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ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 1 Análise Estratégica de Portfólio de Investimentos ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 2 Análise Estratégica de Portfólios de Investimentos O Que é Avaliação de Investimentos e Quais os seus Objetivos No exercício de sua profissão, economistas, engenheiros e técnicos da área econômico-financeira frequentemente se deparam com a escolha de alternativas que envolvem estudos econômicos. Somente uma análise econômico-financeira de investimentos pode confirmar a viabilidade de projetos tecnicamente corretos. A decisão de investir em ativos reais está entre as mais importantes decisões econômicas, pois impactam o futuro econômico de uma sociedade. Esse tipo de investimento refere-se à determinação de aumentar ou não o estoque de capital da empresa, seja mediante aquisição ou ampliação de instalações físicas, máquinas, equipamentos, ou até mesmo o investimento em treinamento, capacitação ou contratação do capital humano, elementos utilizados para a produção de bens e/ou serviços pela empresa. O sucesso dessa deliberação é julgado pelo aumento do valor da empresa, refletido em ganho para os proprietários. A boa decisão de investimento se materializa na compra de um ativo que vale mais do que seu custo. Cumpre identificar se a oportunidade proporciona um valor superior ao seu custo e se o encargo da dívida adicional pode ser suportado com segurança. Todo ativo, financeiro ou real, tem valor. A chave para investir nesses ativos e gerenciá-los com sucesso não reside na compreensão do montante desse valor, mas nas fontes do valor. A avaliação não é um exercício objetivo, e quaisquer preconcepções e preconceitos que o analista trouxer para o processo acabarão por se incorporar ao valor. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 3 1. Análise de Investimentos 1.1 Estrutura e Etapas de um Projeto Um projeto pode ser entendido como um conjunto de informações coletadas e processadas de modo que simulem uma dada alternativa de investimento para testar sua viabilidade. Um projeto de investimento tem por objetivo a criação, a expansão, a modernização, a fusão, a incorporação, a alteração da localização ou a reorganização de um empreendimento visando ao aumento de valor dos ativos dos acionistas. A análise de investimentos de capital busca mensurar a viabilidade econômica e financeira de projetos que possuam retornos de longo prazo. Sua relevância se deve ao fato de que tais projetos costumam envolver grandes somas e que, uma vez tomada a decisão, modificações costumam acarretar elevados prejuízos. Estrutura do Projeto Os aspectos mais frequentemente encontrados em uma alternativa de investimentos são: 1) Aspectos Econômicos: Mercado: são os elementos fornecidos pela análise de mercado que determinarão, de modo fundamental, muitas características do projeto. O que produzir, quantidade demandada, preço de venda, canais de distribuição, principais concorrentes, regulação do mercado etc. tornam a análise de mercado um dos primeiros aspectos a serem considerados no projeto. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 4 É importante destacar que essa parte do projeto precisa ter o suporte de dados estatísticos de institutos de pesquisa ou outras fontes que possuam credibilidade. As projeções de demanda devem ser baseadas em dados socioeconômicos que justifiquem o comportamento previsto. Localização: a escolha da localização dependerá de diversos fatores, tais como proximidade do mercado consumidor, a escala pretendida, incentivos fiscais, considerações técnicas etc. Além disso, será muito importante analisar a disponibilidade local dos diversos bens de produção intermediários tais como mão de obra, energia, matérias-primas e condições ambientais. Escala: a escala de produção irá depender, entre outros fatores, do estudo do mercado, da localização e dos aspectos técnicos. A existência de economias de escala pode ser um aspecto determinante na escolha da capacidade de produção. 2) Aspectos técnicos: envolvem as considerações referentes à seleção entre os diversos processos de produção, à engenharia do projeto, ao arranjo físico dos equipamentos na fábrica etc. 3) Aspectos financeiros: Investimento necessário e cronograma de desembolso: envolve a determinação do capital a ser investido (instalações, equipamentos, treinamento de mão de obra, despesas gerais de implantação, patentes) assim como a periodicidade dos desembolsos de caixa. Custos do projeto (fixos e variáveis): incluem não somente os custos de produção, mas todos os demais custos da organização, passando por despesas de marketing (comunicação, pesquisas, desenvolvimento de produto), vendas, distribuição e administração. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 5 Receitas do projeto: estimativa das receitas de vendas, financeiras, outras. Composição do capital: neste aspecto são analisadas as diferentes opções que existem para compor o capital a ser investido no projeto. Simplificadamente, o que se procura é determinar a composição do capital próprio e de terceiros. Financiamentos: nesta parte são analisadas as alternativas de empréstimo. Procura- se determinar, entre outras fontes de empréstimo disponíveis, aquelas que apresentam maior conveniência e/ou que otimizam a rentabilidade do projeto. Capital de giro: a análise financeira das fontes e das aplicações do dinheiro em giro permitirá que se determine o capital de giro próprio. Este, sendo um investimento a ser feito, deverá ser incluído nos desembolsos do projeto. Outros aspectos importantes são os administrativos (definição da estrutura organizacional que será necessária para a implementação e operação do projeto), os legais (exigências ou incentivos por parte das esferas de governo), o meio ambiente (análise dos impactos positivos e negativos) e os contábeis. Etapas de um Projeto O ponto de partida é uma oportunidade de investimento que foi detectada pela empresa e/ou pelo empresário. A partir daí, o primeiro passo é realizar um estudo de mercado no qual serão caracterizados o produto, a quantidade demandada projetada, os canais de comercialização, o preço de venda etc. A seguir, são abordados os aspectos técnicos, a localização e a escala do projeto. Esses aspectos estão intimamente relacionados: o tipo de processo a ser escolhido pode condicionar a localização geográfica e esta a escala de produção. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 6 Feita a seleção do processo e a determinação dos investimentos mais significativos para determinada localização e escala, será possível estimar o volume de financiamentos necessários e a provável composição do capital da empresa. Neste ponto será analisado o custo das fontes de recursos, bem como o risco inerente à opção de um endividamento excessivo. O passo seguinte é levantar as necessidades de pessoal para a estrutura administrativa a ser implantada. Nesta fase serão considerados também os incentivos de ordem fiscal e/ou econômica para a implantação do projeto, bem como os aspectos relacionados com o meio ambiente. Nesse ponto é possível elaborar as projeções de custos e receitas. Tais projeções, combinadas com o cronograma de desembolso de caixa e o custo do capital, permitirão uma análise de viabilidade econômico-financeira do projeto. 1.2 Tipos de Projetos É importante destacar que na maioria das vezes uma empresa não analisa apenas um projeto de maneira isolada. É comum existir uma carteira de projetos que será avaliada do ponto de vista financeiro para a seleção daqueles que agregam maior valor para a organização. Nesse contexto, a relação entre os projetos disponíveistorna-se um elemento relevante no processo de análise: Projetos Economicamente Independentes Dizemos que dois projetos são economicamente independentes quando os fluxos de caixa não são relacionados ou dependentes uns dos outros; a aceitação de um não elimina os outros de considerações futuras. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 7 Projetos Mutuamente Excludentes Dois projetos são mutuamente excludentes quando a decisão de investir em um impede o investimento no outro (p. ex., falta de capacidade física para acomodação dos dois projetos). Projetos Economicamente Dependentes Caso a decisão de investir em um projeto tenha efeito sobre os benefícios do outro projeto, dizemos que os projetos são economicamente dependentes. Dois tipos de dependência podem ser observados: Projetos Complementares Se o investimento no projeto (A) aumenta os benefícios do projeto (B), temos uma situação de complementaridade entre os projetos. Projetos Substitutos Se a decisão de investir em (A) implicar a redução dos benefícios de (B), temos uma situação de substituição. No limite poderemos ter projetos excludentes. 1.3 Estimativa do Fluxo de Caixa De posse de todas as premissas do projeto (volume de vendas, preços, impostos sobre vendas, custos de fabricação, despesas de comunicação e vendas, despesas gerais etc.) a empresa irá construir o fluxo de caixa do projeto, o qual corresponde à estruturação de todas as entradas e saídas de caixa do projeto ao longo do tempo. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 8 É importante destacar que na avaliação do projeto de investimento deverão ser considerados apenas os fluxos de caixa relevantes, os quais correspondem aos fluxos de caixa incrementais gerados pelo projeto. Assim, se uma empresa estuda a possibilidade de aumentar a sua capacidade de produção, passando suas receitas de R$ 1.000,00 para R$ 2.000,00, o valor do incremento de receita (R$ 1.000,00) é a parcela relevante para fins de tomada de decisão e não o total da receita a ser obtida (R$ 2.000,00). Outro ponto de fundamental importância é que na avaliação de um projeto de investimento deve-se utilizar o fluxo de caixa dos ativos. Não se devem levar em consideração a depreciação nem as despesas financeiras (juros) na avaliação de projetos. FCATIVOS = FCOPERACIONAL + FCCAPITAL GIRO + FCINVESTIMENTO NECESSÁRIO FC significa “fluxo de caixa” Principais Elementos de um Fluxo de Caixa Tempo de análise do projeto: é importante que esse tempo seja estabelecido de acordo com os objetivos do projeto. Nos casos de projetos sujeitos à apreciação do BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, do BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento e do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (para fins de financiamento) os resultados de um projeto de investimento devem ser estimados para um horizonte de 10 anos. Um aspecto muito importante na projeção dos fluxos de caixa é o risco envolvido nessas projeções. Quanto maior o horizonte de tempo da previsão, maior o risco de erro embutido. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 9 Receitas esperadas: corresponderão aos recebimentos de caixa gerados pelo projeto (incrementais). Vale destacar que na análise do projeto normalmente são definidas as entradas de caixa como as vendas realizadas. Questões envolvendo o prazo de recebimento são analisadas em separado para a definição do capital de giro mínimo necessário. Custos do projeto: englobam não apenas o custo de produção, mas também os demais custos envolvidos na divulgação e na comercialização dos produtos e eventuais acréscimos nos custos de administração. Para aumentar a qualidade das análises, permitindo a adoção de estudos de sensibilidade e análise do ponto de equilíbrio, é aconselhável desmembrar os custos em fixos e variáveis. Capital de giro: é a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante. Como recursos alocados ao capital de giro não podem ser usados em outras áreas da empresa, variações no capital de giro afetam o fluxo de caixa do projeto. As necessidades de capital de giro de uma empresa serão definidas pelo tipo de negócio em que opera. Empresas varejistas têm uma necessidade muito maior de capital de giro, como percentual de receitas, por terem estoque e necessidades de crédito muito maiores do que empresas de serviços. Pontos que Merecem Destaque nas Estimativas dos Fluxos de Caixa Custos incorridos (ou irrecuperáveis): são aqueles que a empresa já realizou em um determinado projeto, isto é, são desembolsos passados e irreversíveis. Exemplo: pesquisas de mercado para avaliar a aceitação de um novo produto. Os gastos com essa pesquisa não poderão ser recuperados independentemente da decisão da empresa (desenvolver ou não o projeto). Assim, tais custos não devem ser considerados no fluxo de caixa do projeto, pois não contribuem para o processo de avaliação e tomada de decisão. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 10 Custos de oportunidade: correspondem às receitas que a empresa estará deixando de ter ao optar por investir em determinado projeto. Essa perda, ou custo de oportunidade, deve ser considerada no fluxo de caixa do projeto. Efeitos colaterais: são os efeitos secundários que atuam sobre o fluxo de caixa da empresa e devem ser considerados na avaliação. Exemplo: o lançamento de um novo produto acarretará uma redução de 50% na receita de outra linha já existente. Depreciação: é parte integrante do custo de fabricação. Entretanto, não gera saídas de caixa (uma vez que o desembolso já ocorreu anteriormente, quando o ativo foi adquirido). Assim, a depreciação não é considerada no fluxo de caixa do projeto. Contudo, por ser dedutível para fins de imposto de renda (IR), o seu impacto no imposto (benefício de redução do imposto devido) deve ser considerado. Benefício fiscal da depreciação = depreciação × alíquota do IR Existem diferentes métodos de depreciação de ativos (depreciação por unidade produzida, depreciação por hora de produção etc.). Entretanto, o IR brasileiro admite somente o método linear de depreciação, o qual se baseia na simples divisão do valor de aquisição do bem pela vida útil estimada (pelo próprio fisco). Os principais ativos e a vida útil admitida pela legislação fiscal são indicados a seguir: Imóveis - 25 anos - 4% ao ano. Equipamentos industriais - 10 anos - 10% ao ano. Equipamentos informática - 5 anos - 20% ao ano. Veículos - 5 anos - 20% ao ano. Valor residual dos ativos: corresponde ao valor que será obtido pela empresa com a venda do ativo ao final da sua vida útil. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 11 Os bens, ao final de sua vida útil, podem possuir valor de mercado (revenda). Nesses casos, tal valor deverá ser considerado como uma entrada de caixa do projeto. Da mesma maneira, o projeto pode destinar-se a substituir bens que poderão ser revendidos. Essas entradas de caixa também deverão ser incorporadas ao projeto. Custos de financiamento: como visto anteriormente, o fluxo de caixa que deve ser utilizado na avaliação de um projeto é o fluxo de caixa dos ativos. Logo, as despesas com juros não devem ser consideradas (decisões de investimento são diferentes de decisões de financiamento). Exercício de Estimativa de Fluxo de Caixa: A empresa Baldwin fabrica bolas esportivas (tênis, futebol, beisebol e golfe). Atualmente, a empresa está analisando a viabilidade de investir na fabricação de bolas de boliche coloridas. Segundo seus dirigentes, existe um público menos exigente em termos de desempenho que gostaria de ter uma maior diversidade de cores. Esse mercadoparece não estar sendo atendido pelos fabricantes de maior porte. Para confirmar essas percepções, a empresa fez uma pequena pesquisa de mercado, gastando cerca de $ 250.000. Os resultados dessa pesquisa apoiavam a tese de que seria possível ganhar de 10% a 15% desse mercado. A Baldwin poderia utilizar um prédio vazio para a instalação da fábrica. Esse prédio poderia ser vendido por $ 150.000, mas seus diretores não pretendiam se desfazer dele nos próximos 5 anos. O custo de uma máquina de bolas de boliche é de $ 100.000 e seu valor estimado depois de 5 anos é de $ 30.000. A produção anual, durante a vida de 5 anos da máquina, deve ser 5.000, 8.000, 12.000, 10.000 e 6.000 unidades. O preço das bolas no primeiro ano será igual a $ 20, com expectativa de crescimento de 2% ao ano, enquanto o custo da produção ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 12 está estimado em $ 10 por unidade no primeiro ano com acréscimos de 10% ao ano. O investimento em capital de giro necessário no primeiro ano é de cerca de $ 10.000 e deverá manter-se em 10% da receita líquida. A despesa de depreciação (segundo a legislação em vigor) é linear e deve ser feita em 5 anos. A alíquota de IR é de 34% e a taxa de risco desse projeto é de 15% ao ano. Monte o fluxo de caixa dos ativos desse projeto. 1.4 Custo de Capital nos Projetos de Investimento O custo de capital representa a taxa mínima de atratividade que um projeto de investimento deverá produzir, de forma a tornar-se viável econômica e financeiramente. A estimativa do custo de capital de um projeto deve levar em conta o nível de risco associado a este. Caso o projeto tenha um nível de risco compatível com as demais operações da empresa, geralmente se utiliza a custo médio ponderado de capital (WACC, de weighted average cost of capital ) da empresa para se descontar o fluxo de caixa. Essa taxa é formada pela média ponderada do custo de capital próprio e do capital de terceiros empregados na estrutura de financiamento do projeto. O custo de capital de terceiros é o retorno exigido pelos financiadores das dívidas da empresa. Corresponde à taxa de juros que a empresa precisa pagar para obter novos empréstimos. Essa taxa pode ser observada diretamente nos mercados financeiros. O custo líquido do capital de terceiros (Rd ) é representado pela taxa de juros paga nos financiamentos deduzidos do benefício fiscal do IR (T). Rd = taxa de juros dos financiamentos * (1 T) É importante destacar que a possibilidade de deduzir integralmente os juros pagos, para fins de apuração do IR, acaba por gerar uma redução do custo final do capital ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 13 de terceiros para a empresa, contribuindo para que ele se torne ainda mais barato do que o custo de capital próprio. O custo do capital próprio é dado pela equação Re = Rf + Pr, onde Rf corresponde à remuneração de uma aplicação livre de risco e Pr representa o rendimento adicional exigido para remunerar o risco do projeto, denominado “prêmio de risco”. O assunto custo de capital será discutido com mais profundidade na parte III da apostila. Exemplo de cálculo do WACC utilizado para desconto do fluxo de caixa do projeto. Valor do projeto => R$ 1.000.000,00 Capital próprio => R$ 700.000,00 Capital de terceiros => R$ 300.000,00 Custo do capital próprio => 15% a.a. Custo do capital de terceiros => 8% a.a. Alíquota de IR (T) => 35% Custo do capital de terceiros líquido de imposto de renda Rd = 8% * (1 – 0,35) = 5,2% Custo médio ponderado de capital WACC = (700.000 * 0,15 + 300.000 * 0,052)/1.000.000,0 WACC = 0,129 ou 12,06% ao ano Tendo em vista que o IR incidente sobre o lucro do projeto estará contido no fluxo de caixa como uma saída do projeto, é razoável ajustar o custo do capital de terceiros pela alíquota vigente do imposto. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 14 1.5 Métodos de Avaliação de Investimentos Os administradores de empresas, independentemente do tamanho delas e do seu campo de atuação, sempre se defrontam com a necessidade de avaliar projetos de investimento. Existem diferentes métodos para avaliação dos fluxos de caixa projetados. Discutiremos os principais métodos utilizados: Método do payback (retorno do investimento). Método do payback descontado. Método do valor presente líquido. Método da taxa interna de retorno. Método do Payback (tempo de recuperação do investimento) Um dos métodos de avaliação mais amplamente difundidos entre os administradores de empresas. O método consiste na determinação do número de períodos necessários para recuperar o capital investido. Payback = Investimento inicial _ Fluxo de caixa por período A partir desse dado a empresa decide sobre a implementação do projeto, comparando-o com os seus referenciais de tempo para recuperação de investimentos. Quanto menor o payback de um projeto, mais atrativo ele se torna para a empresa. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 15 Assumindo um investimento original de R$ 100.000,00 capaz de gerar um fluxo de caixa líquido para a empresa de R$ 40.000,00 ao ano, teríamos um payback de 2,5 anos, indicando que esse seria o período de tempo necessário para a empresa recuperar seu investimento. Vantagens do Payback: 1) É um método bastante simples de ser utilizado e de fácil entendimento. 2) Funciona como um indicador de risco do projeto: quanto maior o payback, maior o risco envolvido na recuperação do investimento. Problemas do Payback: 1) Não leva em consideração o valor do dinheiro no tempo 2) Não considera todos os fluxos de caixa do investimento. 3) Desconsidera diferenciais de risco. Em razão de seus problemas, o payback não deve ser utilizado, isoladamente, como método responsável pela tomada de decisão de investimento. Método do Payback Descontado Com o intuito de eliminar o grande ponto de crítica envolvendo o método do payback, podemos descontar os fluxos de caixa projetados pela taxa de desconto do projeto. Com isso, estaremos atualizando o valor do dinheiro pelo custo de capital e apurando um resultado mais preciso. O payback descontado nada mais é do que o número de períodos necessários para se recuperar o investimento, porém levando-se em consideração o valor do dinheiro no tempo. Devemos lembrar que os fluxos de caixa devem ser atualizados pela fórmula a seguir: ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 16 PV = FV / (1 + i)n Assumindo um projeto com o seguinte fluxo de caixa e taxa de desconto: WACC = 12% a.a. Ano Fluxo de caixa 0 (1.000,00) 1 150,00 2 260,00 3 350,00 4 240,00 5 200,00 6 290,00 7 300,00 ∑ 790,00 Teremos a seguinte situação de payback e payback descontado: WACC = 12% a.a. Ano Fluxo de caixa Coeficiente de desconto Fluxo de caixa descontado 0 (1.000,00) 1,0000 (1.000,0) 1 150,0 1,1200 133,9 2 260,0 1,2544 207,3 3 350,0 1,4049 249,1 4 240,0 1,5735 152,5 5 200,0 1,7623 113,5 6 290,0 1,9738 146,9 7 300,0 2,2107 135,7 ∑ 790,0 139,0 Payback = 4 anos Payback descontado = 6 anos ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 17 A introdução do valor do dinheiro do tempo incorpora ao método do payback a dimensão de avaliação de resultado econômico, a qual estarápresente em todos os demais métodos. Muito embora o desconto dos fluxos de caixa pelo custo de capital corrija o principal desvio existente no método do payback, os outros problemas anteriormente mencionados ainda permanecem, como por exemplo, o fato do método desconsiderar os fluxos de caixa após o período do retorno do investimento. Método do Valor Presente Líquido O método do valor presente líquido (VPL) é o método mais utilizado na análise de investimentos. Trata-se do desconto de todos os fluxos de caixa do projeto pelo seu custo de capital, apurando-se o valor atual de cada fluxo e, por conseguinte, o valor líquido gerado pelo projeto. Assumindo o exemplo anterior, o VPL do projeto proposto é positivo no valor de R$ 139. Em outras palavras, os ganhos do projeto remuneram o investimento feito em 12% ao ano e ainda permitem aumentar o valor da empresa daquele valor. Ou ainda que se poderia gastar mais R$ 139 como investimento no início do primeiro período e mesmo assim os ganhos remunerariam a empresa em 12% ao ano. Critérios de aceitação de um projeto pelo método do VPL: VPL > 0 o projeto será economicamente interessante ao custo de capital considerado. Quanto maior o VPL, maior o valor gerado para a empresa. VPL = 0 significa que o valor presente das entradas é igual ao valor presente das saídas de caixa. Isso implica dizer que o projeto produz retorno igual à taxa mínima de atratividade da empresa. VPL < 0 o projeto não será economicamente interessante ao custo de capital considerado, pois não ocorre a recuperação do investimento realizado. A expressão matemática do VPL é dada pela equação: ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 18 onde: R0 => investimento inicial R1, R2, ... , Rn => Valor do fluxo de caixa gerado pelo projeto t => tempo i = > custo de capital Utilizando-se a HP 12C, temos a seguinte solução para o exemplo anterior: Digite “f” “fin” Tecle “f” “reg” Digite “1.000”; “CHS” Tecle “g” “cfo” Digite “150” Tecle “g” “cfj” Digite “260” Tecle “g” “cfj” Digite “350” Tecle “g” “cfj” Digite “240” Tecle “g” “cfj” Digite “200” Tecle “g” “cfj” Digite “290” Tecle “g” “cfj” Digite “300” VPL = R0 + R1 + R2 + … + Rn (1 + i)1 (1 + i)2 (1 + i)n ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 19 Tecle “g” “cfj” Digite “12” Tecle “i” Tecle “f” “NPV” => A máquina retornará um resultado de R$ 138,96 Método da Taxa Interna de Retorno A taxa interna de retorno (TIR) demonstra a rentabilidade efetiva de um investimento durante todo o tempo de análise do projeto. Por definição, a TIR de um projeto convencional é a taxa de juros para a qual o seu VPL é nulo. Após determinar a TIR do projeto, deve-se compará-la com o custo de capital da empresa (taxa mínima de atratividade). O projeto será considerado rentável e, portanto, atraente do ponto de vista econômico se sua TIR for, no mínimo, igual ao custo de capital. Quanto maior a TIR, mais desejável é o investimento. Podemos utilizar um exemplo envolvendo o VPL para entender o método da TIR. Ao utilizarmos uma taxa de desconto (custo de capital) de 12% para um determinado projeto, poderemos ter as seguintes situações: Se VPL > 0, o projeto é viável, gerando um retorno superior a 12%. Se VPL < 0, o projeto é inviável, pois tem retorno inferior ao mínimo exigido. Se VPL = 0, o projeto gera rentabilidade igual ao mínimo exigido. Utilizando o exemplo, Nos casos onde o VPL > 0, a TIR será superior a 12%. Nos casos em que o VPL < 0, a TIR será inferior a 12%. A TIR corresponde à taxa que faz o VPL ser igual a zero. O cálculo da TIR é feito por tentativa e erro, até que se obtenha um VPL igual a zero. Exemplo: Suponha o seguinte fluxo de caixa de um projeto: ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 20 Investimento $ 12.000 Entradas de caixa ano 1 $ 3.500 ano 2 $ 5.000 ano 3 $ 6.000 ano 4 $ 5.500 ano 5 $ 3.000 Assumindo taxas de desconto de 5% em diante, teremos: Taxa de desconto VPL 5% 7.926,95 10% 5.441,28 15% 3.405,47 20% 1.719,14 25% 307,84 26% 53,40 27% - 192,70 A taxa de desconto que iguala o VPL a zero (correspondendo à TIR) está situada entre 26% e 27% ao ano (26,214165%). A HP 12C permite um cálculo direto da TIR: Digite f fin Digite f reg Digite 12.000,0 CHS g CFo Digite 3.500,0 g CFj Digite 5.000,0 g CFj Digite 6.000,0 g CFj Digite 5.500,0 g CFj Digite 3.000,0 g CFj Digite f IRR ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 21 Observação: O método da TIR considera que os fluxos de caixa são reinvestidos a uma taxa igual à TIR do projeto. Para projetos convencionais, a TIR e o VPL vão sempre gerar as mesmas decisões de aceitar-rejeitar um projeto, mas existem alguns casos em que esses métodos podem levar a diferentes classificações. Problemas da Taxa Interna de Retorno: 1) Fluxos de Caixa não Convencionais Projetos com fluxos de caixa com mais de uma inversão de sinal podem gerar tantas TIR quantas forem as mudanças de sinal dos fluxos de tesouraria. Exemplo: Seja um projeto com o seguinte fluxo de caixa: Cálculo da TIR: 0 = 60 + 155 100 _ (1 + i)1 (1 + i)2 Resposta: TIR = 25% ou TIR = 33,33% 0 1 2 +155 60 100 ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 22 Se o custo de capital fosse 30%, qual seria a decisão do administrador? A dedução direta da TIR é plenamente confiável apenas quando os fluxos do projeto apresentam somente uma direção (uma saída inicial e posteriormente apenas entradas). Nos casos em que haja inversão do fluxo (entradas e saídas alternadas), poderemos ter mais do que uma TIR. Dada a complexidade dessas análises, sugere- se que, na ocorrência de inversões no fluxo de caixa do projeto, esse critério seja substituído por outro de aplicação mais simples e precisa, como o VPL. 2) Problemas de Escala Projetos de escalas muito diferentes podem levar a tomadas de decisões erradas se forem baseadas na TIR. Exemplo: Uma empresa adquiriu os direitos sobre um filme e está em dúvida se produz esse filme com uma verba grande ou pequena. Os fluxos de caixa estimados são: Fx. Cx._0 Fx. Cx._1 TIR VPL a 25% Verba Pequena $ 10 +$ 40 300% +$ 22 Verba Grande $ 25 +$ 65 160% +$ 27 Com base apenas pelo critério da TIR, a opção seria produzir o filme com uma verba pequena, porém, ao se analisar pelo método do VPL, a opção seria a utilização de uma verba grande. Se seguir o critério da TIR, terá a satisfação de obter uma taxa de rentabilidade de 300%; se seguir o critério VPL, ficará $ 27 mais rico. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 23 Uma maneira de se resolver esse problema da TIR é com a análise dos fluxos incrementais. Fluxos Incrementais (Vb. Grande Vb. Pequena) Fx. Cx._0 Fx. Cx._1 TIR VPL a 25% Diferença dos Fx. Cx. $ 15 +$ 25 66,67% +$ 5 A TIR incremental do investimento é de 66,67%, o que também excede os 25% do custo de capital utilizado. Desta forma, deve-se preferir produzir o filme com uma verba grande. A menos que se analise o investimento incremental, a TIR não é um critério em que se possa confiar para ordenar projetos de diferentes grandezas. 3) Projetos do Tipo Financiamento Projetos em que a entrada de capital ocorre na data zero e o desembolso ocorre em uma data futura. Em projetos desse tipo a regra se geral da TIR se inverte. Deve-se aceitar fazer o investimento quando o custo de capital forsuperior à TIR. Exemplo: Uma empresa promotora de eventos recebe o valor de R$ 100.000 para produzir uma festa. Os desembolsos serão efetuados ao final de um período e totalizam $ 130.000. Esse projeto é vantajoso para a empresa, considerando-se um custo de capital de 10%? 0 1 +100.000 130.00 ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 24 TIR do projeto = 30% VLP10% = $ 18 Esse projeto não é vantajoso para a empresa (VPL negativo); porém, se analisado pela TIR, da forma tradicional, chegar-se-ia à decisão de aceitar o projeto (TIR > custo capital). Observação: O VPL é visto como a melhor abordagem para a análise de projetos. Sua superioridade teórica se deve a um certo número de fatores. O mais importante é que o uso de VPL presume implicitamente que quaisquer fluxos de entrada de caixa intermediários gerados por um investimento são reinvestidos ao custo de capital da empresa. O uso da TIR presume reinvestimento com as taxas muitas vezes altas especificadas pela TIR. Tendo em vista que o custo de capital tende a ser uma estimativa razoável da taxa com a qual a empresa poderia reinvestir realmente fluxos de entrada de caixa intermediários, o uso do VPL com sua taxa de reinvestimento mais realista e conservadora é preferível na teoria. Além disso, conforme visto, existem alguns casos em que a TIR deve ser utilizada de forma cuidadosa, de modo a se evitarem erros de aceitação-rejeição de projetos. 2. Decisões de Investimento em Ambiente de Risco 2.1 Introdução A decisão de investimento vai além de um simples cálculo dos valores presentes líquidos dos fluxos de caixa. Existem diversas fontes de incertezas que devem ser investigadas para tentar reduzir as ameaças de êxito de um projeto. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 25 O risco é parte integrante do processo de investimento. Em verdade, o risco faz parte da própria vida e é impossível eliminá-lo, quer porque não é possível coletar todas as informações relevantes, quer porque não é possível prever o futuro. Em termos de investimento, diz-se que há risco quando existe a possibilidade de que ocorram variações no retorno associado a uma determinada alternativa. A hipótese de que os fluxos são conhecidos com certeza (ou seja, de que não há possibilidade de variabilidade) não é verdadeira nas situações reais. Além da certeza, nosso conhecimento acerca do futuro pode ser especificado de mais dois modos: risco e incerteza. Na análise de investimentos, há risco quando são conhecidas as probabilidades das variações dos fluxos de caixa. Quanto mais previsíveis forem as entradas e as saídas de um projeto, menor será o risco envolvido na decisão. A incerteza é caracterizada pelo fato de não se conhecerem os estados futuros que possam ocorrer e/ou suas probabilidades de ocorrência. Com relação às informações do projeto, pode-se dizer que existem duas classes de risco: (a) aquela referente aos fatores internos ao projeto (fontes endógenas de risco), em geral sujeitas a um controle parcial, como, por exemplo, os custos de produção e eficiência na operação; (b) aquela externa sobre as quais não se tem controle (fontes exógenas de risco), como, por exemplo, a situação econômica do país e as preferências dos consumidores. O Caso General Eletric Ao final da década de 1980, a General Eletric (GE) Corp., o gigante americano nas áreas de geração e distribuição de energia, motores e turbinas a gás, plásticos, ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 26 equipamentos médicos e outros, com vendas de $ 57 bilhões de dólares, mudou sua estratégia global e passou a orientar seus investimentos para a Ásia e a América Latina. Estagnada nos EUA e na Europa, com um crescimento de apenas 3% nos últimos anos e forte em equipamentos de infraestrutura, ela viu uma oportunidade para seus produtos nos mercados de grande crescimento dos países emergentes, carentes em infraestrutura. A escolha da GE recaiu principalmente sobre China, Índia e México, com uma população conjunta de 2,5 bilhões, 10 vezes mais habitantes dos que os Estados Unidos. A GE já era o maior investidor na Índia e tinha 21.000 empregados no México, onde faturava cerca de $ 1,5 bilhão de dólares por ano. Na China a empresa já havia investido $ 1,5 bilhão em arrendamento de aviões por intermédio da GE Capital, o braço financeiro da empresa, e previa uma demanda de $ 100 bilhões em equipamentos de geração de energia ainda na década de 1980. Nesses países, a GE pretendia ampliar suas vendas para $ 20 bilhões até o ano 2000. Por outro lado, as incertezas econômicas e políticas nesses países eram grandes e os riscos altos. A Índia, com mais de 500 milhões de habitantes vivendo na pobreza, conflitos religiosos e um nacionalismo exacerbado, a China, onde a liberalização da economia contrasta com o rígido e fechado sistema político, e o México, com seus conflitos e tensões sociais, não pareciam lugares muito apropriados para investimentos. A GE avaliou os riscos que estaria correndo, considerou o potencial de retorno e optou por investir. Ao mesmo tempo, ela diversificou os seus riscos, distribuindo os seus investimentos em pequenos projetos de algumas dezenas de milhões de dólares cada um, para amortecer eventuais impactos negativos. Jack Welch, então o CEO da empresa afirmava: “Se a nossa estratégia estiver errada, são 1 bilhão, 2 bilhões de dólares perdidos. Se der certo, é o futuro do próximo século para esta empresa”. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 27 Hoje a GE é uma organização que fatura mais de $ 130 bilhões por ano, tendo uma margem operacional superior a 13%, seu valor de mercado em 2003, mesmo após um ano de crise nos mercados internacionais, é superior a $ 300 bilhões e seu retorno médio acumulado nos últimos 20 anos foi superior a 52% ao ano!!! A estratégia de diversificação da GE ainda é a tônica da gestão de investimentos da empresa, sendo que no Brasil a empresa opera nos mais diversos ramos de negócios (turbinas de aviões, lâmpadas, fogões etc.). O caso da GE mostra como uma empresa deve lidar com riscos de maneira consistente e vinculada à sua estratégia empresarial. A análise dos riscos é fundamental em todas as decisões financeiras, em especial aquelas relacionadas com investimentos de capital. Em projetos relevantes, a obtenção de fluxos de caixa diferentes daqueles originalmente estimados não é rara e pode ser danosa para o desempenho financeiro de uma organização. As empresas obviamente têm interesse em avaliar os riscos de um projeto de forma antecipada, decidindo se os retornos potenciais justificam os eventuais prejuízos que poderão advir da decisão de investir. Sem risco não há retorno, sem retorno não há projeto e sem projetos não há uma empresa. O risco é um componente indissociável da vida empresarial. Desta forma, o objetivo da gestão empresarial não é a eliminação dos riscos, mas sim a capacidade de analisar e decidir quais riscos tomar e quais evitar. 2.2 Risco e Taxas de Desconto Sabemos que a taxa de desconto de um projeto corresponde ao seu custo de capital, e que este, por sua vez, depende do risco do projeto e das taxas básicas de juros (sem risco). Entretanto, nem sempre é possível comparar o nível de risco de um projeto, de modo a quantificar precisamente o prêmio de risco requerido na forma de retorno. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 28 Por causa da dificuldade de se determinarem as taxas de desconto individuais para cada projeto, diversas empresas utilizam como taxa de desconto o seu custo global de capital. Isto seria correto se todos os projetos apresentassem o mesmo nível de risco. Contudo, esta não é a realidade. Como exemplo, podemos citara diferença entre um projeto de redução de custos (p. ex., compra de uma máquina para substituição de atividades fabris manuais) e outro projeto para lançamento de um novo produto. Certamente, os fluxos do primeiro projeto (redução de salários) serão muito mais previsíveis do que os do segundo projeto (novas vendas). Com isso, precisamos ajustar as taxas de desconto para cada um dos projetos. A falta de métodos quantitativos totalmente precisos para a determinação da taxa de desconto não invalida a necessidade de se proceder a tal análise e os critérios subjetivos são essenciais nesta tarefa. A avaliação de risco implica entender a essência do projeto, ao contrário de apenas manipular os seus números. É necessário sempre se perguntar o que pode dar errado e quais as consequências dos desvios nas previsões iniciais. 2.3 Métodos de Avaliação de Riscos Com o objetivo de mensurar os riscos envolvidos nos projetos, os administradores têm desenvolvido procedimentos de análise dos riscos. Entre os principais estão: a análise de sensibilidade, análise de cenários, árvores de decisão e modelos de simulação. Análise de Sensibilidade Na análise de sensibilidade são efetuadas diversas estimativas para as variáveis do projeto, sendo que normalmente existem no mínimo três versões (pessimista, esperada e otimista). As possibilidades são combinadas, variando-se sempre um dos elementos e mantendo-se os demais na situação normal. Ao final, teremos um ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 29 conjunto de resultados possíveis e poderemos identificar quais as variáveis mais sensíveis do projeto (as que provocam a maior variabilidade nos resultados esperados). Dependendo da relevância das variáveis, a empresa poderá decidir-se por investir algum dinheiro na tentativa de reduzir as incertezas, antes de aprovar o projeto (p. ex., aprofundar as pesquisas de mercado). A principal desvantagem desse método é a ambiguidade dos dados, pois os termos otimistas/pessimistas são muito subjetivos e podem ter diferentes interpretações dependendo de quem desenvolve a análise. Além disso, essa análise desconsidera a relação entre as variáveis, tratando cada uma de maneira independente. Análise de Cenários É uma abordagem similar à análise de sensibilidade, mas com um alcance mais amplo, é usada para avaliar o impacto de várias circunstâncias sobre o retorno das empresas. Em vez de isolar o efeito da mudança de uma única variável, a análise de cenário avalia o impacto de mudanças simultâneas em um certo número de variáveis (considera a interdependência entre as variáveis). Árvores de Decisão Diagramas de decisão ou árvores de decisão são representações gráficas das relações entre as várias alternativas de decisão e seus possíveis resultados. As árvores de decisão permitem o exame das diversas alternativas de uma decisão e seus efeitos. São atribuídas probabilidades às consequências de uma decisão. As árvores têm a vantagem de representarem graficamente essas interações de uma maneira simples e intuitiva. Elas devem ser mantidas simples, pois elas se desdobram facilmente, ficando complexas e de difícil manejo. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 30 Quando defrontamo-nos com uma incerteza em uma árvore de decisão, podemos estimar a probabilidade de ocorrência de um evento incerto. Supondo-se uma situação na qual existam 70% de chances de sucesso e 30% de chances de fracasso, teríamos a seguinte representação gráfica: Não sabemos qual será o resultado do projeto, mas podemos calcular o valor presente líquido esperado, fazendo a média ponderada dos VPL resultantes. (0,70 * 1.000) +( 0,3 * 1.200) = $ 700,0 $ 360,0 = $ 340,0 O VPL esperado, ou equivalente à incerteza, é de $ 340,0. Observação: É importante ressaltar que caso a análise esteja sendo conduzida de forma a ajustar os fluxos de caixa (FCx) pelo seu valor esperado (em função do risco), a taxa de desconto do projeto deverá ser uma taxa livre de risco, uma vez que o fator risco já foi ajustado no próprio fluxo de caixa. Sucesso (70%) Fracasso (30%) VPL $ 1.000 ($ 1.200) ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 31 Onde: FCx = fluxo de caixa fr = fator de risco (probabilidade de ocorrência do evento) irf = taxa de desconto livre de risco Modelos de Simulação Enquanto a análise de cenários permite um número limitado de hipóteses, a simulação de Monte Carlo é uma ferramenta que considera todas as combinações possíveis, fornecendo uma distribuição estatística do VPL do projeto. Trata-se de um modelo estatístico relativamente complexo, que obriga o detalhamento de todas as variáveis e do inter-relacionamento dessas variáveis a cada ano. Pelo fato de ser extremamente difícil estimar as relações existentes entre as variáveis e as distribuições de probabilidades subjacentes, normalmente requer o apoio de estatísticos e/ou consultores. A complexibilidade e a dependência de pessoas não envolvidas no processo decisório são justamente as maiores desvantagens do modelo de simulação. Exemplos de aplicação de árvores de decisão: 1) A Inovation Telecom, fabricante global de telefones celulares, precisa decidir entre dois investimentos, sendo um deles no Brasil e o outro na Índia. Seguem abaixo os dados dos projetos: VPL = ∑ FCx * fr (1 + irf)t t = 0 n ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 32 Projeto no Brasil: Investimento inicial: USD 1.200.000,00 Valor presente dos fluxos de caixa do projeto: +USD 2.250.000 caso haja expansão do mercado de telefonia brasileiro +USD 1.000.000 caso mercado permaneça estável USD 1.000.000 caso haja retração do mercado Estudos econômicos preveem as seguintes probabilidades de desempenho para o mercado de telefonia no Brasil: Expansão: 40% Estabilidade: 50% Retração: 10% Projeto na Índia: Investimento inicial: USD 1.400.000,00 Valor presente dos fluxos de caixa do projeto: +USD 2.800.000 caso haja expansão do mercado de telefonia indiano +USD 2.000.000 caso mercado permaneça estável USD 300.000 caso haja retração do mercado Estudos econômicos preveem as seguintes probabilidades de desempenho para o mercado de telefonia na Índia: Expansão: 30% Estabilidade: 40% Retração: 30% ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 33 Tomando-se como base as informações disponíveis, em qual dos países a Inovation Telecom deve investir? Solução: Árvore de decisão: Invest. Inicial Desemp. Economia VP do FCx Expansão: 40% $ 2.250.000,00 $ 1.200.000,00 Estabilidade: 50% $ 1.000.000,00 Brasil Retração: 10% ($ 1.000.000,00) Brasil ou Índia? Índia Expansão: 30% $ 2.800.000,00 $ 1.400.000,00 Estabilidade: 40% $ 2.000.000,00 Retração: 30% ($ 300.000,00) Cálculo ponderado do valor presente dos fluxos de entrada de caixa: VPESPERADO FCBRASIL = (2.250.000 * 0,4) + (1.000.000 * 0,5) + (1.000.000 * 0,1) VPESPERADO FCBRASIL = $ 1.300.000,00 VPESPERADO FCÍNDIA = (2.800.000 * 0,3) + (2.000.000 * 0,4) + (300.000 * 0,3) VPESPERADO FCÍNDIA = $ 1.550.000,00 ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 34 VPLESPER.Brasil = $ 1.300.000 $ 1.200.000 = $ 100.000,00 VPLESPER.Índia = $ 1.550.000 $ 1.400.000 = $ 150.000,00 Resposta: O investimento deve ser feito na Índia. 2) A empresa XPTO é uma fabricante de equipamentos para computadores. Em meados do ano, um cliente aborda a empresa com uma proposta de compra de 100 unidades de um novo chip de memória por R$ 1.000 a unidade. A empresa estimaque os custos de mão de obra sejam de R$ 50 (por unidade) e os custos de materiais R$ 450 (por unidade). A empresa precisa ainda adquirir materiais de embalagem, o que pode fazer de duas maneiras: comprar de um fornecedor ao preço de $ 300 cada caixa, ou fabricar internamente ao custo de $ 50 cada. Para tanto, a empresa precisará investir $ 17.500 nos moldes para fabricação da embalagem. O que a empresa deve fazer? A decisão da empresa mudaria se o pedido fosse de 50 unidades? Elabore a árvore de decisão desse projeto. Solução: Para um pedido de 100 unidades Comprando a embalagem Fabricando a embalagem Preço Qtde. Valor Preço Qtde. Valor Receita 1.000,00 100 100.000,00 1.000,00 100 100.000,00 Despesa molde - - 17.500,00 17.500,00 Mão de obra 50,00 100 5.000,00 50,00 100 5.000,00 Material 450,00 100 45.000,00 450,00 100 45.000,00 ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 35 Embalagens 300,00 100 30.000,00 50,00 100 5.000,00 Rec. Desp. 20.000,00 27.500,00 Para um pedido de 50 unidades Comprando a embalagem Fabricando a embalagem Preço Qtde. Valor Preço Qtde. Valor Receita 1.000,00 50 50.000,00 1.000,00 50 50.000,00 Despesa molde 17.500,00 17.500,00 Mão de obra 50,00 50 2.500,00 50,00 50 2.500,00 Material 450,00 50 22.500,00 450,00 50 22.500,00 Embalagens 300,00 50 15.000,00 50,00 50 2.500,00 Rec. Desp. 10.000,00 5.000,00 Árvore de Decisão: Fabrica a embalagem $ 27.500 Aceita o pedido Pedido de 100 unidades Compra a embalagem $ 20.000 Não aceita o pedido $ 0 ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 36 Fabrica a embalagem $ 5.000 Aceita o pedido Pedido de 50 unidades Compra a embalagem $ 10.000 Não aceita o pedido $ 0 3. Estrutura e Custo de Capital A Coca-Cola, no início da década de 1980 era uma empresa que possuía um nível de endividamento virtualmente próximo de zero. Quando Roberto Goizueta assumiu o cargo de CEO, uma de suas primeiras decisões foi alterar a estrutura de capital da empresa, aumentando o seu endividamento. O objetivo era beneficiar-se do menor custo do capital de terceiros, aumentando, com isso, o retorno geral dos acionistas. De fato, ao adicionar recursos de terceiros na sua estrutura de capital, a Coca-Cola conseguiu reduzir o seu custo médio de capital de 16% para 12% ao ano. Em 2003, a Coca-Cola apresentava uma relação dívida/patrimônio da ordem de 0,41, o que demonstra a mudança de estratégia empreendida desde 1980. Entretanto, quando comparada com outras grandes organizações industriais americanas, este índice ainda parece baixo: os laboratórios Eli Lilly, por exemplo, possuíam no mesmo período um índice de 0,548, enquanto na Philip Morris o índice chegou a 1,17. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 37 Estrutura de Capital 3.1 Definições Estrutura de capital corresponde à combinação de capital próprio (recursos investido pelos acionistas) e capital de terceiros (representado pelos empréstimos e financiamentos). O capital próprio conceitualmente apresenta maior risco, uma vez que ele será remunerado somente se a empresa gerar lucro. Além disso, o capital investido em uma empresa só poderá ser recuperado via o recebimento de dividendos ou pela venda das ações, uma vez que poucas sociedades são criadas com objetivo de serem liquidadas no curto prazo. O capital de terceiros apresenta menor risco, uma vez que os empréstimos possuem a taxa de remuneração do capital previamente estabelecida, o prazo de resgate/liquidação fixado em contrato e normalmente são acompanhados de garantias reais. Adicionalmente, existe a questão dos impostos. O fato de os juros, ao contrário de dividendos e lucros retidos, serem dedutíveis para efeito do IR, faz com que haja vantagens para a empresa que se financia com recursos de terceiros. Assim, a empresa cresceria à medida que seu endividamento aumentasse e o valor da empresa seria maximizado se ela se financiasse inteiramente com recursos de terceiros. Isso ajuda a explicar a elevada alavancagem financeira observada em grande parte das empresas americanas, japonesas e europeias, bem como o pleito dos empresários brasileiros por juros mais baixos como forma de aumentar a competitividade das empresas nacionais (redução do custo Brasil). ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 38 Assumindo que os agentes econômicos tomam decisões racionais, o maior risco envolvendo os investimentos em ações somente será aceito pelos investidores caso seja compensado por perspectivas de retornos superiores aos que seriam obtidos nas operações de baixo risco (p. ex.,títulos públicos). Assim, podemos deduzir que o custo do capital próprio é superior ao do capital de terceiros, ou seja, a empresa precisará remunerar o capital próprio acima da remuneração fornecida aos empréstimos. 3.2 Estrutura de Capital Ótima Pesquisas acadêmicas sugerem que há uma faixa de estrutura de capital ótima. Estrutura de capital ótima é aquela na qual o WACC é minimizado, portanto maximizando o valor da empresa. Segundo Gitman, de maneira prática, não há como calcular a estrutura de capital ótima. Graças à impossibilidade de saber ou permanecer no ponto preciso de estrutura ótima, as empresas geralmente tentam operar em uma faixa que as coloca próximo do que elas acreditam ser a estrutura de capital ótima. O fato de os lucros retidos e outros novos financiamentos causarem uma mudança na estrutura de capital real da empresa justifica mais ainda o enfoque sobre uma faixa de estrutura ótima em vez de um único ponto. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 39 A estrutura de capital influenciando o valor da empresa De acordo com o gráfico, enquanto a estrutura de capital da empresa é composta apenas por capital próprio (Ke), este é igual ao WACC. Como o custo do capital próprio é alto, o valor da empresa não é maximizado. À medida que a empresa vai se financiando com capitais de terceiros (Kd), que possui um custo inferior ao capital próprio, o WACC se reduz até chegar ao seu ponto mínimo. Neste momento, em que a empresa minimiza seu WACC e chega seu valor máximo, diz-se que a estrutura de capital ótima (M) foi alcançada. V a lo r C u st o a n u a l (e m % ) Dívida/Total de ativos Kd Ke WACC Valor da empresa M: estrutura de capital ótima ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 40 A partir desse ponto, o custo do endividamento por capitais de terceiros passa a ter uma trajetória ascendente acentuada para compensar o risco de insolvência cada vez maior. O custo de capital próprio também aumenta a partir do momento em que o percentual de capital de terceiros ultrapassa os níveis considerados saudáveis na estrutura de capital da empresa. Isso ocorre porque os acionistas também passam a exigir um retorno maior (relação risco × retorno). Conforme observado, a estrutura de capital ótima deve ser baseada no balanceamento de benefícios e custos do financiamento do capital de terceiros. O maior benefício do financiamento de dívida é a vantagem tributária que permiteque pagamentos de juros sejam deduzidos ao se calcular a renda tributável. A dedutibilidade dos juros significa que o custo da dívida para a empresa é subsidiado pelo governo. O grande custo do financiamento por capitais de terceiros resulta do aumento da probabilidade de falência causada por obrigações da dívida. Risco de Falência A chance que uma empresa tem de ficar insolvente por uma incapacidade de cumprir suas obrigações assim que vencem depende amplamente tanto do risco financeiro quanto do risco operacional. Risco financeiro: é o risco de uma empresa ser incapaz de cobrir obrigações financeiras exigidas. A estrutura de capital da empresa afeta diretamente seu risco financeiro. A penalidade por não satisfazer às obrigações financeiras é a falência. Quanto mais financiamento de custo fixo uma empresa tem em sua estrutura de capital, maior é o seu risco. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 41 Risco operacional: é o risco de a empresa ser incapaz de cobrir seus custos operacionais. Quanto maior o uso de custos operacionais fixos, maior será o risco operacional. Outros fatores que afetam o risco operacional são a estabilidade de receitas e a estabilidade de custos. Empresas com níveis razoavelmente estáveis de demanda e preços de produtos (estabilidade de receitas) e relativa previsibilidade de preços de insumos (estabilidade de custos) geralmente possuem baixo risco operacional. O risco operacional varia entre empresas e não é afetado por decisões de estrutura de capital. 3.3 Ponto de Equilíbrio Segundo Gitman, “a análise do ponto de equilíbrio, também denominada de análise de custo-volume-lucro, é utilizada para determinar o nível de operações necessário para cobrir todos os custos operacionais e para avaliar a lucratividade associada aos vários níveis de vendas”. O ponto de equilíbrio corresponde ao volume que faz os custos totais (fixos e variáveis) serem iguais às receitas totais, de modo que o lucro seja “zero”. 3.4 Alavancagem Operacional A alavancagem operacional é caracterizada pela proporção de custos fixos no processo de produção. Um alto grau de alavancagem operacional significa uma alta proporção de custos fixos na composição do custo total. Nessas condições, pequenas variações no volume resultam em grandes oscilações nos resultados operacionais. Quanto maior a alavancagem operacional, maior será o ponto de equilíbrio de uma empresa e, consequentemente, maior será o seu risco. Qtd. = Custo fixo _ Preço Custounit. variável ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 42 Exemplo: Assuma duas empresas competindo no mesmo mercado, com a seguinte configuração: 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Custo operacional variável Custo operacional total 12000 10000 8000 6000 4000 2000 Receita de vendas LAJIR Ponto de equilíbrio operacional Perda Custo operacional fixo R$ Vendas (qtd.) 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Custo operacional fixoCusto operacional variável Custo operacional total Receita de vendas LAJIR Ponto de equilíbrio operacional Perda Vendas (qtd.) R$ ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 43 A empresa “A” detém 50% do mercado, vendendo 10.000 unidades por ano ao preço de R$ 100,00. Essa empresa possui uma estrutura de custo fixo da ordem de R$ 600.000,00 e um custo variável de R$ 20,00 por unidade vendida. A empresa “B” também é detentora de 50% do mercado, vendendo a mesma quantidade de produtos que “A”, ao mesmo preço. Entretanto, por uma decisão estratégica, a empresa “B” possui uma estrutura de custos bastante diferente. Seus custos fixos montam a apenas R$ 50.000,00, enquanto os custos variáveis representam R$ 75 por unidade vendida. Pede-se: Calcular o ponto de equilíbrio de ambas as empresas, definindo a de maior risco. Calcular qual a empresa que estaria mais disposta a reduzir o seu preço em 5% para aumentar suas vendas em 10% (tomando para si parte do share de mercado do concorrente). A concorrente estaria disposta a reagir? Solução: Cálculo do ponto de equilíbrio Empresa “A” => [600.000/(100 – 20)] = 7.500 unidades Empresa “B” => [50.000/(100 – 75)] = 2.000 unidades Logo, pode-se afirmar que a empresa “A” tem um risco operacional superior ao de “B”. ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 44 Redução de preço “A” Descrição A B Preço 95,00 100,00 Novo volume 11.000,00 9.000,00 Faturamento 1.045.000,00 900.000,00 Custo fixo (600.000,00) (50.000,00) Custo variável (CV * Qtd) (220.000,00) (675.000,00) Lucro 225.000,00 175.000,00 Variação no lucro 25.000,00 (25.000,00) No caso de uma redução de preço em “A”, esta empresa ganharia 10% de volume, elevando seu lucro em R$ 25.000,00 adiante da situação inicial. Em contrapartida, a empresa “B” perderia R$ 25.000,00. Vale destacar que, se a empresa “B” reagisse com uma redução de preços igual à da empresa “A”, de modo a manter o seu volume, ela perderia R$ 50.000,00 em vez dos R$ 25.000,00. Redução de preço em “B” Descrição A B Preço 100,00 95,00 Novo volume 9.000,00 11.000,00 Faturamento 900.000,00 1.045.000,00 Custo fixo (600.000,00) (50.000,00) Custo variável (CV * Qtd) (180.000,00) (825.000,00) Lucro 120.000,00 170.000,00 Variação no lucro (80.000,00) (30.000,00) Neste caso, em que “B” reduz o preço, ambas as empresas perdem. Em “B”, o ganho de volume não compensaria a redução de preços. Já em “A”, a perda de ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 45 volume afetaria o resultado de modo relevante. Muito provavelmente “A” estaria disposta a entrar em uma guerra de preços para proteger o seu volume. Conclusão: Percebe-se que empresas com elevado volume de custos fixos na sua estrutura de custo são muito sensíveis a variações nos seus volumes. Com isso, espera-se que ramos da indústria que apresentem essas características (p. ex., aviação e hotelaria) sejam propensos a desenvolver alta rivalidade interna, a qual se reflete na possibilidade de guerras de preços. 3.5 Alavancagem Financeira Segundo Gitman, “a alavancagem financeira resulta da presença de custos fixos financeiros no fluxo de lucro da empresa”. Assim, da mesma maneira que explicado no caso da alavancagem operacional, a presença de custos fixos financeiros implicará maior sensibilidade da empresa a eventuais variações de volume. Custo de Capital O custo de capital é um conceito financeiro extremamente importante. Conforme visto anteriormente, o custo de capital representa a taxa mínima de atratividade que um projeto de investimento deverá produzir, de forma a se tornar viável econômica e financeiramente. 3.6 Custo de Capital Próprio O custo de capital próprio, ou custo do patrimônio líquido, é a taxa de retorno que os investidores exigem para realizar um investimento patrimonial em uma empresa. Como os fornecedores de capital próprio correm maior risco, estes devem ser ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 46 remunerados com ganhos esperados maiores do que fornecedores de capital de terceiros. O capital próprio é o capital mais caro para uma empresa. Um profundo estudo do custo de capital próprio envolveria o desenvolvimento de uma série de aplicações estatísticas (desvio-padrão, correlação etc.) e matemáticas que fogem ao objetivo deste curso. Entretanto, é importante que algumas noções básicas sejam assimiladas para possibilitar oentendimento conceitual do tema. Existem duas abordagens para estimar o custo de capital próprio: a primeira é com a aplicação de um modelo de crescimento de dividendos (modelo de Gordon) e a segunda é mediante a utilização de um modelo de risco e retorno (modelo CAPM). Modelo de Crescimento de Dividendos (modelo de Gordon) Esta abordagem para a estimativa do custo de capital próprio se baseia em um modelo de fluxo de caixa descontado a valor presente que pode ser utilizado para avaliar uma empresa com crescimento estável. Assim, temos: Preço da ação = __Dividendos, onde: Ke g “g” corresponde à taxa de crescimento dos dividendos (assumida como uma constante), “Ke” corresponde ao custo do capital próprio Então, com uma simples manipulação da fórmula, o custo de capital próprio é dado por: Ke = __Dividendos_ + g Preço da ação ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 47 Embora essa abordagem seja simples, seu uso se limita a empresas que se encontrem em uma situação estável. Exemplo: Considere uma empresa que esteja pagando um dividendo de R$ 5,00 e tenha um valor de mercado de suas ações de R$ 55,00. Essa empresa apresentou uma taxa média de crescimento de dividendos da ordem de 3% nos últimos 5 anos. Logo, o seu custo de capital será: Ke = (5/55) + 0,03 = 0,121 ou 12,10% Modelo de Risco e Retorno (modelo CAPM) O segundo modelo é denominado Capital Asset Pricing Model (CAPM). Esse método baseia-se no retorno esperado do mercado de ações e no risco da ação em análise, para calcular o prêmio de risco que irá compor o custo de capital próprio da empresa. Ke = Rf + β * (Rm Rf) Onde: Rf = taxa de juros livre de risco β = risco sistêmico da ação Rm = taxa de retorno prevista para a carteira de mercado (p. Ex., Ibovespa) Inicialmente necessitamos entender o conceito de risco aplicável ao modelo. O risco total de um ativo poderá ser decomposto em “risco diversificável” e risco “não diversificável”. O risco diversificável corresponde à parcela de risco associada ao desempenho da empresa (greves, perda ou ganho de mercado etc.). Já o risco não diversificável ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 48 corresponde à parcela de risco que afetará todo o mercado (guerras, inflação, recessão etc.). O CAPM correlaciona o risco não diversificável (flutuação geral do mercado, medida pelo Ibovespa, por exemplo) com o retorno dos ativos. Essa correlação é denominada beta da ação e demonstra a flutuação no retorno de uma determinada ação diante do comportamento do mercado total. O beta da ação é uma medida de risco que quantifica a sensibilidade dos retornos da ação em relação às variações dos retornos do mercado. Quanto mais arriscada for uma ação, maior será o valor de seu beta. Um beta igual a 1,0 significa que o ativo tem um risco semelhante ao do mercado. Um beta inferior a 1,0 significa que os retornos do ativo são menos sensíveis às flutuações econômicas que a média do mercado. Um beta superior a 1,0 significa que os retornos do ativo são mais sensíveis às flutuações econômicas que a média do mercado. Exemplo: Considerando-se duas empresas, em que “A” tenha um beta de 0,8 e “B” tenha uma beta de 1,5. Se a taxa livre de risco é de 8% e o retorno esperado do mercado de ações é de 12% ao ano, teremos: Ke(A) = 0,08 + 0,8 * (0,12 0,08) = 11,2% Ke(B) = 0,08 + 1,5 * (0,12 0,08) = 14,0% 3.7 Custo de Capital de Terceiros O custo de capital de terceiros é o retorno exigido pelos financiadores das dívidas da empresa. Corresponde à taxa de juros que a empresa precisa pagar para obter ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 49 novos empréstimos. Essa taxa pode ser observada diretamente nos mercados financeiros. Em termos gerais, o custo de capital de terceiros é determinado pelas seguintes variáveis: Nível corrente das taxas de juros: à medida que o nível das taxas de juros aumentar, o custo da dívida para a empresa também crescerá. Risco de inadimplência da empresa: à medida que o risco de inadimplência da empresa aumentar, o custo de tomar dinheiro emprestado também crescerá. Uma das maneiras de se medir o risco de inadimplência é pela classificação dos bônus da empresa. Benefícios fiscais associados aos empréstimos: como os juros são dedutíveis do IR, o custo da dívida após tributação é uma função da alíquota fiscal. O benefício fiscal decorrente do pagamento de juros torna mais baixo o custo da dívida após tributação em relação ao custo antes do pagamento dos impostos. Além disso, o benefício aumenta à medida que a alíquota também aumenta. O custo líquido do capital de terceiros (Kd) é representado pela taxa de juros paga nos financiamentos deduzidos do benefício fiscal do IR (T). Kd = taxa de juros dos financiamentos * (1 T) Atenção: o custo da dívida não é a taxa à qual a empresa conseguiu tomar dinheiro no passado! ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 50 3.8 Custo Médio Ponderado de Capital O WACC é definido como a média ponderada dos custos dos diversos componentes de financiamento utilizados por uma empresa. WACC = [ E/V × Ke ] + [ D/V × Kd × (1 T) ] Onde: Ke = custo do capital próprio Kd = custo do capital de terceiros E = valor de mercado do capital próprio (número de ações × valor de mercado das ações) D = valor de mercado do capital de terceiros (valor contábil das dívidas de curto e longo prazos) V = valor de mercado composto do capital próprio e de terceiros (V = E + D) T = alíquota do imposto Exemplo: Em dezembro de 1992, a Pepsi-Cola Corporation (PepsiCo) tinha um custo de patrimônio líquido de 12,83% e um custo de dívida após o pagamento de imposto de 5,28%. Do total do financiamento da empresa, o patrimônio líquido representava 76,24% (em termos de valor de mercado) do mix de financiamento e a dívida representava os 23,06% restantes. Qual é o custo do capital para a PespiCo? WACC = (12,83% × 0,7694) + (5,28% × 0,2306) = 11,09% 3.9 Que Taxa Utilizar para Descontar o Fluxo de Caixa? A taxa geralmente utilizada para descontar o fluxo de caixa de um projeto de investimento é o WACC da empresa. No entanto, essa taxa deve ser utilizada apenas ANÁLISE ESTRATÉGICA DE PORTFÓLIOS DE INVESTIMENTOS 51 para descontar fluxos de caixa de investimentos que tenham o mesmo nível de risco das operações atuais da empresa (p. ex., expansão, ampliação etc.) A utilização do WACC para todas as avaliações de investimentos pode levar a conclusões incorretas quando os riscos de uma divisão ou de um projeto forem diferentes do risco da empresa como um todo. Se uma empresa usar o WACC para todos os seus projetos, ela tenderá a aceitar incorretamente projetos mais arriscados e a rejeitar incorretamente projetos menos arriscados. A estimativa do custo de capital de um projeto deve levar em conta o nível de risco associado a ele. Nas situações em que o risco do projeto é diferente do risco médio da empresa (p. ex., a Ford decide entrar no mercado de motocicletas), sugere-se a utilização do risco médio das empresas do setor em que o novo projeto se enquadra (beta setorial) para a estimativa do custo de capital.
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