado pelo sincero esforço no sentido de dar forma concreta ao fato de que dois batizados expressam e consagram seu amor mútuo, sob o símbolo do amor de Cristo à sua Igreja, e isso diante da comunidade cristã, diante de Deus, e com intenção de criar uma comunidade de vida buscando aperfeiçoá-la e participar na vida da comunidade com seu propósito de fidelidade, de santidade e de testemunho. Por tudo isso, a bênção divina e sacramental não é um enfeite, mas uma exigência, que requer a presença operativa de Cristo, que abençoa e santifica essa nova comunidade de amor por meio de uma aliança selada com seu divino sangue. Dentro do rito matrimonial encontramos a acolhida aos noivos, manifestando a alegria da Igreja em participar da união conjugal do casal. Em seguida, temos a proclamação da Palavra, seguida do rito matrimonial. Neste há a tríplice interrogação (liberdade, fidelidade e aceitação dos filhos) aos noivos, o consentimento e a ratificação deste por parte do ministro da Igreja, a benção e a troca das alianças, a benção nupcial e a oração universal. Se os noivos estiverem preparados, podem receber a Eucaristia. O momento se encerra com uma benção sobre a nova família que se constitui e sobre todas as testemunhas presentes.
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