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LINGUAGEM EM FOTOGRAFIA PUBLICITÁRIA PARTE I Conteudista Prof. Me. João De Assis Soares Disputar a preferência do consumidor potencial. Eis a varinha de condão que empresta toda a magia à arte comercial como um todo, e à fotografia de publicidade em particular. No início do século, mais precisamente nos anos 20, a simples exibição de um novo produto (ou de uma nova maquinaria industrial) já era suficiente para motivar o interesse de um mercado ávido de novidades. Na fotografia do inesquecível Ford "bigode", ou na de um relógio Roscoff, ou ainda nas dos perfumes e remédios produzidos por "refinadas" drogarias, já estavam embutidos o apelo de compra e o charme necessário para atrair a atenção. A novidade continha naquela época uma eloquência irresistível. Mas a modernidade avançava cada vez mais rápido e no mesmo ritmo em que crescia a capacidade de consumo nas classes médias dos países industrializados. A simples amostragem objetiva dos produtos já não bastaria para chamar a atenção do público. Seria preciso, urgentemente, cativar o olho inquieto da massa de consumidores, que teima em correr airada de produto em produto, de mercadoria em mercadoria. No período entre as duas Grandes Guerras, despontam no mercado norte-americano as grandes agências de publicidade, fenômeno que iria se repetir nos países em que a industrialização toma a dianteira no processo de desenvolvimento econômico. Caberia a esses novos personagens das agências, particularmente aos redatores e diretores de arte, criar situações novas, "bolando" contextos inéditos para inserir os produtos, nos quais um automóvel, uma lata de óleo de cozinha, uma marca de cigarros, um refrigerante, fosse o que fosse, pudesse ganhar uma roupagem nova. E acima de tudo, a preferência do consumidor. O texto, base explicativa de qualquer anúncio, deixaria de ser uma simples legenda, identificando o produto e sua função: agora deveria conter apelos intrigantes e promessas até fantasiosas. A fotografia também haveria de acompanhar essa tendência necessária e irreversível em direção à imaginação do leitor. O visual do anúncio passaria a incorporar elementos até então 3 estranhos ao produto ou ao serviço anunciado. Esses elementos, associados de maneira funcional pelos criadores de uma campanha de anúncios impressos, deveriam imobilizar por alguns instantes o olho infiel e frívolo do consumidor. A publicidade vista como um instrumento, um dos meios para realizar, para tornar vitorioso o plano de vendas. Com essa função são necessários certos pré-requisitos, que, supostamente, estão no plano de vendas. Mas o universo da mercadoria, segundo Jean Baudrillard, já não é este: é um mundo saturado e em involução. De repente, perdeu o seu imaginário triunfal e, do estádio do espelho, passou de alguma maneira ao trabalho de luto. (1981, p. 120). Essa atitude de defender a existência de supostos procedimentos de criação que não devem, sob pretexto algum, ser desrespeitados – se o que deseja é a eficácia e eficiência no resultado final da atividade criativa. Isso mantém e reforça o que Luiz Celso de Piratininga denominou de: “regras criativas”, que devem ser seguidas bem de perto para não se correr o risco de erro na tarefa de produzir mensagens publicitárias eficientes e eficazes (1994, p. 33). Ele critica, dizendo que no desejo de receber “lições claras de como criar anúncios eficazes”, alunos de publicidade e publicitários fecham seu espírito para vôos mais arrojados (e, portanto, arriscados), tentando se agarrar aos manuais e às regras consagradas. Nesse sentido, a fotografia, já na década de 40, começa a abandonar seu compromisso com a realidade. Ou seja, ela deixa de ser simplesmente objetiva. Não basta mostrar. É preciso evocar. Assim, ao criar a ideia de um anúncio, redator e diretor de arte concebem as associações mais convenientes para evocar no leitor sensações favoráveis aos produtos. Algumas associações são as mais simples possíveis, de leitura direta, não exigindo nenhum esforço. Outras buscam simbologias mais sofisticadas e se dirigem muitas vezes para uma elite de consumidores. 4 Sem subestimar suas vantagens financeiras, existe uma crença de que os trabalhos sob encomenda comprometem a criatividade do fotógrafo, muitos dos mais cultuados fotógrafos da história da arte, como Edward Steichen (1879-1973) e Edward Weston (1886-1958), fizeram trabalhos publicitários. Em 1946, Weston trabalhou pela primeira vez em cores em uma série para a Kodak. Os 250 dólares que ganhou por imagem são considerados seu cachê mais alto. Ao entrar para a Vanity Fair como seu principal fotógrafo, em 1923, Steichen foi criticado, em especial por Alfred Stieglitz (1864-1946). Sessenta anos depois, a fotógrafa americana Annie Leibovitz (1949) foi criticada deforma parecida por ter "se vendido" ao aceitar o mesmo cargo na versão repaginada da Vanity Fair. Os anos 1980 testemunharam uma diluição cada vez maior das fronteiras entre foto publicitária - em especial no caso da moda - e artes visuais. Essa hibridização foi dominante no trabalho do fotógrafo de moda francês Guy Bourdin (1928-1991). As fotos revolucionárias que ele fez em 1967 para a marca de sapatos de luxo Charles Jourdan marcaram o nascimento de uma nova era na qual o fotógrafo produzia imagens publicitárias a serem publicadas nas páginas das revistas, mas que privilegiavam a inovação estética em vez do produto. A estética vanguardista de Bourdin pode ser constatada em suas imagens para o calendário da Pentax em 1980. Retirada do calendário, a fotografia de uma modelo nua deitada em um chão branco, com tinta vermelha a escorrer da boca, é ao mesmo tempo erótica, perturbadora e surrealista, e exemplifica bem a sensibilidade estética bem-humorada e poderosa de Bourdin. Assim como Bourdin, David La Chapelle (1963) muitas vezes combina o surrealismo com o erotismo. Entre outras campanhas notáveis estão as de Cédric Buchet (1974) para a Prada, em 2001, e de Juergen Teller (1964) para Marc Jacobs, em 2008. Numa divertida imagem feita por Teller para esta campanha, as pernas de Victoria Beckham, usando sapatos de Marc Jacobs, podem ser vistas emergindo de uma sacola de compras. 5 Nos Estados Unidos, Irving Penn (1917-2009) e Bruce Weber (1946) fizeram parte dessa vanguarda da fotografia publicitária. As campanhas de Penn para a L'Oréal trouxeram para o universo dos cosméticos seu típico estilo minimalista. Já Weber tem uma estética bem distinta. Bruce Weber faz uma série de anúncios em preto e branco, em 1991, de homens usando roupa de baixo para a Calvin Klein, criando uma identidade publicitária duradoura para a marca. Em 1982, seu outdoor de Tom Hintnaus usando apenas uma cueca da Calvin Klein, com o corpo bronzeado e musculoso recostado em uma coluna branca na ilha grega de Santorini, serviu de catalisador para a posterior erotização do corpo masculino na publicidade. Sarah Moon fotografa, em 1977, a campanha publicitária da Cacharel para o perfume Anaïs Anaís, dando origem a um estilo vintage que se tornou um ícone. As fotografias de Sarah Moon (1940) para a L'Oréal destacam-se por sua estética mais retrô do que contemporânea. Muitas vezes em tom sépia, as imagens impressionistas de Moon retratam um mundo granuloso, infantil e fantástico, atravessando as fronteiras estéticas entre publicidade e prática das artes visuais. Annie Leibovitz deixa a Rolling Stones, em 1983, onde desenvolveu a sua imagem de marca, que envolveu o uso de cores primárias fortes e surpreendentes, e entra para a Vaníty Fair. Fotografa uma ampla gama de assuntos, que variou de presidentes, ícones literários até galãs e adolescentes. Um grande número de capas da revista Vanity Fair têm o deslumbrante de Leibovitz - e muitas vezes controverso. Juergen Teller, em 1986, fazsuas primeiras fotos para a revista jovem i-D, e atrai atenção por sua estética granulada e realista. Herb Ritts (1952-2002) começou sua carreira fotográfica no final da década de 70. Fotografa a campanha "Escapar", em 1991, da Calvin Klein. Além de produzir retratos e moda editorial para a Vogue, Vanity Fair, Interview e Rolling Stone, Ritts também criou campanhas publicitárias de sucesso para a Calvin Klein, Chanel, Donna Karan, Gap, Gianfranco Ferré, Gianni Versace, Giorgio Armani, Levis, Pirelli, Polo Ralph Lauren, Valentino, entre outros. Ritts 6 foi atraído para linhas limpas e formas fortes. Esta simplicidade gráfica permitiu que suas imagens fossem lidas e sentidas instantaneamente. Ele muitas vezes desafiou as noções convencionais de sexo ou raça. As mensagens ousadas fazem referência ao homoerotismo e desafiam convenções de raça e sexo. São exemplos de peças publicitárias que venceram por desafiar quaisquer “receituários de sucesso”. Liderada por Oliviero Toscani, em 1991, a Benetton inicia uma campanha publicitária usando imagens associadas a questões sociais e ambientais. Veiculava em um anúncio para revista os momentos finais do jovem americano David Kirby, portador do vírus da AIDS, amparado por seus pais e irmã (fotografia de Theresa Frare). Naquele mesmo ano, essa empresa saudava a visita do papa à cidade de Salvador, Bahia, com um outdoor cuja ilustração era um beijo entre um padre e uma freira; enquanto isso, publicava na Itália um anúncio em revista mostrando mulheres velando o corpo de um mafioso assassinado na Sicília. De acordo com Soares: Como um verdadeiro clássico moderno, Toscani renunciou as suas e utilizou as imagens de outros fotógrafos, tal como os escritores e os músicos que, no nosso século, começam a citar obras novas e belas reutilizando materiais já existentes, de repertório. Com a premissa, de que o real sobressai, não obstante todos os nossos esforços para domesticá-lo, dourá-lo, torná-lo inofensivo, removê-lo, chegar às sete imagens “reais” da campanha da Benetton de 1992 foi natural. De duas mil fotos das agências Magnum e Sygma, em Nova Iorque, foram separadas sete. (2001, p. 127) A questão de até onde uma empresa pode brincar com a controvérsia tornou-se clara em 1992, com as campanhas da Benetton. As sete imagens roubadas à vida centram-se em tragédias e horrores contemporâneos e, vistas juntas, constituem um ciclo, onde não faltam restos de registro e de 7 temperatura. A ideia principal foi injetar no mundo criado pela ficção publicitária o real. As fotos realizadas por jornalistas de campo que também são artistas, verdadeiros Goya modernos, o Goya repórter do famoso quadro El dos de mayo, que mostra um fuzilamento durante a guerra franco-espanhola. Foram erguidos painéis de 4x3m e 6x3m em várias cidades do mundo em 1993 e 1994, mostrando essas fotos de grande reportagem acompanhadas do logotipo “United Colors of Benetton”. Fazendo com que essas fotos crescessem nas paredes, devolvendo a esses ícones modernos toda a sua força, transformando a publicidade numa gigantesca exposição fotográfica de atualidades. Onde a publicidade deve ser muito mais espetáculo do que arte. Sem os pré-requisitos do plano de vendas, a publicidade fica solta, como peça autônoma dentro do contexto. De acordo com Toscani, os publicitários se prendem ao plano de vendas porque não querem pensar nem informar o público, com medo de perder os anunciantes (1996, p. 25). A publicidade, sendo autônoma, passa a ser julgada pelo que ela aparenta ser e não pelo que ela deveria ser. Surge, então, o gosto pessoal de cada um, a guiar-se por tendências, conceitos e preconceitos. Para Toscani, a publicidade das empresas poderia educar, emocionar, revelar talentos e artistas (1996, p. 26). Isso nada têm a ver com os objetivos propostos nos planos de vendas, o parâmetro utilizado para julgar a campanha de propaganda. Em junho de 1993, o jornal Libération mostrava em anúncio da mesma griffe 56 fotos de órgãos sexuais masculinos e femininos. Em setembro-outubro de 1993, a Aids é novamente protagonista. Em uma série que ficou bastante conhecida, Toscani fotografou: uma nádega, um púbis e um braço marcados com a escrita H.I.V. positivo, três imagens como metáfora de uma marca muito mais ampla, a marca social dos diferentes. Sob a pele aparentemente macia foi carimbado, na tentativa da representação da tatuagem permanente, a explicação do estigma do século. Vírus assassino inoculado por meio do prazer ou do vício. Marca que arde como ferro em brasa no couro de um animal dominado ou identificatória como os números nos braços dos prisioneiros dos campos de concentração da primeira metade do século XX. Uma maneira de representar não só os canais através dos quais o vírus pode ser transmitido, 8 mas também o processo de estigmatização de determinados grupos sociais e de seu comportamento. O americano Steven Meisel (1954) fotografa a campanha de outono da Prada, em 1994. Ele se tornou uma verdadeira lenda pela quantidade de fotos suas que foram censuradas. Meisel fotografou todas as capas da Vogue Itália desde 1988, uma das primeiras revistas a acolher seu talento, a edição de setembro de 2006 foi um escândalo, trazia modelos bancando o papel de vítimas do 11 de setembro. Toscani se demite após a indignação provocada nos Estados Unidos pela campanha publicitária da Benetton. O diretor de criação Oliviero Toscani (1942) comandou as campanhas que apresentavam uma série de situações reais, entre as quais um homem morrendo de AIDS num hospital (1990). Toscani pediu demissão em 2002 após a campanha "Nós, do corredor da morte", que apresentava condenados à pena capital com os dizeres "Condenado à morte" sobre seus retratos. Criticada por grupos defensores dos direitos das vítimas e pelo governo americano, a Benetton foi obrigada a divulgar um pedido de desculpas e a fazer uma doação de caridade de 340 mil dólares. Prova A, coletânea póstuma da obra de Guy Bourdin, tem a imagem no calendário em 2001 da Pentax na capa. Bourdin trabalhou para a revista Vogue Paris, entre 1955 e 1987, onde tornou famoso seu estilo de fotografia. Seu trabalho mesclava beleza e tragédia, surrealismo e neorrealismo, arte contemporânea e exotismo. Seu trabalho influenciou toda uma geração de fotógrafos nos mais diversos campos de trabalho, e seu estilo fotográfico é reconhecido até hoje. Em 2002, David LaChapelle ganha notoriedade com suas imagens publicitárias para a Lavazza. Ele sempre conseguiu incluir em seus retratos profundas mensagens sociais. Suas imagens permitem uma leitura poética, escrachada, de contrastes assustadores e nuances surrealistas – ou, como o próprio prefere, hiper-realistas. Essa atmosfera onírica que cria contribui para 9 que suas fotografias sejam relacionadas a obras de artistas surrealistas. Seu testemunho de um mundo paralelo e surreal é transmitido em imagens que misturam glamour e comédia, beleza e bizarro. Outra comparação constante é feita em relação ao também fotógrafo Guy Bourdin, pelo uso glamuroso e pioneiro de cores e pelas situações inesperadas que inseriu na fotografia de moda. Seu nome já figurou em uma variedade de publicações editoriais, como Vogue, Vanity Fair, GQ, Rolling Stone, i-D, além de algumas das campanhas publicitárias mais marcantes de sua geração. O americano Richard Avedon (1993-2004) fotografa a campanha primavera/verão 2004 da Christian Dior. Ele montou estúdio próprio, em 1945, e passou a trabalhar como fotógrafo freelancer para diversas revistas como Theater Arts, Life, Look Magazines e Harpe’s Bazaar. Desenvolveu uma abordagem original para fazer fotografias de moda: as modelos eram colocadas em ação, atuando e sorrindo. Também nesta época, inspirado pelo fotojornalista e fotógrafo de moda Martin Munkacsi,Avedon saiu do estúdio e fotografou modelos nas ruas, em casas noturnas, arenas de circo e em outros lugares até então incomuns. Cédric Buchet cria, em 2011, a campanha de primavera da Louis Vuitton, com o modelo Doug Pickett em um safári. Trata-se de uma aventura robusta num safári urbano, com peças mais discretas que se reúnem para uma exibição modesta. O modelo encarna viajante com acessórios despojados da grife como bolsa e pastas. A fórmula antiga da publicidade, das imagens idílicas e fantasiosas, sem ideias novas, sem caminhos inovadores, condicionados a não ousar, está condenada ao desaparecimento. Acrescenta Baudrillard, o aspecto atualmente mais interessante da publicidade é o seu desaparecimento, a sua diluição como forma específica, ou como medium, muito simplesmente. (1981, p. 116). Trazendo consigo ranços e preconceitos históricos, a publicidade se vale simplesmente de recursos encontrados nas demais artes para tornar suas mensagens mais eficientes. A publicidade na opinião de Toscani, já está ficando rouca de tanto falar em felicidade, parece que não tem outra palavra na 10 boca, enquanto a crise bate à porta de todo mundo e as populações começam a preocupar-se com o próprio futuro. (TOSCANI, 1996, p. 29). A publicidade tem buscado no velho não apenas o exemplo, mas a fórmula e a receita testada, abrindo mão de seu mais precioso potencial: o atrevimento, a impetuosidade, a inovação. Embora esteja sofrendo transformações segundo Baudrillard: Não é por acaso que a publicidade, depois de ter veiculado durante muito tempo um ultimato implícito de tipo econômico, dizendo e repetindo, no fundo incansavelmente: “Compro, consumo, gozo”, repete hoje sob todas as formas: “Voto, participo, estou presente, isto me diz respeito” – espelho de uma zombaria paradoxal, espelho da indiferença de todo o significado público (1981, p. 118). Se já houve quem dissesse que o valor de um bem se mede sempre por sua raridade e que seu valor seria sempre definido pela relação entre a demanda e a oferta, como falar de “raridade” ou “oferta reduzida” no capitalismo contemporâneo, ao tentar valorar um bem, se este bem é produzido aos milhares de unidades em linhas de produção em massa e oferecido em incontáveis pontos-de-venda? De acordo com Piratininga, diferencial é a chave, seja ele de qualidade intrínseca, seja ele apenas aparente, a partir de características agregadas à imagem do bem ou serviço anunciado (1994, p. 22). Assim, é necessário criar um fator de diferenciação para a mercadoria, pois será sempre este diferencial (de inovação, de preço, de aparência, de atribuição de status, de facilidade de uso etc.) que fará se destacar frente à concorrência no universo de ofertas ao consumidor e motivará sua aquisição. Como exigir que o resultado final do trabalho de concepção, produção e divulgação de uma mensagem de comunicação publicitária seja “original” ou “criativo”, sempre um requisito fundamental à implantação de algum diferencial, e ao mesmo tempo esteja de acordo com que se pratica institucionalmente, de 11 modo a não configurar a quebra da conformidade ou o estabelecido de um comportamento divergente que possa ser punido? Este duplo desafio – por um lado, o compromisso com a eficácia e a eficiência empresarial e, por outro lado, a dificuldade em romper com os padrões pessoais e institucionais adotados pela grande maioria – se denuncia na atividade de comunicação social dedicada a servir aos objetivos mercadológicos das organizações, segundo Piratininga, através de extensíssima série de manuais, relatórios e códigos de “como fazer boa propaganda” (1994, p. 26). Preocupados em determinar e definir os procedimentos mais adequados para a criação, sempre visando a garantir a eficácia e a eficiência, eles ainda perduram na prática profissional e acadêmica, a despeito do cotidiano derrubar constantemente as regras, pois são inúmeros os casos que escapam a qualquer critério pré-estabelecido. Um repertório infinito de elementos passa a compor a nova iconografia do anúncio. Em geral, todos deságuam no estuário comum do sexo, da aventura, da jovialidade, do mistério, despertando os mais diversos apetites. É claro que, para a realização desse novo material, seria necessário contar com um fantástico avanço técnico na fotografia. Quem observa, hoje, um anúncio, certamente há de se surpreender com o resultado da técnica fotográfica, seja a cores ou em branco e preto: trucagens impossíveis de conceber como foram realizadas, iluminação dos produtos, o jogo de luz e sonho, os adereços que compõem uma fotografia de moda, a seleção de modelos, os objetos de cena, toda uma "produção" — como se diz no jargão do ramo fotográfico — destinada a glamorizar o assunto fotografado. Fotografia Digital No cenário atual, onde as novas tecnologias estão a cada dia tomando mais espaço diante da vida de todos, com o universo da fotografia não poderia ser diferente. A entrada em cena da fotografia digital tem aberto um novo campo de trabalho - o de manipulação de fotos. A busca pela instantaneidade é saciada com os equipamentos digitais. Mas, o trabalho torna-se mais complexo, até sua finalização, devido à manipulação em softwares. 12 No caso da fotografia digital, que por muitos é vista como a grande ferramenta para o trabalho do fotógrafo, Charoux (In Revista ABOUT, 2003 p.25) relata que “há ainda, inerente a qualquer cenário, entre os recursos estabelecidos e o advento de novas tecnologias, no caso entre a fotografia digital e analógica”. Neste advento tecnológico, as opiniões e opções por trabalhar com cada uma destas tecnologias são as mais variadas. Há sempre os prós e contras de cada uma. Diante da dificuldade de entrar e competir de igual para igual no disputado mercado da publicidade, que exige altos investimentos em equipamentos, alguns assistentes de estúdio e fotógrafos iniciantes buscaram especialização no tratamento de imagens, dominando os infinitos recursos de um software conhecido como Photoshop - utilizado por dez entre dez fotógrafos publicitários. Segundo Piovan (2003 p. 160) “quando essa nova era chegou, muitos eram os fotógrafos que acreditavam que ter uma máquina digital bastava”. Ou seja, estas tecnologias trazem consigo novos profissionais com pouca bagagem, que entram no mercado com suas câmeras e seus softwares, como o Adobe Photoshop, que não só promete como realiza grandes trabalhos às vezes muito difíceis de serem obtidos com equipamentos analógicos. Para se obter resultado satisfatório com estes softwares é indispensável vasto conhecimento para manipular os arquivos e obter êxito. As tarefas de pós-produção, hoje cabidas aos fotógrafos, são uma novidade para eles. Fotografar, por mais que seja com equipamento digital, não basta. Ter múltiplas funções é essencial para se alcançar um lugar de destaque no meio fotográfico. Antes, o trabalho acabava na edição do cromo. A fotografia digital é uma realidade cada vez mais concreta e presente. Mas o papel da fotografia analógica não será banido do cenário do trabalho dos estúdios, assim como se pensava que com o surgimento da fotografia em cores, daria fim à fotografia preto e branco. 13 Muitos são os fotógrafos que ainda preferem captar suas imagens em equipamentos analógicos. Porém, não podem fugir da apresentação e manipulação digital. Ou seja, a tecnologia digital veio pra ficar, de uma forma ou outra, todos acabam nela. Sem os recursos disponibilizados por esta nova era, torna-se muito difícil ser competitivo no mercado fotográfico. São as mais variadas possibilidades de transformar uma imagem, incluir um toque ou outro, a fim de complementar o trabalho do fotógrafo. Segundo Martins (2012), nesse novo universo da fotografia está o designer Flávio Hargreaves entre os profissionais que se destacamnessa área, ele trabalha há nove anos no estúdio ArtLuz, um dos mais conceituados do Rio de Janeiro. “Ele começou como assistente de Alexandre Salgado e não demorou a perceber que precisaria gastar muito dinheiro para comprar os equipamentos que lhe dariam condições de brigar por bons clientes” (2012: p. 262). Fez a opção de aprender tudo que fosse possível sobre os recursos do Photoshop. "’Na verdade, não fiz cursos. Fui experimentando, acumulando experiência na base do erro e acerto. Existem bons cursos, claro, mas só na prática é que se aprende’, ensina Flávio” (2012: p. 262). Só para ilustrar as possibilidades de trabalho, podemos dizer que fotógrafos sempre contam com o apoio de especialistas de tratamento de imagens. O Photoshop é tão importante hoje, conforme Martins, que na publicidade, os especialistas que se destacam no uso deste software ganham comissão sobre cada imagem orçada ou acabam se tornando sócios do estúdio para o qual trabalham. Isso é bom para ambos, para o especialista, que consegue boa remuneração, e, também para o fotógrafo. Ainda, de acordo com Martins: Flávio defende a tese de que os recursos do Photoshop podem render muito mais quando se tem conhecimento sobre fotografia: Para conseguir bons resultados na manipulação de uma imagem, que muitas vezes combina várias fotos, é preciso ter percepção da luz, de contraste, de profundidade. Em 14 resumo: é preciso ter um olhar de fotógrafo. E estar sempre atualizado, pois a informação nesse mercado circula muito rapidamente (2012: p. 262). Os manipuladores de imagem estão cada vez mais presentes nas lojas especializadas em fotografia. Portanto, o seu trabalho não se resume aos estúdios que atendem agências de publicidade. Com a queda de vendas de filmes fotográficos, muitas delas agregaram novidades ao serviço de ampliação de material digital. Entre elas, a possibilidade de criar vários efeitos especiais nas fotos. 15 Referências Bibliográficas BAUDRILLARD, Jean. Simulacro e Simulação. Lisboa (Portugal): Relógio D'Água, 1981. CHAROUX, Mônica. Um olhar vendedor no reino das luzes e sombras. In Revista ABOUT. São Paulo: Versart Editora Artes e Comunicação, 25 de agosto de 2003. HACKING, Juliet (Ed. Geral). Tudo sobre fotografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. MARTINS, Nelson. Fotografia: da analógica à digital. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2012. PALACIN, Vitché e CRUZ, Goya. Fazer fotografia. São Paulo: B4 Editores, 2012. PALACIN, Vitché. Fotografia: teoria e prática. São Paulo: Saraiva, 2012. PIOVAN, Marco e CESAR, Newton. Making Of: Revelações sobre o dia-a-dia da Fotografia. 1ª Edição. São Paulo: Futura, 2003. PIRATININGA Luiz Celso de. Publicidade: arte ou artifício? São Paulo: T. A. Queiroz, Editor, 1994. SOARES, João de Assis. Fotografia: ficção ou realidade. Bauru (SP): UNESP - Universidade Estadual Paulista, Seção de Pós-Graduação, Área de Concentração: Comunicação, 2001. TOSCANI, Oliviero. A publicidade é um cadáver que nos sorri. Rio de Janeiro: Ediouro: 1996.
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