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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE BACHARELADO EM MEDICINA HAROLDO SOUTO MAIOR DE OLIVEIRA ANÁLISE DO CONHECIMENTO SOBRE DESMAME DE VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA DE MÉDICOS PLANTONISTAS DAS UNIDADES DE TRAUMA E TERAPIA INTENSIVA DO HOSPITAL GERAL DE RORAIMA BOA VISTA, RR 2016 1 HAROLDO SOUTO MAIOR DE OLIVEIRA ANÁLISE DO CONHECIMENTO SOBRE DESMAME DE VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA DE MÉDICOS PLANTONISTAS DAS UNIDADES DE TRAUMA E TERAPIA INTENSIVA DO HOSPITAL GERAL DE RORAIMA Orientador: Prof. Dr Calvino Camargo Co-Orientador: Prof. Esp. Hermano G. L. Branquinho Boa Vista – RR 2016 Monografia apresentada como pré- requisito para conclusão do Curso de Bacharelado em Medicina no Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Roraima. 2 HAROLDO SOUTO MAIOR DE OLIVEIRA ANÁLISE DO CONHECIMENTO SOBRE DESMAME DE VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA DE MÉDICOS PLANTONISTAS DAS UNIDADES DE TRAUMA E TERAPIA INTENSIVA DO HOSPITAL GERAL DE RORAIMA . PROF DR CALVINO CAMARGO Orientador/Diretor do Centro de Ciências da Saúde - UFRR MEMBRO MEMBRO Boa Vista – RR 2016 Monografia apresentada como pré-requisito para conclusão do Curso de Bacharelado em Medicina no Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Roraima. 3 AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, que sempre se fez presente em cada um dos meus passos, permitindo que eu trilhasse este caminho na profissão que almeja a arte de curar. A ele dedico meu ânimo e fé renovados a cada dia. A minha amada mãe, Maria de Lourdes Souto Maior Cavalcante, que nunca mediu esforços para proporcionar-me a melhor educação, além do afeto e disciplina necessários. Se hoje alcanço estra grande vitória em minha vida, ela é a maior responsável! Ao meu pai, Francisco Haroldo Vieira de Oliveira, que sempre me deu o alicerce para que eu seguisse nessa jornada sem maiores transtornos. Meu muito obrigado pai! Ao meu Orientador, Professor Dr Calvino Camargo, pelo tempo, conhecimentos e apoio incondicional dedicados a este estudo. Ao meu Co-Orientador, Professor Esp. Hermano Glauber Linhares Branquinho, pela amizade, referencial teórico disponibilizado e por sanar todas as dúvidas acerca do tema. A minha namorada, Karoline Araújo de Lima, pela paciência e atenção nos momentos difíceis. E pela dádiva da alegria nos momentos felizes. Aos amigos, pela graça da convivência e pelo entendimento nas horas em que não pude estar entre eles. Aos colegas de turma que, graças ao seu empenho e dedicação, permitiram-me crescimento pessoal e intelectual. Aos mestres, pela luz do saber iluminando caminhos antes obscuros. Por me ensinar a medicina além dos livros com seus conhecimentos e humanidade. Por fim, a Universidade Federal de Roraima, que se tornou uma segunda casa ao longo desses 6 anos, proporcionando a materialização de um sonho. 4 EPÍGRAFE “ Eu não sou quem eu gostaria de ser, Eu não sou quem eu poderia ser, ainda, Eu não sou quem eu deveria ser, Mas graças a Deus, eu não sou mais quem eu era. ” (Martin Luther King) 5 RESUMO A ventilação mecânica invasiva é uma estratégia terapêutica essencial nos casos de insuficiência respiratória que necessitam deste procedimento. Contudo, devemos a todo momento ter vigilância intensiva para, assim que possível, descontinuar o suporte ventilatório. Isso porque tanto seu prolongamento desnecessário quanto sua retirada precoce podem acarretar em maiores taxas de morbimortalidade para pacientes e custos para instituições de saúde. Portanto, o desmame de ventilação mecânica invasiva surge como um assunto imprescindível de domínio por médicos que lidam com tais situações. No presente trabalho procuramos analisar o conhecimento de médicos plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima, no ano de 2016, sobre desmame de ventilação mecânica invasiva. Traçamos metodologia de quantitativa, exploratória, descritivo-explicativa, com delineamento do tipo levantamento. O instrumento de coleta de dados usado para tal foi um questionário estruturado, contendo 24 questões, das quais 9 eram fechadas e visavam a tipificação do sujeito da pesquisa, 14 eram fechadas e tratavam do tema propriamente dito e 1 era aberta e buscava entender quais as principais dificuldades, na opinião destes indivíduos, para a realização de desmame de ventilação mecânica invasiva de maneira adequada. Encontramos, assim, um perfil de médicos plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima, bem como analisamos através de suas respostas os pontos nos quais obtiveram maior domínio (critério de resolução ou controle da causa base, estabilidade neurológica, parâmetros de falha do Teste de Respiração espontânea, conduta no sucesso do mesmo e tempo de internação após sucesso de desmame) ou menor domínio (estabilidade cardiovascular-pulmonar-metabólica, tempo-parâmetros-modalidade do teste de respiração espontânea) acerca do tema e, por fim, suas opiniões acerca dos obstáculos na realização do procedimento de maneira adequada. Palavras-chave: Medicina, Terapia Intensiva, Desmame, Ventilação Mecânica, 6 ABSTRACT Invasive mechanical ventilation is an essential therapeutic strategy in cases of respiratory failure requiring this procedure. However, we must at all times be intensively vigilant to discontinue ventilatory support as soon as possible. This is because both its unnecessary prolongation and its early withdrawal can lead to higher morbidity and mortality rates for patients and costs for health institutions. Therefore, weaning from invasive mechanical ventilation emerges as an essential subject of mastery by physicians who deal with such situations. In the present study, we sought to analyze the knowledge of physicians on duty at the Trauma and Intensive Care Units of the General Hospital of Roraima, in 2016, on weaning from invasive mechanical ventilation. We draw quantitative, exploratory, descriptive-explanatory methodology, with survey design. The data collection instrument used for this was a structured questionnaire, containing 24 questions, of which 9 were closed and aimed at typifying the research subject, 14 were closed and dealt with the topic itself and 1 was open and sought to understand which Main difficulties, in the opinion of these individuals, to carry out weaning of invasive mechanical ventilation in an appropriate way. We found, therefore, a profile of physicians on duty at the Units of Trauma and Intensive Care of the General Hospital of Roraima, and analyzed through their answers the points in which they obtained greater dominance (criterion of resolution or control of the underlying cause, neurological stability, parameters Spontaneous breathing test, conduct in the success of the test, and hospitalization time after weaning success) or lower domain (cardiovascular-pulmonary-metabolic stability, time-parameters-spontaneous breathing test modality) Their views on obstacles in carrying out the procedure in an appropriate manner. Keywords: Medicine, Intensive Care, Weaning, Mechanical Ventilation 7 LISTA DE ABREVIAÇÕES DVMI Desmame de Ventilação Mecânica Invasiva VMI Ventilação Mecânica Invasiva VMNI Ventilação Mecânica Não-Invasiva TRE Teste de Respiração Espontânea ACRF Falha Respiratória Crônica Agudizada IRA Insuficiência Respiratória Aguda IRRS Índice de Respiração Rápida e Superficial FR FrequênciaRespiratória VT Volume Corrente PSV Pressão de Suporte Ventilatório ECG Escala de Coma de Glasgow FiO2 Fração Inspiratória de oxigênio SaO2 Saturação arterial de oxigênio PaCO2 Pressão arterial de dióxido de carbono CO2 Dióxido de carbono cmH2O Centímetros de água RICU Unidade de Cuidados Intermediários Respiratórios WC Centros de Desmame UTI Unidade de Terapia Intensiva HGR Hospital Geral de Roraima IES Instituição de Ensino Superior DCC Domina Corretamente o Critério DPC Domina Parcialmente o Critério NDC Não Domina o Critério UFRR Universidade Federal de Roraima T/A Tempo de Atuação 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Critérios de Elegibilidade ao Teste de Respiração Espontânea (TRE) de acordo com o livro: Tratado de Medicina de Urgência e Emergência: Pronto Socorro e UTI, Vol.1, Cap.70, Pág. 793 ................................................................................ Página 21 Figura 2 - Critérios de Elegibilidade ao Teste de Respiração Espontânea (TRE) de acordo com: III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2007;33(Suplemento 2):S 128-S 136 ................................................. Página 22 Figura 3 – Critérios de intolerância ao Teste de Respiração Espontânea (TRE) segundo III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2007;33(Suplemento 2):S 128-S 136 ................................................. Página 25 Figura 4 – Fluxograma/Organograma proposto para as Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima (HGR) ................................ Página 39 Figura 5 – Identificação das relações, custos e atribuições das Unidades de Cuidados Intermediários Respiratórios (RICU) e Centros de Desmame (WC) na dinâmica das instituições de saúde ........................................................................... Página 41 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Descritores dos sujeitos da pesquisa quanto perfil dos mesmos: sexo, faixa etária, caráter da Instituição de Ensino Superior (IES) durante a graduação e Região Brasileira na qual a IES está inserida ................................ Página 30 Tabela 2 – Descritores dos sujeitos da pesquisa quanto a experiência profissional: Tempo de Atuação (T/A) em medicina e Tempo de Atuação (T/A) em Unidades de Trauma e Terapia Intensiva ....................................................... Página 31 Tabela 3 – Descritores dos sujeitos da pesquisa quanto qualificação profissional: Residência Médica, Subespecialidade Médica e Capacitação em Ventilação Mecânica Invasiva ........................................................................ Página 32 Tabela 4 – Descritores e desempenho quanto aos Critérios de Elegibilidade para o Teste de Respiração Espontânea (TRE) ....................... Página 32 Tabela 5 – Descritores e desempenho quanto ao Teste de Respiração Espontânea (TRE) ........................................................................ Página 34 Tabela 6 – Descritores quanto as principais dificuldades encontradas por Médicos Plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima (HGR) para realização de Desmame de Ventilação Mecânica Invasiva (DVMI) de maneira adequada ........................................................ Página 37 10 SUMÁRIO 1 PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................. 11 2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 11 2.1 GERAL .............................................................................................................. 11 2.2 ESPECÍFICOS .................................................................................................. 11 3 HIPÓTESES .............................................................................................................. 11 4 APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 12 5 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 13 5.1 NECESSIDADE DE PROTOCOLOS.............................................................. 13 5.2 INSUCESSO DO DESMAME........................................................................... 15 5.3 PADRONIZAÇÃO DE CONDUTAS............................................................... 18 5.4 CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE PARA TESTE DE RESPIRAÇÃO ESPONTÂNEA (TRE) ................................................................................................. 20 5.5 TESTE DE RESPIRAÇÃO ESPONTÂNEA (TRE), MODALIDADES E CONDUTA NA FALHA OU SUCESSO DE TRE................................................ 23 5.6 EXTUBAÇÃO E MEDIDAS A SEREM REALIZADAS............................... 26 6 METODOLOGIA CIENTÍFICA ............................................................................. 28 7 RESULTADOS .......................................................................................................... 30 8 PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO ....................................................................... 38 8.1 PROPOSIÇÃO DE FLUXOGRAMA/ORGANOGRAMA PARA AS UNIDADES DE TRAUMA E TERAPIA INTENSIVA DO HGR ................................................. 38 8.2 SUGESTÃO DE CRIAÇÃO DAS UNIDADES CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS RESPIRATÓRIOS (RICU) E CENTROS DE DESMAME (WC) ........................... 40 9 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 42 10 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 46 11 ANEXOS .................................................................................................................... 50 11 PROBLEMA DA PESQUISA Segundo GIL; A 2002 a definição de problema consiste em “questão não solvida e que é objeto de discussão, em qualquer domínio do conhecimento”. Relata ainda que todo problema considerado científico deve apresentar variáveis que são passíveis de teste. Desta maneira, mediante à imersão do autor do presente estudo em cenários de prática sobre o tema, presenciando uma pluralidade de condutas, pesquisando literatura que versa sobre o que se propõe discutir e conversas com pessoas que acumulam bastante experiência e expertise no assunto o problema de pesquisa foi formulado. Assim, o pesquisador indaga: os médicos plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima estão capacitados suficientemente para conduzir o processo de desmame de ventilação mecânica invasiva? OBJETIVOS 1) GERAL: Identificar as possíveis dificuldades de médicos plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima sobre o desmame de ventilação mecânica invasiva 2) ESPECÍFICOS: 2.1) Apontar em quais segmentos do processo de desmame de ventilação mecânica invasiva estão as maiores dificuldades dos médicos plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima, bem como analisar o perfil dos mesmos. 2.2) Proposição de fluxograma/organograma para as Unidades de Trauma e Terapia Intensiva sobre o desmame de ventilação mecânica invasiva. 2.3) Sugerir a criação de Unidades de Cuidados Intermediários Respiratórios (RICU) e Centros de Desmame (WC) para a instituição em questão. HIPÓTESE Oferecer fluxograma/organograma para desmame de ventilação mecânica invasiva e capacitação sobre ventilação mecânica invasivatende a sanar as principais dificuldades de médicos plantonistas das unidades de trauma e terapia intensiva sobre o tema. 12 APRESENTAÇÃO A ventilação mecânica invasiva é um pilar fundamental no tratamento de pacientes com insuficiência respiratória. No entanto, a duração da ventilação mecânica invasiva deve a todo momento ter sua vigilância garantida para não acarretar em aumento da morbimortalidade dos pacientes nesta terapia. O aumento desnecessário do tempo de ventilação mecânica invasiva pode acarretar em complicações como pneumonia associada a ventilação mecânica, trauma de vias aéreas dentre outras. Sua retirada precoce também pode ocasionar falência respiratória e episódios de reintubação. Portanto, é de suma importância definir com critérios subjetivos e clinico-laboratoriais o momento oportuno para se realizar o desmame de ventilação invasiva. Assim, o presente trabalho visa analisar o conhecimento dos médicos plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima acerca do desmame de ventilação mecânica invasiva. O estudo tem caráter quantitativo, características exploratórias e descritivo- explicativas, delineamento do tipo levantamento e análise de dados baseados em estatística descritiva com análise de frequência. A pesquisa foi realizada mediante aplicação de questionário estruturado, contendo 24 questões, das quais 9 eram questões fechadas que visavam a tipificação dos respondentes, 14 eram questões fechadas como questionário Likert que tratavam do tema propriamente dito e 1 questão era aberta com vistas a esclarecer as principais dificuldades dos sujeitos da pesquisa quanto ao assunto abordado. Este trabalho foi realizado de agosto a setembro de 2016 na instituição supracitada, que contava à época com 46 plantonistas. Destes, incluímos no estudo 13 plantonistas (28,26% do total). Critérios de exclusão foram: 1) ser coordenador da unidade estudada, em virtude da aplicação de pré-teste nos mesmos para avaliação do conteúdo do questionário; 2) plantonistas noturnos/ocasionais em virtude de não garantirem o seguimento horizontal dos pacientes. Os resultados serão apresentados a banca examinadora como pré-requisito para conclusão do Curso de Bacharelado em Medicina da Universidade Federal de Roraima em 16/11/2016. 13 REFERENCIAL TEÓRICO 5.1 NECESSIDADE DE PROTOCOLOS Segundo PASTORE; L et al. 2006 a ventilação mecânica invasiva (VMI) é um fator primordial no tratamento de doentes com insuficiência respiratória e nos quais o centro respiratório não é capaz de iniciar o ciclo. Contudo, em virtude de sua natureza não-fisiológica, a retirada VMI torna-se uma meta eminente, assim que o doente tenha condições de fazê-la. O prolongamento desnecessário da ventilação artificial acarreta em maiores chances de pneumonia associada a ventilação mecânica, lesão pulmonar induzida pela ventilação, trauma de pequenas vias aéreas, uso excessivo de sedativos e complicações hemodinâmicas. A descontinuação precoce, por sua vez, também traz danos aos pacientes, tais como: fadiga muscular, falência na manutenção de trocas gasosas, perda da proteção de via aérea e aumento do risco de reintubação. Portanto, retirada da VMI de maneira precoce ou tardia acarreta em maior morbimortalidade para o doente e maiores gastos com saúde para instituições. Sobre os custos, SANDRI; P 2014 destaca que a VMI prolongada pode representar até 37% dos custos envolvidos com o doente numa UTI. Alguns autores, como GOLDWASSER; R et al 2007, relatam que até 40% do tempo de VMI é gasto com o desmame. Destaca ainda que retirar o paciente da ventilação artificial pode ser mais difícil que mantê-lo. Por isso refere que o DVMI pode ser considerado como uma ‘área cinzenta da medicina intensiva’ e que mesmo em mãos especializadas, pode ser uma mistura de arte e ciência. Para CIPRIANO; G et al 2011 pacientes que necessitam de reintubações nas primeiras 72 horas após extubação tem índice elevado de mortalidade, podendo chegar à 50% em UTI geral e em até 10% em UTI cardiovascular. Desta forma, para reduzir morbimortalidade para o doente e custos hospitalares das instituições de saúde, recomenda que os pacientes em VMI devem passar por reavaliações periódicas para sua retirada, assim que possível. Desta maneira, o desmame de ventilação mecânica invasiva (DVMI) surge como tema de domínio importante para terapia de doentes nestas situações. De acordo com GOLDWASSER; R et al 2007 o DVMI, por definição, é todo o processo de transição da VMI para ventilação espontânea em pacientes que necessitaram de ventilação artificial por período superior há 24 horas. Também afirma que o sucesso do DVMI corresponde à manutenção de 14 ventilação espontânea por tempo superior a 48 horas após extubação. Considera como falha de desmame ou insucesso o retorno a VMI em tempo inferior a 48 horas. FRUTOS-VIVAR; A. et al 2013 suscita ainda o fato que o DVMI é um procedimento comum que consome substancialmente o tempo da rotina de médicos e enfermeiros. Desta maneira, segundo o autor, esse procedimento deve ter suas bases ancoradas em sólidas evidências clínicas na sua realização. SAUGEL; B et al 2012 reflete que, de acordo com os riscos envolvidos para o paciente tanto com a descontinuação precoce quanto com o prolongamento desnecessário da VMI, estratégias confiáveis para sucesso em desmame de pacientes seriam muito úteis. De acordo com o autor, protocolos com parâmetros confiáveis para o DVMI, indicando assim paciente elegíveis para o Teste de Respiração Espontânea (TRE) com posterior extubação seria a proposta ideal. Além de reavaliações periódicas supracitadas, JAKOB; S.M et al 2007 destaca que estratégias para reduzir o uso de sedativos e analgésicos podem diminuir o tempo de estadia nos hospitais, Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e diminuir os custos das instituições de saúde com pacientes que necessitam de ventilação artificial. HOOPER; M.H et al 2009 afirma que a interrupção diária de sedativos, até o despertar dos pacientes, reduz significativamente a duração da VMI e tempo de internação em UTI. Esses benefícios, porém, não são acrescidos de aumentos significativos na taxa de eventos adversos. No entanto, apesar dessas evidências, o autor relata que pesquisas indicam que menos de 40% das UTI adotam essa estratégia. 15 5.2 INSUCESSO DO DESMAME LIN; P et al 2015 separou os pacientes elegíveis para o DVMI em três grupos: desmame simples (pacientes com sucesso de desmame no primeiro TRE), desmame difícil (pacientes com sucesso de desmame em até 3 TRE ou em até 7 dias do primeiro TRE) e desmame prolongado (pacientes sem sucesso de desmame após 3 TRE ou depois de 7 dias do primeiro TRE). Após análise dos mesmos, concluiu que os pacientes em desmame prolongado tem maiores taxas de mortalidade em 60 dias, mortalidade em UTI, tempo de internação hospitalar, tempo de ventilação mecânica, custos hospitalares e pneumonia associada a ventilação mecânica. O autor relata ainda que os grupos de desmame simples e difícil tiveram taxas semelhantes de morbimortalidade, o que sugere que o limite de até 3 TRE ou até 7 dias do primeiro TRE é um marco para aumento significativo de morbimortalidade e custos hospitalares. Segundo o autor os fatores que melhor predizem desmame prolongado são baixas Escalas de Coma de Glasgow (ECG) e hipercapnia. HOELZ; C et al 2010 relata que 5 a 30% dos pacientes que não obtêm sucesso no desmame numa primeira ou segunda tentativas geralmente correspondem a um grupo particular de pacientes com comorbidades cardiopulmonares, neurológicas e debilitantes ou que realizaram grandes cirurgias torácicas ou abdominais. A mesma taxa de insucessos foi verificada por PASTORE; L et al. 2006 reiterando que esses grupos de doentes são responsáveis por grande parte doscustos para sistemas de saúde e que representam desafios clínicos, econômicos e éticos. Destaca ainda que essa falência pode ser causada por vários fatores concomitantes, e que esforços devem ser feitos para corrigir as possíveis causas de dependência da VMI. Alguns autores como HOELZ; C et al 2010 afirmam que os principais fatores relacionados ao insucesso ou dificuldade do DVMI são, geralmente, desequilíbrios entre a demanda e a capacidade ventilatória, particularmente um aumento da primeira em detrimento da segunda. Define ainda a demanda ventilatória como o trabalho a ser executado pelo sistema musculoesquelético respiratório. Relata que os quatro principais fatores que interferem na demanda são: produção de dióxido de carbono (CO2), fração inefetiva da ventilação (espaço morto), o controle (drive) ventilatório e a mecânica do sistema respiratório. A seguir temos trecho transcrito do autor que explicita os principais fatores que contribuem para aumento da demanda ventilatória podendo precipitar a falência do DVMI, conforme segue: 16 O manuseio da dieta, uso criterioso de sedativos e o controle da dor e temperatura são, assim, instrumentos importantes para o sucesso do desmame. (...) Medidas para a diminuição do espaço morto (VD|VT), como o tratamento de obstruções brônquicas, edemas pulmonares, oclusões vasculares, hipotensões e a redução de circuitos externos do ventilador, devem sempre ser consideradas como fatores para se diminuir a demanda ventilatória. (...) O aumento do drive respiratório consequente à estímulos neurogênicos, psicogênicos ou metabólicos pode ser causa do aumento da demanda ventilatória, precipitando a falência ventilatória em paciente com reserva respiratória diminuída: lesões do sistema nervoso central, reflexos pulmonares exacerbados por edema pulmonar ou, ainda, doenças da caixa torácica podem mudar o ponto de equilíbrio do drive respiratório para o CO2, aumentando desnecessariamente a ventilação-minuto. (...). Enquanto os fatores já considerados aumentam as necessidades da ventilação-minuto, as condições mecânicas do sistema respiratório determinarão a quantidade de trabalho requerida por litro de ventilação. Cuidados especiais devem ser tomados, portanto, para se otimizar a complacência pulmonar por meio da prevenção de alveolar. (Pag. 517) Em relação à capacidade ventilatória, HOELZ; C et al 2010 diz que os principais determinantes de sua ineficiência são incapacidade do sistema musculoesquelético respiratório e do drive ventilatório em gerar pressões inspiratórias suficientes para atender a demanda ventilatória. Assim, os principais fatores ligados a diminuição da capacidade ventilatória são diminuição da força/endurance ou da eficiência/coordenação muscular, descritos a seguir: Entre as causas responsáveis pela diminuição da força/endurance, podemos citar: redução da massa muscular (por desnutrição ou atrofia de desuso, causada pela utilização prolongada de ventilação controlada), hipocontratilidade muscular devida a distúrbios metabólicos (hipofosfatemia, hipocalcemia, hipermagnesemia, hipercarbia grave), diminuição do fluxo sanguíneo diafragmático (situações de baixo debito ou choque séptico), problemas neuromusculares (utilização prolongada de agentes curarizantes ou a recentemente descrita polineuropatia do doente grave), fadiga muscular (causada por sobrecarga de trabalho muscular) e exaustão muscular (também ocasionada pela sobrecarga muscular excessiva). (...). Um outro fator importante a ser considerado, nesta situação, e o problema da eficiência neuromuscular, assim como problemas da coordenação muscular. Como se sabe, a eficiência da contração muscular para realização de uma determinada tarefa depende do comprimento inicial de suas miofibrilas, assim como do ponto de apoio muscular em que essa tensão exercida. A hiperinsuflação pulmonar, além de aumentar o trabalho mecânico respiratório mediante o aumento das pressões elásticas, pode também diminuir a eficiência da contração diafragmática por encurtamento excessivo de suas fibras e redução do raio de curvatura da cúpula frênica (diminuindo o momento de aplicação da tração diafragmática sobre a superfície pulmonar). É evidente que a utilização de técnicas ventilatórias que evitem a hiperinsuflação pulmonar deva ser priorizado nessas situações. (...) A ativação simultânea de grupos musculares com funções opostas é um fenômeno frequente, durante a respiração espontânea, que pode estar exacerbado durante o desmame, especialmente em condições de sobrecarga, extrema ansiedade, frequência respiratórias elevadas ou fadiga muscular. Evidentemente, essa descoordenação pode ocasionar grandes prejuízos ao processo de desmame, devendo ser identificada e corrigida por meio de programas de treinamento muscular, ou, ainda, do uso de técnicas ventilatórias que reproduzam um padrão mais fisiológico da ventilação. (Pag. 518-519) 17 Buscando a resolução dos casos de pacientes com desmame difícil e desmame prolongado, CARPENÈ; N et al 2010 relata sua experiência de 18 meses em Pisa, na Itália, com a criação de unidades de cuidados intermediários respiratórios (RICU) e centros de desmame (WC). Segundo a experiência do autor, as UTI não têm o foco, pessoal e organização necessários para cuidar de pacientes difíceis de desmamar. O autor propõe a criação de RICU para o atendimento de doentes com insuficiência respiratória aguda (IRA) e falha respiratória crônica agudizada (ACRF), evitando assim altas taxas de intubação e, com isso, elevados índices de pacientes em VMI e internação em UTI. Os WC, por sua vez, seriam unidades onde os pacientes com dificuldades para desmame seriam enviados para programas de reabilitação pulmonar com equipe multidisciplinar. Na casuística do autor, taxas globais de 79,6% dos pacientes difíceis de desmamar em UTI conseguiram libertar-se de ventilação artificial. Benefícios secundários foram redução de custos hospitalares, pressão por leitos em UTI e diminuição de morbimortalidade dos pacientes 18 5.3 PADRONIZAÇÃO DE CONDUTAS De acordo com CHEN; L et al. 2016 a gestão no uso da VMI atual é, em grande parte, protocolo dirigida para rastreio de pacientes elegíveis ao TRE. No entanto, nem sempre este foi o padrão. Por muitos anos, na verdade, existiam poucos dados que norteassem os profissionais de saúde sobre ventilação artificial, inclusive na sua interrupção. O julgamento clínico intuitivo era a base para tomada de decisões. Após estudo multicêntrico, prospectivo e randômico publicado em 1995, foram definidas as bases para elegibilidade ao TRE, sua aplicação e orientações quanto a melhor maneira para proceder a extubação desses doentes. Segundo PASTORE; L et al. 2006 “estudos recentes têm demonstrado a importância da padronização de condutas durante o desmame de ventilação mecânica”. De acordo com o autor, os dados disponíveis até o momento não são suficientes para criação de um protocolo. No entanto é necessário que cada instituição estabeleça diretrizes concisas e claras com bases nas evidencias atuais e em suas individualidades próprias. SANDRI; P 2014 afirma que o índice de sucesso do desmame é maior quando existe uma diretriz a ser seguido. Esta prática é benéfica ao paciente e pode reduzir significativamente sua duração em ventilação artificial. Conforme CIPRIANO; G et al 2011 a avaliação em busca de pacientes elegíveis para o TRE deve ser realizada diariamente por meio de check-list utilizado por toda a equipe multidisciplinar. Esta prática é de fundamental importância. Isso porque, segundo SANDRI; P 2014 “a equipe de saúde com frequência falha na identificação de pacientes que possam estar aptos à extubação e subestimam sua capacidade de respirar espontaneamente”. Segundo o autor, alguns estudos demonstram que pacientes extubados demaneira acidental ou autoextubados revelam que 23% dos pacientes em VMI controlada e 69% dos doentes em processo de desmame não necessitaram de reintubação. Além da busca diária por pacientes que se enquadrem nos critérios de elegibilidade para o TRE, existe um esforço por uma busca de fatores fisiológicos capazes de predizer com acurácia e reprodutibilidade o sucesso do DVMI. No entanto, segundo GOLDWASSER; R et al 2007 esta medida ainda não chegou a resultados satisfatórios. Conforme o mesmo autor, outra tendência atual são os protocolos computadorizados de desmame, presentes em alguns 19 ventiladores. Alguns ensaios demonstraram abreviação do tempo de VMI, mas estudos clínicos randomizados e novos ensaios clínicos são necessários para endossar esta prática. CHEN; L. et al 2016 destaca que ao longo do tempo, várias tentativas têm sido feitas para automatizar o processo de DVMI com algoritmos de controle. No entanto estas estratégias ainda não foram consistentes na redução da duração da VMI quando comparadas aos TRE diários. Exceções são feitas aos pacientes com dano agudo crítico como, por exemplo, pós- operatório. Sob estas circunstâncias, o desmame automatizado pode ser útil para estes pacientes. 20 5.4 CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE PARA TESTE DE RESPIRAÇÃO ESPONTÂNEA (TRE) Conforme HOELZ; C et al 2010 “a maioria dos pacientes submetidos ao suporte ventilatório mecânico pode ser fácil e rapidamente retirada do respirador assim que a condição crítica responsável pela ventilação artificial for tratada ou estabilizada”. PASTORE; L et al. 2006 reitera que o próximo passo após estabilização ou cura da condição que levou o paciente a necessitar de VMI seria a “avaliação clínica e cuidadosa e frequente para determinação exata do momento em que o paciente se encontra apto para iniciar a retirada do suporte ventilatório, e posteriormente, ser extubado”. Ainda segundo o autor, os critérios usados para definir se o paciente está suficientemente recuperado para tolerar a suspensão do suporte ventilatório ainda não estão claramente uniformes. Segundo o mesmo, são usadas combinações de critérios subjetivos e objetivos para avaliação dos sistemas respiratório, cardiovascular, neurológico, equilíbrio ácido-básico, da presença de distúrbios eletrolíticos, dentre outros fatores. Ressalta ainda que eventualmente alguns pacientes que não preenchem todos os critérios tem sucesso na extubação. KAPLAN; L.J. et al 2013 relata que apesar de alguns critérios caírem na rubrica do senso comum, outros são de suma importância para o sucesso do DVMI. Propõe uma compilação de fatores/condições para que os pacientes possam iniciar seu processo de desmame com segurança. Com essas informações reunidas pode-se avaliar o melhor momento para iniciar o processo de interrupção do suporte ventilatório. Segue abaixo tabelas com critérios propostos por CIPRIANO; G et al 2011 e GOLDWASSER; R et al 2007 para nortear a decisão de desmame por meio de fatores clínicos e laboratoriais. 21 Figura 1 -Critérios de Elegibilidade ao Teste de Respiração Espontânea (TRE) de acordo com o livro: Tratado de Medicina de Urgência e Emergência: Pronto Socorro e UTI, Vol.1, Cap.70, Pág. 793 22 Figura 2 - Critérios de Elegibilidade ao Teste de Respiração Espontânea (TRE) de acordo com: III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2007;33(Suplemento 2):S 128-S 136 23 5.5 TESTE DE RESPIRAÇÃO ESPONTÂNEA (TRE), MODALIDADES E CONDUTA NA FALHA OU SUCESSO DO TRE Conforme GOLDWASSER; R et al 2007 um TRE com duração entre trinta minutos à duas horas é útil para selecionar doentes prontos para extubação. SANDRI; P 2014 relata equivalência entre testes com 30 minutos e testes com 2 horas. KAPLAN; L.J 2013 refere que um TRE de 30 minutos é capaz de avaliar se o paciente pode gerir ou não seu próprio trabalho respiratório e assim libertar-se da VMI. Frisa ainda que estes testes não devem ser utilizados como recondicionamento dos músculos respiratórios. PASTORE; L et al. 2006 conta que TRE uma vez ao dia são tão efetivos quanto realização de vários testes ao longo do dia. Afirma, portanto, que está consolidado a estratégia de TRE uma vez ao dia, independentemente do modo escolhido para tal. Quanto aos modos para DVMI, o autor destaca que o desmame pode ser feito com Tubo ‘T’ ou com níveis baixos de pressão de suporte (5 a 8 cmH2O) com resultados semelhantes. Conforme SANDRI; P 2014 o desmame em Tubo ‘T’ sem redução gradual deve ser feito disponibilizando oxigênio suplementar com o cuidado de oferecer uma fração inspirada de oxigênio (FiO2) menor que 0,4 e manter uma saturação arterial de oxigênio (SaO2) maior que 90%. Se optar pelo desmame com redução gradual em Tubo ‘T’, o autor destaca que períodos de prova iniciais de 5 a 10 minutos são progressivamente elevados até que o doente suporte o tempo de 30 a 120 minutos que é compatível com um TRE. A modalidade em pressão de suporte ventilatório (PSV) sem redução gradual é realizada com o paciente ainda conectado ao ventilador e diminui-se a pressão de suporte para 5 a 7 centímetros de água (cmH2O), pressão essa suficiente para o doente vencer a resistência do circuito de ventilação, simulando assim uma ventilação espontânea. Já na modalidade PSV com redução gradual, as pressões de suporte deverão ser diminuídas de 2 a 4 cmH2O por duas a quatro vezes por dia, até atingir os valores de 5 a 7 cmH2O, compatíveis com o TRE. Destaca ainda que não existe superioridade entre o desmame em Tubo ‘T’ ou em PSV. PASTORE; L et al. 2006 afirma: “Não existem estudos mostrando que estratégias de redução gradual do suporte ventilatório sejam superiores ao uso de teste de ventilação espontânea diário e manutenção de suporte ventilatório estável entre os testes”. Destaca ainda que durante os TRE o paciente deve ser continuamente monitorizado a fim de identificar sinais precoces de intolerância ao teste. 24 ESKANDAR; N et al 2007 destaca que existe uma dificuldade em integrar índices fisiológicos ao DVMI e que esse ponto tem norteado as pesquisas atuais para encontrar índices que determinem a prontidão para início do desmame. No entanto, a maioria dos índices encontrados tem baixa sensibilidade e especificidade. Esses índices incluem Volume corrente, Volume-minuto, Capacidade vital, Ventilação voluntária máxima, frequência respiratória e outros. No entanto, CHEN; L et al 2016 relata que o índice de respiração rápida e superficial (IRRS) demonstrou ser o indicador mais preciso de falha do DVMI. Esse índice é expresso pela proporção entre frequência respiratória (FR) e o volume corrente (VT). Demonstrou-se que pacientes com índice menor que 105 ciclos/L/min tem taxas de sucesso com sensibilidade 95% e especificidade de 67%. Assim, o autor conclui que IRRS superiores à 105 ciclos/L/min são muito úteis na previsão de falha de DVMI. ESKANDAR; N et al 2007 adiciona ainda mais uma vantagem na realização do IRRS como preditor do desmame. Segundo ele este índice é fácil de medir, portanto tem boa reprodutibilidade, e não depende de esforço e cooperação do paciente. Para KAPLAN; L.J et al 2013 O IRRS é comumente medido no início e no final de um TRE, proporcionando assim uma análise do trabalho respiratório do paciente ao longo do TRE e pode, assim, servir para prever aqueles pacientes com maior tendência de falha no desmame. A seguir, está descrito a partir do texto de GOLDWASSER; R et al 2007 os parâmetros de falha do DVMI que devem ser analisados durante todo TRE e ainda, quais as condutas devem ser tomadas nos casos de falha e sucesso do desmame: A avalição contínua e próxima é fundamental para identificar precocementesinais de intolerância e mecanismos de falência respiratória. Caso os pacientes apresentem algum sinal de intolerância o teste será suspenso e haverá o retorno às condições ventilatórias prévias. Aqueles pacientes que não apresentarem sinais de intolerância deverão ser avaliados quanto à extubação e observados (monitorados) pelo período de 48 h, na UTI. Se, após 48h, permanecerem com autonomia ventilatória, o processo estará concluído, com sucesso. Se neste período necessitarem do retorno à ventilação mecânica, serão considerados insucesso. (pag. 130) 25 HOOPER; M.H et al 2009 reitera que uma forma de avaliar sucesso ou falha do DVMI durante o TRE seria observar os parâmetros de intolerância ao TRE durante o teste. Caso paciente venha a ter parâmetro desfavorável mantido por 5 ou mais minutos estaria definido como falha do DVMI. Figura 3 - Critérios de intolerância ao Teste de Respiração Espontânea (TRE) segundo III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2007;33(Suplemento 2):S 128-S 136 26 5.6 EXTUBAÇÃO E MEDIDAS A SEREM REALIZADAS De acordo com CIPRIANO; G et al 2011 a extubação consiste na retirada da via aérea artificial. Falência de extubação seria, portanto, a incapacidade do doente de manter ventilação espontânea após retirada da cânula orotraqueal e com isso ter necessidade de reintubação no prazo de 24 a 72 horas após extubação. Segundo PASTORE; L et al. 2006: “o risco de obstrução de vias áreas pós-extubação aumenta com a duração da ventilação mecânica em mulheres, em trauma e em pacientes que sofreram intubações repetidas ou traumáticas, mas é de difícil avaliação. ” Desta forma, GOLDWASSER; R et al 2007 não recomenda o uso de corticóide sistêmico profilático em todo paciente com possibilidade de extubação. No entanto, relata a maneira correta de avaliar a possibilidade de predizer obstrução pós-extubação, conforme segue a citação: A intubação traqueal pode causar inflamação e edema laríngeo, predispondo à obstrução da via aérea (manifesta clinicamente pelo estridor laríngeo), tão logo o tubo endotraqueal seja retirado. Essa é uma importante causa de fracasso na extubação. O teste de permeabilidade consiste em medir o volume corrente expiratório através do tubo traqueal com o balonete insuflado e a seguir desinsuflar o balonete e medir novamente o volume corrente expiratório se houver escape aéreo em torno do tubo traqueal (definindo a existência de espaço entre o tubo e a via aérea), o volume corrente expiratório será menor que o volume corrente inspiratório, sugerindo menor chance de edema laríngeo e estridor após extubação. Estudos mais antigos verificaram o escape aéreo de forma qualitativa. Mais recentemente, outros estudos quantificaram-no. Miller e colaboradores estudaram 100 intubações consecutivas e observaram estridor laríngeo em 80% dos pacientes em que a diferença entre o volume corrente inspiratório e o volume corrente expiratório (após média de três medidas) foi menor ou igual a 110 ml. Já, 98% daqueles em que o vazamento foi maior que 110 ml não apresentaram estridor. (Pag. 133) Existe um conjunto de medidas a serem tomadas após um sucesso no teste de respiração espontânea em pacientes que se deseja proceder a extubação. Assim, SANDRI; P 2014 elenca uma série de fatores, citados a seguir: (...). Se a equipe optar por extubação do paciente, algumas condutas devem ser seguidas: 1. Verificar a fração inspirada de oxigênio (FiO2) e montar dispositivo para oxigenioterapia pós-extubação, objetivando a oferta da mesma FiO2, pré extubação. (...) 2. Disponibilizar um conjunto para ventilação mecânica não invasiva, incluindo a interface (máscara facial ou facial total) em caso de eventual necessidade; 3. Orientar o paciente quanto à sequência de procedimentos que será realizada; 4. Realizar a higiene brônquica e aspiração de secreção de vias aéreas superiores e suprabalonete; 5. Posicionar o paciente adequadamente sentado no leito, com pelo menos 45 graus de elevação da cabeceira e joelhos levemente flexionados; 6. Desinsuflar o balonete; 7. Retirar fixação da cânula orotraqueal e tracioná-la durante a inspiração ativa do paciente; 8. Manter o paciente em jejum de quatro a seis horas após a extubação. (pag. 162) 27 Após proceder a extubação, o SANDRI; P 2014 recomenda observação contínua do doente por um período de 48 horas. Se mantiver autonomia ventilatória após esse período, podemos concluir que o desmame foi um sucesso. Se durante este período de 48 horas houver necessidade de retorno à ventilação mecânica, todo processo será considerado como falho. Sobre o uso de ventilação mecânica não-invasiva (VMNI), SANDRI; P 2014 reitera que a mesma pode ser usada como medida profilática pós-extubação para pacientes que tem risco aumentado de falência da extubação, mas que não apresentaram insuficiência respiratória aguda (IRA). Alerta ainda que não se recomenda utilizar VMNI como medida de resgate para pacientes que desenvolvem falência respiratória abrupta. Doentes com uso de VMNI nesta situação protelam reintubação e tem aumento de morbimortalidade. De acordo com o GOLDWASSER; R et al 2007 “deve-se estar atento à possível contribuição negativa dos trocadores de calor nos pacientes com falência de desmame”. Segundo o autor os umidificadores de calor estão substituindo os aquecedores dos ventiladores, isso porque o segundo esta comprovadamente ligado à aumento de volume minuto, frequência respiratória, pressão arterial de dióxido de carbono (PaCO2), trabalho da respiração, produto pressão x tempo, pressão esofágica e transdiafragmática, acidose respiratória, além de maior desconforto respiratório. Dessa forma, a questão deve ser levada em conta especialmente nos pacientes com desmame ventilatório difícil. O autor alerta ainda que dietas com teor elevado de gordura e reduzido de carboidratos parecem produzir efeitos favoráveis na produção de dióxido de carbono (CO2), o que pode facilitar o desmame de pacientes com reserva ventilatória limitada, inclusive em reduzir o tempo de desmame. O motivo da utilização deste tipo de dieta reside em um menor quociente respiratório de dióxido de carbono e assim melhora a troca gasosa e facilita o DVMI. No entanto, os estudos ainda não têm força para uma recomendação mais ampla. Por fim, afirma que: “a traqueostomia precoce (até 48 horas do início da ventilação mecânica) em pacientes com previsão de permanecer por mais de 14 dias em ventilação mecânica reduz mortalidade, pneumonia associada à ventilação mecânica, tempo de internação em UTI e tempo de ventilação mecânica”. 28 METODOLOGIA CIENTÍFICA O presente estudo adotou como procedimento para investigação a metodologia quantitativa, exploratória, descritivo-explicativo com delineamento do tipo levantamento. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário estruturado, contendo três (03) categorias de análise, assim denominadas: 1) Perfil e características dos respondentes; 2) Análise do conhecimento sobre DVMI e 3) dificuldades encontradas pelos sujeitos para realização do procedimento adequadamente. Os itens contemplados nas categorias 1 e 2 tem respostas pré-definidas, portanto exigem assinalamento de cada respectivo enunciado, caracterizando as questões como fechadas. A categoria 3 é composta por questão aberta, permitindo o sujeito exprimir suas opiniões. A categoria 2 contempla 14 questões fechadas estruturadas, na forma de questionário Likert, abordando conteúdos relacionados ao domínio de conhecimento específico necessário para o manejo adequado do DVMI. Cada questão da categoria 2 era composta de seu enunciado e quatro itens para julgamento. Cada item deveria ser julgado com uma numeração, as quais eram: 1 (discordo totalmente), 2 (discordo parcialmente),3 (não concordo nem discordo), 4 (concordo parcialmente) e 5 (concordo totalmente). Desta maneira, classificamos as respostas de cada item para as questões referentes a critérios para elegibilidade ao TRE de três formas, são elas: Domina Corretamente o Critério (DCC), Domina Parcialmente o Critério (DPC) e Não Domina o Critério (NDC). Já as respostas referentes ao TRE foram classificadas apenas como Domina Corretamente o Critério (DCC) e Não Domina o Critério (NDC). Esta postura foi tomada pelo pesquisador em virtude da ausência de parâmetros rígidos para os critérios de elegibilidade ao TRE de acordo com a literatura disponível. Já o TRE propriamente dito (tempos, modalidades, sucesso/falha) tem suas bases calcadas em critérios firmes e uníssonos nos textos científicos. Desta forma, o pesquisador adotou esta conduta para análise dos dados presentes no estudo. Os sujeitos do estudo em questão foram médicos plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima (HGR) no período de agosto a setembro 2016. Durante este período as unidades contavam com 46 médicos plantonistas, após análise das escalas com os respectivos coordenadores de cada setor. Foram excluídos do estudo três (3) coordenadores, sendo um de cada unidade em virtude da aplicação de pré-teste e conhecimento do respectivo instrumento de coleta de dados aplicado no estudo. Outro critério de exclusão adotado foi a não obtenção dos dados de plantonistas noturnos/ocasionais que, desta forma, não garantiriam a horizontalidade do acompanhamento dos pacientes destas unidades. Portanto, foram obtidos treze (13) questionários (28,26% do total) para este estudo. 29 Durante aplicação de pré-teste, nenhuma objeção as questões foram apresentadas. Todos os itens de resposta foram acatados pelos coordenadores das unidades sem mais sugestões de itens para inclusão no estudo. Após levantamento de dados pelo questionário estruturado, será usada a estatística descritiva com análise de frequência visando identificar o perfil dos médicos plantonistas das unidades de trauma e terapia intensiva do HGR, bem como averiguar quais os pontos onde esses sujeitos têm maior ou menor dificuldade sobre o tema. Os resultados obtidos mediante esse estudo serão apresentados à banca examinadora como pré-requisito para conclusão de curso de Bacharelado em Medicina da Universidade Federal de Roraima (UFRR) em 16/11/2016. 30 RESULTADOS 1) PERFIL E CARACTERÍSTICAS DOS RESPONDENTES 1.1) CARACTERÍSTICAS DOS RESPONDENTES Após análise dos dados coletados, evidenciou-se uma tendência de perfil e características comuns aos médicos plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do HGR. A grande maioria dos entrevistados são homens (84,61%), com idade entre 25-34 anos (76,69%), graduados em Instituição de Ensino Superior (IES) pública (84,61%), na Região Norte (92,3%). DESCRITORES N % MASCULINO 11 84,61 SEXO FEMININO 2 15,38 18-24 anos 0 0 25-34 anos 10 76,69 IDADE 35-44 anos 1 7,69 45-54 anos 2 15,38 55 ou mais anos 0 0 PÚBLICA 11 84,61 IES PRIVADA 2 15,38 NORTE 12 92,3 NORDESTE 0 0 REGIÃO IES SUDESTE 1 7,69 SUL 0 0 CENTRO-OESTE 0 0 Tabela 1 – Descritores dos sujeitos da pesquisa quanto perfil dos mesmos: sexo, faixa etária, caráter da Instituição de Ensino Superior (IES) durante a graduação e Região Brasileira na qual a IES está inserida 31 1.2) TEMPO DE EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL Após questionamento sobre tempo de atuação em medicina, identificou-se que grande parte dos médicos plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do HGR tem tempo de atuação (T/A) em medicina entre 4-8 anos (53,84%) e T/A em UTI e Unidades de Trauma entre 0-3 anos (53,84%). 1.3) CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL Indagou-se os respondentes acerca de suas capacitações profissionais. No que se refere a possuir Residência Médica, a maioria absoluta foi agrupada na Categoria “Outros” (61,53%) que englobam sujeitos que não tem Residência Médica ou que possuem outros títulos que não Residência Médica (Pós-graduação, etc.). No que tange Subespecialidade Médica, os maiores índices foram observados nos indivíduos que afirmaram não a ter (84,61%). Por fim, ao serem questionados sobre Capacitação em VMI, observou-se taxas elevadas entre os sujeitos que se capacitaram mediante realização de Cursos Extracurriculares (46,15%). DESCRITORES N % 0-3 anos 3 23,07 4-8 anos 7 53,84 T/A MEDICINA 9-13 anos 2 15,38 14-18 anos 0 0 Acima de 18 anos 1 7,69 0-3 anos 7 53,84 4-8 anos 5 38,46 T/A UTI-TRAUMA 9-13 anos 1 7,69 14-18 anos 0 0 Acima de 18 anos 0 0 Tabela 2 – Descritores dos sujeitos da pesquisa quanto a experiência profissional: Tempo de Atuação (T/A) em medicina e Tempo de Atuação (T/A) em Unidades de Trauma e Terapia Intensiva 32 2) ANÁLISE DO CONHECIMENTO SOBRE DVMI 2.1) CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE PARA TRE Depois de analisar o perfil dos respondentes, buscou-se verificar o conhecimento sobre DVMI dos sujeitos da pesquisa. Encontrou-se os resultados abaixo: DESCRITORES N % CLÍNICA MÉDICA 4 30,79 RESIDÊNCIA MÉDICA CLÍNICA CIRÚRGICA 1 7,69 OUTROS 8 61,53 SUBESPEC. MÉDICA SIM 2 15,38 NÃO 11 84,61 GRADUAÇÃO 1 7,69 CAPACITAÇÃO VMI RESIDÊNCIA MÉDICA 3 23,07 CURSOS EXTRACUR. 6 46,15 NÃO 3 23,07 DESCRITORES DCC DPC NDC N % N % N % TEMPO DE DVMI 2 15,38 0 0 11 84,61 CRITERIO P/ INICIAR DVMI 10 76,92 7 53,84 3 23,07 ESTAB. PULMONAR 7 53,84 4 30,76 6 46,15 ESTAB CARDIOVASC. 1 7,69 5 38,46 12 92,30 ESTAB NEUROLOGICA 11 84,61 6 46,15 2 15,68 ESTAB. METABOLICA 4 30,76 3 23,07 9 69,23 Tabela 3 – Descritores dos sujeitos da pesquisa quanto qualificação profissional: Residência Médica, Subespecialidade Médica e Capacitação em Ventilação Mecânica Invasiva Tabela 4 – Descritores e desempenho quanto aos Critérios de Elegibilidade para o Teste de Respiração Espontânea (TRE) 33 No que se refere ao conceito do DVMI, GOLDWASSER; R et al 2007 relata que o desmame é, por definição, o processo de transição da VMI para ventilação espontânea em pacientes que necessitaram de ventilação artificial por período superior há 24 horas. Este critério de temporalidade é de suma importância, isso porque, segundo PASTORE; L et al 2006 o prolongamento da VMI desnecessariamente acarreta em maiores chances de pneumonia associada a ventilação mecânica, lesão pulmonar induzida pela ventilação, trauma de pequenas vias aéreas, uso excessivo de sedativos e complicações hemodinâmicas. A descontinuação precoce da ventilação artificial, por sua vez, também traz danos aos pacientes, tais como: fadiga muscular, falência na manutenção de trocas gasosas, perda da proteção de via aérea e aumento do risco de reintubação. Sobre o principal critério utilizado para início do processo de DVMI, HOELZ; C et al 2010 afirma que a maioria dos pacientes submetidos ao suporte ventilatório mecânico pode ser retirado com certa facilidade e rapidez do respirador assim que a condição crítica responsável pela ventilação artificial for tratada ou estabilizada. A partir do item descrito acima, o próximo passo seria garantir a estabilidade dos sistemas orgânicos do paciente. Sendo assim, questionou-se os respondentes acerca de critérios para estabilidade pulmonar, cardiovascular, neurológica e metabólica. Desta forma, de acordo com PASTORE; L et al. 2006 os critérios usados para definir se o paciente está suficientemente recuperado para tolerar a suspensão do suporte ventilatório ainda não estão claramente uniformes. Segundo o mesmo, são usadas combinações de critérios subjetivos e objetivos para avaliação dos sistemas respiratório, cardiovascular, neurológico, equilíbrio ácido-básico, da presença dedistúrbios eletrolíticos, dentre outros fatores. Ressalta ainda que eventualmente alguns pacientes que não preenchem todos os critérios tem sucesso na extubação. Na visão de SANDRI; P 2014 os critérios de elegibilidade para iniciar o desmame devem ser avaliados sistematicamente todos os dias, a fim de minimizar o processo e o tempo de VMI. KAPLAN; L.J. et al 2013 relata que apesar de alguns critérios caírem na rubrica do senso comum, outros são de suma importância para o sucesso do DVMI. Propõe uma compilação de fatores/condições para que os pacientes possam iniciar seu processo de desmame com segurança. Com essas informações reunidas pode-se avaliar o melhor momento para iniciar o processo de desmame. 34 Para analise destes critérios, utilizamos os sugeridos por CIPRIANO; G et al 2011 contidos na página 21 do presente trabalho e no livro: Tratado de Medicina de Urgência e Emergência: Pronto Socorro e UTI, Vol.1, Cap.70, Pág. 793. 2.2) TESTE DE RESPIRAÇÃO ESPONTÂNEA (TRE) Após verificação do tempo de DVMI, critério para início do desmame e estabilidade dos sistemas orgânicos, o passo seguinte consistiu na avalição do domínio do TRE. Assim, posteriormente a análise dos dados, encontrou-se os seguintes índices: No que se refere a duração do TRE e ancorados nos preceitos de GOLDWASSER; R et al 2007 afirma-se que um TRE com duração entre trinta minutos e duas horas é útil para selecionar doentes prontos para extubação. PASTORE; L et al. 2006 relata que TRE uma vez ao dia é tão efetivo quanto realizar vários testes ao longo do dia. Afirma, portanto, que está consolidado a estratégia de TRE uma vez ao dia, independentemente do modo escolhido para tal. Por fim, ainda sobre intervalo de duração do TRE, SANDRI; P 2014 relata equivalência entre testes com 30 minutos e testes com 2 horas. DESCRITORES DCC NDC N % N % DURAÇÃO DE TRE 1 7,69 12 92,30 EQUIVALÊNCIA ENTRE TEMPOS DE TRE 3 23,07 10 76,92 MODOS DE TRE 5 38,46 8 61,53 PARÂMETROS DE FALHA DO TRE 9 69,23 4 30,76 CONDUTA NO SUCESSO/FALHA DO TRE 7 53,84 6 46,15 MEDIDAS APÓS SUCESSO DE TRE 11 84,61 2 15,38 USO DA VMNI NO DVMI 2 15,38 11 84,61 TEMPO DE INTERNAÇÃO PÓS DVMI 9 69,23 4 30,76 Tabela 5 – Descritores e desempenho quanto ao Teste de Respiração Espontânea (TRE) 35 Sobre as modalidades adequadas para o TRE. PASTORE; L et al. 2006 refere que o desmame pode ser feito com Tubo T ou com níveis baixos de pressão de suporte (5 a 8 cmH2O) com resultados semelhantes. Utilizou-se como referência os parâmetros de falha de TRE indicados por GOLDWASSER; R et al 2007 contidos na página 25 deste estudo e também no III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2007;33(Suplemento 2), pág. 128-136. HOOPER; M.H et al 2009 reitera que uma forma de avaliar sucesso ou falha do DVMI durante o TRE seria observar os parâmetros de falha do TRE durante aplicação do teste. Caso paciente venha a ter parâmetro desfavorável mantido por 5 ou mais minutos estaria definido como falha de desmame. No que se refere as condutas a serem tomadas nos casos de sucesso e de falha no TRE, GOLDWASSER; R et al 2007 relata que caso os pacientes apresentem algum sinal de intolerância durante o TRE, o mesmo deverá ser suspenso e o paciente retornará as condições ventilatórias prévias. Caso não apresente intolerância, esses indivíduos deverão ser avaliados para extubação e continuarão em observação por período de 48 horas. Se após este período permanecerem com autonomia ventilatória, o processo estará concluído com sucesso. Se neste intervalo houver necessidade de retorno a VMI o processo será considerado como falho. Quanto as medidas adotadas para proceder extubação, SANDRI; P 2014 elenca uma série de fatores, citados a seguir: “1. Verificar a fração inspirada de oxigênio (FiO2) e montar dispositivo para oxigenioterapia pós-extubação, objetivando a oferta da mesma FiO2, pré-extubação. (...) 2. Disponibilizar um conjunto para ventilação mecânica não invasiva, incluindo a interface (máscara facial ou facial total) em caso de eventual necessidade; 3. Orientar o paciente quanto à sequência de procedimentos que será realizada; 4. Realizar a higiene brônquica e aspiração de secreção de vias aéreas superiores e suprabalonete; 5. Posicionar o paciente adequadamente sentado no leito, com pelo menos 45 graus de elevação da cabeceira e joelhos levemente flexionados; 6. Desinsuflar o balonete; 7. Retirar a fixação da cânula orotraqueal e traciona-la durante a inspiração ativa do paciente; 8. Manter o paciente em jejum de quatro a seis horas após a extubação. (pag. 162)” Sobre o uso de ventilação mecânica não-invasiva (VMNI) no desmame, SANDRI; P 2014 reitera que a mesma pode ser usada como medida profilática pós-extubação para pacientes que tem risco aumentado de falência da extubação, mas que não apresentaram insuficiência respiratória aguda (IRA). Alerta ainda que não se recomenda utilizar VMNI como medida de resgate para pacientes que desenvolvem falência respiratória aguda. Doentes com uso de VMNI nesta situação protelam reintubação e tem aumento de morbidade. 36 Por fim, sobre o tempo de observação hospitalar pós-extubação para pacientes com sucesso de DVMI, SANDRI; P 2014 recomenda observação continua do doente por um período de 48 horas. Se mantiver autonomia ventilatória após esse período, podemos concluir que o desmame foi um sucesso. Se durante este período de 48 horas houver necessidade de retorno a VMI, todo processo será considerado como falho. 37 3) QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES ENCONTRADAS POR PROFISSIONAIS MÉDICOS PARA REALIZAÇÃO DE DESMAME DE VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA (DVMI) DE MANEIRA ADEQUADA? Observou-se, por ordem de frequência, as seguintes queixas dos sujeitos da pesquisa ao serem indagados com o enunciado acima em questão única e aberta: DESCRITORES N % AUSÊNCIA DE CAPACITAÇÃO 9 69,23 DEFICIT EQUIPAMENTOS 9 69,23 FALTA DE TREINAMENTO EM EQUIPE 5 38,46 AUSÊNCIA DE PROTOCOLO NA INSTITUIÇÃO 4 30,76 INEXISTÊNCIA DE UNIDADE SEMI- INTENSIVA 1 7,69 Tabela 6 – Descritores quanto as principais dificuldades encontradas por Médicos Plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima (HGR) para realização de Desmame de Ventilação Mecânica Invasiva (DVMI) de maneira adequada 38 PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO 1) PROPOSIÇÃO DE FLUXOGRAMA/ORGANOGRAMA PARA AS UNIDADES DE TRAUMA E TERAPIA INTENSIVA DO HGR. De acordo com JAKOB; S.M. et al 2007, a implementação de protocolos para DVMI e sedação, designação de pessoas para gerenciar e conduzir tais protocolos gerou melhores resultados, tais como redução da duração da VMI e tempo de estadia em UTI, assim como diminuição nas taxas de mortalidade e economia substancial no que se refere aos custos em saúde. No entanto, a implementação de protocolos individualmente só pode demonstrar uma vantagem quando outros processos importantes também são padronizados e implementados. Desta forma a implementação de protocolos juntamente com ações concomitantes, principalmente estruturais e organizacionais, pode impactar de forma favorável na evolução clínica de doentes. A principal conclusão do autor foi uma redução da mortalidade de 50% dentro de 27 meses consecutivos, o que não foi explicado por uma mudança significativa no perfil dos pacientes, mas foi acompanhado por um menor tempo de estadia hospitalar dos doentes e uma redução na utilização dos recursos. Isto sugere que mudanças nas estratégias globais de gestão, incluindo a introdução de protocolos de tratamento, foi benéfico, mesmo quando não está relacionado com um ensaio clínico previamente realizado na instituição.Desta forma, pretende-se sugerir a implantação de um fluxograma/organograma com vistas a incorporação na prática clínica diária de Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima (HGR) contribuindo, assim, para diminuição das taxas de morbimortalidade dos doentes em VMI, bem como reduzir os custos substancialmente desta instituição de saúde. 39 DESMAME DE VENTILAÇÃO MECANICA INVASIVA Corresponde à transição de ventilação mecânica invasiva para ventilação espontânea por tempo superior a 24hs. Falha de desmame = paciente com retorno a VMI antes de 48hs após o desmame Sucesso de desmame = paciente sem retorno a VMI antes de 48hs após o desmame CRITERIOS DE ELEGIBILIDADE PARA TRE TESTE DE RESPIRAÇÃO ESPONTANEA (TRE) Subjetivo: - reversão ou controle da causa de falência respiratória - equipe médica confia no sucesso do desmame - reflexo de tosse presente Objetivo: -Estabilidade pulmonar: Pa02> 60 mmHg com FiO2 < 0,4, PEEP 5-10 cmH2O, PaO2/FiO2 = 150-300 -Estabilidade cardiovascular: FC <140bpm, PAS <180 e >90, ausência de arritmia ou insuficiência coronariana grave, independência ou baixas doses de vasopressores são toleráveis -Estabilidade neurológica: Glasgow >13, reflexo de tosse presente, Suspensão de drogas sedativas ou bloqueadores neuromusculares -Estabilidade metabólica: ausência de distúrbio ácido-base ou hidroeletrolítico, Hb 8-10 g/dL, ausência de sobrecarga hídrica -outros: afebril, sem perspectiva de intervenção cirúrgica próxima Teste realizado com FiO2 <0,4 e intervalo de tempo entre 30 minutos à 120 minutos TUBO T : tempo de 30-120 minutos com FiO2 <0,4 PSV : 5-8 cm H2O, tempo de 30-120 minutos com FiO2 < 0,4 PARÂMETROS DE FALHA DO TRE - FC>140 bpm ou PAS>180 ou <90 - FR >35 irpm ou SaO2 <90 - agitação, sudorese, alteração do nível de consciência OBS: Observar parâmetros no casso de falha por 5 minutos - Sucesso de Desmame - separar material para oxigênio terapia e VNI, cabeceira elevada a 30 graus, realizar aspiração de vias aéreas suprabalonete, desinsuflar o balonete, retirar as fixações da canular e proceder extubação na inspiração ativa do paciente OBS: paciente deverá permanecer internado em UTI por tempo superior ou igual a 48 hs para inferir o sucesso do desmame Falha de Desmame - retornar paciente para condições pré-desmame com modo ventilatório que ofereça conforto. Neste período deverão ser revistas todas as etapas do desmame e caso o paciente permaneça elegível, novo TRE deverá ser tentado após 24hs Figura 4 – Fluxograma/Organograma proposto para as Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima (HGR) 40 2) SUGESTÃO DE CRIAÇÃO DAS UNIDADES CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS RESPIRATÓRIOS (RICU) E CENTROS DE DESMAME (WC) CARPENE; N. et al (2010) relatam, em seu artigo publicado na Respiratory Medicine (2010) 104, pag. 1505-1511, a experiência em 18 meses de um hospital italiano com a criação de unidades cuidados intermediários respiratórios (RICU) e centro de desmame (WC) para pacientes com desmame difícil. Esta estratégia, segundo o autor, diminui a pressão por leitos de UTI e tem menor custo para instituições de saúde. O autor sugere que as UTI têm altos custos, não possuem foco, pessoal e organização necessários para cuidar de pacientes com desmame difícil. Desta maneira, implantou em um Hospital de Pisa, na Itália, uma RICU localizada dentro de uma enfermaria pulmonar com 28 leitos, a qual fazia parte de um Departamento de Cardiologia e Cirurgia Torácica. A RICU, portanto, tinha incumbência primordial no tratamento de doentes com insuficiência respiratória aguda (IRA) ou doentes com falha respiratória crônica agudizada (ACRF) admitidos no Hospital para tratamento destas condições. O autor relata que a grande maioria destes pacientes pode ser tratado com ventilação mecânica não-invasiva (VMNI), com apenas uma minoria necessitando de internação em UTI e VMI. Estruturalmente, a RICU deste hospital dispõe de quatro leitos, com relação médico- enfermeiro-terapeuta respiratório por paciente de 1:4. Seu custo de estadia diária estimada é de 900 V em comparação com um custo de estadia diária UTI de 1500 V, o que representa uma economia de 600V ou 40% em se tratando de custos-dia por paciente. Já o WC possui 6 leitos e está localizado dentro de um Hospital de Reabilitação Pulmonar com 14 unidades de reabilitação, em Volterra, a 60 quilômetros de Pisa, que é um centro de referência em cuidados crônicos para uma grande área geográfica no centro da Itália (Toscana). Dentro desta unidade de reabilitação, dispõem-se de equipe multidisciplinar (enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, fonoaudiólogos etc.), que oferecem tratamento de reabilitação e servem, muitas vezes, como ponte para programas de home-care, dentre outros. Recebem pacientes transferidos de várias UTI com dificuldade de DVMI. Possui relação de médico-enfermeiro-terapeuta respiratório por paciente de 1:6. O custo diário estimado de WC estadia é de 470 V. Isso representa uma economia de 1030V ou 68,7% custo-dia em relação as UTI. A Taxa global de sucesso no desmame da RICU e WC foi de 79,6%, com um total de 16,3% em hospitalar mortalidade (8 dos 49 pacientes). Dois dos 41 pacientes (4,8%) morreram dentro 41 de três meses desde a alta. Ou seja, praticamente todos os pacientes que não obtiveram sucesso no DVMI vieram a óbito durante a internação ou em três meses após a alta. Os resultados preliminares deste relatório sugerem que a criação das RICU e WC representam economias substanciais em comparação com UTI, obtendo ainda um aumento na taxa de sucesso de desmame difícil. Confirmamos assim, que RICU e WC podem ser alternativas rentáveis para UTI na gestão de pacientes com desmame difícil. PRONTO ATENDIMENTO RICU TRAUMA UTI WC - Tratar IRA/ACRF - Custo-dia: 900V - Economia de 600V ou 40% em relação a UTI - Custo-dia: 1500 V - tratar desmame difícil/prolongado -custo-dia: 470V - Economia de 1030V ou 68,7% em relação a UTI Figura 5 – Identificação das relações, custos e atribuições das Unidades de Cuidados Intermediários Respiratórios (RICU) e Centros de Desmame (WC) na dinâmica das instituições de saúde 42 CONCLUSÃO Com base no exposto, conclui-se que a ventilação mecânica invasiva (VMI) é um fator primordial no tratamento de pacientes com insuficiência respiratória. No entanto, a retirada do suporte ventilatório é uma meta eminente, assim que o doente tenha condições de fazê-la. Precocidade na descontinuação da VMI, bem como prolongamento desnecessário da mesma acarretam aumento substancial de morbimortalidade para pacientes e elevam os custos para instituições de saúde. Desta maneira, o desmame de ventilação mecânica invasiva (DVMI) surge como tema de domínio imprescindível para o tratamento pleno de todo paciente com insuficiência respiratória e necessidade de ventilação mecânica invasiva. Suas bases atuais apontam que os esforços para buscar critérios de elegibilidade para teste de respiração espontânea (TRE), bem como sua aplicação, modalidades e condutas posteriores são relativamente recentes, datando de 1995. Anterior a esta data, tinha-se apenas o julgamento clínico intuitivo como base para tomada de decisões. Essa talvez seja a razão pela qual muitas instituições de saúde ainda não adotam estratégias firmes para o DVMI. Alguns trabalhos relatam que até 40% das instituições de saúde ainda não tem na estratégia protocolizada sua principal arma para o tratamento desses doentes. Assim, este campo do saber na medicina vem sendo alvo de diversos estudos parasistematizar a melhor abordagem nos casos de DVMI. O ponto chave abordado na construção deste trabalho é a necessidade de diretrizes claras e concisas elaboradas por cada instituição de saúde de acordo com suas peculiaridades, visando identificar diariamente doentes com capacidade de iniciar o processo de desmame e, com isso, diminuir seu tempo de estadia em Unidades de Trauma e UTI, bem como tempo de dependência do ventilador mecânico. Apesar de pequenas divergências/abordagens de autores sobre alguns critérios, sobretudo no que se refere aos critérios de elegibilidade para o desmame, buscou-se utilizar durante o desenvolvimento deste estudo o que parecia mais uníssono de acordo com a literatura disponível. No que versa sobre TRE, encontrou-se uniformidade maciça quanto seu tempo de duração, modalidades, critérios de sucesso e falha e condutas em ambos os casos. Conforme a proposta do trabalho, procurou-se analisar o conhecimento de médicos plantonistas das Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do Hospital Geral de Roraima (HGR) no ano de 2016 sobre o DVMI. Para tanto, foi aplicado questionário estruturado com intuito de verificar o perfil dos médicos dessas unidades, analisar o conhecimento sobre o tema 43 propriamente dito e, por fim, obter quais os pontos que, em sua opinião, dificultam a realização do DVMI adequadamente. Encontrou-se os seguintes resultados: 1- À época do estudo, evidenciou-se o seguinte perfil de médicos plantonistas nas Unidades de Trauma e Terapia Intensiva do HGR: maioria absoluta de homens (84,61%), com faixa etária entre 25-34 anos (76,92%), tempo de atuação em medicina entre 4-8 anos (53,84%), e tempo de atuação em unidades de trauma e terapia intensiva entre 0-3 anos (53,84%). No que se refere ao caráter da Instituição de Ensino Superior (IES) durante a graduação, 84,61% concluíram seu ensino superior em IES pública, com concentração maciça na região Norte (92,30%). Grande parte não possuía Residência Médica (61,53%) ou Subespecialidade Médica (84,61%). Quanto a capacitação em VMI, a maioria (46,15%) adquiriu em cursos extracurriculares, enquanto que 7,69% o fizeram durante a graduação e partes iguais (23,07%) obtiveram durante a Residência Médica ou não obtiveram nenhuma capacitação acerca do tema. 2- Sobre o DVMI propriamente dito, observou-se taxa global de “Domina Corretamente Critério (DCC)” em 45,05% das questões, enquanto que “Não Domina Critério (NDC)” foi verificado em 54,95%. Após análise dos dados, identificou-se que os sujeitos da pesquisa possuem clareza quanto ao principal critério utilizado para iniciar o desmame (DCC 76,92%) e estabilidade neurológica (DCC 84,61%). As outras estabilidades de sistemas orgânicos, como cardiovascular e metabólica, tiveram pior desempenho, com DCC respetivamente de 07,69% e 30,76%. Desta forma, pode-se inferir que o maior conhecimento sobre estabilidade cardiovascular e metabólica poderia auxiliar na escolha do momento mais adequado para iniciar o desmame de ventilação invasiva, mesmo que alguns trabalhos apontem que muitos pacientes são desmamados com sucesso mesmo sem preencher todos os critérios para iniciar o desmame. Sendo assim, nessas condições, o DVMI deve ser discutido com seus pares e somente iniciado quando a equipe médica realmente confiar na possibilidade de sucesso deste procedimento. Já no que se refere ao TRE, encontrou-se piores desempenhos no tocante a escolha do tempo adequado (DCC 07,69%) e modalidade de escolha para TRE (DCC 38,46%). Melhores performances foram adquiridas quando questionados sobre parâmetros de sucesso e falha no TRE (DCC 69,23%) e medidas complementares para extubação (DCC 84,61%). Julgamos que a falta de domínio para assegurar um TRE calcado em princípios rígidos pode ser o fator mais danoso para o aumento de taxas de falha no DVMI e, 44 com isso, elevar a morbimortalidade dos pacientes, trabalho da equipe de cuidados e gastos das instituições de saúde. Desta forma, pretendemos, com nossas propostas de intervenção, garantir melhoria na prestação de serviço aos pacientes e aos serviços de saúde. 3- Questionou-se ainda, por fim, quais as principais dificuldades encontradas pelos respondentes para realização do DVMI de maneira adequada. Encontrou-se, curiosamente, todas as propostas de intervenção nas barreiras descritas pelos sujeitos da pesquisa. Foram relatadas ausência de capacitação e equipamentos como as principais dificuldades (69,23%), seguidas por ausência de treinamento em equipe (38,46%), falta de protocolos na instituição (30,76%) e taxa de (07,69%) para inexistência de unidade semi-intensiva. Como propostas de intervenção para melhoria do cenário atual, sugeriu-se duas (2) medidas que, aos olhos do pesquisador, influenciariam positivamente tanto para pacientes quanto para instituições de saúde. São elas: 1- Criação de fluxograma/organograma sobre DVMI para as Unidades de Trauma Terapia Intensiva do HGR: baseado nos preceitos e trabalhos usados para construção deste estudo, pretende-se sugerir a criação de fluxograma/organograma com vistas a sistematização do processo de DVMI e busca diária de paciente elegíveis para tal. Acredita-se que esta intervenção é a base para melhorar a prestação de serviços aos pacientes e serviços de saúde. O fluxograma/organograma sugerido está contido na página 39 deste trabalho. 2- Sugestão de criação de unidades de cuidado intermediários respiratórios (RICU) e centros de desmame (WC): a criação de RICU e WC em instituições de saúde pode mudar a realidade atual dos custos para as mesmas e melhorar as taxas de sucesso no desmame de pacientes, sobretudo os pacientes em desmame prolongado (pacientes com mais de 3 TRE falhos ou mais de 7 dias do primeiro TRE). Sobre a RICU, sua proposta é de interface entre serviço de pronto atendimento e Unidades de Trauma e Terapia Intensiva. Propõe-se a cuidar de doentes com insuficiência respiratória aguda ou falha respiratória crônica agudizada (ACRF), diminuindo assim a taxa de intubação nesses casos, lançando mão de outras estratégias, como, por exemplo, ventilação mecânica não-invasiva (VMNI). Trabalhos relatam economia para serviços de saúde da ordem de 40% do custo/dia por paciente com essa estratégia, se comparados com os custos das UTI´s Geral. Já WC, por sua vez, tem intuito de tratar pacientes em desmame prolongado. Nestas unidades, tem-se 45 início de programas de reabilitação pulmonar com equipe multidisciplinar, bem como outros serviços, a citar a ponte para home-care, dentre outros. Economias da ordem de 68,70% do custo/dia por paciente, se comparados com UTI, foram verificados. Taxa global de sucesso no desmame com as duas estratégias (RICU e WC) foram de 79,60%, indicando um ótimo caminho a ser trilhado nesse sentido. Pretendeu-se com este trabalho dar uma singela contribuição com as melhores intenções possíveis visando aumentar as taxas de sucesso com o desmame de ventilação mecânica invasiva e diminuir os custos das instituições de saúde com os pacientes nestas condições. 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. HOELZ; C et al 2010. 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