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Roubo: crime incompatível com a função policial militar (creiof)

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
 
 
MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DE CURSO 
 
 
Matrícula: 200211411-8 
 
Aluno: CONRADO JOSÉ NETO DE QUEIROZ REIS 
 
Título ROUBO: CRIME INCOMPATÍVEL COM A FUNÇÃO 
POLICIAL MILITAR 
 
Orientador: (MsC) Alexandre Nunes de Araújo 
 
 
 
2007.1 
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ROUBO: CRIME INCOMPATÍVEL COM A FUNÇÃO POLICIAL MILITAR 
 
 
 
CONRADO JOSÉ NETO DE QUEIROZ REIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. (MsC) Alexandre Nunes de Araújo 
(orientador) 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2007 
 
CONRADO JOSÉ NETO DE QUEIROZ REIS 
 
 
 
 
ROUBO: CRIME INCOMPATÍVEL COM A FUNÇÃO POLICIAL MILITAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia de conclusão do Curso 
Bacharelado em Direito, sob a 
orientação do Prof. (MsC) Alexandre 
Nunes de Araújo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2007 
 
CONRADO JOSÉ NETO DE QUEIROZ REIS 
 
 
 
 
 
ROUBO: CRIME INCOMPATÍVEL COM A FUNÇÃO POLICIAL MILITAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia exigida como requisito 
parcial para a obtenção da graduação no 
Curso Bacharelado em Direito, pela 
Comissão formada pelos professores: 
 
 
 
 
Defesa Pública: Recife, ____de _________de 2007. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Presidente Orientador: ______________________________________ 
Prof. (MsC) Alexandre Nunes de Araújo 
 
 
1º Examinador: _______________________________________ 
Prof. 
 
 
2º Examinador: _______________________________________ 
Prof. 
 
 
 
Recife 
2007 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
À minha linda esposa Ana Lúcia e ao 
nosso nascituro Dayan Vinícius 
concebido com muito amor, cujo 
desenvolvimento me inspirou com a 
simples vontade de crescer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2007 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
À minha mãe Luiza Reis, pela paciência 
e compreensão nos momentos difíceis. 
 
Ao MsC Alexandre Nunes de Araújo, 
pela orientação fundamental ao 
desenvolvimento deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2007 
 
RESUMO 
 
 
 
A Polícia Militar de Pernambuco foi criada em 11 de junho de 1825, recebendo 
várias denominações até ser assim chamada em 1947. Os seus integrantes 
gozam de prerrogativas inerentes à função e dispõem do poder de polícia, mas 
também existe a contrapartida de preservar a ordem pública, mesmo com o 
sacrifício da própria vida. O policial militar, no exercício da função ou fora dela, em 
caso de desvio de conduta, pode vir a cometer o crime de roubo tipificado no Art. 
157 do Código Penal Brasileiro e no Art. 242 do Código Penal Militar, dependendo 
do caso concreto, sendo que esse tipo penal é totalmente diferente do crime de 
furto, em razão da grave ameaça e da violência. Nesse caso, o militar está 
afetando sobremaneira o seu Código de Ética, portanto, o infrator será processado 
e julgado pelo Tribunal de Ética competente, que, no caso dos estados de São 
Paulo, Minas Gerais e Rio grande do Sul, são os Tribunais de Justiça Militar e nos 
demais Estados do Brasil são os Tribunais de Justiça, porque o efetivo da Polícia 
Militar daqueles três Estados é superior a 20.000 (vinte mil) integrantes. A tese 
defendida neste trabalho é a da incompatibilidade do crime de roubo com a função 
policial militar, devendo, em qualquer circunstância, o militar ser excluído da 
corporação em caso de infringir tais dispositivos legais, e que seja essa idéia 
disseminada para qualquer julgador administrativo, penal, singular ou colegiado. 
 
Palavras-chave: poder de polícia; roubo; incompatibilidade; função policial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
 
The Military Police of Pernambuco was created in June, 11, 1825, receiving some 
denominations until thus being called in 1947. Its integrant ones enjoy of inherent 
prerogatives to the function and make use of the police power, but also the 
counterpart exists to preserve the public order, exactly with the sacrifice of the 
proper life. The military policeman, in the exercise of the function or is of it, in 
behavior shunting line case, can come to commit the robbery of Art. 157 of the 
Brazilian Criminal Code and in Art. 242 of the Criminal Code to militate, depending 
on the case concrete, being that this criminal type is total different of the robery 
crime, in reason of the serious threat and the violence. In this case, the military 
man is affecting excessively its Code of Ethics, therefore, the infractor is processed 
and judged for the Court of competent Ethics, that, in the case of the states of São 
Paulo, Minas Gerais and Rio Grande do Sul, are the Courts of Military Justice and 
in the too much States of Brazil they are the Courts of Justice, because the cash of 
the Military Police of those three States is superior the 20.000 (twenty a thousand) 
integrant ones. The thesis defended in this work is of the incompatibility of the 
robbery with the police function to militate, having, in any circumstance, the military 
man to be excluded from the corporation in case to infringe such legal devices, and 
that it is this idea spread for any administrative or criminal judge, singular or 
collegiate. 
 
 
 
 Word-key: Police power; robbery; incompatibility; police function. 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO 10 
 
CAPÍTULO I – ORIGEM E NECESSIDADE DA POLÍCIA 13 
 
1.1 ORIGEM DO TERMO POLÍCIA E DEFINIÇÃO 13 
1.1.2 Evolução no Brasil 16 
1.2 A ORIGEM DA POLÍCIA MILITAR DE PERNAMBUCO 17 
1.2.1 Denominações Históricas 19 
1.3 O PODER DE POLÍCIA 20 
1.3.1 Histórico 20 
1.3.1 Definição 23 
 
CAPÍTULO II – DA SEGURANÇA PÚBLICA 26 
 
2.1 Necessidade de segurança 26 
2.2 CRISE NA SEGURANÇA PÚBLICA BRASILEIRA 28 
2.3 A MODERNA CONCEPÇÃO DE SEGURANÇA 34 
2.4 A POLÍCIA COMUNITÁRIA 36 
2.5 A SDS E OS ÓRGÃOS OPERATIVOS 39 
 
CAPÍTULO III – DA FORMAÇÃO DO POLICIAL MILITAR 43 
 
3.1 O CÓDIGO DE ÉTICA DO POLICIAL MILITAR 45 
3.2 O CÓDIGO DISCIPLINAR 48 
3.3 A CORREGEDORIA GERAL 52 
 
 
 
 
CAPÍTULO IV – O ROUBO E A PRESUNÇÃO DE INCAPACIDADE 56 
 
4.1 CONCEITO 56 
4.2 Emprego de arma 58 
4.3 CRIME MILITAR 59 
4.3.1 Conceito de crime militar 59 
4.4 MILITARES 61 
4.5 FUNÇÃO ATÍPICA DA ADMINISTRAÇÃO MILITAR 63 
4.5.1 Processo penal e processo penal militar 65 
4.5.2 Administração pública e justiça militar 67 
4.6 TRIBUNAL DE ÉTICA 68 
4.7 CONDUTA INCOMPATÍVEL COM A FUNÇÃO 70 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 78 
 
REFERÊNCIAS 81 
QUESTIONÁRIO 83 
GRÁFICOS 84 
JUSTIFICATIVA 85 
ANEXOS 86 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
A alarmante onda de violência que assola nossa sociedade faz ecoar um 
grito de socorro advindo dos cidadãos indefesos, os quais, não obstante outros 
problemas sociais, clamam por segurança. 
 
A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é 
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e 
do patrimônio, através de órgãos específicos, conforme prescrito no Art. 144 da 
Constituição Federal de 1988. 
 
Esses órgãos de polícia desempenham funções essenciais ao convívio 
harmonioso dos homens na sociedade. O vocábulo polícia era utilizado para 
designar todas as atividades da cidade-estado grega (polis), porém sem guardar 
relação com o seu sentido atual. 
 
Nesse contexto, é mister conhecer a origem do termo polícia, os órgãos de 
segurança e em especial suas atribuições, poderes e limitações, como visão geral. 
No entanto, há pouca literatura no campo específico da Polícia Militar, acerca do 
regime jurídico dos militares dos Estados, do vínculo com o Exército, através da 
Inspetoria Geral das PolíciasMilitares, dos seus Códigos Deontológicos, de sua 
organização, funcionamento e características. 
 
Nesse diapasão, o Capítulo I resgata um pouco da história da Polícia Militar 
de Pernambuco (PMPE), trazendo à baila a sua origem, inclusive o registro do 
Decreto Imperial de sua criação, desenvolvendo também uma reflexão sobre o 
tema “segurança”, com o escopo de advertir o leitor sobre a percepção que deve 
ter em torno do assunto. 
 
No Capítulo II, aborda-se o poder de polícia, muito divulgado pela imprensa e 
pouco entendido pela sociedade e até pelos próprios policiais militares, os quais, 
sem se aperceber, agem dentro de uma legitimidade conferida pela escalada da 
violência, todavia obstada pela legalidade, tratando também da constante 
preocupação de implantar no Brasil uma polícia cada vez mais cidadã, imbuída 
com os propósitos de proteção da dignidade humana, sem se esquecer da crise 
da segurança no Brasil e da criação da Secretaria de Defesa Social em 
Pernambuco, como medida de unificar as atividades dos órgãos operativos de 
segurança. 
 
A propósito, o Capítulo III dá ênfase à formação do policial militar em 
Pernambuco, o número de integrantes na ativa das corporações militares 
estaduais e mais a Polícia Civil, debatendo da hierarquia e disciplina como a base 
das Instituições Militares, invocando os Códigos deontológicos específicos da 
PMPE, como o Estatuto dos Policiais Militares (Lei 6783/74) e o Código Disciplinar 
dos Militares do Estado de Pernambuco (Lei 11817/00) e as atribuições da 
Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social, órgão criado pela Lei 
11929/01 que unificou as atividades correicionais, mantendo as especificidades de 
cada Instituição, sendo o capítulo enriquecido com as estatísticas dos processos 
instaurados. 
 
O Capítulo IV é o mais contundente, posto que faz uma abordagem ao tipo 
penal previsto no Art. 157 do Código Penal Brasileiro (CPB) e previsto no Art. 242 
do Código Penal Militar (CPM), cujos crimes podem ser cometidos por policiais 
militares, dependendo sua hipótese de incidência de uma série de circunstâncias 
que distingue o tipo penal comum do especial. 
 
Necessário foi, no desenvolvimento do capítulo ut supra, explicar o que é 
crime militar, para não confundir o leitor, quando da abordagem específica do 
crime de roubo, disposto nos dois diplomas legais. Com efeito, é de suma 
importância conhecer a legislação militar, pouco difundida no curso de direito, sem 
previsão na grade curricular, para emitir parecer referente ao epigrafado tema, 
porquanto suas peculiaridades são de grande relevância para a sua afirmação 
categórica. 
Basta um pequeno senso de observação para, de plano, verificar que o 
presente trabalho prestigia, amparado numa rica pesquisa na doutrina, nos sites 
da internet nos artigos científicos, a diferença entre os crimes de furto e roubo, os 
quais são confundidos pela população leiga no assunto, sendo que o segundo é a 
temática do estudo, com seus reflexos no campo penal comum e militar e também 
no campo administrativo disciplinar, enfatizando-se o processo de representação 
ofertado pelo Ministério Público junto ao Tribunal competente que nos Estados de 
São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul são os Tribunais de Justiça Militar e 
nos demais Estados são os Tribunais de Justiça. 
 
Nesse contexto, com base principalmente na jurisprudência, o arremate final 
da defesa do ponto de vista apresentado traz a exposição dos dados obtidos, 
ilustrados através e gráficos pela aplicação do questionário de perguntas que 
segue em anexo, juntamente com algumas legislações pertinentes ao assunto, 
permitindo a reflexão livre e dando ensanchas a posicionamentos contrários, visto 
que há um campo do questionário relativo à valoração da decisão alvo da 
pesquisa (compatibilidade ou incompatibilidade). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I – ORIGEM E NECESSIDADE DA POLÍCIA 
 
O homem é um ser eminentemente social, posto que sente necessidade de 
agrupar-se por questão mesmo de sobrevivência. Não por acaso, o filósofo grego 
Aristóteles (384 a. C) já afirmava: “O homem é um animal político (zoon politikon)”. 
Político no sentido de que não consegue viver fora da “polis”, cidade-estado da 
antiga Grécia, formada pela acrópole, a parte alta da cidade, e as terras em volta, 
utilizadas na agricultura1. 
 
Tal sociabilidade, tendência para a vida social, é da própria natureza 
humana, mas acrescentada de um traço marcante que torna o homem distinto 
entre os animais. Está-se tratando da razão humana. 
 
A partir dessa tomada de consciência, teve-se como necessidade premente 
a criação de regras de conduta social que viessem a disciplinar o relacionamento 
social, pois a dimensão humana é irrecusavelmente jurídica. Eis o pensamento do 
filósofo grego Aristóteles2: “assim como o homem civilizado é o melhor de todos os 
animais, aquele que não conhece nem justiça nem leis é o pior de todos”. 
 
 
1.1 ORIGEM DO TERMO POLÍCIA E DEFINIÇÃO 
 
 
Pela exposição inaugural, percebe-se que o termo “polícia” tem a ver com a 
denominação da cidade-estado grega “polis”, uma vez que seu termo equivalente 
em grego é “politéia”, guardando, porém, mais relação com a sua expressão em 
latim: “politia”. 
 
 
1 CÁCERES, Florival. História geral. 3. ed. São Paulo: Moderna, 1988, p. 30. 
2 ARISTÓTELES. A política, p. 6. 
É de bom alvitre destacar que o termo “polícia” faz referência à organização 
administrativa das cidades, portanto, por essência, é relativo aos órgãos civis. Isso 
quer dizer que o contrário do civil era o militar, ou seja, aquele que se fixava ao 
redor das cidades para defendê-la de possíveis invasores. Dessa forma se 
comportavam, por exemplo, as legiões romanas, compostas por tropas da 
infantaria, as quais executavam as manobras a pés, e por tropas da cavalaria. 
 
Assim, como se observa na dicotômica classificação atual das polícias 
estaduais brasileiras em polícias civis e polícias militares, há um pleonasmo com 
relação às primeiras, e uma contradição semântica em relação às segundas, 
conforme menciona Luiz Amaral3: 
 
Como se vê, a expressão polícia civil é pleonástica, a polícia militar, pior 
ainda, é contraditória. Vale dizer que polícia do Exército, p. ex., não 
passa, tecnicamente, de organização militar de guarda, de vigilância ou 
correição interna corporis (como há nas igrejas e demais corporações) 
sem, entretanto, qualquer função atinente ao binômio individual-grupal 
versus público social (este no sentido de Civita/Estado) que é a essência 
da polícia (sic). 
 
O vocábulo “polícia” era utilizado então para indicar todas as atividades da 
cidade-estado. Já na Idade Média, o sentido alterou-se, tendo sido utilizado para 
designar “a boa ordem da sociedade civil sob a autoridade do Estado, em 
contraposição à boa ordem moral e religiosa da competência exclusiva da 
autoridade eclesiástica”4. 
 
Todavia, na Alemanha do século XV, por exemplo, o príncipe detinha o jus 
politiae de forma total, compreendendo toda a atividade do Estado, com ingerência 
na vida privada do cidadão, inclusive nas esferas religiosa e espiritual, sob o 
pretexto de alcançar o bem-estar coletivo. Porém, novamente, esse direito de 
 
3 AMARAL, Luiz Otávio de Oliveira. Direito e segurança pública: a juridicidade operacional da 
polícia. Brasília: Consulex, 2003, p. 46. 
4 CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de direito administrativo. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1995, p. 521. 
polícia foi se enfraquecendo a ponto de não mais alcançar as atividades 
eclesiásticas, militares e financeiras. 
 
Polícia é, pois, o conjunto de órgão e serviços públicos incumbidos de 
assegurar a ordem pública e garantir a incolumidade física e moral dos indivíduos, 
por meio de limitações impostas às suas atividades. 
 
Porém, quando se pensa em polícia como instituição, deve-se buscar na Lei 
a sua essência, mas semse esquecer de que mesmo a Polícia Judiciária exerce 
típica manifestação administrativa, isto é, de Administração Pública. As polícias 
estaduais brasileiras são polícias administrativas de segurança, sendo que a 
Polícia Militar é ostensiva e essencialmente preventiva, enquanto que a Polícia 
Civil é judiciária e essencialmente repressiva, tendo em vista o ilícito penal. Utiliza-
se a palavra essencialmente porque ambas podem operar de modo eclético, dado 
o caso concreto. 
 
Cumpre, bem por isso, salientar que ambas as atividades exteriorizam 
típica manifestação administrativa, ou seja, de Administração Pública, 
embora uma delas possa ter o qualificativo de judiciária, nada tendo, 
porém, com a manifestação judiciária do Poder Judiciário, ao qual não se 
integra como órgão5 (sic). 
 
Está-se tratando das polícias administrativas por excelência (polícias de 
manutenção da ordem pública), no âmbito dos Estados, que atuam sobre as 
pessoas, porém, há outras polícias administrativas: sanitária (relativa á saúde ou à 
higiene), aduaneira (relativa à alfândega), meio ambiente, etc., que atuam sobre 
bens, direitos e atividades. 
 
1.1.2 Evolução no Brasil 
 
 
5 LAZZARINI, Álvaro. Temas de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2003, p. 84. 
 
No Brasil, a primeira preocupação com o ato de policiar o território se deu 
ainda no período pré-colonial, com as expedições guarda - costeiras, a fim de 
expulsar os contrabandistas estrangeiros, notadamente os franceses. Porém, tais 
expedições não obtiveram o êxito desejado, fazendo com que o Rei de Portugal 
Dom João III, enviasse, em 1530, a primeira expedição colonizadora capitaneada 
por Martim Afonso de Sousa, com o escopo de defender as terras litorâneas, 
exercer a Justiça Civil e Criminal e estabelecer núcleos de povoamento. 
 
O “Colonizador”, como foi chamado D. João III, implantou também aqui o 
sistema descentralizado que dividiu o Brasil em quatorze Capitanias Hereditárias, 
as quais não foram bem sucedidas, com exceção de duas: a de São Vicente, 
doada a Martim Afonso de Souza, e a de Pernambuco doada a Duarte Coelho. “As 
capitanias mais famosas que existiram no território brasileiro foram as capitanias 
de Pernambuco, de Duarte Coelho; e a capitania de São Vicente, de Martim 
Affonso de Sousa”6. O governador Duarte Coelho, por exemplo, estabeleceu aqui 
“uma Polícia de rigorosa e uma justiça de escarmento, um sistema de repressão 
contra os facínoras que invadiam as zonas povoadas7”. 
 
Esse registro é muito importante para essa obra, posto que o 1º BPM 
(Primeiro Batalhão de Polícia Militar), localizado em Olinda, é também 
denominado de Batalhão Duarte Coelho, em homenagem, é claro, àquele militar e 
hábil administrador. 
 
Dando-se um grande salto na história do Brasil, tem-se, em 1808, a 
chegada de Dom. João VI e a família real, em virtude das Guerras Napoleônicas 
que aconteciam na Europa. O governo “joanino” foi até o ano de 1821, pouco 
antes da emancipação que se deu no dia 07/09/1822. Antes disso: “No dia 10 de 
maio de 1808, um alvará de D. João 6º criou a Intendência Geral de Polícia - 
 
6 LIMA, Marcos Antunes de. Martim afonso de souza e a colonização de são vicente. Disponível 
na Internet: <http://www.klepsidra.net/klepsidra9/martim.html>. Acesso em: 15mar2007. 
7 MORAES, Bismael. Direito e polícia. São Paulo: RT, 1986, p. 26. 
http://www.klepsidra.net/klepsidra9/martim.html
ancestral da Polícia Civil - como uma força voltada para o Estado, de forma a 
protegê-lo”8 (sic). 
 
Pouco mais de um ano depois, foi criada a primeira Polícia Militar do Brasil, 
a Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ), porém, com outra denominação: 
 
Em 13 de maio de 1809, D. João criou a Divisão Militar da Guarda Real 
de Polícia da Corte, formada por 218 guardas com armas e trajes 
idênticos aos da Guarda Real Portuguesa. Nascia a corporação que viria 
a se transformar na atual Polícia Militar. Era composta na época por um 
Estado-Maior, três regimentos de infantaria, um de artilharia e um 
esquadrão de cavalaria. Seu primeiro comandante foi José Maria Rebello 
de Andrade Vasconcellos e Souza, ex-capitão da Guarda de Portugal. A 
Divisão teve participação decisiva em momentos importantes da história 
brasileira como, por exemplo, na Independência do país e na Guerra do 
Paraguai9 (sic). 
 
1.2 A ORIGEM DA POLÍCIA MILITAR DE PERNAMBUCO 
 
Pernambuco, tradicional centro revolucionário do Brasil, desde a época da 
expulsão dos holandeses, depois da Revolução de 1817 e da Confederação do 
Equador de 1824, passou a ser taxada de província rebelde, razão pela qual o 
Imperador D. Pedro I criou, por decreto datado de 11 de junho de 1825, o então 
Corpo de Polícia do Recife, corporação composta inicialmente por um efetivo de 
320 homens10. 
Desde então, a briosa Corporação pernambucana vem cumprindo seu 
papel, inclusive com participações honrosas em movimentos sediciosos ocorridos 
 
8 Cassetete de policiais faz discriminação. Artigo publicado na Folha de São Paulo, em 13 de 
outubro de 2001, disponível na Internet: 
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/menosiguais/ htm>. Acesso em 15mar2007. 
9 BATISTA, Dandara. Polícia militar completa 197 anos e recebe homenagem na Câmara. 
Disponível na Internet: <http://www.camara.rj.gov.br/noticias/2006/05/07.htm>. Acesso em: 
15mar2007. 
10 Polícia militar de pernambuco: um século e meio de segurança 1825/1975. Santo Amaro: 
CEPE, 1975, p. 32. Elaborado pela 5ª Seção (Assessoria de Comunicação da PMPE). 
Coordenação do Coronel PM Ateniense Alves Machado. 
http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/menosiguais/%20htm
http://www.camara.rj.gov.br/noticias/2006/05/07.htm
dentro e fora do Estado, e até em eventos beligerantes da história mundial, 
descritos por Carlos Bezerra11, dos quais podem ser destacados: 
 
CABANAGEM PARÁ (1835-1840) 
REVOLUÇÃO FARROUPILHA RIO GRANDE DO SUL (1835-1845) 
SABINADA BAHIA (1837-1838) 
REVOLUÇÃO PRAIEIRA PERNAMBUCO (1848) 
GUERRA DO PARAGUAI PARAGUAI (1864-1870) 
GUERRA DE CANUDOS BAHIA (1896-1897) 
REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA SÃO PAULO (1932) 
II GUERRA MUNDIAL (1939-1945) 
Fonte: CAVALCANTI, Carlos Bezerra. 
 
Há inúmeras outras participações desta quase bicentenária Corporação 
para manter a ordem na sociedade pernambucana, dentre as quais, não se pode 
olvidar do combate ininterrupto, nas caatingas do sertão, aos grupos chefiados 
pelo cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva (1897-1938), o famigerado “Lampião” 
que desafiou bestialmente os poderes constituídos do Estado, como bem foi 
lembrado, na Assembléia Legislativa, no dia 11 de junho de 1975, por ocasião das 
homenagens alusivas ao sesquicentenário da Polícia Militar de Pernambuco, pelo 
Deputado Antônio Airton Benjamim: 
 
 
11 CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O pioneirismo pernambucano na formação histórica do 
Brasil. Recife: ETFPE, 1994, p. 197. 
No combate ostensivo ao cangaço, no interior deste e de outros Estados 
vizinhos, A Polícia Militar desenvolveu papel saliente, culminando com o 
aniquilamento completo do banditismo, inclusive o grupo de facínoras 
chefiados por Virgulino Ferreira – o conhecido Lampião, que durante 
longo tempo dominou grande parte do sertão pernambucano, matando, 
saqueando, destruindo propriedades e desonrando lares de humildes 
camponeses, favorecido que era, então, pela falta quase que absoluta de 
meios de comunicação e ainda pela inércia do Governo, que, embora 
conhecendo os fatos, não se apiedava da sorte dos que mourejavam nos 
campos. Mas, mesmo assim, enfrentando duros revezes, a Polícia Militar 
de Pernambuco não cruzou os braços, arrostou com estoicismo o drama 
constrangedor deixando sepultados nas caatingas do inóspito sertão, 
abatidos nos combates ou nas emboscadas traiçoeiras, grande número 
de seus soldados, inclusive oficiais12. 
 
1.2.1 Denominações Históricas 
 
A denominação Polícia Militar de Pernambuco se deu a partir de1º de 
janeiro de 1947 e permanece até hoje. No entanto, a briosa Corporação estadual 
já teve outros nomes, ao longo de sua história, os quais foram lembrados na 
Câmara Municipal do Recife, também por ocasião das homenagens alusivas ao 
sesquicentenário da Polícia Militar de Pernambuco, no discurso do Coronel 
Leovigildo Maranhão Neto13, dentre os quais destacam-se: 
 
CORPO DE POLÍCIA DO RECIFE Decreto, 11/06/1825. 
CORPO DE GUARDAS MUNICIPAIS PERMANENTES Resolução Regencial 
CORPO POLICIAL DE PERNAMBUCO Lei 181, 08/06/1896. 
BRIGADA MILITAR DE PERNAMBUCO Lei 473, 28/06/1900. 
REGIMENTO POLICIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO Lei 918, 02/06/1908. 
FORÇA PÚBLICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO Lei 1165, 17/04/1913. 
 
12 Polícia Militar de Pernambuco: um século e meio de segurança 1825/1975. Ob. cit., p. 55. 
13 Ibidem, p. 34. 
FORÇA POLICIAL DE PERNAMBUCO Lei 192, 17/01/1936. 
POLÍCIA MILITAR DE PERNAMBUCO Decreto, 1º/01/1947. 
Fonte: Polícia Militar de Pernambuco 
 
1.3 O PODER DE POLÍCIA 
 
1.3.1 Histórico 
 
Com a queda do império romano, no século V d.C., os bárbaros, mormente 
os muçulmanos, tomaram o mar Mediterrâneo, reduzindo a níveis insignificantes o 
comércio. Dessa forma, a economia tornou-se essencialmente rural, dando azo ao 
surgimento do feudalismo, modo de produção baseado na servidão, que dividiu a 
Europa ocidental em grandes latifúndios. 
Era o início da Idade Média, período em que o poder do rei era apenas 
nominal, posto que doava as terras a um nobre, o qual exercia o domínio sobre a 
população e assim exercia o poder político. 
Contudo, a partir do século X, com a explosão demográfica e as cruzadas14, 
que reabriram o Mediterrâneo, houve uma aproximação entre a classe burguesa 
nova e os reis, os quais buscavam a centralização do poder, berço do Estado 
absolutista, cuja famosa frase de Luís XIV, rei da França no período de 1638 a 
1715, – “L’État c’est moi” (O Estado sou Eu) – caracteriza bem esse período. A 
esse respeito: 
 
 
 
14 As Cruzadas foram movimentos militares, de caráter parcialmente cristão, que partiram da 
Europa Ocidental e cujo objetivo era colocar a Terra Santa (nome pelo qual os cristãos 
denominavam a Palestina) e a cidade de Jerusalém sob a soberania dos cristãos 
<http://pt.wikipedia.org/wiki/cruzada>. Acesso em: 20mar2007. 
Surgem as Cruzadas – 1ª (1096 a 1099), 2ª (1147 a 1149), 3ª (1189 a 
1192), 4ª (1202 a 1204), 5ª (1228 a 1229), 6ª (1248 a 1254), e a 7ª (1270 
a 1291) – guerras consideradas santas, para conquista de terras e contra 
os infiéis; verdadeira peregrinação armada a Jerusalém e à Terra Santa, 
luta contra a heresia para vincular o poder mundial espiritual, impor 
justiça sob o dogma de res publica christiana15. 
 
Nessa fase de Estado Polícia, que também engloba o período feudal, o jus 
politiae representava uma série de normas postas pelo Príncipe (Rei - 
Governante) e que se colocavam fora do alcance dos Tribunais. 
O intervencionismo do Estado na economia constituía um transtorno para a 
classe emergente da burguesia, assim como os privilégios decorrentes do 
nascimento, resquício da fase feudal. Dessa forma, era necessário estabelecer a 
igualdade jurídica entre os cidadãos, acabando com as regalias da nobreza, idéia 
bastante revolucionária na época. 
Nesse ambiente, guardando-se as devidas especificidades, três 
movimentos revolucionários burgueses eclodiram com o fito de criar o Estado 
liberal (democrático ou de direito), no qual o princípio da legalidade se destaca, 
pois, nesse sistema, “o próprio Estado se submete às Leis por ele mesmo postas 
16”: 
É através de três grandes movimentos político-sociais que se transpõem 
do plano teórico para o prático os princípios que iriam conduzir ao Estado 
Democrático: o primeiro desses movimentos foi o que muitos denominam 
de revolução Inglesa, fortemente influenciada por LOCKE e que teve sua 
expressão mais significativa no Bill of Rights, de 1689; o segundo foi a 
Revolução Americana, cujos princípios foram expressos na Declaração 
de Independência das treze colônias americanas, em 1776; e o terceiro 
foi a Revolução Francesa, que teve sobre os demais a virtude de dar 
universalidade aos seus princípios, os quais foram expressos na 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, sendo 
evidente nesta a influência direta de ROUSSEAU17 (sic). 
 
15 MAIA NETO, Cândido Furtado. Inquisição e justiça penal contemporânea, in Revista Prática 
Jurídica. Editora Consulex. Ano III, nº. 32, p. 18, de 30 de novembro de 2004. 
16 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2002, p. 109. 
17 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 
1983, p. 129. 
As conquistas de outrora foram se aperfeiçoando a ponto de representarem 
hoje, alguma delas, cláusulas pétreas, garantindo assim a tranqüilidade dos 
cidadãos. As diferenças são gritantes entre as condições de processamento penal 
de um indivíduo nas regras do Estado de Polícia e sob a égide do Estado 
Democrático de Direito. Cândido Furtado faz esse interessante cotejo, dentre os 
quais se destacam18: 
 
 
ESTADO DE POLÍCIA ESTADO DEMOCRÁTICO 
presunção de culpabilidade presunção de inocência 
in dubio pro societate in dubio pro reo 
juízo de exceção juízo natural 
tipo penal aberto tipo penal preciso 
cerceamento de defesa ampla defesa 
segredo de justiça publicidade dos atos 
censura liberdade de pensamento 
analogia in malam partem analogia in bonam partem 
Fonte: MAIA NETO, Cândido Furtado. 
 
 
 
 
18 Cândido Furtado. Inquisição e justiça penal contemporânea. Ob. cit., p. 25. 
A expressão poder de polícia (police power) ingressou pela primeira vez na 
terminologia legal no julgamento da suprema corte norte-americana, no caso 
Brown x Maryland, em 1827 (século XIX), e foi sendo aceita pelos juristas de todos 
os países em que se cultiva o direito público. 
 
Em 1827, no caso Brown ‘versus’ Maryland, o juiz Marshall, presidente da 
Corte Suprema dos estados Unidos, trata do poder de polícia, se bem 
que a expressão integral, esteriotipada – police power – ainda não lhe 
tivesse ocorrido de modo nítido, tanto assim que, em seu voto, nada 
menos do que 10 vocábulos se interpõem entre os termos constitutivos 
da denominação19. 
 
1.3.2 Definição 
 
É função do Estado restringir o direito dos particulares, devendo organizar a 
convivência social a partir da restrição a direitos e liberdades absolutas, em favor 
do interesse geral. Para tanto, ele é dotado de poderes políticos, exercidos pelo 
Legislativo, pelo Executivo e pelo Judiciário, no desempenho de suas funções 
constitucionais, e de poderes administrativos, no exercício da máquina pública. 
Várias são as definições de poder de polícia que, em sentido amplo, 
compreende um sistema de regulamentação interna, pelo qual o Estado busca 
não só preservar a ordem pública, mas também estabelecer regras de boa 
conduta necessárias ao convívio harmonioso entre os cidadãos. “O Poder de 
Policia é, em suma, o conjunto de atribuições concedidas à Administração para 
disciplinar e restringir, em favor do interesse público adequado, direitos e 
liberdades individuais20”. 
Poder de polícia (police power), em sentido amplo, compreende um 
sistema total de regulamentação interna, pelo qual o Estado busca não 
 
19CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de direito administrativo. Ob. cit., p. 538. 
20 TÁCITO, Caio, 1975. Apud CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de direito administrativo. Ob. 
cit., p. 541. 
só preservar a ordem pública senão também estabelecer para a vida de 
relações dos cidadãos aquelas regras de boa conduta e de boa 
vizinhança que se supõem necessárias para evitar conflitos de direitos e 
para garantir a cada um o gozo ininterrupto de seu próprio direito, até 
onde for razoavelmente compatível com o direito dos demais21 (sic). 
 
Nesse sentido, o mestre Hely Lopes Meireles leciona: “Poder de polícia é a 
faculdadede que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o 
uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da coletividade 
ou do próprio Estado22”. 
Todas as definições sinalizam para a faculdade que tem a Administração 
Pública de ditar e executar medidas restritivas do direito dos indivíduos, em 
benefício do bem-estar da coletividade e da preservação do próprio Estado. Essa 
conceituação doutrinária já passou para nossa legislação, vista no Código 
Tributário Nacional (Lei nº 5172, de 25 de outubro de 1966), que, em seu amplo e 
explicativo artigo 78, dispõe: 
“Considera-se poder de policia atividade da administração pública que, 
limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou 
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à 
higiene, à ordem, aos costumes, a disciplina da produção e do mercado, ao 
exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do 
Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e os direitos 
individuais ou coletivos”. 
Nesse diapasão, é mister esclarecer que não é estranho o fato de a 
definição legal de poder de polícia estar inserido no Código Tributário Nacional, 
uma vez que a tributação é exercício de tal poder, cabendo à lei complementar 
regular as limitações constitucionais ao poder de tributar (Art. 146, II, CF). 
 
21 COOLEY, 1903. Apud MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 24. ed. São 
Paulo: Malheiros, 1999, p. 116. 
 
22MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 1999, 
p. 115. 
O referido poder foi abordado porque legitima a ação da polícia e a sua 
própria existência, ou seja, o próprio “poder da polícia”, às vezes mal interpretado 
e ignorado até pelos próprios integrantes dos órgãos policiais. 
Abordada a parte histórica acerca da origem da Polícia Militar de 
Pernambuco, suas denominações e os movimentos sediciosos que combateu, 
dentro e fora do Estado de Pernambuco, em seguida será a instituição tratada 
dentro do contexto geral, no que respeita à segurança pública brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II – DA SEGURANÇA PÚBLICA 
 
A segurança é uma das necessidades básicas do ser humano que precisa 
ser satisfeita, a fim de que o mesmo possa se sentir tranqüilo para desempenhar 
suas tarefas do cotidiano e garantir o seu porvir. O bem mais valioso do homem, a 
vida, precisa ser salvaguardada, assim como os seus outros bens, materiais ou 
imateriais. 
Seguro, em qualquer campo, seja no profissional (laboral), seja no afetivo 
(emocional), o homem torna-se senhor de si mesmo e torna-se também um ser 
humano melhor, mais producente inclusive, implicando a ordem social o progresso 
da nação brasileira. 
O tema requer atenção com relação aos termos técnicos utilizados na 
redação dos dispositivos legais. A segurança pública está inserida no título V da 
Constituição Federal que trata da “Defesa do Estado e das Instituições 
Democráticas”. Porém, é sabido que a defesa é exercida em prol da segurança, 
ou seja, é um “conjunto de medidas concretas que visam proporcionar um estado 
abstrato de segurança23”. 
Nesse contexto, a Constituição da República Federativa do Brasil preveu 
que a segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos 
(Art. 144, caput), exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade 
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: polícia federal; polícia 
rodoviária federal, polícia ferroviária federal; polícias civis; polícias militares e 
corpos de bombeiros militares. 
 
2.1 Necessidade de segurança 
 
 
23 LAZZARINI, Álvaro. Temas de direito administrativo. Ob. cit., p. 84. 
 
O ser humano deve suprir suas necessidades básicas para se tornar 
equilibrado, as quais, segundo o psicólogo americano Abraham Harold Maslow 
(1908 - 1970) que ficou famoso pela sua teoria da hierarquia das necessidades, 
precisam ser satisfeitas obedecendo a uma ordem cronológica, ou seja, primeiro 
se deve realizar as necessidades básicas. Segundo a teoria, as necessidades 
humanas são agrupadas em cinco níveis de necessidades, quais são, na ordem 
invertida: 
 
Representação Gráfica24 
AUTO-REALIZAÇÃO Resultado. 
STATUS Aprovação, reconhecimento... 
SOCIAIS Amor, utilidade... 
SEGURANÇA Estabilidade, proteção... 
FISIOLÓGICAS Sede, fome, prazer... 
Fonte: MASLOW, Abraham Harold. 
 
Desse particular, pode-se extrair a importância da segurança para se 
alcançar outros objetivos na vida. Aliás, desde os primórdios da humanidade, os 
homens se agrupam para dividir as tarefas e darem proteção uns aos outros. 
 
24 FARIA, Carlos Alberto de. Nossas necessidades e nossos desejos. Disponível na Internet: 
http://www.merkatus.com.br/10_boletim/112.htm Acesso em 02set2007. 
http://www.merkatus.com.br/10_boletim/112.htm
 
 
2.2 CRISE NA SEGURANÇA PÚBLICA BRASILEIRA 
 
Conforme foi visto, a segurança pública é exercida para a preservação da 
ordem pública, sendo esta de difícil conceituação, mas que certamente perpassa 
as simples ações materiais de manutenção da paz, atingindo também o campo da 
moralidade das instituições, o campo econômico, quando combate a formação de 
cartéis, por exemplo, e vai até o plano da estética das cidades, quando protege a 
arquitetura dos sítios históricos, concedendo inclusive título de patrimônio cultural 
da humanidade. 
 
A noção de ordem pública, em verdade, é mais fácil de ser sentida do 
que definida e resulta, no dizer de Salvat, citado em acórdão do Supremo 
Tribunal Federal25, de um conjunto de princípios de ordem superior, 
políticos, econômicos, morais e algumas vezes religiosos, aos quais uma 
sociedade considera estreitamente vinculada à existência e conservação 
da organização social estabelecida. A noção, portanto, obedece a um 
critério contingente, histórico e nacional26. 
 
A ordem pública encontra guarida no artigo 17 da Lei de Introdução ao 
Código Civil, Decreto-Lei 4657, de 4 de setembro de 1942, o qual dispõe: "as leis, 
atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não 
terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública 
e os bons costumes". 
O conceito de ordem pública representa, portanto, um reflexo dos valores 
de determinada época e de certas culturas jurídicas, consubstanciando, destarte, 
os valores morais vigentes em determinada cultura jurídica. 
 
25 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Sentença estrangeira n.1023, da Suíça, RT, v. 148, p. 771. 
26 LAZZARINI, Álvaro. Temas de direito administrativo. Ob. cit., p. 79. 
Ocorre que a nossa realidade é cruel no plano socioeconômico, com 
evidentes e escandalosas desigualdades sociais que deterioram a condição de 
vida do hipossuficiente, refletindo-se no acesso restrito ao mercado de trabalho 
cada vez mais competitivo. 
Nesse ambiente, cresce o indivíduo sem perspectiva, destituído ainda de 
valores morais que lhe foram negados pela falta de acesso à cultura. Sem 
disciplina não há respeito às normas sociais. “Lei e ordem” é lema inócuo num 
sistema precário que se mostra inerte para algumas questões relevantes ou 
simplesmente atua de forma retardada ou benevolente. 
Basta, a título de explicitação, invocar a questão da maioridade no Brasil. 
Não se trata de filiar-se a teses consagradas, sem aprofundar o debate, mas sim 
de abrir os olhos para a realidade da criminalidade juvenil. Os índices são 
alarmantes, então ficar impassível é sinal de falta de compromisso para com a 
nação. 
A realidade do Brasil é outra em 60 anos. O país deixou de ser rural, em 
razão de a taxa de moradores na cidade subir de 31,3% (12,8 milhões) para 
81,2% (137,9 milhões), sendo que a população quadruplicou nas últimas seis 
décadas (1940 – 2000), saltando de 41,1 milhões de habitantes para 169,8 
milhões, deacordo com o IBGE27. 
Nesse contexto, pode ser destacada a negligência do Brasil com a 
Segurança Pública, apontada no Relatório da Anistia Internacional denominado 
“Brasil – dos ônibus em chamas aos Caveirões: em busca da segurança cidadã28”, 
divulgado no dia 2 de maio de 2007, que, embora tenha concentrado esforços 
para analisar o assunto nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, refletiu uma 
realidade lastimável no país, mormente nos grandes centros urbanos. 
O citado relatório informa basicamente que as formas encontradas pelo 
Estado para tratar da segurança de seus cidadãos precisam ser revistas, posto 
 
27 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estudo comparativo entre os censos de 1940 a 
2000, publicado no jornal Diário de Pernambuco, em 26 de maio de 2007. 
que o caráter geral das medidas de segurança pública continua sendo violento. As 
polícias não têm recursos suficientes para desenvolver suas atividades, 
principalmente de inteligência, sendo que as violações dos direitos humanos 
continuam como pano de fundo das várias estratégias usadas para combater o 
crime, estimulando ainda mais a violência, sem falar na corrupção dentro da 
própria polícia. 
O documento citado relata que a violência em São Paulo reflete o jeito 
incompetente pelo qual o sistema de segurança pública resolve os problemas, 
sem investimento na inteligência policial, destacando os confrontos entre a polícia 
e a facção criminosa autodenominada Primeiro Comando da Capital (PCC), 
ocorridos em maio de 2006, dos quais resultaram 493 mortes só nos primeiros 
nove dias daquele mês: 
 
Over nine days in May 2006, 493 people were shot dead in São Paulo 
State(6) - three times the normal rate of gunshot deaths. The victims were 
concentrated in Greater São Paulo and along the state’s littoral, but there 
were also shootings throughout the interior. The catalyst for the violence 
was widely attributed to a decision to transfer 765 members of the criminal 
gang known as the Primeiro Comando da Capital, First Command of the 
Capital, or (PCC) to the Presidente Venceslau prison, a secure facility in 
the interior of São Paulo. In protest against the transfer, the PCC 
reportedly issued orders to gang members to begin prison revolts, and 
start violently targeting thepolice29(sic). 
 
Ainda em nove dias de maio 2006, 493 pessoas foram mortas em São 
Paulo State(6) - três vezes a taxa normal de mortes por amas de fogo. 
As vítimas foram concentradas na grande São Paulo e ao longo do litoral 
do estado, mas havia também assassinatos no interior. O catalizador 
para a violência foi atribuído extensamente a uma decisão para transferir 
765 membros do grupo criminal conhecido Primeiro Comando da Capital 
ou (PCC) à prisão de Presidente Venceslau, uma facilidade segura no 
interior de São Paulo. No protesto contra a transferência, as ordens 
emitidas do PCC aos membros do grupo para começar revoltas da 
prisão, e para começar a violência com alvo na Polícia. (Tradução do 
autor desta monografia). 
 
 
28 Brazil - From burning buses to caveirões: the search for human security. Disponível em: 
<http://web.amnesty.org/library/Index/ENGAMR 190102007> Acesso em:11mai2007. 
29 Brazil - From burning buses to caveirões: the search for human security. Ob. cit. 
 
http://web.amnesty.org/library/Index/ENGAMR
Vive-se uma realidade social diferente no Brasil de hoje, o qual não é mais 
um país agrário, pelo contrário, há concentrações urbanas fora do comum, 
fazendo com que surjam as grandes favelas ao redor das grandes cidades, em 
virtude de um fenômeno chamado êxodo rural, quando as famílias saem do 
interior para as capitais e regiões metropolitanas em busca de novas 
oportunidades de vida. 
Nessas favelas, a ausência do estado é flagrante, nem o braço repressor 
do “príncipe” se faz presente, ou seja, nem a polícia chega até esses lugares, por 
várias razões, dentre elas o simples fato de o acesso ser intransitável por meio de 
viaturas, só sendo possível fazê-lo a pés, assim como é notória a desagregação 
familiar por vários motivos, dentre eles estão a própria agitação do cotidiano, a 
busca pelo emprego, a televisão, os valores pervertidos, etc. 
Assim como no ditado “Toda ausência é atrevida”, verifica-se, por parte dos 
marginais, além do atrevimento, o verdadeiro desprezo pelas autoridades 
constituídas, uma vez que eles têm a certeza da impunidade, e às vezes até 
“tomam conta” da comunidade travestidos de “guardas do apito”, passando o dia 
inteiro só ingerindo bebida alcoólica quente, a cachaça, se preparando para 
desempenharem as suas atividades clandestinas à noite, fazendo as 
arrecadações nos finais de semana, sendo que os pobres moradores dessas 
comunidades se sentem na obrigação de colaborar porque temem represálias. 
O reflexo dessa nova ordem social pode ser sentido também nas 
estatísticas. Fazendo-se o cotejo entre décadas passadas, a diferença é 
estarrecedora. Em 1981, o número de civis mortos em confronto com a polícia, no 
Estado mais populoso do Brasil (São Paulo), foi de 300 (trezentos), enquanto que 
em 1992, ano do episódio do Carandiru, tal número chegou a 1232 (mil duzentos e 
trinta e dois). 
Tais dados foram registrados no Debate: Segurança Pública como tarefa do 
Estado e da Sociedade, realizado pela Fundação Konrad-Adenauer-Stiftung30, no 
ano de 1998, mais especificamente no texto de Oscar Vilhena Vieira, secretário 
Executivo do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do 
Delito e Tratamento do Delinqüente (ILANUD), na página 131. 
Em Pernambuco a situação não é muito diferente. Aqui foram registrados, 
apenas entre os meses de janeiro e abril de 2007, 1714 (mil setecentos e 
quatorze) assassinatos em geral. Esse número vergonhoso ficou marcado pela 
manifestação denominada “Recife pela Paz”, nome da Organização Não 
Governamental (ONG) pernambucana que fincou, no dia 6 de junho deste ano, 
1714 cruzes na areia da praia de Boa Viagem, simbolizando cada uma das vítimas 
de homicídios no Estado, aderindo ao movimento da ONG carioca Rio da Paz, 
cujo presidente Antônio Carlos Costa, na ocasião, declarou: “Estamos vivendo 
num contexto de um índice obsceno de morte por assassinato. É um genocídio de 
gente negra, pobre e numa faixa etária de 15 a 24 anos. Por trás de cada uma 
cruz há uma família destruída”31. 
Pernambuco possui 185 municípios, dos quais 56 estão localizados na área 
inóspita do sertão, com uma taxa de crescimento populacional geral, de 0,75% ao 
ano e uma população residente de 7,5 milhões. 
Não obstante, dos 26 estados e mais a unidade federativa, Pernambuco é o 
estado brasileiro com o maior número de jovens em situação de risco. Os 
pernambucanos, segundo pesquisa inédita, realizada durante quatro anos, pelo 
Banco Mundial (BIRD), têm mais problemas de repetência e abandono escolares, 
iniciação sexual precoce, uso de drogas e violência. 
 
 
30 Representação no Brasil, Rua Engº Antônio Jovino, 220, 4º Andar, 05727-220, São Paulo-SP. 
Disponível em: http://www.kas.de/brasil. Acesso em: 11mai2007. 
31 Recife finca cruzes em nome da paz. Reportagem publicada no jornal Diário de Pernambuco, 
em 7 de junho de 2007. 
 
http://www.kas.de/brasil
 
 
 
 ÍNDICE BRASILEIRO DO BEM-ESTAR JUVENIL 
1º DISTRITO FEDERAL 6,88 
2º SANTA CATARINA 5,06 
3º GOIÁS 2,79 
4º SÃO PAULO 2,76 
5º MINAS GERAIS 2,10 
6º RIO GRANDE DO SUL 1,49 
7º TOCANTINS 1,45 
8º RORAIMA 1,36 
9º RONDÔNIA 1,34 
10º MATO GROSSO 0,96 
11º MATO GROSSO DO SUL 0.91 
12º PARANÁ 0,87 
13º PARÁ -0,31 
14º RIO DE JANEIRO -0,43 
15º CEARÁ -0,55 
16º SERGIPE -0,97 
17º RIO GRANDE DO NORTE -1,08 
18º ESPÍRITO SANTO -1,13 
19º ACRE -1,18 
20º BAHIA -1,34 
21º PARAÍBA -1,39 
22º PIAUÍ -1,52 
23º AMAZONAS -1,83 
24º MARANHÃO -2,16 
25º AMAPÁ -2,65 
26º ALAGOAS -5,43 
27º PERNAMBUCO -6,01 
Fonte: Banco Mundial 
 
Tais amostras são suficientes paracorroborar com a colocação do Brasil no 
ranking da paz32 elaborado pela Consultoria Economist Inteligence Unit, baseada 
em 24 indicadores sobre violência externa (conflitos com outros países) e interna 
(assassinatos e violações dos direitos humanos). Mesmo sem promover guerra, o 
Brasil ficou mais perto dos Estados Unidos da América, de Israel e do Iraque, 
entre 121 países: 
 
 RANKING DA PAZ 
1º NORUEGA 
2º NOVA ZELÂNDIA 
3º DINAMARCA 
4º IRLANDA 
5º JAPÃO 
83º BRASIL 
96º ESTADOS UNIDOS 
116º COLÔMBIA 
119º ISRAEL 
121º IRAQUE 
Fonte: Elena Gorcochea/AFP (2) 
 
Portanto, a escalada da violência é crescente e, sob a ótica da comunidade 
internacional, o Brasil é negligente com a segurança pública, tratando o assunto 
de forma reativa, o seja, sem a adoção de medidas estruturais e conjunturais, não 
combatendo o mal pela raiz, pelo contrário, enfrenta dificuldades enormes porque 
age superficialmente o grotescamente. 
 
 
 
 
32 Ranking da paz, in Revista Época. Editora Globo. Nº. 475, p. 26, de 25 de junho de 2007. 
2.3 A MODERNA CONCEPÇÃO DE SEGURANÇA 
 
Período conturbado da história brasileira se deu na década de 60, quando 
João Belchior Marques Goulart, no dia 7 de setembro de 1961, assumiu o Brasil 
parlamentarista como chefe de Estado, cujo poder Executivo foi exercido por seu 
primeiro – ministro (chefe de Governo), o então deputado Tancredo Neves. 
No entanto, no dia 6 de janeiro de 1963, um plebiscito pôs fim ao 
parlamentarismo no Brasil, fortalecendo o presidente conhecido por “Jango” que 
passou a exercer as funções de chefe de Estado e chefe de Governo, querendo 
por em prática um grande sonho, o de tornar a terra acessível aos brasileiros, ou 
seja, o de realizar a reforma agrária. 
Ocorre que a classe média temia que o Brasil se transformasse numa “nova 
Cuba” e os militares, por sua vez, alegavam que o comunismo atentava contra as 
liberdades democráticas. Então, o general Olímpio Mourão Filho, na madrugada 
de 31 de março de 1964, por sua própria conta e risco e sem conhecimento dos 
demais, saiu de Juiz de Fora com uma plêiade de jovens soldados inexperientes 
para a derrubada do governo, antecipando em pelo menos 20 dias o movimento 
que deveria eclodir a partir do Rio de Janeiro. 
O Alto Comando Revolucionário que derrubou Jango assumiu o poder e 
impôs ao país o Ato Institucional nº 1, instaurando o regime militar que se sucedeu 
até o ano de 1985, começando em 15 de abril de 1964 com o marechal Castelo 
Branco, o qual foi eleito presidente indiretamente pelo Congresso Nacional. 
 
O Golpe Militar de 1964 foi uma irrupção abrupta do fluxo histórico 
brasileiro, que reverteu seu sentido natural, com efeitos indeléveis sobre 
a soberania e sobre a economia nacional e também sobre a cidadania, 
sobre a sociedade e sobre a cultura brasileiras. Vínhamos, há décadas, 
construindo a duras penas uma Nação autônoma, moderna, socialmente 
responsável e respeitosa da ordem civil, quando sobreveio o golpe e a 
reversão33. 
 
A repressão às guerrilhas urbana e rural, a tortura nas confissões, a 
censura em geral, o bipartidarismo na política com a ARENA (Aliança renovadora 
Nacional) do governo e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) que se dizia 
oposição, e o exílio de artistas e políticos foram realizados naquele período pelo 
órgão do Estado responsável pela ordem social, a polícia. 
Passado o período autoritário, as polícias ficaram com uma imagem 
bastante arranhada junto a população, precisando adotar uma nova filosofia de 
atuação, mudando a essência de suas atividades, em consonância com a 
evolução da sociedade atual. 
 
2.4 A POLÍCIA COMUNITÁRIA 
 
Tradicionalmente, a polícia, como longa manus do Estado nas questões de 
segurança pública, procurou combater a criminalidade de uma forma coercitiva e 
instrumental, através da modernização tecnológica e da profissionalização dos 
policiais. 
Essa estratégia funcionava relativamente bem porque tinha como aliado o 
modelo tradicional de controle social exercido pela família, pela escola e pela 
igreja, porém, com a mudança de postura dos cidadãos e a perda de valores 
fundamentais para a vida harmoniosa, a criminalidade se tornou banal, 
evidenciando os limites daquela estratégia. 
 
33 Ribeiro, Darcy. Golpe de 64. Disponível em <http://www.pdt.org.br/personalidades>. Acesso em 
04jul2007. 
A participação da comunidade nesse processo de formulação, 
implementação e avaliação de políticas de segurança e estratégias de 
policiamento, ajuda a prevenir crimes. A partir de experiências práticas, o 
policiamento comunitário se desenvolveu e se fortaleceu, criando raízes 
importantes em algumas comunidades. 
O policiamento comunitário é baseado na pareceria entre a polícia e a 
comunidade. O policial não deixa de ser um agente da lei, um representante do 
Estado, mas passa a ser um aliado dos verdadeiros cidadãos, passando a ter o 
respeito e a credibilidade da comunidade que, por sua vez, está imbuída e 
comprometida com a segurança pública pelo menos a nível setorial. Dessa forma, 
a comunidade tem o direito de não apenas ser consultada, mas também de 
participar das decisões sobre as prioridades do policiamento, tendo, em 
contrapartida a obrigação de colaborar com o trabalho da polícia na preservação 
da ordem pública, numa atividade essencialmente preventiva. 
A origem dessa nova filosofia de policiamento se deu nos Estados Unidos e 
no Canadá nas décadas de 1970 e 1980. No Brasil, o processo foi lento e 
enfrentou muitas dificuldades, cujo primeiro registro aconteceu em 1985, em São 
Paulo, através do Decreto 23.455/85 e Resolução SSP 37/85, que criou os 
conselhos comunitários de segurança. 
Em 1996, o Núcleo de Estudos da Violência da USP, em parceria com o 
Human Rights Research and Education Center da Universidade de Ottawa, iniciou 
um projeto de intercâmbio entre o Brasil e o Canadá. Um dos principais objetivos 
deste projeto, que teve a duração de três anos, foi criar oportunidades para que os 
policiais brasileiros pudessem conhecer a experiência de policiamento comunitário 
no Canadá. Em 1997, o Núcleo de Estudos da Violência apoiou a implantação do 
policiamento comunitário em de São Paulo. 
Em 30 de setembro de 1997, a Comissão de Assessoramento da 
Implantação do Policiamento Comunitário foi instalada, na sede Comando Geral 
da Polícia Militar do Estado de São Paulo, com a presença do secretário de 
Segurança Pública e do comandante geral. 
Na primeira reunião da Comissão, seus integrantes observaram a ausência 
de representantes de diversas entidades governamentais e da sociedade civil, 
consideradas importantes para a implantação do policiamento comunitário, 
particularmente da polícia civil, e decidiram convidar estas entidades para 
participar da Comissão. 
O Projeto de policiamento comunitário foi lançado oficialmente, em 10 de 
dezembro de 199734, no Parlamento Latino Americano daquele Estado, com a 
presença do secretário da Segurança Pública, do comandante geral da Polícia 
Militar e do delegado geral da Polícia Civil. 
De início, foram instaladas 42 Bases Comunitárias de Segurança, sendo 11 
na Grande São Paulo e 31 no Interior. Cerca de 16.000 (dezesseis mil) policiais 
militares, entre oficiais e praças, passaram por cursos de capacitação para 
desempenharem o policiamento comunitário35. 
A “onda” comunitária paulista foi se alastrando para outras cidades 
brasileiras, ganhando força no ano de 2001, chegando a alcançar o Ministério do 
Planejamento que passou a prever, naquele ano, orçamento específico para 
implantação ou intensificação dessa nova filosofia, com as seguintes metas: 
 
▪ Até dezembro de 2001, descentralizar recursos para todos os Estados e 
para o Distrito Federal, de acordo com divisão dos recursos do Fundo Nacional de 
Segurança Pública; 
▪ Treinar instrutores para Polícia Comunitária. 
 
34 Mesquita Neto, Paulo. Policiamento comunitário:a experiência em são paulo. Disponível em 
<http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes>. Acesso em 16jul2007. 
 
35 KAHN, Túlio. Policiamento comunitário: uma expectativa realista de seu papel. Boletim 
conjuntura criminal, ano 2, Número 6, julho de 1999, p. 3. 
 
Aqui em Pernambuco, já no ano de 2000, atendendo à demanda da 
Secretaria de Defesa Social (SDS), o GAJOP (Grupo de Apoio Jurídico às 
Organizações Populares) definiu um acordo de cooperação técnica com a UFPE 
(Universidade Federal de Pernambuco) para desenvolver um programa de apoio 
ao projeto de Conselhos Comunitários de Defesa Social, com o fito de 
conscientizar as comunidades (Brasília Teimosa foi o projeto piloto) para que elas 
se organizassem em conselhos e trabalhassem de forma integrada com a 
Secretaria de Defesa Social (Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros). 
 
A partir de janeiro de 2001, a SDS lançou o modelo espacial e operacional 
dos Núcleos de Segurança Comunitária (NSC) e Núcleo Integrado de Segurança 
Comunitária (NISC), para viabilizar a Polícia Comunitária no Estado. O NSC era 
composto só por policiais militares, enquanto que o NISC era composto por 
policiais militares, policiais civis e bombeiros militares. Para esse fim, de janeiro de 
2000 a maio de 2003, a SDS construiu 35 NSC e 9 NISC. 
 
 
2.5 A SDS E OS ÓRGÃOS OPERATIVOS 
 
A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco foi criada pela Lei nº 11.629, 
de 28 de janeiro de 1999, a qual extinguiu a antiga Secretaria de Segurança 
Pública do Estado, com o objetivo de integrar as atividades dos órgãos operativos 
de segurança, visto que a unificação é tarefa árdua que exige grande esforço, em 
razão de suas particularidades. 
 
Com essa mudança, os comandantes gerais da Polícia Militar e do Corpo 
de Bombeiros, bem como o chefe de Polícia Civil, perderam o status de secretário 
de estado. Consoante com essa nova filosofia, e 29 de janeiro de 2001, foi editada 
a Lei 11929 que criou a Corregedoria Geral da SDS, unindo, em um só órgão, as 
corregedorias das citadas instituições. Dentre os órgãos operativos, destacam-se: 
 
 
▪ A Polícia Militar de Pernambuco com a missão de exercer as atividades de 
policiamento ostensivo fardado, para garantir a ordem pública, a tranqüilidade e o 
bem-estar social; Policiamento Ostensivo quer dizer a Ação Policial exclusiva das 
PPMM, cujo emprego é identificado de relance, quer pela farda, viatura, 
equipamento, entre outros (Item 27 do R-200, Decreto Lei 667/1969); 
 
▪ A Polícia Civil de Pernambuco com a função de reprimir as condutas 
delituosas e desenvolver o policiamento judiciário, coibir interesses criminosos, 
investigar infrações penais e facilitar as punições dos infratores; 
 
▪ O Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco com o desiderato de 
combater sinistros e incêndio, realizar operações de salvamento, atendimento pré-
hospitalar e resgate de feridos, vistoriar edificações e analisar projetos de 
segurança e de atividades preventivas de defesa civil. 
 
Tais atribuições constitucionais estão expressas no Art. 144 da 
Constituição Federal de 1988, conforme se verifica: 
 
A segurança pública, dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da 
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, 
através dos seguintes órgãos: 
I – polícia federal; 
II – polícia rodoviária federal; 
III – polícia ferroviária federal; 
IV – polícias civis; 
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, 
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, 
destina-se a: 
I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou 
em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de 
suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como 
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou 
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser 
em lei; 
II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas 
afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação 
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas 
de competência; 
III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de 
fronteiras; 
IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária 
da União. 
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado 
e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na 
forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais. 
 
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado 
e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na 
forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. 
§ 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de 
carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as 
funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, 
exceto as militares. 
§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a 
preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros 
militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a 
execução de atividades de defesa civil. 
§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, 
forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, 
juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. 
§ 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos 
órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a 
garantir a eficiência de suas atividades. 
§ 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais 
destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, 
conforme dispuser a lei. 
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos 
órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º 
do art. 39. 
 
 
A segurança pública é, pois, questão de interação entre a sociedade e o 
Estado, ou seja, uma espécie de pacto. Em Pernambuco, para desempenhar suas 
funções constitucionais, tais órgãos juntos contam com um efetivo total de 26.633 
(vinte e seis mil seiscentos e trinta e três) profissionais, dos quais 70% compõem o 
efetivo da Polícia Militar. 
EFETIVO DOS PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA PÚBLICA EM 
EXERCÍCIO NO ESTADO DE PERNAMBUCO 
ÓRGÃO OPERATIVO QUANTIDADE PERCENTUAL 
POLÍCIA MILITAR 18.723 70% 
POLÍCIA CIVIL 6.101 23% 
CORPO DE BOMBEIROS 2.009 7% 
TOTAL 26.633 100% 
Fonte: Plano Estadual de Segurança Pública 2003-2006 
 
 
Em Pernambuco, a filosofia integrativa seguiu firme com a criação do 
CIODS (Centro Integrado de Operações de Defesa Social), reunindo as chamadas 
de emergência em um só número, o 190. Antes as centrais eram específicas de 
cada instituição, sendo o 190 para a Polícia Militar, o 193 para o Bombeiro Militar e 
o 147 para a Polícia Civil. 
 
Com uma Central única informatizada, o atendimento ao cidadão se tornou 
mais eficiente, trazendo outras mudanças importantes como o Boletim de 
Ocorrência Integrado, de forma que a apresentação de uma notitia criminis de 
furto de veículo, por exemplo, na Polícia Militar, já serve como comunicação para 
os demais órgãos, sem a necessidade de o cidadão se deslocar para fazer o 
registro em pelo menos três órgãos (Polícia Civil, Polícia rodoviária Federal e 
Polícia Militar), como antes era feito. 
 
Encerrada a análise da situação crítica da segurança pública brasileira, 
apontada em Relatório da Anistia Internacional, e verificada a nova filosofia 
nacional de integração das atividades das polícias, desencadeadas pela 
Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), a qual teve repercussão no 
Estado de Pernambuco com a criação da Secretaria de Defesa Social, que, por 
sua vez, vem envidando esforços para incutir a filosofia de polícia comunitária, 
experiência bem sucedida no Canadá, passa-se a conhecer como é a formação 
profissional dos integrantes da PMPE. 
 
CAPÍTULO III – DA FORMAÇÃODO POLICIAL MILITAR 
 
 
É condição sine qua non investir na formação do policial militar, com o fito 
de incutir no mesmo uma série de valores e princípios que o tornem um ser 
humano preparado para enfrentar as vicissitudes do cotidiano brasileiro, sendo, 
para José Afonso da Silva36, necessário: 
 
(...) adequar a polícia às condições e exigências de uma sociedade 
democrática, aperfeiçoando a formação profissional e orientando-a para 
a obediência aos preceitos legais de respeito aos direitos do cidadão, 
independentemente de sua condição social. 
 
 
Os militares estaduais (policiais militares e bombeiros militares) pertencem 
a uma categoria especial de agentes públicos, em razão da função, da missão 
especial e típica que exercem e da natureza das funções desempenhadas, e ainda 
em razão dos direitos e deveres exclusivos dos militares, conforme disposto no 
Art. 3º do Estatuto dos Policiais Militares do estado de Pernambuco, Lei estadual 
6783, de 16 de outubro de 1974: 
 
Os integrantes da Polícia Militar do Estado de Pernambuco, em razão 
da destinação constitucional da Corporação e em decorrência das leis 
vigentes, constituem uma categoria especial de servidores públicos 
estaduais e são denominados policiais militares. 
 
Porém, para se tornar um profissional de segurança pública, o cidadão tem 
de passar num concurso público que exige o ensino médio completo (antigo 2º 
grau) até mesmo para o cargo de soldado, conforme disposto no Decreto estadual 
 
36 SILVA, José Afonso da. Direito constitucional positivo. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 
755. 
nº 25485, de 22 de maio de 2003, prevendo ainda a idade mínima de 18 e a 
máxima de 30 anos na data da inscrição. 
 
A Polícia Militar de Pernambuco é uma instituição baseada na hierarquia e 
disciplina, conforme preleciona o Art. 42 da Constituição Federal de 1988: “Os 
membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições 
organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Territórios”. 
 
A disciplina é a observância das leis, dos regulamentos, das normas e 
das disposições que fundamentam a organização policial militar. Com relação à 
hierarquia deve-se ser observado o princípio da subsidiariedade, pelo qual um 
nível superior só deve dar solução a um problema quando o nível inferior não 
puder fazê-lo. 
Na presença de tropa, tão logo o policial militar tenha adquirido um grau 
de instrução compatível com o perfeito entendimento de seus deveres como 
integrante da Polícia Militar, especialmente por ocasião da formatura nos cursos 
de formação, os mesmos prestam o compromisso de bem servir a sociedade, 
conforme reza o Art. 32 do referido estatuto: 
 
Ao ingressar na Polícia Militar do Estado de Pernambuco, prometo 
regular a minha conduta pelos preceitos da moral, cumprir 
rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado e 
dedicar-me inteiramente ao serviço policial-militar, à manutenção da 
ordem publica e à segurança da comunidade, mesmo com o risco da 
própria vida. 
 
 
É mister observar que o candidato aprovado ingressa no Curso de 
Formação de Soldados (CFSd), realizado no Centro de Formação e 
Aperfeiçoamento de Praças (CFAP) ou no Curso de Formação de Oficiais (CFO), 
realizado na Academia de Polícia Militar do Paudalho e, após a sua matrícula, já 
se torna militar para todos os efeitos, de acordo com a decisão do Supremo 
Tribunal Federal que negou provimento a recurso de habeas corpus (RHC, em 
06.06.2000) que pretendia a atipicidade da conduta imputada a alunos da Escola 
de Sargentos Especialista da Aeronáutica pelo crime propriamente militar de furto 
de uso, sem previsão legal na Legislação Penal Comum, mas previsto no Art. 241 
do CPM, sob a alegação de que seriam ainda alunos e não militares incorporados, 
e dessa forma ostentariam a condição de civis. 
 
A decisão do Tribunal Excelso foi baseada no Art. 16, § 4º da Lei 6880/80, 
Estatuto dos Militares Federais, que reza que alunos matriculados em órgão 
específicos de formação de militares são denominados praças especiais. 
 
 
3.1 O CÓDIGO DE ÉTICA DO POLICIAL MILITAR 
 
 
 
Todo cidadão deve fazer uma reflexão sobre a conduta a ser adotada no 
convívio social, a fim de alcançar uma vida harmoniosa e a paz social. O policial 
militar, além disso, é regido por um Estatuto próprio já citado que rege as condutas 
a serem adotadas na sociedade e no seio da tropa, com os superiores e 
subordinados, conforme prescreve o Art. 27: 
 
O sentimento do dever, o pundonor policial-militar e o decoro da classe 
impõem a cada um dos integrantes da Polícia Militar, conduta moral e 
profissional irrepreensíveis, com observância dos seguintes preceitos 
da ética policial-militar: 
I – Amar a verdade e a responsabilidade como fundamento da 
dignidade pessoal; 
II – Exercer com autoridade, eficiência e probidade as funções que lhe 
couberem em decorrência do cargo; 
III – Respeitar a dignidade da pessoa humana; 
IV – Cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instruções e 
as ordens das autoridades competentes; 
V – Ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do 
mérito dos subordinados; 
VI – Zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual, físico e, também, 
pelo dos subordinados, tendo em vista o cumprimento missão comum; 
VII – Empregar todas as suas energias em benefício do serviço; 
VIII – Praticar a camaradagem e desenvolver permanentemente o 
espírito de cooperação; 
IX – Ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem 
escrita e falada; 
X – Abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa 
relativa a segurança nacional; 
XI – Acatar as autoridades civis; 
XII – Cumprir seus deveres de cidadão; 
XIII – Proceder de maneira libada na vida pública e na particular; 
XIV – Observar as normas da boa educação; 
XV – Garantir assistência moral e material ao seu lar e conduzir-se 
como chefe de família modelar; 
XVI – Conduzir-se, mesmo fora do serviço ou na inatividade, de modo 
que não sejam prejudicados os princípios da disciplina, do respeito e 
do decoro policial-militar; 
XVII – Abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para obter 
facilidades pessoais de qualquer natureza ou para encaminhar 
negócios particulares ou de terceiros; 
XVIII – Abster-se o policial-militar na inatividade do uso das 
designações hierárquicas, quando: 
a) em atividades político-partidárias; 
b) em atividades comerciais; 
c) em atividades industriais; 
d) para discutir ou provocar discussões pela imprensa a respeito de 
assuntos políticos ou policiais militares, excetuando-se os de natureza 
exclusivamente técnica, se devidamente autorizado; e 
e) no exercício de funções de natureza não policial militar, mesmo 
oficiais. 
XIX – Zelar pelo bom nome da Polícia Militar e de cada um dos seus 
integrantes, obedecendo e fazendo obedecer aos preceitos da ética 
policial-militar. 
 
A profissão de policial militar ainda exige a dedicação integral ao serviço 
(Art. 30, I e Art. 5º do Estatuto dos Policiais Militares do estado de Pernambuco), 
no entanto, a realidade prática é bem diferente, uma vez que atualmente vários 
PM estão exercendo atividades extras não legalizadas, os famosos “bicos” ou 
“virações” como são chamadas pela tropa. 
 
Atento a essa realidade, O Tribunal Superior do Trabalho (TST) já 
reconheceu o vínculo de PM com empresa privada e os direitos decorrentes dessa 
relação, independente de cabimento de penalidade disciplinar prevista no Estatuto 
próprio (Orientação Jurisprudencial nº 167). 
 
Muito embora, o Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (PE) tenha 
julgado improcedente reclamação trabalhista de PM que prestava serviço à 
empresa privada, baseado na exatamente na dedicação exclusiva a atividade 
policial militar. 
 
Preocupado com as questões éticas da instituição, o então Governador do 
Estado de Pernambuco,Jarbas de Andrade Vasconcelos, aprovou o Regulamento 
de Ética Profissional dos Militares do Estado37, por meio do Decreto Estadual nº 
22114, de 13 de março de 2000, cujo Art. 4º e seus parágrafos são de estrema 
importância: 
 
 
Art. 4º O militar estadual, ao ingressar na carreira, prestará o 
compromisso de honra, em caráter solene, afirmando a sua consciente 
aceitação dos valores profissionais, dos deveres éticos, do sentimento 
do dever, do pundonor, do decoro da classe e a firme disposição de 
bem cumpri-los. 
 
§ 1º Honra Militar é a qualidade íntima do militar estadual que se 
conduz com integridade, honestidade, honradez e justiça, observando 
com rigor os deveres morais que tem consigo e seus semelhantes. 
 
§ 2º Sentimento do Dever Militar consiste no envolvimento com uma 
tomada de consciência perante o caso concreto, ou seja, com a 
realidade, implicando no reconhecimento da obrigatoriedade de um 
comportamento militar coerente, justo e equânime. 
 
§ 3º Pundonor Militar é o sentimento de dignidade própria, procurando o 
militar estadual ilustrar e dignificar a Corporação, através da beleza e 
retidão moral que se conduz, resultante honestidade e decência (sic). 
 
37 Publicado no Suplemento Normativo nº 008, de 21 de março de 2000. 
 
§ 4º decoro da Classe Militar é a qualidade do militar estadual, baseada 
no respeito próprio dos companheiros e da comunidade a que serve, 
visando o melhor e mais digno desempenho da profissão militar. 
 
 
3.2 O CÓDIGO DISCIPLINAR 
 
A Administração Militar estadual exerce o chamado poder disciplinar nos 
limites da lei, ao tomar conhecimento de qualquer irregularidade praticada pelos 
militares estaduais, devendo apurar as infrações disciplinares e aplicar a sanção 
correspondente, com a devida motivação, conforme prescreve a FF/88. 
 
Quanto ao conceito de poder disciplinar, deve-se primeiramente diferenciá-
lo do poder punitivo (jus puniendi) do Estado, este realizado por meio da Justiça 
Pública, enquanto aquele se relaciona com as infrações relativas ao serviço. O 
mestre Hely Lopes Meirelles38 informa que poder disciplinar “é a faculdade de 
punir internamente as infrações funcionais dos servidores e demais pessoas 
sujeitas à disciplina dos órgãos e serviços da Administração”. 
 
O Código Disciplinar dos Militares do Estado de Pernambuco39 (CDME/PE), 
Lei nº 11.817, de 24 de julho de 2000, instituiu o regime disciplinar dos militares 
estaduais, especificando e classificando as transgressões disciplinares militares, 
definindo os recursos disciplinares e suas formas de interposição e 
regulamentando as recompensas especificadas no Estatuto dos Militares 
Estaduais. 
 
O poder disciplinar controla a conduta interna dos servidores, 
responsabilizando-os pelas faltas cometidas. É de bom alvitre saber que não se 
aplica ao poder disciplinar o princípio da pena específica que domina inteiramente 
 
38 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 
120. 
39 Publicado no Suplemento Normativo nº 027, de 28 de julho de 2000. 
o direito penal “nullum crimen, nulla poena sine lege” (Não há crime, não há pena 
sem lei/Art.5o, XXXIX CF/88). 
A Administração é o único juiz da conveniência da punição (mérito), só 
cabendo ao Poder Judiciário o exame material e jurídico dos motivos (legalidade). 
Isso em razão da independência dos Poderes da União (Executivo, Legislativo e 
Judiciário) prevista no Art. 2o CF/88. Dessa forma, o Juiz não pode imiscuir-se no 
papel de administrador. 
A Lei não é capaz de traçar todas as condutas de seus agentes, sendo 
essa a razão que explica o poder discricionário do Administrador de eleger a 
conduta mais conveniente para o interesse público, por isso alguns regulamentos 
expõem somente os deveres e obrigações, o que não é o caso do CDME/PE. 
O artigo 13 do CDME/PE dá o conceito de transgressão disciplinar militar, 
pelo qual o legislador estadual andou mal na parte final, uma vez que retirou os 
crimes e contravenções do rol de transgressões disciplinares, quando se sabe que 
tais condutas são infrações graves quando repercutem na Administração Militar, 
mas o mesmo tentou se redimir no parágrafo único do artigo em comento: 
 
 
Transgressão disciplinar militar é toda ação ou omissão praticada por 
militar estadual que viole os preceitos da ética e os valores militares ou 
que contrarie os deveres e obrigações a que o mesmo está submetido, 
constituindo-se em manifestações elementares e simples que não 
possam ser enquadradas como crime ou contravenção. 
Parágrafo único. As transgressões disciplinares militares são as previstas 
na Parte Especial deste Código, sem prejuízo de outras definidas em lei 
ou regulamento, devendo sua aplicação, necessariamente motivada, 
considerar sempre a natureza e a gravidade da infração. 
 
 
Nesse sentido, o magistério de Di Pietro40 é clássico e estreme de dúvidas. 
Mesmo o CDME prevendo um rol de transgressões disciplinares em espécie, não é 
admissível que o militar estadual fique imune ao poder disciplinar, quando comete 
uma conduta irregular não prevista naquele código, porquanto: 
 
40 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2001, p. 515. 
Ao contrário do Direito Penal, em que a tipicidade é um dos princípios 
fundamentais, decorrente do postulado segundo o qual não há crime sem 
lei que o preveja (nullum crimen, nulla poena sine lege), no direito 
administrativo prevalece a atipicidade; são muito poucas as infrações 
descritas na lei como ocorre com o abandono de cargo. A maior parte 
delas fica sujeita à discricionariedade administrativa diante de cada caso 
concreto; é a autoridade julgadora que vai enquadrar o ilícito como ‘falta 
grave’, ‘procedimento irregular’, ‘ineficiência do serviço’, ‘incontinência 
pública’, ou outras infrações previstas de modo indefinido na legislação 
estatutária. Para esse fim, deve ser levada em consideração a gravidade 
do ilícito e as conseqüências para o serviço público (sic). 
 
 
Corroborando com esse entendimento, já argumentou o Desembargador 
Jones Figueiredo, do TJPE, nos Autos do Mandado de Segurança tombado sob o 
nº 001.0059533-5, que declinou: 
 
 
Com efeito, é assente na doutrina e jurisprudência pátrias a lição de 
independência entre as instâncias penal, civil e administrativa. Bem de 
ver, daí, que, no caso sub judice, em havendo futuramente, por hipótese, 
sentença penal absolutória em proveito do impetrante, esta somente 
repercutirá no âmbito da Administração, em duas situações: ou se for 
reconhecida, na esfera criminal, a inexistência do fato típico 
(materialidade do delito - art.386,I,CPP) ou se o servidor não for 
reconhecido como autor do fato (negativa de autoria - art.386,IV, mesmo 
diploma). Afora essas duas hipóteses, são autônomas e inconflitantes as 
órbitas penal e administrativa, independência que, sem embargo, merece 
ser plenamente resguardada no caso em exame. 
 
 
Portanto, a ofensa ao dever militar na sua expressão mais simples constitui 
a transgressão disciplinar e na forma acentuada constitui o crime militar. O 
cometimento de crime mesmo que de natureza comum não impede a verificação 
de seus efeitos administrativos para a caserna. 
 
É interessante destacar também, a questão da prisão administrativa por 72 
horas, sem publicação em Boletim Interno da OME e sem direito de defesa por 
parte do militar que é flagrado ou até mesmo apontado como sendo o autor de 
conduta indecorosa, conforme dispositivo contido no § 2º do Art. 11 da Lei em tela: 
 
 
Quando, para preservação da disciplina e do decoro institucional, a 
prática da transgressão disciplinar militar exigir uma pronta intervenção, 
cabe ao militar estadual que a presenciar ou dela tiver conhecimento, 
seja autoridade competente ou não, com ou sem ascendência funcional 
sobre o transgressor, tomar imediatas e enérgicas providências contra 
o mesmo, inclusive prendê-lo "em nome

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