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HENRY M. BOETTINGER A Administração é Realmente uma Arte? (Is Management Really an Art?) - Intuição, talento, competência e energia não são suficientes para fazer um bom administrador. Todasessas qualidades precisam ser complementadas com o treinamento profissional. Em ,matéria de Iugares-comuns, poucas declara- ções superam a afirmativa de que administrar é uma arte. Administradores experientes e de certa idade, às vezes, usam-na para silenciar novatos arrogantes ou excessivamente impacientes, que apresentam bri- lhantes métodos científicos durante reuniões para tomada de decisões. Em ocasiões mais favoráveis, observadores perspicazes empregam-na para expli- car;, um sucesso inesperado, quando o acaso e a pro- babilidade de fracasso .rendern-se à competência 'e<'à energia. E quem poderia negar que tal lugar-comum é, .de alguma forma, representativo de urna expe- riência? Certamente, nenhuma pessoa sensata diria que administrar não é uma arte. E se alguém se der realmente o trabalho de comparar a administração à arte verá que essa comparação tem importantes implicações para a moderna prática administrativa. Nos últimos anos, procurei profissionais e profes- sores bem-sucedidos. em certos empreendimentos re- conhecidos como arte: música, balé, pintura, escul- tura, arquitetura, literatura, cirurgia, culinária e cer- tos tipos de esportes individuais, como, por exemplo,TItulo original:Is Management Really an Art? Publicado originalmente pela Harvard Business Review. © 1978by President and FeUows of Harvard College. © desta edição, Editora Nova Cultural Ltda., São Paulo, 1986. Tradução publicada sob licença da Editora Abril"S.A., São Paulo. Henry M. Boettingeré diretor de Planejamento Empresarial daAme- rican Telephone & Telegraph. Este artigo, de sua autoria, foi adapta- do de uma conferência que fez na Universidade de Oxford, 89 mentos cirúrgicos, pincéis, cinzéis, rédeas, espátulas ou sapatilhas de balé. A intuição, por si só, não é suficiente, nem mesmo para um desempenho em nível amador. No terreno das artes, o uso correto dos instrumentos desenvolve-se após anos de inú- meros equívocos e apenas alguns poucos sucessos. Os artistas criam objetos para preencher as necessida- des quando estas se manifestam e aperfeiçoam mé- todos para usá-los através de experiências e erros. Esses métodos passam de professor a aluno e; vir- tualmente, nunca serão alcançados de modo instin- tivo ou sem qualquer espécie de treinamento. Não há atalhos para o desenvolvimento do talento. As técnicas usadas pelos profissionais são quase sempre antiinstintivas; todo mestre já teve, pelo menos uma vez, seus instintos controlados pelo trabalho disci- plinado. Na administração de assuntos complexos, tais como problemas políticos ou governamentais, pro- fissionais despreparados geralmente trazem resulta- -dos insatisfatórios, apesar de suas boas intenções. Cabe aqui, perfeitamente, a citação da norma apre- sentada por Jay Forrester: "Oualquer alteração in- tuitiva de um sistema complexo o tornará pior". A maioria de nós não se sentiria bem se tivesse que usar a intuição para operar um reator atômico, um submarino ou um avião. Ficaríamos com medo se nos pedissem para remover um tumor cerebral, di- rigir uma sinfonia, cavalgar ou preparar um jantar para autoridades de Estado. Essas atividades, porém, são muito menos compli- cadas do que o lançamento, com sucesso, de uma política econômica, a introdução de uma nova tec- nologia para toda uma indústria ou a reestrutura- ção adequada de uma instituição para preencher no- vos mercados e demandas. Não obstante, espera-se que o administrador seja capaz de realizá-Ias de ma- neira correta, e quase de imediato. As companhias estão seguras de que seus administradores dominam as melhores técnicas existentes, antes de serem cha- mados a executar tarefas que, com certeza, terão sé- rias conseqüências humanas, políticas e sociais? Não acredito nisso. Entretanto, a aquisição da técnica é essencial para alcançar-se a competência. 91 esgrima- e a equitação. Meu objetivo era verificar e essas pessoas tinham atributos em comum, que rudessem ser aplicados ao ensino e à prática da .drninistração. Todas as opiniões que colhi resultaram e,? _algo rssim: Arte -"é a imposição de um padrão, a v/sao de tm todo sobre diversas partes distintas, de modo a :riar a representação daquela visão:. "í"'. e a impo- tiçâo da ordem sobre o t:JOS_ Ao artista e necessarro oossuir não apenas a visão do que pretende tran~- nitir, mas também a habilidade e o talento, atr aves dos quais poderá apresentar aquela visão. Esse pro- cesso compreende a escolha da forma _exata de arte e, dentro dela, da técnica mais apropriad~. Na ver- dadeira arte, o resultado será a harmonia entre a imaginação e o talento, que envolverá? observador, leitor ou ouvinte, sem que este necessite separar as partes para apreciar o todo. Todos nós conhecemos pessoas que possuem a força da imaginação mas não o talento para trans- formá-Ia em algo definido; são o que chamamos de sonhadores. No mundo das artes, há os freqüenta- dores de "cafés", a falarem constantemente sobre os. "trabalhos sendo realizados" que, porém, nunca são terminados. Outros possuem capacidade alta- mente desenvolvida mas não a força da imaginação sobre a qual trabalhar. Suas frustrações são bastante conhecidas: "Se tivesse uma idéia, poderia escrever uma boa estória!" Ou "Se ao menos soubesse o que a administração de alto nível realmente quer que eu faça!" O fato é que em qualquer empresa os so- nhadores e os técnicos - independentemente de seu nível _--estarão condenados à ineficiência.. Duas qualidades - Para demonstrar como essa .dis- tinção está relacionada à administração. e~amma- remos duas qualidades próprias dos verdadeiros ar- tistas: o talento (habilidade técnica) e a imaginé!:ção (facilidade mental de chegar ,à visã(), A combina- ção dessas qualidades dá ao Iider, da. ~esma f~rma que ao artista, a capacida~e de transmitir o que _~ma- ginae de provocar a reaçao naqueles <!ue o rodeiam. ·Urri principiante, pormalo~ que seJa, seu t~ento, iamais saberá usar, da maneira apropnada, ínstru- não quando se dirigem a outras pessoas. Nesta .si- tuação, precisam conhecer e avaliar a motivação: o que requer uma compreensão muito grande dos se- res humanos como indivíduos. Igual a uma faca - O que uma organização deve fazer a fim de ensinar um administrador a lidar com seus subordinados. principalmente com os veteranos experientes, cuja atividade é essencial ao cresci- mento da empresa? Em primeiro lugar, o adminis- trador deverá ser instruído no sentido de não opor-se desnecessariamente aos subordinados como os lide- res políticos fazem tão freqüentem ente. A adminis- tração é como uma faca cujo lado cortante é a ima- ginação, mas cujo impulso origina-se do conjunto de experiências e realizações do pessoal que está por detrás do lado cortante. Tanto o lado cortante como o conjunto são necessários para levar a faca a cortar. Os adjetivos "desinteressante" e "brilhante". não são estranhos à avaliação da eficiência da administração como um todo. O administrador precisa também conhecer não apenas as pessoas que fazem parte de sua própria organização mas, também, os impulsos, ansiedades e reações dos que estão fora do âmbito de seu con- trole - acionistas, clientes, concorrentes e autori- dades do governo. Na verdade, nossos conhecimen- tos sobre os "materiais" da administração são em- píricos e limitados. Este lapso é uma das razões pelas quais somos atingidos, de tempos em tempos. por "ondas de modismo" nos novos métodos de ma- nipulação e' motivação. Nas outras artes, os mestres dão muita importân- cia ao aprendizado advindo dos erros e da prática. Alguns mestres da esgrima e da equitação chegam a punir fisicamente seus alunos por desviarem-se do padrão exato e, freqüentemente,lançam mão do ri- dículo para corrigir lapsos de concentração .. Certa- mente, não poderemos usar a disciplina militar no campo da administração. Mas os erros poderiam ser usados tcomo- oportunidades para o professor Uma posição Ingênua Novas analogias - A maior parte dos artistas uti- liza materiais cuja essência deve ser profundamente conhecida para que ele possa produzir melhor tra- balho. Os instrumentos musicais, por exemplo, são complexos em sua construção e difíceis de mani- pular. Cada material tem sua própria força e fra- queza e o verdadeiro artista conhece as limitações desse material, sabendo como trabalhá-lo para que não ofereça resistência às suas realizações. Da mes- ma forma, as matérias-primas do administrador são os talentos humanos, inclusive seu próprio talento. E o ponto fundamental de seu trabalho é a con- secução de grandes objetivos através das realizações humanas. Aidéia é resumida pelo autor francês Jean- Jacques Servan-Schreiber da seguinte forma: "A administração é a arte das artes por ser a organiza- dora do talento". Poderemos perguntar como o administrador irá adquirir o conhecimento de mestre sobre seus ma- teriais. Como o arquiteto que deseja transcender os limites dos métodos anteriores de' construção, o administrador deverá estudar a essência de seus ma- teriais e fazer experiências com suas possibilidades. Será muito ingênua a perspectiva do administrador que acreditar constituírem as pessoas sob seu co- mando um material homogêneo capaz de tomar a forma de qualquer modelo pela ação dos cinzéis das pressões do mercado. Esse administrador comparti- lhará, juntamente com os feitores e capitães de tri- pulações forçadas do século 19, de uma' política ba- seada no chicote. Alguns administradores conseguem lidar desse modo com as pessoas. Suas. técnicas na arte da administração serão, porém, tão imperfeitas quanto primitiva será sua filosofia. Atualmente, administra- dores com tal perspectiva são como arquitetos que planejam residências sem conhecer os limites de re- sistência dos materiais. Poderão sobreviver somente em regiões relativamente isoladas da sociedade mas i . I I I I I I I administradores diante de problemas reais. O pro- hlema é fazê-Ios renunciar temporariamente a seu stat us na hierarquia e assumir a simples condição de estudantes sob a orientação de professores com- petentes. Para indivíduos inseguros ou de nível in- ferior. esse fato provocará um problema social do qual. felizmente. as pessoas de alto nível estão cien- tes. A companhia que pretender proporcionar uma boa educação no setor administrativo sempre d is- por á dos meios para minimizar esses atritos psico- losz icos , -Um pcrnt o ' controvertido no treinamento é se ele somente deve ficar LI cargo de pessoas realmente qua- lificadas. Não .resta a menor dúvida de que é impor- ta nte a crítica construtiva feita por um observador bem informado - atores, por exemplo, podem apren- der rnuito a respeito da motivação humana através dos psiquiatras. Entretanto, esse tipo de procedi- mento difere daquele usado pelo ator para mostrar a outros como expressar sentimentos humanos. Mais do que em qualquer outra arte, na adminis- tração esse tipo de aprendizagem é mais difícil de ser completado. Dançarinos, atores, pintores e mú- sicos geralmente chegam ainda muito jovens ao es- túdio do mestre, por possuírem uma grande motiva- ção que os prepara para o difícil processo de seleção. Tal não ocorre, porém, no campo da administra- ção. Poucos sonharam. na infância. com o exerci- cio dessa profissão e. em geral. não é sertão bem mais tarde. após terem-se preparado para outros se- tores. que descobrem a inclinação ou o interesse por essa ati vidude, Algumas diferenças - Quem torna-se administra- dor muito tarde enfrenta problemas em virtude da atitude geral assumida pelas companhias no tocante à responsabilidade pelo treinamento no setor. Ne- nenhum membro da Orquestra Filarmônica de Nova lorque espera que a direção da orquestra o ajude a desenvolver sua arte com o instrumento. Isto ca- berá inteiramente a ele, pois sua reputação corno músico dependerá totalmente de sua capacidade de execução. Intenção, potencialidade e aspiração não terão lugar ou valor na apreciação que se fizer sobre ele. No mundo da música, um verdadeiro abismo orientar a prática e o treinamento futuros. No campo das artes, esse treinamento evolui através de etapas graduais, que vão desde os elementos mais simples até estratagemas mais complexos, sendo imprescin- dível o aprendizado completo de cada uma dessas eta- pas, antes de passar-se para níveis mais elevados. Todos os mestres sabem que, em última análise, a negligência em relação a um setor fundamental da arte prejudicará todo o trabalho futuro e causará graves falhas no desempenho. Quem deve cuidar do treinamento? O esgrimista que não aprende a desenvolver uma réplica imediata, por exemplo, será tão limitado em sua forma de conduzir uma competição como o administrador que não sabe como lidar com as pes- soas. Suas energias serão dir igidas à proteção da- quela deficiência e não à criação de uma melhor, , . ~ , estrategra. .. Falta de consenso - Os esquemas de treinamento administrativo das companhias, contudo, raramente deixam lugar para o processo gradual de aprendi- zado. Conseqüentemente,. há muitas pessoas, algu- mas ocupando posições elevadas, que carecem até da compreensão mais elementar sobre a importância das relações humanas. E quando precisam atuar em áreas nas quais são deficientes - por exemplo, em métodos de contabilidade e em sofisticados sistemas de informações administrativas - sua falta de co- nhecimento. das relações humanas será ainda mais crucial do que a falta de conhecimento em qualquer outro campo. As lacunas em seu treinamento pro- vocarn contínua pressão sobr-e seus subordinados. Uma aprendizagem rápida mas difícil Restric;ües psicológicas - Na prática a situação po- deria ser totalmente diferente. Poucas pessoas são capazes de aprender algo mais rapidamente do que --------------------------------------------------------- ---- ---- 95 96 separa os brilhantes dos razoáveis e todos não apenas sabem como aceitam perfeitamente esse fato. A diferença entre a orquestra e a empresa é que na orquestra cada músico teve um professor e, pro- vavelmente, terá um durante toda a sua vida, e esse mestre também será responsável pelo seu desempe- nho. Na empresa, o estudante de administração terá que aprender sua arte em um meio ambiente ~)flde as coisas estão em constante mudança e atraves de uma hierarquia que encara os progressos alcançados pelo administrador como um assunto que só a ele diz respeito. Mesmo em uma relação mestre-estudante é 101- possível aprender a arte da administração sem au- xílio. Administradores de níveis mais elevados de- verão, portanto, assumir parte. da responsabilidade pelo treinamento daqueles que o sucederão e que, no momento, são seus Subordinados. Há uma apa- rente perversidade na obrigação de assistir outn~s destruírem ou, pelo menos. tornarem obsoleta a VI- são atual de uma pessoa sobre o funcionamento _df","\ uma empresa. Ainda assim, no entanto, esta e a regra mais importante para os melhores professores de~ administração. Mas transformar os vsubordinados iern simples có- pias e adotar sistemas de seleção que facilitem tal medida são atitudes que acabarão por prejudicar o crescimento futuro ..de qualquer empresa ou insti- tuição. Interpelado por' um aluno. brilhante que lhe perguntou: "Quando deverei interromper minhas au- las com o senhor?",· um sábio mestre da pintura res- pondeu: "Quando seus quadros começarem a parecer cópias dos meus". Todos nós conhecemos líderes a tal ponto dominadores que levam seus' subordinados a imitar cada um de seus atos. Não possuindo o ta- lento do mestre. conseguem apenas copiarsuas fa- lhas e apresentar imitações' de suas realizações. Essa é a. razão pela qual. a história da arte está marcada por: grandes rompimentos de gênios que se tornaram obsoletos ou estilizados .pela escola que criaram. Essa estagnação criou condições para o surgimento de uma nova visão de grandeza que apagou o de- clínio anterior. A falta de critérios rígidos no treinamento Lord Ral!.lan infeliz líder militar durante a Guer- ra da Crim~éia,' declarou que ao enfrentar determi- nado problema sempre perguntava a si mesmo: "0 que o Duque de Wellington teria feito?" Acredito que a idéia de imitar outra pessoa jamais passou pela cabeça do duque. Ao invés disso, ele pergun- tava a si próprio: "O que o inimigo fará?" Essa é a forma certa de encarar um problema que todo grande líder deverá adotar em todas as situações de luta, seja uma batalha ou a concorrência no mer- cado. O líder usa a imaginação para criar impulsos de genialidade voltados para o presente; o imitador desvirtua sua imaginação na tentativa de encontrar a ação correta para situações há muito consideradas ultrapassadas pela história. Os resultados de ambas as atitudes são previsíveis e merecidos. Duas proposições - Quando os instrumentos e os materiais de uma determinada' 'arte são inanimados, como na escultura, ou simbólicos, como na conta- bilidade e na música, o desenvolvimento é uma res- ponsabilidade individual. Quando os materiais de uma determinada arte são a personalidade, o talento e as realizações de outros. como no campo militar. no governo ou na administração de uma empresa, o desenvolvimento individual dependerá, até certo ponto, das' condições gerais da entidade. A educa- ção de seus membros tornar-se-á uma responsabili- dade social da própria instituição, responsabilidade que deverá ser assumida, se a organização quiser assegurar sua sobrevivência. Faz parte desta catego- ria o talento que os bons administradores deverão possuir. A capacidade de comunicação escrita e oral - dois talentos que o moderno administrador precisará dominar para ser 'totalmente. eficiente - poderá. ser aperfeiçoada pelo treinamento correto. Nas grandes 99 pressão oculta idéias imprecisas. fato que poderá ser desastroso quando ligado à autoridade e à respon- sabilidade: 'Idél~ nascem da observação de problemas, acon- tecimentos e possibilidades. o que exige, para sua realização. entusiasmo e ação. O administrador po- derá tomar unia das duas atitudes, apresentadas a seguir. Primeiro, poderá encarar os problemas como quebra-cabeças isolados, a serem resolvidos indepen- dentemente uns dos outros. Ou poderá considerá-los quebra-cabeças interligados, que serão solucionados através do replanejamento. A ciência da administra- ção adota. necessariamente, a primeira dessas abor- dagens. A arte daadministração, porém, requer tam- bém a segunda: Isto nos leva a indagar o que po- deremos aprender com asartes ao atingirmos aquelas "boas visões" que são a condição indispensável de toda obra-prima da arte - ou da administração. Métodos empfrícos - Em "Holism and Evolution", o estatista e filósofo sul-africano J anChristian (1870- 1950) escreveu: "O todo é mais dó que a soma' das partes, possuí algo intrlnseco, certa natureza interna de estrutura e função; certa relação 'específica; certa interioridade de caráter ou' essênCia que constitui aquele algo mais"," Isso toma-se óbvio em setores tais como poesia. pintura ou música, onde unidades isoladas de palavras. pigmentos ou tons combinam- se para produzir Um modelo que não existe nas uni- dades em' si. Esse' modelo é mais importante do que qualquer. conjunto lde unidades" embora grande, que careça de tal padrão. organizações. a dependência exclusiva de discussões será extremamente perigosa pois cada etapa de trans- missão provocará modificações na mensagem. Ao passar por vários níveis de hierarquia. enfrentando os preconceitos, as ansiedades e os mteress~s de cada recehedor, a mensagem poderá tornar-se irrecorihe- cível a quem a enviou. Também é indispensá.vel a capacidade de falar perante qualquer grupo,. seja :.le constituído de três ou 3 000 pessoas. E inadmis- sível que existam administradores incapazes. de lidar com o mais antigo dos instrumentos da hderança. A capacidade de. participar de diálogos em reuniões e apresentar idéias e programas ganha tempo e elu- ~ida problemas. Por outro lado, reali~n~o pr<:>g~~s- sos, por menores que sejam, na enuncraçao de ld~tas aos escalões inferiores, a administração de' alto nível pode aumentar a solidez de uma or~anização. Mas, atualmente, o que fazem os lideres empresa- riais para corrigir tais deficiências? Muito po~c()c.'\, Parecem partir do pressuposto de que os adrninjs- tradores poderão adquirir esses talentos rápida e fa- cilmente ou, então, quçespecialistas na arte de es- crever e na, apresentação poderão ser contratados sempre que necessário. Alguns administradores real- mente possuem dons naturais nessas áreas, mas a maioria não. E o conceito de que pessoas contratadas serão capazes de transmitir o verdadeiro pensamento do administrador, no estilo que lhe é característico, é uma armadilha em que caem executivos de todos os níveis. Seria o mesmo que ter um grupo de mú- sicos improvisados executando uma peça de Moza:t. Poderia soar como música, mas certamentenao seria Mozart. "'- Em qualquer trabalho criativo; tanto o conceito como os métodos para sua expressão influenciam e desenvolvem uns aos outros. Se o administrador não possuir a disciplina necessária para exprimir suas idéias de forma escrita e Clara ou através de dis- cursos convincentes, a reaJizaçãode seu objetivo poderá ser prejudicada. Uma forma obscura de ex- A ação e os limites materiais da empresa Como uma criança curiosa desmonta um relógio. separando as- engrenagens. os' fusos e as molas' que o compõe, a análise quebra o' todo em partes cada vez -menores, para o exame individual. 'Em vgeral, 00 os grandes progressos alcançados na ciência segui- ram esse processo - a elucidaçãode detalhes cada vez mais definidos com o uso de instrumentos de observação cada vez mais poderosos. Contudo. a análise só poderá ser feita sobre alguma coisa que já existe e, por existir. deve haver certa relação entre as partes, quase como se alguém a houvesse plane- jado. Por exemplo, um cientista verdadeiramente' criativo é aquele capaz de visualízar o todo a partir da observação de unidades isoladas. Sua "ciência" é uma forma de demonstrar sua "arte", Para expressar-se, o artista. busca formas harmo-. niosas através da seleção, da rejeição e do relacio-'- namento .dos vários elementos que têm à sua dis- posição. Também o administrador usa tais artifícios ; . alguns lhe são inatos. outros ele anseia por expres- sar. outros parecem-lhe detestáveis, enquanto outros lhe são ainda desconhecidos. começando apenas a despertar em sua imaginação. . Se, na arte da administração. não houver a. dc~ "'I, vida compreensão do papel preponderante da Ima- ginação e do desempenho individual. o tema "admi- nistração", como disciplina acadêmica. tornar-se-a simplesmente uma ciência pedagógica elementar; so- mente de análise, e não, de síntese. Infelizmente, ainda é pequeno o número de pessoas intelectualmente treinadas para colocar a síntese em prática. de forma eficiente. e para tomar. as decisões necessárias à administração em geral. Semiaquela visão clara contida em toda verda- deira obra de arte, os elementos de .que dispõe o administrador constituirão apenas partes '..isoladas, sem coesão. Como nas ·outras 'formas 'de>a~ não existem critérios objetivos nos quáis -O administrador poderá basear-se para avaliar se um plano é melhor do' que- outro. Os usados para selecionar urna confi- guração. são-pnramente- subjetivos .. Cada critério é avaliado- através de seus-preconceitos e-crenças pes- soais, de sua formação e·.de seu temperamertto.-Da mesma -forrna :que o artista.iao. comporvipintae ou esculpir, também o administrador constrói ou des- trói cada vez que reorganiza suas possibilidades. Sucessos e fracassos -' Uma reunião de executivos de alto nível, ao selecionar o pessoal que deverá di- rigir um conjunto de departamentos subordinados. assemelha-se. em seu trabalho, a uma equipe de pin- tores de afrescos, onde cada um cóntribui com uma pincelada para o quadro que será visto como um todo. Como acontece ao" artista, cada ação realizada pelo executivo será uma conciliação entre sua visão e os limites dos materiais que terá à sua disposição. Essa contínua relação entre a visão e as possibili- dades é responsável pela afirmação de que "as gran- des obras de arte não são jamais terminadas; são abandonadas". Quando, depois de atravessado o emaranhado de fracassos e sucessos, os planos do administrador finalmente chegam ao seu término, outros poderão analisar se foram tomadas as decisões certas, se foram selecionadas as pessoas mais ade- quadas e se foram usadas as informações corretas. Ao enfatizar a visão como um produto da imagi- nação, não quero dizer que tal processo não é. tam- bém, influenciado pela experiência. A capacidade de possuir "visão" pode ser produto de um tipo de edu- cação que estimula o arrojo e as tentativas. propi- ciando, igualmente, a crítica construtiva e os modelos a serem seguidos. Os administradores poderão aprender· através das críticas feitas aos seus sucessos' e f'racassos. Porém. tais críticas só serão 'Úteis na medida em que servi- .rem para- auxiliá-los a ter uma melhor visão no fu- turo. Às <vezes, a cautela do líder com respeito a tá- ticas que fracassaram, levam-no a relutar em aceitar qualquer outra forma que não ..aquela que manterá o estado de equilíbrio. Essa busca do status quo tanto poderá significar a .consolidação do estágio no qual muitas mudanças, radicais serão finalmente incorpo-: radas comopoderãrtambém; ser- a: indicação do iní- do do declínio de' uma empresa. Se. oradministrador; perdera. coragem •..deixando de -perseguir. Um .sonho 11: ou visao, a organização estará condenada pois, em geral, 'érrecessár io grande' est ímulo e acentuada dose de 'auto-confiança para continuar no caminho pIa.:. nejado.icorno fez Becthoven no princípio de sua sur- dez: "Tomarei o destino em minhas mãos". Mesmo sem tomar a metáfora ao pé da letra, todo adminis- trador que fizer jus à sua posição deverá, às vezes, tomar a mesma atitude ao enfrentar um grande. pro- blema ou quando surgir uma grande oportunjdade , senvolvidos e analisados, e não em uma cornpulsão nervosa que leva a fazer qualquer coisa absoluta- mente sem pensar. O arrojo é o resultado de desafios e êxitos anteriores, nos quais a 'confiança foi refor- çada a cada etapa vencida e cada. problema enfren- tado apresentava dificuldades sempre maiores. Dirigir pessoaS. é captar suas· emoç6es E esse tipo. de forte experiência que se constitui no valor dos' veteranos nas unidades militares. Con- fiantes c amadurecidos, enrijecem o ânimo dos sol- dados inexperientes, criando o núcleo em torno do qual se estruturará a 'confiança da tropa. Tendo os veteranos como 'exemplo, os jovens soldados apren- derão a reagir quando em combate. Sem tais mo- delos. os .primeiros sons· de combate despertariam neles um pânico incontrolável. No mundo das artes, os professores chamam a atenção dos alunos para os modelos, ou seja, as gran- des obras dos grandes artistas. Na verdade, muito mais do que o aspecto econômico da questão, é a necessidade de alcançar tais paradigmas que incen- tiva os talentosos a darem o melhor de si. As bio- grafias de pessoas de sucesso quase sempre revelam terem sido elas influenciadas, desde tenra idade, por grandes· homens ou mulheres que se destacaram em suas realizações, ou por exemplos de obras-primas encontradas em museus e bibliotecas. O conceito de que a juventude necessita mais de modelos do que .de críticas é o meio mais seguro para atrair pessoas de talento .. No entanto, são raras as boas biografias. de .grandes administradores. Pes- soalmente, acredito' existir uma fonte de inspi-ração, inexplorada e de profundo valor; nas estórias da- queles que fizeram grandes contribuições à arte da administração. Existirá motivação maior para atrair os jovens' nesse sentido? Os estadistas inspiram-se o medo de parecer ridículo Razões-equívocos - Certa vez perguntei a uma pro- fessora de balé se poderia dizer quais de suas alunas tornar-se-iam grandes bailarinas. "Sim, após al- gumas aulas posso fazer tal predição", respondeu- me. "A maioria das moças que me procuram possui belo corpo e boa coordenação, e aprende as posi- ções rapidamente. Porém, o trabalho de alto n'ível\ ", só será feito por aquelas que sé' livrarem de toda inibição. Nada alcançarão as que se preocupam peta forma corno são vistas ou como que os outros ipo- derão pensar; nadá conseguirão as que se retraem, receosas de parecerem ridículas. Procuro ajudar, com relativo êxito, as que são simplesmente tímidas; po- rém. a inibição é o maior de' todos os obstáculos. Algumas têm o dom; outras, não o possuem. Não direi que o compreendo, contudo, é algo que reco- nheço f'acilmente." A professora de balé expressou o que a maioria de nós reconhece como Os efeitos per nic iosos da ini- bição. Administradores experientes conhecem o mes- mo fenômeno: casos de homens e mulheres alta- mente credenciados e que, hoentahto, apresentam um trabalho medíocre, enquanto outros. bem menos capacitados, apresentam um· trabalho de qualidade surpreendente. Arrojo e autoconfiança não querem dizer precipitação; uma autoconfiança salutarTun- <.lamenta-se em poderes de pensarnentore ação, de- " em Plutarco; soldados encontram inspiração nos erandes comandantes; pintores, poetas, compositores ~ escritores seguem os altos padrões estabelcc ido-, por seus ídolos. Literatura pobre Entretanto, principiantes na arte da administração têm pouco material ao qual recorrer. A maior parte das estórias sobre empresas são crônicas enfadonhas, com um cunho. de apro- vação oficial de diretoria. que tendem muito mais a afastar do que a atrair {) administrador em po- tencial que busca a poesia existente na arte da admi- nistração. Toda empresa de algum valor teve seu iní- cio como uma aventura e qualquer uma, no futuro, iniciará da mesma forma. Livros e artigos que nos fazem redescobrir um objetivo não apenas inspiram os jovens como, também. motivam os céticos que acreditam ter seu trabalho perdido o significado. Um artista é julgado pela maneira como consegue transmitir seus objetivos ao espectador através da .("--., projeção de sua visão nas obras de arte. Da mesma forma, no mundo dos negócios, o administrador de- verá ser um líder capaz de comunicar sua visão a .seus subordinados. Ao ser atingida, contudo. a visao exige uma rea- lização concreta. Se a visão, ou sua realização, apre- sentarem falhas. o resultado será denominado "má administração"; por outro lado, se a realização es- tiver de acordo com a boa visão, a isto chamaremos obra-prima ou administração eficiente. Um fato é óbvio: a origem da administração eficiente encon- tra-se na imaginação dos líderes, isto é, nas pessoas que têm visões novas e as manifestam através de um alto grau de capacidade. A harmonia entre a visão e a capacidade permitirá a transmissão do objetivo. No terreno das artes, os que conseguem atingir essa harmonia são chamados "mestres". No mundo dos negócios. são chamados "líderes". Outro contraste que se .sobressai- entre as artes e as ciências é a forma pela qual são apreendidas. En- quanto os benefícios da ciência são transmitidos às pessoas em segunda mão. geralmente através de rela- tórios. a apreciação das artes sempre requer a par- ticipação pessoal do espectador. Daí ser o artista obrigado a atrair e envolver o espectador, o ouvinteou o leitor na obra de arte propriamente dita. Tal não ocorre no tocante à compreensão da ciência. Em qualquer nível de administração, desde O re- cinto de uma loja até a sala da diretoria, em toda a gama de nossas instituições estatais, comerciais e educacionais. nas forças armadas e na igreja, preci- samos redescobrir o valor da imaginação individual e reacender o entusiasmo pelos objetivos humanos, os quais representam a verdadeira essência da li- derança. Administrar é dirigir. E para dirigir outras pes- soas é necessário captar suas emoções. a fim de fa- zê-Ias participar de uma visão corno se fora delas próprias. Se isso não é arte. então nada mais o c.
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