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Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina AMBULATÓRIO - PEDIATRIA REFLUXO GASTROESOFÁGICO Tópicos ● Refluxo fisiológico; ● Resumo patológico; ● Clínica, diagnósticos e condutas terapêuticas. Introdução O refluxo gastroesofágico (RGE) é a passagem do conteúdo gástrico para o esôfago, com ou sem regurgitação e/ou vômito. Pode ser considerado normal, fisiológico, aquele que ocorre várias vezes ao dia em lactentes, crianças, adolescentes e adultos, quando ocasiona poucos ou nenhum sintoma. Pode também representar uma doença (doença do refluxo gastroesofágico – DRGE), quando causa sintomas ou complicações, que se associam à morbidade importante. A variabilidade das manifestações clínicas e do curso evolutivo, a dificuldade de distinção entre RGE fisiológico e DRGE, associados à falta de uma classificação que permita categorizar os pacientes e à carência de exames diagnósticos específicos, assim como a falta de comprovação científica em relação à eficácia de algumas medicações, geram muita confusão em relação à abordagem diagnóstica e terapêutica do RGE e da DRGE em crianças. 1 Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina Refluxo Gastroesofágico Fisiológico Definição Refluxo gastroesofágico (RGE) refere-se à passagem retrógrada do conteúdo gástrico para o esôfago. Às vezes, pode chegar a atingir a faringe e a boca, podendo ser acompanhado ou não de regurgitação e/ou vômito. O RGE pode ser considerado normal, nos casos de refluxo gastroesofágico fisiológico do lactente, ou patológico, configurando a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). A diferenciação entre ambas as situações se faz muito importante, dado que a conduta médica é distinta para cada uma. Fisiologia ➔ Imaturidade dos mecanismos antirrefluxo ◆ Questões anatômicas ● Esôfago abdominal curto; ● Menor comprimento e menor tônus do esfíncter esofágico inferior (EEI); ● Ângulo esofagogástrico (“ângulo de His”) mais obtuso. 2 Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina ◆ Comprometimento do clareamento esofágico ● Dismotilidade esofágica; ● Menor produção salivar ; ● Perda do efeito gravitacional. ➔ Hábitos e fatores posturais dos lactentes ◆ Decúbito horizontal ◆ Alimentação líquida + ingestão volumétrica com maior relação mL/Kg A melhora é progressiva e costuma começar a partir dos 6 meses de vida, tanto porque ocorre o amadurecimento dos mecanismos antirrefluxo quanto por modificações de hábitos que ocorrem a partir dessa faixa etária. Com aproximadamente 6 ou 7 meses, os bebês começam a sentar. Dessa forma, com o tronco ereto, eles adquirem o mecanismo gravitacional que trabalha contra os refluxos. Além disso, nessa época há a introdução da alimentação complementar, o que faz com que a alimentação deixe de ser exclusivamente líquida e passem a ser introduzidos alimentos pastosos e líquidos. Quadro Clínico ➔ “Regurgitadores felizes” ◆ Bebê de 3 semanas a 12 meses de vida; ◆ 2 episódios de regurgitação por dia por pelo menos 3 semanas; ◆ Lactente saudável com desenvolvimento normal e bom ganho ponderal; ◆ Ausência de sinais de alarme (náuseas, hematêmese, aspiração, apneia). Diagnóstico O diagnóstico de refluxo gastroesofágico fisiológico implica necessariamente na ausência de sinais e sintomas associados à DRGE. Exames complementares (exames de imagem e monitoramento de PH) são desnecessários, a não ser que os episódios de vômito aconteçam desde as primeiras semanas de vida ou apresentem aspecto bilioso. 3 Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina Tratamento ➔ Orientações dietéticas ◆ Fracionamento da dieta: menor volume e maior frequência; ◆ Revisão da técnica e amamentação: reduzir possibilidade de ingestão aérea excessiva; ◆ Utilização de fórmulas espessadas e de espessantes: fórmulas antirregurgitação diminuem episódios visíveis mas não diminuem o refluxo em si (estético). ➔ Orientações posturais ◆ Manter o bebê em posição vertical por 20 a 30 minutos após a mamada; ◆ Dormir em posição supina (barriga para cima). ● Não é mais recomendado o decúbito lateral, dado que se mostrou associado a maior incidência de síndrome da morte súbita do lactente. ➔ Orientações ambientais ◆ Evitar exposição ao tabagismo passivo (relaxamento transitório do EEI) Refluxo Gastroesofágico Patológico (DRGE) Definição O refluxo gastroesofágico (RGE) é a passagem do conteúdo gástrico para o esôfago, com ou sem regurgitação e/ou vômito. Pode ser considerado normal, fisiológico, aquele que ocorre várias vezes ao dia em lactentes, crianças, adolescentes e adultos, quando ocasiona poucos ou nenhum sintoma. Pode também representar uma doença (doença do refluxo gastroesofágico – DRGE), quando causa sintomas ou complicações, que se associam à morbidade importante. Fisiopatologia ➔ Fatores que prejudicam a competência dos mecanismos antirrefluxo ◆ Alterações do peristaltismo esofágico; ◆ Hipotonia do esfíncter esofagiano inferior; ◆ Relaxamento transitório do esfíncter esofagiano inferior; ◆ Retardo do esvaziamento gástrico; 4 Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina ◆ Aumento da pressão intra-abdominal; ◆ Efeitos posturais. ➔ Fatores relacionados com o aumento da lesividade do material refluído sobra a mucosa ◆ Anormalidades na cicatrização epitelial do esôfago. Etiologia ➔ Primária ◆ Disfunção esofagogástrica. ➔ Secundária ◆ Hérnia de hiato; ◆ Obstruções duodenogástricas; ◆ Malformações congênitas; ◆ Lesões do SNC. Fatores de Risco ➔ Prematuridade ◆ Imaturidade dos mecanismos antirrefluxo; ◆ Postura predominantemente em decúbito dorsal horizontal. ➔ Obesidade ◆ Aumenta a pressão intra-abdominal. ➔ Doenças neurológicas ◆ Dismotilidade esofágica ➔ Doenças pulmonares crônicas ◆ Tosse crônica > disfunção respiratória > aumento de pressão abdominal. ➔ Malformações congênitas do Trato Gastrointestinal (TGI) ◆ Hérnia hiatal/diafragmática; ◆ Atresia de esôfago-fístula traqueoesofágica. 5 Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina Quadro Clínico ➔ Manifestações Típicas e Extraesofageanas ➔ Síndrome de Sandifer ◆ Postura anormal (hiperextensão cervical e lateralização da cabeça; ◆ DRGE grave em geral com esofagite de refluxo. 6 Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina Diagnóstico (exames complementares) Tratamento ➔ Mudanças no estilo de vida ◆ Exclusão da proteína do leite da vaca ◆ Orientação postural ● Elevação da cabeceira entre 30 e 40 graus ● Postura pós-mamada ◆ Modificações dietéticas ● Uso de fórmula láctea em volumes fracionados 7 Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina ● Respeitar necessidades nutricionais da criança ● Espessamento de dieta ◆ Coibir exposição passiva ao fumo ◆ Evitar refeições volumosas, gordurosas, apimentadas e bebidas cafeinadas. ➔ Medicamentoso ◆ Inibidores da bomba de prótons ● Uso prolongado deve ser monitorado ● Esofagites graves ● Omeprazol, esomeprazol, lansoprazol... ◆ Antagonistas do receptor de H2 ● Taquifilaxia (diminuição de resposta) ● Esofagites leves e moderados ● Cimetidina, famotidina e ranitidina ◆ Antiácidos de contato ● Sintomáticos esporádicos ◆ Procinéticos ● Metoclopramida, domperidona e a bromoprida ● Uso limitado devido a efeitos colaterais ➔ Cirurgico ◆ Necessidade de tratamento medicamentoso contínuo ◆ Casos graves e refratários ao tratamento clínico ◆ Grande hérnia hiatal ou esôfago de barrett (exposição recorrente ao ácido estomacal > tecido que reveste o esôfago é substituído por tecido semelhante ao de revestimento do intestino 8 Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina 9
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