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APOSTILA-DE-REABILITAÇÃO-NEUROPSICOLOGIA

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2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA REABILITAÇÃO 
NEUROPSICOLÓGICA: PLURALIDADE CONCEITUAL ............................................ 5 
2.1 Hipótese cardíaca versus hipótese cerebral ......................................... 7 
2.2 Localizacionismo versus holismo ou globalismo .................................. 8 
2.3 Funcionalismo versus cognitivismo .................................................... 10 
3 ABORDAGENS METODOLÓGICAS E TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO 
NEUROPSICOLÓGICA ............................................................................................. 11 
3.1 Tipos de reabilitação quanto à abordagem teórica neurológica ......... 12 
3.2 Tipos de reabilitação quanto ao número de indivíduos ...................... 13 
3.3 Tipos de reabilitação quanto à origem da intervenção ....................... 14 
3.4 Reabilitação quanto ao objetivo da intervenção ................................. 15 
3.5 Tipos de reabilitação quanto ao ponto de partida ............................... 16 
4 O QUE É REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA ................................. 17 
4.1 Interface entre reabilitação neuropsicológica e análise do 
comportamento ...................................................................................................... 27 
5 A TERAPIA OCUPACIONAL .................................................................... 29 
5.1 Terapia ocupacional no brasil ............................................................. 31 
5.2 Definindo a terapia ocupacional ......................................................... 31 
5.3 Modelos teóricos em terapia ocupacional .......................................... 35 
6 ALGUMAS DEMONSTRAÇÕES DE TRATAMENTO ATRAVES DA 
REABILITAÇÃO ........................................................................................................ 38 
6.1 Reabilitação neuropsicológica na depressão: um enfoque terapêutico 
ocupacional 38 
7 A NEUROPSICOLOGIA E A ARTETERAPIA COMO REABILITAÇÃO NOS 
TRANSTORNOS DE ANSIDEDADE ......................................................................... 41 
 
3 
 
7.1 Arteterapia e a Reabilitação Neuropsicológica ................................... 41 
7.2 Ansiedade conceito e Neuropsicologia............................................... 42 
7.3 Atividades de Arteterapia que auxiliam na Reabilitação 
Neuropsicológica dos Transtornos da Ansiedade .................................................. 46 
8 REABILITAÇÃO COGNITIVA E MUSICOTERAPIA ................................. 50 
8.1 Funções Executivas ........................................................................... 60 
9 ASPECTOS COGNITIVOS DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR ...... 62 
9.1 Reabilitação neuropsicológica e transtorno afetivo bipolar................. 66 
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 70 
11 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 74 
 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional Faveni , esclarece que o material virtual é semelhante ao 
da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA: 
PLURALIDADE CONCEITUAL 
A reabilitação neuropsicológica pode ser conceituada de várias formas, 
podendo ser definida como um processo ativo de educação e capacitação, focado no 
manejo apropriado de alterações cognitivas adquiridas. O objetivo é obter o melhor 
potencial físico, mental e social do indivíduo, para que esse possa remanescer ou 
integrar-se em um meio social. 
 Desse modo, a reabilitação neuropsicológica almeja otimizar a máxima 
adaptação do funcionamento cognitivo, comunicativo e comportamental de pacientes 
com alterações funcionais consecutivas a um dano neurológico ou psiquiátrico. 
Durante esse processo, é importante o raciocínio clínico com o intuito de 
promover a manutenção das funções total ou parcialmente preservadas para o ensino 
de estratégias compensatórias, a aquisição de novas habilidades e a adaptação às 
perdas permanentes. 
De acordo com Wilson, reabilitação cognitiva refere-se a qualquer estratégia de 
intervenção ou técnica, que torne clientes ou pacientes e suas respectivas famílias 
capacitadas a conviver, manejar, ultrapassar, reduzir ou aceitar déficits cognitivos 
causados por lesões cerebrais. 
Ainda, cabe enfatizar que a reabilitação neuropsicológica é mais ampla do que 
a reabilitação cognitiva, pois além do interesse em melhorar as capacidades 
cognitivas, também enfatiza os aspectos emocionais, psicossociais, comportamentais 
e físicos, que possam estar deficitários após a lesão cerebral. Mesmo frente a esta 
diferença conceitual e de alcance, muitas vezes reabilitação neuropsicológica e 
cognitiva são consideradas sinônimas. 
Mais especificamente, a reabilitação neuropsicológica cognitiva por definição 
refere-se ao uso de modelos do processamento normal como base para intervenção. 
Tais modelos contribuem como base para o desenvolvimento de técnicas de 
avaliação, assim como para definir o foco e métodos específicos de tratamento. 
 
6 
 
Isso porque as associações e dissociações entre componentes cognitivos 
devem ser identificadas na avaliação neuropsicológica para guiar o raciocínio clínico 
de planejamento terapêutico. 
Em casos em que não haja um quadro neurológico ou psiquiátrico causador de 
déficits cognitivos, o processo de intervenção é conhecido como habilitação, que está 
relacionada à aquisição e ao desenvolvimento de habilidades perceptivas, linguísticas, 
motoras, entre outras. 
Dessa forma, no âmbito da neuropsicologia, a habilitação propõe-se a auxiliar 
na aquisição e no desenvolvimento de habilidades que não foram ainda adquiridas 
pelo indivíduo ou que se encontram com desempenho fraco em suas tarefas diárias 
frente à demanda do ambiente. 
A habilitação neuropsicológica, geralmente, é relacionada a crianças e jovens, 
pois acometimentos congênitos (pré, peri ou neonatais) podem comprometer a 
aquisição e o desenvolvimento de dada função cognitiva, comunicativa e/ou 
comportamental. 
Assim, a intervenção pediátrica destina-se, muitas vezes, à habilitação de 
funções não desenvolvidas, daí o termo habilitar, em contraposição à recuperação de 
funções afetadas tardiamente em adultos por lesões adquiridas, reabilitar. 
No entanto, deve-se salientar a demanda crescente na fase adulta na clínica 
neuropsicológica: necessidade de melhorar funções como memória, componentes 
executivos, atenção e comunicação para maior desempenho laboral, acadêmico, 
entre outros contextos. 
A reabilitação neuropsicológica é um termo que vem se consolidando no Brasil. 
No entanto, em nível internacional, mesmo que esta nomenclatura esteja sendo 
bastante usada,sendo inclusive nome de periódico científico (Neuropsychological 
Rehabilitation), muitas revisões teóricas e estudos empíricos são ainda encontrados 
com diferentes descritores. 
Destacam-se os termos associados a “cognitivo (a) ” ou “neuropsicológico (a) 
”: reeducação, readaptação, (re) treinamento, intervenção, terapia, tratamento, 
remediação, entre outros, como pode ser visto em revisões sistemáticas sobre 
reabilitação, nem sempre representando abordagens similares. De modo geral, todo 
o processo de intervenção neuropsicológica em nível terciário de saúde baseia-se no 
conhecimento da plasticidade cerebral ou neural. 
 
7 
 
Segundo Kristensen, Almeida e Gomes, cada período do desenvolvimento da 
história da neuropsicologia é marcado por determinadas controvérsias a 
respeito do entendimento da época sobre as relações entre cérebro e 
comportamento. (Kristensen, Almeida, & Gomes, 2001 apud Pontes Lívia 
2007). 
2.1 Hipótese cardíaca versus hipótese cerebral 
A descoberta de crânios pré-históricos do Antigo Egito (1.600 a. C.) revelam 
que nesta altura já eram utilizados conhecimentos e procedimentos médicos que 
utilizavam até mesmo a trepanação. A trepanação eram cirurgias realizadas através 
de perfurações no crânio. 
Edwin Smith descreveu em papiros a dificuldade de linguagem em pacientes 
com traumatismos cranianos e outras patologias do encéfalo. Nestes papiros Edwin 
Smith descreveu quarenta e oito indivíduos com lesões traumáticas após a sua análise 
detalhada e, deste modo, registam as primeiras tentativas de procurar a localização 
cortical das funções mentais mediante a descrição das lesões cerebrais (Feinberg & 
Farah, 1997). 
Os povos da antiguidade defendiam que toda a expressão mental do indivíduo 
estava localizada no coração. Platão (428-348 a. C.) descreveu com detalhe relações 
entre o corpo (definindo-o como matéria mutável) e a alma humana (definindo-a como 
imaterial, eterna, inalterável). Aristóteles (384-322 a.C), aluno de Platão, dividiu a 
atividade mental e defendeu que a sua localização era no coração. 
Esta hipótese enfrentou uma grande resistência dos defensores da hipótese 
cerebral. O princípio da hipótese cerebral propôs que o cérebro seria a sede da mente 
e que este seria responsável pela localização de cada tipo de sensação. 
Um dos grandes defensores da hipótese cerebral foi Hipócrates (460-377 a.C), 
este afirmava que o cérebro era o órgão responsável pelo pensamento e pelas 
sensações. Galeno, através de estudos, em animais e cadáveres abandonados, 
rigorosos, contribuiu para a construção da Teoria Ventricular. Esta teoria tinha como 
princípio defender que a mente estava localizada nos ventrículos cerebrais. 
Lentamente a hipótese cerebral predominou a hipótese cardíaca. 
No final do século XVII, René Descartes (1596-1650) construiu o ideal do 
dualismo cartesiano. O dualismo cartesiano tinha como princípio estabelecer a 
separação entre a mente e o cérebro. 
 
8 
 
A sede da alma, para Descartes, era a glândula pineal, este era o lugar de 
encontro entre a mente e o corpo. No final deste período a hipótese cerebral já não 
tinha opositores. 
2.2 Localizacionismo versus holismo ou globalismo 
É no século XIX que uma grande quantidade de pesquisas e investigações 
tentaram estabelecer uma ligação entre funções mentais superiores e estruturas 
cerebrais. Desta forma geraram-se dois grupos: os localizacionistas e os holistas ou 
globalistas. Os localizacionistas propunham que diferentes funções intelectuais 
estavam associadas à atividade de estruturas neurais especificas. Um dos maiores 
defensores desta proposta foi Franz Gall (1758-1828), este deu origem ao movimento 
frenológico que desenvolveu como método a cranioscopia. 
 A frenologia tinha como objetivo descobrir as correspondências existentes 
entre caraterísticas psicológicas (traços de personalidade, habilitações cognitivas) e 
as saliências especificas do crânio. 
 Segundo Gall e Spurzheim, como a pesquisa do movimento frenologico não 
provou qualquer tipo de ligação entre o crânio e as estruturas cerebrais e 
como não foi construída uma definição sistemática das caraterísticas mentais, 
a frenologia caiu em total descrédito. (Gall & Spurzheim, 1809, apud 
Rodrigues Cátia, 2013). 
Os holistas ou globalistas propunham que o cérebro participava como um todo 
no efetuar das diferentes funções mentais. Dois dos principais defensores da visão 
antilocalizacionista foram Jean Pierre Flourens (1794-1867) e Friedrich Leopold Goltz 
(1834-1902). 
Ambos tinham como principal princípio que as funções mentais não dependiam 
de partes singulares do cérebro, mas sim que o cérebro funcionaria como um todo. 
As investigações efetuadas com animais demonstravam que não existia nenhuma 
evidência para a localização de estruturas encefálicas associadas a funções mentais 
especificas. (Feinberg & Farah, 1997). 
Entretanto surgiram as investigações localizacionistas de David Ferrier (1843-
1928). Este realizou uma série de estudos com macacos utilizando a estimulação 
elétrica que lhe demonstrou que determinadas áreas corticais eram capazes de ativar 
 
9 
 
funções sensoriais e motoras localizadas no córtex cerebral. (Feinberg & Farah, 
1997). 
A dualidade entre localizacionistas e holistas ainda se acentuou mais com os 
trabalhos de Paul Broca (1824-1880), através do método anatomoclínico este 
estabeleceu as primeiras correlações entre lesões cerebrais circunscritas e patologias 
da linguagem em 1861. 
Assim a região localizada na terceira circunvolução do giro frontal inferior 
esquerdo ficou eternamente designada como a área de Broca. Esta área está 
estritamente relacionada com aspectos motores da linguagem. Alguns autores 
defendem que esta descoberta marca o início da neuropsicologia. 
Mais tarde, em 1874, Karl Wernicke realizou estudos relacionados com a 
compreensão da afasia. Este descreveu casos em que a lesão de uma parte do 
cérebro, o terço posterior do giro temporal superior esquerdo, determinava a perda da 
capacidade de compreensão da linguagem, sendo que a linguagem expressiva 
motora permanecia intacta. Concluiu que essa região cerebral era responsável pela 
compreensão da linguagem. 
Segundo Vygotsky, em relação às visões localizacionista e holista, Lev 
Vygotsky (1896-1934) apresentou uma análise inovadora que defende que 
as funções das partes e do todo se encontram organizadas em inter-relações 
funcionais complexas que variam em conformidade com os diferentes 
estágios de desenvolvimento humano (Vygostky, 1999, apud Silva Claudia 
2012). 
O neuropsicólogo soviético Alexander Luria (1902- 1977) desenvolveu as ideias 
originais de Vygostsky, a partir do estudo do comportamento anormal dos pacientes 
com lesão cerebral (Luria, 1981). Luria demonstrou a importância dos símbolos para 
a linguagem. Afirmou que o cérebro é um sistema altamente diferenciado, cujas partes 
são responsáveis por aspectos desse todo e a linguagem é um elemento importante 
nesse processo. 
A concepção neuropsicológica de Luria afirma que o funcionamento 
cerebral ocorre com a participação conjunta de três grupos funcionais do 
cérebro, estes são: 
 O primeiro: grupo de ativação, é responsável pelo tônus cortical ou 
estado de ativação do córtex cerebral. A formação reticular, tanto a 
ascendente como a descente, é a estrutura mais importante, sobretudo 
em suas conexões com o córtex frontal. 
 
10 
 
 O segundo grupo funcional: o do input, é responsável pela recepção, 
monitorização e armazenamento da informação. Ocupa as regiões 
posteriores do córtex cerebral: lobos parietal, temporal e occipital, 
responsável pelas respectivas zonas táctil, cinestésica, auditiva e visual. 
 O terceiro grupo: chamado de grupo de programação e controle da 
atividade, engloba os setores corticais situados no lobo frontal. Este 
conjunto cumpre as suas funções mediante relações bilaterais, tanto 
com as regiõesposteriores (grupo do input) como com a formação 
reticular (grupo da ativação). É o grupo responsável pelo planejamento, 
programação, regulação e verificação do comportamento intencional. 
(Luria, 1981). 
Luria estabeleceu dois objetivos para a neuropsicologia: localizar as lesões 
cerebrais responsáveis pelas perturbações do comportamento para um diagnóstico 
preciso e explicar o funcionamento das atividades psicológicas superiores 
relacionadas com as partes do cérebro. Deste modo, podemos concluir que Luria 
adoptou uma opinião intermediária em relação ao debate estrutura versus função. 
2.3 Funcionalismo versus cognitivismo 
O século XX é marcado pela consolidação da Neuropsicologia como 
especialidade do conhecimento. A neuropsicologia cresceu muito a partir do final da 
primeira metade do século XX, conseguindo uma posição diferente da neurologia, da 
psicologia e da psiquiatria. 
O seu desenvolvimento foi significativo durante os períodos da I e da II Guerra 
Mundiais, precisamente devido à necessidade de reabilitar soldados com 
traumatismos crânio-encefálicos. 
Segundo Wilson, neste período, foram elaborados programas de reabilitação 
destinados pela primeira vez às sequelas cognitivas. Foi também nesta altura 
que foram passados os primeiros testes neuropsicológicos. A era moderna 
da reabilitação de pessoas com lesão cerebral começou, provavelmente, na 
Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, como resultado da 
sobrevivência de militares com traumatismo craniano. A reabilitação cognitiva 
progrediu durante a Segunda Guerra Mundial (Wilson, 2003,apud Silva 
Claudia 2012). 
 
11 
 
Luria teve também um papel importantíssimo neste período de 
desenvolvimento da reabilitação neuropsicológica, pois foi o responsável pela 
organização de um hospital para soldados com lesões cerebrais. (Nomura et al., 2000) 
A neuropsicologia atual estuda os temas clássicos da psicologia atenção, 
aprendizagem, percepção e memória utilizando métodos da psicologia experimental 
e do campo da psicometria para a construção dos testes. 
As técnicas avançadas de investigação cerebral (eletroencefalograma, 
tomografia informatizada, ressonância magnética funcional) superaram a importância 
da avaliação neuropsicológica na localização das funções mentais. 
 Segundo Hebben e Milberg, a controvérsia entre localizacionismo e holismo 
foi substituída pela discussão em torno de uma nova controvérsia: 
funcionalismo versus cognitivismo. Esta controvérsia é essencial em relação 
à avaliação neuropsicológica e à construção dos testes psicológicos (Hebben 
& Milberg, 2002 apud apud Silva Claudia 2012). 
As técnicas tradicionais de avaliação neuropsicológica advêm da tradição 
funcionalista que considera que a predição do desempenho do indivíduo é o objetivo 
primário da avaliação e o construto psicológico é secundário. A bateria Halstead-
Reitan é um bom exemplo desta abordagem (Strauss, Sherman & Spreen, 2006). Por 
outro lado, os testes construídos na tradição cognitivista enfatizam principalmente o 
construto psicológico e a predição clínica como alvo secundário da avaliação. 
O Califórnia Verbal Learning Test foi criado, no início, com referência às teorias 
da memória para investigar as alterações decorrentes de lesões cerebrais. (Strauss, 
Sherman, & Spreen, 2006) de forma mais simplificada, a controvérsia atual está 
relacionada a questões metodológicas e interpretativas resultantes dos processos de 
avaliação neuropsicológica (Hebben & Milberg, 2002). 
3 ABORDAGENS METODOLÓGICAS E TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO 
NEUROPSICOLÓGICA 
As diferentes perspectivas existentes nas abordagens e técnicas 
utilizadas na reabilitação neuropsicológica: 
 Tipos de reabilitação quanto à abordagem teórica neurológica de base; 
 Número de indivíduos tratados; 
 Origem; 
 
12 
 
 Objetivo; 
 Ponto de partida da reabilitação. 
 Abordagem teórica neurológica de base. 
 Foco. 
Atualmente existem diversos serviços de reabilitação neuropsicológica 
distribuídos por todo mundo que utilizam técnicas e abordagens ainda pouco 
discutidas na literatura quanto à eficácia, validade ecológica e potencial de 
generalização para tarefas e funções além das tratadas. 
 Diversas são as abordagens de intervenção utilizadas para restabelecer as 
funções cognitivas prejudicadas. Entre elas serão destacadas as mais utilizadas tanto 
no contexto clínico quanto experimental. 
As abordagens e as técnicas utilizadas na reabilitação neuropsicológica podem 
ser caracterizadas de acordo com diferentes perspectivas. 
3.1 Tipos de reabilitação quanto à abordagem teórica neurológica 
Grafman (2000) defende a existência de quatro formas de reorganização 
funcional: 
 A adaptação da área homóloga, 
 A redesignação entre funções, 
 Expansão do mapa cortical e; 
 Compensação disfarçada. 
A adaptação da área homóloga diz respeito ao procedimento em que 
determinada região do cérebro é lesionada, a mesma região do hemisfério oposto 
adapta-se para assumir a função prejudicada. Por vezes a região lesionada pode 
impedir que o outro hemisfério assuma as funções prejudicadas. 
A redesignação entre funções acontece quando o indivíduo é privado de input 
sensorial e outras habilidades do mesmo indivíduo acabam por se desenvolver. A 
expansão do mapa cortical refere-se ao facto do tamanho do mapa cortical (área 
responsável por determinada função) pode variar de acordo com a estimulação a que 
é submetido. 
A compensação disfarçada ocorre quando uma nova estratégia de 
reabilitação é utilizada para desempenhar uma função que está prejudicada sem a 
 
13 
 
compensar. Esta apenas pode ser confirmada por meio de avaliação cognitiva 
detalhada. A abordagem teórica neurológica fala-nos também de outros três 
conceitos: compensação, adaptação e reaprendizagem. 
Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 1980, a abordagem 
compensatória procura tratar ou diminuir as sequelas provocadas pela lesão 
cerebral. Assim o esforço do paciente diante do prejuízo cognitivo causado 
pelos sistemas neuronais lesionados irá diminuir. (Segundo a OMS 1980 
apud, Wilson, 2009). 
O uso de estratégias compensatórias torna-se uma técnica muito utilizada na 
reabilitação neuropsicológica, principalmente quando o foco são défices mnemónicos, 
de atenção e de execução, pois esta abordagem tem a vantagem de ser adaptável às 
necessidades de cada paciente. 
Por vezes esta perspectiva nem sempre é fácil de executar devido a 
modificações ambientais e, além disso, o auxilio por parte de familiares e amigos é 
indispensável para a melhor adesão e adaptação do paciente. 
A perspectiva da adaptação tem como objetivo a reinserção social e quando 
possível a normalização do dia-a-dia do indivíduo com lesão. Desta forma é promovida 
a adaptação do indivíduo simplificando aspectos e tarefas do seu quotidiano. 
A abordagem da reaprendizagem dá a possibilidade de reaprender novas 
informações ou reconsolidar informações antigas. 
3.2 Tipos de reabilitação quanto ao número de indivíduos 
O processo de reabilitação pode ser conduzido com um único paciente, em 
grupos com poucos indivíduos ou com muitos pacientes. 
A reabilitação individual: tem como característica principal ser personalizada, 
pois é focada nos objetivos estabelecidos entre o paciente e a sua família com o 
terapeuta. Existem metas claras de resultados o que favorece a adesão e a percepção 
do efeito do tratamento. 
 Na reabilitação individual o plano terapêutico é mais flexibilizado de acordo 
com as preferências do paciente. Este tipo de reabilitação tem como aspectos 
negativos o isolamento social e a falta de atividades o que pode contribuir para a 
dificuldade de percepção dos défices pelo paciente e para a origem de quadros 
depressivos. 
 
14 
 
Na reabilitação neurológica: em pequenos e grandes grupos, a literatura atual 
defende a existência de três grupos. O primeiro grupo é o grupo de psicoeducação.Neste grupo os pacientes participantes recebem informações relacionadas com as 
patologias, dificuldades cognitivas, emocionais e comportamentais relacionadas com 
o quadro patológico em tratamento. 
O segundo grupo é o de treino cognitivo, ou seja, este está focado nas tarefas 
de estimulação cognitiva estabelecidas pelo plano terapêutico. Por fim, o terceiro 
grupo tem como objetivo a resolução de problemas em que há a elaboração de um 
plano de estratégias que tem como base a troca de experiência entre pacientes. 
Ambos os tipos de grupos podem ocorrer ao mesmo tempo desde que exista 
organização, tempo e estrutura para tal. Para o decorrer positivo dos grupos, sejam 
eles quais forem, têm de existir regras básicas. 
Num grupo em que os pacientes são selecionados para comunicar aspectos 
emocionai, cognitivos, comportamentais e físicos é necessária uma observação de 
cada paciente durante o processo de escolha. É necessário analisar, igualmente, o 
cansaço dos participantes e se estes têm lesões com gravidade ao nível da fala para 
que estes não se sintam deslocados do grupo. 
Num grupo em que existem muitos participantes sugere-se sempre a existência 
de mais um terapeuta para atuar como facilitador de algumas situações, como por 
exemplo a dificuldade em realizar alguma tarefa proposta para o grupo efetuar. Outro 
cuidado fundamental a ter com os participantes no grupo é não causar desconforto 
nem afetar a autoestima dos intervenientes. 
3.3 Tipos de reabilitação quanto à origem da intervenção 
Quando falamos na origem da intervenção existem, pelo menos, quatro 
abordagens: a abordagem holística, a abordagem não holística, a abordagem uni ou 
multimodal e a abordagem top-down. 
A abordagem holística procura trabalhar os aspectos cognitivos prejudicados 
pela lesão cerebral e os aspectos emocionais e psicossociais que advêm da 
ocorrência do quadro neurológico. 
Segundo Prigatano, é um dos principais defensores desta abordagem e 
propôs fundamentos que orientam a reabilitação neuropsicológica, são eles: 
o terapeuta precisa conhecer a experiência subjetiva do paciente em relação 
 
15 
 
à sua patologia; os sintomas do indivíduo ativo na reabilitação são uma 
mistura de características cognitivas e personalidade pré-mórbidas; a 
reabilitação deve permitir ao sujeito atenuar as dificuldades cognitivas em 
situações interpessoais; o terapeuta deve educar o paciente acerca da sua 
patologia; a participação do indivíduo com lesão produz reações emocionais 
nos familiares e na equipa de terapeutas intervenientes na reabilitação e, por 
fim, cada programa de reabilitação deve ser dinâmico. A principal 
desvantagem desta abordagem é ser um tratamento mais dispendioso que 
as intervenções não holísticas, (Prigatano 1999 apud Hamdan Amer, 2011). 
A intervenção não holística está direcionada para a recuperação das aptidões 
cognitivas em défice deixando de parte aspectos emocionais. Esta abordagem utiliza 
o treino de aspectos cognitivos específicos e está direcionada para a psicoeducação. 
Ambas podem ser utilizadas ao mesmo tempo, pois a psicoeducação permite diminuir 
a ansiedade tanto do paciente como dos familiares. 
Um dos principais aspectos negativos da abordagem não holística é não 
abordar diretamente os aspectos emocionais do paciente passado o quadro 
neurológico. 
Na abordagem uni ou multimodal o tratamento pode ser direcionado para focar 
apenas um aspecto cognitivo (por exemplo a atenção) ou pode procurar intervir em 
diversos aspectos cognitivos no mesmo programa de treino. 
Por fim a abordagem top-down dá mais importância à regularização do 
desempenho deficitário que afeta o quotidiano do paciente, enquanto a abordagem 
bottom-up está direcionada para atenuar os défices do paciente. 
3.4 Reabilitação quanto ao objetivo da intervenção 
Independentemente do tipo de abordagem, qualquer uma delas tem metas a 
curto, médio e longo prazo, deste modo é necessário estabelecer objetivos para uma 
melhor orientação do tratamento. 
McMillan e Sparkes (1999) propõem quatro princípios para o alcance dos 
objetivos do plano de reabilitação. O primeiro refere-se ao paciente, pois este deve 
ser a referência na definição dos seus objetivos. 
Em segundo, as metas propostas devem ser razoáveis e centradas nas 
características do paciente. Em terceiro sempre que um indivíduo alcançar um objetivo 
e este lhe for comunicado deve analisar-se o comportamento do indivíduo face a esse 
acontecimento. Por fim deve existir coerência no método a ser utilizado para alcançar 
os objetivou as metas devem ser específicas e ter um prazo definido. 
 
16 
 
Segundo Wilson, o acrónimo SMART (do inglês specific, measurable, 
achievable, realistic e timely) sintetiza a proposta de que os objetivos sejam 
específicos, mensuráveis, realizáveis, realistas e exequíveis dentro de um 
tempo estimado para cada paciente. Sugere-se realizar reavaliações 
periódicas dessas metas. (Wilson, 2009 apud Hamdan Amer, 2011). 
3.5 Tipos de reabilitação quanto ao ponto de partida 
Existem duas abordagens principais referentes ao ponto de partida funcional 
na relação entre os elementos cognitivos preservados e deficitários após o quadro 
neurológico ou psiquiátrico. 
A abordagem baseada no ponto de partida de competências não afetadas pela 
lesão cerebral tem como pressuposto que a intervenção pode partir das aptidões 
cognitivas remanescentes em estado funcional semelhante ao período pré-mórbido, 
estimulando e procurando expandir aquelas funções cognitivas mais prejudicadas, 
partindo de possibilidades que o paciente já tem para desenvolver aquelas que são 
alvo da reabilitação. 
Por outro lado, há a abordagem baseada no tratamento direto das funções 
prejudicadas ou deficitárias por causa do quadro de base. Estas são representadas 
principalmente pelos treinos cognitivos diretos uni ou multimodais, tais como de 
atenção e funções executivas, memória e linguagem. (Rohling et al, 2009). 
Assim, o processo terapêutico pode ser iniciado pelas dificuldades 
neuropsicológicas que o paciente apresenta, desafiando-o, diretamente, nas aptidões 
que estão prejudicadas. 
Na medida em que estas duas abordagens não são excludentes, são 
frequentemente associadas. É no começo do tratamento que se utiliza a primeira 
abordagem, para estimular a motivação do paciente e gerar menos frustração. 
 Na segunda fase, parte-se para técnicas da segunda abordagem, estimulando 
os componentes mais afetados a partir do nível de complexidade imediatamente 
inferior aquele em que o paciente apresentou prejuízo (erros e/ou lentidão 
processual). 
 
17 
 
4 O QUE É REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
A reabilitação teve um início provável na Alemanha, durante a Primeira Guerra 
Mundial, tendo surgido com o objetivo de auxiliar a recuperação de soldados 
sobreviventes de lesões cerebrais. 
Durante a Segunda Guerra Mundial, na União Soviética, Luria teve papel 
importante na reabilitação neuropsicológica, pois foi o responsável pela organização 
de um hospital para soldados com lesões cerebrais (Nomura et al., 2000). 
A reabilitação tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos pacientes e 
familiares, otimizando o aproveitamento das funções total ou parcialmente 
preservadas por meio do ensino de “estratégias compensatórias, aquisição de novas 
habilidades e a adaptação às perdas permanentes”. 
O processo de reabilitação proporciona uma conscientização do paciente a 
respeito de suas capacidades remanescentes, o que leva a uma mudança na auto-
observação e, possivelmente, uma aceitação de sua nova realidade (D’Almeida et al. 
2004). 
Segundo Wilson (1996), diferencia a reabilitação cognitiva da reabilitação 
neuropsicológica. A reabilitação cognitiva visa “capacitar pacientes e 
familiares a conviver, lidar, contornar, reduzir ou superar as deficiências 
cognitivas resultantes de lesão neurológica”, mas foca-se principalmente na 
melhora das funções cognitivaspor meio dos treinos cognitivos. Já a 
reabilitação neuropsicológica é mais ampla, pois, além de almejar tratar os 
déficits cognitivos, objetiva também tratar as alterações de comportamento e 
emocionais, melhorando a qualidade de vida do paciente, (Wilson 1996 apud 
Fabricia Quintão, 2013). 
Prigatano (1999) afirma que a reabilitação cognitiva é apenas um componente 
da reabilitação neuropsicológica, e esta abarca ainda a psicoterapia, o 
estabelecimento de um ambiente terapêutico, o trabalho com familiares e o trabalho 
de ensino protegido com os pacientes. 
Existe mais de uma maneira de se planejar um programa de reabilitação 
eficiente. É importante salientar para o cliente que nem sempre é possível restaurar a 
função cognitiva prejudicada, mas é possível compensá-la, encontrando maneiras de 
minimizar os problemas cotidianos. 
 O primeiro passo é realizar uma avaliação neuropsicológica para que se 
mensurem os prejuízos cognitivos e as funções intactas. A avaliação comportamental 
é um complemento da avaliação neuropsicológica. Uma das diferenças em relação 
 
18 
 
aos testes padronizados é que geralmente a avaliação comportamental é parte do 
tratamento em si. Ela identifica problemas a serem trabalhados e também pode 
avaliar a eficácia de tal tratamento. 
O terapeuta ou psicólogo continua a avaliar o cliente enquanto o tratamento 
está em andamento. Assim, o tratamento pode ser modificado ou alterado em 
resposta a uma informação observada. 
A avaliação comportamental deriva do behaviorismo, filosofia que embasa a 
análise do comportamento (Skinner, 1974/2006) e que foi fundada por John B. Watson 
e aprimorada por B. F. Skinner (Baum, 1999). 
De Vreese et al. (2001) esclarecem que os hábitos, o afeto e a motivação do 
cliente podem interferir significativamente no nível de funcionamento diário e por isso 
precisam ser levados em conta no processo de avaliação, devendo ser analisados 
como parte das contingências e produtos destas. 
Nomura et al. (2000) enfatizam a importância do papel do terapeuta, que deve 
ter uma postura de respeitar o ritmo e a velocidade do cliente, cuidando para que sua 
própria ansiedade não interfira no trabalho com o paciente. 
 
Fonte: uniad.org.br 
Reabilitação neuropsicológica pode ser definida como o conjunto de 
intervenções que objetivam melhorar os problemas cognitivos, emocionais e sociais 
 
19 
 
decorrentes de uma lesão encefálica auxiliando a pessoa a alcançar maior 
independência e qualidade de vida (Wilson, 2003). 
Segundo Boake, Alexander Luria foi um dos primeiros autores a relatar seus 
esforços sistemáticos para reabilitação de pessoas com lesão encefálica 
após a Segunda Guerra Mundial (Boake, 2003 apud ). 
Os trabalhos de Leonard Diller, realizados no Centro Médico da Universidade 
de Nova York, com pacientes com acidente vascular encefálico que apresentavam 
problemas com escaneamento visual, propiciou o desenvolvimento de programas de 
treinamento específicos e representam outro marco na história da reabilitação 
neuropsicológica. 
 Ben-Yishay (1996) desenvolveu uma visão holística para reabilitação 
neuropsicológica através da realização de exercícios cognitivos, psicoterapia e 
atividades terapêuticas junto a este grupo. 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (World Health Organization, 2000), 
as doenças ligadas ao funcionamento cerebral constituem a maior causa de 
deficiências no mundo. 
A demanda por serviços de reabilitação neuropsicológica tem crescido 
consideravelmente devido ao aumento dos recursos médicos oferecidos à população. 
No Brasil, porém, diversas dificuldades são observadas para que essa área se 
desenvolva, por exemplo: as poucas instituições de ensino que oferecem capacitação 
nesta área da neuropsicologia, as dificuldades inerentes à área para delimitar 
protocolos baseados em evidências, a necessidade de adaptar as estratégias de 
reabilitação utilizadas em outros contextos socioculturais à realidade brasileira e, 
ainda, a descoberta de indicadores adequados à realidade brasileira para avaliar os 
programas de reabilitação que têm sido implantados. 
Segundo Wilson (1991) aponta que as dificuldades em desenvolver 
estratégias padronizadas de intervenção para cada distúrbio 
neuropsicológico relacionam-se com diversos fatores, Wilson (1991). 
Fatores importantes como a diversidade da população atingida, os diferentes 
tipos de lesões e as características particulares dos déficits observados fazem com 
que a avaliação dos programas de reabilitação seja um tópico complexo. 
Outro fator relevante é o fato de que existe ainda pouco consenso no âmbito 
da neuropsicologia quanto a teorias capazes de subsidiar a compreensão de como as 
 
20 
 
funções neuropsicológicas se desenvolvem e se organizam no contexto da população 
geral. 
Assim, a criação de estratégias em reabilitação nem sempre estão 
fundamentadas no conhecimento teórico que se tem sobre determinada função ou 
patologia. 
As diferenças culturais e, portanto, a diversidade de demandas sociais e 
valores priorizados em diferentes contextos afetam diretamente as metas 
estabelecidas nos diferentes programas de reabilitação. 
Este fato dificulta a avaliação dos programas de reabilitação através da 
comparação com resultados de outros programas no mundo. Consequentemente, o 
estabelecimento de parâmetros internacionais que priorizem determinados resultados 
comuns a todos torna-se inviável muitas vezes. 
Com o intuito de amenizar estas dificuldades, desde a última década do século 
XX, diversas iniciativas podem ser apontadas como tentativas de estruturar um corpo 
de conhecimento em reabilitação neuropsicológica que fundamente as intervenções 
na área. Cicerone e colegas (Cicerone, Dahlberg, Kalmar, Langenbahn, Malec, 
Berquist & cols., 2000) realizaram uma extensa revisão bibliográfica e apresentaram 
estratégias de intervenção que a literatura propõe ao reabilitar no contexto de 
diferentes problemas neuropsicológicos. 
Vários autores publicaram obras que compilavam o conhecimento cientifico na 
área de modo mais organizado (Christensen & Uzzell, 2000; Eslinger, 2002; 
Johnstone & Stonnington, 2001), o que facilitou tanto o ensino quanto a pesquisa em 
reabilitação. 
Wilson (2003b) propôs algumas diretrizes para nortear as práticas em 
reabilitação neuropsicológica: 
 O processo de reabilitação é considerado como uma parceria entre as 
pessoas com lesão, suas famílias e os profissionais de saúde; 
 O planejamento de objetivos tem se tornado um dos métodos mais 
usados para delinear o plano de reabilitação; 
 Os déficits cognitivos, emocionais e psicossociais encontram-se 
conectados e todos devem ser considerados durante os programas 
terapêuticos; 
 
21 
 
 Tecnologia representa uma parte importante na compreensão da lesão 
e na compensação das dificuldades apresentadas por este grupo; 
 Reabilitação tem começado durante a terapia intensiva antes mesmo da 
estabilização das condições médicas do paciente e; 
 Compreende-se reabilitação cognitiva como uma área de atuação que 
necessita de uma vasta base teórica que incorpore diferentes modelos 
e metodologias derivadas de diversos campos da psicologia e 
neurociências. 
Vários procedimentos têm sido sugeridos como eficazes na reabilitação 
neuropsicológica. 
A imaginação motora, ou seja, a simulação imaginada de movimentos e a 
observação de movimentos têm sido estudadas em pacientes após acidente vascular 
encefálico (AVE) e Holmes (2007) sugere-as como possíveis técnicas de reabilitação. 
Segundo Lengenfelder, Chiaravalloti e DeLuca, outro procedimento estudado 
baseia-se no efeito de geração que se caracteriza pelo fenômeno que os itens 
gerados pelos próprios indivíduos são melhor recordados quando 
comparados com itens fornecidos por outrem (Lengenfelder, Chiaravalloti, & 
DeLuca, 2007). 
Uma variedade de tecnologias também é usada como auxilio na reabilitação de 
pessoascom problemas neuropsicológicos. Por exemplo, a utilização de sistemas de 
mensagens curtas que auxiliavam a lembrar pacientes com esquizofrenia de suas 
atividades e compromissos diários. 
 Estudos vem utilizando-se de sistemas computacionais para criar realidades 
virtuais que facilitam a aprendizagem de modo seguro e incentivam a comunicação 
de pessoas com problemas de mobilidade também têm sido realizados. 
No entanto, ainda encontramos pouca uniformidade dentre os métodos 
de reabilitação neuropsicológica devido pelo menos a três fatores: 
 As dificuldades metodológicas encontradas para verificar a eficácia dos 
procedimentos adotados; 
 A diversidade das populações atendidas nos programas de reabilitação 
e; 
 A interdisciplinaridade inerente a área. 
Sohlberg e Mateer (1989) foram pioneiras ao proporem intervenções 
especificas em reabilitação neuropsicológica, porém, foram criticadas devido à 
 
22 
 
dificuldade que tinham tanto em relacionar a ligação entre as intervenções práticas 
com modelos teóricos existente quanto em apresentar evidências de resultados 
positivos vinculados com tais intervenções. 
Em 2008, um número especial da Rehabilitation Psychology debateu sobre as 
dificuldades metodológicas encontradas em realizar pesquisas na área e apontou a 
necessidade em se desenvolver estudos com desenhos mais adequados para cada 
tipo de investigação privilegiando a coerência teórica (Dunn & Elliott, 2008) que 
incluiriam tanto metodologias de análise quantitativa como qualitativa de dados 
(Chwalist, Shah, & Hand, 2008; DeVries & Morris, 2008). 
Segundo Tucker e Reed, ressaltam que, como a intervenção em reabilitação 
constitui-se apenas como uma variável dentre várias que influenciam o 
funcionamento da pessoa ao longo do tempo, a pesquisa em psicologia da 
reabilitação deve se expandir para incluir diversas abordagens teóricas e 
metodológicas, Tucker e Reed (2008). 
Assim, metodologias tradicionais, como o desenho de grupos clínicos com 
amostragem aleatória, estudos longitudinais (Fay, Yeates, Wade, Drotar, Stacin & 
Taylor, 2009) ou estudo de caso (Mateer, 2009) seriam utilizadas juntamente com 
estudos meta analíticos (Babikian & Asarnow, 2009) e pesquisas qualitativas para 
criar evidências que fundamentem as intervenções em reabilitação. 
No Brasil traz à tona problemas teóricos e práticos na área que ajudam a 
formular diretrizes para a pesquisa em neuropsicologia no Brasil. 
Apesar da identificação de um número crescente de pacientes com problemas 
neuropsicológicos, a maioria das intervenções em reabilitação neuropsicológica 
adotadas nos serviços de neuropsicologia no Brasil baseia-se em procedimentos 
utilizados em países do primeiro mundo que ainda não foram adequados ao contexto 
brasileiro. 
As diferenças interculturais têm sido extensamente discutidas enquanto 
importantes para subsidiar o processo decisório durante a reabilitação (Niermeier & 
Arango-Lasprilla, 2007; Uamoto, 2005). 
Sendo assim, torna-se premente que o pesquisador na área da avaliação e 
reabilitação neuropsicológica considere estes fatores quando planeja seus estudos. A 
adaptação dos procedimentos de avaliação e intervenção neuropsicológica para a 
realidade brasileira deve ser considerada como prioridade. 
 
23 
 
A criação de parâmetros nacionais de avaliação de programas de reabilitação 
neuropsicológica através do amplo debate entre profissionais e clientes, assim como 
da realização de estudos sistemáticos sobre o tópico também se fazem necessárias. 
Tais parâmetros poderão subsidiar as políticas públicas de reabilitação e fundamentar 
a inserção do neuropsicólogo em equipes interdisciplinares de reabilitação, o que 
ampliará o mercado de trabalho para o neuropsicólogo. 
O estudo do desenvolvimento neuropsicológico normal e do perfil 
neuropsicológico vinculado a diferentes patologias deve continuar a ser aprofundado, 
uma vez que muitas questões permanecem sem resposta e a apresentação de 
evidências que norteiem as condutas profissionais adotadas nestes contextos ainda é 
necessária. 
Em suma, a teoria e a prática no campo da neuropsicologia brasileira se 
complementam ao apontarem os caminhos principais que a pesquisa na área precisa 
trilhar. Esforços conjuntos entre diferentes centros de pesquisa que utilizem uma 
multiplicidade de desenhos e métodos de pesquisa são necessários de serem 
desenvolvidos para conseguir viabilizar resultados que subsidiem a prática da 
neuropsicologia no Brasil. 
A importância da reabilitação neuropsicológica como uma das intervenções 
possíveis após o diagnóstico de déficits cognitivos derivados de quadros neurológicos 
e/ou psiquiátricos vem sendo cada vez mais abordada nas literaturas nacional e 
internacional. 
Corresponde à complexo conjunto de procedimentos e técnicas aplicados em 
busca de melhorar a qualidade funcional do paciente em seu cotidiano, à luz de 
pressupostos teóricos e abordagens metodológicas das neurociências e áreas afins. 
Estão envolvidos neuropsicólogo e paciente, demais profissionais da equipe 
interdisciplinar e cuidadores/familiares. 
Quanto maior a complexidade das ações causadas pelo cérebro, maior a 
necessidade de novos processamentos. (Damásio, 2006). Por mais essa constatação, 
verificamos a importância da utilização do programa do PEI (Programa de 
enriquecimento na reabilitação neuropsicológica, reforçando o enriquecimento 
cognitivo, não só aumentando a unidade de atenção, implementando as estratégias 
de experiência mediada, mas também implementando uma estratégia de 
processamento informativo. 
 
24 
 
O modelo de input 
Elaboração – output de informação proposto por Feuerstein pode ser 
sintetizado nos seguintes processos funcionais similares à perspectiva de Luria e com 
os instrumentos do PEI (Fonseca, 2007): 
Input: 
 Ativação, atenção e percepção (primeira unidade de Luria); 
responsáveis pela modelação do alerta cortical, pelas funções de 
sobrevivência, pela vigilância tônico-postual e pela filtragem e integração 
dos inputs sensoriais. Instrumentos do PEI que trabalham com o Input: 
organização dos pontos básicos, organização dos pontos, orientação 
espacial básica, orientação espacial I e II comparações, percepção 
analítica, classificações e ilustrações. 
Elaboração: 
 Integração, retenção, processamento de dados, processamento 
simbólico e motor (segunda unidade de Luria). Esta área é responsável 
pela análise, síntese, retenção e integração da informação intrasensorial 
especifica, recebida na primeira área, com bases em processos 
perceptivos sequenciais já especializados hemisfericamente. Abrange 
um número de unidades de informações que podem ser processadas e 
manipuladas simultaneamente. Instrumentos do PEI que trabalham com 
Elaboração: relações familiares, relações temporais, progressões 
numéricas e instruções, identificando emoções, comparando e 
descobrindo absurdo, da empatia à ação. 
Output: 
Planificação, conscientização do processo, monitorização, predição de 
consequências, avaliação de resultados, tomada de decisões, processos de 
prestação, verificação e preparação da resposta e integração de efeitos da ação. 
Respostas certas e justificadas marcam a capacidade do indivíduo de expor, de forma 
clara e precisa, como executou determinada tarefa, explicando de maneira ordenada 
os passos do seu raciocínio. Consistindo no lobo frontal, que representa o nível mais 
elaborado de desenvolvimento do cérebro humano (terceira unidade de Luria). 
Instrumentos do PEI que trabalham com Output: silogismo, relações transitivas, 
sobreposições de padrões, três canais de atenção e da unidade ao grupo. 
 
25 
 
Assim, o PEI pode ser usado como um instrumento terapêutico em muitos 
casos de distúrbios ou lesões neurológicas, tais como Síndrome de Down, TDHA, 
dificuldades de aprendizagem etc., porque as disfunções cognitivas não se encontram 
necessariamente associadascom lesões em áreas corticais particulares, mas tendem 
a serem sensíveis ao efeito de uma lesão cerebral, independente de sua localização. 
Quando usado com rigor neuropsicológico e clínico, baseado nas necessidades 
específicas e nos perfis neuropsicológicos dos indivíduos, o PEI pode ajudar 
fortemente nesta organização sistêmica e no seu desenvolvimento funcional, porque 
o PEI reflete uma modificação progressiva e qualitativa. (Fonseca, 2005). 
Como exemplo, podemos citar o instrumento Três Canais de Atenção, do PEI 
Básico, que foi criado para trabalhar déficits de atenção, impulsividade e déficits nos 
níveis de input (captação) e elaboração de informações. 
Este instrumento é composto de uma caixa de papelão vazia com uma abertura 
nas duas laterais que permite o paciente colocar as mãos para manipulação tátil. A 
face superior da caixa é aberta para permitir ao mediador observar o processo de 
exploração, mediando o paciente a conduzir uma resposta mais precisa do mediado. 
As formas geométricas vão sendo apresentadas uma a uma, para o paciente 
explorar as características das peças, através da manipulação tátil, e reconhecer as 
diferentes formas (quadrado, triângulo, polígonos variados, formas segmentadas 
irregulares) iniciando das formas mais simples para as mais complexas. 
É importante salientar que, conforme o trabalho vai sendo realizado, o paciente 
vai adquirindo melhor habilidade nas formas mais complexas. 
Inicialmente, através da percepção tátil, o objetivo da mediação nessa série é 
formar um processo para a exploração tátil e usar essa exploração para construir as 
imagens mentais internalizadas que serão graficamente e visualmente reforçadas nas 
próximas etapas. 
Os conceitos podem ser formulados usando tanto o conteúdo (a natureza das 
formas geométricas) quanto o processo (como a aprendizagem ocorre). O paciente 
deve manter a atenção aos atributos essenciais das formas, movendo as mãos e os 
dedos, para explorar as dimensões das formas (praxias) e descrever verbalmente 
nomeando os atributos que está experimentando tatilmente. 
 
26 
 
Deve-se orientar o paciente a segurar a figura entre o polegar e o dedo 
indicador na posição vertical, de forma que cada peça possa ser registrada 
mentalmente enquanto o paciente explora tatilmente. 
Na segunda etapa, o paciente faz um desenho do que foi reconhecido através 
da exploração tátil. O indivíduo pode realizar mais de um desenho, até que seja o mais 
preciso possível, nos detalhes e tamanho da forma explorada, através da mediação 
do terapeuta, a terceira etapa é o reconhecimento visual da forma geométrica. 
É mostrado ao mediado uma página (folha) do instrumento, que apresenta 
variações das formas que foram exploradas, com o objetivo que ele identifique, entre 
outros desenhos de formas geométricas, qual ele explorou, confirmando se o indivíduo 
conseguiu, através da representação mental adquirida pela manipulação do 
instrumento. A diferenciação das formas requer discriminação e eliminação das 
formas diferentes. 
Cada forma geométrica deve ser explorada bem, nos três canais (manipulação, 
reprodução e reconhecimento) para depois ser passada para outra figura. O mediador 
pode tanto avançar séries quanto voltar às anteriores, sendo flexível e criativo para 
responder as necessidades do mediado e do desenvolvimento cognitivo, ajudando a 
criança a explorar e a observar como está realizando as propostas. 
 As formas combinam os elementos familiares que foram percebidos e os 
elementos novos que devem ser identificados e registrados. As formas que se 
assemelham a objetos familiares (escada, estrela, chave), ajudam o paciente a 
nomeá-las. 
As formas geométricas foram construídas de uma madeira fina, dando 
oportunidade para serem exploradas com as mãos e os dedos. São levemente 
ásperas nas bordas e na superfície o material é plano, com o propósito de favorecer 
uma resposta do objeto em questão, através de reconhecimento tátil, totalizando 26 
formas geométricas. 
Os objetivos específicos desse instrumento são a focalização, usando 
estímulos abstratos que devem ser percebidos em diferentes maneiras para depois 
ser integrado; a exploração, usando as modalidades táteis e motoras e a construção 
de conceitos, usando a mediação verbal baseado nas informações recolhidas e 
assimiladas através do tato, necessitando neste momento evocar a memória. 
 
27 
 
4.1 Interface entre reabilitação neuropsicológica e análise do comportamento 
A neuropsicologia pode ser definida como o estudo científico das relações 
cérebro-comportamento (Horton, 1994; 1997). Nesse sentido, o desempenho 
neuropsicológico pode ser influenciado tanto por variáveis orgânicas quanto por 
variáveis ambientais (Horton e Puente, 1990 apud Horton, 1994). 
A psicologia comportamental se propõe a estudar as relações entre o sujeito e 
o ambiente que o cerca. Desse modo, seria natural pensarmos em uma possível e 
vantajosa integração entre neuropsicologia e terapia comportamental. 
Essa integração existe e é chamada de “neuropsicologia comportamental”. 
Iniciou-se em 1978, quando foi fundado um grupo com esse nome durante o encontro 
anual da Association for Advancement of Behavior Therapy (AABT) (Horton, 1994). 
A neuropsicologia comportamental pode ser definida como: 
“(...) a aplicação de técnicas de terapia comportamental para problemas de 
indivíduos com prejuízos orgânicos, utilizando a perspectiva da avaliação 
neuropsicológica. Esta modalidade de tratamento sugere que a inclusão de dados das 
estratégias de avaliação neuropsicológica possa ser útil na formulação de hipóteses 
referentes a condições antecedentes (externas ou internas) de fenômenos 
psicopatológicos observados. 
Ou seja, uma perspectiva neuropsicológica aumentará a habilidade do 
terapeuta comportamental em fazer discriminações precisas quanto à etiologia dos 
comportamentos do paciente. Além disso, a formulação de um coerente plano de 
intervenção terapêutica e sua habilidosa implantação pode, em alguns casos, ser 
facilitada pela análise dos déficits comportamentais implicados em prejuízos do 
funcionamento cortical superior” (Horton, 1979, apud Horton, 1994, p. 4). 
O interesse por uma interface entre neuropsicologia e terapia comportamental 
parece ter surgido com William Gaddes (1968, apud Horton, 1997), o qual argumentou 
que esta união seria especialmente útil para os distúrbios de aprendizado da infância. 
Wilson (2003) cita Lane (1977), que publicou uma detalhada descrição do 
trabalho de Itard com um garoto com problemas de comportamento como sendo o 
início da aplicação de procedimentos comportamentais na reabilitação. 
Itard utilizou-se de aproximações que hoje são conhecidas como modelagem; 
ele também empregou o que hoje chamamos de encadeamento (dividiu uma 
habilidade mais complexa em partes mais simples e ensinou primeiro as mais simples 
 
28 
 
até conseguir instalar a habilidade mais complexa), além de demonstrar preocupação 
com a questão da generalização. 
Luria et al. (1963; 1969) não utilizaram os termos “terapia comportamental” ou 
“modificação do comportamento”, mas empregavam procedimentos comportamentais 
no trabalho com portadores de lesões cerebrais. Os procedimentos por eles descritos 
são parecidos com o que hoje é conhecido por modelagem. 
Segundo Goodkin, descreveu e incentivou o emprego de procedimentos 
comportamentais em adultos com lesões cerebrais. Ele empregou o 
condicionamento operante para melhorar habilidades como escrita, operação 
de maquinário e locomoção em cadeira de rodas com três pacientes vítimas 
de derrames e um paciente com doença de Parkinson Goodkin (1966). 
Descrições da utilização de procedimentos comportamentais em adultos 
lesionados cresceram bastante na década de 1970, segundo Wilson et al. (2003). 
Entretanto, foi na década de 1980 que os procedimentos comportamentais passaram 
a ser aplicados mais rigorosamentepara problemas cognitivos. 
As publicações da época expuseram as diversas razões pelas quais 
métodos comportamentais são apropriados e eficientes para pessoas com 
lesões cerebrais. Os autores listam algumas dessas razões: 
 Abundância de procedimentos tanto para diminuir comportamentos-
problema como para instalar comportamentos desejáveis; tais 
procedimentos que podem ser adaptados ou modificados para cada tipo 
de cliente. 
 Riqueza e complexidade de suporte teórico possibilitando aplicações em 
uma vasta gama de clientes, situações e problemas. 
 Os objetivos são explícitos, pequenos e usualmente fáceis de se 
alcançar 
 Ao contrário de outros programas, a avaliação e o tratamento são 
inseparáveis na abordagem comportamental. Avaliações 
neuropsicológicas ou cognitivas, por exemplo, se relacionam 
indiretamente com o tratamento. Pontuações baixas em testes de 
inteligência ou memória não são objetivos para o tratamento, pois não 
se ensina os clientes a “passar” nesses testes. Os escores são 
importantes para a compreensão das forças e dificuldades cognitivas e 
para o planejamento da reabilitação, mas eles não informam detalhes 
 
29 
 
sobre dificuldades cotidianas, como os familiares lidam com essas 
dificuldades, o que o cliente espera alcançar ou como o ambiente 
interfere no comportamento. Para obter esses dados, é necessária a 
utilização de uma avaliação comportamental, que frequentemente já faz 
parte do tratamento em si. 
 Tratamentos bastante individualizados, em contraposição a pacotes de 
tratamento (como programas computadorizados) que podem não 
funcionar para determinados clientes. A abordagem comportamental 
leva em conta as condições biológicas do indivíduo, eventos 
precipitadores, as consequências desses eventos, fatores sociais e o 
ambiente no qual o indivíduo está inserido. 
 Programas que podem ser facilmente compreendidos e gerenciados por 
terapeutas, clientes e familiares. 
Alguns autores (Kazdin e Hersen, 1980; Pearce e Wardle, 1989; Wilson et al., 
2003) destacam que analistas do comportamento possuem características que são 
vantajosas para a reabilitação neuropsicológica, como: forte comprometimento com a 
avaliação empírica do tratamento e dos procedimentos de intervenção; especificação 
do tratamento em termos operacionais e, assim, replicáveis; avaliação dos efeitos do 
tratamento por meio de modalidades de múltiplas respostas com ênfase particular no 
comportamento observável; forte ligação com outras disciplinas (desde dificuldades 
de aprendizagem até a larga aplicação em diversas condições médicas como 
diabetes, dor crônica, obesidade, adição, lesões cerebrais), o que facilita o trabalho 
dos cientistas comportamentais em equipes multi e interdisciplinares. 
5 A TERAPIA OCUPACIONAL 
Entender o processo histórico de uma profissão possibilita a compreensão 
sobre sua prática na atualidade segundo Barlotti e De Carlo (2001), relatam o uso 
terapêutico das ocupações desde a antiguidade, entre gregos e romanos. Acreditava-
se que a utilização das atividades (trabalho, exercício, arte e artesanato) poderia 
“curar” aqueles que estivessem “possuídos pelo demônio”. Aos demais doentes eram 
oferecidas com o propósito de manter o ambiente tranquilo e favorecer o contato com 
os “deuses”. 
 
30 
 
Segundo as mesmas autoras por volta do século XVIII e do início do século 
XIX, a ocupação tornou-se largamente aceita para o tratamento do doente mental, 
quando o doutor Philippe Pinel, em 1791 assumiu a direção do asilo Bicêtre e deparou 
com a trágica situação na qual viviam os doentes mentais. 
Conforme Francisco (2008), a ocupação, naquele momento, foi o recurso 
principal. Segundo Soares (2007) “a generalização do trabalho a todos os tipos de 
alienados gerou uma gradação da atividade, segundo o grau de “degradação” moral 
e intelectual do interno e a complexidade do trabalho oferecido”, movimento ficou 
conhecido como Tratamento Moral e consoante Francisco (2008), foi difundido até a 
metade do século XIX na Europa e na América. 
 Segundo Caniglia, no início do século XX, nos Estados Unidos, um grupo de 
profissionais que se intitulavam como terapeutas ocupacionais tentaram 
elaborar os princípios da profissão. Eram médicos, enfermeiros assistentes 
sociais, professores de arte e voluntários. Eles defendiam o equilíbrio 
repouso-atividade e uma programação saudável de atividade, incluindo 
atividades produtivas, atividades lúdicas, atividades de autocuidado e contato 
pessoal. (CANIGLIA, 2005). 
A Terapia Ocupacional como profissão da área de saúde surgiu nos Estados 
Unidos, e sua primeira escola foi fundada em Chicago, em 1915. A intenção era 
diminuir os efeitos da primeira Guerra Mundial os atendimentos eram realizados para 
reabilitação dos incapacitados físicos e mentais que retornavam dos campos de 
batalha. Esse período foi chamado de “reconstrução” ou da restauração dos 
potenciais físicos e mentais dos sequelados de guerra. (MOREIRA, 2008). 
De acordo com Soares (2007) nesta mesma época iniciou-se a organização da 
categoria, em 1917, na Sociedade Nacional para Promoção da Terapia Ocupacional 
(depois chamada Associação Americana de Terapia Ocupacional). 
Em 1923, a Associação Americana de Terapia Ocupacional estabeleceu os 
“Padrões Mínimos para Curso de Treinamento em Terapia Ocupacional”, o que 
colaborou bastante para a elevação do status da profissão. 
 Neste período, serviços de Terapia Ocupacional eram bastante solicitados por 
hospitais, principalmente nos Estados Unidos, na área de Reabilitação Industrial. 
(CANIGLIA, 2005), serviços que influenciou a terapia ocupacional no Brasil. 
 
31 
 
5.1 Terapia ocupacional no brasil 
No Brasil, a história da profissão remonta ao período posterior à Segunda 
Guerra Mundial e às estratégias de implantação de programas de reabilitação na 
América Latina, preconizadas por organismos internacionais (ONU, OIT, Unesco), 
apesar das antigas experiências de uso das “ocupações com objetivo terapêutico” em 
instituições asilares psiquiátricas no Brasil, devido à influência norte-americana. 
Segundo Bartalotti; de Carlo , no início da década de 60, os cursos de 
formação em Terapia Ocupacional foram implantados, preferencialmente, na 
área da reabilitação física. Gradativamente, porém, na formação dos 
terapeutas ocupacionais foram incorporados estágios na atenção 
psiquiátrica. (BARTALOTTI DE CARLO, 2001). 
Cabe ressaltar alguns nomes importantes para esse processo: Luís Cerqueira, 
Nise da Silveira, Elso Arruda e Suliano Filho; ambos psiquiatras, constituíram a terapia 
ocupacional no país e produziram textos teóricos importantes no período de 1950 a 
1986. (SOARES, 2007). 
A profissão se institucionalizou entre 1948 e 1980. A formação profissional era 
inicialmente por meio de cursos de treinamento em saúde mental pela Dra. Nise da 
Silveira em 1948, depois em reabilitação física em 1956, porém o curso se tornou de 
nível universitário em 1961, pela lei do Currículo Mínimo, com 3 anos de duração. O 
reconhecimento da profissão foi promulgado apenas em 1969, juntamente com a 
fisioterapia. (SOARES, 2007). 
Ainda segundo a mesma autora, em 1970 criou-se o Conselho Federal de 
Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO, que se organizou em entidades 
regionais. Em 1980 foi criado o primeiro sindicato da categoria, também em conjunto 
com a Fisioterapia. A legitimação oficial da T.O possibilitou sua ampliação em 
faculdades e universidades e consequentemente uma discussão mais ampla dos seus 
conceitos. 
5.2 Definindo a terapia ocupacional 
Ao longo de sua história, a Terapia Ocupacional teve várias denominações 
como terapia pelo trabalho, ergoterapia, praxiterapia e laborterapia. Esses conceitos 
possuem similaridade e, no Brasil, foram substituídos por terapia ocupacional na 
 
32 
 
medida em que o curso e a profissão foram criados no país na segunda metade do 
século XX. (SOARES,2007). 
O termo “terapia ocupacional” foi proposto no início do século XX por George 
E. Barton, arquiteto norte-americano e fundador da Associação Americana de Terapia 
Ocupacional (AOTA). A partir da constatação da existência da doença ocupacional, 
Barton perguntou-se por que não poderia haver uma “Terapia Ocupacional” para 
atender a demanda (SOARES, 2007). 
Francisco (2008) faz algumas considerações sobre certos mal-entendidos que 
o cotidiano e o senso comum lançam acerca do nome da profissão, quando é 
relacionado a brincadeiras, trabalho ou artesanato. Na tentativa de esclarecer essas 
questões, a autora traz pesquisa que realizou no Novo dicionário Aurélio, que 
apresenta a etimologia das palavras “terapia” e “ocupacional”: 
Segundo Francisco, no verbete terapêutica: Parte da medicina que estuda e 
põe em prática os meios adequados para aliviar ou curar doentes; Terapia. 
Terapêutica Ocupacional – psiq. Aquela que procura desenvolver e aproveitar 
o interesse do paciente por um determinado trabalho ou ocupação: Terapia 
Ocupacional, laborterapia, ergoterapia (nessa acepção, cf. praxiterapia) ’. 
Conforme solicitação do autor, partimos então à procura do verbete 
praxiterapia, que diz o seguinte: ‘ (de práxis mais terapia) técnica de 
tratamento usada, em geral, em doentes crônicos internados, e que consiste 
na utilização terapêutica do trabalho, distribuindo-se aos pacientes tarefas de 
complexidade crescente’... Quanto a ocupacional, diz o autor: ‘referente a 
ocupação, trabalho, oficio’. Vejamos agora ocupação: ‘do latim occupatione – 
ato de ocupar, ou de apoderar-se de algo – Ofício, trabalho, emprego, 
serviço...’ (Francisco (2008). 
A mesma autora constata que o estudo das raízes das palavras permite o 
entendimento da terapia ocupacional como “técnica (parte da medicina que estuda e 
põe em prática) que utiliza o trabalho como recurso (meio adequado) para tratar 
(aliviar ou curar os doentes) ”. (FRASCISCO, 2008). 
No entanto, a pertinência deste termo vem sendo questionada por alguns 
terapeutas ocupacionais. Caniglia (2005) defende o termo “praxiterapia”, pois o 
considera mais fiel às formas de atuação deste profissional, para ela o termo “práxico” 
abrange mais as atividades humanas. 
A autora julga que o termo “ocupacional” se refere mais ao trabalho, 
restringindo a atuação. Esses questionamentos são universais, porém, a profissão 
permanece sendo denominada oficialmente de Terapia Ocupacional. 
A concepção específica da T.O, remete a um conceito de profissional em que 
se evidencia suas funções reabilitadoras, isto é, ele é considerado como alguém que, 
 
33 
 
através de seus conhecimentos específicos, deve atender às necessidades físicas, 
psíquicas e sociais de forma abrangente e significativa com utilização da ocupação 
humana. As definições profissionais de terapia ocupacional são atualizadas 
periodicamente. 
A Associação Brasileira de Terapia Ocupacional divulgou 28 definições 
colhidas pela Federação Mundial de Terapia Ocupacional junto aos seus países 
membros. Os países que responderam foram: 16 europeus, 5 asiáticos, 4 americanas 
e 1 do oriente médio. (SOARES, 2007; WFOT 2002). 
De acordo com Soares (2007, p.04), a definição inicial de Terapia Ocupacional 
foi proposta em 1922 pelo médico H. A. Pattison, como “qualquer atividade, mental ou 
física, claramente prescrita e orientada, com o objetivo específico de contribuir para o 
tratamento e acelerar a recuperação de uma doença ou trauma”. 
Durante os últimos dez anos, os terapeutas ocupacionais brasileiros têm 
aceitado as definições de terapia ocupacional vindas dos Estados Unidos, e acolhem 
com maior frequência as propostas pela Associação Americana de Terapia 
Ocupacional. (FRANCISCO, 2008). A seguir, algumas das principais definições. A 
Associação Americana de Terapia Ocupacional propõe a seguinte definição: 
Segundo Wfot, Terapia Ocupacional é o uso das atividades significativas 
elaboradas para alcançar resultados funcionais que promovam saúde, 
previnam lesão ou deficiência, e que desenvolvam, melhorem e sustentem 
ou reestabeleçam um maior nível possível de independência de qualquer 
indivíduo que tenha uma lesão, doença, déficit cognitivo, desajuste 
psicossocial, doença mental, atraso no desenvolvimento, ou dificuldade de 
aprendizagem, disfunção física ou outro transtorno. Inclui avaliação por meio 
de observação qualificada ou avaliação pela administração e interpretação 
de testes formais ou informais. – Definição prática de Terapia Ocupacional 
para Regulamentação Federal pela Associação Americana de Terapia 
Ocupacional, 1994. (WFOT, 2002,). 
A WFOT – World Federation of Occupational Therapists (Federação Mundial 
de Terapia Ocupacional) assim define a Terapia Ocupacional: Terapia Ocupacional é 
uma disciplina da saúde que diz respeito a pessoas com diminuição, déficit ou 
incapacidade física ou mental, temporária ou permanente. 
O terapeuta ocupacional profissionalmente qualificado envolve o paciente em 
atividades destinadas a promover o restabelecimento e o máximo uso de suas funções 
com o propósito de ajudá-los a fazer frente às demandas de seu ambiente de trabalho, 
social, pessoal e doméstico e a participar da vida em seu mais plano sentido. (WFOT, 
2002). 
 
34 
 
Em 1997 desenvolveu-se um conceito brasileiro para definir a profissão e que 
foi de grande importância para o desenvolvimento da profissão no país, afinal, o 
conceito de uma profissão deve ser adequado ao contexto do país (FRANCISCO, 
2008; WFOT 2002). 
Esta definição foi formulada pelo curso de Terapia da USP - Ocupacional da 
Universidade de São Paulo, e é a definição brasileira mais difundida: 
É um campo de conhecimento e de intervenção em saúde, educação e na 
esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a emancipação e autonomia das 
pessoas que, por razões ligadas a problemática específica, físicas, sensoriais, 
mentais, psicológicas e/ou sociais, apresentam, temporariamente ou definitivamente, 
dificuldade na inserção e participação na vida social. As intervenções em Terapia 
Ocupacional dimensionam-se pelo uso da atividade, elemento centralizador e 
orientador, na construção complexa e contextualizada do processo terapêutico. 
(WFOT, 2002). 
A Associação Brasileira de Terapeutas Ocupacionais traz a seguinte definição 
da profissão: 
Uma profissão de nível superior reconhecida e regulamentada pelo Decreto Lei 
nº 938/69 e pelas resoluções COFFITO nº 08/1978, 10/1978, 81/1987, estes atribuem 
as competências do profissional terapeuta ocupacional, no diagnóstico do 
desempenho ocupacional nas áreas das atividades de vida diária, atividades 
instrumentais de vida diária, trabalho e produtivas, lazer ou diversão e nos 
componentes de desempenho sensório-motor, integração cognitiva, e componentes 
cognitivos, habilidades psicossociais e componentes psicológicos, por meio da 
utilização de métodos e técnicas terapêuticas ocupacionais. (ABRATO, 2012) 
Definição disponibilizada pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia 
Ocupacional: 
Segundo Coffito, é uma área do conhecimento, voltada aos estudos, à 
prevenção e ao tratamento de indivíduos portadores de alterações cognitivas, 
afetivas, perceptivas e psicomotoras, decorrentes ou não de distúrbios 
genéticos, traumáticos e/ou de doenças adquiridas, através da 
sistematização e utilização da atividade humana como base de 
desenvolvimento de projetos terapêuticos específicos. (COFFITO, 2011). 
Com as organizações das definições da terapia ocupacional podemos fazer 
referência aos modelos que podem conduzir a prática da T.O. 
 
35 
 
5.3 Modelos teóricos em terapia ocupacional 
Os conhecimentos teóricos ministrados nos cursos de T.O são apontados como 
formas fundamentadas de intervenção. 
Segundo Hagedorn (2001), os modelos são “uma representação simplificada 
de estrutura e conteúdo de um fenômeno ou sistema, que escreve ou explica as 
complexas relações entreos conceitos do sistema e integra os elementos da teoria e 
da prática”. 
Na busca pelo reconhecimento científico, a terapia ocupacional referenciou a 
estrutura de seus modelos de atuação nos procedimentos e teorias médicas e 
psicológicas, entre quais, cabe ressaltar, os exercícios físicos, a estimulação 
sensorial, as atividades sequenciais do desenvolvimento humano. Isso se deu pelo 
fato de serem os conhecimentos valorizados na época. (MEDEIROS, 2004). 
 A terapia ocupacional, porém, foi saindo gradualmente da tutela médica e se 
apropriando de um arsenal teórico para sustentar sua prática, afirmando, dessa forma, 
um status profissional. (DRUMMOND, 2007). 
Na terapia ocupacional, os “Modelos Teóricos” indicam a abordagem teórica 
utilizada para fundamentar a prática do profissional. De acordo com Caniglia (2005), 
“os modelos tratam das referências teóricas que contém conceitos e premissas 
teóricas que darão base e orientação para a utilização na clínica e na pesquisa”. 
 Segundo Caniglia, vários estudos têm sido feitos para se detectarem quais 
modelos teóricos o terapeuta ocupacional busca para fundamentar sua 
prática. CANIGLIA (1991), pesquisando referências teóricas utilizadas em 
Terapia Ocupacional, observou que vários profissionais se interessam pelo 
assunto: Reed identificou 35 modelos em Terapia Ocupacional; Helen e 
Hopkins apresentaram nove abordagens para a prática: Comportamental, 
Biomecânica, Cognitiva, Desenvolvimental, Neurodesenvolvimental, 
Sensório-motora, Ocupação Humana, Psicanalítica e Reabilitação. Anne 
Mosey três abordagens de referência: Analítica, Desenvolvimental e 
Aquisicional. Javetz e Katz apontaram nove modelos: Integrativo Sensorial, 
Neurodesenvolvimental, Comportamental, Cognitivo, Comportamento 
Ocupacional, Psicodinâmico, Desenvolvimental, Reabilitativo e Biomecânico. 
Briggs e outros autores apresentam quatro modelos para a Terapia 
Ocupacional Psicossocial: Psicanalítico, Comportamental, Humanístico e 
Desenvolvimental. Kielhofner levantou oito modelos: Adaptação Espaço 
Temporal, Biomecânico, Cognitivo Perceptual, Controle Motor, Distúrbios 
Cognitivos, Grupos de Trabalho, Integrativo Sensorial e Ocupação Humana. 
Hagedorn descreveu 6 modelos: Ocupação Humana, Adaptação através da 
Ocupação, Desempenho Ocupacional, Habilidades Adaptativas, 
Incapacidade Cognitiva, Saúde através das Atividades, Caniglia (2005). 
 
36 
 
Caniglia (2005) apresenta em seus estudos uma classificação para os modelos 
utilizados em terapia ocupacional, a saber: Modelo Profissional, Modelos Sanitaristas, 
Modelos Históricos, Modelos Filosóficos e Modelos Metodológicos. 
Optou-se por explicitar melhor esse último, pois se caracteriza em ter 
como base e utilização de teorias, métodos e técnicas específicas. As principais 
características destes modelos estão organizadas no Quadro 1: 
 
Fonte: bdm.unb.br- caniglia, 2005. 
 
37 
 
 
Fonte: bdm.unb.br- caniglia, 2005. 
Cabe ainda detalhar melhor as abordagens mais utilizadas pelos terapeutas 
ocupacionais em saúde mental. Uma delas é o modelo analítico, também conhecido 
como junguiano devido ao seu criador Carl Gustav Jung (1875-1961). 
Segundo Vaz (2007), os estudos de Jung foram trazidos para o Brasil na 
primeira metade do século XX por Nise da Silveira, ela considerava que Jung 
forneceria à terapia ocupacional amplas bases de terapêutica para neuróticos e para 
psicóticos. 
O modelo junguiano utiliza os conceitos tais como: inconsciente individual, 
inconsciente coletivo, arquétipos, persona, self, mandala, animus, anima, 
sombra, atitude e funções. O processo exige uma comunicação entre o 
consciente e o inconsciente, um diálogo constante entre vida exterior e a 
dimensão simbólica da vida interior. (JUNG, apud CANIGLIA, 2005). 
Mângia e Nicácio (2001) sugerem que um dos referenciais que se tornaram 
importantes para a Terapia Ocupacional no processo de constituição do campo da 
saúde mental foi a Psicodinâmica. Segundo as autoras, esses referenciais surgiram a 
partir da intenção de humanizar as instituições psiquiátricas, criticar o Tratamento 
Moral, a Ergoterapia, as práticas de ocupação do tempo ocioso e violações da 
identidade presentes nos ambientes asilares, sem, no entanto, romper com sua lógica. 
Tedesco (2007) define psicodinâmica como “o efeito das ideias psicanalíticas 
sobre diferentes áreas que enfocam o funcionamento mental e desenvolvem 
estratégias que lidam ou consideram o sofrimento psíquico”. Conceitua ainda a 
psicodinâmica da ação como o entendimento dos mecanismos inconscientes das 
 
38 
 
ações ou dos comportamentos como peça importante para compreensão do ser 
humano e das estratégias desenvolvidas na relação terapêutica. 
Para Almeida e Trevisan (2010), a Prática Centrada no Cliente constitui um 
referencial teórico da psicologia que é utilizado pelo terapeuta ocupacional e que tem 
grande importância na saúde mental. 
De acordo com as autoras este modelo possibilita desenvolver ações junto com 
os usuários, auxiliando-os no processo de identificação de suas demandas e 
superação dos obstáculos que se interpõem à sua participação social e desempenho 
satisfatório nas atividades cotidianas. 
A Prática Centrada no Cliente, proposta por pelo psicólogo Carl Rogers é uma 
abordagem canadense que privilegia a interação terapeuta e cliente no processo 
terapêutico, permitindo que o terapeuta torne-se um facilitador em tal processo. 
Tal abordagem visa habilitação nas áreas de desempenho ocupacional 
referentes ao lazer, produtividade e autocuidado, desde que dotados de significado 
para o indivíduo e adequados a seu momento e contexto de vida. 
 Verifica-se que este modelo constitui uma ferramenta de trabalho que coincide 
com os pressupostos da Reabilitação Psicossocial por valorizar a coparticipação e 
responsabilização do usuário por seu projeto terapêutico, e por demonstrar 
flexibilidade quanto à utilização de modelos de intervenção diversos que atendam as 
demandas de cada caso (MÂNGIA, 2002). 
6 ALGUMAS DEMONSTRAÇÕES DE TRATAMENTO ATRAVES DA 
REABILITAÇÃO 
6.1 Reabilitação neuropsicológica na depressão: um enfoque terapêutico 
ocupacional 
Avaliação e reabilitação terapêutica ocupacional: 
Oliveira, Gomes e Oliveira (2009) ilustram que a ocorrência de depressão é 
associada a diversos fatores, tais como idade, estado civil, classe social e condições 
sociais. Os autores ainda afirmam que o transtorno depressivo é uma condição que 
afeta todos os indivíduos em alguma fase de suas vidas, seja como humor transitório 
ao se sentir abatido ou melancólico, ou como uma forma mais séria, que pode 
 
39 
 
prejudicar o desempenho físico e psicológico, incluindo-se então as atividades 
ocupacionais do ser humano. 
A partir dessas questões, pode-se dizer que a Terapia Ocupacional adentra 
esse contexto como forma de reabilitar ou adaptar o indivíduo com transtorno 
depressivo às suas condições cotidianas, ocupacionais ou de lazer. 
Segundo Neistadt e Crepeau (2002), “ocupação” em terapia ocupacional não 
se refere simplesmente a profissões ou treinamentos profissionais, e sim a 
todas as atividades que ocupam o tempo das pessoas e dão sentido a suas 
vidas, (Neistadt e Crepeau 2002). 
Baseado na obra de Francisco (1988), o terapeuta busca promover a saúde 
ocupacional, habilitando as pessoas para que possam engajar-se nos papéis, nas 
tarefas e atividades que tenham significados para elas no seu dia-a-dia e que sejam 
definidoras de suas vidas. 
Diante do exposto, a Terapia Ocupacional aliada à Neuropsicologia fornecerá 
subsídios para a complementação das avaliações, bem como a interligação de 
técnicas capazes de reabilitar, estimular ou desenvolver a capacidade cognitiva dos 
pacientes acometidos pela depressão. 
Estudos feitos por Camargo, Bolognani e Zuccolo (2008), a bateria de testes 
fornecidos pela Neuropsicologia estabelece não só as fraquezas, mas também as 
forças cognitivas, promovendo

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