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1 CODER-MT Assuntos de interesse geral veiculados pela imprensa audiovisual e pela imprensa escrita. Aspectos históricos, geográficos, econômicos e políticos em nível de Mundo, Brasil, Estado de Mato Grosso e Município de Rondonópolis/MT ........................................................................ 1 Olá Concurseiro, tudo bem? Sabemos que estudar para concurso público não é tarefa fácil, mas acreditamos na sua dedicação e por isso elaboramos nossa apostila com todo cuidado e nos exatos termos do edital, para que você não estude assuntos desnecessários e nem perca tempo buscando conteúdos faltantes. Somando sua dedicação aos nossos cuidados, esperamos que você tenha uma ótima experiência de estudo e que consiga a tão almejada aprovação. Pensando em auxiliar seus estudos e aprimorar nosso material, disponibilizamos o e-mail professores@maxieduca.com.br para que possa mandar suas dúvidas, sugestões ou questionamentos sobre o conteúdo da apostila. 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Teremos então apenas informações geográficas e históricas dos eventos mais importantes e de aspectos que não tenham sido trabalhados no aspecto nacional. O conteúdo de Atualidades estará ao final, junto dos outros tópicos, regionais e nacionais. História e Geografia Mundial REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A revolução industrial é um dos momentos de maior importância e influência sobre o modo de vida das sociedades atuais. Ela marca a passagem e as transformações sociais ocorridas primeiramente na Europa e que posteriormente se espalharam pelo restante do mundo. A passagem da sociedade rural para a sociedade urbana, a transformação do trabalho artesanal e manufatureiro para o trabalho assalariado e a organização fabril foram algumas dessas transformações. A Revolução Industrial normalmente é dividida em três fases: A Primeira Fase que vai de 1760 a 1850, predominantemente na Inglaterra, quando surgiram as primeiras maquinas a vapor; A Segunda Fase que vai de 1830 a 1900 e marca a difusão da revolução por países europeus como Bélgica, França, Alemanha e Itália, além dos Estados Unidos e Japão. Durante esse período surgem formas alternativas de energia, como a hidrelétrica e motores de combustão interna, movidos a gasolina e diesel. E por fim, a Terceira Fase que começa em 1900, caracterizada pela inovação nas comunicações e do aumento da produção em massa. O que é Industrialização? A industrialização pode ser entendida como a transformação de matérias-primas para serem consumidas e utilizadas pelo ser humano. A transformação de matérias-primas em produtos por meio de da utilização de maquinas é conhecida como maquinofatura, enquanto a transformação manual é conhecida como manufatura. Existe também uma outra categoria de transformação, o artesanato, em que o processo de produção é efetuado por uma única pessoa do início ao fim. * Cuidado ao diferenciar o artesanato, manufatura e maquinofatura. O artesanato condiz a técnica do trabalho manual não industrializado, no qual é realizado elo artesão, e que escapa à produção em série. A manufatura é um estágio mais avançado, em que numerosos trabalhadores se reúnem para a realização de um mesmo objetivo, possuem funções definidas e são coordenados por um chefe que gerencia a produção. Por sua vez, maquinofatura se caracteriza pelo uso de ferramentas e máquinas que são utilizadas no processo de produção. Como tudo começou? Para entender a Revolução Industrial é preciso entender as mudanças ocorridas na Inglaterra a partir do século XVIII e o restante da Europa no século XIX. Um dos fatores que colaborou com a Revolução Industrial foi a melhoria de condições de higiene e alimentação, garantindo uma maior longevidade, que aumentava o consumo de produtos e também disponibilizava mão-de-obra para o trabalho na indústria. As revoluções inglesas que ocorreram no século XVIII colocaram o poder político da Inglaterra nas mãos da burguesia capitalista. Seu interesse no desenvolvimento econômico colaborou para a organização do sistema de circulação de mercadorias através da abertura de canais, estradas, portos e comercio exterior. Os impostos (cobrança e aplicação) foram organizados no mesmo período. Assuntos de interesse geral veiculados pela imprensa audiovisual e pela imprensa escrita. Aspectos históricos, geográficos, econômicos e políticos em nível de Mundo, Brasil, Estado de Mato Grosso e Município de Rondonópolis/MT Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 2 A ascensão da burguesia ao poder colaborou para o processo de cercamento de terras baldias e terras de uso comum, o que extinguiu os yeomen1, que formavam uma classe de pequenos proprietários e trabalhadores rurais que sobreviviam do cultivo de terras arrendadas e da utilização das áreas comuns. Com as terras que eram utilizadas pelos yeomen confiscadas pelo governo, muitos trabalhadores rurais acabaram migrando para as cidades em busca sobrevivência, tornando-se empregados nas manufaturas. A religião teve um importante papel para a mentalidade e economia na Inglaterra. O Puritanismo é uma concepção da fé cristã que surgiu na Inglaterra, criada por grupos protestantes radicais após as reformas que ocorreram no país. Inspirados pelo calvinismo, tinham a crença da acumulação, poupança e enriquecimento, que eram vistos como demonstrativos da salvação. Além disso, durante muito tempo, os ingleses desenvolveram seu comércio e sua agricultura. O comercio foi expandido em escala mundial, criando um grande mercado que pudesse comprar seus produtos e absorver sua produção de produtos industrializados, em especial o algodão. Ele mostrou-se uma alternativa mais atraente para os comerciantes ingleses, devido à sua abundancia de produção nas colônias britânicas no Oriente e nos Estados Unidos, que ainda pertenciam à Inglaterra. Como não havia regulamentação sobre o comercio do algodão e a mão-de-obra disponível juntamente com a matéria-prima era extremamente atraente, do ponto de vista econômico, os esforços empresariais concentraram-se nessa área. Toda essa rede de comercio e produção garantiu para a Inglaterra grande acumulo de capital, ou seja, os recursos necessários para investir e aumentar a produção industrial. Esse capital, junto de outros fatores ajudaram a Inglaterra a destacar-se como pioneira na Revolução Industrial com o aluguel de terras produtivas, o lucro obtido na venda de matérias primas e a elevação constante de preços, que garantiam uma grande margem de lucro para os comerciantes. Com uma grande quantidade de capital disponível era possível fazer empréstimos que possuíam juros baixos, o que permitia fazer investimentos a longo prazo, em produtos e maquinas que levavam um longo tempo para garantir retorno e compensação financeira. A Inglaterra possuía além dos fatores econômicos e sociais necessários para a criação de industrias, elementos minerais que eram utilizados na construção das máquinas, como o ferro e o carvão. A existência deferro e carvão no país colaboraram para as invenções que ajudaram a mudar a indústria. A criação de mecanismos que aumentavam determinada etapa da produção obrigava outros setores a buscar alternativas para acompanhar o ritmo de produção, transformando-se em um ciclo de desenvolvimento industrial, gerados através da busca pela produção. Industrialização e o Trabalho Para suprir a grande produção e atender o mercado consumidor, as fabricas precisavam de mão-de- obra para operar a produção. Se antes os trabalhadores, principalmente artesãos, trabalhavam em suas casas, agora o trabalho era concentrado no ambiente das fabricas. Para conseguir lucros as fabricas precisavam produzir em larga escala, o que barateava a produção, pois não fazia sentido a utilização de recursos imensos como maquinas a vapor e represamento de rios para a utilização de energia hidráulica com o intuito de produzir pouco. Outra grande mudança para os trabalhadores era a relação entre o tempo e o trabalho. Para produzir com eficiência as fabricas precisavam organizar seus funcionários, seja em turnos ou escalas, para que garantam que a produção nunca pare ou caia, o que ajudava a maximizar os lucros e evitar prejuízos, e é aí que entra o conceito de tempo. Até o período anterior à revolução industrial era comum que pessoas trabalhassem sem horários ou dias fixos, normalmente eles o faziam (trabalhavam) até obter o necessário para os gastos da semana ou pelo período desejado. Com o trabalho concentrado nas fabricas e com a necessidade de se manter a produção, era essencial que os trabalhadores cumprissem horários determinados de entrada e saída em seus postos de serviço. Foi nesse período que o relógio se popularizou, já que era necessário para garantir a rotina imposta pelas fábricas. Com a introdução da maquinofatura outro importante aspecto ganha forma: a separação entre trabalhador e meio de produção. 1 classe de homens que possuem pequenas e médias terras. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 3 Se antes da Revolução Industrial um fabricante de tecidos utilizava seus equipamentos, como a roca de fiar, agora ele dependia de equipamentos sofisticados para tornar seus produtos competitivos. Os preços desses equipamentos normalmente atingiam valores altos, que poucas pessoas poderiam pagar. Anteriormente um artesão era capaz de produzir com suas próprias ferramentas, agora com o trabalho nas indústrias e com o custo dos equipamentos, o trabalhador dependia dos meios de produção, no entanto, não os possuía, assim a pessoa acabava se tornando funcionário de uma empresa, e a partir daí utilizava os seus meios de produção. Com essa mudança a sociedade divide-se em duas categorias: - Quem possuía os meios de produção, capital, matéria prima e equipamentos – uma pequena minoria; - E as pessoas que vendiam sua força e capacidade de trabalho para o primeiro grupo em troca de um salário. As mudanças que ocorreram no século XVIII não agradaram a todos. Muitos artesãos e trabalhadores ficaram insatisfeitos com as rotinas de trabalho de impostas. Era comum existirem jornadas de trabalho de 14 a 16 horas diárias em condições extremamente desfavoráveis e arriscadas, como o barulho incessante de maquinas e o trabalho repetitivo a que se sujeitavam para receber baixos salários. A situação era ainda mais complicada no caso de mulheres e crianças, que recebiam uma quantia menor, independentemente do nível de trabalho executado em relação aos homens. Com a grande leva de camponeses que buscavam oportunidades nos centros industriais, a concorrência por empregos aumentava. Com isso os donos de fabricas davam preferência para a mão- de-obra barata e abundante que vinha do campo. A concentração em grandes centros também prejudicava aqueles com pouco poder aquisitivo. Nas regiões industrializadas a população crescia em ritmo acelerado, chegando a cidade a possuir mais de 1 milhão de habitantes antes do século XIX. O crescimento da população nem sempre era acompanhado pela oferta de moradia, o que gerava alugueis com altos preços e aglomeração de pessoas em pequenos espaços, muitas vezes abrigando diversas famílias. O próprio país sofreu mudanças em sua paisagem. Nesse período a Inglaterra dividia-se em dois contextos: a Inglaterra Negra, que era dominada por industrias, instaladas principalmente onde havia disponibilidade de carvão, em geral no norte e oeste do país, e a Inglaterra Verde no sul e sudeste, que era responsável pela agricultura e pastoreio. Movimentos Organizados As dificuldades enfrentadas levaram à criação de movimentos organizados de trabalhadores que reivindicavam melhores condições de remuneração e segurança no trabalho. Entre os movimentos de reinvindicação que ocorreram no século XVIII, o Ludismo possui destaque. Os ludistas eram contra a industrialização da produção e mecanização do trabalho e ficaram famosos por quebrarem maquinas em indústrias têxteis. Seus membros acreditavam que as maquinas tiravam o trabalho das pessoas e que era necessário acabar com elas para garantir empregos para a população. Apesar do movimento ludista ter durado pouco tempo (entre 1811 e 1812) ele teve uma grande repercussão e serviu de inspiração para movimentos posteriores. Entre os atos mais notáveis de seus participantes está a invasão noturna na manufatura de William Cartwright que ficava no condado de York, em abril de 1812. Como consequência, 64 pessoas foram acusadas de participar da invasão e julgadas um ano depois. Dentre as penas sofridas, 13 pessoas foram condenadas à pena de morte, sob o crime de atentado contra a manufatura de Cartwright e duas pessoas foram deportadas para as colônias britânicas. O termo Ludismo ainda hoje é utilizado para referir-se a pessoas que são contra o desenvolvimento tecnológico e industrial. Seu nome deriva do nome de um operário chamado Ned Ludd, que supostamente teria quebrado as maquinas de seu patrão. A história serviu de inspiração para que outras pessoas aderissem a essa ideia. Um segundo movimento importante foi o Cartismo, que ocorreu nas décadas de 1830 e 1840 na Inglaterra. Sua origem vem da carta escrita pelo radical William Lovett, que ficou conhecida como Carta do Povo, documento que continha as reivindicações do grupo. Suas exigências eram: - Voto universal; - Igualdade entre os distritos eleitorais; - Voto secreto por meio de cédula; - Eleição anual; Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 4 - Pagamento aos membros do Parlamento; - Abolição da qualificação segundo as posses para a participação no Parlamento; O movimento cartista buscava melhorias nas condições dos operários, que mesmo após quase cem anos do início da Revolução Industrial ainda eram péssimas. Possuiu uma grande adesão da população e foi considerado o primeiro grande movimento tanto de classe como de caráter nacional que lutava contra a condição social na Grã-Bretanha. A intenção era de que a Carta do Povo fosse aprovada pelo parlamento inglês, de maneira a garantir os direitos reivindicados. O parlamento não só rejeitou a carta como perseguiu os líderes e simpatizantes do movimento, com a intenção de acabar com sua influência. Apesar dos esforços do parlamento, o movimento exerceu grande influência no operariado, tanto inglês como internacional e conseguiu convocar em 1848 uma grande mobilização que estimava reunir 500 mil trabalhadores e pressionar o parlamento. A mobilização fracassou, porém, diversas leis trabalhistas foram criadas para beneficiar os trabalhadores. As Trade Unions Como maneira de conseguir melhores condições de trabalho, muitos trabalhadores partiram para a formação de associações e para lutar por seus direitos. Em várias partes da Inglaterra, em especial nas cidades com grande concentração de indústrias como Lancashire, Yorkshire e Manchester,diversas sociedades de trabalhadores (conhecidas como Trade Unions) começam a aparecer com o objetivo de promover ajuda mútua entre os trabalhadores. Por sua vez, os patrões ficaram atentos ao movimento dos trabalhadores e também se organizaram para conter as revoltas. As greves, uma das formas de protesto mais prejudiciais para a indústria até hoje, foram amplamente utilizadas. Com trabalhadores paralisados em manifestações e protestos, as maquinas paravam e, portanto, não produziam, o que afetava os lucros. De olho em formas de conter tanto greves como associações, os empresários e patrões tiveram que recorrer à influência que possuíam no governo da Inglaterra. Em 1799 uma lei foi criada para proibir as associações de trabalhadores, que foi derrubada pela forte oposição que eles conseguiram fazer. Além de leis, também era utilizada a violência para conter o aumento dessas associações. Apesar da grande disputa entre os dois lados, em 1824 as leis que proibiam a formação de associações foram revogadas. Outros Países na Disputa Durante muitos anos, a Revolução Industrial ocorreu praticamente apenas na Inglaterra, que fez o possível para manter as maquinas e técnicas de produção em seu território. Apesar de toda a legislação e proibições, muitos fabricantes tinham interesse em expandir seus negócios. Em 1807 William Cockrill criou fabricas para a produção de tecidos na Bélgica, que se desenvolveram com bastante eficiência, já que além do interesse também haviam ferro e carvão disponíveis em quantidades satisfatórias. A França passava por um período turbulento na época, com o fim da Revolução Francesa. Além disso havia uma tradição da pequena indústria no país juntamente com a produção de artigos de luxo. Somente após 1848 a indústria começa a desenvolver-se timidamente e com uma política protecionista de mercado, ou seja, com o impedimento de importações e o incentivo de exportação de produtos franceses. E tanto Itália como Alemanha começam a desenvolver suas industrias após 1870, quando os países terminam seus processos de unificação. Além da Europa, os Estados Unidos foram o único país a desenvolver com êxito a Revolução Industrial, com uma grande produção de artigos manufaturados no fim do século XIX. Segunda Revolução Industrial No final do século XIX novas tecnologias propiciaram o que ficou conhecido como Segunda Revolução Industrial ou Revolução Techno-científica. A produção agora não estava restrita somente a tecidos e produtos do gênero. Através do investimento em pesquisa e produção em outras áreas, além da descoberta de novas fontes de energia e transporte, o leque industrial ampliou-se. No setor energético duas mudanças foram significativas: a utilização de produtos derivados do petróleo e a energia elétrica. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 5 Edwin Drake perfurou o primeiro poço de petróleo em 1859, no estado da Pensilvânia. A técnica utilizada por Drake foi desenvolvida a partir das técnicas de exploração das minas de sal. A descoberta de uma maneira viável de extrair o petróleo ajudou a expandir sua utilização em vários setores industriais. O dínamo industrial também foi um passo muito importante e marcou a passagem da utilização do carvão para a energia elétrica, que se mostrava mais barata e eficiente. O dínamo é um aparelho que gera corrente contínua, convertendo energia mecânica em eléctrica, através de indução eletromagnética. A descoberta de novas técnicas para a produção de aço, como o processo de Bessemer2 na Inglaterra possibilitou a criação de maquinas mais resistentes. A indústria química também se desenvolveu e possibilitou a criação de novos ramos de produção como tintas, corantes, fertilizantes e munições. Os transportes se desenvolveram em grande escala com a invenção e aprimoramento de maquinas a vapor, com destaque para a locomotiva criada na Inglaterra em 1814, e do navio a vapor em 1805 nos Estados Unidos. A criação de meios de transporte mais rápidos e eficientes possibilitou uma melhor movimentação no transporte de cargas e produtos, deixando de depender de condições climáticas e naturais. Um exemplo são os trilhos da locomotiva que estavam sempre no mesmo lugar e evitavam que ela atolasse ou tivesse que parar durante a viagem. Os navios também não dependiam mais da força dos ventos para navegar. Outras invenções que revolucionaram o setor de transportes foram o avião, no início do século XX e motor de combustão interna, que popularizou a utilização do automóvel como meio de transporte. As comunicações passaram por grandes mudanças durante o período, e permitiram o contato entre duas pessoas a uma longa distância através de mensagens em tempo real. Em 1837 Samuel Morse inventou o telégrafo nos Estados Unidos e ao longo do século XIX a colocação de cabos submarinos permitiram a ligação telegráfica entre os Estados Unidos e a Europa. O trabalho também passou por diversas mudanças que buscavam aumentar a eficiência e os lucros das empresas através da organização da produção. O fordismo e o taylorismo foram as duas principais ideias adotadas. O Fordismo tem como características: produção em série e a introdução de linhas de produção mecanizadas. É famosa a frase de seu idealizador Henry Ford quando se referia ao seu famoso automóvel, o Ford T: “Quanto ao meu automóvel, as pessoas podem tê-lo em qualquer cor, desde que seja preta!”. Acontece que, para a Linha de Produção Fordista, a cor preta é a que secava mais rápido. No Taylorismo existe o controle da produtividade dos operários através da análise técnica de seus gestos e movimentos diante das maquinas. Lado Financeiro As grandes inovações e novas invenções que surgiam quase diariamente tornavam cada vez mais difícil os investimentos feitos por uma única pessoa. Nesse contexto os bancos ganham muito destaque, lucrando através de empréstimos e de ações de empresas na bolsa de valores. Você sabe como funciona a bolsa de valores? A bolsa de valores é o mercado organizado onde se negociam ações de sociedades de capital aberto (públicas ou privadas) e outros valores mobiliários3. Tudo começa quando uma empresa decide lançar ações ao público. Essa iniciativa é conhecida como abrir o capital. Com o capital aberto, novos acionistas são atraídos e injetam dinheiro nessa empresa. Em caso de lucro, todos ganham. Se houver prejuízo, as perdas também são divididas proporcionalmente. Para participar das apostas na bolsa, a companhia precisa credenciar-se em uma corretora de valores. Essas instituições estão por trás de todas as negociações, fazendo as transações para quem quer investir em ações e mantendo a bolsa financeiramente. Neste período as práticas monopolistas também se intensificaram. As consequências foram o acumulo de capital nas mãos de poucos grupos ou pessoas. Assim surge o que ficou conhecido como capitalismo financeiro ou monopolista. O monopólio é a pratica de dominação do mercado através do controle de um determinado produto. Além do monopólio outras práticas surgiram e se fortaleceram: 2 primeiro processo industrial de baixo custo para a produção em massa de aço a partir de ferro gusa fundido. 3 https://www.osmelhoresinvestimentos.com.br/bolsa-de-valores/como-funciona-bolsa-valores/ Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 6 - Cartel: o cartel é um acordo entre empresas independentes com a finalidade de criar uma ação coordenada para o estabelecimento de preços. Atualmente no Brasil a prática de cartel é considerada uma atividade criminosa. Como exemplo é possível citar os carteis em redes de postos de combustível4. - Dumping: o dumping é a pratica da venda de produtos a um preço artificialmente baixo, para eliminar a concorrência e voltar a praticar preços mais altos. - Holding: o holding é a pratica de uma empresa controlar as ações de diversasoutras empresas. - Sociedades anônimas: são um tipo de sociedade em que o capital é dividido em ações que podem ser livremente negociáveis. - Truste: é a fusão de empresas que visam obter controle sobre alguma atividade econômica. Terceira Revolução Industrial A Terceira Revolução Industrial ocorre após o termino da Segunda Guerra Mundial, em meados de 1940. Sua principal característica é o uso de tecnologias avanças para a produção industrial e teve como líder os Estados Unidos. As fontes de energia passam a ter importância ainda maior e é nesse período começam as buscas por fontes alternativas como a energia nuclear e a eólica. O desenvolvimento tecnológico nesse período é importante não apenas na busca de novas fontes de energia, mas na produção em si. Uma grande mudança proporcionada pela tecnologia é a disputa com a mão-de-obra humana. Linhas de produção passaram a dispensar trabalhadores e substitui-los por maquinas que conseguem fazer o serviço com mais rapidez e precisão, o que abriu ainda mais o leque de industrias, com destaque para a Biotecnologia e a Nanotecnologia. No cenário mundial surgiram outras potências tecnológicas como a Alemanha, o Japão e a China. A globalização é um fenômeno bem característico do período, com a produção de produtos com peças que são fabricados em diversas partes do mundo. Com o grande investimento e desenvolvimento da tecnologia, ela passa a ser cada vez mais acessível para as pessoas, o que revolucionou novamente os meios de comunicação com a produção em massa e de baixo custo de telefones celulares, computadores pessoais, notebooks, tablets e smartfones. Questões 01. (TRT/15ª Região – Analista Judiciário – FCC/2018) Uma diferença importante entre a Terceira Revolução Industrial e as duas primeiras ocorridas anteriormente reside na constatação de que o produto final, no caso da Terceira Revolução Industrial, (A) tem elevado valor agregado, considerando-se os altos custos e investimentos em seu processo de produção. (B) produz impacto reduzido na sociedade, uma vez que permanecem inalterados os hábitos e padrões de consumo. (C) gera distribuição de riqueza, uma vez que promove a participação de pequenos produtores no processo industrial. (D) causa poucos danos ao meio ambiente, uma vez que os materiais envolvidos são recicláveis e gasta-se pouca energia em sua fabricação. (E) favorece a autonomia do trabalhador, uma vez que independe da lógica de produção industrial e em série. 02. (IF/TO – Professor – IF/TO - 2019) A Revolução Industrial inaugurou um ciclo de inovações tecnológicas que permeiam as atividades humanas desde o século XVIII. O uso disseminado das máquinas, advindas dessas inovações, modificou as relações de trabalho, como satirizado na charge seguinte, ampliou a produção e a produtividade, impulsionou a urbanização e assim reestruturou a organização do espaço no mundo. 4 http://www.cade.gov.br/servicos/perguntas-frequentes/perguntas-sobre-infracoes-a-ordem-economica Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 7 Analise as alternativas seguintes sobre a Revolução Industrial, suas fases e os reflexos econômicos e sociais no espaço mundial e brasileiro e assinale a correta: (A) Como estratégia para promover o crescimento econômico e o desenvolvimento industrial, a Grã- Bretanha, nos primórdios da Revolução Industrial, adotou uma postura protecionista, executando medidas tanto para impedir transferência de tecnologia para os principais concorrentes, como reduzindo ou abolindo as tarifas alfandegárias de importação de matérias-primas importantes para sua atividade industrial, além de conceder subsídios para a exportação de seus produtos industriais. Essa política de fomento de sua atividade industrial durou até meados do século XIX. (B) A 2ª Revolução Industrial, iniciada em meados do século XIX, também denominada de Revolução Técnico-Cientifico-Informacional, ampliou a industrialização para além do continente europeu, abarcando o continente americano como um todo e parte do continente asiático. (C) Os fatores locacionais para a instalação de unidades industriais configuram-se como vantagens competitivas de um lugar em detrimento de outro. Para as indústrias de alta tecnologia, os fatores locacionais mais importantes são, em ordem decrescente: amplo mercado consumidor, incentivos fiscais, disponibilidade de matéria-prima e mão de obra altamente qualificada. (D) A importância alcançada pelas empresas transnacionais no mercado global possibilitou a descentralização industrial e, por meio da fragmentação do processo produtivo, favoreceu o desenvolvimento industrial de países não industrializados como o Brasil e a Rússia. Nestes países, desde o início de seu desenvolvimento industrial, o consumo foi ampliado por meio da obsolescência programada. (E) Na 1ª Revolução Industrial a exploração dos trabalhadores foi intensa. Cargas horárias de trabalho excessivas, poucos ou nenhum direito trabalhista, baixas remunerações e condições insalubres de trabalho foram e são enfrentadas por todos os trabalhadores do setor secundário até a atualidade nas economias emergentes. 03. (SEDUC/AL – Professor – CESPE/2018) Determinadas transformações do sistema capitalista mundial resultam da revolução tecnológica das últimas décadas do século XX e do início do século XXI. A esse respeito, julgue o item subsequente. A revolução tecnológica da Terceira Revolução Industrial aumentou a produtividade sem descentralizar o capital das grandes empresas. (A) Certo (B) Errado 04. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE/2018) A Revolução Industrial teve início no século XVIII e transformou econômica e socialmente boa parte do Ocidente ao longo de suas fases. Tendo essa informação como referência inicial, julgue (C ou E) o item a seguir, que dizem respeito ao referido período e aos seus desdobramentos. O emprego e uso da noção e conceito de mercado, essencial ao capitalismo industrial, foi herdado do mercantilismo. A partir da necessidade de expansão e garantia de mercados, houve a formação de Estados territoriais e de impérios coloniais: o Imperialismo resultou da Revolução Industrial. (A) Certo (B) Errado Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 8 05. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE/2018) A Revolução Industrial teve início no século XVIII e transformou econômica e socialmente boa parte do Ocidente ao longo de suas fases. Tendo essa informação como referência inicial, julgue (C ou E) o item a seguir, que dizem respeito ao referido período e aos seus desdobramentos. Os cercamentos ingleses aconteceram com o objetivo de incentivar o excesso de mão de obra necessária às fábricas na Inglaterra. Esse processo foi pacífico e contou com o apoio dos pequenos e médios produtores, pois estes adotaram a lógica comercial vigente e se integraram à cadeia de consumo. (A) Certo (B) Errado Gabarito 01.A / 02.A / 03.B / 04.A / 05.B Comentários 01. Resposta: A A Terceira Revolução Industrial ocorre após o termino da Segunda Guerra Mundial, em meados de 1940. Sua principal característica é o uso de tecnologias avanças para a produção industrial e teve como líder os Estados Unidos. A utilização de tecnologias avançadas demandou altos investimentos e por consequência produtos com valores superiores até então. 02. Resposta: A Protecionismo é uma doutrina, uma teoria que prega um conjunto de medidas a serem tomadas no sentido de favorecer as atividades econômicas internas, reduzindo e dificultando ao máximo, a importação de produtos e a concorrência estrangeira. Tal teoria é utilizada por praticamente todos os países, em maior ou menor grau, estando presente no contexto do desenvolvimento da Revolução Industrial inglesa. 03. Resposta: B A tecnologia possibilitou o aumento da produção de forma geral, ao contrário do queocorreu no início, quando o capital de grandes fabricas ficou concentrado em seus núcleos. Hoje, é comum que grandes empresas tecnológicas se estabeleçam perto de centros com mão de obra qualificada por exemplo. A diversidade desses centros também faz com que esse capital permaneça descentralizado. 04. Resposta: A O capitalismo comercial foi a base para o desenvolvimento do capitalismo industrial. Os Estados territoriais e impérios coloniais foram formados e delimitados para atender aos monopólios derivados do mercantilismo que, em decorrência da produção e a busca por mercado consumidor e matéria-prima, resultou no imperialismo. 05. Resposta: B Cercamentos são o processo de exclusão dos trabalhadores de seu meio de sustento, as terras produtivas, na transição do feudalismo para o capitalismo, mediante sua transformação em propriedade. Como mostra a alternativa, não foi um processo pacífico nem tampouco contou com o apoio de médios e pequenos produtores5. REVOLUÇÃO FRANCESA E SUAS CONSEQUÊNCIAS Ao proporem a divisão quadripartite da História (Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea), os historiadores do século XIX elegeram a Revolução Francesa como um dos grandes marcos divisórios da chamada “História Geral” – baseada na concepção eurocêntrica –. Por ter representado uma profunda mudança nos padrões de vida e da sociedade do período, o ano de 1789 (início da Revolução) marca a divisão entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea. 5 http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/cercamentos/index.html Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 9 Antecedentes da Revolução Na França do século XVIII vigorava um sistema de governo conhecido como Absolutismo Monárquico. Luís XVI era o rei francês no período da Revolução e sua imagem personificava o Estado, reunindo em sua pessoa os direitos de criar leis, julgar e governar (daí a referência ao poder absoluto). Dentro da França absolutista havia uma divisão de três grupos distintos, chamados de Estados Gerais: - o Primeiro Estado era representado pelos representantes do Alto Clero; - o Segundo Estado tinha como representantes a nobreza, ou a aristocracia francesa – que desempenhava funções militares (nobreza de espada) ou funções jurídicas (nobreza de toga); - o Terceiro Estado era representado pela burguesia e pelos camponeses. Sozinho, ele totalizava cerca de 97% da população. Apesar de representar a maioria esmagadora da população, o terceiro estado possuía direitos limitados e estava subordinado aos interesses dos dois primeiros estados. Sua composição era bastante heterogêneo e dele faziam parte: - Alta burguesia: banqueiros e grandes empresários; - Média burguesia: profissionais liberais; - Pequena burguesia: artesãos e lojistas; - Sans-culottes: trabalhadores, aprendizes e marginalizados urbanos e cerca de 20 milhões de camponeses, dos quais cerca de 4 milhões ainda viviam em estado de servidão feudal. Era sobre o Terceiro Estado que pesava o ônus dos impostos e das contribuições para a manutenção do Estado e da Corte, e mesmo sem existir uma unidade, os membros do Terceiro Estado de uma maneira geral concordavam em reivindicações como o fim dos privilégios de nascimento e instauração da igualdade civil. Ao longo do século XVIII alguns fatores contribuíram para a agitação política e a insatisfação popular verificadas no instante da revolução. A Guerra dos Sete Anos (1756-1763), travada contra a Inglaterra, contabilizou milhares de mortos, feridos e elevadíssimos gastos e prejuízos materiais para ambos os países, além da própria derrota sofrida pela França. A derrota levou o país a financiar e instigar os colonos britânicos da América a buscarem autonomia, o que resultou no processo de independência dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a Corte absolutista francesa que possuía um alto custo de vida era financiada pelo Estado, que, por sua vez, já gastava bastante seu orçamento com a burocracia que o mantinha em funcionamento. A esses dois fatores ainda vale acrescentar a crise que afetou a produção agrícola francesa nas décadas de 1770 e 1780, o que resultou em péssimas colheitas e alta da inflação. O resultado desses fatos gerou uma crise financeira, ao passo em que o Estado terminava por arrecadar uma quantidade inferior aos gastos anuais, com uma dívida pública que se acumulava sobretudo pela falta de modernização econômica – principalmente a falta de investimento no setor industrial. O último item que deve ser levado em conta para entender o contexto da Revolução é a ascensão da burguesia. Resultado do desenvolvimento do capitalismo comercial, essa classe social apresentava duas tendências marcantes: ou procurava ingressar na nobreza por meio da compra de títulos, ou tentava afirmar os seus valores, impondo critérios econômicos de hierarquização social em substituição ao critério do nascimento e da tradição, típico da sociedade estamental6. A segunda tendência marcou a ascensão da burguesia e rompeu os quadros da sociedade do Antigo Regime. Cenário Político Em meio ao caos econômico vivido na França, Luís XVI chega ao poder em 1774 enfrentando desde o início o problema de insuficiência na arrecadação de impostos. Turgot, primeiro de seus ministros de finanças, tenta cobrar impostos de padres e nobres. Frente a negatividade de suas ações foi obrigado a renunciar. Ele foi substituído por Necker, que incentivou o apoio francês à independência dos Estados Unidos como forma de revidar o resultado da Guerra dos Sete Anos. Necker permaneceu até 1781, quando contraiu grandes empréstimos para cobrir os gastos com o financiamento da emancipação americana e acabou por aumentar a dívida francesa. 6 Sociedade Estamental é uma forma de organização social na qual a sociedade é dividida em grupos sociais separados uns dos outros por privilégios, sendo a estratificação social garantida pelo proprio Estado. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 10 Calonne, seu sucessor, buscou cobrar impostos sobre as terras da nobreza e acabou substituído por Brienne, que teve o mesmo destino. A saída de Brienne gerou uma crise ministerial, resolvida com a volta de Necker. Somente em 1789, durante o mandato de Necker, as autoridades reais abriram portas para o movimento reformista. Em maio daquele ano, os Estados-gerais foram convocados para a formação de uma assembleia que deveria mudar o conjunto de leis da França. A Assembleia dos Estados Gerais era um órgão político de caráter consultivo e deliberativo (servia para que o rei consultasse a opinião dos membros, além de poder tomar decisões, se o rei assim permitisse), constituído por representantes dos três estados. Na contagem dos representantes de cada estado, o primeiro estado contava com 291 membros, o segundo com 270 e o terceiro estado dispunha de 578 membros votantes. Apesar da maioria absoluta, a forma de voto da Assembleia dos Estados Gerais impedia a hegemonia dos interesses do terceiro estado. Conforme previsto, os votos eram dados por estados, com isso a aliança de interesses entre o clero e a nobreza impedia a aprovação de leis mais transformadoras que beneficiassem o terceiro estado. Os Estados Gerais reuniram-se em Versalhes, em 5 de maio de 1789. O Terceiro Estado queria votações individuais. Os outros dois insistiam em voto por Estado, tendo o apoio do rei. O Terceiro Estado, revoltado com essa situação reuniu-se separadamente e jurou não se dispersar enquanto o rei não aceitasse uma Constituição que limitasse seus poderes. Por sua vez Luís XVI cedeu, mandando o clero e a nobreza juntarem-se ao Terceiro Estado, surgindo assim a Assembleia Nacional Constituinte. O rei queria ganhar tempo, pois pretendia juntar tropas para dispersar a Assembleia. Ao mesmo tempo em que ocorriam essas tensões políticas,socialmente também haviam problemas. Os produtos alimentícios começavam a faltar, surgindo revoltas nas cidades e nos campos. Os rumores de composição aristocrática da realeza cresciam aumentando o medo do Terceiro Estado. Tudo isso junto da reunião de tropas próximas a Paris, e a demissão de Necker, provocaram a insurreição. Em 14 de julho de 1789 ocorre a queda da Bastilha. A Bastilha foi construída em 1370, e era uma fortaleza utilizada pelo regime monárquico como prisão de criminosos comuns. Na regência do Cardeal Richelieu, entre 1628 e 1642, o prédio foi transformado em prisão de intelectuais e nobres, especialmente os opositores à monarquia, sua política ou mesmo à religião católica, oficial no período monárquico. Apesar de ser uma prisão, na data de sua invasão a Bastilha contava com apenas sete presos. Para além do sentido físico de domínio do prédio, a tomada da Bastilha representou a derrota do Antigo Regime para a revolta da população, sendo considerada a data de início da Revolução Francesa. O rei já não tinha mais como controlar a fúria popular e tomou algumas precauções para acalmar o povo que invadia, matava e tomava os bens da nobreza: o regime feudal sobre os camponeses foi abolido e os privilégios tributários do clero e da nobreza acabaram. Assembleia Nacional (1789-1791) Após a invasão de Bastilha, a Assembleia Geral Nacional se transformou em Assembleia Constituinte, onde os deputados elaboraram uma constituição que determinou o fim dos privilégios feudais e de nascimento, a igualdade de todos perante a lei e a garantia de propriedade. Foi feito um juramento, que deu origem ao lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (Déclaration des Droits de l'Homme et du Citoyen), proclamada em 26 de agosto de 1789 determinou o fim das estruturas restantes do Antigo Regime. Ela proclama que todos os cidadãos devem ter garantidos os direitos de “liberdade, propriedade, segurança, e resistência à opressão”. Isto argumenta que a necessidade da lei provém do fato que “… o exercício dos direitos naturais de cada homem tem só aquelas fronteiras que asseguram a outros membros da sociedade o desfrutar destes mesmos direitos”. Portanto, a Declaração vê a lei como “uma expressão da vontade geral”, que tem a intenção de promover esta igualdade de direitos e proibir “só ações prejudiciais para a sociedade”. Sobre ela, o historiador inglês Eric Hobsbawm escreveu: "Este documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária. Os homens nascem e vivem livres e iguais perante as leis”, dizia seu primeiro artigo; mas ela também prevê a existência de distinções sociais, ainda Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 11 que “somente no terreno da utilidade comum”. A propriedade privada era um direito natural sagrado, inalienável e inviolável. ”7 Segue abaixo a reprodução do texto da Declaração: Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral. Em razão disto, a Assembleia Nacional reconhece e declara, na presença e sob a égide do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão: Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a segurança e a resistência à opressão. Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente. Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei. Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene. Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência. Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei. Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei. Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei. Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada. Art. 13º. Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades. Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração. Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração. Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. 7 Eric Hobsbawm, A ERA DAS REVOULUÇÕES Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 12 Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização. Luís XVI, mesmo derrotado, se opunha aos decretos e recusava-se a ratificá-los.Tendo o rei se recusado a sancionar estes últimos decretos, o povo de Paris (a comuna), marchou em direção ao Palácio de Versalhes trazendo o rei para a cidade e obrigando-o a assiná-los. Se sentindo ameaçada, a nobreza francesa fugiu para o Império Austríaco. Em 1790, os bens do clero foram confiscados, servindo de lastro para a emissão dos assignats (papel moeda), por intermédio da Constituição Civil do Clero. A lei visava reorganizar em profundidade a Igreja da França, transformando os párocos em "funcionários públicos eclesiásticos”, e serviu de base para a integração da Igreja Católica ao novo sistema político em vigor a partir de 1789. A Lei sobre a Constituição Civil do Clero se compunha de quatro partes, dedicadas aos cargos eclesiásticos, o pagamento dos religiosos e outras questões práticas. As circunscrições das dioceses foram adaptadas às novas unidades estatais dos départements, cada um destes correspondendo a um bispado. A redistribuição reduziu o número de sedes episcopais de 139 para 83. A Constituição francesa ficou pronta em setembro de 1791, modificando completamente a organização social e administrativa da França. O documento concebeu uma forma de governo baseada no princípio da separação dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), proposta por Montesquieu. O poder executivo, responsável por gerir o Estado, foi confiado à monarquia, que agora deveria obedecer aos princípios determinados na constituição, ou seja, também estava sujeita à força da lei, conforme deixavam bem claros os artigos 3 e 4 do capítulo II: Artigo 3. Não existe na França autoridade superior à da Lei. O Rei reina por ela e não pode exigir a obediência senão em nome da lei. Artigo 4. O Rei, no ato de sua elevação ao trono, ou a partir do momento em que tiver atingido a maioridade, prestará à Nação, na presença do Corpo legislativo, o juramento de ser fiel à Nação e à Lei, de empregar todo poder que lhe foi delegado para, manter a Constituição decretada pela Assembleia Nacional constituinte nos anos de 1789, 1791, e de fazer executar as leis. O poder legislativo passava a ser formado por uma assembleia, que não poderia ser violada ou dissolvida (evitando o abuso do poder real). Ela era eleita com o uso do voto censitário, e tinha o poder de fiscalizar os ministros, as finanças e a política estrangeira. O voto censitário era a concessão do direito do voto apenas àqueles cidadãos que possuíam certos critérios que comprovassem uma situação financeira satisfatória. Na prática, a política continuava nas mãos da classe abastada, em geral dos grandes proprietários, excluindo do processo mais de 20 milhões de franceses que não atendiam os critérios estabelecidos pelo voto censitário. A exclusão da maior parte da população do processo político logo tornou o novo governo impopular, gerando também rupturas internas, que fizeram com que a Assembleia se dividisse em várias tendências: Feuillants: monarquistas constitucionais, liderados por La Fayette e Barnave Jacobinos: defensores da República democrática Girondinos: grupo de deputados convencionais, liderados por representantes da região da Gironda, partidários da Revolução e da República, mas com posições bem mais moderadas do que os Jacobinos, especialmente quanto ao papel das massas populares no movimento revolucionário. Cordeliers: clube político muito próximo das posições dos “sans-culottes”, representando a população mais pobre. A dificuldade para governar enfraqueceu a Assembleia, o que garantiu a Luís XVI a chance de tentar escapar para o Império Austríaco, com o objetivo de organizar uma contrarrevolução. O rei foi reconhecido próximo a região de Varennes, onde foi capturado e enviado para Paris. Após a tentativa frustrada de fuga, a Assembleia suspendeu seu poder. O êxito da Revolução na França deu novo estímulo aos revolucionários de outros países, ao qual não surtiu efeito, como nos Países Baixos, Bélgica, Suíça, Inglaterra, Irlanda, Alemanha, Áustria e Itália. Ainda assim, simpatizantes com a Revolução na França organizaram demonstrações de apoio. Os déspotas esclarecidos, alarmados, abandonaram seus programas de reformas e se aproximaram da aristocracia contra as classes baixas. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 13 Alguns escritores na Europa defenderam a contrarrevolução, ou seja, a retomada do poder na França pela força das armas e restauração da Monarquia Absoluta. Muitos franceses abandonaram o país. Nobres, clérigos e mesmo burgueses esperavam o auxílio das potências europeias que por sua vez se mantiveram indiferentes a princípio, mas, quando as ideias que resultaram da Revolução ameaçavam abalar os soberanos absolutos da Europa, modificaram sua atitude. Em 20 de abril de 1792, a perseguição dos emigrados pelos franceses provocou a guerra com a Áustria, que continuaria com poucas interrupções até 1815. Os insucessos repetiram-se de abril a setembro. O avanço do exército prussiano rumo a Paris fez crescer o temor da contrarrevolução, arquitetada pelo rei e pela aristocracia. Em 10 de agosto as tulherias8 foram ocupadas e o rei aprisionado no templo. No início de setembro, a massa parisiense atacou as prisões e massacrou os nobres feitos prisioneiros. O Exército passou a convocar voluntários para defender a Revolução. Em Valmy, as forças francesas venceram os invasores. No mesmo dia, uma nova Assembleia tomava posse: a Convenção. Foi nesse período que a República foi proclamada. A segunda fase da guerra, de setembro de 1792 a abril de 1793, é marcada pelas vitórias da França, que avançou em direção à Bélgica, região do Reno, Savoia e Nice. Convenção Nacional Os membros eleitos para a Convenção Nacional organizaram-se em três grandes partidos: Gironda, Montanha e Planície. (Contra as cinco principais representações anteriores). - Gironda: Os Girondinos faziam parte um grupo político moderado durante o processo da Revolução Francesa. Seus integrantes faziam parte da burguesia francesa. Entre seus líderes destacavam-se Brissot e Vergniaud. - Montanha (ou Jacobinos): Os jacobinos faziam parte de uma organização política, criada em 1789 na França durante o processo da Revolução Francesa. No princípio tinham uma posição moderada sobre os encaminhamentos revolucionários, porém, com a liderança de Robespierre, passaram a ter posições radicais e esquerdistas. Pequenos comerciantes e profissionais liberais eram as principais camadas sociais que compunham este grupo. Entre seus líderes destacavam-se Saint Just, Marat, Danton e Robespierre. - Planície (ou Pântano): apesar de ser formada por membros da burguesia, era considerado um partido de centro, fazendo acordos e estabelecendo relações com ambos os partidos. Convenção Girondina (1792-1793) Após seu estabelecimento, a Convenção foi liderada pelos girondinos, sob forte oposição jacobina. O rei foi julgado pela Convenção em 21 de janeiro de 1793 e, a despeito do esforço dos Girondinos, foi condenado à morte como traidor, sendo guilhotinado. A condenação do rei abalou as demais monarquias absolutistas europeias, que temiam sofrer processos revolucionários parecidos em seus países. Assim, os impérios da Áustria, da Rússia e da Prússia uniram-se militarmente com Inglaterra e Holanda, contestadoras da ocupação francesa sobre a Bélgica, e formaram a I Coligação. A união de forças foi capaz de derrotar as tropas francesas, além de incentivarem os contrarrevolucionários a influenciarem a revolta camponesa da Vendéia. As derrotas sofridas pelas tropas, aliadas aos problemas internos, acentuaram os ânimos dos extremistas montanheses. Os Jacobinos, núcleo mais radical da Montanha, eram apoiados pela Comuna de Paris, composta por trabalhadores, artífices, pequenos proprietários e trabalhadores rurais. O acirramento dos ânimos levou a exigência da criação de um tribunal revolucionário contra os suspeitos e chefesgirondinos, além da criação de um exército revolucionário para a defesa do país. As reivindicações foram suficientes para reunir as camadas mais baixas e resultaram na queda dos girondinos em junho de 1793. Convenção Montanhesa (1793-1794) Os montanheses chegaram ao poder com o apoio dos sans-culottes, porém buscaram conter o movimento popular para evitar extremos. Como parte das reformas introduzidas, no campo político aboliram a escravidão nas colônias e confiscaram as terras dos nobres, transformando-as em pequenas propriedades. Na política, introduziram uma constituição democrática, assegurando uma participação mais ativa das camadas mais baixas. 8 Palácio parisiense, cuja construção começou em 1564 sob o impulso de Catarina de Médici, num local ocupado anteriormente por uma fábrica de telhas (tuiles) Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 14 As tensões internas e as vitórias da I Coligação criaram um clima de insegurança, que aumentou ainda mais quando o líder montanhês Marat foi assassinado pela monarquista Charlotte Corday, o que revelou a possibilidade do restabelecimento da monarquia. Esses fatores colaboraram para a instalação do Terror. O Terror Colocado em prática em setembro de 1793, o Terror contou com amplo apoio dos sans-culottes. Liderados por Robespierre, os montanheses criaram os Comitês da Salvação Pública e da Segurança Geral com o objetivo de governar o país, e o Tribunal Revolucionário, para aplicar a justiça. As prisões eram feitas com base na Lei dos Suspeitos, que permitia capturar e julgar todos aqueles considerados suspeitos de traição contra a República. Milhares de pessoas foram enviadas para a guilhotina, entre elas a rainha Maria Antonieta. Com o mesmo argumento de proteção da Revolução, as igrejas também foram fechadas, sendo instituído o “culto do Ser Supremo”, que na verdade tratava-se de uma devoção à razão. No plano econômico foi instituída a lei do Máximo Geral, ou seja, a fixação de um teto Máximo para os produtos de primeira necessidade. O calendário também foi substituído, dando lugar ao Calendário Revolucionário9. O terror gerou resultados, com a derrota da Vendéia e da Coligação. Superadas as dificuldades, Robespierre acreditava que a ditadura era a única forma de manter a Revolução, e não hesitou em enviar para a guilhotina todos aqueles que considerou inimigos. Paris durante esse período passava por um momento de grande efervescência política, e grupos distintos, com visões completamente diferente acabaram levando o mesmo fim, tendo as cabeças separadas dos corpos. Os enragés (enraveicidos) propunham a taxação e a suspensão da especulação monetária e tinham muito prestígio perante os sans-culottes, porém foram guilhotinados. Os indulgentes, liderados por Danton, acreditavam que as medidas eram enérgicas e autoritárias demais. Por outro lado, os hebertistas, liderados por Hébert, consideravam que elas ficavam aquém do necessário para salvar a Revolução. Para Robespierre tanto um quanto outro, e qualquer outro tipo de divergência eram uma ameaça, e ambos foram guilhotinados. Nem mesmo o cientista Lavoisier escapou da condenação, pois era visto com maus olhos por possuir origem nobre e ser membro da Ferme Générale, agência ligada ao governo e responsável pelo recolhimento de impostos, vista como corrupta. O Terror não poupou nem mesmo seus dirigentes. As execuções em massa, a ditadura e a intervenção na economia acabaram enfraquecendo o poder de Robespierre, que teve sua queda votada pela Convenção em 27 de julho de 1794. Juntamente com dezenove partidários, o líder acabou enfrentando o destino que muitos de seus tiveram: a própria guilhotina. A Guilhotina Criada pelo médico Joseph Ignace Guillotin, a guilhotina não apareceu como um método de execução usado para amedrontar os inimigos da revolução. Criada com a finalidade de proporcionar uma morte rápida e sem dor aos condenados à morte, o doutor Gillotin defendeu na Assembleia Nacional que esse seria um método mais humanitário, eficaz e igualitário, pois os condenados teriam a mesma pena e o executor não precisaria necessariamente sujar suas mãos com sangue. Porém, com a Revolução Francesa todo e qualquer suspeito de se opor ao regime passou a ser decapitado, dessa forma a guilhotina ficou marcada como símbolo de crueldade e opressão. Mesmo com o fim da Revolução na França, a guilhotina continuou a funcionar como aparelho de execução, com a última condenação registrada em 1977, quase duzentos anos após sua utilização em massa. Convenção Termidoriana Após a queda de Robespierre, um novo governo assumiu o poder liderado pela Planície. O novo governo buscou afastar-se da pequena burguesia e dos sans-culottes, e pouco a pouco retirou os poderes do Comitê de Salvação Pública, além de revogar as leis dos Suspeitos e do Máximo. A Igreja e o novo governo estabeleceram um acordo de separação. O fim da Lei do Máximo provocou um aumento nos preços dos produtos, inflacionando os assignats. O aumento nos preços gerou novas tensões populares, e a alta burguesia, com medo de perder seus privilégios e seu poder, eliminou o governo de convenção e criou a Constituição do ano III que instituía o Diretório, em 1795. A nova constituição buscou reafirmar o direito à propriedade e a liberdade 9 Os revolucionários propuseram a utilização de um novo calendário, que deveria diferenciar-se do calendário gregoriano, símbolo do cristianismo e do Antigo Regime Monárquico que havia sido extinto. Ele foi adotado a partir de 1793, mas seu início marcaria a data de 22 de setembro de 1792, dia em que foi instaurada a República. O objetivo era iniciar a marcação de uma nova era de ruptura com as tradições cristãs e mais próxima ao racionalismo burguês. O ano I, iniciado em 1792, era o ano da adoção da Constituição que havia instituído o sufrágio universal, a democratização (https://bit.ly/2mGeTN0). Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 15 econômica, pelo uso do restabelecimento do voto censitário, o que excluiu novamente as camadas populares do processo político. Diretório (1795-1799) O novo governo baseava-se na teoria da separação dos poderes. O poder legislativo dividia-se entre o Conselho dos Quinhentos (em que os membros deveriam ter mais de 30 anos) e o conselho dos Anciãos (que deveriam ter mais de 40 anos). O poder executivo era composto por um Diretório (junta de diretores) que era eleito pelos conselhos. A nova constituição não conseguiu estabilizar o país, e também não conseguiu afastar os opositores (nobres emigrados e sans-culottes). Os nobres tentaram um golpe de retomada do poder, porém foram impedidos pelo general Napoleão Bonaparte. Entre as camadas populares, o crítico da propriedade privada, Graco Babeuf articulou uma conjuração, a Revolta dos Iguais, que buscava derrubar o Diretório, porém não obteve sucesso. A corrupção no governo e a má administração enfraqueceram o regime. Juntamente com os problemas internos, foi formada a II Coligação, através da união militar entre o Império Turco, a Rússia, a Inglaterra e a Áustria, com o objetivo de retomar o poder na França. Frente aos problemas enfrentados, alguns membros do Diretório defendiam a ideia de que a única forma de manter o poder era o estabelecimento de uma nova monarquia. Preocupando-se em perder o poder, parte da alta burguesia apoiou um golpe de Estado, contando com a popularidade de Napoleão que havia conquistado vitórias importantes no Egito e no norte da Itália. Apoiado por Roger Ducos e pelo abade Sièys, ambos lideres burgueses, em 9 de novembro de 1799 Napoleão derrubou o Diretório e estabeleceu um consulado provisório, composto pelo general e pelos dois líderes que ajudaram a arquitetar o golpe. A chegada de Napoleão ao poder ficou conhecida como golpe de 18 Brumário, data que correspondia aos meses de outubroe novembro no calendário revolucionário. Os apoiadores do golpe acreditavam que através de um poder executivo autoritário poderiam conter os contrarrevolucionários. Contudo, ao assumir o poder, Napoleão buscou satisfazer suas próprias ambições, e impôs uma ditadura na França. Período Napoleônico Ao chegar ao poder em 1799, a França apresentava um aspecto desolador: a indústria e o comércio estavam arruinados, os caminhos e os portos destruídos e o serviço público desorganizado. Todos os dias mais e mais pessoas deixavam o país, fugindo da desordem e da ameaça de ver os seus bens confiscados. Os clérigos que se tinham negado a jurar fidelidade à nova Constituição eram perseguidos e a guerra civil ameaçava estourar em numerosas províncias. Napoleão buscou conciliar os diferentes grupos em conflitos, na tentativa de restabelecer a paz e a segurança. Em 1799 uma nova constituição foi submetida a um plebiscito, e com a aprovação por mais de 3 milhões de votos, Napoleão agora possuía poderes ilimitados, sob o disfarce do consulado. O voto voltou a ser universal, e os candidatos eram escolhidos através de uma lista dos mais votados. O Poder legislativo perdeu grande parte de sua importância, tornando-se basicamente um poder formal. Ele era composto de quatro assembleias: o Conselho de Estado, que preparava as leis; o Tribunal, que as discutia; o Corpo Legislativo, que as votava e o Senado, que velava pela sua execução. O Poder Executivo, confiado a três cônsules nomeados pelo Senado por dez anos, era o mais forte de todos. Quem detinha efetivamente o poder era o primeiro-cônsul, que propunha, mandava publicar as leis e nomeava os ministros, os oficiais, os funcionários e os juízes. As guerras continuaram até 1802, quando Napoleão assinou a Paz de Amiens, pondo fim ao conflito europeu iniciado em 1792. A administração do Estado foi reorganizada e centralizada. Importantes medidas financeiras, como a criação de um corpo de funcionários para arrecadar os impostos e a fundação do Banco da França (que recebe o direito de emitir papel moeda), foram tornadas, melhorando sensivelmente a situação econômica do pais. Na educação, o ensino secundário foi organizado com o objetivo de instruir funcionários para o Estado. Uma das maiores contribuições do de Napoleão foi a criação do Código Civil, inspirado no Direito Romano, nas Ordenações Reais e no Direito Revolucionário, completado em 1804, continua, na essência, em vigor até hoje na França. As relações com a Igreja Católica foram retomadas, através de Concordata10 com o papa. O sumo- pontífice aceitou o confisco dos bens eclesiásticos e o Estado ficou proibido de interferir no culto. Os 10 Acordo diplomático que o Vaticano celebra com outro Estado Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 16 bispos, indicados pelo governo e investidos de funções religiosas pelo papa, prestariam juramento de fidelidade ao governo e as bulas só entrariam em vigor depois de aprovadas por Napoleão. Os êxitos obtidos tanto internamente como externamente permitiram a Napoleão conquistar o direito de nomear seu sucessor garantido pelo senado, em 1802. Na prática, estabelecia-se uma Monarquia hereditária. Com o reinício dos conflitos externos em 1803, o Consul aproveitou-se da situação de perigo nacional para que fosse proclamado imperador da França. Já em 1804 uma nova Constituição legalizava a instituição do Império e convocava um plebiscito para confirmá-la. Oficializada a proclamação através da vontade popular, Napoleão foi sagrado imperador pelo papa, e tratou de formar uma nova corte, com muitos membros da antiga nobreza francesa. Além do Código Civil, que já vinha sendo elaborado, foram criados o Código Comercial e o Código Penal. A economia sofreu um grande impulso, tanto pelo aumento da produção no campo – o que levou os camponeses a apoiarem o imperador – quanto no incentivo pela industrialização do país. Os projetos de reformas de pontes e estradas foram concluídos e novos portos e canais concluídos. Ao mesmo tempo em que era verificada prosperidade em algumas áreas, em outras as coisas não pareciam caminhar tão bem. Com o aumento da popularidade, Napoleão tornava-se cada vez mais despótico, até mesmo para os padrões da monarquia francesa. As assembleias foram suprimidas, o poder judiciário passou cada vez mais para as mãos do imperador e as liberdades individuais foram revogadas. A imprensa também passou a ser censurada, e o ensino foi modelado para garantir a obediência ao imperador, tanto que se estendeu à educação superior: a Universidade Imperial monopolizou o ensino e as disciplinas consideradas perigosas para o regime (História e Filosofia) tiveram seus programas alterados. No plano religioso, o catecismo orientava que os deveres existiam para com Deus e também com o Imperador. As desavenças com poder papal, que não aceitou as imposições feitas pelo imperador, resultaram no confinamento do pontífice em Savoia e na tomada de seus Estados. Os bispos que buscaram apoiar a Igreja foram também perseguidos. O resultado foi uma nova onda de crises e descontentamento. A burguesia opunha-se à perda de liberdade e às perseguições policiais, as guerras arruinavam a economia e os portos, o restabelecimento de antigos impostos irritava os contribuintes e os jovens procuravam fugir ao serviço militar obrigatório. Conflitos externos Apesar de Napoleão ter assinado com a Inglaterra a Paz de Amiens11, em 1805, as ameaças francesas promoveram a formação da primeira coligação antifrancesa, reunindo a Inglaterra, Rússia e Áustria. Napoleão venceu em Ulm e Austerlitz, mas a esquadra franco-espanhola foi derrotada em Trafalgar pelo almirante inglês lorde Nelson. Após a vitória contra a nova coligação, em 1806, Napoleão dissolveu o Sacro Império Romano-Germânico, fundando a Confederação do Reno12. Em 21 de novembro de 1806, foi decretado que os países que estavam sob o domínio do império francês estavam proibidos de fazer comércio ou autorizar o acesso aos portos para navios ingleses. A medida, que ficou conhecida como Bloqueio Continental, visava enfraquecer o concorrente, afim de poder dominá-lo. Para que o bloqueio fosse efetivo, Napoleão necessitava que todas as nações sob sua influência aderissem totalmente ao acordo, o que foi feito pela Rússia e Pela Áustria, mas não por Portugal. Portugal era um pequeno reino na Península Ibérica que dependia imensamente de suas colônias para o sustento econômico. O principal parceiro econômico de Portugal era a Inglaterra, e desde 1703 os dois países estavam sob um acordo conhecido como Tratado de Methuen, que recebeu o nome em função do embaixador inglês que conduziu as negociações. O Tratado estabelecia o comércio de panos ingleses e vinhos portugueses, o que a longo prazo provou- se desvantajoso para Portugal, pois o volume de panos que chegava era maior que o volume de vinhos que saía. Com o investimento na produção de vinho, Portugal perdeu muitas das áreas de produção de alimentos, o que o obrigou a importar parte dos gêneros alimentícios. Além dos alimentos, Portugal deixou de investir em sua indústria, e importava uma grande quantidade de produtos manufaturados da Inglaterra. Por conta de todos os fatores citados, o Bloqueio Continental era desvantajoso para o pequeno país, que optou por não aderir à estratégia de Napoleão. Sentindo-se prejudicado pela decisão portuguesa, e vendo que seus esforços para impedir o comércio não estavam rendendo o esperado, em agosto de 1807 11 Tratado de paz firmado em 25 de março de 1802 na cidade francesa de Amiens. Ele pôs fim às hostilidades existentes entre França e Reino Unido durante as chamadas Guerras Revolucionárias Francesas. 12 A Confederação do Reno ou Liga Renana foi constituída por Napoleão Bonaparte em 12 de Julho de 1806, no contexto da Terceira Coligação contra a França Apostila gerada especialmente para: DiandraQueiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 17 Napoleão envia um ultimato a D. João VI: ou Portugal rompia suas relações com a Inglaterra, ou seria invadido. Como Portugal manteve-se firme em sua decisão, a França assinou em conjunto com a Espanha o Tratado de Fontainebleau, que dividia o território português entre os dois países e extinguia a dinastia dos Bragança, à qual pertencia D. João VI. Buscando manter suas relações comerciais, a Inglaterra, que possuía um poderoso poder naval, pressionou Portugal através de seu embaixador em Lisboa, lorde Strangford, a fugir para o Brasil. Em novembro de 1807, o Príncipe Regente reuniu a família real e toda sua corte, totalizando cerca de 15 mil pessoas, e partiu para o Brasil aportando em 22 de janeiro de 1808 na Bahia. Aproveitando-se da luta de Napoleão na Espanha, a Áustria formou em 1809 uma coligação, sendo porém, derrotada em Wagram13, perdendo vastos territórios e transformando-se em potência secundária. Nesse momento, o Império Napoleônico encontrava-se em seu apogeu, com mais de 70 milhões de habitantes, dos quais somente 27 milhões eram franceses. O exército francês parecia imbatível. Em 1812, porém, a Rússia rompeu o bloqueio ao comércio inglês, sendo invadida por forças francesas. Apesar da vitória na Batalha de Moscou, Napoleão foi obrigado a fazer uma retirada desastrosa, na qual morreram milhares de homens. Entusiasmados por este fracasso de Napoleão, Inglaterra, Áustria, Prússia, Rússia e Suécia formaram uma coligação, derrotando os franceses na Batalha de Leipzig, em 1813. Napoleão foi então aprisionado na ilha de Elba, de onde fugiu um ano depois, retornando à França e retomando o poder. Inicia-se o governo dos Cem Dias. Durante esse governo, enfrentou a última coligação contra a França, sendo derrotado pelos ingleses em Waterloo, na Bélgica, e novamente aprisionado e exilado na ilha de Santa Helena, onde morreu em 1821. A Europa em Guerra e em Equilíbrio (1789 -1830): Napoleão, Congresso de Viena e Restauração.14 Com o fim da Era Napoleônica, as potências que se envolveram nas guerras empreendidas pelo imperador francês articularam-se na capital da Áustria, Viena, para traçar os rumos que a Europa tomaria a partir daquele momento. A essa articulação deu-se o nome de Congresso de Viena. Além da Áustria, que sediou o congresso, as outras potências participantes foram a França, a Prússia, a Rússia e a Grã-Bretanha. O objetivo principal do Congresso de Viena era retomar o modelo político que ordenava a Europa antes das guerras napoleônicas, o que significava retomar as estruturas do Antigo Regime, com repressão às ideias liberais e às manifestações revolucionárias das quais a França foi o principal alvo. Os líderes participantes do Congresso de Viena ainda propuseram a defesa de dois princípios gerais: o princípio da legitimidade (determinava que as dinastias que detinham o poder no período anterior ao processo revolucionário francês deveriam reassumir seus tronos e territórios) e o equilíbrio do poder (pregava que as potências que ganharam a guerra contra a França teriam o direito sobre territórios fora do continente europeu e poderiam permanecer com aqueles que já lhes pertenciam por merecimento pela participação na luta contra Napoleão Bonaparte). Os Reis de Volta ao Trono O princípio da legitimidade garantiu o retorno de algumas das antigas dinastias europeias, como os Bourbon em Nápoles, Espanha e França, a dinastia Orange na Holanda, os Bragança em Portugal e os Saboia no Piemonte, além do restabelecimento do papa nos Estados Pontifícios. Pelas intervenções de Talleyrand, a França – que saíra derrotada com a queda de Napoleão – garantiu sua integridade territorial, restaurando suas fronteiras de antes de 1792. A Inglaterra foi o que mais se beneficiou a longo prazo, pois conseguiu garantir a hegemonia militar e comercial nos oceanos, além de grande influência política e econômica no continente. A Prússia praticamente dobrou sua extensão territorial, incorporando partes da Saxônia, da Pomerânia e da Polônia, assim como a Rússia, que garantiu a anexação da Finlândia, da Bessarábia e de parte da Polônia. Esse retorno à antiga ordem que caracterizou as propostas das potências vencedoras também implicava uma redefinição do mapa geopolítico da Europa, que havia sido profundamente afetado pelo império napoleônico. Para tanto, o czar russo, Alexandre I, propôs a criação de uma aliança. 13 Deutsch-Wagram é um município da Áustria localizado no distrito de Gänserndorf, no estado de Baixa Áustria 14 FERNANDES, Cláudio. Congresso de Viena. https://bit.ly/2MtiZA8 SANTOS, Marco Cabral dos. Congresso de Viena: Conservadores restauram o Antigo Regime. https://bit.ly/2nlIOah. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 18 Formada por Rússia, Prússia e Áustria, a Santa Aliança, como ficou conhecida, objetivava garantir a hegemonia desses três países, bem como combater focos de revoluções impulsionados pelas ideias liberais. O primeiro artigo da Santa Aliança pode ser lido abaixo: Art. 1º De acordo com as palavras das Santas Escrituras que ordenam a todos os homens olharem-se como irmãos, os três monarcas contratantes permanecerão unidos pelos laços de uma fraternidade verdadeira e indissolúvel e, considerando-se como compatriotas, se prestarão, em qualquer ocasião ou lugar, assistência, ajuda e socorro; julgando-se, em relação aos seus súditos e exércitos, como pais de família, eles os dirigirão no mesmo espírito de fraternidade de que se acham animados para proteger a religião, a paz e a justiça. (“Tratado da Santa Aliança”. Trad. Luiz Arnault. Dep. Hist. Contemporânea. UFMG.) O pacto militar começou a ruir a partir do momento em que a Inglaterra se recusou a apoiá-lo. Ela era contrária aos propósitos do envio de tropas para a América Latina, com o propósito de reprimir os diversos levantes emancipacionistas que ameaçavam o colonialismo. Além disso havia grande interesse na expansão comercial e em garantir novos mercados aos seus produtos industrializados, os ingleses desaprovavam a presença militar nas colônias americanas, postando-se contra a política intervencionista da Santa Aliança. Questões 01. (MPE/GO – Auxiliar Administrativo – MPE/GO – 2019) A Revolução Francesa é um marco histórico no que diz respeito à cidadania. Foi na França que o conceito de cidadão passou a ter uma dimensão de reconhecimento de direitos. Pergunta-se: em que ano ocorreu a Revolução Francesa? (A) 1787 (B) 1789 (C) 1791 (D) 1772 (E) 1790 02. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE/2018) A cultura política revolucionária não pode ser deduzida das estruturas sociais, dos conflitos sociais ou da identidade social dos revolucionários. As práticas políticas não foram simplesmente a expressão de interesses sociais e econômicos subjacentes. Por meio de sua linguagem, suas imagens e atividades políticas diárias, os revolucionários trabalharam para reconstruir a sociedade e as relações sociais. Procuraram conscientemente romper com o passado francês e estabelecer a base para uma nova comunidade nacional. Lynn Hunt. Política, cultura e classe na Revolução Francesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 33 (com adaptações) Tendo o fragmento de texto anterior como referência inicial, julgue (C ou E) o seguinte item, acerca das revoluções dos séculos XVIII e XIX. Iniciada em 1789, a Revolução Francesa rompeu com o despotismo e pôs fim ao Antigo Regime, mas não instaurou uma sociedade democrática e igualitária (A) Certo (B) Errado 03. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE/2018) A cultura política revolucionária não pode ser deduzida das estruturas sociais, dos conflitos sociais ou da identidade social dos revolucionários. As práticas políticas não foram simplesmente a expressão de interesses sociais e econômicos subjacentes. Por meio de sua linguagem, suas imagens e atividadespolíticas diárias, os revolucionários trabalharam para reconstruir a sociedade e as relações sociais. Procuraram conscientemente romper com o passado francês e estabelecer a base para uma nova comunidade nacional. Lynn Hunt. Política, cultura e classe na Revolução Francesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 33 (com adaptações) Tendo o fragmento de texto anterior como referência inicial, julgue (C ou E) o seguinte item, acerca das revoluções dos séculos XVIII e XIX. Devido ao aprendizado de seus métodos por revolucionários que a sucederam, a Revolução Francesa é considerada a mãe das revoluções políticas ocorridas depois dela. (A) Certo (B) Errado 04. De um modo geral, observa-se como numa sociedade a intervenção dos detentores do poder no controle do tempo é um elemento essencial (...). Depositário dos acontecimentos, lugar das ocasiões Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 19 místicas, o quadro temporal adquire um interesse particular para quem quer que seja, deus, herói ou chefe, que queira triunfar, reinar, fundar. JACQUES LE GOFF Adaptado de "Memória-História". Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1984. Diversas experiências políticas contemporâneas alteraram as representações do tempo histórico, na forma como são mencionadas no texto. Uma ação política que exemplifica essa intervenção no controle do tempo, e que resultou na implantação de um novo calendário, ocorreu no contexto da revolução denominada: (A) Cubana (B) Francesa (C) Mexicana (D) Americana 05. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE/2018) A cultura política revolucionária não pode ser deduzida das estruturas sociais, dos conflitos sociais ou da identidade social dos revolucionários. As práticas políticas não foram simplesmente a expressão de interesses sociais e econômicos subjacentes. Por meio de sua linguagem, suas imagens e atividades políticas diárias, os revolucionários trabalharam para reconstruir a sociedade e as relações sociais. Procuraram conscientemente romper com o passado francês e estabelecer a base para uma nova comunidade nacional. Lynn Hunt. Política, cultura e classe na Revolução Francesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 33 (com adaptações) Tendo o fragmento de texto anterior como referência inicial, julgue (C ou E) o seguinte item, acerca das revoluções dos séculos XVIII e XIX. A reflexão filosófica e política da denominada República das Letras e o cosmopolitismo europeu a ela inerente, por si só, não foram os fatores que conduziram à ação revolucionária: esse papel coube à plebe que, de fato, pôs a teoria em prática. (A) Certo (B) Errado Gabarito 01.B / 02.A / 03.A / 04.B / 05.A Comentários 01. Resposta: B. A Revolução Francesa ocorreu no ano de 1789 e é considerada o evento que marca a passagem do Período Moderno para o Contemporâneo. 02. Resposta: A. Apesar de a Revolução atingir o interesse burguês no período e apresentar uma proposta democrática, em diferentes episódios vimos que essa proposta não foi atingida. A divisão entre jacobinos e girondinos e o governo autoritário apresentado posteriormente por Napoleão são exemplo de que a igualdade e a democracia foram bandeira, mas não foram práticas pós revolução. 03. Resposta: A A Revolução Francesa é um marco na mudança de períodos históricos. A Idade Moderna e os movimentos que seguiram dentro do período levaram bandeiras fomentadas e difundidas no movimento francês (como os Direitos Naturais do Homem) derivados do iluminismo e que combateram praticas do Antigo Regime que insistiram em permanecer na modernidade. 04. Resposta: B. A revolução Francesa representou uma mudança muito grande na forma de entendimento de política e organização de uma sociedade. Durante sua fase mais radical foi criado até mesmo um novo calendário baseado nos ideais iluministas e rompendo com o calendário Gregoriano, de origem cristã. 05. Resposta: A Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 20 Reconhecidamente uma revolução burguesa, os “letrados” tiveram papel essencial na propagação de ideias iluministas e contra os princípios do Antigo Regime. Apesar disso, A Revolução foi realizada pelo povo, como a força do número exigiu no período. PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL A Primeira Guerra Mundial ou Grande Guerra aconteceu entre os anos de 1914 e 1918. Ela recebeu esse nome de seus contemporâneos, sob a justificativa de que até então nenhuma das guerras europeias haviam atingido tamanha proporção. Antecedentes A Primeira Guerra Mundial surgiu a partir de tensões formadas na segunda metade do século XIX com o desenvolvimento do imperialismo e do nacionalismo. Esses dois movimentos aliados às motivações capitalistas (expansão econômica de mercados) fizeram aumentar a tensão entre alguns países europeus. Essas tensões surgiram e cresceram antes mesmo dos anos anteriores ao início do conflito. A divisão da África e da Ásia no final do século XIX deixou de fora da partilha desses continentes a Itália e a Alemanha – países que demoraram a se unificar –. Por outro lado, França e Inglaterra exploravam toda a vantagem econômica que as novas colônias disponibilizavam. Esses benefícios geraram descontentamento e aumentaram o sentimento de rivalidade existente entre Alemanha e França desde o episódio envolvendo a Região de Alsácia-Lorena. A Alemanha, apesar de ter se unificado tardiamente, conseguiu que seus produtos ganhassem espaço formando uma grande indústria que conseguiu fazer frente à tradicional potência britânica. Junto desses aspectos, o nacionalismo aparece como uma fonte legitimadora da guerra. Esse sentimento aparece sob diversas formas como por exemplo na França, em que o revanchismo aparece provocado pela sua derrota na Guerra Franco-Prussiana. Na Rússia, surge o pan-eslavismo, ideia que se baseava na teoria de que todos os eslavos pertencentes à Europa Oriental deveriam constituir-se como uma família, e a Rússia como país mais poderoso dos estados eslavos, deveria ser o líder e o protetor. Ideia similar manifestou-se na Alemanha através do pangermanismo, uma corrente ideologica que lutava para que todos os povos germânicos se unissem sob a liderança alemã. Estopim do Conflito Rivalidades e tensões formadas, a única coisa que faltava para iniciar o confronto era um pretexto, surgido no dia 28 de junho de 1914, com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, em Sarajevo, capital da Bósnia, por um estudante sérvio. Com a morte do arquiduque, a Áustria culpou a Sérvia e exigiu que providencias fossem tomadas. Como a Sérvia não encontrou uma saída que agradasse a ambos, a Áustria declarou guerra contra a Sérvia. A Rússia entra no conflito no dia 30 de julho ao mobilizar suas tropas para atacar a Áustria (justificada pelo ataque à Sérvia). Em resposta a esse movimento, a Alemanha declara guerra aos russos. No dia 03 de agosto, a Alemanha declara guerra à França e invade o território Belga, um país neutro. Devido a violação da neutralidade, a Alemanha deu motivos para a Inglaterra intervir e declarar guerra à Alemanha, no dia 04 de agosto. SE LIGA: Alsácia-Lorena era uma região de população germânica. Na primeira metade do século XVII ela foi tomada pela França e novamente se tornou alvo de disputas quando a Prússia, principal reino do Império alemão liderou um conflito contra a França para recuperá- la (Guerra Franco-Prussiana). A disputa pela região é apontada como um dos principais motivos para a França declarar guerra à Alemanha. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 21 Política de Alianças Os países europeus começaram a fazer alianças políticas e militares desde o final do século XIX e durante o conflito mundial estas alianças permaneceram. Deum lado havia a Tríplice Aliança formada em 1882 pela Itália, pelo Império Austro-Húngaro e pela Alemanha. Do outro lado havia a Tríplice Entente, formada em 1907, com a participação de França, Rússia e Reino Unido. Situação da Itália Foram esses dois blocos que lideraram o conflito após o início da Primeira Guerra Mundial. Porém, em 1915 a Itália deixa a Tríplice Aliança passando para o lado da Entente. Ela alegou que a Tríplice Aliança havia sido criada com propósito de defesa, diferente da postura ofensiva da Alemanha, além da promessa da Entente por territórios na Ásia e África. Outros Países A Tríplice Entente também contou com a participação de outros países durante a Primeira Guerra Mundial como Sérvia, Japão, Estados Unidos, Brasil, Portugal e Grécia. Esse apoio configurou-se de forma direta (envio de tropas, suprimentos ou estrutura) ou indireta (apoio político). Primeira Fase da Guerra: Guerra de Movimento A primeira fase da guerra contou com ataques da Alemanha à França. Os alemães planejavam derrotar a França de forma rápida, contudo o exército francês conseguiu fazer frente às forças alemãs. Os conflitos desse período na França ficaram conhecidos como Batalha de Marne. Essa batalha inaugurou a chamada guerra de trincheiras (frentes estáticas escondidas em valas cavadas no chão). Os franceses conseguiram deter a ofensiva alemã que mirava Paris. Apesar disso, a capital do país passou a ser Bordeaux. Em 15 de agosto de 1914, a Rússia invade a Alemanha e a Austro-Hungria. Segunda Fase da Guerra: Guerra de Trincheiras ou Guerra de Posições A segunda fase da Primeira Guerra Mundial foi a época em que ocorreram os avanços estratégicos. Além disso, a utilização de novos armamentos despertou um boom industrial. Em 1917 com o triunfo da Revolução Russa, a Rússia assina um acordo com as Potências Centrais (Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Bulgária e Império Otomano) que oficializava a sua saída da guerra. Esse acordo levou o nome de Tratado de Brest-Litovsk. No mesmo ano os Estados Unidos entram no conflito após ter seus navios mercantes atacados em águas internacionais por submarinos alemães. O receio de que seus principais parceiros comerciais na Europa perdessem o conflito também foi um motivo para a entrada estadunidense na guerra. Com o desenrolar da guerra, as alianças estavam desenhadas da seguinte forma: - Tríplice Aliança: antes de iniciar a guerra, reunia a Alemanha, Austro-Hungria e Itália. Com o início dos conflitos, O império Turco-Otomano alia-se com a Alemanha em 1914 e a Bulgária em 1915. - Tríplice-Entente: antes era formada pela Inglaterra, França e Rússia. Durante a guerra, mais 24 nações foram incorporadas à aliança. A Itália que antes pertencia a Tríplice Aliança, entra no conflito em 1915 ao lado dos países da Tríplice- Entente. O Final da Guerra Após a saída da Rússia e com a entrada dos Estados Unidos no conflito, a situação da Aliança foi ficando cada vez mais crítica. Em março de 1918 os alemães iniciaram mais uma ofensiva na frente ocidental, utilizando aviões, canhões e tanques visando conquistar Paris. Nesse momento, com a ajuda dos Estados Unidos, os alemães foram obrigados a recuar e a partir desse momento começaram a perder aliados até o ponto de a situação ficar insustentável. Neste momento da guerra o povo alemão sofria com a fome, devido a um bloqueio naval. A escassez de alimentos levou a população a fazer uma manifestação pedindo o a saída da guerra. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 22 A população de Berlim, em novembro de 1918, conseguiu tirar do poder o imperador Guilherme II e implantou então um governo provisório, sob a liderança do Partido Social-Democrata, que assinou um acordo de paz com os Aliados, terminando assim, a Primeira Guerra Mundial Consequências Com a rendição dos países que formavam a Tríplice Aliança, um acordo foi assinado nas proximidades de Paris, em que apenas os países vencedores participaram. Pelo acordo, a Alsácia-Lorena voltava a pertencer a França. Este tratado também impôs fortes punições à Alemanha que foi obrigada a pagar uma indenização aos países vencedores. Além disso, parte de sua frota mercante, suas locomotivas e reservas de ouro também foram entregues à Entente. Seu exército foi reduzido, assim como sua indústria bélica. Esse tratado, assinado em junho de 1919 levou o nome de Tratado de Versalhes, pois foi assinado na sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes. A Primeira Guerra Mundial, deixou um legado de aproximadamente 10 milhões de mortos, e quase o triplo de feridos. Campos e indústria foram destruídos, além dos prejuízos estruturais nas áreas de conflito. O conceito de guerra mudou a partir da Primeira Guerra Mundial em que o modelo aristocrático que caracterizou as guerras de Napoleão, não existia mais. O uso de novas armas, como bombas, tanques, rifles de precisão e metralhadoras, transformaram os exércitos. As Influências da Primeira Guerra Mundial no Cenário Brasileiro No início do século XX, após anos de estreita aliança com a Grã-Bretanha, a República brasileira voltou suas atenções para os Estados Unidos. Essa radical mudança de eixo em nossas relações exteriores, estabelecida durante a gestão do barão do Rio Branco no Itamarati (1902-1912), foi além do plano político- diplomático. Também no tocante às relações econômicas internacionais, que envolvem tanto o comércio como as relações financeiras, os Estados Unidos substituíram a Inglaterra como principal parceiro do Brasil15. A eclosão da Primeira Guerra Mundial, em julho de 1914, não trouxe alteração na política externa brasileira. Desde o início o Brasil declarou sua completa neutralidade, e só quase no final da guerra mudou de posição. Em abril de 1917, um bloqueio naval imposto pela Alemanha à Grã-Bretanha, França, Itália e todo o Mediterrâneo Oriental levou ao torpedeamento do navio brasileiro Paraná, que navegava nas águas bloqueadas. A consequência imediata foi a ruptura de relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha. Logo a seguir, em maio de 1917, outro navio brasileiro foi afundado por submarinos alemães. Dessa vez, a reação do presidente Venceslau Brás foi ainda mais severa: enviou mensagem ao Congresso Nacional solicitando a encampação dos navios mercantes alemães estacionados em portos brasileiros, o que, na prática, estabelecia o fim da neutralidade. O ministro das Relações Exteriores, Lauro Müller, devido à sua ascendência alemã, foi substituído por Nilo Peçanha. Não se deve esquecer também que os Estados Unidos, principal aliado do Brasil em questões internacionais, haviam recuado de seu isolacionismo inicial e declarado guerra à Alemanha em abril de 1917. Afinal, em 27 de outubro o Brasil proclamou o estado de guerra contra o Império Alemão. A participação militar brasileira na Primeira Guerra Mundial foi modesta e tardia. Além de uma equipe médica, que se estabeleceu na França, foram enviadas divisões navais incumbidas de se juntar às forças britânicas e americanas para dar proteção às rotas do Atlântico. Uma parte dessas divisões foi contaminada em Dacar pela gripe espanhola, e o restante chegou a Gibraltar um dia antes da declaração de armistício. A delegação brasileira à Conferência de Paz de Paris, realizada entre 1919 e 1920, foi chefiada por Epitácio Pessoa. Sua participação se limitou, de modo geral, a seguir o voto da delegação norte- americana. Mas foi signatária do Tratado de Versalhes, que estabeleceu as condições de paz entre os Aliados e a Alemanha, e representou o Brasil como membro fundador da Liga das Nações. O principal órgão deliberativo da Liga era o Conselho Executivo, composto de membros permanentes (Grã-Bretanha, França, Itália e Japão) e membros provisórios, eleitos para um mandato de três anos. O Brasil foi eleito membro provisório para dois mandatos sucessivos, em 1921e 1925. Entretanto, uma mudança de rumo na política das potências europeias em relação à Alemanha, por volta de 1925, fez 15 FGV. Política Externa. https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CentenarioIndependencia/PoliticaExterna. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 23 com que fosse vista com bons olhos a integração do antigo inimigo no Conselho Executivo da Liga, na condição de membro permanente. O Brasil deixou claro que apoiaria uma ampliação do Conselho, desde que também fosse incluído como membro permanente. A ausência de apoio à reivindicação brasileira, tanto da parte das grandes potências como dos países latino-americanos, gerou um impasse que resultou no veto brasileiro à entrada da Alemanha, logo seguido da retirada do Brasil do Conselho Executivo. Ambos os gestos foram determinados diretamente pelo presidente Artur Bernardes e seu ministro das Relações Exteriores, Félix Pacheco, e foram cumpridos apesar da oposição do então do chefe da delegação brasileira, Afrânio de Melo Franco. Por fim, o Brasil comunicou oficialmente sua retirada da Liga, em junho de 1926, por intermédio de nota dirigida à Secretaria Geral onde era duramente criticada a atuação das grandes potências. Questões 01. (ABIN - Oficial de Inteligência – CESPE – 2018) A respeito da Primeira Guerra Mundial, julgue o item subsequente. O Czar Nicolau II retirou a Rússia da guerra em 1917, na tentativa de conter a Revolução Bolchevique que estava em andamento no país. (A) Certo (B) Errado 02. (ABIN - Oficial de Inteligência – CESPE – 2018) A respeito da Primeira Guerra Mundial, julgue o item subsequente. Estabelecida logo após o fim da guerra, a Sociedade das Nações foi bem-sucedida em promover o desarmamento e a paz mundial ao longo da década de 30 do século XX. (A) Certo (B) Errado 03. (ABIN - Oficial de Inteligência – CESPE – 2018) A respeito da Primeira Guerra Mundial, julgue o item subsequente. Muitas inovações tecnológicas foram utilizadas nessa guerra, considerada pela historiografia uma guerra total: os aviões foram decisivos para a vitória da Entente, que então gozava de grandes vantagens tecnológicas frente aos países aliados. (A) Certo (B) Errado 04. (PC/MG - Escrivão de Polícia Civil – FUMARC) São conjunturas que precedem à eclosão da Primeira Guerra Mundial, EXCETO: (A) A presença de várias potências europeias na Ásia e na África fez com que interesses imperialistas se antagonizassem, sobretudo, no que se refere ao controle de territórios. (B) A política de alianças produzirá um “efeito dominó”, lançando à guerra, uma após outra as nações signatárias dos acordos. (C) O nacionalismo adquire grande importância na eclosão da guerra, uma vez que as alianças entre as nações europeias, no período que precede o conflito, nortearam-se fundamentalmente, por questões étnicas. (D) A escalada inflacionária, o desemprego e o ódio racial favoreceram a subida ao poder de partidos totalitários como o Partido Nacional dos Trabalhadores Alemães. Antissemitismo e expansionismo territorial faziam parte da política desses partidos, o que acabou determinando a guerra. 05. (Prefeitura de Betim/MG – Professor PII - História - Prefeitura de Betim – MG) É coerente com as razões que levaram à 1ª Grande Guerra Mundial: (A) Um dos fatos que contribuiu para o final do confronto foi a entrada da Rússia na Guerra, pois tinha um exército grande e bem preparado, impondo aos alemães derrotas vexatórias. (B) O processo de Imperialismo, promovido pelas grandes potências capitalistas da Europa, principalmente França, Inglaterra e Alemanha, gerou conflitos e até confrontos pela disputa de territórios, ao ponto de desencadear a 1ª Guerra. (C) Temendo uma ofensiva alemã, Japão, Inglaterra e França formaram a Tríplice Aliança. (D) O início da Guerra se deu quando as tropas alemãs invadiram a Polônia, apresentando ao mundo a famosa Guerra Relâmpago, deixando marcas desastrosas para os poloneses. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 24 Gabarito 01.B / 02.B / 03.B / 04.A / 05.B Comentários 01. Resposta: B A Rússia (posteriormente URSS) se retira apenas quando a Revolução atinge sucesso. É bem verdade que foi a decisão do Czar que agravou os problemas econômicos sociais na Rússia e sob a liderança de Lênin eles abandonam o conflito. 02. Resposta: B O órgão criado após o final do conflito com o objetivo de promover a paz mundial não conseguiu cumprir a função ao qual foi proposto. Houveram por exemplo conflitos como a Guerra na Machúria, a Guerra Civil espanhola, a Guerra Sino-japonesa e a própria Segunda Guerra Mundial. 03. Resposta: B A aviação não pode ser apontada como fator decisivo na Primeira Guerra Mundial (ao contrário do que ocorreu na Segunda, portanto, fácil de confundir). A respeito das vantagens tecnológicas, Entente e Aliança se encontravam em equilibro. 04. Resposta: A. Apesar de ter se unificado tardiamente, a Alemanha conseguiu que seus produtos industrializados ganhassem espaço. Os alemães conseguiram formar uma grande indústria que conseguiu superar a tradicional potência britânica. 05. Resposta: B. O capitalismo, motivou o conflito entres as grandes potências europeias. O desejo de ampliar mercados, através do imperialismo, aumentou ainda mais a tensão entre os países da Europa, pois como a Alemanha e a Itália se unificaram tardiamente, ambas ficaram fora do processo neocolonial, o que gerou grande descontentamento. SEGUNDA GUERRA MUNDIAL A Segunda Guerra Mundial ocorreu entre 1939 e 1945 e assim como a Primeira Guerra, ganhou esse nome por não ficar confinada apenas ao continente europeu. Foi a maior guerra vista na história da humanidade, com número de mortes que variam de acordo com as fontes, entre 55 e 80 milhões de pessoas16. Antecedentes Com o final da Primeira Guerra Mundial e com o Tratados de Versalhes, nações como a Alemanha entraram em uma profunda crise social e econômica. A década de 1920 que começava a se recuperar do ponto de vista econômico, volta a piorar com a quebra da bolsa de Nova York em 1929. Essa situação gera um grande descontentamento em relação ao liberalismo norte-americano. Nesse cenário surgem movimentos em diversos países da Europa - principalmente Alemanha e Itália – que resultam em governos totalitaristas: - Em 1922, Benito Mussolini chega ao poder na Itália, iniciando uma ditadura do Partido Fascista. - Na Alemanha, em 1932 o Partido Nazista vence as eleições alcançando maioria de parlamentares eleitos colocando Adolf Hitler em posição política influente a ponto de ser nomeado chanceler. Com o objetivo de expandir seu território e ter de volta regiões que lhe foram tiradas pelo Tratado de Versalhes, o governo Alemão, desafiando as medidas estabelecidas no mesmo, volta a produzir armamentos e a aumentar sua força militar. Em 1935, a Itália dá início ao seu processo de expansão, anexando a Etiópia e logo depois a Albânia. Na Alemanha, esse processo começa em 1938 quando anexam a Áustria e a Tchecoslováquia. 16 DW. A Segunda Guerra em Números. https://www.dw.com/pt-br/a-segunda-guerra-mundial-em-n%C3%BAmeros/a-50212146. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 25 * Itália e Alemanha já haviam assinado um acordo de apoio mútuo, em 1936, chamado de Eixo Roma- Berlim. Posteriormente – 04 anos depois – o Japão adere ao mesmo acordo. Nações como a França e a Inglaterra só interviram nas ações desses países, quando em 1939, após ter assinado um pacto de não agressão com a União Soviética – Pacto Ribbentrop-Molotov – a Alemanha invade a Polônia, que deveria ter seu território dividido pelo mesmo acordo. Dois dias após a invasão, França e Grã-Bretanha, seguindo um acordo de intervenção que haviam assinado com a Polônia nocaso de invasão deste país, declararam guerra à Alemanha. A Segunda Guerra Mundial reuniu nações de grande parte do mundo, divididas em dois blocos, o Eixo, liderado pela Alemanha, Itália e Japão, e os Aliados, liderados principalmente pelos Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética. A Guerra Invasão da França e URSS Sob o comando do general Erich Von Manstein, a Alemanha inaugura uma nova forma de guerra. Conhecida como Blitzkrieg – guerra relâmpago – ela consistia em destruir o inimigo através do ataque rápido e surpresa. Usando essa tática, em abril de 1940, o exército alemão invade e ocupa a Dinamarca e a Noruega. Um mês depois Luxemburgo, Holanda e Bélgica, países até então neutros também foram invadidos. O próximo destino alemão foi atacar a fronteira da França, que pega de surpresa não conseguiu se defender deixando o exército alemão se aproximar de Paris. No dia 14 de julho de 1940 a capital francesa é dominada, forçando o governo francês a se transferir para o interior do país, onde posteriormente se rendeu. No acordo de rendição, metade do território da França passava a pertencer a Alemanha, a outra metade ficaria com os franceses, desde que as autoridades locais colaborassem com os alemães. Em 1941, sem nenhum aviso, o exército alemão, invade a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), atacando durante três meses, três regiões diferentes – Leningrado, Moscou e Stalingrado –. Sabendo da força do exército, a posição tomada pela URSS foi de recuar. Contudo, Hitler subestimou as forças soviéticas, e ordenou um ataque a Moscou e Leningrado, onde assistiu a sua tática de guerra falhar. Além dos soviéticos terem se defendido bem, os alemães se viram enfrentando o rigoroso inverno Russo. Quando finalmente conseguiram chegar a Stalingrado, a batalha aconteceu nas próprias ruas, onde com 285 mil soldados a Alemanha se vê cercada por forças soviéticas. Apenas em janeiro de 1943 é que, depois de vários meses de guerra, os sobreviventes alemães se rendem à força da URSS. Esse fato marca o fim da fase próspera vivida pelo Eixo. Guerra no Pacífico e Entrada dos Estados Unidos Apesar do Japão estar aliado ao Eixo, ele permaneceu fora do conflito direto nos primeiros anos da guerra. Até o ano de 1941 sua estratégia era pressionar os Estados Unidos para que este reconhecesse sua superioridade no continente Asiático. Quando perceberam que o governo estadunidense não atenderia às suas exigências, o governo japonês ordenou um ataque surpresa à base norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí em dezembro de 1941. Após o ataque, os Estados Unidos entram na guerra em favor aos Aliados. Por sua vez, os japoneses conseguiram conquistar diversas regiões da Ásia, onde conseguiram o domínio de matérias-primas importantes, como o petróleo, borracha e minério. DICA: Atualmente partidos com tendência à extrema direita estão ganhando espaço em vários países do mundo. Fique de olho em questões que possam fazer paralelos aos movimentos fascistas desse período. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 26 Em junho de 1942, os Estados Unidos conseguem vencer a força japonesa no pacífico. Essa batalha ganhou o nome de “Batalha de Midway” Fim da Guerra Após a derrota dos japoneses no pacífico, as forças inglesas e estadunidenses conseguiram expulsar o exército alemão do norte da África. No ano seguinte, em 1943, os Aliados conseguiram chegar no sul da Itália e enquanto isso, o exército soviético (Exército Vermelho) dava início a invasão da Alemanha. Em 1944, na Itália, Mussolini é fuzilado por guerrilheiros Antifascistas. No mesmo ano, no dia 6 de junho, que ficaria conhecido como o “Dia D”, as forças inglesas e estadunidenses, conseguem chegar no norte da França, região da Normandia e em agosto, os Aliados conseguem entrar em Paris. A partir desse momento, o final da guerra para os alemães era apenas uma questão de tempo. No dia 30 de abril de 1945, Hitler, com sua mulher Eva Braun, se suicidam na capital da Alemanha. Após a sua morte, os soviéticos conseguem chegar a Berlim, onde finalmente o exército alemão, junto com seus comandantes, assinam a rendição. Apesar da guerra ter acabado na Europa, o Japão se recusou a render-se. Para forçar sua saída, no dia 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos ordenam o lançamento de uma bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima, em que em questão de segundos mais de 80 mil pessoas foram mortas. Mesmo após o ataque o Japão não concordou em assinar a rendição. Com isso, três dias depois, outra bomba atômica é lançada agora sobre a cidade de Nagasaki, matando mais de 40 mil pessoas. Depois do segundo ataque, o governo japonês concorda em assinar a rendição. Participação do Brasil na Segunda Guerra17 Neutralidade Brasileira na Primeira Fase da Guerra Desde 1939 o início do conflito o Brasil assumiu uma posição neutra na Segunda Guerra Mundial, embora o presidente no período, Getúlio Vargas mantivesse preferências ao lado do Eixo. Ataques nazistas e entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial Esta posição de neutralidade acabou em 1942 quando algumas embarcações brasileiras foram atingidas e afundadas por submarinos alemães no Oceano Atlântico. A partir deste momento, Vargas fez um acordo com Roosevelt (presidente dos Estados Unidos) e o Brasil entrou na guerra ao lado dos Aliados. Era importante para os Aliados que o Brasil ficasse ao lado deles em função da posição geográfica estratégica de nosso país e de seu vasto litoral. Participação efetiva no conflito O Brasil enviou para a Itália (ocupada pelas forças nazistas) em julho de 1944, 25 mil militares da FEB (Força Expedicionária Brasileira), além de 42 pilotos e 400 homens de apoio da FAB (Força Aérea Brasileira). Vitórias Os militares brasileiros da FEB - pracinhas - conseguiram ao lado de soldados aliados importantes vitórias. Após duras batalhas, os militares brasileiros ajudaram na tomada de Monte Castelo, Turim, Montese e outras cidades. Outras Formas de Participação Além de enviar tropas para as áreas de combate na Itália, o Brasil participou de outras formas. Vale lembrar que o Brasil forneceu matérias-primas, principalmente borracha, para os países das forças aliadas. O Brasil também cedeu bases militares aéreas e navais. A principal foi a base militar da cidade de Natal (RN) que serviu de local de abastecimento para os aviões dos Estados Unidos. Foi importante também a participação da marinha brasileira, que realizou o patrulhamento e a proteção do litoral nacional, fazendo também a escolta de navios mercantes brasileiros para garantir a proteção contra ataques de submarinos alemães. 17 O Brasil na Segunda Guerra Mundial. Sua Pesquisa. https://bit.ly/2Og74Gs Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 27 Conferências Conferência do Cairo Em novembro de 1943 encontraram-se na capital do Egito, Winston Churchill (primeiro-ministro inglês), Franklin Delano Roosevelt (presidente dos Estados Unidos) e Chiang Kai-chek (presidente da China). O objetivo da reunião era discutir o mapa da Ásia após a vitória sobre o Japão. Nessa reunião ficou decidido que a China receberia os territórios tomados pelo Japão durante a guerra sino-japonesa. Os demais países conquistados pelo Japão durante o conflito retomariam sua independência. Conferência de Teerã Em dezembro de 1943, na capital do Irã, Roosevelt e Churchill encontraram-se com o presidente da União Soviética, Josef Stalin. Com a entrada dos soviéticos no conflito, a derrota da Itália e o enfraquecimento da Alemanha, os três líderes discutiram a abertura de uma nova frente de batalha na Europa Ocidental para derrotar de vez os nazistas. O local escolhido foi a Normandia, no norte da França, onde desembarcaram as tropas Aliadas no episódio que ficou conhecido como Dia D.Foi formulada a proposta de criação de um organismo internacional para preservar a paz. Decidiu-se a divisão da Alemanha em zonas de influência. Estônia, Letônia e Lituânia, além do leste da Polônia, foram considerados áreas anexadas ao território soviético pelos EUA e Inglaterra. Conferência de Ialta Em fevereiro de 1945, Stalin, Churchill e Roosevelt voltaram a se encontrar no balneário de Ialta, na União Soviética. Durante o encontro houve a confirmação do desmembramento da Alemanha, após o término da guerra, e sua submissão a um Conselho de Controle Aliado, composto por EUA, França, Inglaterra e União Soviética. O leste da Polônia ficou sob controle da União soviética, assim como o arquipélago das Curilas, o sul da Ilha Sacalina e Porto Arthur. A Coréia foi dividida em duas zonas de influência, ficando o norte controlado pela União Soviética e o Sul pelos Estados Unidos (A separação permanece até hoje com a Coréia do Norte e Coréia do Sul) A Iugoslávia, que já possuía influência soviética, teve o governo do marechal Tito legitimado. Conferência de Potsdam Após a derrota alemã, realizou-se um novo encontro em Potsdam, na Alemanha. Clement Attlee (novo primeiro-ministro da Inglaterra), Harry Truman (presidente dos Estados Unidos após o falecimento de Roosevelt) e Stalin reuniram-se entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945 para confirmar as decisões tomadas em Ialta. Com relação à Alemanha, decidiu-se pelo fim do nazismo, a criação de um tribunal para que fossem julgados os crimes de guerra (Tribunal de Nuremberg), a divisão do território alemão em quatro zonas de influência, a entrega de Dantzig para a Polônia e a divisão da Prússia Oriental entre Polônia e União Soviética. A Alemanha ainda deveria pagar uma indenização de 20 bilhões de dólares para a União Soviética, França, Inglaterra e Estados Unidos. Consequências da Guerra Após a guerra, os Estados Unidos e a URSS saíram como grandes potências mundiais. As ideias antagônicas desses países acabaram por dividir o mundo: de um lado estava o capitalismo e do outro o socialismo. A partir dessa divisão, um conflito entre essas grandes potências se instaurou e começou a chamada Guerra Fria. Criação da Organizações das Nações Unidas Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 28 Em fevereiro de 1945, após uma das conferências de paz, ficou decido a criação de um órgão que tentaria unir as nações, estabelecendo relações amistosas entre os países. A Carta das Nações Unidas foi inicialmente assinada por cinquenta países, onde foram excluídos de participar os países que participaram do Eixo. A criação da ONU foi a segunda tentativa de promover a paz, a primeira tentativa que fracassou foi a formação da Liga das Nações, criada após a Primeira guerra. Holocausto O Holocausto foi uma prática de perseguição política, étnica, religiosa e sexual estabelecida durante o governo de Adolf Hitler. Segundo as ideias do nazismo, a Alemanha deveria ser composta apenas por indivíduos superiores. Segundo essa mesma ideia, o povo legitimamente alemão era descendente dos arianos, um antigo povo que – segundo os etnólogos europeus do século XIX – tinham pele branca e deram origem à civilização europeia. Para que a supremacia racial ariana fosse conquistada pelo povo alemão, o governo de Hitler passou a pregar o ódio contra aqueles que impediam a pureza racial dentro do território alemão. Segundo o discurso nazista, os maiores culpados por impedirem esse processo de eugenia étnica eram os ciganos e – principalmente – os judeus. Com isso, Hitler passou a perseguir e forçar o isolamento em guetos do povo judeu da Alemanha. Dado o início da Segunda Guerra, o governo nazista criou campos de concentração onde os judeus e ciganos eram forçados a viver e trabalhar. Nos campos, os concentrados eram obrigados a trabalhar nas indústrias vitais para a sustentação da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Além disso, os ocupantes dos campos viviam em condições insalubres, tinham péssima alimentação, sofriam torturas e eram utilizados como cobaias em experimentos científicos. Com o fim dos conflitos da 2ª Guerra e a derrota alemã, muitos oficiais do exército alemão decidiram assassinar os concentrados. Tal medida seria tomada com o intuito de acobertar todas as atrocidades praticadas nos vários campos de concentração espalhados pela Europa. Porém, as tropas francesas, britânicas e norte-americanas conseguiram expor a carnificina promovida pelos nazistas alemães. Depois de renderem os exércitos alemães, seus principais líderes foram julgados por um tribunal internacional criado na cidade alemã de Nuremberg. Com o fim do julgamento, muitos deles foram condenados à morte sob a alegação de praticarem crimes de guerra. Hoje em dia, muitas obras, museus e instituições são mantidos com o objetivo de lutarem contra a propagação do nazismo ou ódio racial. As Transformações da Condição Feminina depois da 2ª Guerra Mundial Em 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia pelos alemães, a Segunda Guerra Mundial foi oficialmente declarada, e novamente as mulheres foram convocadas a trabalhar. A experiência da Primeira Guerra foi aproveitada e intensificada, e, já em 1940, o número de mulheres empregadas nas fábricas atingiu a capacidade máxima. A quantidade de órgãos militares praticamente dobrou e, em todos os cantos do mundo, elas apareceram como soldadoras, enfermeiras, pilotos de aviões, motoristas, secretárias, datilógrafas, etc.18 As funções femininas eram específicas em cada país. Na maioria dos países aliados, as mulheres eram convocadas para todas as frentes de trabalho, desde o setor industrial até os exércitos. Já a Alemanha, manteve por muito tempo centros onde as mulheres serviam como “reprodutoras e perpetuadoras da raça pura” – os lebensborn. Apesar das diferenças, todos eles tinham algo em comum: as mulheres não tinham a permissão para atuar na linha de frente, como combatentes. Entretanto, na URSS aconteceu o contrário e houve registros de mulheres combatentes desde o século XIX. A franco-atiradora Lyudmila Pavlichenko e Marina Raskova, pilotos bombardeiros, são sempre lembradas quando se fala da participação de mulheres na Segunda Guerra Mundial. Raskova também liderou um dos esquadrões de bombardeio noturno, apelidado pelos alemães de Bruxas da Noite, tamanha a destreza dos pilotos nos ataques aéreos. Muitas foram condecoradas como heroínas de guerra. No Brasil, a participação das mulheres se deu por meio do envio de 73 enfermeiras para ajudar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), em missão na Itália. Com o fim da Guerra em 1945, as mulheres retornaram mais uma vez, ao ambiente doméstico. A maioria dos órgãos militares, exclusivamente femininos, voltou a surgir somente no final do século XX. 18 http://pre.univesp.br/as-mulheres-na-guerra#.WKbyUW8rKM8. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 29 Questões 01. (Prefeitura de Salvador/BA – Professor – FGV/2019) Considerando a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), assinale a afirmativa correta. (A) Ficou restrita ao monitoramento do espaço marítimo do Atlântico Sul pela FAB. (B) Foi provocada pela retaliação ao alinhamento brasileiro aos países do Eixo. (C) Foi o resultado da reavaliação político-ideológica do governo brasileiro, previamente alinhado às potências do Eixo. (D) Foi motivada por uma represália ao rompimento de relações diplomáticas do Brasil com os países da Aliança Ocidental. (E) Foi fundamental para a obtenção do assento permanente na Organização das Nações Unidas (ONU), no pós-Guerra. 02. (TJ/MG – Titular de Serviços de Notas e Registros – CONSULPLAN – 2019) A Segunda Guerra Mundial foi o maior conflito da história da humanidade, e envolveu diversos países em quatro continentes. Os participantes se aliaram em doisgrupos, sendo eles os Aliados e os Países do Eixo. Marque a alternativa na qual estão relacionados os Países do Eixo. (A) Alemanha, Itália e Japão. (B) Inglaterra, EUA e Polônia. (C) Alemanha, URSS e Hungria. (D) França, Inglaterra, EUA e URSS. 03. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE – 2018) A Segunda Guerra Mundial, na verdade, trouxe soluções, pelo menos por décadas. Os impressionantes problemas sociais e econômicos do capitalismo na Era da Catástrofe aparentemente sumiram. A economia do mundo ocidental entrou em sua Era de Ouro; a democracia política ocidental, apoiada por uma extraordinária melhora na vida material, ficou estável; baniu-se a guerra para o terceiro mundo. Por outro lado, até mesmo a revolução pareceu ter encontrado seu caminho para a frente. Os velhos impérios coloniais desapareceram ou logo estariam destinados a desaparecer. Eric Hobsbawn. Era dos extremos: o breve século XX. Cia das Letras: São Paulo, 2005, p. 59 Tendo como referência inicial o texto precedente, julgue (C ou E) o seguinte item, relativo às causas e aos desdobramentos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Para a Itália, a derrota na Primeira Guerra Mundial e a sua instabilidade política na década de 20 foram motivos decisivos para a adoção do fascismo após a crise de 1929. (A) Certo (B) Errado 04. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE – 2018) Considerando a célebre frase de Karl Clausewitz: “A guerra é a continuação da política por outros meios”, julgue (C ou E) o item a seguir, a respeito da participação brasileira no Teatro da Guerra ao longo de sua história. Os preparativos para a participação das tropas brasileiras na Segunda Guerra Mundial restringiram-se à formação dos combatentes e aos contratos de fornecimento de material bélico por parte dos Estados Unidos da América. (A) Certo (B) Errado 05. (SJC/SC – Agente de Segurança Socioeducativo – FEPESE) Analise o texto abaixo: “A internacionalização dos direitos humanos constitui, assim, movimento extremamente recente na história, que surgiu a partir do pós-guerra, como resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo. […] No momento em que os seres humanos se tornam supérfluos e descartáveis, no momento em que vige a lógica da destruição, em que cruelmente se abole o valor da pessoa humana, torna-se necessária a reconstrução dos direitos humanos, como paradigma ético capaz de restaurar a lógica do razoável. […] Diante dessa ruptura, emerge a necessidade de reconstruir os direitos humanos, como referencial e paradigma ético que aproxime o direito da moral.” PIOVESAN, 2013, p. 190 Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 30 O texto de Flávia Piovesan se refere ao processo de internacionalização dos direitos humanos no cenário global e sua reconstrução a partir do final da: (A) Guerra Fria. (B) Revolução Francesa. (C) Revolução Americana. (D) Primeira Guerra Mundial. (E) Segunda Guerra Mundial. Gabarito 01.C / 02.A / 03.B / 04.B / 05.E Comentários 01. Resposta: C A posição de neutralidade do Brasil acabou em 1942 quando algumas embarcações nacionais foram atingidas e afundadas por submarinos alemães no Oceano Atlântico. A partir deste momento, Getúlio Vargas fez um acordo com o presidente dos Estados Unidos e o Brasil entrou na guerra ao lado dos Aliados. 02. Resposta: A As Potências do Eixo, também conhecidas como Aliança do Eixo, Nações do Eixo ou apenas Eixo, eram a Alemanha, Itália e posteriormente Japão. 03. Resposta: B Durante o período da Primeira Guerra Mundial a Itália, apesar de iniciar o conflito ao lado da Aliança, terminou o conflito no lado vencedor (mudou de lado). A opção pelo regime Fascista ocorreu antes da eclosão da Crise de 1929 (1922 com a chegada de Mussolini a poder). 04. Resposta: B O Brasil enviou para a Itália (ocupada pelas forças nazistas) em julho de 1944, 25 mil militares da FEB (Força Expedicionária Brasileira), além de 42 pilotos e 400 homens de apoio da FAB (Força Aérea Brasileira). As dificuldades foram muitas, pois o clima era muito frio na região dos Montes Apeninos, além do que os soldados brasileiros não eram acostumados com relevo montanhoso. 05. Resposta: E O período diretamente posterior à Segunda Guerra Mundial ficou marcado pela preocupação da humanidade com o valor vida, em especial, após atrocidades e barbáries das guerras mundiais. A partir desse momento, houve aprofundamento e a definitiva internacionalização do Direitos Humanos, envolvendo direitos individuais, direitos civil e política, direitos de conteúdo econômico e social. BIPOLARIZAÇÃO DO MUNDO E GUERRA FRIA Guerra Fria O período conhecido como Guerra Fria teve início logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, percorrendo praticamente todo o restante do século XX, e terminando em 1991, com o fim da União Soviética. Ela tem início partir da emergência de duas grandes potências econômicas no fim da Segunda Guerra Mundial: Estados Unidos e União Soviética, defensores do Capitalismo e do Socialismo, respectivamente. A diferença ideológica entre os dois países era marcante, o que levou o período a ser conhecido também como Mundo Bipolar. A Conferência de Potsdam Logo após o término da guerra, em 1945, as nações vencedoras do conflito reuniram-se para decidir sobre os rumos da política e da economia mundial. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 31 No dia 17 de julho os Estados Unidos, a União Soviética e o Reino Unido estabeleceram as definições sobre a Alemanha no pós-guerra, dividindo-a em zonas de ocupação. Sob o controle soviético ficaram os territórios a leste dos rios Oder e Neisse. Berlim, encravada no território que viraria Alemanha Oriental, também foi dividida em quatro setores. Ao final da conferencia foram definidas quatro ações prioritárias a serem exercidas na Alemanha: desnazificar, desmilitarizar, descentralizar a economia e reeducar os alemães para a democracia. Também foi exigida a rendição imediata do Japão. As Tensões Começam Desde a Revolução Russa, em 1917, vários setores do capitalismo, especialmente nos Estados Unidos, temiam o aumento do socialismo, conflitante com seus interesses. Após o fim da Segunda Guerra essa preocupação aumentou ainda mais, já que a União Soviética havia saído como uma das vencedoras do conflito. A definição de fronteiras estabelecidas durante acordos anteriores, como a conferencia de Yalta não agradou a todos, e focos de conflitos começaram a aflorar. Em 1947 surgiram, tanto na Grécia quanto na Turquia, movimentos revolucionários de caráter comunista, com o objetivo de aliar esses países à União Soviética. Pelo acordo estabelecido na Conferência de Yalta, ambos os países deveriam ficar sob o domínio do Reino Unido, o que levou as tropas estadunidenses a intervirem na região e sufocar os movimentos revolucionários. Como parte da justificativa para a invasão, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, enviou uma mensagem ao Congresso dizendo que os Estados Unidos deveriam apoiar os países livres que estavam “resistindo a tentativas de subjugação por minorias armadas ou por pressões externas.” Com esse discurso o presidente pretendia justificar também qualquer intervenção em países que estivessem sob o domínio ou influência política comunista. Essa atitude do presidente ficou conhecida como Doutrina Truman, iniciando efetivamente a Guerra Fria. A partir de então, Estados Unidos e União Soviética passaram a buscar o fortalecimento econômico, político, ideológico e militar, formando os dois blocos econômicos que dominaram o mundo durante restante do conflito. A oposição dos Estados Unidos ao comunismo gerou um pensamento maniqueísta, colocando capitalismo como algo bom e o comunismo como algo ruim e mau. A análise desses sistemas econômicos através de definições tão simples é algo equivocado,pois não é possível reduzi-los a uma comparação tão rasa. O auge desse maniqueísmo político se deu através da figura do senador Joseph Raymond McCarthy. Por meio de discursos inflamados e diversos projetos de lei, esse estadista conseguiu aprovar a formação de comitês e leis que determinavam o controle e a imposição de penalidades contra aqueles que tivessem algum envolvimento com “atividades antiamericanas”. Essa perseguição ao comunistas ficou conhecida como Macarthismo. Incentivos Econômicos Em 1947 os Estados Unidos lançaram uma política econômica de reconstrução da Europa, devastada pela guerra. O Programa de Recuperação Europeia ficou popularmente conhecido como Plano Marshall. Recebeu esse nome em função do Secretário de Estado dos Estados Unidos chamado George Marshall, seu idealizador. Entre os objetivos do Plano Marshall estavam: - Possibilitar a reconstrução material dos países capitalistas destruídos na Segunda Guerra Mundial; - Recuperar e reorganizar a economia dos países capitalistas, aumentando o vínculo deles com os Estados Unidos, principalmente através das relações comerciais; - Fazer frente aos avanços do socialismo presente, principalmente, no leste europeu. Até o início da década de 1950, os Estados Unidos destinaram cerca de 13 bilhões de dólares aos países que aderiram ao plano. O dinheiro foi aplicado em assistência técnica e econômica e, ao fim do período de investimento, os países participantes viram suas economias crescerem muito mais do que os índices registrados antes da Segunda Guerra Mundial. A Europa Ocidental gozou de prosperidade e crescimento nas duas décadas seguintes e viu nascer a integração que hoje a caracteriza. Por outro lado, os Estados Unidos solidificavam sua hegemonia mundial e a influência sobre vários países europeus, enquanto impunha seus princípios a vários países de outros continentes. Entre os países que mais receberam auxílio do plano estão a França, a Inglaterra e a Alemanha. A União Soviética também buscou recuperar a economia dos países participantes do bloco socialista, através da COMECON (Conselho de Assistência Econômica Mútua) auxiliando a Polônia, Bulgária, Hungria, Romênia, Mongólia, Tchecoslováquia e Alemanha Oriental. Assim como os Estados Unidos, a União Soviética também utilizou o plano para espalhar sua influência e sua ideologia para os países beneficiados. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 32 Baseados nesses programas de ajuda, os dois blocos que se formavam passaram a construir alianças político-militares com o objetivo de proteção contra ataques inimigos. Essas alianças também eram utilizadas como demonstração de força através do desenvolvimento armamentista. As Alianças Militares No dia 4 de abril de 1949 foi criada em Washington a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), formada pelos Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha Ocidental, Canadá, Islândia, Bélgica, Holanda, Noruega, Dinamarca, Luxemburgo, Portugal, Itália, Grécia e Turquia. Ficava então estabelecido que os países envolvidos se comprometiam na colaboração militar mútua em caso de ataques oriundos dos países referentes ao bloco socialista. A atuação da OTAN não ficou restrita apenas ao campo militar. Embora fosse seu preceito inicial, a organização tomou dimensões de interferência nas relações econômicas e comerciais dos países envolvidos. Bandeira da OTAN Como resposta à criação da OTAN, em 1955 o bloco soviético também criou uma aliança militar, o Pacto de Varsóvia, celebrado entre a União Soviética, Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria, Polônia, Romênia e Alemanha Oriental. A atuação do Pacto de Varsóvia se deu no âmbito militar e no econômico, e manteve a ligação entre os países membros. As principais ações do Pacto de Varsóvia se deram na repressão das revoltas internas. Foi o caso no ano de 1956 quando as forças militares do grupo reprimiram ações de revoltosos na Hungria e na Polônia e também em 1968 no evento conhecido como Primavera de Praga, ocorrido na Tchecoslováquia. Conflitos Com a criação das alianças políticas, tanto Estados Unidos como União Soviética estiveram presentes em diversos conflitos pelo mundo, fosse com a presença militar ou com o apoio econômico. Apesar disso, os países nunca enfrentaram um ao outro diretamente. Guerra da Coréia (1950-1953) Após o termino da Segunda Guerra, a Coréia foi dividida em duas zonas de influência: o Sul foi ocupado pelos Estados Unidos e o Norte foi ocupado pela União Soviética, sendo divididos pelo Paralelo 38º, determinado pela conferência de Potsdam Em 1947, na tentativa de unificar a Coréia, a Organização das Nações Unidas – ONU - cria um grupo não autorizado pela URSS, para pretensamente ordenar a nação através da realização de eleições em todo o país. Esta iniciativa não tem êxito e, no dia 9 de setembro de 1948, a zona soviética anuncia sua independência como República Democrática Popular da Coréia, mais conhecida como Coréia do Norte. A partir de então, a região é dividida em dois países diferentes - o norte socialista, apoiado pelos soviéticos; e o sul, reconhecido e patrocinado pelos EUA. Mesmo após a divisão entre os dois países, a região da fronteira continuou gerando tensões, com tentativas dos dois lados para garantir a soberania sobre o território vizinho, principalmente através da propaganda, de ambos os lados. Em 25 de junho de 1950 a Coreia do Norte alegou uma transgressão do paralelo 38º pela Coreia do Sul. A partir de então começa uma invasão que resulta na tomada da capital sul-coreana, Seul, em 3 de julho do mesmo ano. A ONU não aceitou a invasão propagada pela Coreia do Norte e enviou tropas para conter o avanço, comandadas pelo general americano Douglas MacArthur, para expulsar os socialistas, que pretendiam Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 33 unificar o país sob a bandeira do Comunismo. A união Soviética não agiu diretamente no conflito, porém, cedeu apoio militar para a Coreia do Norte. Em setembro de 1950, as forças das Nações Unidas tentam resgatar o litoral da região oeste, sob o domínio dos norte-coreanos, atingindo sem muitas dificuldades Inchon, próximo a Seul, onde se desenrola uma das principais batalhas, e depois de poucas horas elas ingressam na cidade invadida, com cerca de cento e quarenta mil soldados, contra setenta mil soldados da Coréia do Norte. O resultado é inevitável, vencem as forças sob o comando dos EUA. Com o domínio do Sul, as tropas multinacionais seguem o exemplo dos norte-coreanos e também atravessam o Paralelo 38º. Seguem então na direção da Coréia do Norte, entrando logo depois em sua capital, Pyongyang, ameaçando a fronteira chinesa ao acuar os norte-coreanos no Rio Yalu, sede de intensa batalha. Com medo do avanço das tropas sobre seu território, a China resolve entrar na batalha, enviando trezentos mil soldados para auxiliar a Coreia do Norte, forçando o general MacArthur a recuar e conquistando Seul em janeiro de 1951. Em contrapartida, as tropas americanas avançaram novamente entre fevereiro e março, expulsando as tropas coreanas e chinesas e obrigando-as a retornar para os limites estabelecidos pelo Paralelo 38º, deixando os conflitos equilibrados entre os dois lados. A guerra continua até meados de 1953, quando em 27 de julho o tratado de paz é assinado, com o Armistício de Panmunjon. Após o tratado, as fronteiras estabelecidas em 1948 foram mantidas e foi criada uma região desmilitarizada entre as duas Coreias. Apesar do fim da guerra as tensões entre os dois países continua até a atualidade, com a corrida armamentista e as declarações da Coreia do Norte sobre a fabricação e armazenamento de armamento nuclear. Guerra do Vietnã (1959-1975) O Vietnã está localizado na península da Indochina. Era uma possessão colonial francesa. Na Segunda Guerra foi invadidopelos japoneses. Os vietnamitas expulsaram o Japão ao fim da guerra e teve início o processo independência (chamado pelos franceses de descolonização). Ao norte as tropas que expulsaram os franceses eram tropas lideradas por líderes socialistas. Em 1954, na Convenção de Genebra, foi reconhecida a independência dos países da península da Indochina: Laos, Camboja e Vietnã. Foi estabelecida então a divisão do Vietnã pelo Paralelo 17º. O Vietnã do Norte manteve-se governado pelo líder comunista Ho Chi Minh e o Vietnã do Sul, governado pelo rei Bao Dai, que nomeou Ngo Dinh Diem como Primeiro-ministro. Em 1955, Ngo Dinh Diem, aplicou um golpe de Estado e depôs o rei Bao Dai. Após a chegada ao poder, Ngo Dihn Diem proclamou a República, recebendo apoio dos Estados Unidos. O governo de Ngo Dihn Diem foi marcado pelo autoritarismo e pela impopularidade. Em 1956 o presidente suspendeu as eleições estabelecidas pela conferência de Genebra, repetindo o ato em 1960. Em oposição ao governo foi criada a Frente de Libertação Nacional, que tinha como objetivo depor o presidente e unificar o Vietnã. A Frente de Libertação, possuía um exército guerrilheiro, o Vietcongue. Após o cancelamento das eleições em 1960, o conflito teve início. O exército Vietcongue teve apoio do Vietnã do Norte e em 1961 os Estados Unidos enviaram auxilio ao presidente do Vietnã do Sul. O exército guerrilheiro dominou boa parte dos territórios do Sul até 1963, mesmo ano em que morreu o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, e o governo foi assumido por seu vice, Lyndon Johnson. Em 1964, dois comandantes estadunidenses iniciaram o bombardeio do Vietnã do Norte, sob a alegação de que o país havia atacados dois navios norte-americanos em Tonquim. Os bombardeios norte-americanos sobre o Norte prolongaram-se até 1968, quando foram suspensos com o início das conversações de paz, em Paris, entre norte-americanos e norte-vietnamitas. Como nos encontros de Paris não se chegou a uma solução, os combates prosseguiram. Em 1970, o presidente dos EUA, Richard Nixon, autorizou a invasão do Camboja e, em 1971, tropas sul-vietnamitas e norte- americanas invadiram o Laos. Os bombardeios sobre o Vietnã do Norte por aviões dos EUA recomeçaram em 1972. Desde 1968, a opinião pública norte-americana, perplexa diante dos horrores produzidos pela guerra, colocava-se contrária à permanência dos EUA no conflito, exercendo uma forte pressão sobre o governo, que iniciou a retirada gradual dos soldados. Em 1961, eram 184.300 soldados norte-americanos em combate; em 1965, esse número se elevou para 536.100 soldados; e, em 1971, o número caía para 156.800 soldados. Em 27 de janeiro de 1973 era assinado o Acordo de Paris, segundo o qual as tropas norte-americanas se retiravam do conflito; haveria a troca de prisioneiros de guerra e a realização de eleições no Vietnã do Sul. Com a retirada das tropas norte-americanas, os norte-vietnamitas e o Vietcongue deram início a urna fulminante ofensiva sobre o Sul, que resultou, em abril de 1975, na vitória do Norte. Em 1976, o Vietnã reunificava-se, adotando o regime comunista, sob influência soviética. Em 1975, os movimentos de resistência no Laos e no Camboja também tomaram o poder, adotando o regime Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 34 comunista, sob influência chinesa no caso do Camboja. Os soldados cambojanos, com apoio vietnamita, em 1979, derrubaram o governo pró-chinês do Khmer Vermelho. A guerra do Vietnã é considerada o conflito mais violento da segunda metade do século XX, com violações constantes dos direitos humanos e batalhas sangrentas. Durante todo o desenrolar da guerra, os meios de comunicação do mundo inteiro divulgaram a violência e intensidade do conflito, além de falarem sobre o mau desempenho dos americanos, que investiram bilhões de dólares e mesmo assim, não conseguiram derrotar o Vietnã. Foi nesta guerra que os helicópteros foram usados pela primeira vez. Entre as técnicas mais devastadoras utilizadas pelos Estados Unidos estavam o Agente Laranja e o Napalm. A característica de guerrilha do exército Vietcongue priorizava os ataques através de emboscadas, evitando o combate direto. Para facilitar a identificação dos guerrilheiros nas matas, os norte-americanos e sul-vietnamitas utilizaram o Agente Laranja, um desfolhante (produto químico que causa a queda das folhas, normalmente utilizado como agrotóxico) lançando-o através de aviões, o que impedia que os soldados se escondessem na mata. Calcula-se que tenham sido lançados 45,6 milhões de litros do produto durante os anos 60, atingindo vinte e seis mil aldeias e cobrindo dez por cento do território do Vietnã. O Agente Laranja causa sérios danos ao meio ambiente e à população, e seus efeitos, como degradação do solo e mutações genéticas são sentidos até hoje. Outro agente químico utilizado na guerra, foi o Napalm, que é um conjunto de líquidos inflamáveis à base de gasolina gelificada, tendo o nome vindo de seus componentes: sais de alumínio co-precipitados dos ácidos nafténico e palmítico. O napalm foi usado em lança-chamas e bombas incendiárias pelos Estados Unidos, vitimando alvos militares e cidades e vilarejos de civis posteriormente. Conflitos Árabes-Israelenses (1948-1974) Desde a criação de Israel, em 1948, por diversas ocasiões o estado judeu entrou em guerra com seus vizinhos árabes. As diferenças entre esses grupos continuam no século XXI. A parte do Oriente Médio conhecida como Palestina era a antiga terra do povo judeu. No século I d.C., os romanos expulsaram grande parte dos judeus da região, espalhando-os por outras partes do império. Os muçulmanos tomaram posse da Palestina no século VII. De 1923 a 1948, a região foi dominada pelos britânicos, e nesse período muitos judeus emigraram de volta da Europa para lá. Tanto os árabes como os judeus que viviam na Palestina passaram a disputar o controle do território. Quando os britânicos deixaram a região, as Nações Unidas (ONU) dividiram a região. Cada um dos dois povos recebeu uma parte da terra, mas os árabes não concordaram com a partilha, dizendo que os judeus receberam terras que pertenciam a eles. Em 14 de maio de 1948, com a criação de Israel, os palestinos e os países árabes vizinhos declararam guerra a Israel. Forças árabes ocuparam partes da Palestina, mas quando acabou a guerra Israel ficou com mais terras do que tinha antes. Em janeiro de 1949, Israel e os países árabes assinaram acordos sobre as fronteiras. Contudo, não houve um tratado de paz. Os inúmeros palestinos que perderam suas casas foram acabar em campos de refugiados nos países árabes. Em meados de 1967, o conflito entre a Síria e Israel levou à Guerra dos Seis Dias. Israel viu que o Egito estava se preparando para entrar na guerra para ajudar a Síria. Em 5 de junho, os israelenses atacaram rapidamente a força aérea egípcia e destruíram-na quase por completo. Em apenas seis dias Israel ocupou a Cidade Velha de Jerusalém, a península do Sinai, a Faixa de Gaza, o território da Jordânia a oeste do rio Jordão (chamado Cisjordânia) e as colinas sírias de Golã, junto à fronteira de Israel. Em 6 de outubro de 1973, dia do Yom Kippur (ou Dia do Perdão), que é sagrado para os judeus, e época do ramadã, mês sagrado para os palestinos, o Egito e a Síria atacaram Israel. Nessa guerra, os israelenses empurraram ambos os exércitos inimigos de volta a seus territórios, mas sofreram pesadas perdas. Ao terminar a luta, no início de 1974, a ONU estabeleceu zonas neutras entre esses países e Israel. Em 26 de março de 1979, Israel e o Egito assinaram um tratado de paz. Contudo, a tensão entre Israel e as comunidades árabes continuou. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) atacou Israel em 1982, a partir de campos de refugiados no Líbano. Em 5 de junho de 19892, Israel contraatacou e invadiu esse país. Após meses de bombaredeios israeleses, foi negociadaa retirada da OLP da capital libanesa. As tropas israelenses permaneceram ali até 2000. No final da década de 1970, os israelenses começaram a construir assentamentos nas áreas ocupadas por eles na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Em 1987, o aumento no número desses assentamentos causou protestos dos palestinos. Estouraram rebeliões e ataques — conhecidos como intifada —, que continuaram até o início dos anos 1990. Em 1993, Israel concordou em ceder aos palestinos parte do Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 35 controle dos territórios ocupados. Em 2000, porém, começou nova intifada. Isso paralisou as conversações de paz entre Israel e os palestinos. A Questão Alemã e o Muro de Berlim Após a divisão alemã entre os vencedores da Segunda Guerra, os países capitalistas (Estados Unidos, França e Inglaterra) resolveram unificar suas zonas de ocupação e implantar uma reforma monetária, além de criar um Estado provisório sob seu controle. Para empresários e autônomos, a reforma era algo extremamente favorável. Com medo de que a população do lado oriental migrasse para a zona de domínio ocidental, Stalin bloqueou o lado ocidental de Berlim, deixando-o isolado. Para incorporar essa parte da cidade à Zona de Ocupação Soviética, Stalin mandou interditar todas as comunicações por terra. Vale lembrar que pela divisão de territórios em Potsdam, Berlim estava situada dentro do domínio soviético. Porém, a cidade também foi dividida, provocando isolamento da parte Ocidental por via terrestre. Isolado das zonas ocidentais e de Berlim Oriental, o oeste de Berlim ficou sem luz nem alimentos de 23 de junho de 1948 até 12 de maio de 1949. A população só sobreviveu graças a uma ponte aérea organizada pelos Aliados, que garantiu seu abastecimento. Em 23 de maio de 1949, os aliados criaram a República Federal da Alemanha (RFA). A URSS que ocupava a parte leste do país decidiu também por transformá-la em um país, e em outubro do mesmo ano foi fundada a República Democrática Alemã (RDA), com capital em Berlim Oriental. A RDA era baseada na política comunista e de economia planificada, dando prosseguimento à socialização da indústria e ao confisco de terras e de propriedades privadas. O Partido Socialista Unitário (SED) passou a ser a única força política na "democracia antifascista" alemã-oriental. Com a criação dos dois Estados alemães, a disputa entre EUA e URSS foi acirrada, manifestando de maneira intensa a disputa da Guerra Fria. Auxiliada pelo Plano Marshall, em alguns anos a Alemanha Ocidental alcançou um nível de prosperidade econômica elevada, garantida também pela estabilidade interna e pela integração à comunidade europeia que surgia no pós-guerra. A RFA também integrou a OTAN. A Alemanha Oriental integrou o pacto de Varsóvia, e apesar das despesas com a guerra e com a reconstrução do país, também alcançou desenvolvimento significativo entre os países socialistas. Apesar do avanço, com o passar do tempo as diferenças foram acentuando-se, e muitos alemães residentes na parte Oriental migravam para a parte ocidental, atraídos pela liberdade democrática e pelo estilo de vida. A situação ficou crítica no final dos anos 50, com as tentativas de unificação. A RFA não reconhecia a RDA como um país, e exigia a integração. Por outro lado, os soviéticos exigiam a saída das tropas norte- americanas de Berlim Ocidental. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 36 Entre 1949 a 1961, quase 3 milhões de pessoas fugiram da Alemanha comunista para os setores ocidentais de Berlim. Somente em julho de 1961, 30 mil pessoas escaparam. A ameaça de esvaziamento da Alemanha Oriental levou a URSS a construir uma barreira física no meio da cidade. Na manhã de 13 de agosto de 1961, soldados começaram a construir o Muro de Berlim, demarcando a linha divisória inicialmente com arame farpado, tanques e trincheiras. Nos meses seguintes, foi sendo erguido em concreto armado o muro que marcaria a vida da cidade até 1989. Ao longo dos anos, a fronteira transformou-se numa fortaleza. Como os soldados tivessem ordem de atirar para matar, muitos que tentaram atravessar acabaram morrendo. Foto de Conrad Schumann, soldado da Alemanha Oriental, em direção à Berlim Ocidental, saltando o muro que até então era uma cerca de arame farpado, em 15 de agosto de 1961 A divisão imposta pelo Muro de Berlim também separou muitas famílias, o que levou muitas pessoas a tentar atravessá-lo durante os 28 anos em que manteve-se de pé. Ao longo do tempo o muro foi sendo fortificado com paredes de concreto, alarmes, e torres de vigia, dificultando cada vez mais a fuga. Corrida Armamentista Apesar de não terem travado batalhas diretas, os líderes dos blocos econômicos gastaram massivamente na pesquisa, desenvolvimento e produção de armas. Assim que um novo armamento era apresentado por um país, o outro buscava desenvolver algo semelhante e, se possível, melhor. Essa busca pela superioridade bélica ficou conhecida como corrida armamentista, e preocupou muitos, pois a capacidade de destruição alcançada pelos armamentos poderia até mesmo destruir o planeta, caso usados com força total. O ponto de partida da corrida armamentista se deu com as bombas nucleares lançadas pelos Estados Unidos no Japão em 1945. Em 1949 a União Soviética também possuía a tecnologia para produzir tais bomba. A possibilidade de ataque nuclear por ambos os lados criaram a ideia de uma Hecatombe Nuclear, que aconteceria caso um dos países atacasse o outro, desencadeando uma guerra que terminaria por extinguir os seres humanos. Surgiu assim um jogo político-diplomático conhecido como "o equilíbrio do terror", que se transformou num dos elementos principais do jogo de poder entre EUA e URSS. Os dois buscavam produzir cada vez mais armamentos de destruição em massa, como forma de ameaçar o inimigo. A corrida armamentista implicava também uma estratégia de dominação, em que as alianças regionais e a instalação de bases militares eram de extrema importância. Os exércitos de ambos os lados possuíam centenas de soldados, armas convencionais, armas mortais, mísseis de todos os tipos, inclusive nucleares que estavam permanentemente apontados para o inimigo, com objetivo de atingir o alvo a partir de longas distâncias. Para se ter uma noção do poder destrutivo dos armamentos, em 1960 a União Soviética produziu a maior bomba nuclear de todos os tempos, a Tsar Bomba. Com um poder de detonação de 100 megatons a bomba era 3 mil vezes mais poderosa que a bomba lançada sobre Hiroshima em 1945, e era capaz de destruir tudo em um raio de 35 quilômetros da explosão. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 37 A necessidade de posicionar-se contra o inimigo deixou o mundo muito perto da Terceira Guerra Mundial em 1962, durante o episódio conhecido como Crise dos Mísseis de Cuba. Em 1961 os Estados Unidos haviam instalado uma base na Turquia, com capacidade de operação de armamentos nucleares. A atitude desagradou os soviéticos, devido à proximidade geográfica da Turquia e da URSS. Para revidar, a União Soviética decidiu instalar uma base de misseis em Cuba, sua aliada na América, que havia passado por uma revolução socialista em 1959, e estava localizada a aproximadamente 200 quilômetros da costa da Flórida, ao sul dos Estados Unidos. Desde a revolução socialista, os Estados Unidos tentavam derrubar o presidente da ilha, Fidel Castro. Em 1961, apoiados pela CIA, agência secreta americana, um grupos de 1400 refugiados cubanos tentou invadir a ilha pela baía dos Porcos, em um episódio desastroso que acabou com a morte de 112 pessoas e a prisão dos restantes. Buscando novas maneiras de depor o presidente, em 1962 os americanos sobrevoaram a ilha e descobriram que a União Soviética estava instalando também plataformas delançamento de armamentos nucleares. No dia 14 de agosto, o presidente americano, John Kennedy, anunciou para a população de seu país sobre o risco existente com a possibilidade de um ataque altamente destrutivo, encarando o fato como um ato de guerra. Do outro lado do Atlântico, o Primeiro Ministro soviético Nikita Kruschev alegou que a base com os mísseis resultavam apenas de uma ação defensiva e serviriam também para impedir um nova invasão dos Estados Unidos à Cuba. Durante treze dias de tensão, foram realizadas diversas negociações que acabaram por resultar na retirada dos misseis da Turquia e de Cuba. A tentativa de superioridade não esteve limitada ao campo bélico. Durante a Guerra Fria a disputa também foi travada fora do planeta. Durante a Segunda Guerra, os cientistas alemães desenvolveram a tecnologia de propulsão de foguetes, que foram utilizados para equipar as bombas V-1 e V-2. Após o termino da guerra, muitos dos cientistas que trabalharam no projeto de construção desses artefatos foram capturados por ambos os lados, que buscavam o domínio dessa tecnologia. Em 4 de outubro de 1957 a União Soviética lançou na órbita terrestre o satélite Sputnik I. Poucas semanas depois, em novembro, os soviéticos inovaram novamente e lançaram o primeiro ser vivo ao espaço, a cadela Laika, que morreu na volta. Como reação por parte dos Estados Unidos, em 1958 foi criada a National Aeronautics & Space Administration, NASA, que no mesmo ano lançou ao espaço o satélite Explorer 1. Buscando superar suas conquistas, a união Soviética saiu na frente novamente, lançando o primeiro ser humano em órbita terrestre. Em 12 de abril de 1961, durante uma hora e quarenta e oito minutos, o cosmonauta Iuri Gagarin percorreu 40 mil quilômetros ao redor da terra, a bordo da capsula espacial Vostok 1. Os Estados Unidos reagiram em 1962, ao enviar o astronauta John Glenn para o espaço. Após os lançamentos de seres humanos ao espaço, o objetivo foi enviar um ser humano para a lua. Os Estados Unidos investiram pesadamente no programa Apollo, que em 1968 enviou a primeira equipe de astronautas para a órbita lunar e, em 1969 realizou o primeiro pouso, com os astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin. A União Soviética não conseguiu acompanhar o passo dos Estados Unidos, e mudou seu foco para a exploração e pesquisa do ambiente espacial e da gravidade zero com a estação espacial Salyut, lançada em 19 de abril de 1971. Em resposta, os americanos lançaram, em maio de 1973, a Skylab. Em 1986, a URSS lançou a Mir, que já foi destruída. Durante a Guerra Fria, importantes projetos espaciais foram realizados. A sonda americana Voyager 1, lançada em 1977, foi a Júpiter e a Saturno e a Voyager 2, lançada no mesmo ano, visitou Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. As duas sondas encontram-se agora fora do sistema solar. O Telescópio Espacial Hubble, a nave Galileu, a Estação Espacial Internacional Alpha, a exploração de Marte e o Neat (Programas de Rastreamento de Asteroides Próximos da Terra) fazem parte dessa geração. Em 1978, a Agência Espacial Europeia entra na corrida espacial com os foguetes lançadores Ariane. A França passa a controlar sozinha o projeto Ariane em 1984 e, atualmente, detém cerca de 50% do mercado mundial de lançamento de satélites. Fim da Guerra Fria A disputa entre União Soviética e Estados Unidos durante a Guerra Fria sofreu uma desaceleração entre o fim dos anos 1970 e início de 1980. Durante esse período a União Soviética passou a enfrentar crises internas nos setores políticos e econômicos. O gasto com armamentos e pesquisas espaciais para Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 38 equiparar-se aos Estados Unidos foi enorme, e os dois países buscam firmar acordos para reduzir o poder bélico, e finalmente alcançar uma trégua. Internamente, o país passava por crises de abastecimento e revoltas sociais. Desde a morte de Stalin, em 1956, a URSS passou por pequenas reformas, porém manteve o perfil ditatorial, com controle sobre os meios de comunicação e da população. Os líderes que sucederam Stalin mantiveram o mesmo sistema, o que agravou a crise interna. Em 1985 o país colocou no poder o ultimo líder do Partido Comunista da União Soviética: Mikhail Gorbachev. Gorbachev defendia a ideia de que a URSS deveria passar por mudanças que a adequassem à realidade mundial. Durante a década de 1980 a União Soviética enfrentou momentos difíceis, como a invasão ao Afeganistão, que gerou altos gastos, e o acidente na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. Além disso, boa parte das commodities, matérias-primas exportadas pelo país, como petróleo e gás natural sofreram quedas nos preços. Buscando salvar o país de um colapso iminente, Gorbachev lançou dois planos: a Perestroika e o Glasnost. A Perestroika, Também chamada de reestruturação econômica, teve início em 1986, logo após a instalação do governo Gorbatchev. A Perestroika consistia em um projeto de reintrodução dos mecanismos de mercado, renovação do direito à propriedade privada em diferentes setores e retomada do crescimento. Ou seja, acabar com a economia planificada existente na União Soviética. A Economia planificada, também chamada de "economia centralizada" ou "economia centralmente planejada", é um sistema econômico no qual a produção é previa e racionalmente planejada por especialistas, na qual os meios de produção são propriedade do Estado e a atividade econômica é controlada por uma autoridade central. A perestroika tinha como objetivo acabar com os monopólios estatais, descentralizar as decisões empresariais e criar setores industriais, comerciais e de serviços em mãos de proprietários privados nacionais e estrangeiros. Apesar das mudanças, o Estado continuaria como principal proprietário, porém, permitindo a propriedade privada em setores secundários da produção de bens de consumo, comércio varejista e serviços não-essenciais. No setor agrícola foi permitido o arrendamento de terras estatais e cooperativas por grupos familiares e indivíduos. A retomada do crescimento é projetada por meio da conversão de indústrias militares em civis, voltadas para a produção de bens de consumo, e de investimentos estrangeiros. O Glasnost, Também chamado de transparência política, surgiu juntamente com a perestroika, e foi considerado essencial para mudar a mentalidade social, liquidar a burocracia e criar uma vontade política nacional de realizar as reformas. Entre as medidas mais importantes estavam o fim da censura, da perseguição e da proibição de determinados assuntos. Foi marcada simbolicamente pelo retorno do exílio do físico Andrei Sakharov, em 1986, e incluiu campanhas contra a corrupção e a ineficiência administrativa, realizadas com a intervenção ativa dos meios de comunicação e a crescente participação da população. Avança ainda na liberalização cultural, com a liberação de obras proibidas, a permissão para a publicação de uma nova safra de obras literárias críticas ao regime e a liberdade de imprensa, caracterizada pelo número crescente de jornais e programas de rádio e TV que abrem espaço às críticas. A abertura causada pela Perestroika e pelo Glasnost impulsionaram os movimentos de independência e de separação de países membros da URSS, enfraquecendo o Pacto de Varsóvia. Um importante acontecimento nesse período foi a queda do Muro de Berlim, que simbolicamente representava o fim da Guerra Fria. O muro de Berlim formava uma barreira, sendo que Somente na região metropolitana de Berlim, o Muro tinha mais de 43 quilômetros de comprimento, vigiado por torres militares para observação do movimento nos arredores. Além disso, contava com cães policiais e cercas elétricas para manter a população afastada. Mesmo com todos esses mecanismos, muitas pessoas tentaram atravessar essa barreira, resultando em 80 mortes oficialmente. A proibição existia apenas na passagem de Berlim Oriental para BerlimOcidental. O trajeto contrário era permitido. Durante a década de 70, havia oito pontos onde, obtidas as permissões e os documentos necessários, as pessoas do lado ocidental podiam atravessar o muro. O mais famoso deles - conhecido como Checkpoint Charlie - era reservado para visitantes estrangeiros, incluindo diplomatas e autoridades militares do bloco capitalista. Durante o tempo em que esteve de pé, o Muro de Berlim foi um ícone da Guerra Fria. Com as mudanças políticas ocorridas na União Soviética, várias revoltas começaram a surgir nas duas partes da Alemanha, pedindo a queda do Muro, que separava o país desde 1961. No dia 9 de novembro de 1989, diante das pressões contra o controle de passagem do muro, o porta-voz da Alemanha Oriental, Günter Schabowski, disse em uma entrevista que o governo iria permitir viagens da população ao lado Ocidental. Questionado sobre quando essa mudança vigoraria, ele deu a entender que já estava valendo. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 39 Finalmente, população revoltada resolve derrubar o muro por conta própria, utilizando marretas, martelos e tudo o mais que estivesse disponível. O muro só foi totalmente destruído entre julho e novembro de 1990, porém as pessoas e o próprio governo iam abrindo passagens para facilitar o transito entre as duas partes da cidade. No dia 3 de outubro de 1991, após uma separação que dividiu a Alemanha em duas, o país foi novamente unificado por lei, atendendo ao desejo da população alemã que celebrou a vitória. Além da Alemanha, a Polônia e a Hungria abriam caminho para eleições livres, e revoltas pelo fim da URSS aconteceram na Tchecoslováquia, Bulgária, e Romênia. As políticas adotadas por Gorbachev causaram uma divisão dentro do Partido Comunista, com setores contra e a favor das reformas. Esta situação repentina levou alguns conservadores da União Soviética, liderados pelo General Guenédi Ianaiev e Boris Pugo, a tentar um golpe de estado contra Gorbachev em Agosto de 1991. O golpe, todavia, foi frustrado por Boris Iéltsin. Mesmo assim, a liderança de Gorbachev estava em decadência e, em Setembro, os países bálticos conseguiram a independência. Em Dezembro, a Ucrânia também se tornou independente. Finalmente, no dia 31 de Dezembro de 1991, Gorbachev anunciava o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, renunciando ao cargo. Assim termina a União Soviética, e também acaba oficialmente a Guerra Fria. Questões 01. (VUNESP PM/SP) Os dois lados viram-se comprometidos com uma insana corrida armamentista para a mútua destruição. Os dois também se viram comprometidos com o que o presidente em fim de mandato, Eisenhower, chamou de “complexo industrial-militar”, ou seja, o crescimento cada vez maior de homens e recursos que viviam da preparação da guerra. Mais do que nunca, esse era um interesse estabelecido em tempos de paz estável entre as potências. Como era de se esperar, os dois complexos industrial-militares eram estimulados por seus governos a usar sua capacidade excedente para atrair e armar aliados e clientes, e conquistar lucrativos mercados de exportação, enquanto reservavam apenas para si os armamentos mais atualizados e, claro, suas armas nucleares. (Eric Hobsbawm. Era dos extremos – O breve século XX – 1914-1991. São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p. 233. Adaptado) O historiador refere-se à situação da política internacional que resultou, em grande medida, da Segunda Guerra Mundial, e que pode ser definida como a (A) democratização do uso de armas nucleares, o que tornou possível o seu emprego por pequenos grupos de guerrilheiros. (B) existência de equilíbrio nuclear entre as maiores potências, somada à grande corrida armamentista. (C) expansão da ideologia da paz armada, que estimulou as potências a equiparem os países pobres com armas nucleares. (D) predominância de uma potência nuclear em escala global, que interfere militarmente nos países subdesenvolvidos. (E) formação de uma associação internacional de potências nucleares, que garantiu uma paz duradoura entre os países. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 40 02. Período histórico denominado de Guerra Fria, refere-se (A) à rivalidade de dois blocos antagônicos liderados pelos EUA e URSS. (B) às sucessivas guerras pela independência nacional ocorridas na Ásia. (C) ao conjunto de lutas travadas pelo povo iraquiano contra a dinastia Pahlevi. (D) às disputas diplomáticas entre árabes e israelenses pela posse da península do Sinai. 03. Sobre a queda do muro de Berlim, no dia 10 de novembro de 1989, é correto afirmar que (A) o fato acirrou as tensões entre Oriente e Ocidente, manifestas na permanência da divisão da Alemanha. (B) resultou de uma longa disputa diplomática, que culminou com a entrada da Alemanha no Pacto de Varsóvia. (C) expressou os esforços da ONU que, por meio de acordos bilaterais, colaborou para reunificar a cidade, dividida pelos aliados. (D) constituiu-se num dos marcos do final da Guerra Fria, política que dominou as relações internacionais após a Segunda Guerra Mundial. (E) marcou a vitória dos princípios liberais e democráticos contra o absolutismo prussiano e conservador. 04. O lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, em 6 de agosto de 1945, provocou a rendição incondicional do Japão, na Segunda Guerra. Nesse momento, o mundo ocidental vivia a dualidade ideológica, capitalismo e socialismo. Nesse contexto, o lançamento da bomba está relacionado com (A) o descompasso entre o desenvolvimento da ciência, financiado pelos Estados beligerantes (em guerra), e os interesses da população civil. (B) a busca de hegemonia dos Estados Unidos, que demonstraram seu poder bélico para conter, no futuro, a União Soviética. (C) a persistência da luta contra o nazifascismo, pelos países aliados, objetivando a expansão da democracia. (D) a difusão de políticas de cunho racista associadas a pesquisas que comprovassem a superioridade da civilização europeia. (E) a convergência de posições entre norte-americanos e soviéticos, escolhendo o Japão como inimigo a ser derrotado. 05. (SEDUC/PI – História – NUCEPE) O século XX foi marcado por conflitos de diferentes matizes, principalmente após a 2ª Guerra Mundial. Sobre esse período, podemos afirmar corretamente, EXCETO que (A) a Guerra do Vietnã, que durou entre 1967 e 1975, teve início quando as tropas do Vietnã do Norte invadiram Saigon, capital do Vietnã do Sul. Considerada a maior derrota militar dos Estados Unidos no século XX, teve entre seus motores de reação a guerrilha, a militância pacifista e a cobertura crítica da imprensa. (B) na União Soviética, o governo de Mikhail Gorbatchev implantou a glasnost no campo político e a perestroika na área econômica, decisões que evidenciaram a crise do “socialismo real” naquele país, contribuindo para seu esfacelamento político. (C) na década de 1950, os Estados Unidos implantaram a política conhecida como macarthismo, que restringiu-se ao apoio financeiro para a reconstrução das economias europeias, devastadas após a 2ª Guerra Mundial. (D) a Queda do Muro de Berlim, em 1989, é considerada a metáfora do fim da Guerra Fria, e repercutiu no mundo inteiro, com o fim de diversos regimes socialistas do Leste Europeu, tendo repercutido até nas eleições presidenciais brasileiras, ao promover um discurso de descrédito às esquerdas brasileiras. (E) a Revolução Cubana, na década de 1950, combateu o governo de Fulgêncio Batista e implantou um governo dirigido pelo Partido Comunista na América Central. 06. (Prefeitura de Catolé do Rocha/PB - Auxiliar de Serviços Gerais (ASG) – CPCON) A queda do muro de Berlim no final da década de oitenta, do século XX, gerou: (A) O surgimento da Guerra nas Estrelas. (B) O início da Guerra Fria. (C) O fim do neoliberalismo. (D) As condiçõespara a reunificação alemã. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 41 (E) A implantação do socialismo na URSS. 07. (CISMEPAR/PR -Técnico Administrativo – FAUEL) Novembro de 1989, começou a ser derrubado na Alemanha o Muro de Berlim. Este acontecimento histórico carrega um importante valor simbólico, que diz respeito ao: (A) colapso do regime nazista. (B) fim da Segunda Guerra Mundial. (C) término da Guerra Fria. (D) avanço comunista na Alemanha. 08. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A Guerra Fria constitui um dos fenômenos mais importantes da História Contemporânea. Acerca de sua fase inicial, julgue (C ou E) os itens a seguir. O Plano Marshall foi peça fundamental da estratégia norte-americana na Guerra Fria, configurando-se como tradução econômica da Doutrina Truman. (A) Certo (B) Errado 09. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A guerra fria assinalou a fase de confronto entre as duas superpotências que emergiram da Segunda Guerra Mundial, tendo seu clímax após o anúncio da Doutrina Truman, pela qual os Estados Unidos da América (EUA) se dispunham a apoiar os países que resistissem ao comunismo. (A) Certo (B) Errado 10. (UFPB - Auxiliar em Administração – IDECAN) “A expressão Guerra Fria designou a disputa pela hegemonia mundial entre Estados Unidos e URSS após a Segunda Guerra Mundial. Significou uma intensa disputa econômica, ideológica, diplomática e tecnológica pela conquista de áreas de influência. Dividiu o mundo em dois blocos, com sistemas econômicos e políticos opostos: o chamado mundo capitalista (Primeiro Mundo), liderado pelos EUA, e o chamado mundo socialista ou comunista (Segundo Mundo), encabeçado pela URSS. A Guerra Fria provocou uma corrida armamentista que se estendeu por 40 anos e colocou o mundo sob a ameaça de uma guerra nuclear.” Qual foi o símbolo do final da Guerra Fria? (A) Tratado de Madri. (B) Queda do Muro de Berlim. (C) Bomba atômica lançada sobre o Japão. (D) Assassinato do arquiduque austro-húngaro. Gabarito 01.B / 02.A / 03.D / 04.B / 05.C / 06.D / 07.C / 08.A / 09.A / 10B Comentários 01. Resposta B. O medo de um ataque nuclear desferido pelo inimigo fez com que as duas maiores potências do mundo durante a Guerra Fria, EUA e URSS entrassem em uma disputa tecnológica para provar ao inimigo que possuíam o melhor armamento. O clima de desconforto entre as duas nações criou um equilíbrio gerado pela constante atualização de seus armamentos. 02. Resposta A. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os dois países emergem como as duas grandes superpotências do planeta, em uma disputa indireta que possuía ideias políticas diferentes. De um lado os EUA com a defesa do Capitalismo enquanto do outro a URSS representava a ideia de uma sociedade Socialista. 03. Resposta D. A queda do muro de Berlim é um dos grandes marcos do fim da Guerra Fria. Após o fim da Segunda Guerra e a divisão da Alemanha entre os vencedores do conflito e simbolizou a divisão do mundo durante Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 42 a Guerra Fria, separando em dois a cidade de Berlim e estabelecendo contraste entre o mundo capitalista e o mundo socialista. 04. Resposta B. Com o lançamento de duas bombas atômicas no Japão em 1945, os estados Unidos demonstram ao mundo o seu potencial bélico. A demonstração de poder levou a URSS a desenvolver um programa nuclear durante a Guerra Fria, dentro da ideia do medo de ser atacado pelo inimigo sem poder devolver o ataque em poder de fogo semelhante. 05. Resposta: C O Macarthismo era uma ideia de perseguição aos comunistas dentro dos EUA. A política de auxilio econômico após a Segunda Guerra Mundial ficou conhecida como Plano Marshall. 6. Resposta: D. No dia 9 de novembro de 1989, com a queda do muro de Berlim cai, a Alemanha começa novamente a sua unificação, acabando de vez com a divisão entre oriental e ocidental. 7. Resposta: C. A queda do muro de Berlim, é um importante marco histórico, pois foi através dele que a Guerra Fria começa a ver o seu fim. Após a sua queda, a Alemanha é unificada novamente. 8. Resposta: A. A afirmativa está correta, pois tendo em vista o início da guerra fria, a criação do Plano Marshall foi o grande marco da disputa por áreas de influência que as duas superpotências iniciaram. Após a criação desse plano pelos Estados Unidos, a união soviética também busca dar ajuda financeira a países, o seu plano ficou conhecido como Plano Molotov. 9. Resposta: A. A ideia, que ficou conhecida como Doutrina Truman consistia em ajudar financeiramente os países europeus que ficaram devastados pela guerra. Através dessa ajuda é que eles impediriam que tais países aderissem ao socialismo, que estava se propagando na época. 10. Resposta: B. O símbolo maior que marca o fim desse período é a destruição do muro que dividia Berlim. Após a queda do muro, já era possível ver o final da guerra, que só acabou oficialmente dois anos depois, em 1991. URBANIZAÇÃO MUNDIAL19 Espaço Geográfico e Urbanização A cidade é a mais impressionante forma de transformação do espaço geográfico realizada pelo ser humano. Hoje é muito difícil imaginar a vida fora da cidade ou mesmo fugir da influência urbana. O processo de urbanização – que atingiu, em níveis diferentes, praticamente todos os países do mundo – é um fato relativamente novo na história da humanidade. Tornou-se um fenômeno mundial a partir da Revolução Industrial, no século XIX, e as cidades transformaram-se no principal centro produtivo, tecnológico, cultural e de irradiação da modernidade. As grandes cidades dos países desenvolvidos concentram os centros de pesquisas e as sedes das multinacionais, e delas são comandados os fluxos financeiros nacionais e internacionais. Para o geógrafo Milton Santos, “a cidade (principalmente a grande) é o lugar ideal, porque é o lugar onde todo mundo se comunica mais do que em outra parte. A cidade grande é o lugar da sociodiversidade. E quanto mais sociodiversidade, mais riqueza”. É importante observar que a diversidade social e cultural se enriquece quando a interdependência entre as pessoas não é pautada pela intolerância e pelas grandes desigualdades sociais. De forma contínua e acelerada, o espaço das grandes cidades sofre transformações diversas, promovidas por aqueles que nela atuam: o poder público, as empresas de construção, as imobiliárias e a 19 LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil. Elian Alabi Lucci; Anselmo Lazaro Branco; Cláudio Mendonça. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2015. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 43 sociedade civil. As diferenças sociais refletem-se nas moradias, na localização dos serviços públicos e privados e na disputa pela ocupação do solo urbano. No Brasil, a desigualdade no espaço urbano é marcada pela marginalização espacial dos mais pobres, verificando-se grandes distâncias da moradia em relação aos diversos serviços públicos básicos, aos locais de trabalho, de consumo e de lazer. Além disso, a mobilidade da população é dificultada pela situação precário dos meios de transporte coletivo. O contraste na paisagem urbana não pode ser reduzido apenas à questão da moradia. Os jardins, passeios públicos, centros culturais, teatros, cinemas, parques, estão situados próximos às regiões centrais. A periferia torna-se basicamente local de moradia; as modalidades de lazer são criadas, muitas vezes, pela ação da própria comunidade, raramente contando com apoio governamental. O direito ao exercício da cidadania é podado pela própria configuração espacial das grandes cidades. A Urbanização Mundial A cidade é uma forma organização sócio espacial complexa; seu desenvolvimento depende de infraestrutura tecnológica, cultural e administrativa. As experiências de cada indivíduoem relação aos diversos espaços da cidade resultam de uma série de fatores, incluindo sua condição sócio econômica. Os espaços urbanos ou rurais vivenciados por nós acabam tendo um significado especial, pois neles moramos, nos relacionamos com outras pessoas, trocamos experiências, estudamos, trabalhamos, nos divertimos – enfim, desenvolvemos nosso cotidiano. Cada um desses espaços que vivenciamos concretamente é denominado lugar. O mesmo lugar pode ter um significado diverso para diferentes pessoas, de grupos sociais distintos. Uma rua, por exemplo: para uma pessoa que simplesmente a percorre de carro, é vivida de uma forma; para as crianças que nela brincam, é vivida de outra maneira. O vendedor ambulante que trabalha num parque público percebe esse lugar de modo distinto das pessoas que o frequentam para lazer. O shopping center pode ser um lugar de compras para os clientes e de trabalho para os funcionários das lojas. Os exemplos são muitos, e estão relacionados à questão da cidadania: por direito, podemos usar os espaços públicos e temos o dever de lutar para a ampliação, a conservação e o uso democrático desses espaços. Num sentido amplo, o pleno exercício da cidadania diz respeito ao conjunto de direitos e deveres políticos, sociais e econômicos de cada pessoa na sociedade. Assim, votar, eleger-se, expressar livremente suas ideias, adquirir conhecimento, trabalhar, morar, dispor de assistência médica, locomover- se livremente pelo país, conservar os espaços públicos, fazem parte desse conjunto. Cidade e Cidadania Cidade, cidadão e cidadania têm o mesmo radical latino: civitas, o lugar em que os homens vivem em conglomerados urbanos, tendo certo direitos e deveres mutuamente respeitados. Para Lúcio Costa, o urbanista que desenhou o Plano Piloto de Brasília, a cidade é a “expressão palpável da necessidade humana de contato, comunicação, organização e troca – numa determinada circunstância físico-social e num contexto histórico”. Na versão mais simples da palavra, cidadão refere-se ao habitante da cidade. Na Antiguidade Clássica, o conceito de cidadão tinha como foco principal o direito de participação política nos negócios da polis (vocabulário grego que significa cidade). Era o que Benjamin Constant chamava de “liberdade antiga”. No século 19, o foco passou a ser a proteção dos indivíduos contra o poder arbitrário do Estado, e com isso os direitos civis passaram a predominar sobre os direitos políticos – era a “liberdade moderna”, também segundo Constant. Em seu sentido integral, que é o vigente hoje, a cidadania inclui os dois focos, o democrático e o liberal, a autodeterminação exercida na polis pelo povo soberano e as disposições que garantem a segurança e a integridade dos indivíduos. A cidadania é, por um lado, a capacidade de intervir no Estado e, por outro, o poder de exigir do Estado o respeito e a plena concretização dos direitos individuais. (FREITAG, Barbara. Correio Brasiliense, 16/06/2002). A Cidade e a Revolução Industrial A cidade surgiu com as primeiras civilizações da Antiguidade, mas foi a partir da Revolução Industrial, no século XIX, que ocorreu o maior desenvolvimento urbano de toda a história. Desde então, as cidades consolidaram o papel de comando na economia e sociedade europeias e no desenvolvimento capitalista. Assim, grande parte dos estudos de Geografia urbana analisa a industrialização e a urbanização com processos que caminham paralelamente. Apesar de ser um espaço típico da produção industrial, a cidade também centralizou e comercializou a produção do campo. As novas oportunidades de trabalho na zona urbana atraíram pessoas que haviam Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 44 perdido terras e emprego no campo, com a introdução das novas tecnologias para produção agrícola. Neste novo contexto, a população urbana passou a ter crescimento superior ao da população rural; formaram-se grandes aglomerações e novas formas de administração do território foram articuladas. A cidade torna-se “poderosa”: nela se viabilizam, com maior facilidade, as articulações políticas, a organização da produção e o consumo. Urbanização e Crescimento Urbano A urbanização não corresponde ao crescimento das cidades em consequência do crescimento natural ou vegetativo da população urbana. Ela ocorre a partir da migração rural-urbana, que faz com que a cidade passe a ter um crescimento maior do que o campo. Quando a população urbana e a rural crescem em igual proporção ocorre o crescimento urbano. O crescimento populacional das cidades teoricamente não tem limites, ao contrário do que ocorre com a urbanização, que corresponde a um aspecto espacial ou territorial proveniente de modificações sócio econômicas. A Revolução Industrial, por exemplo, provocou profundas alterações espaciais e econômicas, acelerando o processo de urbanização: o meio urbano cresceu e passou a comandar o meio rural. Urbanismo e Planejamento Urbano A industrialização e a urbanização tornaram-se um fenômeno mundial na segunda metade do século XIX; a partir de então, o debate sobre os problemas urbanos nos países industrializados se intensificou. Sobre esses países pairava uma constatação: o crescimento econômico conquistado com a industrialização não havia levado à melhoria da qualidade de vida da população urbana. A miséria e as condições insalubres de moradia do proletariado urbano constituíam ameaças permanentes de convulsões sociais e revoltas populares. Nas cidades industriais europeias do século XIX, um número crescente de trabalhadores vivia em habitações deterioradas, em locais sem saneamento básico nem serviço de coleta de lixo. Nessa época, os socialistas acreditavam que a insatisfação latente das camadas populares em relação aos problemas sociais levaria à Revolução Socialista. Diante da situação, o Estado adotou o planejamento urbano para resolver os problemas sociais causados pelo desenvolvimento do capitalismo industrial: procurou reorganizar as cidades para estabelecer uma relação mais equilibrada entre o espaço urbano e a sociedade. As intervenções urbanas no século XIX, que marcaram a origem do urbanismo, não tiveram objetivos e concepções idênticos. Algumas não partiram de uma perspectiva progressista e reformista, e não tinham a preocupação em resolver de fato os problemas da miséria e das grandes disparidades existentes entre as camadas sociais. A remodelação de cidades como Viena, Londres, Florença e Paris atendeu a problemas comuns: a melhoria sanitária, a criação e preservação de espaços públicos, o alargamento de ruas e avenidas. Mas cada cidade tinha seus aspectos peculiares e visões distintas de como reorganizar sua estrutura e o modo de vida urbana. Um exemplo ilustrativo de intervenção urbana nesse período foi o projeto de remodelação de Paris, concretizado pelo Prefeito George Eugène Haussmann (1809-1891). A abertura de largas avenidas (bulevares) na cidade teve função estratégica: conter as convulsões sociais. O sistema viário dos bulevares facilitava o rápido deslocamento das tropas de cavalaria e artilharia, além de impossibilitar a formação de barricadas pelo movimento operário em confrontos com a polícia. O austríaco Camillo Sitte (1843-1903), um dos percursores do urbanismo, ressaltava a importância do espaço público (praças, monumentos e edificações históricas) para a vida do homem urbano. Apontava a influência positiva que o meio externo poderia trazer ao espírito humano. Suas ideias humanistas – que precederam o chamado urbanismo culturalista – influenciaram vários projetos no mundo inteiro, inclusive nas cidades do Rio de Janeiro, Santos e São Paulo, no início do século XX. No Reino Unido, o modelo de planejamento urbano conhecido como cidades-jardins (Garden cities) marca até hoje a paisagem. As habitações foram erguidas com um generoso espaço verde as separando. Esse modelo, adotado também nos Estados Unidos,ressaltava a interação do urbano com a natureza. Urbanismo no Século XX No século XX, o urbanismo utilizou os avanços tecnológicos da Segunda Revolução Industrial. O concreto armado, o ferro, o aço, o alumínio, o vidro e outros materiais foram incorporados às obras arquitetônicas e criaram novas possibilidades de instalações urbanas e de moradia. O arranha-céu gerou o crescimento verticalizado e ampliou o adensamento populacional. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 45 O urbanismo da primeira metade do século XX foi marcado pelo funcionalismo ou racionalismo, isto é, o planejamento urbano e o projeto arquitetônico passaram a ser vistos com finalidade funcional (utilitária) e racional (prática). A estética devia estar a serviço das necessidades básicas e da vida social do ser humano; as novas conquistas tecnológicas deviam ser incorporadas na construção dos edifícios e das cidades, em perfeita harmonia com a vida cotidiana. A sintonia do movimento racionalista com a vida moderna e a era da máquina pode ser observada na frase “A casa é uma máquina de morar”, expressa pelo arquiteto suíço Le Corbusier – o mais famoso urbanista do século XX. Nesse sentido, a moradia deveria ser produzida em série, como os automóveis e outros objetos industriais. Le Corbusier também destacava que “a finalidade do urbanismo não é outra que satisfazer as quatro necessidades urbanas de caráter primordial: habitar, trabalhar, recrear o corpo e o espírito e circular”. A partis destes quatro princípios elementares, defendia “a necessidade de assegurar aos habitantes da cidade alojamentos sãos, minimamente ensolarados (não menos de duas horas diárias) e rodeados de espaços verdes. Tais alojamentos deveriam estar convenientemente equipados, tendo ao seu redor os serviços indispensáveis à satisfação das necessidades cotidianas da população urbana”. (LE CORBUSIER. Princípios de urbanismo. Barcelona, Planeta-Agostin, 1986, p. VI). O exemplo mais importante da influência do urbanismo racionalista no Brasil é a cidade de Brasília, projetada no final da década de 1950 pelo urbanista Lúcio Costa (projeto da cidade – plano-piloto) e pelo arquiteto Oscar Niemeyer (projeto dos prédios públicos e dos blocos residenciais). O projeto de Brasília acrescentou aos princípios do urbanismo moderno aspectos próprios da conjuntura econômica da época, marcada pela instalação da indústria automobilística no país. Além do traçado arrojado de suas ruas e avenidas, da configuração de sua estrutura urbana e de seus edifícios – adaptados a uma estética funcional e rodeados de áreas verdes -, Brasília é o grande símbolo do espaço do automóvel. Apesar das críticas que pesam sobre essa cidade e dos objetivos que nortearam sua construção, ela se transformou num símbolo mundial do urbanismo racionalista e da arquitetura moderna. O planejamento urbano do século XX não ficou restrito às concepções do urbanismo racionalista, mas nenhuma outra corrente teve a mesma difusão e influência mundiais. A Urbanização Atual Em 1975, a taxa de urbanização mundial era de apenas 37%. Em 2001, aproximadamente metade da população já vivia em áreas urbanas, e calcula-se que essa proporção atingirá 60% em 2025. A intensidade da urbanização explica-se principalmente pelo aspecto qualitativo: muitos aspectos da vida urbana estenderam-se à vida do campo, como o acesso ao saneamento básico e à energia elétrica, a presença de hospitais e escolas. As telecomunicações (como TV, rádio, telefone e, em alguns casos, até Internet) integram atualmente os habitantes do campo e da cidade numa mesma rede de informação. Assim, os limites territoriais das cidades não são mais os limites do modo de vida urbano. As Cidades e a Urbanização no Mundo Desenvolvido - Desmetropolização No mundo desenvolvido, a população urbana ultrapassa, em média, os 75%, e em muitos países já se verifica uma estabilidade da porcentagem da população urbana em relação ao total da população. A partir do final do século XIX, houve nos países desenvolvidos um processo de suburbanização ou desmetropolização da população de maior poder aquisitivo, que procurava distanciar-se das concentrações populacionais e industriais e dos problemas ambientais dos centros urbanos. Esse processo mostrou-se mais intensa na segunda metade do século XX, graças ao incremento dos meios de transporte e de comunicação; isso também possibilitou a descentralização das atividades econômicas, que passaram a ocupar a periferia das grandes cidades e outras de menor tamanho. Em alguns países, como os Estados Unidos, esse processo de suburbanização e a expansão das grandes cidades levaram à ampliação da mancha urbana, caracterizada pela presença de algumas metrópoles e diversas cidades. Formou-se a megalópole: um imenso aglomerado urbano, praticamente contínuo, com algumas poucas áreas rurais. Nos países europeus, o crescimento urbano ocorreu sem que a mancha urbana preexistente se estendesse de modo significativo. Com exceção de cidades como Paris, Londres, Milão e Moscou, as cidades europeias são pouco populosas, apesar de a grande maioria da população habitar em áreas urbanas. Nas grandes cidades do mundo desenvolvido, a preservação do espaço público e do patrimônio histórico e as especificações de novas edificações (como localização, altura e recuo) são criteriosamente regulamentadas e fiscalizadas pelo governo. Muitas intervenções realizadas nas cidades marcam decisivamente determinados períodos e aspectos da paisagem urbana. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 46 As Cidades e a Urbanização no Mundo Subdesenvolvido No mundo subdesenvolvido, grupos de países apresentam diferenças no que se refere à urbanização. Os maiores índices da população urbana nesse conjunto verificam-se na América Latina: em média, entre 65 e 70 % dos habitantes vivem em cidades. Os mais baixos ocorrem na África e na Ásia: entre 35 e 40%, em média. Em virtude da intensidade do processo de urbanização nos países subdesenvolvidos, esses índices devem aumentaram rapidamente. Nesses grupos, as possibilidades econômicas estão concentradas nas grandes cidades, que constituem “ilhas” de progresso. Em alguns países, especialmente da América Latina, a população, a renda, os investimentos econômicos e a participação na pauta de exportações de uma única cidade chegam a atingir cifras correspondeste à metade do total do país. Em 1950, havia oito aglomerações urbanas com mais de 5 milhões de habitantes, e apenas duas se encontravam em países desenvolvidos. Já em 2000, das 37 aglomerações com esse número de habitantes no mundo, 27 se localizavam em países subdesenvolvidos, e várias superavam os 10 milhões de habitantes. Urbanização e Planejamento nos Países Subdesenvolvidos A partir da década de 1950, houve uma ampliação considerável da superfície ocupada pelas cidades nos países subdesenvolvidos, num ritmo muito mais acentuado do que o verificado nos países onde a urbanização acontecera há mais tempo. De modo geral, a expansão das cidades nos países subdesenvolvidos deu-se praticamente sem orientação ou planejamento, agravando o quadro de exclusão social no espaço urbano. Na periferia das cidades, vários terrenos e loteamentos – a maioria clandestinos e desprovidos de infraestrutura – foram ocupados pela população mais carente para estabelecer sua moradia. Esse fenômeno é comum a várias cidades, apesar das diferenças existentes na organização espacial e no grau da ocupação da superfície de cada uma delas. Na Cidade do México, em Lima e em São Paulo, por exemplo, a expansão da superfície construída aconteceu em ritmo mais intenso que o próprio crescimento da população. Apesar do crescimento populacional elevado, em alguns períodos não se verificou um aumento na densidade demográfica em algumas cidades mais pobres. Isso se deve ao fato de elas apresentaremuma expansão desordenada e um crescimento “horizontalizado”. Esse crescimento horizontal cria grandes dificuldades para a implantação de infraestrutura adequada (como transporte, coleta de lixo e saneamento básico) em lugares mais distantes. A Rede Hierárquica de Cidades - Metropolização As cidades estão ligadas entre si por uma estrutura de transportes e de meios de comunicação, formando uma rede urbana onde se estabelecem fluxos de mercadorias, pessoas e informações. As relações nessa rede urbana são hierárquicas, pois algumas cidades exercem papel de comando, estando no topo da hierarquia urbana: são as cidades globais e as metrópoles. As Cidades Globais As cidades globais são aquelas que concentram a movimentação financeira, as sedes de grandes empresas ou escritórios filiais de multinacionais, importantes centros de pesquisas e as principais universidades. São dotadas de infraestrutura necessária para a realização de negócios nacionais e internacionais: aeroportos e portos, bolsa de valores e sistemas de telecomunicações, além de uma ampla rede de hotéis, centros de convenções e eventos, bancos e comércio. Possuem serviços bastante diversificados, como jornais, tetros, cinemas, editoras, agências de publicidade, etc. A Cidade Global O processo atual de modernização leva a que todos os lugares se globalizem, graças à difusão generalizada das técnicas e da informação. Criam-se, assim, lugares globais simples e lugares globais complexos. Esses são, geralmente, as metrópoles, em que um grande número de variáveis típicas de nossa época se combina. Mas as metrópoles se caracterizam não apenas por esse lado moderno de sua realidade atual, mas também pelo fato de que guardam numerosos aspectos herdados de épocas anteriores, em virtude da resistência da paisagem metropolitana às mudanças gerais. É um equívoco considerar as metrópoles Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 47 como se fossem inteiramente modernizadas e globalizadas. Aliás, o seu cosmopolitismo (qualidade do que é cosmopolita – que apresenta características sociais, econômicas e culturais de vários países), apenas é garantido pelo fato de que esses lugares complexos contêm elementos com diversas origens e idades que lhes asseguram o enriquecimento da variedade e da multiplicidade, o que inclui a possibilidade de abrigarmos mais diversos tipos de capital, trabalho e cultura. Uma classificação rigorosa levará a incluir entre as metrópoles globais apenas algumas poucas: Nova York, Los Angeles, Tóquio, Londres, Paris..., capazes de exercer um papel de comando efetivo e de regulação sobre o qual se faz nas outras cidades e no resto do mundo. Pode-se incluir também nesse rol, ainda que num segundo nível, localidades como São Paulo, Cidade do México, Johanesburgo, cujo papel reitor apenas se impõe a áreas menores e mais delimitadas do planeta. Desse modo, pode-se considerar que as cidades globais são aquelas que dispõem, dos instrumentos de comando da economia e sociedade em escala mundial (....). (SANTOS, Milton. Folha de São Paulo, 13/04/1997, Mais!, p. 5- 9). As Metrópoles As metrópoles são cidades populosas, adaptadas à economia globalizada, mas não necessariamente formam uma megacidade. Em geral, preservam suas tradições, sua arquitetura e seu patrimônio histórico, como é o caso principalmente das cidades europeias. Constituem grandes polos de atração de investimentos e estão articuladas com as cidades globais – em alguns casos, podem ser classificadas como tais. No entanto, sua importância e capacidade de comando geralmente estão restritas ao território nacional. Par alguns estudiosos do urbanismo, também deveriam estar associadas ao conceito de metrópole características como direitos humanos e de cidadania (o direito à moradia, à educação, à saúde, ao emprego, à segurança, etc.), o que limitaria este conceito a algumas cidades do mundo desenvolvido. A Metrópole na Visão de um Importante Geógrafo A ideia de metrópole nos remete a uma outra ideia, a de hierarquia. Como na história política dos povos, onde algumas nações comandam as outras, com suas peculiaridades políticas, econômicas e culturais, as metrópoles também disporiam do papel de comando em relação ao conjunto de cidades. As metrópoles seriam as entidades mais altas na hierarquia, em virtude de deterem as melhores condições econômicas, sociais, culturais e políticas: daí sua posição de comando. A história nos fez juntar a ideia de metrópole à ideia de tamanho. Mas não seria apenas quantitativo, mas também qualitativo – a grande cidade se torna metrópole por reunir condições, fruto em parte de seu tamanho e da sua força reunida. É por isso que as metrópoles aparecem como lugar onde é possível conviver com a sofisticação. (...). É o que distinguiria as nossas metrópoles das do norte, porque nas nossas metrópoles a sofisticação não está ao alcance senão de uma parte muito pequena da população. Entraríamos, portanto, em uma outra forma de distinguir as metrópoles, a qual limitaria a definição de São Paulo como metrópole, porque poucas pessoas têm acesso ao que há aqui de sofisticado, diferentemente de uma cidade como Paris, Londres ou Nova York, ou mesmo como Viena, que não é tão grande. (Santos, Milton. Revista Caramelo. São Paulo, Grêmio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, 1994, nº 7, p. 62). Especulação Imobiliária20 Especulação imobiliária é a compra ou aquisição de bens imóveis com a finalidade de vendê-los ou alugá-los posteriormente, na expectativa de que seu valor de mercado aumente durante o lapso de tempo decorrido. Se uma pessoa, empresa, ou grupo de pessoas ou empresas compra imóveis, em grandes áreas ou quantidades e numa mesma região, isto eleva a demanda de imóveis no lugar, e, por consequência, há um aumento artificial dos preços de todos os imóveis daquela região (segundo a lei de oferta e procura). A expressão tem conotação pejorativa, por deixar implícito que o comprador do imóvel não irá utilizá- lo para fins produtivos ou habitacionais, e ainda retira de outras pessoas, de menor poder aquisitivo e, portanto, mais necessitadas, a possibilidade de fazê-lo. No Brasil, o Estatuto das cidades pretende regular a especulação imobiliária. Aqui, as capitais nordestinas são as que mais sofrem com a especulação imobiliária. O que é Especulação Imobiliária? Este é um termo muito utilizado em praticamente todas as considerações sobre os problemas das cidades atualmente. 20 http://www.ufjf.br/pa8/files/2015/03/7B1_ESPECULA%C3%87%C3%83O-IMOBILI%C3%81RIA.pdf Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 48 No entanto, tenho percebido que não são muitas as pessoas que conseguem definir com clareza o que seja especulação imobiliária. Na maioria dos casos, elas associam o termo à construção de prédios em altura e, mais especificamente, a uma intensa ocupação do solo urbano. Mas será que é isso que significa especulação imobiliária? Campos Filho (2001, p. 48) define especulação imobiliária, em termos gerais, como [...] uma forma pela qual os proprietários de terra recebem uma renda transferida dos outros setores produtivos da economia, especialmente através de investimentos públicos na infraestrutura e serviços urbanos[...]. A especulação imobiliária, portanto, caracteriza-se pela distribuição coletiva dos custos de melhoria das localizações, ao mesmo tempo em que há uma apropriação privada dos lucros provenientes dessas melhorias. A Forma Básica da Especulação Mas o que isso quer dizer? Como é possível “melhorar” uma localização se ela não pode ser mudada? Afinal de contas, um terreno é um bem imóvel. Essas melhorias que acabam valorizando os terrenos podem dar-se de muitas formas; as mais comuns referem-se à provisão de infraestrutura (água, esgoto, energia), serviços urbanos (creches, escolas, grandes equipamentos urbanos)e às melhorias realizadas nas condições de acessibilidade (abertura de vias, pavimentação, sistema de transporte, etc.). Tais melhorias, quando realizadas no entorno de um terreno, acabam agregando-lhe maior valor. Terrenos com boa infraestrutura são mais caros que terrenos sem nenhuma infraestrutura. O mesmo vale para a pavimentação das vias. Outro caso relativamente comum é o de terrenos que não são muito bem localizados, até que uma nova avenida ou rua importante é aberta, melhorando suas condições de acessibilidade. Seu preço, por consequência, acaba aumentando quase que instantaneamente. Outra forma de melhoria da localização acontece pelo simples acréscimo de novas edificações no seu entorno, o que por si só torna sua acessibilidade melhor em relação ao conjunto da cidade. Em outras palavras, a ocupação por atividades (residenciais, comerciais, etc.) ao redor de um terreno torna-o mais próximo – e portanto com maior acessibilidade – a uma nova gama de possibilidades de interação com o resto da cidade. Essa possibilidade de interação, por sua vez, é um aspecto valorizado pelas pessoas no momento de escolher um determinado local e, por isso, acaba também contribuindo para o aumento do preço do solo. Por que a Especulação Imobiliária é Injusta? Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 49 Como vimos, o que se chama de “melhoria” de uma localização é o processo através do qual a qualidade da localização de um terreno em relação à disponibilidade de infraestrutura e a outros terrenos (e portanto a outras atividades e centros de interesse) é aumentada. Dessa forma, os terrenos chamados “de engorda” ficam vazios, à espera de que o desenvolvimento da cidade se encarregue de valorizá-los, sem que nenhum investimento tenha sido feito pelo proprietário (a não ser, é claro, o IPTU, que no entanto é irrisório comparado à valorização da terra). Todo o investimento foi feito pelo Poder Publico, principalmente no caso das infraestruturas, e por outros proprietários privados. Muitos contribuem para a valorização, mas poucos ficam com os lucros. Para entender esse ponto de vista, é interessante fazer uma comparação: imagine um empreendedor qualquer, que queira ter lucro através da realização de uma determinada atividade. Para conseguir isso, ele tem que investir uma certa quantia de capital e correr um risco, proporcional à probabilidade de o negócio dar certo ou não. Os ganhos, por sua vez, também serão proporcionais ao risco corrido. Ele presta um serviço que, de uma maneira ou de outra, é útil à coletividade e, em troca desse serviço prestado, recebe sua compensação financeira. Nesse processo, ele gera empregos e movimenta a economia. Por outro lado, o especulador imobiliário que investir a mesma quantia de capital em um terreno ocioso não está contribuindo em nada para a sociedade. Não gera empregos, não presta nenhum tipo de serviço, e pior: ainda traz inúmeros prejuízos para a coletividade, conforme será visto mais adiante. Ainda assim, por causa da valorização imobiliária conseguida através de investimentos feitos por outros setores da sociedade, alcança lucros muitas vezes bastante grandes. A Dispersão Urbana e a Especulação Outra maneira de “melhorar” a localização de uma área é melhorar a qualidade dessa localização em relação ao resto das áreas disponíveis no mercado, através do acréscimo de novas áreas que sejam piores que elas. Assim, às vezes o preço de um determinado terreno sobe sem que haja nenhuma modificação no seu entorno. Isso acontece porque loteamentos são criados nas piores localizações, normalmente na periferia, isolados do tecido urbano e em condições precárias de infraestrutura. Entretanto, mesmo esses loteamentos têm que, no mínimo, cobrir seus gastos de produção e conferir algum lucro ao empreendedor, definindo, portanto, os menores preços do mercado de terras. Com isso, o “ranking” de localizações é rearranjado, pela introdução, na sua base, de uma nova “pior” localização. As outras localizações, por consequência, passam a ser mais valorizadas, por estarem agora mais “distantes” da pior localização e mais próximas das áreas mais interessantes da cidade, ao menos em comparação com essas novas áreas que agora passaram a fazer parte do tecido urbano. Quando um terreno deixa de ser uma das piores localizações, pela adição de novas piores localizações, seu preço sobe automaticamente. Na maioria das vezes, esse mecanismo está associado também à forma mais básica da especulação imobiliária, uma vez que deve ser feita provisão de infraestrutura para atender a essas piores localizações, e que essa infraestrutura acaba passando pelos terrenos mais bem localizados, valorizando-os ainda mais. Os Problemas Urbanos Gerados pela Especulação Imobiliária Apesar de gerar lucro para alguns poucos investidores, a prática da especulação imobiliária é extremamente prejudicial para as cidades. Por causa dela, os tecidos urbanos tendem a ficar excessivamente rarefeitos em alguns locais e densificados em outros, gerando custos financeiros e sociais. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 50 A infraestrutura, por exemplo, é sobrecarregada em algumas áreas e subutilizada em outras, tornando- se, em ambos os casos, mais cara em relação ao número de pessoas atendidas. A especulação gera maiores distâncias a serem percorridas, subutilização da infraestrutura e aumento artificial do preço da terra. As dificuldades de deslocamento da população de mais baixa renda, especialmente nas grandes cidades, também é, em grande parte, decorrente dessa lógica especulativa, que aumenta as distâncias entre habitação e empregos. A urbanização de “piores” localizações empurra a ocupação para lugares cada vez mais distantes, e com isso as distâncias que os novos moradores têm que percorrer acabam aumentando. Outra possível consequência da retenção especulativa de imóveis é a dificuldade de deslocamento gerada pela escassez de vias e de possíveis caminhos para quem se desloca. Isso acontece quando os terrenos ociosos são grandes, e impedem o surgimento de conexões entre áreas da cidade pelo fato de não estarem parcelados. Todo o fluxo, portanto, precisa desviar-se dessas glebas, causando estrangulamento em alguns pontos e concentração excessiva de tráfego em algumas poucas ruas. Possíveis Soluções Diante da constatação desse problemas advindos da especulação imobiliária, alguns instrumentos urbanísticos vêm sendo utilizados para tentar coibi-la, com destaque especial para aqueles regulamentados pelo Estatuto da Cidade. O IPTU progressivo no tempo, por exemplo, permite ao poder público sobretaxar aqueles imóveis que não estiverem cumprindo sua função social, isto é, que estiverem sendo subaproveitados em áreas que possuam infraestrutura. A outorga onerosa do direito de construir busca recuperar parte dos investimentos do poder público em infraestrutura decorrentes do aumento de densidade acarretado por aquelas edificações cuja área ultrapasse a área do terreno (coeficiente 1). A contribuição de melhoria permite que o poder público cobre dos proprietários beneficiados por obras de melhoria urbana o valor do investimento. Entretanto, a aplicação de tais instrumentos nem sempre são implementadas, mesmo com a nova leva de planos diretores participativos, principalmente por causa de hábitos e crenças há muito tempo arraigados na cultura do brasileiro. Como explicar a alguém que sempre viu seus pais e avós segurando a venda de terras para esperar os melhores preços que agora ele não poderá mais fazer isso, sob pena de pagar mais impostos? Tarefa difícil, mas que deve ser levada a cabo paulatina e constantemente, para que seja possível modificar essa mentalidade e criar cidades mais justas para todos. Questões 01. (SEDF – Estudantes Universitários – CESPE) Com relação à geografia urbana no Brasil,julgue o item que se seguem. Os fatores que propiciam o crescimento populacional no interior do Brasil incluem a atração de indústrias para as cidades de médio porte. (....) Certo (....) Errado 02. (SEDF – Estudantes Universitários – CESPE) Com relação à geografia urbana no Brasil, julgue o item que se seguem. O processo de industrialização foi o fator responsável pelo desenvolvimento das cidades brasileiras, cujos territórios se transformaram devido ao aumento da atividade produtiva no campo. (....) Certo (....) Errado 03. (IBGE – Tecnologista/Geografia – FGV) Na organização do espaço urbano brasileiro na contemporaneidade, observa-se uma expansão impulsionada por duas lógicas, a da localização dos empregos nos núcleos das aglomerações e a da localização das moradias nas áreas periféricas. A incorporação de novas áreas residenciais, o aumento da mobilidade e a oferta de transporte eficiente favorecem a formação de arranjos populacionais de diferentes magnitudes que aglutinam diferentes unidades espaciais. Adaptado de: IBGE. Arranjos populacionais e concentrações urbanas no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou 294 arranjos populacionais no País, formados por 938 municípios e que representam 55,9% da população residente no Brasil em 2010. Os critérios utilizados na identificação dos arranjos populacionais empregam a noção de integração, medida: Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 51 (A) pelos movimentos pendulares para trabalho e estudo e/ou pela contiguidade urbana; (B) pelas funções urbanas e/ou pelo rendimento dos responsáveis por domicílio; (C) pelos fluxos telefônicos e/ou pelas unidades locais das empresas de serviços à produção; (D) pela densidade demográfica e/ou pela estrutura da População Economicamente Ativa; (E) pelo tamanho populacional e/ou pelo fluxo de bens, mercadorias, informações e capitais. Gabarito 01.Certo / 02.Errado / 03.A Comentários 01. Resposta: Certo. Um assunto que tem estado bastante em voga na economia brasileira desde o final do século XX é a descentralização de indústrias, processo que, de acordo com o geógrafo Paulo Inácio Vieira Carvalho, “tem início na década de 1980, quando as fábricas começam a deixar as regiões metropolitanas em direção a municípios do interior”. Inicialmente, as indústrias se retiraram das capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo visando estabelecer-se em cidades do interior desses estados, mas, posteriormente, o projeto estendeu-se também para estados menos industrializados do país. 02. Resposta: Errado. Os territórios se transformaram devido ao aumento da atividade produtiva NAS CIDADES e não no campo, além disso, o processo de industrialização foi um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento das cidades brasileiras, porém, não o único. 03. Resposta: A. Os movimentos pendulares são cada vez mais importantes para o entendimento da dinâmica urbana. São utilizados para estudar a organização funcional dos espaços regionais e delimitar regiões metropolitanas; dimensionar e caracterizar os fluxos gerados para o estudo e para o trabalho; para o planejamento urbano, em especial o de transportes, entre outros (MOURA, CASTELLO BRANCO; FIRKOWSKI, 2005; CASTELLO BRANCO, 2006). BLOCOS ECONÔMICOS21 Os blocos econômicos são associações criadas entre os países, a fim de estabelecer relações econômicas entre si. Eles surgiram do reflexo da constante competição de economias que estão sempre buscando o crescimento. Além disso, é um movimento cada vez mais comum no mercado mundial para aguentar o ritmo acelerado dos países. Essa união acontece por interesses mútuos e pela possibilidade de crescimento em grupo. Esse crescimento passou a ser bem visto porque logo se percebeu que, por mais forte que fosse uma economia, ela não poderia competir de igual para igual com grupos de economias unidas entre si. Exemplos disso seguem abaixo. Organização das Nações Unidas (ONU) Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a preocupação com o diálogo entre as nações se intensificou. Em 24 de outubro de 1945 foi realizada na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, a Conferência das Nações Unidas para a Organização Internacional, com a participação de 51 governos, na qual foram discutidos temas como a paz, a segurança e a garantia do desenvolvimento econômico e social. Por fim, todos os representantes assinaram uma carta ratificando o compromisso de cooperação entre as nações. Assim nasceu a Organização das Nações Unidas (ONU), que passou a desempenhar um papel essencial no estabelecimento de acordos e projetos coletivos entre os países, com ações voltadas a solucionar conflitos e dar assistência à população de regiões envolvidas, assim como promover a valorização dos direitos humanos. Posteriormente, os países-membros da ONU também se preocuparam em firmar um documento no qual foram listados os direitos inalienáveis do ser humano, denominado 21 FURQUIM JUNIOR, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: AJS, 2015. MARTINEZ, Rogério. Novo olhar: geografia.1ª edição. São Paulo: FTD, 2013. MARTINI, Alice de. Geografia. Alice de Martini, Rogata Soares Del Gaudio. 3ª edição. São Paulo: IBEP, 2013. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 52 Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovado em 1948, afirmando a igualdade entre os indivíduos das mais diferentes etnias e religiões. O Papel da ONU Hoje Atualmente, a ONU segue promovendo a multilateralidade de decisões para garantir a soberania das nações, organizando acordos e projetos coletivos entre os países-membros, que já contabilizam ao todo 193 integrantes. A sede das Nações Unidas fica na cidade de Nova York, e o posto mais alto na organização é o de secretário-geral, cargo em 2015 ocupado pelo coreano Ban Ki-Moon, que em 2007 substituiu o ganês Kofi Annan. O atual secretário-geral, António Guterres, assumiu em 2017 o lugar de Ban Ki-moon, que completou dois mandatos na função. Dentre os fóruns de discussão competentes destaca-se a Assembleia Geral das Nações Unidas, que delibera resoluções referentes a temas que incluem paz e segurança internacional, saúde, educação, desarmamento, preservação dos recursos naturais, entre outros. Dessa assembleia participam todos os países-membros, que possuem igualdade de voto na hora de determinar resoluções. Porém, o que se determina na Assembleia não é obrigatório, apenas recomendado. Já o Conselho de Segurança das Nações Unidas, por sua vez, dedica-se exclusivamente aos assuntos de segurança e ás ameaças à paz internacional. O que é nele decidido torna-se obrigatório, e seu cumprimento será exigido por todos os membros da organização. Esse conselho é composto apenas por quinze membros, dos quais cinco são permanentes – Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França -, e os outros dez são eleitos a cada dois anos para compor as discussões. Os membros permanentes possuem poder de veto nas deliberações. As ações principais da ONU no cenário internacional envolvem as chamadas operações de paz, ou missões de paz, desenvolvidas pela organização para ajudar países devastados por conflitos a criar as condições para alcançar a paz. Desde que a primeira operação de paz foi estabelecida em 1948, quando o Conselho de Segurança autorizou o envio de soldados da ONU para o Oriente Médio com a finalidade de monitorar um acordo entre Israel e seus vizinhos árabes, mais de sessenta missões desse tipo já foram criadas ao redor do mundo. Inicialmente, essas missões eram desenvolvidas para lidar com conflitos internacionais; no entanto, recentemente a ONU tem realizado cada vez mais operações de paz em países assolados por conflitos internos e guerras civis. Os soldados da organização, que formamas chamadas tropas de paz, atuam conforme as deliberações do Conselho de Segurança e podem tanto agir como observadores, proporcionando apoio e segurança essenciais a milhões de pessoas em zonas de conflitos, como também realizar operações militares, desde que a deliberação em questão permita tal intervenção. Multilateralismo/Multipolaridade ou Regionalismo O fortalecimento do multilateralismo comercial ocorrido ao longo das últimas décadas tem sido acompanhado, paradoxalmente, por um processo de regionalização do espaço, provocado pela tendência mundial de constituição de grandes blocos econômicos, o que decorre do avanço da globalização. Embora pareça contraditório, a formação de grandes mercados regionais estabelecidos por meio de alianças e acordos econômicos e comerciais tornou-se uma necessidade imposta pelo acirramento da concorrência internacional, gerada pela própria expansão do capitalismo em escala planetária. Com a formação dos blocos econômicos, os países buscam ampliar a participação no comércio mundial, sobretudo com o aumento de suas exportações, com vistas a se tornarem mais competitivos. Para tanto, os acordos comercias e econômicos firmados entre os países (redução ou mesmo eliminação das tarifas alfandegárias, uniformização de políticas monetárias e financeiras, desburocratização do setor aduaneiro etc.) procuram facilitar o fluxo e a circulação de mercadorias, serviços e capitais entre os parceiros do bloco, estratégia que atende às necessidades de acumulação de capital inerentes à expansão das economias capitalistas. Formação de Regiões e Blocos Econômicos [ ... ] o fenômeno da integração verifica-se normalmente em uma dada região. Região [econômica], por sua vez, pode ser definida como um grupo de Estados situados em uma determinada área geográfica que gozam de alto grau de interação em comparação com as relações extra regionais, dividem certos interesses comuns e podem cooperar entre si por meio de organizações que abrangem um número limitado de participantes. [...] [ ... ] O surgimento dos blocos econômicos regionais é um dos mais importantes fenômenos da atualidade. Como foi visto, a formação desses blocos apresenta-se como uma solução, no contexto da Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 53 globalização, para o aumento da produtividade e da competitividade dos Estados na economia mundial. Isso porque garante um aumento do mercado consumidor, propicia economias de escala e possibilita aos países que dela participam aproveitar a complementaridade de suas economias. [ ... ] MATIAS, Eduardo Felipe Pérez. A humanidade e suas fronteiras: do Estado soberano à sociedade global. São Paulo: Paz e Terra, 2005. p. 283-290. Surge, então, uma questão crucial: a formação dos blocos econômicos significaria um retrocesso ou mesmo uma barreira ao processo de globalização, que poderia levar à formação de um possível mercado global único? Na opinião de muitos especialistas, em vez de ameaçar ou mesmo colocar em xeque o processo de integração econômica mundial, o surgimento dos blocos econômicos reforça e amplia as relações comerciais em âmbito mundial. Isso porque, se as trocas comerciais e os fluxos de capitais no interior dos blocos aumentaram aceleradamente nas últimas décadas, o comércio e os investimentos entre os diferentes blocos existentes também vêm se expandindo de maneira significativa com o estabelecimento de acordos e negociações comerciais entre eles. Desse modo, observa-se que o aumento do número de blocos econômicos já efetivamente formados e de outros que estão em processo de consolidação não contradiz, pelo contrário, reforça a própria globalização ao se inserir como uma das etapas desse processo. Os Diferentes Tipos de Integração Regional Os blocos econômicos existentes na atualidade apresentam diferentes níveis de integração, conforme a intensidade de suas relações e os acordos estabelecidos entre os países-membros. Alguns desses blocos já se encontram em estágios de integração mais avançados, outros ainda estão em processo inicial de integração. Área de livre-comércio: em uma área de livre-comércio, os países eliminam progressivamente as tarifas alfandegárias para estimular os fluxos de comércio e investimentos entre si. No entanto, cada país do bloco tem autonomia para conservar sua política tarifária em relação aos países que não pertencem ao bloco. É o caso, por exemplo, do Nafta, bloco econômico que reúne os Estados Unidos, o Canadá e o México. União aduaneira: em uma união aduaneira, além do livre-comércio estabelecido pela eliminação das barreiras alfandegárias, os países também adotam uma tarifa externa comum (TEC), cobrando os mesmos impostos e taxas alfandegárias sobre os produtos importados de países de fora do bloco. O Mercosul é um exemplo desse tipo de bloco. Mercado comum: além do livre-comércio de mercadorias e serviços, o mercado comum também estabelece a livre movimentação de capitais (investimentos) e de pessoas (trabalhadores) entre os países-membros. Implica o estabelecimento de coordenações econômicas e a harmonização das legislações nacionais (trabalhistas, tributárias, previdenciárias etc.). A União Europeia é um exemplo de mercado comum. União econômica e monetária: é o estágio mais avançado de integração regional; seu funcionamento prevê a adoção de uma moeda única e de um Banco Central também único, a criação de instituições supranacionais (tribunais de justiça e de contas, conselhos de ministros, parlamentos etc.) e a padronização de políticas econômicas e monetárias necessárias para garantir, entre os países-membros, níveis compatíveis de inflação, taxas de juros, déficits públicos etc. É o caso da União Europeia. União Europeia A União Europeia (UE) foi criada pelo Tratado de Roma, assinado em 25 de março de 1957, e passou a vigorar em 1º de janeiro de 1958, com o nome de Comunidade Econômica Europeia (CEE). O nome atual só foi adotado no início da década de 1990. Os primeiros países integrantes foram França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo, grupo chamado “Europa dos Seis”. Desde então, o bloco não parou de se expandir. Em 2018, além dos 28 membros, havia cinco países candidatos: Albânia, Antiga República Iugoslava da Macedônia, Montenegro, Sérvia e Turquia. Os objetivos iniciais da CEE eram recuperar os países-membros, enfraquecidos econômica e politicamente após a Segunda Guerra, conter a ameaça do comunismo e, ao mesmo tempo, deterá crescente influência dos Estados Unidos. Esses objetivos foram atingidos gradativamente. Somente em 1986, com a assinatura do Ato Único, acordo que complementou o Tratado de Roma, começou a Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 54 instauração do mercado comum. Esse documento definiu objetivos precisos para a integração e estabeleceu o ano de 1993 para o fim de todas as barreiras à livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas. Naquele ano, começou a funcionar plenamente o Mercado Comum Europeu, e os três primeiros objetivos foram postos em prática. A livre circulação de pessoas começou a valer em 1995, quando entrou em vigor a Convenção de Schengen, acordo assinado nessa cidade luxemburguesa que prevê a supressão de controle fronteiriço entre os países signatários. No entanto, nem todos os membros da União Europeia aderiram à Convenção de Schengen (Reino Unido e Irlanda não fazem parte). Por outro lado, alguns países que não são membros da UE aderiram a esse acordo de livre circulação de pessoas (Noruega e Suíça fazem parte). Em 1991, os países-membros do Mercado Comum Europeu assinaram o Tratado de Maastricht, nome da cidade dos Países Baixos onde se realizou o encontro, por meio do qual foram definidas as etapas seguintes da integração e mudada a denominação do bloco para União Europeia. Nesse mesmo tratado, osintegrantes do bloco também decidiram adotar uma moeda única, o euro, que começou a circular em 1º de janeiro de 2002. Assim, a UE tornou-se uma união econômica e monetária cuja moeda passou a ser controlada pelo Banco Central Europeu, sediado em Frankfurt (Alemanha). Porém, não são todos os países-membros que fazem parte da chamada zona do euro. Em 2018, dezenove países da UE adotavam a moeda única; dos nove que não faziam parte da união monetária, dois, Reino Unido e Dinamarca, optaram por manter suas moedas nacionais, e os sete restantes ainda não tinham preenchido as condições jurídicas e econômicas exigidas. A União Europeia é o maior bloco comercial do planeta: em seus domínios estão cinco países da lista dos dez principais países exportadores, Alemanha, Países Baixos, França, Itália e Reino Unido, mas há também pequenas economias com um comércio externo reduzido, como Chipre e Malta. Em 2016, segundo a OMC, o comércio exterior do conjunto dos países da UE atingiu em torno de 5,4 trilhões de dólares. Entretanto, 64% desse intercâmbio de mercadorias foi intrabloco. União Europeia: indicadores socioeconômicos em 2016 Membros População (milhões de habitantes) PIB (bilhões de dólares) Exportações (bilhões de dólares) Importações (bilhões de dólares) 28 512 17.024 5.374 5.330 Desde a assinatura do Tratado de Maastricht, o Parlamento europeu se fortaleceu gradativamente. Esse órgão, sediado em Estrasburgo (França), representa os cidadãos dos Estados-membros: seus parlamentares são eleitos diretamente e tomam decisões que afetam toda a UE. O número de representantes é proporcional à população de cada país. Em 2018, de um total de 751 deputados, a Alemanha, o país mais populoso da UE, com 81 milhões de habitantes, possuía 96 parlamentares; no outro extremo, Malta, o menos populoso, com 400 mil moradores, possuía seis. A UE também dispõe de um poder executivo, a Comissão Europeia, que representa o interesse comum do bloco e tem como principal função pôr em prática as decisões do Conselho e do Parlamento. Sua sede fica em Bruxelas (Bélgica), considerada a capital da UE. O Conselho da União Europeia representa cada um dos Estados-membros e é o principal órgão de tomada de decisões no âmbito do bloco. Em junho de 2016, o Reino Unido da Grã-Bretanha realizou um plebiscito para decidir se permanecia ou não na UE. A opção pela saída venceu com 52% dos votos, fato que ficou conhecido como Brexit (junção de Britain e exit). Em março de 2017, o país notificou o Conselho da União Europeia de sua intenção de deixar o bloco. A partir daí começaram as negociações entre representantes britânicos e europeus para definir os termos da saída. Nafta A formalização de acordos comerciais entre Estados Unidos, Canadá e México deu origem ao Acordo de Livre-Comércio da América do Norte, do inglês North America Free Trade Agreement (Nafta), a mais importante área de livre-comércio das Américas. O bloco entrou efetivamente em vigor em 1º de janeiro de 1994, quando os países-membros decidiram eliminar aos poucos as barreiras alfandegárias em suas transações comerciais. Entre outros motivos, a criação desse bloco Nafta: fluxos comerciais tentaram fazer frente ao fortalecimento econômico da União Europeia, alcançado graças ao processo de integração ocorrido naquele continente. Ao contrário do bloco europeu, que caminha para uma integração política e Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 55 econômica completa, o Nafta se restringe muito mais a um acordo comercial, não prevendo o avanço para uma união aduaneira ou um mercado comum. Seu grande destaque fica por conta da poderosa economia dos Estados Unidos, a maior do mundo, que responde sozinha por 84% do PIB total do bloco, enquanto a participação das economias canadense e mexicana representa apenas 10 e 6% respectivamente. Se a pujança econômica dos Estados Unidos não se compara com a do Canadá e a do México, a formação do Nafta vem consolidando ainda mais a influência econômica estadunidense em relação aos seus vizinhos. O impulso alcançado pela economia canadense ao longo do século passado, por exemplo, dependeu de grandes investimentos e capital estadunidense. Com o Nafta, a economia do Canadá se tornou ainda mais subordinada aos interesses dos empresários estadunidenses, que detêm o controle acionário de boa parte das empresas canadenses, inclusive daquelas ligadas aos setores estratégicos ou mais avançados tecnologicamente (informática, aeroespacial, eletroeletrônicos, química fina). Por isso, alguns especialistas consideram o território canadense uma extensão da economia dos Estados Unidos. Já no México, a influência do capital estadunidense se fortaleceu com o avanço das chamadas maquiladoras - empresas estadunidenses que se instalaram em território mexicano na fronteira com os Estados Unidos, em cidades como Tijuana, Mexicali e Ciudad Juarez. Entre essas empresas, destaca-se um grande número de indústrias do setor automobilístico (montadores de automóveis, autopeças, acessórios), montadoras de produtos eletroeletrônicos e de informática, cuja produção se destina sobretudo ao abastecimento do gigantesco mercado de consumo estadunidense. Apec Criada em 1989, a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico, do inglês Asia-Pacifíc Economic Cooperation (Apec), é formada por diversos países do sul, leste e sudeste asiático, da Oceania e também Hong Kong região administrativa especial chinesa), envolvendo ainda Chile e Peru países que também possuem acordos comerciais dentro do Nafta). Seu objetivo central é a criação de uma grande zona de livre-comércio de mercadorias e de capitais entre seus membros, prevista para ser concluída até 2020. A integração completa do bloco, entretanto, terá que superar inúmeros problemas, como as grandes disparidades políticas existentes entre seus membros. Alguns países, como a China, possuem projetos nacionais de desenvolvimento que não contribuíram para a abertura completa do seu mercado. A diminuição das desigualdades socioeconômicas é outro grande problema a ser superado. Ao lado das duas maiores potências econômicas mundiais (Estados Unidos e Japão) e de nações com os mais elevados índices de desenvolvimento humano, como o Canadá e a Austrália, a Apec também abrange países bem menos desenvolvidos socioeconomicamente, como Papua Nova Guiné. Embora o processo de integração econômica ainda não esteja efetivado, os países da Apec já formam o bloco economicamente mais dinâmico do mundo. Atualmente, o bloco reúne uma população de mais de 2,7 bilhões de pessoas, cerca de 39 dos habitantes do planeta, e sua produção econômica soma um PIB superior a 38 trilhões de dólares, o que equivale a 54 da produção mundial. Apesar a esses desafios, o processo de construção do bloco já provocou um grande crescimento econômico, impulsionado pela expansão das trocas comerciais entre os países-membros. Com o estreitamento de suas relações comerciais, a uma maior complementaridade entre as economias do bloco. Os recursos minerais e os combustíveis fósseis explorados em abundância na Austrália, por exemplo, passaram a abastecer o mercado do Japão, que apresenta escassez de matérias-primas naturais em seu território. Atualmente, cerca de 9% do total das exportações australianas são para o Japão. CEI A Comunidade dos Estados Independentes (CEI) é um bloco econômico regional, constituído, hoje, por onze países que se formaram com a dissolução da antiga União Soviética (URSS), ocorrida em 1991. Nesse mesmo ano, com a assinatura do Tratado de Alma-Ata, no Cazaquistão, das 15 repúblicas soviéticas que formavam a URSS, 12 aderiram à formação do bloco. As exceções foram Estônia, Letônia e Lituânia, países bálticos que optaram por romper todos os vínculos com os russos, seus opressores desde a Segunda Grande Guerra. Em 2008, a Geórgia, que até então pertencia ao bloco, sedesligou por motivos políticos. O propósito principal da CEI era intensificar as relações econômicas e políticas entre os países- membros que haviam acabado de surgir com o fim da Guerra Fria e do império soviético, acontecimentos que redesenharam em boa parte as fronteiras territoriais do continente asiático. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 56 Submetidos ao socialismo durante quase todo o século XX, com economias estatizadas e controladas pelo Estado, os novos países da CEI passaram por um drástico processo de transição para a economia capitalista de mercado, movida pela acirrada concorrência, pela elevada competitividade e pela participação do capital privado. Essas mudanças acarretaram uma forte desaceleração da economia, diante da crise que surgiu com a transição político-econômica, tendo como consequência o aumento do endividamento externo, do desemprego, da inflação, e a piora de outros indicadores sociais, como o aumento da pobreza e da concentração da renda, que acompanharam a turbulência econômica. Apesar dos acordos de integração já realizados entre seus membros, muitas são as dificuldades para sua consolidação efetiva, como as divergências que marcam as relações políticas e diplomáticas entre a Rússia e a Ucrânia, dois dos mais importantes países do bloco. Além disso, a CEI tem se caracterizado pela ocorrência de disputas entre os estados-membros e pelo não cumprimento de acordos estabelecidos. SADC A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, do inglês Southern African Develapment Cammunity (SADC), é o acordo comercial mais importante do continente africano. Criada em 1992 para assegurar a cooperação econômica na região sul do continente, essa comunidade é formada atualmente por 14 países-membros. Do ponto de vista econômico, a África do Sul é o país mais importante do bloco. Com um parque industrial diversificado, sua produção econômica responde por aproximadamente 62% do PIB total do bloco. E possui também um dos maiores mercados consumidores da região, formado por uma população de aproximadamente 50 milhões de pessoas, o que representa cerca de 24 dos habitantes da comunidade. Os objetivos da SADC vão muito além da busca do desenvolvimento econômico da região por meio da criação de um mercado comum, estabelecido por acordos comerciais entre os países parceiros, como a redução e a unificação de tarifas alfandegárias. Para além desses objetivos, o bloco também procura diminuir a pobreza e melhorar as condições de vida da população; promover o combate à Aids, doença que se tornou uma epidemia em vários países da região; reafirmar os legados socioculturais africanos; estabelecer a paz e a cooperação política como forma de evitar a ocorrência de conflitos e guerras civis, como os que já eclodiram recentemente nessa comunidade. Outros blocos regionais, menos importantes do ponto de vista econômico, também atuam no continente africano, entre eles, a Comunidade Econômica e Monetária da África Central (EMCCA, do inglês Ecanamic and Manetary Cammunity ot Central Africa) e a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS, do inglês Ecanamic Cammunity af West African States). No entanto, os processos de integração entre os países que os compõem são prejudicados pelas frágeis condições políticas e socioeconômicas existentes em boa parte do continente: guerras civis, pobreza, fome, epidemias, baixo nível de industrialização, forte dependência econômica e carência de infraestrutura básica e produtiva. ALCA A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) é um projeto de bloco econômico que reúne países da América, tanto do sul, central e do norte. É considerado um projeto porque, ao longo das reuniões que foram feitas pelos países participantes, surgiram discordâncias entre eles e no fim de 2005, as negociações pararam. A proposta foi feita pelos Estados Unidos, no dia 09 de dezembro de 1994, em Miami22. A criação desse bloco não agradou a todos no continente, especialmente os latino-americanos. Os Estados Unidos foram os idealizadores da ALCA que, se estivesse em vigor, englobaria todos os países da América, com exceção de Cuba. Objetivos da ALCA Um dos principais objetivos da ALCA é a área de livre comércio no espaço americano, cujas taxas alfandegárias seriam reduzidas. Isso possibilitaria a passagem de mercadorias e a chance de um aumento significativo de comércio entre os países americanos. 22 ALCA. Blocos Econômicos. http://blocos-economicos.info/alca.html. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 57 Países-membros da ALCA Se o bloco entrar em funcionamento, os países participantes serão Antígua e Barbuda, Argentina, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Dominica, El Salvador, Equador, Estados Unidos, Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela. Outros Blocos Econômicos Regionais Existem ainda vários outros blocos econômicos pelo mundo, cujo objetivo central é a cooperação comercial entre seus membros; entre eles estão: • Comunidade Andina (CAN) ou Pacto Andino: criado em 1969, é formado por Bolívia, Peru, Equador, Colômbia. São membros associados o Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. • Caricom (Comunidade do Caribe): criada em 1973, tem como membros Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, além dos associados Anguilla, Bermuda, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Caiman e ifurks e Caicos. • Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático): criada em 1967, é composta por Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã. • OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico): é uma organização internacional e intergovernamental que agrupa o chamado “clube dos países ricos e desenvolvidos”. Geoeconomia e Geopolítica da América do Sul A Integração da América do Sul Os países que compõem a América do Sul formam um arquipélago caracterizado historicamente pelo distanciamento. Podemos observar, entre outras coisas, a inexistência de interligação entre os sistemas de transporte, energia e comunicação, isso sem contar com o desconhecimento cultural e histórico que temos dos nossos vizinhos. Isso ocorre por diversos motivos, desde um passado colonial em que a integração não fazia parte dos objetivos das potências colonizadoras (Portugal e Espanha), até a presença de fatores naturais que propiciam o isolamento, principalmente a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes. Nem o processo de independência dos países da região ou mesmo os ideais de Simon Bolívar, que pregava a união da América Latina, acabaram gerando resultados significativos. A partir da segunda metade do século XX, porém, governos sul-americanos passaram a, gradualmente, colocar em prática iniciativas que visavam unir os países da região. Entre sucessos e falhas, a integração da América do Sul começou a ser levada mais a sério, tanto sob o ponto de vista econômico como também político, social e cultural. Organizações Intergovernamentais As organizações intergovernamentais são organizações internacionais compostas por governos para diferentes fins, entre eles a integração regional. Um exemplo claro desse tipo de organização são os blocos econômicos, que possibilitam a realização de acordos comerciais visando à redução de tarifas alfandegárias e ao fluxo livre de mercadorias, entre outros objetivos. A formação dos blocos econômicos e de outras organizações intergovernamentais no subcontinente sul-americanose deu a partir da segunda metade do século XX, em uma tentativa de impulsionar a industrialização e o crescimento econômico dos países da região. Durante os anos de 1980 e 1990 houve a criação da maioria dos blocos atualmente existentes na América do Sul, sendo que, no século XXI, o viés ideológico vem ganhando cada vez mais destaque nas relações entre os países membros desses grupos, após vários governos de esquerda terem ascendido ao poder, incluindo a Venezuela. Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) Na década de 1960 foi formada a Associação Latino-Americana de Livre-Comércio (Alalc), que, no entanto, não durou nem sequer um ano, pois a Argentina e o Brasil ganhavam vantagens em relação a outros países. A Guerra Fria também colaborou para que os EUA intervissem no continente, manipulando governos da região de acordo com seus interesses, entre os quais não estava a integração sul-americana. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 58 Em 1980 a Alalc transformou-se na Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), cujo objetivo era impulsionar economicamente a região e desenvolver um mercado comum latino-americano por meio de acordos comerciais. Atualmente compõem o bloco países de toda a América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela, Cuba, Panamá e Nicarágua. Aliança do Pacífico Com o objetivo de estabelecer relações mais diretas com áreas estratégicas do comércio internacional, sobretudo a Ásia (que é atualmente um gigante comercial), alguns países latino-americanos com acesso ao Oceano Pacífico (Peru, México, Colômbia e Chile) formaram a Aliança do Pacífico, que ainda pode ganhar como membros Costa Rica e Panamá nos próximos anos. Acordos já foram firmados entre os países-membros na área comercial e também relacionados à cooperação científica, por meio do intercâmbio entre pesquisadores de diferentes universidades. Atualmente, os países que compõem esse bloco são caracterizados por governos neoliberais, alinhados aos EUA e que possuem economias de poder semelhante, ao contrário do Mercosul, por exemplo, no qual o Brasil representa uma economia muito superior em relação a outros países-membros. Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) Inicialmente proposta pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez (1954-2013) durante a Cúpula da Associação de Estados do Caribe, realizada em Cuba no ano de 2001 e criada oficialmente em 2004, a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) é a organização com maior viés ideológico entre as apresentadas, uma vez que se coloca claramente em oposição à política econômica dos EUA para a região e evoca os ideais de Simon Bolívar. Formada por Venezuela, Bolívia, Cuba e Nicarágua, a Alba difere de outras iniciativas que visam à relação com o comércio exterior, à exportação de commodities e às alianças com outros blocos, focalizando seus esforços na diminuição das desigualdades sociais, na priorização dos pequenos e médios empresários, além do desenvolvimento de uma economia solidária. Mercado Comum do Sul (Mercosul) O Mercosul (Mercado Comum do Cone Sul) é o mais importante bloco econômico da América Latina, integrando a economia da Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela como participantes efetivos. A origem dessa cooperação foi o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, assinado entre Brasil e Argentina em 1988, que fixou como meta o estabelecimento de um mercado comum, ao qual outros países latino-americanos poderiam se unir. Formado inicialmente pelos países que compõem o Cone-Sul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), o Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi fundado em 1991 através do Tratado de Assunção, realizado na cidade de mesmo nome, capital do Paraguai. Em 2012 o grupo ganhou um novo integrante, a Venezuela, e além dos países-membros ainda há a categoria de países associados (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru). O Paraguai chegou a ser suspenso do bloco nesse mesmo ano, em função da destituição do então presidente do país, Fernando Lugo (considerada antidemocrática pelos países-membros), mas a decisão foi revogada em 2013. Já a Bolívia está em processo de se tornar um novo membro; o México e a Nova Zelândia, por sua vez, atuam como países observadores, tendo como função fiscalizar as relações internacionais entre os estados participantes e associados. Como uma organização intergovernamental de livre-comércio, os países associados compartilham tarifas alfandegárias em comum e possuem acordos firmados em diversas áreas, permitindo a livre circulação de pessoas, bens e serviços. Esses acordos, além de facilitarem o comércio, ajudam a promover o turismo e a cooperação científica. Além de incrementar as relações entre os países-membros, também é objetivo da associação estreitar as relações comerciais em conjunto com outros países e blocos, por meio de acordos com a União Europeia, o Egito, Israel e Paquistão, por exemplo. Em 2014, Dilma Rousseff assumiu a presidência da entidade, que realiza encontros de chefes de Estado com frequência para tratar de questões políticas, econômicas e sociais. Embora a sede da organização se localize em Montevidéu, no Uruguai, o Brasil responde por cerca de 80% do PIB somado dos países do bloco e também pela maior parte das exportações do Mercosul para o mundo. A disparidade de poder entre as economias do Brasil e dos outros países que integram o Mercosul intensificou-se ainda mais em função da crise econômica vivida pela Argentina nos últimos anos e configura um desafio às negociações comerciais entre os membros do bloco. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 59 O atual estágio do Mercosul é o de união aduaneira, ou seja, os participantes negociam uma integração comercial mais elevadas mantêm uma tarifa externa (cobrança de taxas alfandegárias) única para os países de fora do bloco. Os países da Comunidade Andina e também o Chile são considerados como países associados, com vistas à integração no Mercosul. Comunidade Andina de Nações (CAN) Organização que tem origem no Pacto Andino, firmado em 1969 por países que compartilham a Cordilheira dos Andes (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Chile e Venezuela), a Comunidade Andina de Nações (CAN) ganhou seu nome atual em 1996 e hoje inclui como membros apenas os quatro primeiros países citados, pois o Chile e a Venezuela saíram do bloco original. Essa organização caracteriza-se também por possuir tarifas alfandegárias comuns, assim como uma área de livre-comércio entre os países-membros. Além disso, possui uma estreita relação comercial com o Mercosul, bloco comercial que pode ser considerado um parceiro econômico. Atualmente a CAN tem tido suas relações marcadas por embates ideológicos entre os países- membros, em função principalmente da oposição entre a Colômbia e os demais integrantes do bloco. Isso ocorre porque a Bolívia, o Equador e o Peru elegeram, nos últimos anos, governo considerados de esquerda e representados respectivamente pelos presidentes Evo Morales, Rafael Correa e Ollanta Humala, deixando o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos (considerado de direita) isolado. União de Nações Sul-Americanas (Unasul) Organização que agrega todos os países sul-americanos, com exceção da Guiana Francesa (por se tratar de um território ainda dependente da França), a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) surgiu para substituir a Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa) e foi criada em 2008 na cidade de Brasília. Ao contrário dos outros blocos, a Unasul não visa a um mercado comum, pois entende as diferenças existentes entre os países que conformam a região, e tem como objetivo principal criar um espaço de interlocução. Ela busca, por exemplo, fazer uma ponte entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico, que possuem políticase estratégias econômicas muitas vezes antagônicas. Anualmente são organizadas conferências diplomáticas com todos os presidentes dos países membros. Chamada de Cúpula Sul-Americana, tal conferência discute as estratégias de integração comercial do grupo. Ocasionalmente também são realizados encontros especiais, como um março de 2015, quando o grupo se reuniu para discutir as sanções econômicas dos EUA sobre a Venezuela e para denunciar uma tentativa de desestabilização do governo do presidente Nicolás Maduro. A criação do Conselho de Defesa Sul-Americano, que se configura como uma alternativa regional por tratar de conflitos geopolíticos, surgiu como uma forma de preservar a paz e a soberania dos países envolvidos e se destaca como uma das iniciativas mais importantes da Unasul, assim como a iniciativa de integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (lirsa), que tem como objetivo uma série projetos de integração física entre os países sul-americanos. Questões 01. (TJ/PR – Administrador – TJ/PR) Sobre o tema blocos econômicos, assinale a alternativa correta. (A) A União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) é formada pelos doze países da América do Sul. O tratado constitutivo da organização foi aprovado durante a Reunião Extraordinária de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Brasília. A UNASUL tem-se revelado um instrumento útil para a solução pacífica de controvérsias regionais e para o fortalecimento da proteção da democracia na América do Sul. (B) A Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) é um bloco comercial latino-americano criado formalmente no Chile. O bloco agrupa Chile, Colômbia, México e Peru. Em maio de 2013, foi decidido acolher a Costa Rica como membro pleno. (C) A Aliança do Pacífico é um bloco comercial com sede nas Filipinas, do qual fazem parte os países asiáticos e a Oceania, criado para fortalecer o livre comércio entre os países participantes e incrementar as exportações para outros países. (D) O Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), por ser uma zona de livre comércio, estabeleceu o fim das barreiras alfandegárias entre Estados Unidos e Canadá. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 60 02. (PC/PI – Perito – NUCEPE) O MERCOSUL, um dos importantes blocos econômicos da atualidade, teve origem: (A) nos acordos políticos entre os regimes ditatoriais dos países do “Cone Sul”. (B) na imposição feita pelos Estados Unidos ao Brasil e ao Uruguai para o estabelecimento de fronteiras econômicas na América do Sul. (C) nos acordos comerciais entre Brasil e Argentina, assinados em meados dos anos 1980. (D) No processo político que acabou com a Guerra Fria e instalou a democracia na Argentina e no Paraguai (E) na estruturação de uma Zona de Livre Comércio entre Brasil, Argentina e Chile, com o apoio dos Estados Unidos e da Inglaterra, no final da década de 1970. 03. (INSS – Analista – CESPE) Acerca de economias regionais e blocos econômicos, julgue o item abaixo. A União Europeia, um dos blocos econômicos mais conhecidos, foi oficializada pelo Tratado de Maastricht. (....) Certo (....) Errado 04. (TJ/AL – Analista – CESPE) Acerca de blocos econômicos, acordos internacionais e retaliações, assinale a opção correta. (A) O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) é uma área de livre comércio, pois os países envolvidos têm tratamento diferenciado, em relação às tarifas de importação, somente entre eles. (B) Nas áreas de livre comércio, os países integrantes de cada bloco econômico estabelecem, entre eles, tarifas de importação com alíquotas zero e, em relação a terceiros, tarifas comuns. (C) Em uma união aduaneira, os países envolvidos, além de terem alíquotas diferenciadas entre eles, estabelecem alíquotas comuns frente a terceiros. (D) Nos acordos preferenciais de comércio, os países envolvidos estabelecem tarifas comuns aos produtos oriundos de terceiros. (E) O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) é considerado um mercado comum por possuir tarifa externa comum e livre circulação dos fatores de produção. 05. (ABIN – Agente de Inteligência – CESPE) O mercado é a instituição central do processo de globalização. Um dado fundamental é a evidência de que o mercado se tornou mundial. Isso não quer dizer que tombaram os muros das fronteiras nacionais ou dos protecionismos, mas que nunca tantos produtos cruzaram oceanos e continentes. As barreiras estabelecidas pelos blocos nacionais ou pelos acordos comerciais visam mais normatizar a competição em favor dos interesses comerciais particulares de cada país do que bloquear essa circulação. É, pois, no mercado e nas expectativas de consumo que ele propicia que se materialize a globalização. Iná E. Castro. Bertrand do Brasil, 2006, p. 233 (com adaptações). Tendo em vista o tema da globalização, tratado no texto acima, julgue os itens a seguir. A globalização econômica produziu a segmentação do espaço econômico mundial, expressa por meio da formação de blocos econômicos regionais como o MERCOSUL. (....) Certo (....) Errado Gabarito 01.A / 02.C / 03.Certo / 04.A / 05.Certo Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 61 NOVA ORDEM MUNDIAL, ESPAÇO GEOPOLÍTICO E GLOBALIZAÇÃO23 Uma ordem mundial diz respeito às configurações gerais das hierarquias de poder existentes entre os países do mundo. Dessa forma, as ordens mundiais modificam-se a cada oscilação em seu contexto histórico. Portanto, ao falar de uma nova ordem mundial, estamos nos referindo ao atual contexto das relações políticas e econômicas internacionais de poder. Durante a Guerra Fria, existiam duas nações principais que dominavam e polarizavam as relações de poder no globo: Estados Unidos e União Soviética. Essa ordem mundial era notadamente marcada pelas corridas armamentista e espacial e pelas disputas geopolíticas no que se refere ao grau de influência de cada uma no plano internacional. Este era o mundo bipolar. A partir do final da década de 1980 e início dos anos 1990, mais especificamente após a queda do Muro de Berlim e do esfacelamento da União Soviética, o mundo passou a conhecer apenas uma grande potência econômica e, principalmente, militar: os EUA. Analistas e cientistas políticos passaram a nomear a então ordem mundial vigente como unipolar. Entretanto, tal nomeação não era consenso. Alguns analistas enxergavam que tal soberania pudesse não ser tão notável assim, até porque a ordem mundial deixava de ser medida pelo poderio bélico e espacial de uma nação e passava a ser medida pelo poderio político e econômico. Nesse contexto, nos últimos anos, o mundo assistiu às sucessivas crescentes econômicas da União Europeia e do Japão, apesar das crises que estas frentes de poder sofreram no final dos anos 2000. De outro lado, também vêm sendo notáveis os índices de crescimento econômico que colocaram a China como a segunda maior nação do mundo em tamanho do PIB (Produto Interno Bruto). Por esse motivo, muitos cientistas políticos passaram a denominar a Nova Ordem Mundial como mundo multipolar. Mas é preciso lembrar que não há no mundo nenhuma nação que possua o poderio bélico e nuclear dos EUA. Esse país possui bombas e ogivas nucleares que, juntas, seriam capazes de destruir todo o planeta várias vezes. A Rússia, grande herdeira do império soviético, mesmo possuindo tecnologia nuclear e um elevado número de armamentos, vem perdendo espaço no campo bélico em virtude da falta de investimentos na manutenção de seu arsenal, em razão das dificuldades econômicas enfrentadas pelo país após a Guerra Fria. É por esse motivo que a maior parte dos especialistas em Geopolítica e Relações Internacionais, atualmente, nomeia a Nova Ordem Mundial como mundo unimultipolar. “Uni” no sentido militar, pois os Estados Unidos é líder incontestável.“Multi” em razão das diversas crescentes econômicas de novos polos de poder, sobretudo a União Europeia, o Japão e a China. A Divisão do Mundo entre Norte e Sul Durante a ordem geopolítica bipolar, o mundo era rotineiramente dividido entre leste e oeste. O Oeste era a representação do Capitalismo liderado pelos EUA, enquanto o Leste demarcava o mundo Socialista representado pela URSS. Essa divisão não era necessariamente fiel aos critérios cartográficos, pois no Oeste havia nações socialistas (a exemplo de Cuba) e no leste havia nações capitalistas. 23 http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/nova-ordem-mundial.htm. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 62 Contudo, esse modelo ruiu. Atualmente, o mundo é dividido entre Norte e Sul, de modo que no Norte encontram-se as nações desenvolvidas e, ao sul, encontram-se as nações subdesenvolvidas ou emergentes. Tal divisão também segue os ditames da Nova Ordem Mundial, em considerar preferencialmente os critérios econômicos em detrimento do poderio bélico. Em vermelho, os países do sul subdesenvolvido e, em azul, os países do norte desenvolvido Observa-se que também nessa nova divisão do mundo não há uma total fidelidade aos critérios cartográficos, uma vez que alguns poucos países localizados ao sul pertencem ao “Norte” (como a Austrália) e alguns países do norte pertencem ao “Sul” (como a China). A Economia Capitalista Hoje Vivemos na segunda década da Nova Ordem Internacional. Suas características tornam-se a cada dia mais claras. Suas raízes econômicas remontam às transformações iniciadas com as tecnologias dos anos de 1970, que influenciam as potências atuais de forma marcante. No campo geopolítico, essa nova era configurou-se com a crise do socialismo, o fim da Guerra Fria e a valorização dos problemas sociais e ambientais. Na atualidade, o grupo de países desenvolvidos, formado por 23 nações (Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Islândia, Noruega, Suíça e os 15 membros da União Europeia), torna- se cada vez mais rico. Em 2005, a população dessas nações somava 900 milhões de pessoas (13% do total mundial) e produzia cerca de 32 trilhões de dólares (80% do PIB mundial), o que dava uma renda per capita de mais de 35 mil dólares. Em 1960, os mesmos países tinham cerca de 20% da população mundial e controlavam cerca de 60% do PIB do mundo. Uma das características político-econômicas mais importantes da Nova Ordem Internacional foi o crescente uso dos princípios teóricos do neoliberalismo. Especialistas acreditam que os neoliberais criaram, com seu pragmatismo, um conjunto de regras econômicas muito claro, que se resume aos seguintes aspectos: * O Estado deve se restringir a algumas funções públicas; * O déficit público deve ser evitado e, se existir, reduzido; * As empresas estatais devem ser privatizadas; * O Banco Central de cada país deve ser independente; * A moeda deve ser estável, com um mínimo de inflação; * Os fluxos financeiros não devem sofrer restrições; * Os mercados devem ser abertos, liberalizados e desregulamentados; * A produção industrial deve ser internacionalizada, buscando-se mão-de-obra mais barata; * As empresas devem ser modernizadas, enxutas e competitivas. Frente às crises e ao aumento da miséria nos países subdesenvolvidos, alguns neoliberais modernos defendem que esse receituário não tem dado certo por culpa dos governos. Seria necessário apenas conter os monopólios privados, supervisionar os bancos com mais atenção, investir em educação e aumentar a poupança interna. Dentro da Nova Ordem Internacional, o controle que os países desenvolvidos exerciam sobre o comércio de exportação no mundo continuou, embora sua participação no total tenha sido um pouco reduzida. Essa redução foi consequência do crescimento das exportações conquistado pelos países subdesenvolvidos industrializados. A participação dos países subdesenvolvidos no comércio mundial de exportação vinha decrescendo desde o início da Ordem da Guerra Fria (era de cerca de 31% do total mundial em 1950 e caiu para cerca de 20% em 1985). Essa situação começou a se reverter no início da Nova Ordem Internacional. Nos dez anos seguintes, os países pobres passaram a controlar maiores parcelas do comércio mundial de exportação. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 63 Esse aumento das exportações, por si só, não foi suficiente para elevar o padrão de riqueza dos países subdesenvolvidos como um todo. A maior parte desse aumento foi de responsabilidade de um restrito grupo de países subdesenvolvidos industrializados, enquanto a grande maioria dos mais de 150 países subdesenvolvidos continuou a assistir à queda dos preços de suas mercadorias de exportação (commodities) e a redução de sua participação no comércio mundial, exceto os exportadores de petróleo. Mesmo assim, o crescimento do comércio internacional é apontado como um dos indicadores da aceleração do processo de globalização, que criou uma maior dependência das economias nacionais em relação à economia internacional, pois uma grande parcela das atividades produtivas e dos trabalhadores fica dependente do desempenho de seus países no mercado mundial. Esse crescimento do comércio e essa maior dependência das economias nacionais são o resultado das políticas de liberalização alfandegária colocadas em prática desde o final da Segunda Guerra Mundial. Desde então, as taxas alfandegárias médias dos países mais desenvolvidos do mundo caíram de 40% para menos de 5%. Por outro lado, o crescimento do comércio internacional foi fruto da maior integração e complementação econômica dos conjuntos de países que formaram organizações ou zonas de livre comércio, como a União Europeia e o Nafta. Características da Nova Ordem Internacional24 A Nova Ordem Internacional já pode ser caracterizada por um amplo conjunto de aspectos. Citaremos todos, porém, nos atentaremos mais detalhadamente, à Globalização. São eles: * Investimentos em P&D; * Os blocos econômicos; * Dívida externa; *Desemprego; * As economias em transição; * O problema da pobreza. Globalização A Globalização não é nenhuma novidade. Há séculos ela evolui na forma de ciclos, intensificando os fluxos de pessoas, bens, capital e hábitos culturais. Ela se originou com a primeira fase da expansão capitalista europeia, impulsionada pelas Grandes Navegações do final do século XV. Entre 1870 e 1890, a globalização foi novamente intensificada, graças à aceleração dos investimentos internacionais, a ampliação do comércio e o aperfeiçoamento dos meios de transportes e comunicações. Posteriormente, durante o período que se estende entre 1910 e 1920, houve nova aceleração desse processo, associada ao crescente militarismo, que culminaria com a Primeira Guerra Mundial. Um terceiro pico ocorreu durante a década de 1930, antecedendo a Segunda Guerra Mundial. Após a Segunda Guerra Mundial, o processo de globalização foi mais lento, amarrado pelas relações limitadas entre os países capitalistas e os socialistas e pelas políticas comerciais altamente protecionistas. Somente na década de 1990 os investimentos internacionais retornariam ao patamar de 1941. Corporações Transnacionais25 As transnacionais correspondem às corporações industriais, comerciais e de prestação de serviços que atuam em distintos territórios dispersos no mundo. Nesse caso, ultrapassam os limites territoriais dos países de origem das empresas. Grande parte das empresas transnacionais é oriunda de países industrializados e desenvolvidos que detêm um grande capital acumulado; o excedente, nesse caso, é direcionado para países em todos os continentes. Os investimentos dessas empresas são altíssimos, uma vez que a matriz emite os recursos para as filiais localizadas em muitos países pobres. Nesses países, as transnacionais exercem funções importantescomo acelerar o desenvolvimento industrial, além de gerar postos de trabalho. No entanto, essas empresas não têm objetivo social no momento em que se instalam em um determinado país. Pelo contrário, para sua instalação acontecer, o governo oferece uma série de benefícios e incentivos, tais como isenção parcial ou total de tributos, até mesmo dos lucros. Esses países se submetem a essas exigências a fim de atrair novos investimentos estrangeiros e também garantir a permanência das empresas. 24 SCALZARETTO, Reinaldo. Geografia Geral – Geopolítica. 4ª edição. São Paulo: Anglo. TERRA, Lygia; et. al. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Moderna. 25 https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/transnacionais.htm. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 64 As transnacionais estão ligadas à globalização da produção, na qual um único produto pode ter várias origens, isso por que os seus componentes têm origens distintas e são montados em uma determinada localidade do mundo. Esse fluxo produtivo visa unicamente verticalizar os lucros, diminuindo os custos, consolidando-se no mercado como empresas competitivas que buscam alcançar grandes parcelas do mercado internacional. Há pouco tempo essas empresas eram denominadas multinacionais, porém gradativamente esse termo não mais está sendo usado, uma vez que a expressão emite uma ideia de uma empresa que possui diversas nacionalidades. Dessa forma, empresas com essas características recebem o nome de transnacionais, possuem sede em um país e desempenham atividades em diversos outros. Atualmente, existem em funcionamento cerca de 40 mil empresas transnacionais, muitas originadas de países desenvolvidos, porém existem ainda corporações oriundas da Coreia, Índia, México e Brasil. As transnacionais exercem influência que transcende a economia, pois interfere em governos e nas relações entre países. Essas empresas surgiram efetivamente a partir da Segunda Guerra Mundial, quando empresas de países ricos migraram suas atividades para lugares espalhados pelo mundo. Com a expansão das transnacionais, a partir da década de 1950, a globalização foi acelerada. Hoje, a Terceira Revolução Industrial, que gerou um sistema de produção econômica com regras que se uniformizam e se universalizam rapidamente, está criando uma nova onda de globalização. Suas instituições passam a controlar e organizar essa economia em que as fronteiras perdem a importância e muitos Estados disputam o direito de abrigar as sedes ou as filiais das grandes corporações, que controlam a oferta de empregos e investimentos. Dessa forma, o espaço geográfico mundial tem caminhado em direção a uma crescente homogeneização, fruto da imposição de um sistema econômico e social globalizado sobre toda a superfície da Terra. Nas últimas décadas, esse processo sofreu uma forte aceleração, especialmente porque o polo de oposição ao capitalismo, que durante 45 anos compartia o mundo, criando a bipolaridade da Guerra Fria, entrou em crise. Os investimentos internacionais são realizados de forma direta, pelas empresas transnacionais que implantam ou ampliam suas unidades produtivas, ou indireta, quando se relacionam aos fluxos de capital que entram por meio de empréstimos, moeda trazida por estrangeiros, pagamentos de exportações, vendas de títulos públicos no exterior e investimentos no mercado financeiro (especialmente em bolsas de valores). Observe sua evolução recente: Os investimentos internacionais foram acelerados na Nova Ordem. Eles saltaram de 924 bilhões de dólares em 1991 para mais de 5,4 trilhões em 2001. Na era da globalização, quando as informações são instantâneas, um observador pode acompanhar a abertura e o fechamento das mais importantes bolsas de valores do mundo durante 22 horas seguidas: se ele estiver em São Paulo, a Bolsa de Tóquio abre às 21 horas (hora de Brasília) e fecha às 5 horas do dia seguinte. Uma hora mais tarde, abre a Bolsa de Londres e, às 11 horas, a de Nova Iorque, que só fecha às 19 horas. Podemos notar facilmente que a maior parte dos investimentos tem sido sempre no mercado financeiro, ou seja, nas bolsas de valores. É o que se chama de capital volátil. Esses investimentos entram nos países e saem muito rapidamente, circulando diariamente no mundo, de uma bolsa para outra, mais de 3 trilhões de dólares. O mercado financeiro de ações comercializadas em bolsas de valores estocava um patrimônio coletivo de 47 trilhões de dólares em 2005. Com o desenvolvimento da informática, o mercado financeiro se acelerou como forma de investimento. Os investimentos financeiros diretos também cresceram bastante, aumentando mais de sete vezes nesse período, principalmente por meio da compra de empresas privatizadas, dentro da política neoliberal. As privatizações se expandiram muito desde o início da década de 1990. Entre 1988 e 2003, houve mais de 9 mil privatizações em cerca de 120 países, que somaram mais de 410 bilhões de dólares de transações. Grande parte das pessoas acredita que as privatizações, na atualidade, só ocorrem em países subdesenvolvidos ou nos países socialistas que estão em transição para a economia de mercado. Na verdade, a década de 1990 foi marcada pelo aumento das privatizações em diversos países desenvolvidos. Embora a globalização seja comandada pelos agentes financeiros e econômicos, há uma profunda relação entre seus interesses e as ações políticas desenvolvidas pelos Estados. Na atualidade, vemos uma espécie de privatização do Estado, que é colocado a serviço dos interesses do grande capital. Hoje, mais do que em qualquer outra época da modernidade, a elite econômica colocou o Estado a serviço de seus interesses. São os governos dos países mais ricos do mundo que promovem, numa ação Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 65 política bem orquestrada, a globalização, preparando encontros, ampliando o raio de ação das organizações internacionais, realizando acordos comerciais, que favorecem a quem controla a economia. Recentemente, por causa das transformações econômicas em direção à globalização, a redução das taxas alfandegárias e a liberação do movimento dos capitais, muitos estudiosos passaram a acreditar que o Estado nacional estava em fase de dissolução. Em verdade, ocorreu a sua transformação: as relações entre o Estado e a economia se internacionalizaram, e a privatização tornou-se norma. Dessa forma, o Estado abandonou o papel de agente econômico, desfazendo-se dos seus ativos, e passou a exercer o papel de organizador e gestor de uma economia globalizada, no qual o conceito de soberania nacional passou por uma revisão. As aquisições e fusões que têm caracterizado a globalização desde o início da década de 1990 não pretendem aumentar a produção, criar novas fábricas e ampliar os empregos. A função dessa onda de fusões é cortar as atividades redundantes, reduzir a concorrência e aumentar a concentração de capitais. O resultado final tem sido sempre a elevação das taxas de desemprego e o aumento da monopolização. O volume das transações financeiras provocadas pelas fusões de grandes empresas tem ampliado o mercado de ações e acelerado a movimentação de capitais. No contexto da globalização, os países subdesenvolvidos ou periféricos não têm peso na definição desse novo panorama geopolítico mundial, ficando, cada mais uma vez, atrelados aos países líderes. Assim, com a decadência do bloco socialista, resta para o capitalismo resolver, num futuro próximo, três graves problemas: Desigualdade – Há uma crescente desigualdade de padrão de vida entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos, além das diferenças de renda dentro dos próprios países desenvolvidos. Segundo Hobsbawm, a ameaça que a expansão socialista representou após 1945 impulsionou a formação do Welfare State (Estado de bem-estar social), comreformas sociais nos países desenvolvidos, criando-se uma parceria entre capital e trabalho organizado (sindicatos), sob os auspícios do Estado. Isso gerou a consciência de que a democracia liberal precisava garantir a lealdade da classe trabalhadora, com caras concessões econômicas. O abandono dessas políticas sociais tem ampliado o quadro da desigualdade social, até mesmo em países desenvolvidos. Conflitos Étnicos – Ascensão do racismo e crescente xenofobia, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, devido ao grande fluxo de imigrantes das regiões mais pobres para os países industrialmente mais desenvolvidos. Meio Ambiente – Crise ecológica mundial, que alerta para a necessidade de solucionar as agressões ao meio ambiente, que podem afetar todo o planeta. Globalização e Subdesenvolvimento Subdesenvolvimento não é fruto da globalização. Ele se caracteriza por graves problemas sociais e grande desigualdade no interior da sociedade e pela capacidade limitada de desenvolvimento tecnológico, entre outros fatores. Os países incluídos nesse grupo também são diferentes entre si. Alguns possuem elevada capacidade de produção instalada e atraem volumes expressivos de investimentos do exterior, como é o caso do Brasil. Outros estão excluídos da ordem econômica mundial e dependem de ajuda humanitária para a sobrevivência da população faminta, sem oportunidades de trabalho e sem condições de obter renda. Origens do Subdesenvolvimento A origem do processo de formação dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos remonta às grandes navegações empreendidas pelos Estados-nações recém-formados na Europa, a partir do século XV. Nessa época, esses Estados expandiram o comércio, explorando os produtos e recursos da América, da África e da Ásia e passaram a exercer forte domínio sobre os povos desses continentes, controlando a extração e a produção neles realizadas. As terras conquistadas e dominadas (as colônias) não possuíam autonomia administrativa, e seus recursos e riquezas eram explorados intensamente, em benefício de alguns países, como Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra (as metrópoles). A exploração dos recursos das colônias, como metais preciosos, minérios e produtos agrícolas, proporcionou de fato um grande enriquecimento às metrópoles. Poucas foram as exceções a essa forma de colonialismo. São os casos da Austrália, Nova Zelândia, Canadá e dos EUA. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 66 Mas, ainda nas duas últimas décadas, o processo de globalização acentuou a distância entre o mundo rico e o mundo pobre, e a quantidade de pessoas vivendo em condições de pobreza elevou-se inclusive nos países ricos. Segundo o economistas, no início do século XXI, cerca de 2/3 da população do planeta encontra-se à margem dos benefícios propiciados pelo aumento na capacidade de produção de mercadorias e de geração de serviços, e pelo processo de globalização (por exemplo, ampliação dos fluxos de informações, capitais e mercadorias). Mundialização do Planeta Os processos de exclusão que estamos observando no mundo inteiro não afetam unicamente os países do sul, mas representam a principal preocupação dos países industriais. Tal como se processa a globalização nas formas atuais, muita gente está ficando de fora. Segundo estimativas de autores americanos, inclui um terço e deixa fora dois terços da população mundial. Metaforicamente, está havendo uma terceiro-mundialização do planeta. Apesar de a globalização ter acentuado os problemas sociais nos países do norte, esses problemas são extremamente mais graves nos países do sul, onde a capacidade de solução dessas questões é bastante limitada. Divisão Norte-Sul A divisão Norte-Sul simboliza a separação entre os mundos desenvolvido e subdesenvolvido. Os países desenvolvidos estão situados quase todos no hemisfério Norte (com exceção da Austrália e Nova Zelândia, que também são classificados como países do norte) e os subdesenvolvidos estão situados ao sul do bloco dos países desenvolvidos. Por esta razão a expressão norte passou a ser sinônimo de desenvolvimento e sul, do inverso. Considerando a situação atual dos países do mundo, as diferenças são gritantes. Os países do G-8 (grupo que inclui os sete países mais ricos: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Canadá, além da Rússia) são responsáveis pela produção de cerca de 56% de toda a riqueza do mundo. Todos os demais países reunidos, onde vivem 85% da população mundial, produzem os 44% restantes. As distâncias socioeconômicas entre os países tendem a aumentar a cada ano com o desenvolvimento técnico-científico acelerado e concentrado nos países mais desenvolvidos. Segundo o Relatório 2002 do Fundo de População das Nações Unidas, em 1960 o rendimento dos 20% mais pobres no mundo era 30 vezes menor que o dos 20% mais ricos. Essa diferença havia aumentado para 74 vezes em 2002. O mesmo relatório aponta que cerca de três milhões de pessoas vivem com menos de dois dólares por dia. Considerando que o desenvolvimento tecnológico é um elemento importante para o processo de globalização, o Brasil, no início do século XXI, ocupava a desconfortável 43ª posição no mundo em conquistas tecnológicas. O Conselho de Washington O Conselho de Washington refere-se a um conjunto de receitas econômicas criadas, em 1989, visando acelerar o desenvolvimento da América Latina. O economista John Williamson reuniu o pensamento das grandes instituições financeiras (FMI, Banco Mundial, BIRD) e também do governo norte-americano, que pretendiam resolver a crise dos países pobres e particularmente os da América Latina, e propor caminhos para o desenvolvimento. Entre essas instituições havia “consenso” sobre alguns pontos principais. De acordo com o Conselho de Washington, os países deveriam: * promover uma reforma fiscal, isto é, uma reforma no sistema de atribuição e de arrecadação de impostos, para que as empresas pudessem pagar menos e adquirir maior competitividade. * promover o corte de salários e demissão dos funcionários públicos em excesso, e realizar mudanças na previdência social, nas leis trabalhistas e no sistema de aposentadoria, para diminuir a dívida do governo (chamada dívida pública). Além disso, o Conselho de Washington propunha a abertura comercial, o aumento de facilidades para a entrada e saída de capitais e a privatização de empresas estatais. Risco-País Numa economia internacional muito integrada, s maiores investidores têm grande “controle” ou “poder” sobre a situação econômico-financeira de um país, conforme a dependência desse país em relação aos investimentos externos. As agências internacionais de investimentos, por sua vez, divulgam relatórios constantemente sobre a capacidade dos países para pagar seus compromissos externos e avaliam o “nível de segurança” de cada país. Essa classificação recebe o nome de risco-país, e os investidores levam em conta esses relatórios ao aplicarem seu capital. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 67 Enfim, nesse mundo globalizado, o sistema financeiro internacional acaba tendo forte influência na vida das sociedades dos diversos países, com consequências muitas vezes negativas. O que é risco-país? É uma classificação baseada na diferença entre o juro pago por um papel (título) e a taxa oferecida por um título com prazo de vencimento semelhante pelo Tesouro dos Estados Unidos, título este considerado o papel mais seguro do planeta, de risco praticamente zero. Essa avaliação é realizada por agências de investimentos como Moody`s, Standard & Poor`s (S&P) e Fitch (todas norte-americanas). A classificação reflete, na visão dos investidores, qual é a possibilidade de o país pagar ou não suas dívidas interna e principalmente externa. Quanto maior a taxa de risco de um país, mais altos serão os juros que o governoterá de pagar para renovar ou obter novos empréstimos, e menos para receber novos investimentos. (Adaptado de Folha de São Paulo, 13/06/2002, p. B-4 e 22/10/2002, p. B-1). Os países, para serem confiáveis, deveriam cumprir as normas e as sugestões do “Consenso”. Nada era obrigatório, mas seguir suas determinações básicas era condição para receber ajuda financeira externa e atrair capitais estrangeiros. A Escala Regional na Ordem Global Em novembro de 2012, a Assembleia Geral da ONU reconheceu, por maioria, a Palestina como Estado observador não membro (Nova York, Estados Unidos). Para muitos analistas, esse reconhecimento poderia ter significado a retomada do processo de paz. Comércio Desigual e Regionalização na Economia Global De acordo com a inserção na economia mundial, é possível identificar grandes conjunto de países. A profunda desigualdade na participação no comércio mundial está relacionada com as mudanças nos padrões da divisão internacional do trabalho. Inserção Desigual dos Países na Economia Mundial Os países não se inserem na economia mundial da mesma maneira. O atraso econômico de muitos países é resultado de um processo histórico. O crescimento econômico das nações nos últimos séculos se confunde com a própria história do desenvolvimento do capitalismo, que desde o século XVI estabeleceu uma divisão internacional do trabalho. Os países dominantes ficavam com a maior parte da riqueza produzida, enquanto as colônias tinham a função de contribuir para a acumulação de capital nas metrópoles. A economia capitalista se desenvolveu concentrando riqueza e poder nas mãos das elites, principalmente das potências dominantes, criando em contrapartida regiões pouco desenvolvidas economicamente e pouco industrializadas, chamadas a partir da segunda metade do século XX de subdesenvolvidas. Esse termo tem sido questionado, pois a maior parte dos países chamados subdesenvolvidos esteve durante muito tempo na condição de colônia, e a exploração de seus recursos naturais e humanos impediu o seu crescimento econômico e seu desenvolvimento social. Ou seja, dentro de um mesmo processo, o crescimento econômico de uns foi conseguido em detrimento de outros. Podemos dizer que as desigualdades econômicas e sociais dividem o mundo em dois grandes grupos: o dos países ricos, mais industrializados, desenvolvidos, com menores problemas sociais, e o dos países pobres, menos industrializados, que contam com inúmeros problemas sociais, incluindo enorme quantidade de pessoas que vivem em precárias condições de vida. Esses grupos não são homogêneos, apresentando grandes diferenças. Grandes Conjuntos de Países Muitos países subdesenvolvidos, após a Segunda Guerra Mundial, passaram a investir na indústria, ficando conhecidos como países em subdesenvolvimento. Como a Primeira Revolução Industrial ocorreu no século XVIII e a Segunda Revolução Industrial no século XIX, esse processo é considerado industrialização tardia ou retardatária. E o caso do Brasil, México, Argentina e Tigres Asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong, na China). Os países ricos e pobres já receberam diversas denominações. Uma delas, a partir da década de 1980, refere-se à localização geográfica. Os mais desenvolvidos passaram a ser chamados de países do Norte, pois na sua maior parte encontravam-se no Hemisfério Norte. Os subdesenvolvidos, localizados majoritariamente no Hemisfério Sul, ficaram conhecidos como países do Sul. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 68 Mais recentemente, com a expansão e a internacionalização dos mercados, os países foram divididos em países centrais, mercados emergentes (ou semiperiféricos) e países periféricos. Em parte dos países em desenvolvimento (Brasil, México e Argentina), o processo de industrialização apoiou-se no modelo de substituição de importações, que incluía a proteção do mercado interno, a proibição da entrada de manufaturados estrangeiros e o fortalecimento de indústrias locais (nacionais e transnacionais). Outros países, como os que compõem os Tigres Asiáticos, industrializaram-se a partir do modelo de plataformas de exportação, no qual empresas transnacionais se instalam em determinado país e passam a exportar sua produção para outros países, onde o produto final é montado. Mudanças nos Padrões de Divisão Internacional do Trabalho Desde o final do século XX têm ocorrido algumas mudanças nos padrões da divisão da produção e do comércio internacional, com o crescimento da participação dos países em desenvolvimento nas exportações de manufaturados. No início do século XX, diversos países subdesenvolvidos, incluindo o Brasil, eram predominantemente agroexportadores. Na tradicional divisão internacional do trabalho essas economias estavam assentadas principalmente na exportação de matérias primas ou produtos primários (agropecuários, extrativos, minerais) para os países ricos. Por outro lado, os países subdesenvolvidos recebiam dos países desenvolvidos produtos do setor secundário (industrializados) e do setor terciário (comércio, capital, tecnologia). Os produtos exportados pelos países subdesenvolvidos tinham menor valor que os exportados pelos países desenvolvidos. Na produção industrial e tecnológica estão os produtos de maior valor agregado, ou seja, com maior quantidade de riqueza incorporada. Desde as últimas décadas do século XX, os países em desenvolvimento têm encontrado algumas brechas para produzir e colocar produtos manufaturados no comércio mundial. No entanto, em grande parte, ainda exportam produtos que agregam apenas tecnologia tradicional. O êxito no mercado internacional, com entrada significativa de divisas, não ocorre apenas para produção e exportação de grande volume de mercadorias. O que importa mais é o valor agregado à mercadoria. No caso, os países desenvolvidos agregam alta tecnologia. A maior parte do aumento da participação dos países em desenvolvimento no mercado de bens manufaturados provém da Ásia Oriental e do Pacífico. Somente um pequeno grupo de países participa das exportações de alta e média tecnologia (China e Taiwan, Coreia do Sul, Malásia, Cingapura, Índia, além do México, na América Latina). O mesmo acontece com as exportações de manufaturados com utilização de baixa tecnologia, nas quais se destacam China, Taiwan, Coreia do Sul, México e índia. Outros fatores como o custo dos transportes a distância entre os mercados mundiais influem no comércio. Nova Divisão Internacional do Trabalho Atualmente, tem-se estabelecido entre os países uma nova divisão internacional do trabalho, destacando-se três grupos de países: os industrializados centrais, os industrializados semiperiféricos e as economias periféricas, predominantemente agroexportadoras. Os países industrializados centrais iniciaram sua industrialização ainda no século XIX, formando uma indústria nacional e consolidando um mercado interno. Atualmente fabricam e exportam produtos da indústria de ponta (informática, aeroespacial e outras), os quais agregam alta tecnologia. Podemos citar como exemplos os Estados Unidos, alguns países da Europa Ocidental (Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Holanda, Bélgica, Suíça e Suécia), Japão e Canadá. O grupo das sete nações mais industrializadas (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Canadá) é conhecido como G-7. Em alguns casos a Rússia integra esse grupo, que passa a ser denominado G-8. Os países industrializados semiperiféricos formam um grupo muito diversificado e a maior parte tem pouca porcentagem de participação nas exportações de produtos manufaturados. Além das áreas centrais da Europa, outros países europeus (como Polônia, Espanha, Portugal e Grécia) ou ex-colônias europeias (Austrália, Nova Zelândia, África do Sul) funcionam como espaços de produção industrial anexos dos países centrais. Alguns países da Comunidade de EstadosIndependentes (CEI), como Rússia, Cazaquistão, Belarus e Ucrânia, tentam se reorganizar industrialmente após o abandono do regime socialista. Também fazem parte desse grupo países da América Latina, como México, Brasil e Argentina, que fabricam e exportam produtos industrializados utilizando principalmente baixa e média tecnologia, mas também exportam produtos agrícolas, matérias-primas minerais e vegetais. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 69 Os países semiperiféricos da Ásia têm aumentado sua participação nas exportações mundiais, representando 31,5% do total em 2010, ano em que a China ultrapassou os Estados Unidos tornando-se a primeira potência comercial do mundo. Os Tigres Asiáticos constituíram uma indústria nacional voltada para o mercado internacional, abastecendo-o com produtos de tecnologia avançada (computadores, automóveis e aparelhos eletrônicos). Investimentos em educação produziram uma mão de obra qualificada, embora barata. Os Novos Tigres Asiáticos, conjunto formado por Malásia, Indonésia, Filipinas e Tailândia, procuram aumentar sua produção e exportação de manufaturados. Esses países se industrializaram na década de 1970, na mesma época da industrialização de Chile, Egito, Turquia, Ilhas Maurício, Venezuela, Colômbia, Peru, Argélia e Marrocos. Entre os países semiperiféricos, os exportadores mais dinâmicos, que respondem por até 80% das exportações dos países em desenvolvimento, de baixa, média e alta tecnologia, são apenas sete: China, Coreia do Sul, Malásia, Cingapura, Taiwan, México e Índia. A China e a Índia, economias que têm crescido muito, integram-se ao esquema de produção e comercialização fabricando, entre outros, partes de componentes para computadores ou carros. Contando com um terço da população mundial e com grandes taxas de crescimento econômico, apesar de apresentarem grandes problemas sociais, uma aliança entre essas duas potências emergentes poderia redefinir o poder mundial. Especialistas do mundo dos negócios dizem que no final da primeira metade do século XXI será impossível ignorar a sigla Brics – iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa). Inicialmente, os quatro primeiros países constituíram o Bric, um grupo de cooperação que realizava reuniões anuais com o objetivo de aumentar sua importância geopolítica no cenário mundial. Em 2011, a África do Sul foi formalmente incluída no grupo, por apresentar desenvolvimento similar. Esses países são considerados a elite dos mercados emergentes com crescente importância na economia global. Segundo prognósticos, esses cinco países deverão estar entre as maiores economias do planeta, desbancando potências como o Japão e a Alemanha. Os países de fraca industrialização (ou periféricos) constituem-se de parte dos países asiáticos, parte dos latino-americanos e a maioria dos africanos. Contando com pouca industrialização e tendo por base uma economia agroexportadora, participam marginalmente do mercado mundial, fornecendo principalmente produtos primários. Na África, destacam-se as exportações de cacau (Costa do Marfim), de tabaco (Zimbábue) e de minérios, como o diamante (Botsuana e Namíbia) e o cobre (Zâmbia e Namíbia). Na América Central e América do Sul, Jamaica e Suriname exportam bauxita; a Bolívia, gás natural; e o Chile, cobre. Na Ásia, o Sri Lanka depende das exportações de chá. As cotações das commodities (mercadorias em estado bruto ou produtos primários) são fixadas pelos países ricos, sendo constantemente depreciadas. Além disso, os países ricos mantêm um conjunto de barreiras protecionistas e de subsídios agrícolas, desfavorecendo ainda mais os países periféricos. Interesses Econômicos e Comércio Internacional Pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial, a Conferência de Bretton Woods, realizada em 1944 nos Estados Unidos, estabeleceu novas regras financeiras e comerciais mundiais. O sistema monetário internacional utilizava o padrão-ouro para definir o valor das moedas a partir do peso do ouro ou equivalente (1870-1914). A substituição do padrão-ouro pelo padrão dólar-ouro (1944-1971), definido na Conferência de Bretton Woods, fez do dólar dos Estados Unidos a principal moeda internacional, assegurando seu predomínio nos bancos centrais dos países e no comércio mundial. Os Estados Unidos se comprometiam a trocar, sempre que necessário, dólares por ouro. Cada país era obrigado a declarar o valor de sua moeda em dólar e em ouro para o Fundo Monetário Internacional (FMI), um dos organismos criados nessa conferência, que tinha a função de garantir a estabilidade do sistema financeiro para favorecer a expansão e o desenvolvimento do comércio mundial. Posteriormente esse organismo passou a supervisionar as dívidas externas dos países. Como resultado da Conferência de Bretton Woods foi criado também o Banco Mundial, em 1945, que financiou a reconstrução da Europa no pós-guerra. Atualmente realiza empréstimos para países periféricos ou semiperiféricos. Uma das principais instituições que compõem o Banco Mundial é o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (Bird). Na fase da globalização financeira, déficits na balança de pagamentos dos Estados Unidos levaram o país a declarar, em 1971, que não mais converteriam dólar em ouro. Em 1979, foi estabelecido o padrão financeiro de câmbio flutuante, adotando-se o sistema de taxas de câmbio flutuantes entre divisas. Dessa maneira, abriu-se o caminho para os programas de reajuste estrutural, impostos pelo FMI aos países periféricos, e para a liberalização do comércio externo. Os países subdesenvolvidos obtiveram Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 70 permissão para contrair empréstimos junto ao FMI. Assim, ao final de 2003, os países em desenvolvimento tinham uma dívida de mais de 2,5 bilhões de dólares oprimindo-os e impedindo-lhes o desenvolvimento. Muitas dívidas, contraídas em períodos de ditaduras, foram consideradas “odiosas” por alguns economistas e organizações, pois não serviam aos interesses do povo. Mesmo o pagamento de enormes quantias tem sido insuficiente para quitar parte dessa dívida externa diante dos altos encargos de juros e dos serviços da dívida (reembolso anual de capital e interesses vencidos). Estima-se que a África Subsaariana pagou duas vezes o montante de sua dívida externa, entre 1980 e 1996, mas encontra-se três vezes mais endividada. Sendo assim, os países pobres passam a depender de mais empréstimos de instituições como o FMI e o Banco Mundial para manter esse círculo vicioso, submetendo-se às imposições de ajustes estruturais. Outro organismo que estabelece regras para o comércio internacional, visando diminuir barreiras comerciais, é a Organização Mundial do Comércio (OMC), criada em 1995 em substituição ao Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt), de 1947. Em diversas negociações, esse organismo tem favorecido os países mais industrializados, como entre 1986 e 1994, na Rodada do Uruguai; em 1999, na Rodada do Milênio; e, em 2001, na Rodada de Doha. De fato, a taxa de abertura econômica dos países mais ricos – 13,5% para os Estados Unidos e Japão, e 14,3% para os da União Europeia – é muito inferior à dos países mais pobres (cerca de 30%). Isso se deve ao fato de que a pressão da União Europeia e dos Estados Unidos foi maior para exportar seus produtos industriais e serviços a taxas aduaneiras mais baixas do que a diminuição de subvenções e créditos protecionistas aos seus produtos agrícolas. Esse fato acentuou ainda mais a desigualdade de condições dos países no comércio mundial. Por causa dessas dificuldades, outras organizações exercem um poder político importante no contexto internacional. Esse é o caso da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), que desde 1964 presta auxílio técnico aos países em desenvolvimento para a integraçãono comércio mundial. Por considerar discriminatórias as políticas da OMC, esses países apoiam-se na Unctad para negociar com os países ricos. A organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) também é um bom exemplo de organização paralela de defesa de interesses. Fluxos do Comércio Internacional Desde as duas últimas décadas do século XX, o comércio internacional tem apresentando crescimento acelerado, ciclo que foi momentaneamente interrompido com a crise financeira dos Estados Unidos, no final de 2008. O mercado imobiliário americano passou por uma fase de expansão acelerada desde 2001, estimulado pela queda gradativa de juros e incorporação de segmentos da sociedade de renda mais baixa e com dificuldade de comprovar sua capacidade de pagamento de débitos. Esses negócios estimularam o mercado de títulos de maior risco até gerar uma reação em cadeia de inadimplência que quebrou o mercado de créditos imobiliários. Essa crise imobiliária provocou uma crise mais ampla no mercado financeiro americano, afetando o desempenho da economia mundial. Por causa dessa crise, as economias do mundo rico encolheram 3,2% em 2009 e cresceram, em média, 2% em 2010. O desemprego também aumentou nesses países, atingindo patamares acima de 8%. Em contrapartida, no Bric, a crise teve um impacto menor. Por sua vez, o comércio mundial encontra-se fortemente concentrado nos países mais ricos, e os principais prejudicados da crise financeira foram os mais pobres. Segundo projeções do Banco Mundial, o número de pessoas muito pobres será maior até 2020 do que poderia ser se o crescimento econômico não tivesse diminuído desde 2008 e os programas sociais não tivessem sido afetadas. Questões 01. (PC/PI – Escrivão de Polícia Civil – UESPI) No início dos anos 1990, o mundo assistiu à derrocada do chamado Bloco Socialista, comandado pela ex-União Soviética, tendo como consequência o fim da Guerra Fria e o surgimento de uma Nova Ordem Mundial, que apresenta como características, EXCETO, (A) o controle do mercado mundial por grandes corporações transnacionais. (B) aprofundamento da Globalização da economia e consolidação da tendência à formação de blocos econômicos regionais. (C) processos pacíficos de Fragmentação territorial sem ocorrência de conflitos étnicos, a exemplo da ex-Iugoslávia. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 71 (D) ampliação das desigualdades internacionais. (E) a existência de uma realidade mais complexa, com múltiplas oposições ou tensões econômicas, étnicas, religiosas, ambientais etc. 02. (Prefeitura de Martinópole/CE – Agente Administrativo – CONSULPAM) A nova economia internacional possui elementos característicos onde os que se destacam são os que se referem ao quadro geral determinado pela Globalização. Com isso podemos AFIRMAR que o atual cenário mundial é assinalado pela: (A) bipolaridade (B) unimultipolaridade (C) velha ordem mundial (D) Nova Guerra Fria 03. (SEDU/ES – Professor de Geografia – CESPE) Com relação à geografia política mundial, julgue o item a seguir. A nova ordem mundial apresenta uma faceta geopolítica e outra econômica. Na geopolítica, houve uma mudança para um mundo multipolar, onde as potências impõem mais por seu poder econômico que pelo poder bélico. Na economia, o que aconteceu foi o processo de globalização e a formação de blocos econômicos supranacionais. (....) Certo (....) Errado 04. (IF/SE – Analista – IF/SE) "Com a derrocada do socialismo real e da União Soviética, entre 1989 e 1991, surgiu uma nova ordem mundial que, a princípio, parecia ser unipolar, com uma única superpotência, os Estados Unidos. Mas essa ideia parece ser aplicável somente a um breve período transitório, pois o poderio estadunidense vem se enfraquecendo, em termos relativos (isto é, em comparação com o crescimento da China, da Europa unificada, da Índia etc.)." Vesentini, Wiliam - 2009. Assinale a afirmativa correta sobre os fatos da nova ordem mundial: (A) O ponto fraco da União Europeia é o rápido envelhecimento e o baixo poder aquisitivo de sua população. (B) Apesar da crise na transição do socialismo real para a economia, a herdeira da Ex União Soviética, Rússia, voltou a ser uma superpotência, apesar da fragilidade do setor de tecnologia de ponta. (C) Uma das dificuldades para o Japão na formação de um Megabloco na Ásia é a desconfiança de algumas importantes nações, como China e Coréia do Sul, que o consideram um país imperialista, sobretudo pela brutalidade e pelo racismo demonstrado pelas tropas japonesas quando da ocupação de seus territórios. (D) A China atualmente é o Estado nacional que poderia ameaçar a hegemonia estadunidense, em função do crescimento econômico e do regime político democrático. (E) A Índia é outro país que vem se modernizando, e é favorecida pela abundância de recursos minerais e ausência de problemas étnicos, sociais e político territoriais. 05. (IF/SP – Professor de Geografia – FUNDEP) O processo de mundialização da economia capitalista inaugurou uma nova divisão internacional do trabalho porque (A) a diversidade das plantas industriais, até então vigentes nas mais diferentes economias do planeta, sofreram homogeneização, excluindo a complementaridade. (B) a divisão do mundo em países produtores de bens industrializados e países unicamente produtores de matérias-primas, quer agrícolas, quer minerais, já não bastava. (C) a expansão industrial sobrepôs uma divisão horizontal à antiga divisão vertical do trabalho, mediante eliminação de níveis de qualificação dentro de cada ramo industrial (D) a indústria multinacional restringiu sua atuação aos mercados de países centrais e criou bases produtivas adaptadas às necessidades de seus mercados nacionais. 06. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A mundialização não diz respeito apenas às atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas provocam. Inclui também a globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser imposta a adaptação dos mais fracos e desguarnecidos. François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações). Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) o item subsequente. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 72 Mundialização do capital ou globalização refletem a capacidade estratégica de grandes grupos oligopolistas, voltados para a produção industrial ou para as principais atividades de serviços, em adotar, por conta própria, enfoque e conduta globais. (....) Certo (....) Errado 07. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A mundialização não diz respeito apenas às atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas provocam. Inclui também a globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser imposta a adaptação dos mais fracos e desguarnecidos. François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações). Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) o item subsequente. O princípio geográfico da localização, no mundo globalizado economicamente competitivo, é superado pelos sistemas técnicos e de informação. (....) Certo (....) Errado 08. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A mundialização não diz respeito apenas às atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas provocam. Inclui também a globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser imposta a adaptação dos mais fracos e desguarnecidos. François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações). Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) oitem subsequente. No mundo globalizado, observa-se uma tendência de compartimentação generalizada dos territórios, onde se associam e se chocam o movimento geral da sociedade do trabalho e o movimento particular de cada fração espacial: do nacional ao regional e ao local. (....) Certo (....) Errado Gabarito 01.C/ 02.B / 03.Certo / 04.C / 05.B / 06.Certo / 07.Errado / 08. Certo Comentários 01. Resposta: C Com a crise do bloco socialista, no final dos anos 1980, uma nova fase se abriu para a história da Iugoslávia. Em 1991, Croácia, Eslovênia e Macedônia declararam sua independência, sendo que apenas esta última de maneira pacífica. A separação da Croácia e da Eslovênia foi acompanhada por intensos conflitos militares liderados pelo então presidente sérvio Slobodan Milosevic. Em 1992, a Bósnia declarou sua independência, passando a enfrentar militarmente a Croácia, em disputa por territórios, e sobretudo a Sérvia, contrária ao movimento separatista de mais uma região iugoslava. 02. Resposta: B Nova Ordem Mundial é a lógica internacional da ordem de poder entre os Estados nacionais no período que sucede a Guerra Fria. A Nova Ordem Mundial é caracterizada pela UNIMULTIPOLARIDADE, uma vez que temos a supremacia dos Estados Unidos no campo bélico e político, e a emergência de várias potências no campo econômico: China, União Europeia, Japão e o próprio EUA. 03. Resposta: Certo Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, a comunidade internacional passa por uma reformulação das estruturas de poder e força entre os Estados Nacionais, gerando uma nova configuração geopolítica e econômica que foi chamada de Nova Ordem Mundial. Uma das mudanças principais desse novo plano geopolítico internacional foi o estabelecimento de uma multipolaridade, onde o poderio militar não era mais o critério determinante de poder global de um Estado Nacional, perdendo lugar para o poderio econômico. Já a área econômica passa por um processo de globalização, gerando fluxos crescentes de bens, serviços e capitais que perpassam as fronteiras nacionais. Além disso, a formação de blocos econômicos supranacionais visam atender tanto os interesses de corporações transnacionais, que almejam a eliminação das barreiras alfandegárias, como os Estados Nacionais que tentam garantir algumas vantagens políticas. 04. Resposta: C O Japão apesar de ser o mais rico da Ásia em outrora buscou seu domínio nos países do pacífico com ocupações territoriais, principalmente durante a 2ª guerra, desde então os asiáticos não fecham em um bloco econômico com receio de um novo domínio japonês, através da economia sobre eles. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 73 05. Resposta: B O processo de mundialização da economia capitalista monopolista teve como pressuposto básico a necessidade de uma nova divisão internacional do trabalho. Já não bastava um mundo dividido em países produtores de bens industrializados e países unicamente produtores de matérias-primas, quer agrícolas, quer minerais. A mundialização da economia pressupõe uma descentralização da atividade industrial e sua instalação e difusão por todo o mundo. Pressupõe também um outro nível de especialização dos produtos oriundos dos diferentes países do mundo para o mercado internacional. Assim, simultaneamente, a indústria multinacional implanta-se nos mercados existentes em todos os países (através de filiais, fusões, associações, franquias etc.) e cria bases para a produção industrial adaptada às necessidades desses mercados nacionais. Ao mesmo tempo, atua de forma a aprimorar a exploração e a exportação das matérias-primas requeridas pelo mercado internacional. Esse processo de expansão industrial sobrepôs uma divisão vertical à antiga divisão horizontal do trabalho. Agora combina-se a antiga divisão por setores (primário: agrícola e mineiro, e secundário: industrial) em níveis de qualificação dentro de cada ramo industrial. 06. Resposta: Certo A globalização pode ser interpretada sob 4 linhas básicas: 1) Globalização como um período histórico; 2) Globalização como compressão do tempo e do espaço; 3) Globalização como hegemonia dos valores liberais; e 4) Globalização como fenômeno socioeconômico. Nesta concepção, François Chesnay, economista da OCDE, entende que a globalização traduz a capacidade estratégica do grande grupo oligopolista em adotar abordagem e conduta globais, relativas simultaneamente a mercados compradores, fontes de aprovisionamento, localização da produção industrial e estratégias dos principais concorrentes. 07. Resposta: Errado Apesar da maior integração e na diminuição do tempo e custo necessários para a circulação de informações e mercadorias, o princípio geográfico da localização não foi superado. A rede global não flutua no ar, ela se entrelaça em nós, em locais estratégicos dentre os quais é possível citar grandes áreas de produção industrial, portos de redistribuição mundial como Singapura e Rotterdam, centros de decisão como o Vale do Silício nos Estados Unidos, dentre outras. Também mostra como o princípio de localização não foi superado a elevação de fenômenos de valorização regional, que crescem como antinomia ao global. Um exemplo disso são os selos de origem regional europeus, que valorizam produtos oriundos de regiões específicas por suas características únicas e exclusivas, como o Champanhe francês. 08. Resposta: Certo Os territórios tendem a uma compartimentação generalizada, onde se associam e se chocam o movimento geral da sociedade planetária e o movimento particular de cada fração, regional ou local, da sociedade nacional. Esses movimentos são paralelos a um processo de fragmentação que rouba às coletividades o comando do seu destino, enquanto os novos atores também não dispõem de instrumentos de regulação que interessem à sociedade em seu conjunto. História e Geografia Nacional BRASIL REPÚBLICA A palavra República possui várias interpretações, sendo a mais comum a identificação de um sistema de governo cujo Chefe de Estado é eleito através do voto dos cidadãos ou de seus representantes, com poderes limitados e com tempo de governo determinado. A República tem seu nome derivado do termo em latim Res publica, que significa algo como “coisa pública” ou “coisa do povo”. Em 15 de novembro de 1889 foi instituída a República no Brasil. Entre os fatores responsáveis para o acontecimento, estão a crise que se instalou sobre o império, os atritos com a Igreja e o desgaste provocado pela abolição da escravidão. Com a Guerra do Paraguai e o fortalecimento do exército, os ideais republicanos começaram a ganhar força, sendo abraçados também por parte da elite cafeicultora do Oeste Paulista. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 74 O Movimento Republicano e a Proclamação da República Mesmo com a manutenção do sistema escravista e de latifúndio exportador, na segunda metade do século XIX o Brasil começou a experimentar mudanças, tanto na economia como na sociedade. O café, que já era um produto em ascensão ganhou mais destaque quando cultivado no Oeste Paulista. Juntamente com o café na região amazônica a borracha também ganhava mercado. Com a ameaça do fim da escravidão, começaram os incentivos para a vinda de trabalhadores assalariados gerando o surgimento de um modesto mercado interno, além da criação de pequenas indústrias. Surgiram diversos organismos de crédito e as ferrovias ganhavam cada vez mais espaço, substituindo boa parte dos transportes terrestres, marítimos e fluviais. As mudanças citadas acima não alcançaram todo o território brasileiro. Apenas a porção que hoje abrange as regiões Sul e Sudeste foram diretamente impactadas, levando inclusive ao crescimento dos núcleos urbanos. Em outras partes como na região Nordeste, o cultivo da cana-de-açúcar e do algodão,que por muito tempo representaram a maior parte das exportações nacionais, entravam em declínio. Muitos dos produtores e da população dessas regiões em desenvolvimento passavam a questionar o centralismo político existente no império brasileiro que tirava a autonomia local. A solução para resolver os problemas advindos da mudança pela qual o país passava foi encontrada no sistema federalista, capaz de garantir a tão desejada autonomia regional. Não é de se espantar que entre os principais apoiadores do sistema federalista estivessem os produtores de café do oeste paulista, que passavam a reivindicar com mais força seus interesses econômicos. Apesar das influências republicanas nas revoltas e tentativas de separação desde o século XVIII, foi apenas na década de 1870, com a publicação do Manifesto Republicano, que o ideal foi consolidado através da sistematização partidária. O Manifesto foi publicado em 3 de dezembro de 1870, no jornal A República, redigido por Quintino Bocaiúva, Saldanha Marinho e Salvador de Mendonça, e assinado por cinquenta e oito cidadãos entre políticos, fazendeiros, advogados, jornalistas, médicos, engenheiros, professores e funcionários públicos. Defendia o federalismo (autonomia para as Províncias administrarem seus próprios negócios) e criticava o poder pessoal do imperador. Após a publicação do Manifesto, entre 1870 e 1889 os ideais republicanos espalharam-se rapidamente pelo país. Um dos principais frutos foi a fundação do Partido Republicano Paulista, fundado na Convenção de Itu em 1873 e marcado pela heterogeneidade de seus membros e da efetiva participação dos cafeicultores do Oeste Paulista. Os republicanos brasileiros divergiam em seus ideais, criando duas tendências dentro do partido: A Tendência Evolucionista e a Tendência Revolucionária. Defendida por Quintino Bocaiuva, a Tendência Evolucionista partia do princípio de que a transição do império para a república deveria ocorrer de maneira pacífica, sem combates. De preferência após a morte do imperador. Já a Tendência Revolucionária, defendida por Silva Jardim e Lopes Trovão, dizia que a República precisava “ser feita nas ruas e em torno dos palácios do imperante e de seus ministros” e que não se poderia “dispensar um movimento francamente revolucionário”. A eleição de Quintino Bocaiúva (maio de 1889) para a chefia do Partido Republicano Nacional expurgou dos quadros republicanos as ideias revolucionárias. O final da Guerra do Paraguai (1870) aumentou os antagonismos entre o Exército e a Monarquia. O exército institucionalizava-se. Os militares sentiam-se mal recompensados e desprezados pelo Império. Alguns jovens oficiais, influenciados pela doutrina de Augusto Comte (positivismo) e liderados por Benjamin Constant, sentiam-se encarregados de uma "missão salvadora" e estavam ansiosos por corrigir os vícios da organização política e social do país. A "mística da salvação nacional" não era privativa deste pequeno grupo de jovens. Generalizara-se entre os militares a ideia de que só os homens de farda eram "puros" e "patriotas", ao passo que os civis, as “casacas” como diziam eram corruptos venais e sem nenhum sentimento patriótico. A Proclamação resultou da conjugação de duas forças: o exército descontente, e o setor cafeeiro da economia, pretendendo este eliminar a centralização vigente por meio de uma República Federativa que imporia ao país um sistema favorável a seus interesses. Portanto, a Proclamação não significou uma ruptura no processo histórico brasileiro: a economia continuou dependente do setor agroexportador. Afora o trabalho assalariado, o sistema de produção continuou o mesmo e os grupos dominantes continuaram a sair da camada social dos grandes proprietários. Houve apenas uma modernização institucional. O golpe militar promovido em 15 de novembro de 1889 foi reafirmado com a proclamação civil de integrantes do Partido Republicano, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Ao contrário do que Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 75 aparentou, a proclamação foi consequência de um governo que não mais possuía base de sustentação política e não contou com intensa participação popular. Conforme salientado pelo ministro Aristides Lobo, a proclamação ocorreu às vistas de um povo que assistiu tudo de forma bestializada. O Governo Provisório e a República da Espada Proclamada a República, o primeiro desafio era estabelecer um governo. O Marechal Deodoro da Fonseca ficou responsável por assumir a função de Presidente até que um novo presidente fosse eleito. Os primeiros atos decretados por Deodoro foram o banimento da Família Real do Brasil, estabelecimento de uma nova bandeira nacional, separação entre Estado e Igreja (criação de um Estado Laico, porém não laicista), liberdade de cultos, secularização dos cemitérios e a Grande Naturalização, ato que garantiu a todos os estrangeiros que moravam no Brasil a cidadania brasileira, desde que não manifestassem dentro de seis meses a vontade de manter a nacionalidade original. No plano econômico, Rui Barbosa assumiu o cargo de Ministro da Fazenda lançando uma política de incentivo ao setor industrial, caracterizada pela facilitação dos créditos bancários, a especulação de ações e a emissão de papel-moeda em excesso. As medidas tomadas por Rui Barbosa que buscavam modernizar o país, acabaram por gerar uma forte crise que provocou o aumento da inflação e da dívida pública, a quebra de bancos e empobrecimento de pequenos investidores. Essa dívida ficou conhecida como Encilhamento. Em 24 de fevereiro de 1891 foi eleito um Congresso Constituinte, responsável por promulgar a primeira Constituição republicana brasileira, elaborada com forte influência do modelo norte-americano. O Poder Moderador, de uso exclusivo do imperador foi extinto, assim como o cargo de Primeiro-Ministro, a vitaliciedade dos senadores, as eleições legislativas indiretas e o voto censitário. Em relação ao poder do Estado, foi adotado o sistema de tripartição entre Executivo, Legislativo e Judiciário, com um sistema presidencialista de voto direto com mandato de 4 anos sem reeleição. As províncias, que agora eram denominadas Estados, foram beneficiadas com uma maior autonomia através do Sistema Federalista. Em relação ao voto, antes censitário, foi declarado o sufrágio universal masculino, ou seja, “todos” os homens alfabetizados e maiores de 21 anos poderiam votar. Na prática o voto ainda continuava restrito, visto que eram excluídos os mendigos, os padres e os praças (soldados de baixa patente). No Brasil de 1900, cerca de 35%26 da população era alfabetizada. Desse total ainda estavam excluídas as mulheres, já que mesmo sem uma regra explícita de proibição na constituição, “considerou-se implicitamente que elas estavam impedidas de votar”27 A Constituição também determinava que a primeira eleição para presidente deveria ser indireta através do Congresso. Deodoro da Fonseca venceu a eleição por 129 votos a favor e 97 contra, resultado considerado apertado na época. Para o cargo de vice-presidente o Congresso elegeu o marechal Floriano Peixoto. A atuação de Deodoro foi encarada com suspeita pelo Congresso, já que ele buscava um fortalecimento do Poder Executivo baseado no antigo Poder Moderador. Deodoro substituiu o ministério que vinha do governo provisório por um outro, que seria comandado pelo Barão de Lucena, tradicional político monárquico. Em 3 de novembro de 1891 o presidente fechou o Congresso, prometendo novas eleições e a revisão da Constituição. A intenção do marechal era limitar e igualar a representação dos Estados na Câmara, o que atingia os grandes Estados que já possuíam uma participação maior na política. Sem obter o apoio desejado dentro das forças armadas, Deodoro acabou renunciando em 23 de novembro de 1891, assumindo em seu lugar o vice Floriano Peixoto. Floriano tinha uma visão de República baseada naconstrução de um governo estável e centralizado, com base no exército e no apoio dos jovens das escolas civis e militares. A visão de Floriano chocava-se diretamente com a visão dos grandes fazendeiros, principalmente os produtores de café de São Paulo que almejavam um Estado liberal e descentralizado. Apesar das diferenças, o presidente e os fazendeiros conviveram em certa harmonia, pela percepção de que sem Floriano a República corria o risco de acabar, e sem o apoio dos fazendeiros, Floriano não conseguiria governar. Os dois primeiros governos republicanos no Brasil ganharam o nome de República da Espada devido ao fato de seus presidentes serem membros do exército. 26 Souza, Marcelo Medeiros Coelho de. O analfabetismo no brasil sob enfoque demográfico. Cad. Pesqui. Jul 1999, no.107, p.169-186. ISSN 0100-1574 27 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999. Página 251. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 76 A Revolução Federalista Desde o período imperial, o Rio Grande do Sul fora palco de protestos e indignações com o governo, como pode ser observado na Revolução Farroupilha, que durou de 1835 até 1845. Com a Proclamação da República, a política no Estado manteve-se instável, com diversas trocas no cargo de presidente estadual. Conforme aponta Fausto, entre 1889 e 1893, dezessete governos se sucederam no comando do Estado28, até que Júlio de Castilhos assumiu o poder no Estado. Dois grupos disputavam o controle do Rio Grande do Sul: o Partido Republicano Rio-grandense (PRR) e o Partido Federalista (PF). O Partido Republicano era composto por políticos defensores do positivismo, apoiadores de Júlio de Castilhos e de Floriano Peixoto. Sua base política era composta principalmente de imigrantes e habitantes do litoral e da Serra do Rio Grande do Sul, formando uma elite política recente. Durante o conflito foram conhecidos como Pica-paus. O Partido Federalista defendia um sistema de governo parlamentarista e a revogação da constituição do Estado, de caráter positivista. Foi fundado em 1892 e tinha como líder o político Silveira Martins, conhecida figura política do Partido Liberal durante o império. A base de apoio do Partido Federalista era composta principalmente de estancieiros de campanha, que dominaram a cena política durante o império. Durante o conflito ganharam o apelido de Maragatos. O conflito teve início em fevereiro de 1893, quando os federalistas, descontentes com a imposição do governo de Júlio de Castilhos, pegaram em armas para derrubar o presidente estadual. Desde o início da revolta, Floriano Peixoto, então presidente do Brasil, colocou-se do lado dos republicanos. Os opositores de Floriano em todo o país passaram a apoiar os federalistas. No final de 1893 os federalistas ganharam o apoio da Revolta Armada que teve início no Rio de Janeiro, causada pelas rivalidades entre o exército e a marinha e o descontentamento do almirante Custódio José de Melo, frustrado em sua intenção de suceder Floriano Peixoto na presidência. Parte da esquadra naval comandada pelo almirante deslocou-se para o Sul, ocupando a cidade de Desterro (atual Florianópolis), em Santa Catarina, e a partir daí ocupando parte do Paraná e a capital Curitiba. O prolongamento do conflito, com grandes custos aos revoltosos, levou à decisão de recuar e manter-se no Rio Grande do Sul. A revolta teve fim somente em agosto de 1895, quando os combatentes maragatos depuseram as armas e assinaram um acordo de paz com o presidente da república, garantindo a anistia para os participantes do conflito. Apesar de curta, a Revolução Federalista teve um saldo de mais de 10.000 mortos, a maior parte deles de prisioneiros capturados em conflitos e mortos posteriormente, o que garantiu o apelido de “revolução da degola”. Características da Primeira República O período que vai de 1889, data da Proclamação da República, até 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o poder, é conhecido como Primeira República. O período é marcado pela dominação de poucos grupos políticos, conhecidos como oligarquias, pela alternância de poder entre os estados de São Paulo e Minas Gerais (política do café-com-leite), e pelo poder local exercido pelos Coronéis. Com a saída dos militares do governo em 1894, teve início o período chamado República das Oligarquias. A palavra Oligarquia vem do grego oligarkhía, que significa “governo de poucos”. Os grupos dominantes, em geral ligados ao café e ao gado, impunham sua vontade sobre o governo, seja pela via legal, seja através de fraudes nas votações e criação de leis específicas para beneficiar o grupo dominante. O Coronelismo Durante o período regencial, espaço entre a abdicação de D. Pedro I e a coroação de D. Pedro II, diversas revoltas e tentativas de separação e instalação de uma república aconteceram no Brasil. Sem condições de controlar todas as revoltas, o governo regencial, pela sugestão de Diogo Feijó, criou a Guarda Nacional. Com o propósito de defender a constituição, a integridade, a liberdade e a independência do Império Brasileiro, sua criação desorganiza o Exército e começa a se constituir no país uma força armada vinculada diretamente à aristocracia rural, com organização descentralizada, composta por membros da elite agrária e seus agregados. Para compor os quadros da Guarda nacional era necessário possuir amplos direitos políticos, ou seja, pelas determinações constitucionais, poderiam fazer parte dela apenas aqueles que dispusessem de altos ganhos anuais. 28 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 77 Com a criação da Guarda e suas exigências para participação, surgiram os coronéis, que eram grandes proprietários rurais que compravam suas patentes militares do Estado. Na prática, eles foram responsáveis pela organização de milícias locais, responsáveis por manter a ordem pública e proteger os interesses privados daqueles que as comandavam. O coronelismo esteve profundamente enraizado no cenário político brasileiro do século XIX e início do século XX. Após o fim da República da Espada, os grupos ligados ao setor agrário ganharam força na política nacional, gerando uma maior relevância para os coronéis no controle dos interesses e na manutenção da ordem social. Como comandantes de forças policiais locais, os coronéis configuravam-se como uma autoridade quase inquestionável nas áreas rurais. A autoridade do coronel, além de usada para manter a ordem social, era exercida principalmente durante as eleições, para garantir que o candidato ou grupo político que ele representasse saísse vencedor. A oposição ao comando do coronel poderia resultar em violência física, ameaças e perseguições, o que fazia com que muitos votassem a contragosto, para evitar as consequências de discordar da autoridade local, gerando uma prática conhecida como Voto de Cabresto. Na república velha, o sistema eleitoral era muito frágil e fácil de ser manipulado. Os coronéis compravam votos para seus candidatos ou trocavam votos por bens materiais. Como o voto era aberto, os coronéis mandavam os capangas para os locais de votação, com o objetivo de intimidar os eleitores e ganhar os votos. As regiões controladas politicamente pelos coronéis eram conhecidas como currais eleitorais. Os coronéis costumavam alterar votos, sumir com urnas e até mesmo patrocinavam a prática do voto fantasma. Este último consistia na falsificação de documentos para que pessoas pudessem votar várias vezes ou até mesmo utilizar o nome de falecidos nas votações. Dessa forma, a vontade política do coronel era atendida, garantindo que seus candidatos fossem eleitos em nível municipal e também estadual, e garantindo também participação na esfera federal. Prudente de Morais Floriano tentou garantir que seu sucessor fosse um aliado político, porémas poucas bases de apoio de que dispunha não lhe foram suficientes para concretizar o desejo. No dia 1 de março de 1894 foi eleito o paulista Prudente de Morais, encerrando o governo de membros do exército, que só voltariam ao poder em 1910, com a eleição do marechal Hermes da Fonseca. Prudente buscou desvincular o exército do governo, substituindo os cargos que eram ocupados por militares por civis, principalmente representantes da cafeicultura, promovendo uma descentralização do poder. Suas principais bandeiras eram a de uma república forte, em oposição às tendências liberais, antimonarquistas e antilusitanas. Campos Salles Em 1898 o paulista Manuel Ferraz de Campos Salles assumiu a presidência no lugar de Prudente de Morais. Antes mesmo de assumir o governo, Campos Salles renegociou a dívida brasileira, que vinha se arrastando desde os tempos do império. Para resolver a situação, ele se reuniu com os credores e estabeleceu um acordo chamado Funding- Loan. Este acordo consistia no seguinte: o Brasil fazia empréstimos e atrasava o pagamento da dívida, fazendo concessões aos banqueiros nacionais. Como consequência a indústria e o comércio foram afetados e as camadas pobres e a classe média também foram prejudicadas. A transição de governos consolidou as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais no poder. O único entrave para um governo harmônico eram as disputas políticas entre as oligarquias locais nos Estados. O governo federal acabava intervindo nas disputas, porém, a incerteza de uma colaboração duradoura entre os Estados e a União ainda permanecia. Outro fator que não permitia uma plena consolidação política era a vontade do executivo em impor-se ao legislativo, mesmo com a afirmação na Constituição de que os três poderes eram harmônicos e independentes entre si. A junção desses fatores levou Campos Salles a criar um arranjo político capaz de garantir a estabilidade e controlar o legislativo, que ficou conhecido como Política dos Governadores. Basicamente, a política dos governadores apoiava-se em uma ideia simples: o presidente apoiava as oligarquias estaduais mais fortes, e em troca, essas oligarquias apoiavam e votavam nos candidatos indicados pelo presidente. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 78 Na Câmara dos Deputados, uma mudança simples garantiu o domínio. Conhecida como Comissão de Verificação de poderes, essa ferramenta permitia decidir quais políticos deveriam integrar a Câmara e quais deveriam ser “degolados”, que na gíria política da época significava ser excluído. Quando ocorriam eleições para a Câmara, os vencedores em cada estado recebiam um diploma. Na falta de um sistema de justiça eleitoral, ficava a cargo da comissão determinar a validade do diploma. A comissão era escolhida pelo presidente temporário da nova Câmara eleita, o que até antes da reforma de Campos Salles significava o mais velho parlamentar eleito. Com a reforma, o presidente da nova Câmara deveria ser o presidente do mandato anterior, desde que reeleito. Dessa forma, o novo presidente da Câmara seria sempre alguém ligado ao governo, e caso algum deputado oposicionista ou que desagradasse o governo fosse eleito, ficava mais fácil removê-lo do poder. Convênio de Taubaté Desde o período imperial o café figurava como principal produto de exportação brasileiro, principalmente após a segunda década do século XIX. Consumido em larga escala na Europa e nos Estados Unidos, o cultivo da planta espalhou-se pelo vale do Paraíba fluminense e paulista. Continuando sua marcha ascendente, houve expansão dos cafeeiros na província de Minas Gerais (Zona da Mata e sul do estado), ao mesmo tempo em que a produção se consolidava no interior de São Paulo, principalmente no “Oeste Paulista”. A grande oferta causada pela produção em excesso levou a uma queda do preço, visto que havia mais produto no mercado e menos pessoas interessadas em adquiri-lo. O convênio de Taubaté foi um acordo firmado em 1906, último ano do mandato de Rodrigues Alves (1902-1906), entre os presidentes dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, na cidade de Taubaté (SP), com o objetivo de pôr em prática um plano de valorização do café, garantindo o preço do produto por meio da compra, pelo governo federal, do excedente da produção. O acordo foi firmado mesmo contra a vontade do presidente, e foi efetivamente aplicada por seu sucessor, Afonso Pena. O Tratado de Petrópolis e a Borracha O espaço físico que constitui o Estado do Acre, era, até o início do século XX, considerado uma zona não descoberta, um território contestado pelos governos boliviano e brasileiro. Em 1839, Charles Goodyear descobriu o processo de Vulcanização, que consistia em misturar enxofre com borracha a uma temperatura elevada (140ºC/150ºC) durante certo número de horas. Com esse processo, as propriedades da borracha não se alteravam pelo frio, calor, solventes comuns ou óleos. Apesar do surto econômico e da procura do produto, favorável para a Amazônia brasileira, havia um sério problema para a extração do látex: a falta de mão-de-obra. Isso foi solucionado com a chegada à região de nordestinos (Arigós) que vieram fugindo da seca de 1877. Prisioneiros, exilados políticos e trabalhadores nordestinos misturavam-se nos seringais do Acre, fundavam povoações, avançavam e se estabeleciam em pleno território boliviano. A exploração brasileira na região incomodava o governo boliviano, que resolveu tomar posse definitiva do Acre. Fundou a vila de Puerto Alonso, em 03 de janeiro de 1889, e foram instalados postos da alfândega para arrecadar tributos originados da comercialização de borracha silvestre. Essa atitude causou revolta entre os quase sessenta mil brasileiros que trabalhavam nos seringais acreanos. Liderados pelo seringalista José Carvalho, do Amazonas, os seringueiros rebelaram-se e expulsaram as autoridades bolivianas, em 03 de maio de 1889. Após o episódio, um espanhol chamado Luiz Galvez Rodrigues de Aurias liderou outra rebelião, de maior alcance político, proclamando a independência e instalando o que ele chamou de República do Acre, no local conhecido como Seringal Volta da Empresa, em 14 de julho de 1889. Galvez, o “Imperador do Acre”, como auto proclamava-se, contava com o apoio político do governador do Amazonas, Ramalho Junior. Entretanto, a República do Acre durou apenas oito meses. O governo brasileiro, signatário do Tratado de Ayacucho, de 23 de março de 1867, reconheceu o direito de posse da Bolívia, prendeu Luiz Galvez Rodrigues de Aurias e devolveu o Acre ao governo boliviano. Mesmo com a devolução do Acre aos bolivianos, a situação continuava insustentável. O clima de animosidade persistia e aumentava a cada dia. Em 11 de julho de 1901, o governo boliviano decidiu arrendar o Acre a um grupo de empresários americanos, ingleses e alemães, formado pelas empresas Conway and Withridge, United States Rubber Company, e Export Lumber. Esse consórcio constituiu o Bolivian Syndicate que recebeu da Bolívia autorização para colonizar a região, explorar o látex e formar sua própria milícia, com direito de utilizar a força para atender seus interesses. Os seringueiros brasileiros, a maior parte formada por nordestinos, não aceitaram a situação. Estimulados por grandes seringalistas e apoiados pelos governadores do Amazonas e do Pará, deram Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 79 início, no dia 06 de agosto de 1902, a uma rebelião armada: a Revolta do Acre. Os seringalistas entregaram a chefia do movimento rebelde ao gaúcho José Plácido de Castro, ex-major do Exército, rebaixado a cabo por participar da Revolução Federalista do Rio Grande do Sul, ao lado dos Maragatos. A Revolta por ele liderada, financiada por seringalistas e por dois governadores de Estado, fortalecia- se a cada dia, na medida em que recebia armamentos, munições,alimentos, além de apoio político e popular. Em todo o país ocorreram manifestações em favor da anexação do Acre ao Brasil. A imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo exigia do governo brasileiro imediatas providências em defesa dos acreanos. Por seu lado, o governo brasileiro procurava solucionar o impasse pela via diplomática, tendo à frente das negociações o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco. Mas todas as tentativas eram inócuas e os combates entre brasileiros e bolivianos tornavam-se mais frequentes e acirrados. Em meio aos conflitos, o presidente da Bolívia, general José Manuel Pando, organizou sob seu comando uma poderosa expedição militar para combater os brasileiros do Acre. O presidente do Brasil, Rodrigues Alves, ordenou que tropas do Exército e da Armada Naval, acantonadas no Estado de Mato Grosso, avançassem para a região em defesa dos seringueiros acreanos. O enfrentamento de tropas regulares do Brasil e da Bolívia gerou a Guerra do Acre. As tropas brasileiras, formadas por dois regimentos de infantaria, um de artilharia e uma divisão naval, ajudaram Plácido de Castro a derrotar o último reduto boliviano no Acre, Puerto Alonso, hoje Porto Acre. Em consequência, no dia 17 de novembro de 1903, na cidade de Petrópolis, as repúblicas do Brasil e da Bolívia firmaram o Tratado de Petrópolis, através do qual o Brasil ficou de posse do Acre, assumindo o compromisso de pagar uma indenização de dois milhões de libras esterlinas ao governo boliviano e mais 114 mil ao Bolivian Syndicate. O Tratado de Petrópolis, aprovado pelo Congresso brasileiro em 12 de abril de 1904, também obrigou o Brasil a realizar o antigo projeto do governo boliviano de construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré. A Bolívia, aproveitando-se do momento político, colocou na pauta de negociações seu ambicionado projeto. Em contrapartida, reconheceu a prioridade de chegada dos primeiros brasileiros à região e renunciou a todos os direitos sobre as terras do Acre. O Declínio da Borracha Em 1876, Henry Alexander Wyckham contrabandeou sementes de seringueiras da região situada entre os rios Tapajós e Madeira e as mandou para o Museu Botânico de Kew, na Inglaterra. Muitas das sementes brotaram nos viveiros e poucas semanas depois, as mudas foram transportadas para o Ceilão e Malásia. Na região asiática as sementes foram plantadas de forma racional e passaram a contar com um grande número de mão-de-obra, o que possibilitou uma produção expressiva, já no ano de 1900. Gradativamente, a produção asiática foi superando a produção amazônica e, em 1912 há sinais de crise, culminando em 1914, com a decadência deste ciclo na Amazônia brasileira. Para a economia nacional, a borracha teve suma importância nas exportações, visto que em 1910, o produto representou 40% das exportações brasileiras. Para a Amazônia, o primeiro Ciclo da Borracha foi importante pela colonização de nordestinos na região e a urbanização das duas grandes cidades amazônicas: Belém do Pará e Manaus. Durante o seu apogeu, a produção de borracha foi responsável por aproximadamente 1/3 do PIB do Brasil. Isso gerou muita riqueza na região amazônica e trouxe tecnologias que outras cidades do sul e sudeste do Brasil ainda não possuíam, tais como bondes elétricos e avenidas construídas sobre pântanos aterrados, além de edifícios imponentes e luxuosos, como o Teatro Amazonas, o Palácio do Governo, o Mercado Municipal e o prédio da Alfândega, no caso de Manaus, o Mercado de São Brás, Mercado Francisco Bolonha, Teatro da Paz, Palácio Antônio Lemos, corredores de mangueiras e diversos palacetes residenciais no caso de Belém. Industrialização e Greves Ao ser proclamada a República em 1889, existiam no Brasil 626 estabelecimentos industriais, sendo 60% do ramo têxtil e 15% do ramo de produtos alimentícios. Em 1914, o número já era de 7.430 indústrias, com 153.000 operários. Após o incentivo para abertura de novas indústrias decorrentes do período de 1914 a 1918, em que a Europa esteve em guerra, diversas empresas produtoras principalmente de matéria-prima iniciaram atividades no Brasil. Em 1920, o número havia subido para 13.336, com 275.000 operários. Até 1930, foram fundados mais 4.687 estabelecimentos industriais. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 80 Há que se levar em conta que a industrialização se concentrou no eixo Rio-São Paulo e, secundariamente, no Rio Grande do Sul. O empresariado industrial era oriundo do café, do setor importador e da elite dos imigrantes. Durante o período republicano fica evidente o descaso das autoridades governamentais com os trabalhadores. O país passava por um momento de industrialização e os trabalhadores começam a se organizar. Em sua maioria imigrantes europeus que possuíam uma forte influência dos ideais anarquistas e comunistas, os primeiros trabalhadores das fábricas brasileiras possuíam um discurso inflamado, convocando os colegas a se unirem em associações que resultariam posteriormente na fundação dos primeiros sindicatos de trabalhadores. Os líderes dos movimentos operários buscavam melhores condições de trabalho para seus colegas como redução de jornada de trabalho e segurança no trabalho. Lutavam contra a manutenção da propriedade privada e do chamado “Estado Burguês”. Ocorreram entre 1903 e 1906 greves de pouca expressão pelo país, através de movimentos de tecelões, alfaiates, portuários, mineradores, carpinteiros e ferroviários. Em contrapartida, o governo brasileiro criou leis para impedir o avanço dos movimentos, como uma lei expulsando os estrangeiros que fossem considerados uma ameaça à ordem e segurança nacional. A greve mais significativa do período ocorreu em 1917, a Greve Geral em São Paulo, que contou com os trabalhadores dos setores alimentício, gráfico, têxtil e ferroviário como mais atuantes. O governo, para reprimir o movimento utilizou inclusive forças do Exército e da Marinha. A repressão cada vez mais dura do governo através de leis, decretos e uso de violência acabou sufocando os movimentos grevistas, que acabaram servindo de base para a criação no ano de 1922, inspirado pelo Partido Bolchevique Russo, do PCB, Partido Comunista Brasileiro. Os sindicatos também começam a se organizar no período. Revoltas Revolta da Armada Rebelião em unidades da Marinha ocorrida entre setembro de 1893 e março de 1894. Começou no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, e chegou ao sul do Brasil, onde a Revolução Federalista acontecia simultaneamente. Sem apoio popular ou do Exército, o movimento foi sufocado pelo presidente Floriano Peixoto, a quem pretendia depor29. Desenvolvimento Iniciada em 1893, a Revolta da Armada teve seus antecedentes dois anos antes, em 3 de novembro de 1891, quando o primeiro presidente da República, marechal Deodoro da Fonseca, sem conseguir negociar com as bancadas dos estados, especialmente os produtores de café (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), fechou o Congresso Nacional. Unidades da Marinha se sublevaram e, sob a liderança do almirante Custódio José de Melo, ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro. Para evitar uma guerra civil, em 23 de novembro Deodoro renunciou. O vice-presidente, marechal Floriano Peixoto, assumiu seu lugar e não convocou eleições presidenciais, conforme previa o artigo n° 42 da Constituição para o caso de vacância do cargo em menos de dois anos após a posse do presidente. Sua alegação era que tal norma valia para presidentes eleitos por voto direto, e tanto Deodoro como ele próprio haviam sido eleitos indiretamente, pelo Congresso Constituinte. Mesmo assim, foi acusado de ocupar a presidência ilegalmente, e o primeiro movimento de oposição veio em março de 1892, quando 13 oficiais-generais divulgaram um manifesto em que exigiam a convocação de novas eleições. O manifesto acusava Floriano Peixoto de armar “brasileiros contra brasileiros”e denunciava desvio das “arcas do erário público a uma política de suborno e corrupção”. O movimento foi sufocado, e seus líderes, presos. Parte deles foi mandada para a cidade de Tabatinga, no interior do estado do Amazonas. Em 6 de setembro de 1893, um grupo de oficiais da Marinha voltou à carga. Eram liderados pelo almirante Custódio de Melo, que ocupara os ministérios da Marinha e da Guerra no governo de Floriano e pretendia candidatar-se a presidente da República. No grupo estava também o almirante Eduardo Wandenkolk, ministro da Marinha no governo de Deodoro e senador pelo Distrito Federal, que fora preso e reformado por ter assinado o manifesto dos 13 generais um ano antes. No dia 7 de setembro, o diretor da Escola Naval, almirante Luís Filipe Saldanha da Gama, aderiu publicamente ao movimento, declarando-se favorável à volta da monarquia. Além das denúncias contra 29 Beatriz Coelho Silva. Revolta da Armada. Atlas Histórico do Brasil. FGV CPDOC. https://atlas.fgv.br/verbetes/revolta-da-armada. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 81 a política florianista, que não pacificava as rivalidades regionais, os oficiais da Marinha sentiam-se desprestigiados diante do Exército, força de origem dos dois primeiros presidentes, Deodoro e Floriano. No dia 13 de setembro começaram assim os bombardeios aos fortes do litoral fluminense em poder do Exército. A frota era formada por 16 embarcações da Marinha de Guerra e 14 navios civis confiscados de empresas brasileiras e estrangeiras para dar apoio às forças rebeldes. Devido ao bombardeio dos sete fortes de Niterói, capital do estado do Rio de Janeiro, a sede do governo foi transferida para a cidade de Petrópolis, na serra, fora do alcance dos canhões da Marinha. A capital só voltaria para o litoral em 1903. Embora fossem maioria na Marinha, os revoltosos não tinham apoio popular e enfrentaram forte oposição no Exército, com a adesão de milhares de jovens a batalhões de apoio ao presidente na capital federal e nos estados. Esses soldados eram nacionalistas, republicanos e não refutavam a violência na defesa de Floriano Peixoto, especialmente contra estrangeiros, a quem atribuíam conspirações contra a República. Inspirados na Revolução Francesa, diziam-se jacobinos e promoviam manifestações ruidosas em teatros e praças públicas. As elites estaduais também apoiavam o presidente, especialmente em São Paulo, onde era forte o Partido Republicano Paulista (PRP). Diante da impossibilidade de tomar a capital federal, os revoltosos foram para o Sul do país, onde estava em curso a Revolução Federalista. A luta no Sul foi uma típica disputa entre elites dos anos iniciais da República, pois o presidente do Rio Grande do Sul, Júlio de Castilhos, chefe do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) e um dos poucos que tinham a seu lado a bancada de seu estado no Congresso, apoiara o marechal Deodoro da Fonseca em 1891. Floriano Peixoto, ao assumir a presidência, destituíra todos os presidentes e governadores estaduais ligados a seu antecessor, atingindo Júlio de Castilhos. Logo se instalou a luta pelo poder entre os partidários de Castilhos e os aliados de Gaspar Silveira Martins, que formaram o Partido Federalista. Defensores do parlamentarismo e da revogação da Constituição estadual positivista, os federalistas e os dissidentes do PRR não se conformaram com a reconciliação entre Floriano e Castilhos e, com a volta deste ao governo estadual em janeiro de 1893, e optaram pelo confronto armado. Em seu deslocamento rumo ao Sul, parte da frota dos revoltosos da Armada chegou até a cidade do Desterro, capital de Santa Catarina. Custódio de Melo ensaiou uma aliança com os federalistas, mas o acordo não avançou. Enquanto isso, o governo federal comprou, às pressas, novos navios de guerra, que foram apelidados de “frota de papel”. Em março de 1894, a Revolta da Armada havia sido sufocada. O marechal Floriano Peixoto tornou-se o homem forte da República e baluarte de seus ideais. Governou até novembro de 1894 e passou o cargo a Prudente de Morais, que se tornou o primeiro presidente civil do Brasil, eleito pelo PRP. Apesar de ter sido uma entre tantas rebeliões da última década do século XIX, a Revolta da Armada evidenciou as cisões da jovem República brasileira. As rivalidades entre os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto ficaram evidentes, assim como o dissenso entre as instituições que deveriam sustentar o regime, como a Marinha e o Exército, os governos e as bancadas estaduais etc. As batalhas da Revolta da Armada foram registradas pelo fotógrafo espanhol Juan Gutierrez, e hoje esse material, 77 imagens da destruição causada nos fortes do Rio de Janeiro e de Niterói, está no acervo do Museu Histórico Nacional. Guerra de Canudos A revolta em Canudos deve ser entendida como um movimento messiânico, ou seja, a aglomeração em torno de uma figura religiosa capaz de reunir fiéis e trazer a esperança de uma vida melhor através de pregações. Canudos formou-se através da liderança de Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido também por Antônio Conselheiro, um beato que, andando pelo sertão pregava a salvação por meio do abandono material, exigindo que seus fiéis o seguissem pelo sertão nordestino. Perseguido pela Igreja, e com um número significativo de fiéis, Antônio Conselheiro estabeleceu-se no sertão baiano, à margem do Rio Vaza-Barris, formando o Arraial de Canudos. Ali fundou a cidade santa, à qual dera o nome de Belo Monte, administrada pelo beato, que contava com vários subchefes, cada qual responsável por um setor (comandante da rua, encarregado da segurança e da guerra, escrivão de casamentos, entre outros). A razão para o crescimento do arraial em torno da figura de Antônio Conselheiro pode ser explicada pela pobreza dos habitantes do sertão nordestino, aliada à fome e a insatisfação com o governo republicano, sendo o beato um aberto defensor da volta da monarquia. A comunidade de Canudos, assim, sobrevivia e prosperava, mantendo-se por via das trocas com as comunidades vizinhas. Devido a um incidente entre os moradores do arraial e o governo da Bahia - uma questão mal resolvida em relação ao corte de madeira na região - o governo estadual resolveu repreender os habitantes, Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 82 enviando uma tropa ao local. Apesar das poucas condições materiais dos moradores, a tropa baiana foi derrotada, o que levou o presidente da Bahia a apelar para as tropas federais. Canudos manteve-se firme diante das ameaças, derrotando duas expedições de tropas federais municiadas de canhões e metralhadoras, uma delas comandada pelo Coronel Antônio Moreira César, também conhecido como "corta-cabeças" pela fama de ter mandado executar mais de cem pessoas na repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina. A incapacidade do governo federal em conter os revoltosos, com derrotas vergonhosas, gerou diversas revoltas no Rio de Janeiro. Com a intenção de resolver de vez o problema, foi organizada a 4ª expedição militar ao vilarejo, com 8.000 soldados sob o comando do general Artur de Andrade Guimarães. Dotada de armamento moderno, a expedição levou um mês e meio para vencer os sertanejos, finalmente arrasando o arraial em agosto de 1897, quando os últimos defensores do vilarejo foram capturados e degolados. Canudos foi incendiada para evitar que novos moradores se estabelecessem no local. Nos jornais e também no pensamento do governo federal, a vitória sobre Canudos foi uma vitória “da civilização sobre a barbárie”. Os combates ocorridos em Canudos foram contados pelo Jornalista Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertões. O livro busca trazer um relato do ocorrido, através do ponto de vista do autor, que possuía uma visão de “raça superior”, comum do pensamento científico da época. De acordo com esse pensamento, o mestiço brasileiroseria uma raça de características inferiores, que estava destinada ao desaparecimento por conta do avanço da civilização. Não só Euclides da Cunha pensava da mesma forma. O pensamento racial baseado em teorias científicas foi comum no Brasil da virada do século XX. A Guerra do Contestado Na virada do século XX uma grande parte da população que vivia no interior do estado era composta por sertanejos, pessoas de origem humilde, que viviam na fronteira com o Paraná. A região foi palco de um intenso conflito por posse de terras, ocorrido entre 1912 e 1916, que ficou conhecido como Guerra do Contestado. O conflito teve início com a implantação de uma estrada de ferro que ligaria o Rio Grande do Sul a São Paulo, além de uma madeireira, em 1912, de propriedade do empresário Norte-Americano Percival Farquhar. A Brazil Railway ficou responsável pela construção da estrada de ferro que ligaria os dois pontos. Como forma de remuneração por seus serviços, o governo cedeu à companhia uma extensa faixa de terra ao longo dos trilhos, aproximadamente 15 quilômetros de cada margem do caminho. As terras doadas pelo governo foram entregues à empresa na categoria de terras devolutas, ou seja, terras não ocupadas pertencentes à união. O ato desconsiderou a presença de milhares de pessoas que habitavam a região, porém não possuíam registros de posse sobre a terra. Apesar do contrato firmado, de que as terras entregues à companhia pudessem ser habitadas somente por estrangeiros, o principal interesse do empresário era a exploração da madeira que se encontrava na região, em especial araucárias e imbuias, com alto valor de mercado. Não tardou para a criação da Southern Brazil Lumber and Colonization Company, responsável por explorar a extração da madeira e que posteriormente tornou-se a maior empresa do gênero na América do Sul. A derrubada da floresta implicava necessariamente em remover os antigos moradores regionais, gerando conflitos imediatos. Os sertanejos encontraram na figura de monges que vagavam pelo sertão pregando a palavra de Deus a inspiração e a liderança para lutar contra o governo e as empresas estrangeiras. O primeiro Monge que criou pontos de resistência ficou conhecido como José Maria. Adorado pela população local, o monge era visto pelos sertanejos como um salvador dos pobres e oprimidos, e pelo governo como um empecilho para os trabalhos de construção da estrada de ferro. O governo e as empresas investiram fortemente na tentativa de expulsão dos sertanejos, e em 1912 próximo ao vilarejo de Irani ocorreu uma intensa batalha entre governo e população, causando a morte do Monge. A morte do líder causou mais revolta nos sertanejos, que intensificaram a resistência, unindo sua crença em outras figuras que despontavam como lideranças, como Maria Rosa, uma jovem de quinze anos de idade, que foi considerada por historiadores como Joana D'Arc do sertão. A jovem afirmava receber ordens espirituais de batalha do Monge Assassinado. O conflito foi tomado como prioridade pelo governo federal, que investiu grande potencial bélico na contenção dos revoltosos, como fuzis, canhões, metralhadoras e aviões. O conflito acaba em 1916 com a captura dos últimos lideres revoltosos. Assim como em Canudos, a Revolta do Contestado foi marcada por um forte caráter messiânico. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 83 A Revolta da Vacina A origem dessa revolta ocorrida no Rio de Janeiro deve ser procurada na questão social gerada pelas desigualdades sociais e agravada pela reurbanização do Distrito Federal pelo prefeito Pereira Passos. O grande destaque do período foi a Campanha de Saneamento no Rio de Janeiro, dirigida por Oswaldo Cruz. Decretando-se a vacinação obrigatória contra a varíola, ocorreu o descontentamento popular. Isso ocorreu devido a forma que a campanha foi conduzida, onde os agentes usavam da força para entrar nas casas e vacinar a população. Não houve uma campanha prévia para conscientização e educação. Disso se aproveitaram os militares e políticos adversários de Rodrigues Alves. Assim, irrompeu a Revolta da Vacina (novembro de 1904), sob a liderança do senador Lauro Sodré. O levante foi rapidamente dominado, fortalecendo a posição do presidente. Revolta da Chibata30 A Revolta da Chibata ocorreu em 22 de novembro de 1910 no Rio de Janeiro. Entre outros, foi motivada pelos castigos físicos que os marinheiros brasileiros recebiam. As faltas graves eram punidas com 25 chibatadas (chicotadas). Esta situação gerou uma intensa revolta entre os marinheiros. O estopim da revolta se deu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado com 250 chibatadas, por ter ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas Gerais. O navio de guerra estava indo para o Rio de Janeiro e a punição, que ocorreu na presença dos outros marinheiros, desencadeou a revolta. O motim se agravou e os revoltosos chegaram a matar o comandante do navio e mais três oficiais. Já na Baia da Guanabara, os revoltosos conseguiram o apoio dos marinheiros do encouraçado São Paulo. O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos que participaram da revolta. Caso não fossem cumpridas as reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade do Rio de Janeiro (então capital do Brasil). Segunda Revolta31 Diante da grave situação, o presidente Hermes da Fonseca resolveu aceitar o ultimato dos revoltosos. Porém, após os marinheiros terem entregues as armas e embarcações, o presidente solicitou a expulsão de alguns deles. A insatisfação retornou e no começo de dezembro, os marinheiros fizeram outra revolta na Ilha das Cobras. Esta segunda revolta foi fortemente reprimida pelo governo, sendo que vários marinheiros foram presos em celas subterrâneas da Fortaleza da Ilha das Cobras. Neste local, onde as condições de vida eram desumanas alguns prisioneiros faleceram. Outros revoltosos presos foram enviados para a Amazônia, onde deveriam prestar trabalhos forçados na produção de borracha. O líder da revolta João Cândido foi expulso da Marinha e internado como louco no Hospital de Alienados. No ano de 1912, foi absolvido das acusações junto com outros marinheiros que participaram da revolta. O Cangaço no Nordeste32 Entre o final do século XIX e começo do XX (início da República), ganharam força, no nordeste brasileiro, grupos de homens armados, conhecidos como cangaceiros. Estes grupos apareceram em função principalmente das péssimas condições sociais da região nordestina. O latifúndio que concentrava terra e renda nas mãos dos fazendeiros, deixava a margem da sociedade a maioria da população. Existiram três tipos de cangaço na história do sertão: O defensivo, de ação esporádica na guarda de propriedades rurais, em virtude de ameaças de índios, disputa de terras e rixas de famílias; O político, expressão do poder dos grandes fazendeiros; O independente, com características de banditismo. O Cangaço pode ser entendido como um fenômeno social, caracterizado por atitudes violentas por parte dos cangaceiros, que andavam em bandos armados e espalhavam o medo pelo sertão nordestino. Promoviam saques a fazendas, atacavam comboios e chegavam a sequestrar fazendeiros para obtenção de resgates. A população que respeitava e acatava as ordens dos cangaceiros era muitas vezes 30 http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/revolta-da-chibata 31 http://www.abi.org.br/abi-homenageia-filho-do-lider-da-revolta-da-chibata/ 32 http://www.seja-ead.com.br/2-ensino-medio/ava-ead-em/3-ano/03-ht/aula-presencial/aula-5.pdf Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 84 beneficiada por suas atitudes. Essa característica fez com que os cangaceiros fossem respeitados e até mesmo admiradospor parte da população da época. Como não seguiam as leis estabelecidas pelo governo, eram perseguidos constantemente pelos policiais. Usavam roupas e chapéus de couro para protegerem os corpos, durante as fugas, da vegetação cheia de espinhos da caatinga. Além desse recurso da vestimenta, usavam todos os conhecimentos que possuíam sobre o território nordestino (fontes de água, ervas, tipos de solo e vegetação) para fugirem ou obterem esconderijos. Existiram diversos bandos de cangaceiros. Porém, o mais conhecido e temido da época foi o bando comandado por Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), também conhecido pelo apelido de “Rei do Cangaço”. O bando de Lampião atuou pelo sertão nordestino durante as décadas de 1920 e 1930. De 1921 a 1934, Lampião dividiu seu bando em vários subgrupos, dentre os quais os chefiados por Corisco, Moita Brava, Português, Moreno, Labareda, Baiano, José Sereno e Mariano. Entre seus bandos, Lampião sempre teve grande apreço pelo bando de Corisco, conhecido como “Diabo Loiro” e também grande amigo de Virgulino. Lampião morreu numa emboscada armada por uma volante33, junto com a mulher Maria Bonita e outros cangaceiros, em 29 de julho de 1938. Tiveram suas cabeças decepadas e expostas em locais públicos, pois o governo queria assustar e desestimular esta prática na região. A morte de lampião atingiu o movimento do Cangaço como um todo, enfraquecendo e dividindo os grupos restantes. Corisco foi morto em uma emboscada no ano de 1940, encerrando de vez o cangaço no Nordeste. A Semana de Arte Moderna de 1922 O ano de 1922 representou um marco na arte e na cultura brasileira, com a realização da Semana de Arte Moderna, de 11 a 18 de fevereiro. A exposição marcava uma tentativa de introduzir elementos brasileiros nos campos da arte e da cultura, vistas como dominadas pela influência estrangeira, principalmente de elementos europeus, trazidos tanto pela elite econômica quanto por trabalhadores imigrantes, principalmente italianos que trabalhavam na indústria paulista. Na virada do século XX, São Paulo despontava como segunda maior cidade do país, atrás apenas do Rio de Janeiro, capital nacional. Apesar de ocupar o segundo lugar em tamanho, a cidade possuía grande taxa de industrialização, mais até que a capital, principalmente pelos recursos proporcionados pela produção de café. O contato proporcionado pelos novos meios de transporte e de comunicação proporcionou o contato com novas tendências que rompiam com a estrutura das artes predominante desde o renascimento. Entre elas estavam o futurismo, dadaísmo, cubismo, e surrealismo. No Brasil, o espírito modernista foi apresentado por autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto e Graça Aranha, que se desligaram de uma literatura de “falsas aparências”, procurando discutir ou descobrir o “Brasil real”, frequentemente “maquiado” pelo pensamento acadêmico. As novas tendências apareceram em 1917, em trabalhos: da pintora Anita Malfatti, do escultor Brecheret, do compositor Vila Lobos e do intelectual Oswaldo de Andrade. Os modernistas foram buscar inspiração nas imagens da indústria, da máquina, da metrópole, do burguês e do proletário, do homem da terra e do imigrante. Entre os escritores modernistas, o que melhor reflete o espírito da Semana é Oswald de Andrade. De maneira geral, sua produção literária reflete a sociedade em que se forjou sua formação cultural: o momento de transição que une o Brasil agrário e patriarcal ao Brasil que caminha para a modernização. Ao lado de Oswald de Andrade, destaca-se como ponto alto do Modernismo a figura de Mário de Andrade, principal animador do movimento modernista e seu espírito mais versátil. Cultivou a poesia, o romance, o conto, a crítica, a pesquisa musical e folclórica. Os Anos 1920 e a Crise Política34 Após a Primeira Guerra Mundial, a classe média urbana passava cada vez mais a participar da política. A presença desse grupo tendia a garantir um maior apoio a políticos e figuras públicas apoiados em um discurso liberal, que defendesse as leis e a constituição, e fossem capazes de transformar a República Oligárquica em República Liberal. Entre as reivindicações estavam o estabelecimento do voto secreto, e a criação de uma Justiça Eleitoral capaz de conter a corrupção nas eleições. 33 Tropa ligeira, que não transporta artilharia nem bagagem. 34 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 85 Em 1919, Rui Barbosa, que já havia sido derrotado em 1910 e 1914, entrou novamente na disputa como candidato de oposição, enfrentando o candidato Epitácio Pessoa, que concorria como novo sucessor pelo PRM (Partido Republicano Mineiro). Permanecendo ausente do Brasil durante toda a campanha, devido à sua atuação na Conferência de Paz da França, Epitácio venceu Rui Barbosa no pleito realizado em abril de 1919 e retornou ao Brasil em julho para assumir a presidência da República. Apesar da derrota, o candidato oposicionista conseguiu atingir cerca de um terço dos votos, sem nenhum apoio da máquina eleitoral, inclusive conquistando a vitória no Distrito Federal. Mesmo com o acordo de apoio conseguido com a Política dos Governadores, e o controle estabelecido por São Paulo e Minas Gerais no revezamento de poder a partir da década de 1920, estados com uma participação política e econômica considerada mediana resolveram interferir para tentar acabar com a hegemonia da política do “Café com Leite”. Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia se uniram nas eleições presidenciais de 1922, lançando um movimento político de oposição - a Reação Republicana - que lançou o nome do fluminense Nilo Peçanha contra o candidato oficial, o mineiro Artur Bernardes. A chapa oposicionista defendia a maior independência do Poder Legislativo frente ao Executivo, o fortalecimento das Forças Armadas e alguns direitos sociais do proletariado urbano. Todas essas propostas eram apresentadas num discurso liberal de defesa da regeneração da República brasileira. O movimento contou com a adesão de diversos militares descontentes com o presidente Epitácio Pessoa, que nomeara um civil para a chefia do Ministério da Guerra. A Reação Republicana conseguiu, em uma estratégia praticamente inédita na história brasileira, desenvolver uma campanha baseada em comícios populares nos maiores centros do país. O mais importante deles foi o comício na capital federal, quando Nilo Peçanha foi ovacionado pelas massas. Em outubro de 1921, os ânimos dos militares foram exaltados com a publicação de cartas no Jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, assinadas com o nome do candidato Artur Bernardes e endereçadas ao líder político mineiro Raul Soares. Em seu conteúdo, criticavam a conduta do ex-presidente e Marechal do Exército, Hermes da Fonseca, por ocasião de um jantar promovido no Clube Militar. As cartas puseram lenha na fogueira da disputa, deixando os militares extremamente insatisfeitos com o candidato. Pouco antes da data da eleição dois falsários assumiram a autoria das cartas e comprovaram tratar-se de uma armação. A conspiração não teve maiores consequências, e as eleições puderam transcorrer normalmente em março de 1922. Como era de se esperar, a vitória foi de Artur Bernardes. O problema foi que nem a Reação Republicana nem os militares aceitaram o resultado. Como o governo se manteve inflexível e não aceitou a proposta da oposição de rever o resultado eleitoral, o confronto se tornou apenas uma questão de tempo. O Tenentismo35 Após a Primeira Guerra Mundial, vários oficiais jovens de baixa patente, principalmente tenentes (e daí deriva o nome do movimento tenentista) sentiam-se insatisfeitos. Os soldos permaneciam baixos e o governo não fazia menção de aumentá-los. Havia um grande número deles, e as promoções eram muito lentas. Um segundo-tenente podiademorar dez anos para alcançar a patente de capitão. Sua reinvindicações oficiais foram contra a desorganização e o abandono em que se encontrava o exército brasileiro. Com o tempo os líderes do movimento chegaram à conclusão de que os problemas que enfrentavam não estavam apenas no exército, mas também na política. Com a intenção de fazer as mudanças acontecerem, os revoltosos pressionaram o governo, que não se prontificou a atendê-los, o que gerou movimentos de tentativa de tomada de poder por meio dos militares. Esse programa conquistou ampla simpatia da opinião pública urbana, mas não houve mobilização popular e nem mesmo engajamento de dissidências oligárquicas à revolução (com exceção do Rio Grande do Sul), daí o seu isolamento e o seu fracasso. Os 18 do Forte Como citado anteriormente, a vitória de Artur Bernardes em março de 1922 não agradou os setores oposicionistas. Durante o período em que aguardava para assumir a posse, que acontecia no dia 15 de novembro, houveram diversos protestos contra o mineiro. Em junho, o governo federal interveio durante a sucessão estadual em Pernambuco, fato que foi extremamente criticado por Hermes da Fonseca. O presidente Epitácio Pessoa, que ainda exercia o poder, mandou prender o ex-presidente e ordenou o fechamento do Clube Militar em 2 de julho. 35 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica/MovimentoTenentista Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 86 As ações de Epitácio geraram uma crise que culminou em uma série de levantes na madrugada de 5 de julho. Na capital federal, levantaram-se o forte de Copacabana, guarnições da Vila Militar, o forte do Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1° Batalhão de Engenharia; em Niterói, membros da Marinha e do Exército; em Mato Grosso, a 1ª Circunscrição Militar, comandada pelo general Clodoaldo da Fonseca, tio do marechal Hermes. No Rio de Janeiro, o movimento foi comandado pelos "tenentes", uma vez que a maioria da alta oficialidade se recusou a participar do levante. Os rebeldes localizados no Forte de Copacabana passaram a disparar seus canhões contra diversos redutos do Exército, forçando inclusive o comando militar a abandonar o Ministério da Guerra. As forças legais revidaram, e o forte sofreu sério bombardeio. Os revoltosos continuaram sua resistência até a tarde de 6 de julho, quando resolveram abandonar o Forte e marchar pela Avenida Atlântica, indo de encontro às forças do governo que enfrentavam. Em uma troca de tiros com as forças oficiais, morreram quase todos os revoltosos, que ficaram conhecidos como “Os 18 do Forte de Copacabana”. Apesar do nome atribuído ao grupo, as fontes de informação da época não são exatas, com vários jornais divulgando números diferentes. Os únicos sobreviventes foram os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes, com graves ferimentos. A Revolta de 192436 Os participantes das Revoltas de 1922 foram julgados e punidos em dezembro de 1923, acusados de tentar promover um golpe de Estado. Novamente o exército teve suas relações com o governo federal agravadas, com uma tensão crescente que gerou uma nova revolta militar, novamente na madrugada, em 5 de julho de 1924 em São Paulo, articulada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, pelo major Miguel Costa, comandante do Regimento de Cavalaria da Força Pública do estado, e pelo tenente Joaquim Távora, este último morto durante os combates. Tiveram ainda participação destacada os tenentes Juarez Távora, Eduardo Gomes, João Cabanas, Filinto Müller e Newton Estillac Leal. O objetivo do movimento era depor o presidente Artur Bernardes, cujo governo transcorria, desde o início, sob estado de sítio permanente e sob vigência da censura à imprensa. Entre as primeiras ações dos revoltosos, ganhou prioridade a ocupação de pontos estratégicos, como as estações da Luz, da Estrada de Ferro Sorocabana e do Brás, além dos quartéis da Força Pública, entre outros. Logo após a ocupação, no dia 8 de julho o presidente de São Paulo, Carlos de Campos, deixou o palácio dos Campos Elíseos, sede do governo paulista na época. No dia seguinte, os rebeldes instalaram um governo provisório chefiado pessoalmente pelo general Isidoro. O ato foi respondido com um intenso bombardeio das tropas legalistas sobre a cidade, principalmente em bairros operários de São Paulo na região da zona leste. Os bairros da Mooca, Brás, Belém e Cambuci foram os mais atingidos pelo bombardeio. A partir do dia 16, sucederam-se as tentativas de armistício. Um dos principais mediadores foi José Carlos de Macedo Soares, membro da Associação Comercial de São Paulo. Num primeiro momento, o general Isidoro condicionou a assinatura de um acordo à entrega do poder a um governo federal provisório e à convocação de uma Assembleia Constituinte. A negativa do governo federal, somada às consequências do bombardeio da cidade, reduziu as exigências dos revoltosos à concessão de uma anistia ampla aos revolucionários em 1922 e 1924. Entretanto, nem essa reivindicação foi atendida. Como as exigências dos revoltosos não foram atendidas e a pressão do governo aumentava, a solução foi mudar a estratégia. Em 27 de julho os revoltosos abandonaram a cidade, indo em direção a Bauru, no interior do Estado. O deslocamento foi facilitado graças a eclosão de diversas revoltas no interior, com a tomada de prefeituras. Àquela altura, já haviam eclodido rebeliões militares no Amazonas, em Sergipe e em Mato Grosso em apoio ao levante de São Paulo, mas os revoltosos paulistas desconheciam tais acontecimentos. Em outubro, enquanto os paulistas combatiam em território paranaense, tropas sediadas no Rio Grande do Sul iniciaram um levante, associadas a líderes gaúchos contrários à situação estadual. As forças rebeladas juntaram-se aos paulistas em Foz do Iguaçu, no Paraná, no mês de abril de 1925. Formou-se assim o contingente que deu início à marcha da Coluna Prestes. A Coluna Prestes Enquanto alguns militares se rebelavam em São Paulo, Luís Carlos Prestes, também militar, organizava outro grupo no Rio Grande do Sul. Em abril de 1925, as duas frentes de oposição, a Paulista liderada por Miguel Costa, e a Gaúcha, por Prestes, uniram-se em Foz do Iguaçu e partiram para uma caminhada pelo Brasil. 36 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica/Levantes1924 Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 87 Sempre vigiados por soldados do governo, os revoltosos evitavam confrontos diretos com as tropas, por meio de táticas de guerrilha. Por meio de comícios e manifestos, a Coluna denunciava à população a situação política e social do país. Num primeiro momento, não houve muitos resultados, porém o movimento ajudou a balançar as bases já enfraquecidas do sistema oligárquico e a preparar caminho para a Revolução de 1930. A Coluna Prestes durou 2 anos e 3 meses, percorrendo cerca de 25 mil quilômetros através de treze estados do Brasil. Estima-se que a Coluna tenha enfrentado mais de 50 combates contra as tropas governistas, sem sofrer derrotas. A passagem da Coluna Prestes, gerava reações diversas na população. Como forma de desmoralizar o movimento, o governo condenava os rebeldes e associavam suas ações a assassinos e bandidos. Iniciando a marcha, a coluna concluiu a travessia do rio Paraná em fins de abril de 1925 e adentrou no Paraguai com a intenção de chegar a Mato Grosso. Posteriormente percorreu Goiás, entrou em Minas Gerais e retornou a Goiás. Após a passagem por Goiás, a Coluna partiu para o Nordeste, chegando em novembro ao Maranhão, ocasião em que o tenente-coronel Paulo Krüger foi preso e enviado a São Luís. Em dezembro, penetrou no Piauí e travou em Teresina sério combate com as forças do governo. Rumando então para o Ceará, a coluna teve outra baixa importante: na serra de Ibiapina, Juarez Távora foi capturado. Em janeirode 1926, a coluna atravessou o Ceará, chegou ao Rio Grande do Norte e, em fevereiro, invadiu a Paraíba, enfrentando na vila de Piancó séria resistência comandada pelo padre Aristides Ferreira da Cruz, líder político local. Após ferrenhos combates, a vila acabou ocupada pelos revolucionários. Continuando rumo ao sul, a coluna atravessou Pernambuco e Bahia e retornou para Minas Gerais, pelo norte do Estado. Encontrando vigorosa reação legalista e precisando remuniciar-se. O comando da coluna decidiu interromper a marcha para o sul e, em manobra conhecida como "laço húngaro37", retornar ao Nordeste através da Bahia. Cruzou o Piauí, alcançou Goiás e finalmente chegou de volta a Mato Grosso em outubro de 1926. Àquela altura, o estado-maior revolucionário decidiu enviar Lourenço Moreira Lima e Djalma Dutra à Argentina, para consultar o general Isidoro Dias Lopes quanto ao futuro da coluna: continuar a luta ou rumar para o exílio. Entre fevereiro e março de 1927, afinal, após uma penosa travessia do Pantanal, parte da coluna, comandada por Siqueira Campos, chegou ao Paraguai, enquanto o restante ingressou na Bolívia, onde encontrou Lourenço Moreira Lima, que retornava da Argentina. Tendo em vista as condições precárias da coluna e as instruções de Isidoro, os revolucionários decidiram exilar-se. Durante o tempo em que passou na Bolívia, Prestes dedicou-se a leituras em busca de explicações para a situação de atraso e miséria que presenciara em sua marcha pelo interior brasileiro. Em dezembro de 1927 foi procurado por Astrojildo Pereira, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, que fora incumbido de convidá-lo a firmar uma aliança entre "o proletariado revolucionário, sob a influência do PCB, e as massas populares, especialmente as massas camponesas, sob a influência da coluna e de seu comandante". Prestes, contudo, não aceitou essa aliança. Foi nesse encontro que obteve as primeiras informações sobre a Revolução Russa, o movimento comunista e a União Soviética. A seguir, mudou-se para a Argentina, onde leu Marx e Lênin. A Defesa do Café Os acordos para a manutenção do preço do café elevaram a dívida brasileira, principalmente após as emissões de moeda realizadas entre 1921 e 1923 por Epitácio Pessoa, o que gerou uma desvalorização do câmbio e o aumento da inflação. Artur Bernardes preocupou-se em saldar a dívida externa brasileira, retomando o pagamento dos juros e da dívida principal a partir do ano de 1927. Com o objetivo de avaliar a situação financeira do Brasil, em fins de 1923 uma missão financeira inglesa, chefiada por Edwin Samuel Montagu chegou ao país. Após os estudos, a comissão apresentou um relatório à presidência da República, em que apresentava os riscos decorrentes da emissão exagerada de moeda e o consequente receio dos credores internacionais. A defesa dos preços do café representava um gasto entendido pelo governo federal como secundário nesse momento, mesmo em meio às críticas de abandono proferidas pelo setor cafeeiro. A solução foi passar a responsabilidade da defesa do café para São Paulo. Em dezembro de 1924 foi criado o Instituto de Defesa Permanente do Café, que possuía a função de regular a entrada do produto no Porto de Santos e realizar compras do produto para evitar a desvalorização. 37 Recebia esse nome devido ao percurso da manobra lembrar o desenho aplicado na platina dos uniformes dos oficiais de antigamente, o “laço húngaro”. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 88 O Governo de Washington Luís Em 1926, mantendo a tradicional rotação presidencial entre São Paulo e Minas Gerais, o paulista radicado Washington Luís foi indicado para a sucessão e saiu vencedor nas eleições de 1926. Seu governo seguiu com relativa tranquilidade, até que em 1929 uma série de fatores, internos e externos, mudaram de maneira drástica os rumos do Brasil. No plano interno, a insatisfação das camadas urbanas, em especial da classe média, crescia cada vez mais. A estrutura de governo baseada no poder das oligarquias, dos coronéis e da predominância dos grandes proprietários e produtores de café da região de São Paulo não atendia as exigências e os anseios de boa parte da população, que não fazia parte ou não era beneficiada pelo sistema de governo. Em 1926 surgiu o Partido Democrático, de cunho liberal. O partido desponta como oposição ao PRP (Partido Republicano Paulista), que repudiava o liberalismo na prática. Seus integrantes pertenciam a uma faixa etária mais jovem em comparação aos republicanos, o que também contribuiu para agradar boa parte da classe média insatisfeita com o PRP. Formado por prestigiados profissionais liberais e filhos de fazendeiros de café, o partido tinha como pauta a reforma do sistema político, através da implantação do voto secreto, da representação de minorias, a real divisão dos três poderes e a fiscalização das eleições pelo poder judiciário. A Sucessão de Washington Luís Voltando à política do Café-com-leite, em 1929 começava a campanha para a escolha do sucessor de Washington Luís. Pela tradição, o apoio deveria ser dado a um candidato mineiro, já que o presidente que estava no poder fora eleito por São Paulo. Ao invés de apoiar um candidato mineiro, Washington Luís insistiu na candidatura do governador de São Paulo, Júlio Prestes. A atitude do presidente gerou intensa insatisfação em Minas Gerais, e ajudou a alavancar o Rio Grande do Sul no cenário político. O governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que esperava ser o indicado para a sucessão presidencial, propôs o lançamento de um movimento de oposição para concorrer contra a candidatura de Júlio Prestes. O apoio partiu de outros dois estados insatisfeitos com a situação política: Rio Grande do Sul e Paraíba. Do Rio Grande do Sul surgiu, após inúmeras discussões entre os três estados, o nome de Getúlio Vargas – governador gaúcho eleito em 1927, que fora Ministro da Fazenda de Washington Luís – para presidente, tendo como vice o nome do governador da Paraíba e sobrinho do ex-presidente Epitácio Pessoa, o pernambucano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Definidos os nomes, foi formada a Aliança Liberal, nome que definiu a campanha. O Partido Democrático de São Paulo expressou seu apoio à candidatura de Getúlio Vargas, enquanto alguns membros do Partido Republicano Mineiro resolveram apoiar Júlio Prestes. A Aliança Liberal refletia os desejos das classes dominantes regionais que não estavam ligadas ao café, buscando também atrair a classe média. Seu programa de governo defendia o fim dos esquemas de valorização do café, a implantação de alguns benefícios aos trabalhadores, como a aposentadoria (nem todos os setores possuíam), a lei de férias e a regulamentação do trabalho de mulheres e menores de idade. Além disso, insistiam no tratamento com seriedade pelo poder público das questões sociais, que Washington Luís afirmava serem “caso de polícia”. Um dos pontos marcantes da campanha da Aliança Liberal foi a participação do proletariado. Reflexos da Crise de 1929 no Brasil No plano externo, a quebra da bolsa de valores de Nova York, seguida da crise que afetou grande parte da economia mundial, também teve repercussões no Brasil. O ano de 1929 rendeu uma excelente produção de café, tudo que os produtores não esperavam. A colheita de quase 30 milhões de sacas na safra 1927-1928 representava aproximadamente o dobro da produção dos anos anteriores. Esperava-se que, devido a alternância entre boas e más safras 1929 representasse uma colheita baixa, já que as três últimas safras haviam sido boas. Aliada a ideia de uma safra baixa, estava a expectativa de lucros certos, garantidos pela Defesa Permanente do Café, o que levou muitos produtores a contraírem empréstimos e aumentarem suas lavouras. A produção, ao contrário do esperado, graças às condições climáticas e a implantação de novas técnicas agrícolas.O excesso do produto foi de encontro com a crise, que diminuiu o consumo, e consequente o preço do café. O resultado foi um endividamento daqueles que apostaram em preços altos e não quitaram suas dívidas. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 89 Em busca de salvação para os negócios, o setor cafeeiro recorreu ao governo federal na busca de perdão das dívidas e de novos financiamentos. O presidente, temendo perder a estabilidade cambial, recusou-se a ajudar o setor, fator que foi explorado politicamente pela oposição. Apesar do esforço em tentar combater o candidato de Washington Luís, a Aliança Liberal não foi capaz de derrotar Júlio Prestes, que foi eleito presidente em 1º de Março de 1930. A Revolução de 1930 Em 1º de março de 1930 Júlio Prestes foi eleito presidente do Brasil conquistando 1.091.709 votos, contra 742.794 votos recebidos por Getúlio Vargas. Ambos os lados foram acusados de cometer fraudes contra o sistema eleitoral, seja manipulando votos, seja impondo votos forçados através de violência e ameaça. A derrota Getúlio Vargas nas eleições de 1930 não significou o fim da Aliança Liberal e sua busca pelo controle do poder executivo. Os chamados “tenentes civis” acreditavam que ainda poderiam conquistar o poder através das armas. Buscando agir pelo caminho que o movimento tenentista havia tentado anos antes, os jovens políticos buscaram fazer contato com militares rebeldes, que receberam a atitude com desconfiança. Entre os motivos para o receio dos tenentes, estava o fato de que alguns nomes, como João Pessoa e Osvaldo Aranha, estiveram envolvidos em perseguições, confrontos e condenações contra o grupo. Porém, depois de conversas e desconfianças dos dois lados, os grupos chegaram a um acordo com a adesão de nomes de destaque dos movimentos da década de 20, como Juarez Távora, João Alberto e Miguel Costa. A grande exceção foi o nome de Luís Carlos Prestes, que em maio de 1930 declarou-se abertamente como socialista revolucionário, e recusou-se a apoiar a disputa oligárquica. Os preparativos para a tomada do poder não aconteceram da maneira esperada, deixando o movimento conspiratório em uma situação de desvantagem. Porém, em 26 de julho de 1930 ocorreu um fato que serviu de estopim para o movimento revolucionário: por volta das 17 horas, na confeitaria “Glória”, em Recife, João Pessoa foi assassinado por João Duarte Dantas. O crime, motivado tanto por disputas pessoais como por disputas públicas, foi utilizado como justificativa para o movimento revolucionário, sendo explorado seu lado público, e transformado João Pessoa em “mártir da revolução”. A morte de João Pessoa foi extremamente explorada por seus aliados como elemento político para concretizar os objetivos da revolução. Apesar de ter morrido no Nordeste e ser natural da região, o corpo do presidente da Paraíba foi enterrado no Rio de Janeiro, então capital da República, fator que reuniu uma enorme quantidade de pessoas para acompanhar o funeral. A morte de João Pessoa garantiu a adesão de setores do exército que até então estavam relutantes em apoiar a causa dos revolucionários. Feitos os preparativos, no dia 3 de outubro de 1930, nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e no Nordeste, estourou a revolução comandada por Getúlio Vargas e pelo tenente-coronel Góes Monteiro. As ações foram rápidas e não encontraram uma resistência forte. No Nordeste, as operações ficaram a cargo de Juarez Távora, que contando com a ajuda da população, conseguiu dominar Pernambuco sem esforços. Em virtude do maior peso político que os gaúchos detinham no movimento e sob pressão das forças revolucionárias, a Junta finalmente decidiu transmitir o poder a Getúlio Vargas. Num gesto simbólico que representou a tomada do poder, os revolucionários gaúchos, chegando ao Rio, amarraram seus cavalos no Obelisco da avenida Rio Branco. Em 3 de novembro chegava ao fim a Primeira República. Candidato(a), segue abaixo a lista completa dos presidentes da República Velha com a cronologia correta: - 1889-1891: Marechal Manuel Deodoro da Fonseca; - 1891-1894: Floriano Vieira Peixoto; - 1894-1898: Prudente José de Morais e Barros; - 1898-1902: Manuel Ferraz de Campos Sales; - 1902-1906: Francisco de Paula Rodrigues Alves; - 1906-1909: Afonso Augusto Moreira Pena (morreu durante o mandato) - 1909-1910: Nilo Procópio Peçanha (vice de Afonso Pena, assumiu em seu lugar); - 1910-1914: Marechal Hermes da Fonseca; - 1914-1918: Venceslau Brás Pereira Gomes; - 1918-1919: Francisco de Paula Rodrigues Alves (eleito, morreu de gripe espanhola, sem ter assumido o cargo); Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 90 - 1919: Delfim Moreira da Costa Ribeiro (vice de Rodrigues Alves, assumiu em seu lugar); - 1919-1922: Epitácio da Silva Pessoa; - 1922-1926: Artur da Silva Bernardes; - 1926-1930: Washington Luís Pereira de Sousa (deposto pela Revolução de 1930); - 1930: Júlio Prestes de Albuquerque (eleito presidente em 1930, não tomou posse, impedido pela Revolução de 1930); - 1930: Junta Militar Provisória: General Augusto Tasso Fragoso, General João de Deus Mena Barreto, Almirante Isaías de Noronha. Questões 01. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) Seu Mundinho, todo esse tempo combati o senhor. Fui eu quem mandou atirar em Aristóteles. Estava preparado para virar Ilhéus do avesso. Os jagunços estavam de atalaia, prontos para obedecer. Os meus e os outros amigos, para acabar com a eleição. Agora tudo acabou. (In: AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela) O texto descreve uma realidade que, na história do Brasil, identifica o (A) tenentismo, que considerava o exército como a única força capaz de conduzir os destinos do povo. (B) coronelismo, que se constituía em uma forma de o poder privado se manifestar por meio da política. (C) mandonismo, criado com o objetivo de administrar os conflitos no interior das elites agrárias do país. (D) messianismo, entidade com poderes políticos capaz de subjugar a população por meio da força. (E) integralismo, que consistia em uma forma de a oligarquia cafeeira demonstrar sua influência e poder político. 02. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) Para responder à questão, considere o texto abaixo. ... A forma federativa deu ampla autonomia aos Estados, com a possibilidade de contrair empréstimos externos, constituir forças militares próprias e uma justiça estadual. [...] A representação na Câmara dos Deputados, proporcional ao número de habitantes dos Estados, foi outro princípio aprovado... [...] A aceitação resignada da candidatura Prudente de Moraes, que marcou o início da república civil oligárquica, consolidada por Campos Sales, se deu em um momento difícil, quando Floriano dependia do apoio regional [...]. (Adaptado de: FAUSTO, Boris. Pequenos ensaios de História da República (1889-1945). São Paulo: Cebrap, 1972, p. 2-4) O principal mecanismo para a consolidação da república a que o texto se refere foi a (A) política de “salvação nacional", desencadeada pelos militares ligados aos grandes fazendeiros mineiros e paulistas com a finalidade de fortalecer o poder das oligarquias estaduais do sudeste. (B) “campanha civilista" que defendia a regulamentação dos preços dos produtos de exportação e garantia os empréstimos contraídos no exterior aos fazendeiros das grandes propriedades. (C) “política dos governadores", que consistia na troca de apoio entre governo federal e governos locais, com a finalidade de manter no poder os representantes dos grandes fazendeiros. (D) política do “café-com-leite", que incentivava uma disputa acirrada entre os representantes dos pequenos Estados e enfraquecia o poder dos fazendeiros paulistas e dos mineiros. (E) política de “valorização do café" realizada pelos Estados contribuía para o enfraquecimento do poderlocal e garantia a troca de favores entre os fazendeiros e o governo federal. 03. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História - FCC) Ao contrário do que sucedeu na Capital da República, as primeiras manifestações do movimento operário em São Paulo surgiram já sob a inspiração de ideologias revolucionárias ou classistas – o anarquismo e, em muito menor grau, o socialismo reformista. As condições sócio-políticas tendiam a confirmar as ideologias negadoras da organização vigente na sociedade aos olhos da marginalizada classe operária nascente, estrangeira em sua grande maioria. (...) O anarquismo se converteria, entretanto, na principal corrente organizatória do movimento operário, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo. (FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social. São Paulo: s/data, p.60-62) A corrente ideológica a que o texto se refere, e que dominou a cena do movimento operário brasileiro durante a segunda década do século XX, Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 91 (A) pode ser tratada como um sistema de pensamento social visando a modificações fundamentais na estrutura da sociedade com o objetivo de substituir a autoridade do Estado por alguma forma de cooperação não governamental entre indivíduos livres. (B) investe contra o capital e o Estado capitalista, pretendendo substitui-lo por uma livre associação de produtores diretos, possuidores dos meios de produção e na organização do sindicato único como meio de promover a emancipação das classes trabalhadoras. (C) defende a coletivização dos meios de produção, a violência nas lutas operárias e dá ênfase ao papel que os sindicatos desempenhariam na obra emancipadora dos trabalhadores e da sociedade, e na luta operária para a conquista do Estado. (D) argumenta que o sindicalismo operário deve ser o articulador da autogestão e um instrumento do plano econômico e da unidade de produção, e que as diversas associações produtivas devem ser coordenadas pelas federações sindicais ligadas ao Estado. (E) inclina-se pelo caminho revolucionário ao sustentar a necessidade de realizar de imediato a tese marxista segundo a qual o critério de distribuição de bens e serviços deveria ser determinada pelas assembleias sindicais de cada Estado da Federação. 04. (SEE/AC - Professor de Ciências Humanas - FUNCAB) Leia o texto. “O São Francisco lá pra cima da Bahia Diz que dia menos dia vai subir bem devagar E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o sertão ia alagar O sertão vai virar mar, dá no coração O medo que algum dia o mar também vire sertão” (Sobradinho. Sá e Guarabyra.) A expressão “O sertão vai virar mar” está associada a uma personagem de um importante movimento messiânico do início da República brasileira. O personagem referido é: (A) João Cândido. (B) Beato José Maria. (C) Antônio Conselheiro. (D) Marcílio Dias. (E) Barão de Drumond. Gabarito 01.B / 02.C / 03.A / 04.C Comentários 01. Resposta: B Durante a República Velha os grandes fazendeiros(coronéis) impunham seu poder através de seus exércitos particulares de jagunços. O voto era aberto e os eleitores que moravam nas grandes fazendas eram forçados a votar no candidato do coronel. 02. Resposta: C A política dos governadores foi um sistema político não oficial, idealizado e colocado em prática pelo presidente Campos Sales (1898 – 1902), que consistia na troca de favores políticos entre o presidente da República e os governadores dos estados. De acordo com esta política, o presidente da República não interferia nas questões estaduais e, em troca, os governadores davam apoio político ao executivo federal. 03. Resposta: A O anarquismo é o movimento político que defende a supressão de todas as formas de dominação e opressão vigentes na sociedade moderna, dando lugar a uma comunidade mais fraterna e igualitária, fruto de um esforço individual a partir de um árduo trabalho de conscientização. O anarquismo é frequentemente apontado como uma ideologia negadora dos valores sociais e políticos prevalecentes no mundo moderno como o estado laico, a lei, a ordem, a religião e a propriedade privada. Apostila gerada especialmente para: Diandra Queiroz da Silva e Silva 026.037.871-28 92 04. Resposta: C Antônio Conselheiro foi o líder do arraial de canudos, no interior da Bahia, local em que ocorreu a guerra de canudos, revolta de grande repercussão no período republicano. A ERA VARGAS Dentro das divisões históricas do período republicano, a “Era Vargas” é dividida em três intervalos distintos: 1 - um período provisório, quando assume o governo após o movimento de 1930; 2 - um período constitucional, quando eleito após a promulgação da Constituição de 1934, e; 3 - um autoritário, com o golpe de 1937, que deu início ao período conhecido como Estado Novo. Período Provisório As Forças de oposição ao Regime Oligárquico No decorrer das três primeiras décadas do século XX houveram uma série de manifestações operárias, insatisfação dos setores urbanos e movimentos de rebeldia no interior do Exército (Tenentismo). Eram forças de oposição ao regime oligárquico, mas que ainda não representavam ameaça à sua estabilidade. Esse quadro sofreu uma grande modificação quando, no biênio 1929-30, a crise econômica e o rompimento da política do café-com-leite por Washington Luís colocaram na oposição uma fração importante das elites agrárias e oligárquicas. Os acontecimentos que se seguiram (formação da Aliança Liberal, o golpe de 30) e a consequente ascensão de Vargas ao poder podem ser entendidos como o resultado desse complexo movimento político. Getúlio Vargas se apoiou em vários setores sociais liderados por frações das oligarquias descontentes com o exclusivismo paulista sobre o poder republicano federal. O Governo Provisório Ao final da Revolução de 1930, com Washington Luís deposto e exilado, Getúlio Vargas foi empossado como chefe do governo provisório. As medidas do novo governo tinham como objetivo básico promover uma centralização política e administrativa que garantisse ao governo sediado no Rio de Janeiro o controle efetivo do país. Em outras palavras, o federalismo da República Velha caía por terra. Para atingir esse objetivo, foram nomeados interventores para governar os estados. Eram homens de confiança, normalmente oriundos do Tenentismo, cuja tarefa era fazer cumprir em cada estado as determinações do governo provisório. Esse fato e o adiamento que Getúlio Vargas foi impondo à convocação de novas eleições desencadearam reações de hostilidade ao seu governo, especialmente no Estado de São Paulo. As eleições dariam ao país uma nova Constituição, um presidente eleito pela população e um governo com legitimidade jurídica e política. Mas poderia também significar a volta ao poder dos derrotados na Revolução de 30. A Reação Paulista A oligarquia paulista estava convencida da derrota que sofreu em 24 de outubro de 1930, mas não admitia perder o controle do Executivo em “seu” próprio estado. A reação paulista começou com a não aceitação do interventor indicado para São Paulo, o tenentista João Alberto. Às pressões pela indicação de um interventor civil e paulista, se somou à reivindicação de eleições para a Constituinte. Essas teses foram ganhando rapidamente simpatia popular. As manifestações de rua começaram a ocorrer com o apoio de todas as forças políticas do Estado, até por aquelas que tinham simpatizado com o movimento de 1930 (exemplo do Partido Democrático - PD). Diante das pressões crescentes, Getúlio resolveu negociar com a oligarquia paulista, indicando um interventor do próprio Estado. Isso foi interpretado como um sinal de fraqueza. Acreditando que poderiam derrubar o governo federal, os oligarcas articularam com outros estados uma ação nesse sentido. Manifestações de rua intensificaram-se em São Paulo. Numa delas, quatro