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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE MEDICINA RAMYLLA COSTA DE OLIVEIRA AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS INTERNADAS NO HOSPITAL INFANTIL DE RORAIMA. Boa Vista, RR. 2016. RAMYLLA COSTA DE OLIVEIRA AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS INTERNADAS NO HOSPITAL INFANTIL DE RORAIMA. Boa Vista, RR. 2016. Monografia apresentada como pré- requisito para a conclusão do curso de Medicina, da Universidade Federal de Roraima. Orientadora: MS. Adelma Alves de Figueirêdo. RAMYLLA COSTA DE OLIVEIRA AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS INTERNADAS NO ÚNICO HOSPITAL INFANTIL DE RORAIMA. Monografia apresentada como pré-requisito para conclusão do Curso de Bacharelado em Medicina, da Universidade Federal de Roraima, avaliada pela seguinte banca examinadora: ___________________________________________________________________ Adelma Alves de Figueirêdo. Prof. MS. Especialista do Curso de Medicina – UFRR Antônio Carlos Sansevero Martins Prof. Especialista do Curso de Medicina – UFRR Blenda Avelino Garcia Médica convidada Dedicatória Dedico este trabalho à minha mãe, Luzimar Costa Ramos, pelo carinho e amor dados ao longo da vida, mas, principalmente, ao longo do curso. Obrigada. AGRADECIMENTOS A Deus por me guiar e nunca me abandonar, mesmo nos dias em que eu não soube entender seus planos. A minha mãe, pelo amor incondicional. A minha família, dos mais próximos aos mais distantes, por terem me impulsionado a seguir nessa caminhada. Aos amigos de faculdade, pela parceria que me ofereceram em especial nos anos de internato. Aos amigos de fora da faculdade, que tanto fizeram falta, mas sei que sempre compreenderam e torceram pela realização desse sonho. Ao meu companheiro para todos os momentos, Yuri. A minha orientadora Dra. Adelma Alves de Figueirêdo pela paciência e sabedoria transmitidas. Aos pais e responsáveis pelos pacientes que aceitaram participar desta pesquisa. “Você não pode evitar que os problemas batam à sua porta. Mas não há necessidade de oferecer-lhes uma cadeira.” Joseph Joubert RESUMO Este projeto visa conhecer o estado nutricional das crianças menores de cinco anos que foram internadas no único hospital infantil do Estado de Roraima, no período de 1 de abril a 31 de maio de 2016, bem como, as patologias à admissão e a evolução do estado nutricional durante a internação. Para isso, após autorização dos pais ou responsáveis, aplicou-se um questionário e foi realizada a antropometria do paciente (peso e altura). Os objetivos específicos traçados para tal pesquisa foram: avaliação nutricional das crianças; avaliar as doenças mais prevalentes no grupo dos desnutridos e no dos eutróficos; avaliar o impacto da hospitalização sobre o estado nutricional. Á admissão, encontrou- se a prevalência de desnutrição de 31,7% para o índice P/I, 41,5% para E/I e 19,5% para P/E. Na avaliação da alta, para o índice P/I não se verificou alteração na prevalência de DPE para nenhum dos índices. Ao correlacionar as doenças mais prevalentes com o estado nutricional, observou-se que no grupo dos desnutridos prevaleceram afecções respiratórias (50%), seguidas por GECA (42,3%). Já no segundo grupo, dos eutróficos, predominaram outras patologias, correspondendo a 46,7% dos diagnósticos, seguidas por afecções respiratórias (26,7%) e GECA (26,6%). Palavras-chave: Antropometria. Nutrição. Deficiência nutricional. Desnutrição proteico-energética. Desnutrição hospitalar. Admissão. Alta. Roraima. LISTA DE TABELAS Tabela 1: Classificação do estado nutricional de acordo com a OMS (modificado) ............... 17 Tabela 2: Distribuição das crianças, segundo classificação nutricional considerando o índice P/I, à admissão e alta hospitalar.............................................................................................. 29 Tabela 3: Informações gerais das crianças à admissão no Hospital da Criança Santo Antônio – Boa Vista (RR), no período de abril a maio de 2016............................................................. 32 Tabela 4: Caracterização social, econômica e demográfica das crianças à admissão no Hospital da Criança Santo Antônio – Boa Vista (RR), no período de abril a maio de 2016. ... 38 LISTA DE ABREVIAÇÕES CDC- Center for Disease Control and Prevention DEP- Desnutrição Energético-Proteica E/I - Estatura para Idade GECA- Gastroenterocolite aguda HCSA- Hospital da Criança Santo Antônio HIV- Vírus da Imunodeficiência Humana IMC – Índice de Massa Corporal NCHS- National Center for Health Statistcs OMS- Organização Mundial da Saúde OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde P/I - Peso para Idade P/E - Peso para Estatura PNS- Pesquisa Nacional de Saúde RR- Roraima SISVAN - Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional SUS – Sistema Único de Saúde TN- Terapia Nutricional UTI – Unidade de Terapia Intensiva SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................11 2 OBJETIVOS...................................................................................................12 2.1 OBJETIVOS GERAIS................................................................................12 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.....................................................................12 3 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................13 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO E AMOSTRA.....................................13 3.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS..............................................13 3.4 AMOSTRA............................................................................................... 13 3.5 ANÁLISE DE VARIÁVEIS........................................................................ 14 3.6 LOGÍSTICA.............................................................................................. 16 3.7 ANÁLISE DE DADOS.............................................................................. 17 4 REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................18 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................28 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................40 REFERÊNCIAS..............................................................................................41 ANEXOS ANEXO I- Termo de consentimento livre e esclarecido..................................48 ANEXO II- Questionário..................................................................................49 1. INTRODUÇÃO A segurança alimentar e nutricional envolve fatores relacionados desde a produção do alimento, nos setores agrícola e industrial, importação, acesso e conservação, passando por fatores sociais, como o poder aquisitivo, e culturais (exemplo: hábitos regionais).Levando em consideração tal conceito é de se esperar que, em uma região onde o acesso é mais difícil (dificultando a produção, transporte e conservação), e os hábitos alimentares regionais são tão expressivos, tenhamos alguma dificuldade nessa cadeia. O que gera interferência nos índices nutricionais da população, principalmente dos mais vulneráveis. Sabe-se também, que, crianças desnutridas apresentam frequentemente maior incidência de infecções, retardo no crescimento, alteração no desenvolvimento psicomotor, retardo da cicatrização, alterações metabólicas e imunológicas. Apesar desses conhecimentos científicos e amplamente aceitos, existe um déficit de informações sobre o estado nutricional da população infantil internada, principalmente na região Norte, o que pode mascarar o problema da insegurança alimentar e nutricional e sua real magnitude. Portanto, com um estudo voltado para a região Norte, e que avalie a prevalência das patologias no grupo de desnutridos versus o grupo de eutróficos, poderemos sugerir políticas públicas direcionadas ao tema. 2. OBJETIVOS 2.1. GERAL Conhecer o estado nutricional das crianças à admissão e à alta hospitalar. 2.2. ESPECÍFICOS Avaliar as doenças mais prevalentes no grupo dos desnutridos e no dos eutróficos; Avaliar se há impacto da hospitalização sobre o estado nutricional. 12 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 DELINEAMENTO Trata-se de um estudo descritivo, observacional e prospectivo. 3.2 LOCAL DO ESTUDO O Hospital da Criança santo Antônio é o centro de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado de Roraima para atendimento terciário em pediatria. Está localizado na capital, Boa Vista, e atende crianças oriundas de todos os municípios do Estado e também dos países vizinhos, Guiana Inglesa e Venezuela. 3.3 AMOSTRA 3.3.1 - Critérios de inclusão Foram incluídos todos os pacientes menores de cinco anos hospitalizados por motivos clínicos nas unidades de internação, exceto na enfermaria cirúrgica e nas UTIs. 3.3.2 – Critérios de exclusão Foram excluídas crianças com tempo de internação hospitalar menor que cinco dias, as portadoras de doenças crônicas, como encefalopatia hipóxico-esquêmica, lúpus, doença inflamatória intestinal, fibrose cística,..., aqueles que em algum momento foram admitidas na UTI e as com patologias cirúrgicas. Também foram excluídos os pacientes cuja avaliação antropométrica não foi realizada nas primeiras 24h da admissão. 13 3.4 VARIÁVEIS EM ESTUDO 3.4.1 Variáveis demográficas: Gênero: masculino ou feminino; Idade: quantificada em meses; Raça: ocorreu apenas diferenciação entre índios e não-índios; consideramos como indígenas aquelas que se auto declararem índios, aldeados ou não aldeados. Local de origem: o acompanhante informou se a criança veio da própria residência, referenciada da rede de atenção primária ou foi encaminhada de um hospital. Duração da gestação: classificada em termo, pré- termo, pós- termo, não consta ou não apresentou cartão da criança – só utilizamos as informações que estiverem escritas no resumo de alta da maternidade ou no cartão da criança; Peso e altura ao nascer: copiado do cartão da criança ou do resumo de alta da maternidade e, na falta deste, colocamos não consta. Estado vacinal: aceito apenas com a visualização do cartão vacinal. Na ausência deste, foi considerado no questionário como “não apresentado”; 3.4.2 Variável Sócio - ambientais: Residência: definimos o município onde o paciente reside à admissão, quando este na capital, identificamos também o bairro. Caso o paciente fosse estrangeiro anotamos o país de origem. Renda familiar: considerou-se o somatório dos rendimentos de todos os membros da família no mês anterior à entrevista, estratificando-se em menor de um salário mínimo, um a dois salários mínimos, dois a três salários mínimos e maior que três salários mínimos. O valor do salário mínimo foi o vigente no mês do início da pesquisa. 14 Pessoas que residem com a criança, incluindo ela mesma: estratificou-se em menos de cinco moradores, cinco a sete, oito a dez ou mais de dez moradores. Escolaridade da mãe: foram assinaladas dentre as opções: analfabeta, ensino fundamental incompleto, ensino fundamental completo, ensino médio incompleto, ensino médio completo, ensino superior incompleto, ensino superior completo e mestrado ou doutorado. 3.4.3 Variáveis clínicas: Dias de internação hospitalar (DIH): calculado pela diferença entre a data de alta e a data de admissão, em dias; Diagnóstico clínico: foram anotadas todas as causas da internação, conforme anotação médica no prontuário, registradas à admissão na enfermaria, mas foi considerado para este estudo apenas o diagnóstico que motivou a internação. Avaliação nutricional pelo médico assistente: em um primeiro momento as respostas consistiram em “sim” ou “não”. Caso a resposta fosse “sim”, a avaliação era classificada em subjetiva, antropométrica ou bioquímica; Intervenção nutricional por parte do médico assistente/nutricionista: as respostas eram “sim” ou “não”. Consideramos como intervenção: chamar o nutricionista para avaliação e programação nutricional, suplementação de Zinco, cobre, megadose de vitamina A, prescrição de dieta hipercalórica e/ou hiperproteica. 3.4.4 Variáveis Antropométricas: Peso e estatura das crianças na admissão e na alta: as crianças menores de dois anos e/ou até 15 kg foram pesadas sem roupa em balança digital, com capacidade de 15 kg e precisão de +5g. O comprimento foi aferido em decúbito dorsal sobre uma superfície plana, com a utilização de régua antropométrica, com escala em centímetros, até o máximo de 110 centímetros, sempre com ação conjunta de dois examinadores para garantir o correto posicionamento da cabeça e fixação de ambos os pés. 15 As crianças acima de dois anos e/ou pesando mais de 15 kg foram pesadas com o mínimo de roupa possível, em balança digital tipo adulto, com capacidade de 150 kg e precisão de 100g. A altura foi aferida com a criança em pé, encostada em régua vertical com escala métrica, em centímetros, medindo até 180 cm. Índice de massa corporal (IMC) da criança: a pesquisadora realizou as medidas antropométricas da criança (peso e altura), em seguida calculou o IMC através da fórmula: peso (Kg)/ altura2 (m2), e, então, classificou o resultado em: IMC adequado para a idade (≤ +1 e ≥ - 2 escores z); obesidade (> 3 escores z);sobrepeso (≤ +3 e ≥ +2 escores z); risco de sobrepeso (≤ +2 e >+1escores z);magreza (< -2 e ≥ -3 escores z), magreza acentuada (< -3 escores z), segundo os critérios da Organização Mundial de Saúde. 3.5 LOGÍSTICA Foi realizado previamente um estudo piloto, de modo a legitimar o questionário e identificar dificuldades e dúvidas dos pesquisadores e dos entrevistados; A pesquisadora identificou diariamente os pacientes admitidos nas enfermarias nas últimas 24 horas; Se o paciente admitido preenchesse os critérios de inclusão, era explicado aos pais e/ou responsáveis sobre o objetivo do estudo e então obtiamos o consentimento livre e esclarecido (anexo1); Após a autorização, foi aplicado um questionário previamente confeccionado (anexo 2) aos pais ou responsáveis que acompanhavam a criança e, se necessário, com o auxilio de um intérprete. A avaliação antropométrica foi realizada pelo próprio pesquisador(a), nãosendo consideradas medidas de altura ou peso encontradas no prontuário. O procedimento era realizado até 24h da admissão e no momento da alta hospitalar; 3.6 AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA 16 Os dados foram tratados pelo programa ANTHRO/2006 que utiliza os padrões da Organização Mundial de Saúde (2006) e calcula o escore z para as relações estatura/idade (E/I), peso/idade (P/I) e peso/estatura (P/E) e classificação do estado nutricional baseado nos critérios recomendados pela OMS modificados (tabela 1). Desnutrição energético- proteica (DEP) Estatura/idade Escore-z Peso/estatura Escore-z Peso/idade Escore-z Leve -1 a -1,99 -1 a -1,99 -1 a -1,99 Moderada -2 a -2,99 -2 a -2,99 -2 a -2,99 Grave Abaixo de -3 Abaixo de -3 Abaixo de -3 Tabela 1. Classificação do estado nutricional de acordo com a OMS (modificado). Quanto à evolução do estado ponderal, foi considerada a diferença entre o escore z da alta e o da admissão do índice P/I, para determinar ganho ou perda ponderal durante a evolução à hospitalização. 3.7 ANÁLISES DE DADOS Os dados obtidos foram ingressados em uma planilha utilizando o programa Microsoft Excel 2011, e, então, foram analisados. 17 4. REFERENCIAL TEÓRICO A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a desnutrição como “uma gama de condições patológicas com deficiência simultânea de proteínas e calorias, em variadas proporções, que acomete preferencialmente crianças de pouca idade e está comumente associada a infecções” (OMS, 1999). A má nutrição corresponde a um desequilíbrio na ingesta de nutrientes essenciais para o organismo. Trata-se de um termo que inclui a obesidade, o sobrepeso, o baixo peso e várias deficiências nutricionais, no senso amplo. Mas, no senso estrito chamaremos de desnutridas aquelas crianças com déficit de peso e/ou altura para a idade (KRUIZENGA H.M., 2005). A desnutrição energético-proteica (DEP) pode ser definida como uma doença multifatorial de alta letalidade, capaz de promover diversas alterações fisiológicas na tentativa de adaptar o organismo à escassez de nutrientes (SARNI R.O., MUNEKATA R.V., 2012). Vale ressaltar que a OMS considera apenas a recuperação P/E como critério de alta hospitalar. Embora mais lenta, a monitorização do índice E/I é fundamental no seguimento ambulatorial posterior à alta hospitalar, uma vez que o déficit estatural consequente à DEP relaciona-se com várias sequelas na vida adulta, incluindo maior incidência de doenças crônicas não transmissíveis e pior desempenho cognitivo futuro (OMS, 2005). A desnutrição pode ocorrer precocemente, já na vida intrauterina (baixo peso ao nascer), ou cedo na infância, em decorrência da interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo e da inadequada alimentação complementar nos primeiros dois anos de vida, associada muitas vezes à privação alimentar ao longo da vida e à ocorrência de repetidos episódios de doenças infecciosas diarreicas e respiratórias (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). No âmbito hospitalar, a desnutrição, desde sua identificação nas décadas de 70, preocupa os profissionais da saúde, visto que prejudica a função imune, 18 interferindo na susceptibilidade às infecções, cicatrização e resposta inflamatória, o que pode provocar um aumento no tempo de hospitalização e aumento da mortalidade (MAICÁ A.O., SCWEIGERT I.D., 2008). A OMS estima que cerca de 150 milhões de crianças menores de cinco anos apresentam baixo peso para sua idade e 182 milhões têm baixa estatura. De modo que, de todas as crianças com idade abaixo de cinco anos em países em desenvolvimento, cerca de 30% apresentam baixo-peso, 38% déficit de estatura e 9% déficit de peso para altura. Alguns autores referem, no entanto, que esses valores podem estar subestimados devido a dificuldades para o cálculo de cifras exatas sobre a prevalência mundial de desnutrição (de ONIS, 2006). Já os dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostram que a cada ano, mais de 200 mil crianças morrem antes dos cinco anos nas Américas, devido a desnutrição e doenças preveníveis. Dentre as crianças com desnutrição grave, 20 a 30% delas vão a óbito durante tratamento nos serviços de saúde desses países (ROCHA GA, ROCHA EJ, MARTINS CV., 2006). No Brasil, as regiões mais pobres do país Norte e Nordeste, concentram os casos de déficit nutricional segundo o indicador P/I. Por outro lado, nas outras regiões do país, a prevalência do déficit nutricional alcança valores muito próximos àqueles esperados em uma população que não sofra agravos nutricionais. A diferença entre áreas urbana e rural, exceto na região Sul, ainda é acentuada no Brasil. A região Norte mostrou-se a área nutricionalmente mais vulnerável do país, especialmente o Norte rural, cuja prevalência de déficit nutricional se aproxima daqueles valores observados em regiões consideradas de prevalência moderada pela OMS (WHO, 2006). Dados de prevalência de desnutrição no mundo mostram que, ao contrário da percepção popular, a maioria das crianças com déficit de P/E não vive na África. No entanto, em alguns países com elevadas proporções de mulheres e 19 crianças contaminadas por HIV, um aumento na ocorrência desse déficit nutricional em regiões da África, seja como efeito direto da doença ou pelo impacto indireto da segurança alimentar e da atenção à criança, poderá ser observado. A maioria das crianças com déficit de P/E vive na Ásia. Na Índia, Paquistão e Bangladesh são identificadas cerca de 5,5 milhões de crianças com déficit de P/E, representando 78% desse déficit nutricional na população mundial de crianças menores de cinco anos (GROSS W., 2006). A desnutrição possui uma significativa correlação com diversos fatores sociais, cuidados, nível de escolaridade, idade, doenças subjacentes, neoplasias e tratamento com múltiplas drogas que acabam influenciando o estado nutricional do paciente (PIRLICH et al. 2006) . Entre essas causas, a patologia do paciente é um dos fatores principais, visto que pode interferir com a absorção dos nutrientes devido às alterações de mecanismos fisiológicos, como: infecções, mudanças no metabolismo, perda de apetite ou distúrbios digestivos. Outras causas também podem influenciar o estado nutricional como: saúde dental, isolamento social, vícios, doença mental, distúrbios da deglutição, mudanças na percepção do paladar e até mesmo a incapacidade de comprar ou preparar alimentos (LÖSER, 2010). As desigualdades sociais existentes no Brasil resultam em graves iniquidades em saúde, a exemplo da maior prevalência de desnutrição e mortalidade infantil entre as crianças indígenas menores de cinco anos de idade (DINIZ, 2010; CARDOSO et al. 2011). No estudo “Saúde materno-infantil e nutrição de crianças Kaiowá e Guarani, Área Indígena de Caarapó, Mato Grosso do Sul, Brasil” (2006) verificou-se uma elevada proporção de crianças com escore-z < -2. Além disso, observou-se uma marcada diferenciação entre o número de crianças desnutridas segundo o índice peso/idade e estatura/ idade, sendo que neste último a proporção foi mais elevada. Outras informações obtidas foram: um número expressivo de mães que não teve atendimento pré-natal, elevado número de crianças com20 baixo peso ao nascimento (< 2.500 g) e a partir do sexto mês de vida, todas as faixas etárias apresentaram déficits nutricionais (PÍCOLI R.P., CARANDINA L., RIBAS D.L.B., 2006). O Ministério da Saúde afirma que entre as crianças indígenas a desnutrição ainda é a principal doença nutricional e está diretamente relacionada à manutenção de elevados índices de mortalidade infantil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Nos primeiros dois anos de vida a criança é particularmente mais vulnerável a DEP, devido crescimento intenso, onde se observa a maior velocidade de crescimento extrauterino. A recuperação de déficits ponderais pode ocorrer completamente, sem prejuízo ao peso esperado segundo o potencial genético do indivíduo. Já, a recuperação completa de déficits estaturais é mais difícil. Déficits de crescimento, ponderal ou estatural, instalados no início da vida deveriam ser recuperados até os quatro anos para não haver prejuízo do peso e altura na idade adulta (YAMAMOTO E COLABORADORES, 2001). A DPE pode ser classificada, segundo sua etiologia, em primária, secundária ou mista. As expressões desnutrição primária e secundária referem-se, respectivamente, à desnutrição que resulta de ingestão alimentar insuficiente e à desnutrição que resulta de aumento das necessidades, mal absorção e/ou aumento da perda de nutrientes (ROBERT M.K., 2009). A grave desnutrição proteico-calórica em crianças, frequentemente leva ao marasmo, estando o peso menor que 60% da média para a idade e um aspecto debilitado e envelhecido. Não se observa a ocorrência de edema. Além disso, a espessura das pregas da pele e a circunferência do braço estão marcadamente reduzidas e as crianças afetadas são frequentemente pouco expressivas e apáticas. Essa desnutrição pode advir de uma oferta alimentar insuficiente em energia, macro e micronutrientes (desnutrição de causa primária), ou, pode ainda ocorrer do inadequado aproveitamento funcional e biológico dos nutrientes disponíveis ou da elevação do gasto energético, na presença de doenças associadas (desnutrição secundária). São alguns 21 exemplos de doenças que cursam com desnutrição proteico-calórica na faixa pediátrica: cardiopatias congênitas, neuropatias, síndrome da imunodeficiência adquirida, pneumopatias crônicas, fibrose cística, entre outras (LISSAUER T., 2009). O kwashiorkor é outra forma de manifestação da desnutrição proteica grave. Pode haver: edema generalizado, uma erupção cutânea, um abdome distendido, hepatomegalia, cabelos esparsos e despigmentados, entre outros. É uma manifestação de deficiência primária de proteínas com ingesta de calorias relativamente bem mantidas. Frequentemente se desenvolve após uma infecção intercorrente aguda (LISSAUER T., 2009). Estudos demonstram que 42-57% das mortes de crianças menores de quatro anos de idade podem ser atribuídas aos efeitos potencializadores da desnutrição em doenças infecciosas (CARDOSO, 2006). Os prejuízos da desnutrição impactam também na perda de massa muscular prejudicando a função do trato gastrointestinal, dos músculos respiratórios e cardíacos acarretando maiores chances de fraturas ósseas e úlceras de pressão. Além disso, um paciente desnutrido, em sua maioria, acaba apresentando apatia e depressão durante seu tratamento (MAICÁ A.O., SCWEIGERT I.D., 2008). Todos esses problemas, associados ao estado nutricional, provocam um aumento no tempo de hospitalização que sofre um incremento gradativo, de acordo com a presença dos fatores de risco (RUSSELL C.A., 2007). Crianças obesas hospitalizadas também possuem maior risco de apresentar complicações que impliquem em maior tempo de hospitalização. Elas têm maior risco de desenvolver anemia, apresentar baixos níveis séricos de vitaminas lipossolúveis, hiperlipidemia, resistência insulínica e hiperglicemia, além de várias complicações sistêmicas a curto e longo prazo (WANG G. DIETZ W.H., 2002; CALI A M.G.; CAPRIO S., 2008). 22 O estudo “Avaliação antropométrica, fatores de risco para desnutrição e medidas de apoio nutricional em crianças internadas em hospitais de ensino no Brasil” (2009), avaliou todas as crianças hospitalizadas, entre 28 dias de vida e cinco anos de idade, em enfermarias de pediatria geral de 10 hospitais universitários ou de ensino de quatro regiões geográficas do país (Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul), totalizando nove capitais brasileiras (Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Porto Alegre), e encontrou a doença diarreica como diagnóstico mais prevalente à admissão, entre as crianças desnutridas quando comparadas com as não desnutridas, que apresentaram com mais frequência pneumonia (RR = 2,48; IC95% 1,74-3,53) (SARNI R.O.S., et al., 2009). Houve, também, correlação inversamente proporcional e estatisticamente significante entre o escore z do peso/estatura da alta e o tempo de internação (r = -0,132; p < 0,01). Para crianças desnutridas r = -0,036 (p = 0,760) e eutróficas r = -0,085 (p = 0,070). O diagnóstico da DEP é realizado por meio da avaliação do estado nutricional, utilizando medidas antropométricas que é um dos indicadores de saúde da criança mais sensíveis e usados, constituindo-se em meio universalmente aplicável, rápido, barato e não invasivo de determinar o estado nutricional (CARDOSO, 2006). Dentre os métodos antropométricos, destacam-se as correlações do Peso para Idade (P/I), do Peso para Estatura (P/E) e da Estatura para a Idade (E/I). As curvas de referência representam o “modelo empírico saudável” e servem, a um só tempo, para classificar e diagnosticar o estado nutricional de um indivíduo ou uma população (de ONIS, 2003). O déficit do índice E/I indica que a criança tem um crescimento comprometido em processo de longa duração, que se interpreta como stunting, desnutrição crônica ou nanismo. Já o índice de P/I reflete um comprometimento com reflexo mais pronunciado no peso, interpretado como wasting, desnutrição aguda ou magreza (CUERVO, 2005). 23 Tendo reconhecido os problemas da curva de crescimento do NCHS/CDC, em 1994 a OMS começou a planejar novos padrões que, diferentemente da atual referência, seriam baseados em uma amostra internacional de bebês saudáveis alimentados com leite materno, e retrataria como as crianças "deveriam" crescer em todos os países, em vez de refletir apenas como as crianças cresceram em um dado período e lugar. O Estudo Multicêntrico de Referência para o Crescimento da OMS (WHO Multicentre Growth Reference Study, MGRS), realizado entre 1997 e 2003, enfocou a coleta de dados de crianças de meios étnicos e culturais bastante diversos. Esse estudo gerou as curvas de referência para crescimento e desenvolvimento de crianças do nascimento aos cinco anos de idade lançadas em abril de 2006 e atualmente recomendadas pela OMS para uso internacional no diagnóstico nutricional de crianças da faixa etária especificada (de ONIS, 2006). As novas curvas baseiam-se também no conhecimento atual sobre nutrição infantil para definir o que seria um crescimento ideal para crianças pequenas, tanto em termos de alimentação, como em termos da ausência de restrições econômicas ou ambientais ao potencial genético de crescimento. Portanto, as curvas representam padrões normativos de crescimento e não apenas referências (de ONIS E COLABORADORES, 2007). O monitoramentodo estado nutricional de crianças desde seu nascimento é um instrumento importante para identificar precocemente situações de risco nutricional ( KAC G., SICHIERI R., GIGANTE D.P., 2007). Para auxiliar no diagnóstico da desnutrição, exames laboratoriais como: transferrina e albumina podem ser utilizadas, mas, as alterações nesses exames, podem ocorrer não somente devido ao estado nutricional como também por consequência de várias situações clínicas (YOUSSEF et al. 2011). Um paciente desnutrido acaba, consequentemente, apresentando um agravamento de sua patologia. Como a desnutrição é uma doença que se soma ao quadro clínico, é esperado que ocorra um aumento significativo no fator custo (Amaral T.F., et al., 2007). 24 Conceitua-se a desnutrição hospitalar como aquela diagnosticada durante a internação. Pode ser devida a causas externas, ou seja, desencadeada antes da internação, podendo ter relação direta com a doença de base, agravada ou não pela desnutrição primária e a desnutrição que surge após a admissão, relacionada também com a sua doença, agravada por más práticas ou ausência de suporte nutricional adequado no ambiente nosocomial (KANASHIRO, 2006). Dois dados interessantes são que: a cada ano, mais de 200 mil crianças morrem antes dos cinco anos nas Américas em consequência da desnutrição e doenças preveníveis; e das crianças gravemente desnutridas, cerca de 20 a 30% vão a óbito durante tratamento nos serviços de saúde desses países (MARTINS; ROCHA; ROCHA, 2006). Nos países em desenvolvimento, a desnutrição está associada à morte em 56% de crianças menores de cinco anos de idade. No Brasil, a taxa de letalidade hospitalar das crianças com desnutrição grave internadas é cerca de 20%. Este valor pode estar subestimado, uma vez que o diagnóstico da desnutrição, como causa básica que motivou a internação, nem sempre é feito e registrado no prontuário e também porque existe subnotificação da desnutrição como causa de óbito (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Infelizmente, o estudo retrospectivo “Eficácia na avaliação nutricional em crianças admitidas no Hospital Universitário de Fortaleza” (2009), que avaliou crianças menores de cinco anos no período de julho a dezembro de 1999, mostrou o que já era esperado: que somente 59% das crianças tinham avaliação nutricional na admissão (ROCHA G.A., ROCHA E.J.M., MARTINS C.V., 2009). No estudo “Evolução do estado nutricional de crianças submetidos a internação hospitalar” (2002) realizado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Alagoas, foram estudadas 52 crianças, sendo 36 (69,2%) do sexo masculino e 16 (30,8) do sexo feminino. A faixa etária predominante foi a de menor de um ano (lactente), com 44,2% do total de casos. Os pacientes provenientes do interior do Estado superaram aqueles oriundos da capital (53,8%). 25 Vinte e oito enfermidades foram registradas como diagnóstico principal, no entanto a condição mais frequente foi a desnutrição (15,4%), seguida por pneumonia (9,6%), anemia carencial (7,7%) e desidratação (5,8%). O tempo de internação variou de 10 a 77 dias (FERREIRA H.F., FRANÇA A.O.F., 2002). No Brasil, as crianças internadas em hospitais públicos frequentemente apresentam evolução nutricional insatisfatória, com perda ponderal significativa. Isto é evidenciado pela relação direta entre tempo de internação e maior prevalência de desnutrição. Para uma parcela dos pacientes, a ocorrência de desnutrição durante a internação é atribuída à gravidade da doença de base. Este tipo de evolução é comum nos casos graves internados em unidade de terapia intensiva, sendo as disfunções orgânicas fatores determinantes do estado de catabolismo nestas crianças. Porém, o suporte nutricional inadequado pode ser imputado como fator principal ou adicional em muitos pacientes (MOURA CAETANO, et al., 2002; ABREU et al., 2004). No estudo “Avaliação nutricional de crianças internadas em hospital público e hospital particular, e de suas mães, em Salvador, Bahia” (2014), verificou-se que, quando comparados os diagnósticos nutricionais das crianças internadas com suas respectivas mães, 56,3% das crianças diagnosticadas acima do peso ideal para idade possuíam mães igualmente acima do peso, enquanto que 58,9% das crianças classificadas com peso ideal para a idade também possuíam respectivas mães com peso adequado (RIBEIRO I.T., et al., 2014). Verificou-se também que, nos dois hospitais, a maioria das mães 112 (63,3%), quando perguntadas a respeito da sua percepção sobre a adequação do peso de seus filhos, declarou que eles estavam com peso adequado. No hospital público, 62 (62%) mães julgaram seus filhos com pesos adequados, enquanto que, no hospital particular, 50 (64,9%) mães igualmente admitiram que seus filhos estavam com peso adequado. Na análise de concordância entre a opinião das mães sobre a adequação do peso de seus filhos e os respectivos diagnósticos nutricionais, observou-se que, para os dois hospitais, houve 26 concordância de acerto para resposta positiva em 69 (66,3%) dos 104 casos diagnosticados como peso adequado. Por outro lado, 43 (58,9%) das 73 crianças classificadas com diagnóstico nutricional alterado foram julgadas pelas respectivas mães com peso adequado (RIBEIRO I.T., et al., 2014). Quanto mais precoce a detecção de pacientes mal nutridos, ou em risco de desnutrição, for feita, maior será o benefício da terapia nutricional desde que adequada. Essa intervenção apresenta efeitos significativos sobre a mortalidade e morbidade, melhora do tratamento e das taxa de complicação. Fatores esses, que impactam positivamente, no prognóstico e na qualidade de vida desses pacientes. Portanto, o rastreio nutricional pode contribuir com a melhora na evolução clínica dos pacientes, reduzindo substancialmente, a estadia nos hospitais e consequentemente, dos custos (RUSSELL, 2007). Estudos mostram associação consistente entre a presença de desnutrição em crianças < 5 anos e risco de morte por doença diarreica e infecção respiratória aguda. Quanto maior o grau de desnutrição, maior é o risco de morte. Como a criança desnutrida é mais suscetível a processos infecciosos e apresenta uma série de particularidades fisiopatológicas, é de fundamental importância o diagnóstico, seguimento e cuidado/atenção adequados para reduzir o tempo de internação, morbidades e taxa de mortalidade (RICE Al, et al., 2005). 27 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistados 142 pacientes no período de 01 de abril a 31 de maio de 2016. Destes, 101 foram considerados inelegíveis para o estudo, uma vez que não atendiam as seguintes condições: tinham idade maior que cinco anos (30,7% dos excluídos) (n=31), vinte eram portadores de doenças crônicas (ex.: neurológicas, cardiológicas...), sete evadiram-se, vinte estiveram internados por menos de cinco dias, treze eram provenientes da UTI e doze recusaram-se a participar. Assim, foram incluídos no estudo 41 pacientes. Dos elegíveis, 27 (65,8%) foram considerados como sendo não índios e 14 (34,2%) como índios. Quanto ao gênero dos entrevistados, predominouo feminino (51,2%, n=21). Os pacientes referenciados por livre demanda, 65,8% dos casos (n= 27), superaram aqueles provenientes de outro hospital 29,3% (n= 12) e da atenção primária 4,9% (n=2). A pequena porcentagem de pacientes provenientes da atenção básica nos faz inferir que, a despeito dos avanços do Sistema Único de Saúde (SUS), ainda são encontradas dificuldades quanto à igualdade de acesso da população às ações e serviços de saúde relacionados à atenção primária. Além disso, uma significativa parte dos atendimentos da porta de entrada do serviço poderia sim ser solucionada na atenção básica. Fato encontrado no estudo realizado em cinco serviços públicos de urgência/emergência da cidade do Recife, envolvendo crianças e adolescentes, revela que 63,5% dos usuários apresentavam problemas de saúde que poderiam ser solucionados na rede básica (KOVACS MH, et al., 2005). Mas sabe- se também que dificuldades de acesso à consultas na atenção básica, a qualidade geral do atendimento, resolubilidade do serviço e acesso à medicação, constituem também importantes motivos que levam o usuário a procurar serviços de urgência/ emergência hospitalar (KOVACS MH., et al., 2005). 28 Por ocasião da admissão, encontrou-se uma prevalência de desnutrição em 31,7% para o índice P/I, 41,5% para E/I, 19,5% para P/E e 7,3 classificados como obesos ao considerarmos o IMC. A eutrofia foi diagnosticada em 58,5%, 51,2%, 73,1% e 60,7%, respectivamente. Na avaliação da alta manteve-se a porcentagem de DEP para E/I e P/E. Já com o índice P/I observamos que 12,5% dos desnutridos leves melhoraram seu estado nutricional tornando-se eutróficos, conforme tabela 2. Tabela 2: Distribuição das crianças, segundo classificação nutricional considerando o índice P/I, à admissão e alta hospitalar. Admissão Alta n % n % Classificação Nutricional DEP grave 1 2,4 1 2,4 DEP moderada 4 9,8 4 9,8 DEP leve 8 19,5 7 17,1 Eutrofia 25 61 26 63,4 Sobrepeso 3 7,3 3 7,3 Total 41 100 41 100 A avaliação nutricional realizada no estudo ”Avaliação antropométrica, fatores de risco para desnutrição e medidas de apoio nutricional em crianças internadas em hospitais de ensino no Brasil”, de SARNI e colaboradores 2009, encontraram que 16,3% e 30% das crianças à admissão, bem como 15,4% e 34,4% à alta, foram classificadas como portadoras de desnutrição moderada/grave (considerando P/E) e baixa estatura (E/I), respectivamente (SARNI, ROSELI O. S. et al., 2009). 29 http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=SARNI,+ROSELI+O.+S. Considerando especificamente a região Norte, dados do SISVAN (Sistema de Vigilância alimentar e nutricional, 2007), a prevalência de desnutrição na região Norte do Brasil é de 23,1% para o índice E/I (altura para idade), 5,2% para o índice P/I (peso para idade) e 3,4% para o índice P/E (peso para estatura) (SISVAN, 2008). Ao utilizarmos o IMC, à admissão e à alta, um paciente classificado como obeso passou a sobrepeso, dos dois com sobrepeso um passou a risco de sobrepeso e o outro a peso adequado, o classificado como magreza acentuada passou a magreza (n=1) e um paciente que tinha o peso adequado passou a risco de sobrepeso. Estes resultados fazem questionar se os desnutridos moderados/ magreza acentuada sofriam tanto a influência negativa de seu meio ambiente, que mesmo internados com uma patologia, a oferta de alimentos gratuita e qualitativamente adequada fez minimizar os agravos nutricionais. Bem como, outra explicação possível seria que os desnutridos moderados/ graves chamam mais atenção dos profissionais que estão na sua assistência para a DPE e assim recebem tratamento concomitante, enquanto que nos desnutridos leves, o agravo nutricional pode ter passado despercebido. Das enfermidades registradas como diagnóstico principal, as afecções respiratórias predominaram, correspondendo a 44,8% (n=17), seguidas por gastroenterocolite aguda (34,2%). Magalhães (2013) também encontrou como o diagnóstico mais frequente as doenças respiratórias: 29,5% Em seguida 12,5% com doença hematológica, 11% com processo infeccioso grave e 9,5% com doença do trato digestivo (MAGALHÃES EA, et al., 2013). Ao correlacionar as doenças mais prevalentes com o estado nutricional, observou-se que no grupo dos desnutridos prevaleceram afecções respiratórias (50%), seguidas por GECA (42,3%). Já no segundo grupo, dos eutróficos, predominaram outras patologias, correspondendo a 46,7% dos diagnósticos, seguidas por afecções respiratórias (26,7%) e GECA (26,6%). 30 Portanto, o prejuízo do estado nutricional favoreceu as doenças infecciosas. Nossos dados divergem dos obtidos no estudo “Avaliação antropométrica, fatores de risco para desnutrição e medidas de apoio nutricional em crianças internadas em hospitais de ensino no Brasil”, em que a doença diarreica foi o diagnóstico, à admissão, mais prevalente entre as crianças desnutridas quando comparadas com as não desnutridas, que apresentaram com mais frequência pneumonia (SARNI ROS, et al., 2009). Uma das maneiras com que a DEP agrava a saúde dos indivíduos hospitalizados está relacionada aos prejuízos imunológicos observados nos pacientes desnutridos, os quais podem apresentar além da desnutrição, doenças imunossupressoras e/ou infecto-parasitárias. Tem-se aceito amplamente que a imunidade ou a suscetibilidade a diversas doenças infecto- parasitárias estão diretamente relacionadas ao estado nutricional dos indivíduos (MALAFAIA G., 2009). Estudos demonstraram que as deficiências nutricionais podem cronificar e/ou agravar o quadro clínico de algumas doenças como: doenças sexualmente transmissíveis, poliomielite, difteria, tétano, hepatites, hanseníase, dengue e infecções intestinais por nematoides. Podem, também, agravar o quadro clínico de diversas doenças infectocontagiosas (MACIEL BLL, et al., 2008; UTHMAN O. P., 2008; WHO., 2005.). Trinta e uma das 41 crianças tinham menos que dois anos à admissão, o que reitera Simons et al, 2011, que encontrou como faixa etária predominante um a três anos. Outros estudos também identificaram menor ocorrência de internação com o aumento da idade (LENZ MLM, et al., 2008.; OLIVEIRA BRG, et al., 2010; SIMONS DA, et al., 2010). Outras características gerais da amostra se encontram na tabela 3. 31 Tabela 3 – Informações gerais das crianças à admissão no Hospital da criança Santo Antônio – Boa Vista (RR), no período de 1 de abrila 31 de maio de 2016. Variável Categoria N % Sexo Masculino 20 49 Feminino 21 51 Idade (meses) 0 – 11 11 26,8 12 – 23 20 48,8 24 – 60 12 24,4 Procedência Outro hospital 12 29,3 Livre demanda 27 65,9 Atenção primária 2 4,8 Tempo de até 5 7 12,2 internação (dias) 6 – 10 31 75,6 > 10 3 12,2 Diagnóstico Afecções Respiratórias 17 41,5 GECA 14 34,2 Outros 10 24,3 De todos os pacientes avaliados, 83 % (n=34) não possuíam nenhuma avaliação nutricional anotada no prontuário, enquanto 4,9% (n=2) possuíam avaliação subjetiva e bioquímica e 12,1 % (n=5) apenas subjetiva. Toda criança internada deve ter seu estado nutricional avaliado. Se a criança for gravemente desnutrida, recomenda-se a identificação de sinais e sintomas compatíveis com hipoglicemia, hipotermia, desidratação/edema e infecção. Após a detecção desses distúrbios, deve-se iniciar o tratamento específico o mais rápido possível. Diagnosticar a DEP grave e instituir o tratamento adequado tem impacto redutor na mortalidade (LIMA AM, GAMALLO SMM, OLIVEIRA FLC., 2010). 32 Os exames bioquímicos e a investigação do processo infeccioso devem ser realizados segundo a avaliação clínica, durante a hospitalização e ambulatorialmente (ONIS M, et al., 2004). A redução dos índices de mortalidade dos pacientes com desnutrição grave pode ser alcançada com medidas de baixo custo, assim como a prevenção da desnutrição leve/moderada. Ambas através de medidas como a implementação das diretrizes da OMS, rápida identificação da desnutrição principalmente a forma grave e a padronização do atendimento inicial à esses pacientes. O treinamento da equipe de saúde para a identificação dos sinais clínicos é uma estratégia importante para o tratamento da desnutrição (NÓBREGA FJ, et al., 2007). Ressalta-se a importância do acompanhamento interdisciplinar (pediatra, nutricionista, fisioterapeuta, psicóloga, terapeuta ocupacional, fonoaudióloga, assistente social) na estimulação neuropsicomotora do desnutrido, que deve ser iniciada durante o período de internação e reforçada na fase ambulatorial. Muitas vezes, apesar da recuperação ponderal do desnutrido grave, permanecem sequelas na área cognitiva, emocional e motora (NÓBREGA FJ, et al., 2007). A falta de interação entre os profissionais de saúde e à falha nos registros, devido à ausência de dados (peso, estatura e consumo alimentar, interrupção de refeições devido a exames), compromete o início da terapia nutricional ou seu uso adequado, prejudicando o estado nutricional dos pacientes. Geralmente, essas práticas estão relacionadas ao desconhecimento dos profissionais da saúde sobre os efeitos negativos que o estado nutricional, debilitado, provoca na evolução clínica do paciente (BOTTONI A, et al., 2008). A desnutrição primária grave pode ser diagnosticada erroneamente e a falta de diagnóstico de uma causa secundária acarreta falhas e demora no tratamento. O desnutrido secundário, que não tem a causa da sua desnutrição estabelecida, necessita mais frequentemente de fórmulas infantis especiais e até de nutrição parenteral, evoluindo com maior tempo de internação e maior risco de mortalidade (SARNI RO, et al., 2005). 33 Percebe-se em nosso estudo uma alta prevalência do déficit E/I (49%) e uma moderada prevalência de P/E (26,8%). Avaliando E/I nosso resultado reforça o dado publicado pelo Ministério da Saúde, de que a desnutrição das crianças brasileiras é de caráter mais crônico que agudo, ou seja, as crianças têm baixa estatura para idade e, na maioria das vezes peso adequada para estatura (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Ao comparar os índices P/E do respectivo trabalho e da Pesquisa Nacional de Saúde, 2013, encontramos uma porcentagem maior de crianças com algum grau de desnutrição. A PNS encontrou déficits relacionados à P/E de 1,9%, não ultrapassando 3% em qualquer estrato da população, indicando, equilíbrio adequado entre o acúmulo de massa corporal e o crescimento linear das crianças, apontando o virtual controle de formas agudas de deficiência energética em todo o País (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Foi analisada também a evolução individualizada do grupo dos desnutridos, de acordo com o índice peso/idade. Haja vista, que tal índice pode estar relacionado tanto com o passado nutricional da criança, como com os problemas atuais que resultem em ganho insuficiente de peso ou perda de peso, sendo, portanto um indicador que pode refletir deficiência conjunta de peso e de estatura. Ao final do período de hospitalização, não ocorreram mudanças na classificação nutricional dos pacientes, o que indica a ausência de avaliação nutricional durante a internação e/ou uma intervenção incorreta. Magalhães et al, realizaram estudo longitudinal, com todas as crianças de 0 a 10 anos (n=200) internadas em um hospital universitário entre fevereiro e dezembro de 2011. Onde mostraram redução da ordem de 15,2% na prevalência da desnutrição grave e de 6,5% na de desnutrição leve, mas o número de casos de desnutrição moderada aumentou em 24,7%. Rocha et al, observaram que as crianças admitidas com desnutrição moderada e grave permaneceram com seu estado nutricional inalterado, e dentre as que eram eutróficas, 9,17% apresentaram comprometimento nutricional (WHO., 2009; MAGALHÃES, et al., 2013; ROCHA GA, ROCHA EJ, MARTINS CV., 2006). 34 Verifica-se que apesar do alto percentual de DEP encontrada no estudo, apenas 17,1% (n=7) dos prontuários continham anotação da condição nutricional das crianças, e, dessas avaliações, 42,9% eram subjetivas, em apenas um prontuário (14,3%) havia registro de avaliação subjetiva e bioquímica, e em cinco prontuários (42,8%) havia avaliação objetiva. Isso demonstra que a condição nutricional das crianças não está recebendo a devida atenção, quer seja por desconhecimento da sua importância, quer pela falta de protocolo. Cabe ressaltar que o percentual de DEP encontrado na admissão foi P/I 39%, E/I 48,8% e P/E 12,2%. Sabe-se que a recuperação estatural é mais lenta comparada à do peso, provavelmente por esse motivo o índice estatura para Idade não tenha tido recuperação, levando em consideração que a média de dias de internação do presente estudo foi de 7,9 dias. Analisando o tempo de internação hospitalar, de acordo com a classificação nutricional, encontramos que, tantono grupo das crianças desnutridas quanto no das eutróficas, o tempo predominante de internação foi de 6 a 10 dias. A desnutrição é uma doença que se soma ao quadro clínico e o paciente desnutrido, consequentemente, apresenta um agravamento da sua patologia que, por si, já apresenta um determinado fator custo. Logo, é esperado que ocorra um aumento significativo desse fato (KRUIZENGA HM, et al., 2005). Vários fatores podem estar relacionados com a evolução inalterada do estado nutricional das crianças neste estudo, talvez a principal seja a pouca atenção dada ao estado nutricional levando a uma falta de intervenção dietoterápica adequada. Segundo Gallagher-Allred e colaboradores (1996), um suporte nutricional adequado contribui para redução da prevalência e magnitude da desnutrição, melhora o prognóstico clínico e ajuda a reduzir os custos de tratamento (GALLAGHER-ALLRED, et al., 2006). Corish e colaboradores, 2004, concluíram que screening e avaliação nutricional na admissão e em intervalos regulares durante a hospitalização aumentariam a 35 identificação precoce de pacientes com problemas nutricionais, possibilitando melhora na qualidade do atendimento nutricional aos pacientes desnutridos ou naqueles em risco de sê-lo (CORISH CA, FLOOD P, KENNEDY NP., 2004). Outro fator a se inferir como causal seria a pouca interação entre os profissionais especializados (médicos, nutricionistas, enfermeiros,...). Devido a complexidade dos fatores envolvidos na monitoração do paciente hospitalizado e no tratamento da desnutrição hospitalar, a formação de uma equipe multidisciplinar pode ser fundamental para assegurar atenção adequada aos pacientes hospitalizados (LEITE, et al., 2005). Entende-se que os possíveis fatores para desnutrição além de nutricionais, também dizem respeito a aspectos sociais, econômicos e demográficos. Considerando a renda familiar nos grupos dos com déficit nutricional e nos eutróficos temos os seguintes resultados: nos com algum grau de desnutrição 16,7% possuíam renda < 1 salário mínimo, 66,7% 1 a 2 salários e três (16,6%) não sabiam informar ou não possuíam renda familiar. Já no grupo dos eutróficos, 66,7% declararam possuir renda entre 1 a 2 salários, e nas faixas de 2 a 3, maior que três e não sabiam ou não possuíam renda, a porcentagem foi a mesma para cada um: 11,1%. Ao avaliar a raça dos entrevistados observou-se que 100% dos indígenas da amostra aprestaram algum grau de desnutrição, correspondendo a 45,4% (n=10) de todas as crianças desnutridas, enquanto 44,4% dos não indígenas (n=12) foram classificados como desnutridos. Ocorreu, também, diferença quanto à escolaridade da mãe. Enquanto nos desnutridos 45,5% tinham o ensino fundamental completo (n=9), nos dos pacientes classificados como eutróficos, 40% possuíam ensino médio completo. O estudo “Perfil de utilização de serviços de saúde por crianças de zona urbana no Brasil: estudo transversal de base nacional” realizado em 2009, com crianças residentes em 100 municípios de cinco regiões brasileiras, mostrou que um quarto das mães das crianças internadas tinha até quatro anos completos de escola e um terço tinha entre cinco e oito anos completos. 36 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Corish%20CA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=15023193 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Flood%20P%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=15023193 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Kennedy%20NP%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=15023193 Quase metade das crianças pertencia a famílias com classificação econômica C e pouco menos de um terço foram classificadas nas classes D e E (TOMASI E., et al., 2015). O mesmo também indagou que crianças de mais baixa renda podem ter mais necessidade de procurar serviços de urgência devido a barreiras no acesso à atenção básica; por outro lado, crianças de melhor condição socioeconômica teriam acesso mais facilitado a serviços privados e por convênio para o atendimento precoce de seus problemas (CARRET MLV, FASSA ACG, DOMINGUES MR., 2009). Esse fato foi reiterado pelo presente estudo pois houve predominância na renda familiar de até 2 salários mínimos, tanto no grupo dos estrófico quanto no dos desnutridos. Pode-se pensar, também, que internam- se mais crianças de família com baixa renda para garantir o sucesso do tratamento, a exemplo do que se observou em estudo sobre internações sensíveis à atenção primária (NEDEL FB, et al., 2008). Delgado et al. estratificaram a população em relação ao estado nutricional e verificaram que os desnutridos tiveram média de idade superior (25,6 meses) que os bem nutridos (10,7 meses) (DELGADO A, et al., 2008). Outras informações relativas a aspectos sociais e econômicos encontram-se na tabela 4. 37 Tabela 4 – Caracterização social, econômica e demográfica das crianças à admissão no Hospital da Criança Santo Antônio – Boa Vista (RR), no período de abril a maio de 2016. Desnutridos Eutróficos Variável Categoria N % N % Raça Índio 10 45,4 - - Não-índio 12 54,6 19 100 Renda <1 5 22,7 - - familiar 1 a 2 12 54,5 10 52,6 2 a 3 - - 5 26,4 >3 - - 2 10,5 NS/NT 5 22,8 2 10,5 Moradores ≤ 5 12 54,5 9 47,4 da casa 6 a 7 6 27,4 7 36,8 8 a 10 2 9,1 2 10,5 > 10 2 9,1 1 5,3 Escolaridade EFC 3 13,6 - - da mãe EFI 12 54,5 6 31,6 EMC 2 9,1 6 31,6 EMI 2 9,1 - - ESC - - 2 10,5 ESI - - 5 26,3 NSA 3 13,6 - - Porém, no presente estudo, não houve diferençacom relação à idade das crianças que foram admitidas desnutridas e aquelas “nutridas”,pois, em ambas predominou a faixa etária < 3 anos: 89% e 78%, respectivamente. Sendo que, das crianças que internaram com algum grau de DPE, 50% tinham idade menor ou igual a dois anos Em relação às outras variáveis, duração da gestação, peso ao nascer e situação do calendário vacinal, encontramos os resultados abaixo. 38 A frequência de crianças prematuras foi de 13%, próxima à encontrada na literatura, que variou de 13,6%¹ a 33,8% (SARNI RO, et al., 2009; SARNI RO, et al., 2005). Das crianças que nasceram a termo 70,6% estavam desnutridas e das prematuras 66,7% também foram consideradas com algum grau de desnutrição, e isso demonstra que, nessa população, a prematuridade não foi fator de risco. Em relação à situação vacinal, 45,4% (n=10) dos pacientes desnutridos estavam com cartão completo, 36,4% (n=8) incompleto e 18,2% (n=4) não apresentaram a caderneta da criança com as vacinas. No grupo dos pacientes eutróficos 52,7% (n=10) possuíam o esquema vacinal completo para a idade, enquanto 26,3% (n=5) estavam incompletos e 21% (n=4) não estavam com o cartão no momento da entrevista. Ressalta-se que um cartão vacinal não atualizado, pode funcionar como um fator agravante de uma doença ou contribuir para o surgimento de outra patologia durante a internação, ou até mesmo fora do ambiente hospitalar. Ao verificar o peso ao nascer, 89% dos eutróficos nasceram com mais de 2500 g, enquanto no grupo dos desnutridos este índice foi de apenas 61%. Ou seja, ao contrário da prematuridade, o baixo peso ao nascer se mostrou um fator de risco para DEP futura. 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com os dados obtidos poderemos intervir nos pontos mais falhos que deveriam garantir a segurança alimentar e nutricional da população estudada, e diminuir o índice de desnutrição hospitalar, proporcionando as crianças melhor recuperação e menor tempo de internação, ou até mesmo evitar essa necessidade de hospitalização nos casos em que a desnutrição for primária. Em virtude da escassez da amostra, mais estudos com maior tempo de acompanhamento serão necessários para chegarmos a dados mais fidedignos. 40 REFERÊNCIAS ABREU SM; TADDEI JAAC; COLUGNATI FAB; CURY MCF. Evolução nutricional de crianças internadas nas unidades de clínica e cirurgia pediátrica de hospital público: São Paulo. Brasil: Revista Paulista Pediatria 2004; 22:212-20. BARBOSA E; COLOMBO PPF; NOGUEIRA TL; FREITAS STF. Perfil nutricional de crianças desnutridas internadas. 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