Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fisiologia da tireoide 1. Síntese, armazenamento e secreção dos hormônios tireoidianos. 1.1 Considerações gerais ➔ Tireoide secreta 2 hormônios principais: tiroxina (T4) e triiodotironina (T). Ambos aumentam o metabolismo. ➔ Ausência completa de secreção: metabolismo basal cai para 40% a 50% do normal, e o excesso extremo de secreção pode aumentá-la por 60% a 100%. A secreção tireoidiana é controlada, principalmente, pelo hormônio estimulante da tireoide (TSH – secretado pela hipófise anterior). ➔ A tireoide também secreta calcitonina, (importante para o metabolismo do cálcio). ➔ Metabolismo e produção é regulada através do eixo hipotálamo-pituitária-tireoide. ➔ Patologias são comuns particularmente em mulheres, com prevalência de 3-5%; exceto deficiência de iodo, desordens que afetam diretamente a glândula são a maior causa de disfunção. Patologia da pituitária e uso de fármacos que alteram a síntese ou metabolismo desses hormônios também levam a disfunções. 1.2 Síntese e Secreção dos Hormônios Metabólicos Tireoidianos ➔ Cerca de 93% dos hormônios ativos secretados consistem em tiroxina e 7% de triiodotironina – praticamente toda a tiroxina é convertida em triiodotironina nos tecidos, ambas funcionalmente importantes. Funções dos dois são qualitativamente iguais, diferem na velocidade e intensidade de ação. ➢ Triiodotironina é cerca de quatro vezes mais potente, está presente no sangue em menor quantidade, e persiste por menos tempo. 1.2.1 Anatomia e Fisiologia da Tireoide ➔ Composta de grande número de folículos fechados (de 100 a 300 micrômetros de diâmetro), cheios por substância secretora (coloide) e revestidos por células epiteliais cuboides que secretam par o interior dos folículos. O coloide é constituído, em sua maior parte, pela glicoproteína tireoglobulina, cuja molécula contém os hormônios tireoidianos. ➔ Quando a secreção chega aos folículos, deve ser reabsorvida através do epitélio folicular para o sangue, para poder realizar sua função no corpo. O fluxo sanguíneo tireoidiano é cerca de cinco vezes maior que o peso da glândula a cada minuto, fluxo maior do que qualquer outra área do corpo, com a possível exceção do córtex adrenal. 1.3 O iodo é necessário para a formação de tiroxina ➔ Para formar quantidade normal de tiroxina, é necessária a ingestão de cerca de 50 miligramas de iodo na forma de iodeto por ano ou cerca de 1 mg/semana. Para prevenir a deficiência de iodo, o sal comum de cozinha é suplementado. ➔ Destino do Iodeto Ingerido: iodeto ingerido por via oral é absorvido pelo trato gastrointestinal para o sangue, ± do mesmo modo que o cloreto. Nas condições normais, a maior parte do iodeto é rapidamente excretada pelos rins, mas cerca de 1/5 é seletivamente removido do sangue circulante pelas células da tireoide e usado para a síntese dos hormônios tireoidianos. 1.4 Bomba de lodeto – O Simporte de Sódio-lodeto (Captação de lodo) ➔ 1º estágio na formação dos hormônios é o transporte de iodeto do sangue para as céls e folículos glandulares da tireoide. A MB das céls tireoidianas tem a capacidade específica de bombear, ativamente, iodeto para o interior da célula. ➢ Realizado pela ação de simporte de sódio-iodeto – NIS – que co-transporta um íon iodeto junto com dois íons sódio, através da membrana basolateral (plasma) para a célula. ➢ Energia para transporte contra o gradiente de concentração vem da bomba de sódio-potássio- ATPase, que bombeia Na+ para fora da cél, instituindo baixa concentração de Na+ intracelular e gradiente de difusão facilitada para dentro da célula. ➢ Esse processo de concentração do iodeto na célula é chamado de captação de iodeto. Na glândula normal, a concentração de iodeto gerada pela bomba é 30 vezes maior que a do sangue. Quando a atividade da tireoide atinge seu máximo, a concentração pode se elevar para até 250 vezes. A captação é influenciada por diversos fatores o mais importante é o TSH, que estimula a atividade da Fisiologia da tireoide bomba de iodeto nas céls tireoidianas, enquanto a hipofisectomia a reduz de forma considerável. ➔ O iodeto é transportado para fora das céls da tireoide pela membrana apical para o folículo, por meio de molécula contra transportadora de íons cloreto-iodeto, a pendrina. Céls epiteliais da tireoide podem secretar tiroglobulina para o folículo que contém aminoácidos de tirosina a que o iodeto vai se ligar. 1.5 Tireoglobulina e a Bioquímica da Formação de Tiroxina e Triiodotironina ➔ Céls da tireoide são típicas céls glandulares secretoras de proteínas. O RE e o aparelho de Golgi sintetizam e secretam para os folículos tireoglobulina. ➔ Cada molécula de tireoglobulina contém cerca de 70 aminoácidos tirosina (principais substratos que se combinam com o iodo para formar os hormônios tireoidianos). Eles se formam no interior da molécula de tireoglobulina (hormônios tiroxina e triiodotironina são formados a partir dos aminoácidos tirosina e formam parte da molécula de tireoglobulina durante a síntese dos hormônios tireoidianos, até mesmo enquanto estão armazenados no coloide folicular). ➢ Oxidação do íon iodeto: 1º estágio essencial na formação dos hormônios tireoidianos é a conversão dos íons iodeto para a forma oxidada de iodo, ou iodo nascente (Io) ou I3 que é capaz de se combinar diretamente com o aminoácido tirosina. Essa oxidação da tirosina é promovida pela enzima peroxidase, acompanhada de peróxido de hidrogênio (constituem potente sistema capaz de oxidar iodo). Peroxidase está na membrana apical da cél ou ligada a ela, produzindo o iodo oxidado, exatamente no ponto da célula em que a molécula de tireoglobulina surge, vinda do aparelho de Golgi e através da membrana celular, sendo armazenada no coloide da tireoide. Quando o sistema da peroxidase é bloqueado ou quando está hereditariamente ausente das células, a formação de hormônios tireoidianos cai a zero. 1.6 lodização da Tirosina e Formação dos Hormônios Tireoidianos - "Organificação" da Tireoglobulina. ➔ A ligação do iodo com a molécula de tireoglobulina é chamada de organificação da tireoglobulina. O iodo oxidado até mesmo na forma molecular, se liga diretamente, embora lentamente, a tirosina. Nas céls da tireoide o iodo oxidado está associado à enzima peroxidase tireoidiana, que reduz a duração desse processo. No intervalo de tempo em que a molécula de tireoglobulina leva para ser liberada pelo aparelho de Golgi, ou para ser secretada pela membrana apical da célula para o folículo, o iodo se liga a cerca de um sexto de seus aminoácidos tirosina. ➔ A tirosina é inicialmente iodada para monoiodotirosina e para diiodotirosina. Então cada vez mais resíduos de iodotirosina se acoplam uns aos outros. ➔ O principal produto hormonal da reação de acoplamento é a molécula tiroxina formada quando duas moléculas de diiodotirosina se unem; a tiroxina permanece como parte da molécula de tireoglobulina. ➔ Outra possibilidade é o acoplamento de molécula de monoiodotirosina com uma de diiodotirosina, formando a triiodotironina que representa cerca de 1/15 do total de hormônios. Pequenas quantidades de T3 reverso são formadas pelo acoplamento de diiodotirosina com monoiodotirosina, mas o RT3 não parece ter significância funcional em humanos. 1.7 Armazenamento da Tireoglobulina ➔ Tireoide tem a capacidade incomum entre as glândulas endócrinas de armazenar grande quantidade de hormônios. Após a síntese, cada molécula de tireoglobulina contém cerca de 30 moléculas de tiroxina e algumas de triiodotironina. Nessa forma, os hormônios tireoidianos são armazenados nos folículos em quantidade suficiente para suprir as necessidades normais do organismo por 2 a 3 meses. Quando a síntese é interrompida, os efeitos da deficiência só sãoobservados meses depois. 1.8 Liberação de Tiroxina e Triiodotironina pela Tireoide ➔ Tireoglobulina não é liberada para a circulação em quantidades mensuráveis; ela é primeiro clivada formando tiroxina e triiodotironina e esses hormônios livres são liberados. Ocorre da seguinte forma: Fisiologia da tireoide 1) A superfície apical das céls da tireoide emite pseudópodes que cercam pequenas porções do coloide, formando vesículas pinocíticas que penetram pelo ápice da célula. 2) Lisossomos no citoplasma imediatamente se fundem com as vesículas, formando vesículas digestivas com enzimas digestivas misturadas com o coloide. 3) Múltiplas proteases entre as enzimas digerem as moléculas de tireoglobulina e liberam tiroxina e triiodotironina, em sua forma livre. 4) Estas se difundem pela base da cél tireoidiana, para os capilares adjacentes. Os hormônios tireoidianos são liberados no sangue. ➔ 3/4 da tirosina iodada na tireoglobulina não se torna hormônio, permanece como monoiodotirosina e diiodotirosina. Na digestão da tireoglobulina, causando a liberação de tiroxina e triiodotironina, essas tirosinas iodadas também são liberadas das moléculas de tireoglobulina, mas não são secretadas para o sangue. Seu iodo é clivado pela enzima deiodinase, que disponibiliza praticamente todo o iodo para a reciclagem na glândula e a formação de novas moléculas de hormônios tireoidianos. Na ausência congênita da deiodinase, pode-se apresentar deficiência de iodo por falha do processo de reciclagem. 1.9 Intensidade Diária da Secreção de Tiroxina e Triiodotironina. ➔ Cerca de 93% dos hormônios secretados pela tireoide são formados por tiroxina e apenas 7% por triiodotironina. Entretanto, após poucos dias, cerca da metade da tiroxina é lentamente desiodada, formando mais triiodotironina. Portanto, o hormônio transportado e utilizado pelos tecidos consiste, em sua maior parte, de triiodotironina. 1.10 Transporte de Tiroxina e Triiodotironina para os Tecidos ➔ Tiroxina e a Triiodotironina Estão Ligadas a Proteínas Plasmáticas: ao serem liberadas no sangue, mais de 99% da tiroxina e triiodotironina se combinam imediatamente com diversas proteínas plasmáticas sintetizadas pelo fígado. Elas se combinam, principalmente, com a globulina ligadora de tiroxina e muito menos com a pre-albumina ligadora de tiroxina e a albumina. ➔ A tiroxina e a triiodotironina são liberadas lentamente para as céls teciduais: por causa da alta afinidade das proteínas plasmáticas de ligação dos hormônios tireoidianos, essas substâncias — em particular, a tiroxina — só são liberadas de forma lenta para as células teciduais. ± 1/2 da tiroxina sanguínea é liberada a cada 6 dias, enquanto 1/2 da triiodotironina — por ter menor afinidade pelas proteínas transportadoras — é liberada para as células, em cerca de 1 dia. ➔ Ao penetrar as céls, a tiroxina e a triiodotironina se ligam a proteínas intracelulares; a ligação da tiroxina é mais forte que a da triiodotironina. São de novo armazenadas, mas nas próprias células-alvo e são usadas lentamente. ➔ Ação dos hormônios tem início lento e longa duração. Após a injeção de tiroxina, não se detectam efeitos no metabolismo durante 2 a 3 dias, o que demonstra seu longo período de latência, antes do início da atividade da tiroxina. Quando a atividade se inicia, ela aumenta progressivamente, até atingir um máximo em 10 a 12 dias. Depois declina com meia-vida de cerca de 15 dias. Parte da atividade persiste por até 6 semanas a 2 meses. ➔ As ações da triiodotironina ocorrem cerca de 4x mais rápidas que as da tiroxina, com período de latência de apenas 6 a 12 horas e atividade celular máxima entre 2 a 3 dias. ➔ A maior parte da latência e o prolongado período de ação desses hormônios se devem a suas ligações com proteínas, tanto no plasma quanto nas células, seguidas por sua lenta liberação. Parte do período de latência também resulta do modo como esses hormônios realizam suas funções nas próprias céls. 2. Mecanismo de ação dos hormônios tireoidianos ➔ Hormônios tireoidianos aumentam a transcrição de muitos genes. O efeito geral consiste em ativar a transcrição nuclear. Em praticamente todas as céls do organismo é sintetizado grande número de enzimas, proteínas estruturais, transporte de proteínas e outras substâncias. O resultado é o aumento generalizado da atividade funcional de todo o organismo. ➔ A maior parte da tiroxina secretada pela tireoide é convertida em triiodotironina. Antes de agir sobre os genes, átomo de iodo é removido de quase todas as moléculas de tiroxina, formando triiodotironina. Os receptores intracelulares de hormônio tireoidiano têm afinidade muito alta pela triiodotironina. Mais de 90% das moléculas de hormônio tireoidiano, que se ligam aos receptores, são triiodotironina. ➔ Fisiologia da tireoide ➔ Hormônios tireoidianos ativam receptores nucleares. Os receptores de hormônio tireoidiano estão ligados às fitas genéticas de DNA ou se localizam próximos a elas. O receptor do hormônio tireoidiano forma heterodímero com o receptor de retinoide X (RXR) nos elementos específicos de resposta hormonal tireoidiana no DNA. ➔ Ao se ligarem ao hormônio, os receptores são ativados e iniciam o processo de transcrição. É formado grande número de diferentes tipos de RNA mensageiro que, após min ou hrs, são traduzidos nos ribossomos citoplasmáticos, formando centenas de novas proteínas intracelulares. Contudo, as [proteínas] produzidas não aumentam por porcentagens semelhantes — algumas aumentam ligeiramente, enquanto outras chegam a ser sextuplicadas. Acredita-se que a maioria das ações do hormônio tireoidiano resulte das funções enzimáticas ou outras funções dessas novas proteínas. ➔ Esses hormônios parecem ter efeitos celulares não genômicos independentes dos efeitos na transcrição gênica. Alguns efeitos dos hormônios da tireoide ocorrem em minutos, rápido demais para ser explicado pelas mudanças na síntese de proteínas e não são afetados por inibidores da transcrição e tradução gênica – ações descritas em diversos tecidos, como o coração e a hipófise, bem como tecido adiposo. O sítio de ação do hormônio tireoidiano não genômico parece ser a membrana plasmática, o citoplasma e, talvez, algumas organelas, como as mitocôndrias. Ações não genômicas incluem a regulação de canais iônicos e fosforilação oxidativa e parece envolver a ativação de mensageiros secundários intracelulares, como o AMP cíclico ou as cascatas de sinalização das proteinocinases. ➔ Os hormônios tireoidianos aumentam a atividade metabólica de quase todos os tecidos corporais. A velocidade de utilização dos alimentos para a produção de energia é muito acelerada. Embora a velocidade da síntese proteica seja aumentada, a velocidade do seu catabolismo também se eleva, simultaneamente. A velocidade do crescimento de pessoas jovens também tem grande aumento. Os processos mentais são estimulados, bem como a atividade da maior parte das demais glândulas endócrinas. ➔ Os hormônios aumentam o número e a atividade das mitocôndrias. Quando o animal recebe tiroxina ou triiodotironina, as mitocôndrias, em suas céls, aumentam em tamanho e em número. A superfície total da membrana das mitocôndrias aumenta de modo quase diretamente proporcional ao aumento do metabolismo. Portanto, uma das principais funções da tiroxina pode ser, simplesmente, aumentar o número e a atividade das mitocôndrias, o que aumenta a formação ATP para as funções celulares. Mas aumento do número e da atividade das mitocôndrias poderia ser o resultado da maior atividade celular, assim como sua causa. ➔ Hormônios tireoidianos aumentam o transporte ativo de íons através das MC. Uma das enzimas cuja atividade aumenta em resposta ao hormôniotireoidiano é a Na+-IC-ATPase,o que eleva a velocidade de transporte de íons sódio e potássio através das MCs de alguns tecidos. Como esse processo utiliza energia e aumenta a quantidade de calor produzido pelo organismo, esse seria um dos mecanismos pelos quais o hormônio tireoidiano aumenta o metabolismo corporal. Hormônio tireoidiano também faz as MCs da maioria das céls mais permeáveis aos íons sódio, o que aumenta a ativação da bomba de sódio e produção de calor. ➔ Efeito do hormônio tireoidiano sobre o crescimento: provoca efeitos gerais e específicos sobre o crescimento. O efeito do hormônio tireoidiano sobre o crescimento se manifesta principalmente em crianças. Nas que apresentam hipotireoidismo, o crescimento Fisiologia da tireoide fica muito retardado. Já, nas com hipertireoidismo, frequentemente ocorre crescimento esquelético excessivo. Entretanto, os ossos também maturam com mais velocidade e as epífises se fecham precocemente, de modo que a duração do crescimento e a altura final do adulto podem ser reduzidas. ➔ Importante efeito do hormônio tireoidiano é a promoção do crescimento e desenvolvimento do cérebro durante a vida fetal e nos primeiros anos de vida pós-natal. Se o feto não secretar quantidade suficiente de hormônio tireoidiano, o crescimento e a maturação do cérebro antes e após o nascimento são muito retardados, e o cérebro permanece menor que o normal. Sem o tratamento específico dentro de dias ou semanas, após o nascimento, a criança que não tem a glândula tireoide permanece mentalmente deficiente para o resto da vida. ➔ Efeitos do hormônio tireoidiano sobre mecanismos corporais específicos: ➢ Estímulo do metabolismo de carboidratos: estimula quase todos os aspectos do metabolismo de carboidratos, incluindo a captação rápida de glicose pelas céls, o aumento da glicólise, da gliconeogênese, da absorção pelo trato gastrointestinal e da secreção de insulina, com seus efeitos secundários resultantes sobre o metabolismo de carboidratos. Todos esses efeitos resultam do aumento geral das enzimas metabólicas celulares causado pelo hormônio tireoidiano. ➢ Estímulo do metabolismo de lipídios: maioria dos aspectos do metabolismo de lipídios são estimulados. Particularmente, os lipídios são rapidamente mobilizados do tecido adiposo, o que reduz os acúmulos de gordura do organismo, de modo mais acentuado que os de qualquer outro elemento tecidual. Isso aumenta a concentração de ácidos graxos livres no plasma e acelera, de modo acentuado, sua oxidação pelas céls. ➢ Efeito sobre os lipídios plasmáticos e hepáticos: aumento do hormônio tireoidiano reduz as concentrações de colesterol, fosfolipídios e triglicerídeos no plasma, embora aumente a de ácidos graxos livres. A redução da secreção tireoidiana aumenta as concentrações plasmáticas de colesterol, fosfolipídios e triglicerídeos e provoca o depósito excessivo de lipídios no fígado. O grande aumento do colesterol plasmático, durante o hipotireoidismo prolongado, está frequentemente associado à aterosclerose grave. ➢ Um dos mecanismos pelos quais o hormônio tireoidiano reduz a concentração plasmática de colesterol é pelo aumento significativo da secreção de colesterol na bile e sua perda nas fezes. Mecanismo consiste na indução de maior número de receptores de lipoproteínas de baixa densidade nas células hepáticas, levando à rápida remoção de lipoproteínas do plasma e a subsequente secreção de colesterol nessas lipoproteínas, pelas células hepáticas. ➔ Necessidade aumentada de vitaminas: hormônio tireoidiano aumenta a quantidade de muitas enzimas corporais e como as vitaminas formam partes essenciais de algumas das enzimas ou coenzimas, o hormônio tireoidiano aumenta a necessidade de vitaminas. Pode ocorrer deficiência relativa de vitaminas, quando o hormônio tireoidiano é secretado Fisiologia da tireoide em excesso, a menos que maior quantidade de vitaminas seja disponibilizada simultaneamente. ➔ Aumento do metabolismo basal: como há aumento do metabolismo em quase todas as céls corporais, seu excesso pode, ocasionalmente, aumentar o metabolismo basal por 60% a 100%. Quando sua produção cessa, o metabolismo basal quase cai à metade do normal. Quantidade extrema de hormônios é necessária para produzir metabolismo basal muito alto. ➔ Redução do peso corporal: muito hormônio tireoidiano quase sempre reduz o peso corporal e quantidade muito reduzida o aumenta; esses efeitos não ocorrem sempre porque o hormônio tireoidiano também aumenta o apetite, o que pode compensar a variação do metabolismo. ➔ Efeito sobre o sistema cardiovascular: ➢ Aumento do fluxo sanguíneo e do débito cardíaco: O aumento do metabolismo nos tecidos provoca a utilização mais rápida de oxigênio que e a liberação de quantidade aumentada de produtos metabólicos. Esses efeitos provocam vasodilatação na maioria dos tecidos, aumentando o fluxo. O fluxo sanguíneo na pele aumenta devido à maior necessidade de eliminação de calor pelo organismo. Como consequência, o débito cardíaco também se eleva na presença de grande excesso de hormônio tireoidiano e caindo no hipotireoidismo. ➢ Aumento da frequência cardíaca: aumenta mais sob a influência do hormônio tireoidiano do que seria esperado pelo aumento no débito cardíaco. O hormônio parece apresentar efeito direto sobre a excitabilidade do coração, o que eleva a frequência cardíaca. Esse efeito é de particular importância porque a frequência cardíaca é um dos sinais físicos que o médico utiliza para determinar o excesso ou a redução de produção desse hormônio. ➢ Aumento da força cardíaca: elevação da atividade enzimática provocada por ligeiro aumento da secreção do hormônio tireoidiano já é capaz de aumentar a força de contração cardíaca. Processo análogo ao aumento da contratilidade que ocorre na febre leve e durante o exercício. Mas, quando a secreção de hormônio é acentuadamente elevada, a força do músculo cardíaco fica deprimida devido ao catabolismo proteico excessivo, por longos períodos. Alguns pacientes tireotóxicos graves morrem por descompensação cardíaca secundária à insuficiência miocárdica e ao aumento do trabalho cardíaco imposto pelo maior débito cardíaco. ➢ PA normal: em geral, permanece próximo ao normal após a administração de hormônio tireoidiano. Devido ao maior fluxo sanguíneo pelos tecidos entre os batimentos cardíacos, a pressão de pulso frequentemente aumenta; a pressão sistólica se eleva por 10 a 15 mmHg no hipertireoidismo e a pressão diastólica se reduz na mesma intensidade. ➔ Aumento da respiração: maior metabolismo aumenta a utilização de oxigênio e a formação de dióxido de carbono; esses efeitos ativam todos os mecanismos que aumentam a frequência e a profundidade da respiração. ➔ Aumento da motilidade gastrointestinal: há aumenta tanto da produção de secreções digestivas como a motilidade. O hipertireoidismo frequentemente resulta em diarreia, enquanto a falta de hormônio tireoidiano pode causar constipação. ➔ Efeitos excitatórios sobre o SNC: há aumenta na velocidade do pensamento, mas também, frequentemente, o dissocia; sua falta reduz essa função. No hipertireoidismo há muito nervosismo e tendências psiconeuróticas, como complexos de ansiedade, preocupação excessiva e paranoia. ➔ Efeito sobre a função muscular: aumento leve hormonal faz os músculos reagirem com vigor, mas se hormônio fica excessiva, os músculos são enfraquecidos devido ao excesso do catabolismo proteico. A falta de hormônio tireoidiano torna os músculos vagarosos, relaxando lentamente, após contração. ➢ Tremor muscular: 1 dos sinais mais característicos do hipertireoidismo. É diferente do tremor brusco da doença de Parkinson ou dos calafrios porque sua frequência é maior (10 a 15x/s). O tremor podeser observado pela colocação de folha de papel sobre os dedos estendidos do paciente e notando-se o grau de vibração do papel. Acredita-se que seja causado pela atividade aumentada das sinapses neuronais nas áreas da medula espinhal que controlam o tônus muscular. O tremor é forma importante de se avaliar o grau de efeito do hormônio tireoidiano sobre o SNC. ➔ Efeito sobre o sono: por causa do efeito exaustivo do hormônio tireoidiano sobre a musculatura e o SNC, no hipertireoidismo frequentemente se queixa de cansaço constante; mas, devido aos efeitos excitatórios sobre as sinapses, o sono é dificultado. A sonolência extrema é característica do hipotireoidismo, e o sono chega a durar até 12 a 14 horas por dia, em alguns casos. ➔ Efeito sobre outras glândulas endócrinas: elevação do hormônio tireoidiano aumenta a secreção de várias outras glândulas endócrinas, mas também aumenta as necessidades teciduais pelos hormônios. Aumento da secreção de tiroxina eleva o metabolismo da glicose em todo o organismo e provoca elevação correspondente na necessidade de secreção de insulina pelo pâncreas. O hormônio tireoidiano aumenta muitas atividades metabólicas relacionadas com a formação óssea e a necessidade de paratormônio. O hormônio tireoidiano também aumenta a inativação de glicocorticoides adrenais pelo fígado, o que leva à elevação, por feedback, da produção de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) pela hipófise anterior e, Fisiologia da tireoide portanto, ao aumento da secreção de glicocorticoides pelas adrenais. ➔ Efeito do hormônio tireoidiano sobre a função sexual. Para que a função sexual seja normal é necessária a secreção normal de HT. Em homens, a falta desse hormônio frequentemente causa a perda da libido; excesso pode causar impotência. Em algumas mulheres, a falta de HT frequentemente causa menorragia e polimenorreia — sangramento menstrual excessivo e frequente, respectivamente. Em outras mulheres a ausência da tireoide pode causar ciclos menstruais irregulares e, até mesmo, ocasionalmente, amenorreia. ➔ Em hipotireoidismo pode ter grande redução da libido. Para confundir ainda mais, a oligomenorreia, que é grande redução no sangramento menstrual, é comum em mulheres com hipertireoidismo, ocasionalmente resultando em amenorreia. ➔ Não é possível definir qualquer função específica do hormônio tireoidiano sobre as gônadas; sua ação resulta, provavelmente, da combinação de efeitos metabólicos diretos sobre as gônadas e de efeitos excitatórios e inibitórios por feedbackpelos hormônios da hipófise anterior, que controlam as funções sexuais. 3. Regulação da Secreção de Hormônios Tireoidianos ➔ Para manter níveis normais de atividade metabólica no organismo, quantidade precisa de hormônio tireoidiano deve ser secretada a cada momento; para atingir esse objetivo, há mecanismos de feedback que operam por meio do hipotálamo e da hipófise anterior, para controlar a secreção. Esses mecanismos serão discutidos a seguir. ➔ TSH (tireotropina) aumenta a secreção tireoidiana. Seus efeitos específicos sobre a tireoide são: ➢ Aumento da proteólise da tireoglobulina armazenada nos folículos, com aumento da liberação dos hormônios tireoidianos para o sangue circulante e diminuição da própria substância folicular ➢ Aumento da atividade da bomba de iodeto que aumenta a captação pelas céls glandulares elevando a proporção entre as concentrações intra e extracelular de iodeto na substância glandular em até 8x. ➢ Aumento da iodização da tirosina, formando os hormônios tireoidianos. ➢ Aumento do tamanho e atividade secretória das células tireoidianas. ➢ Aumento do nº de céls tireoidianas, além da transformação de céls cuboides em colunares e grande pregueamento do epitélio tireoidiano nos folículos. ✓ TSH aumenta todas as atividades secretórias conhecidas das céls glandulares tireoidianas. ➔ Efeito precoce mais importante após a administração de TSH: proteólise da tireoglobulina que provoca liberação de tiroxina e triiodotironina no sangue, após 30min. Demais efeitos levam horas, dias ou semanas para se desenvolverem plenamente. ➔ Monofosfato cíclico de adenosina medeia o efeito estimulador do TSH: a maioria ou a totalidade desses efeitos resulta da ativação do sistema celular do “segundo mensageiro” AMPc. ➢ 1º evento nessa ativação é a ligação do TSH a seus receptores específicos, na superfície da MB das céls tireoidianas, o que ativa a Adenil ciclase na membrana e aumenta formação de AMPc, o qual atua como segundo mensageiro, ativando a proteinocinase que provoca fosforilações múltiplas em toda a cél. Resulta em aumento imediato da secreção de hormônios tireoidianos e o crescimento prolongado do próprio tecido glandular. ➔ Secreção de TSH pela hipófise anterior é regulada pelo hormônio liberador de tireotropina do hipotálamo: secreção de TSH é controlada pelo hormônio hipotalâmico TRH, secretado por terminações nervosas na eminência mediana do hipotálamo. A partir da eminência mediana, o TRH é transportado para a hipófise anterior pelo sangue porta hipotalâmico- hipofisário. ➢ TRH é substância simples e afeta diretamente as céls da hipófise anterior, aumentando a secreção de TSH. Quando o sistema porta sanguíneo do hipotálamo para a hipófise anterior é bloqueado, a secreção de TSH, pela hipófise anterior, fica bastante reduzida, mas não completamente. ➢ Mecanismo molecular pelo qual TRH provoca a produção de TSH é a ligação com receptores de TRH na membrana das céls hipofisárias o que ativa o sistema de segundo mensageiro da fosfolipase no interior, produzindo grande quantidade de fosfolipase C, o que é seguido por cascata de outros segundos mensageiros, Fisiologia da tireoide incluindo íons cálcio e diacilglicerol que provocam a liberação de TSH. ➔ Um dos estímulos mais bem conhecidos para o aumento da secreção de TRH e, portanto, de TSH é a exposição ao frio. Esse efeito pode resultar da excitação dos centros hipotalâmicos de controle da temperatura corporal. Exposição de ratos ao frio intenso durante muitas semanas aumenta em alguns casos a liberação de hormônios tireoidianos, por até mais de 100%, e pode aumentar o metabolismo basal em até 50%. Sabe-se que pessoas que se mudam para regiões árticas desenvolvem metabolismos basais 15% a 20% acima do normal. ➔ Diversas reações emocionais também podem afetar a liberação de TRH e de TSH e afetar indiretamente a secreção dos hormônios tireoidianos. ➢ Agitação e ansiedade: condições que estimulam intensamente o sistema nervoso simpático causam redução aguda da secreção de TSH, talvez porque esses estados aumentem o metabolismo e a temperatura corporal e exercem efeito inverso sobre o centro de controle da temperatura. ➢ Nenhum desses efeitos emocionais, nem o efeito do frio, é observado após o seccionamento do pedúnculo hipofisário (demonstra que ambos os efeitos são mediados pelo hipotálamo). • Box 1: Efeito de Feedbackdo Hormônio Tireoidiano para Reduzir a Secreção deTSH pela Hipófise Anterior o Elevação do hormônio tireoidiano nos líquidos corporais, reduz a secreção de TSH pela hipófise anterior. Quando a secreção do hormônio tireoidiano se eleva para 1,75 vez o normal, a secreção de TSH cai praticamente a zero. Quase todo esse efeito depressor por feedback ocorre até mesmo quando a hipófise anterior é separada do hipotálamo. É provável que essa inibição ocorra, principalmente, por efeito direto do hormônio tireoidiano sobre a própria hipófise anterior. Seu efeito consiste em manter concentração quase constante de hormônios tireoidianos nos líquidos corporais circulantes. o Substâncias antitireoidianas suprimem a secreção tireoidiana: mais conhecidas drogas antitireoidianas são o tiocianato, o propiltiouracileas altas concentrações de iodetos inorgânicos. Eles bloqueiam a secreção por diferentes mecanismos. Íons Tiocianato reduzem a captação de iodeto; a mesma bomba ativa que transporta íons iodeto para dentro da céls também pode bombear íons tiocianato, perclorato e nitrato. A administração de tiocianato (ou um dos outros íons), em concentração suficiente, pode provocar a inibição competitiva do transporte de iodeto para a célula. o Menor disponibilidade de iodeto não impede a formação de tireoglobulina; impede a tireoglobulina formada de ser iodada e, portanto, de formar os hormônios. Deficiência de hormônios leva à maior secreção de TSH pela hipófise anterior, provocando o supercrescimento da tireoide que continua incapaz de formar quantidade adequada de hormônios = uso de tiocianatos e de alguns outros íons para bloquear a secreção tireoidiana pode levar ao desenvolvimento de tireoide muito aumentada (bócio) ➔
Compartilhar