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DIREITO CONSTITUCIONAL (DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS) CUIABÁ-MT 2019 Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 2 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................... 6 UNIDADE 1 ...................................................................................................................................... 7 1. DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ................................................................. 7 1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................... 7 1.2. FINALIDADE ..................................................................................................................... 8 1.3. NATUREZA JURÍDICA ..................................................................................................... 9 1.4. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E SUAS DIMENSÕES ................................................ 9 1.4.1. Direitos Fundamentais da 1ª Dimensão .................................................................. 10 1.4.2 - Direitos Fundamentais da 2ª Dimensão ................................................................. 10 1.4.3 - Direitos Fundamentais da 3ª Dimensão ................................................................. 11 1.4.4 - Direitos Fundamentais da 4ª Dimensão ................................................................. 11 1.4.5 - Direitos Fundamentais da 5ª Dimensão ................................................................. 12 1.5. CARACTERÍSTICAS ...................................................................................................... 12 1.6. RESTRIÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ........................................................ 13 1.6.1 - Tipos ....................................................................................................................... 14 1.6.1.1 – Restrições Diretamente Constitucionais ............................................................ 14 1.6.1.2 – Restriçoes Indiretamente Constitucionais .......................................................... 14 1.6.1.3 – Restrições Tácitas Constitucionais ..................................................................... 16 1.7. DOS DEVERES FUNDAMENTAIS ................................................................................ 17 1.8. DESTINATÁRIOS A PROTEÇÃO .................................................................................. 19 1.9. APLICABILIDADE ........................................................................................................... 21 1.10. TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS .................................................... 23 1.11. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL ......................................................................... 26 UNIDADE 2 .................................................................................................................................... 28 2. DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS ............................................................................... 28 2.1. DIREITOS INDIVIDUAIS ................................................................................................ 28 2.2. DIREITOS COLETIVOS ................................................................................................. 28 2.3. DIREITOS INDIVIDUAIS EM ESPÉCIE ......................................................................... 29 2.3.1. Direito à Vida ........................................................................................................... 29 2.3.2. Direito a Igualdade ................................................................................................... 31 2.3.3. Direito a Liberdade................................................................................................... 32 2.3.4. Direito a Propriedade ............................................................................................... 34 2.3.4.1 – Direito de Propriedade em Geral ........................................................................ 34 Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 3 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso 2.3.4.2 – Propriedade Pública ........................................................................................... 36 2.3.4.3 – Propriedades Especiais ...................................................................................... 36 2.3.4.4 – Limites ao Direito de Propriedade ...................................................................... 37 2.3.4.5 - Função Social da Propriedade ............................................................................ 38 UNIDADE 3 .................................................................................................................................... 39 2.3.5. Direito a Privacidade ................................................................................................ 39 2.3.6. Princípio da Legalidade ........................................................................................... 39 2.3.7. Princípio da Legalidade X Princípio da Reserva Legal ........................................... 40 2.3.8. Proibição de Tortura ................................................................................................ 41 2.3.9. Direito de Reunião ................................................................................................... 42 2.3.10. Direito de Associação ............................................................................................ 44 2.3.11. Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição ........................................................... 44 2.3.12. Limite da Retroatividade da Lei ............................................................................. 45 2.3.13. Princípio do Juiz Natural ........................................................................................ 46 2.3.14. Tribunal de Júri ...................................................................................................... 48 2.3.15. Segurança Jurídica em Matéria Criminal .............................................................. 50 2.3.16. Legalidade e Anterioridade da Lei Penal Incriminatória ........................................ 51 2.3.17. Irretroatividade da Lei Penal “in pejus” .................................................................. 51 2.3.18. Discriminação Atentatória dos Direitos e Liberdades Fundamentais ................... 52 2.3.19. Prática do Racismo ................................................................................................ 52 2.3.20. Crimes Inafiançáveis e Insuscetíveis de Graça ou Anistia ................................... 53 2.3.21. Crimes Inafiançáveis e Imprescritíveis .................................................................. 55 2.3.22. Regras Constitucionais sobre as Penas ............................................................... 56 UNIDADE 4 .................................................................................................................................... 61 2.3.23. Direitos Assegurados aos Presos ......................................................................... 61 2.3.24. Regras sobre Extradição ....................................................................................... 63 2.3.25. Presunção de Inocência ........................................................................................ 63 2.3.26. Regras sobre a Prisão ...........................................................................................63 2.3.27. Identificação Criminal ............................................................................................ 65 2.3.28. Ação penal Privada Subsidiária da Pública ........................................................... 65 2.3.29. Devido Processo Legal .......................................................................................... 65 2.3.30. Contraditório e Ampla Defesa................................................................................ 65 2.3.31. Provas Ilícitas ......................................................................................................... 66 2.3.32. Publicidade dos Atos Processuais ........................................................................ 66 Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 4 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso 2.3.33. Assistência Jurídica e Gratuita .............................................................................. 66 2.3.34. Erro Judiciário ........................................................................................................ 65 2.3.35. Gratuidade das Certidões de Nascimento e Óbito ................................................ 67 2.3.36. Gratuidade das Ações de “habeas corpus” e “habeas data” ................................ 67 2.3.37. Celeridade Processual ........................................................................................... 67 2.4. REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS .................................................................................. 69 2.4.1. Habeas Corpus .......................................................Erro! Indicador não definido.69 2.4.1.1 - Origem ................................................................................................................. 69 2.4.1.2 - Conceito ............................................................................................................... 69 2.4.1.3 – Natureza Jurídica ................................................................................................ 70 2.4.1.4 – Hipóteses e Espécies ......................................................................................... 70 2.4.1.5 - Cabimento ........................................................................................................... 71 2.4.1.6 – Pessoas do Processo ......................................................................................... 71 2.4.1.7 – Competência ....................................................................................................... 72 2.4.1.8 – Concessão de Ofício .......................................................................................... 73 2.4.1.9 – Execução de Sentença ....................................................................................... 73 2.4.2. Habeas Data ............................................................................................................ 74 2.4.2.1 - Origem ................................................................................................................. 74 2.4.2.2 - Conceito ............................................................................................................... 74 2.4.2.3 – Natureza Jurídica ................................................................................................ 74 2.4.2.4 – Finalidade ........................................................................................................... 75 2.4.2.5 - Cabimento ........................................................................................................... 75 2.4.2.6 – Legitimidade Ativa .............................................................................................. 76 2.4.2.7 – Legitimidade Passiva .......................................................................................... 76 2.4.2.8 – Procedimento ...................................................................................................... 77 2.4.2.9 – Competência ....................................................................................................... 78 2.4.3. Mandado de Segurança Individual .......................................................................... 79 2.4.3.1 - Origem ................................................................................................................. 79 2.4.3.2 – Conceito e Finalidade ......................................................................................... 79 2.4.3.3 – Direito Líquido e certo ......................................................................................... 80 2.4.3.4 – Natureza Jurídica ................................................................................................ 80 2.4.3.5 - Espécies .............................................................................................................. 80 2.4.3.6 – Prazo ................................................................................................................... 81 2.4.3.7 – Concessão de Liminar ........................................................................................ 81 2.4.3.8 – Legitimidade Ativa .............................................................................................. 81 2.4.3.9 – Legitimidade Passiva .......................................................................................... 82 2.4.3.10 – Competência ..................................................................................................... 82 2.4.4. Mandado de Segurança Coletivo ............................................................................ 84 Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 5 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso 2.4.4.1 - Conceito ............................................................................................................... 84 2.4.4.2 – Finalidade ........................................................................................................... 84 2.4.4.3 – Objeto.................................................................................................................. 85 2.4.4.4 – Legitimidade Ativa .............................................................................................. 85 2.4.4.5 – Legitimidade Passiva .......................................................................................... 85 2.4.4.6 – Beneficiários ....................................................................................................... 86 2.4.5. Mandado de Injunção .............................................................................................. 86 2.4.5.1 - Conceito ............................................................................................................... 86 2.4.5.2 – Objeto.................................................................................................................. 86 2.4.5.3 – Requisitos ........................................................................................................... 87 2.4.5.4 – Legitimidade Ativa .............................................................................................. 87 2.4.5.5 – Legitimidade Passiva .......................................................................................... 88 2.4.5.6 – Competência ....................................................................................................... 89 2.4.5.7 – Efeitos ................................................................................................................. 90 2.4.6. Ação Popular ...........................................................................................................92 2.4.6.1 - Conceito ............................................................................................................... 92 2.4.6.2 – Finalidade ........................................................................................................... 92 2.4.6.3 – Requisitos ........................................................................................................... 92 2.4.6.4 – Objeto.................................................................................................................. 93 2.4.6.5 – Legitimidade Ativa .............................................................................................. 93 2.4.6.6 – Legitimidade Passiva .......................................................................................... 93 2.4.6.7 – Natureza da Decisão .......................................................................................... 93 2.4.6.8 – Competência ....................................................................................................... 93 2.4.6.9 – Sentença e Coisa Julgada .................................................................................. 94 2.4.7. Direito de Petição ..................................................................................................... 95 2.4.7.1 - Conceito ............................................................................................................... 95 2.4.7.2 – Natureza ............................................................................................................. 95 2.4.7.3 – Finalidade ........................................................................................................... 95 2.4.7.4 – Legitimidade Ativa .............................................................................................. 96 2.4.7.5 – Legitimidade Passiva .......................................................................................... 96 2.4.8. Direito de Certidão ................................................................................................... 96 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................. 99 Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 6 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso APRESENTAÇÃO Este curso de Direito Constitucional trata-se do assunto Direito e Deveres Individuais e Coletivos dispostos na Constituição Federal de 1988 (CF/88), inseridos no artigo 5º. Abordaremos, o assunto de forma simples a fim de explicar o artigo 5º da Constituição Federal de 1988. O conteúdo foi dividido em 04 (quatro) unidades para facilitar o aprendizado e a compreensão. Desejamos a você bons estudos! Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 7 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso UNIDADE 1 1 DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A Constituição Federal de 1988, trouxe em seu Título II, os Direitos e Garantias Fundamentais, subdivididos em cinco capítulos: a) Direitos individuais e coletivos: são os direitos ligados ao conceito de pessoa humana e à sua personalidade, tais como à vida, à igualdade, à dignidade, à segurança, à honra, à liberdade e à propriedade. Estão previstos no artigo 5º e seus incisos. O Nosso Curso será baseado neste assunto; b) Direitos sociais: o Estado Social de Direito deve garantir as liberdades positivas aos indivíduos. Esses direitos são referentes à educação, saúde, trabalho, previdência social, lazer, segurança, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. Sua finalidade é a melhoria das condições de vida dos menos favorecidos, concretizando assim, a igualdade social. Estão elencados a partir do artigo 6º; c) Direitos de nacionalidade: nacionalidade, significa, o vínculo jurídico político que liga um indivíduo a um certo e determinado Estado, fazendo com que este indivíduo se torne um componente do povo, capacitando-o a exigir sua proteção e em contrapartida, o Estado sujeita-o a cumprir deveres impostos a todos; d) Direitos políticos: permitem ao indivíduo, através de direitos públicos subjetivos, exercer sua cidadania, participando de forma ativa dos negócios políticos do Estado. Estão elencados nos artigos 14 a 16; e) Direitos relacionados à existência, organização e a participação em partidos políticos: garante a autonomia e a liberdade plena dos partidos Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 8 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso políticos como instrumentos necessários e importantes na preservação do Estado democrático de Direito. Está elencado no artigo 17. Todo ser humano já nasce com direitos e garantias, não podendo estes ser considerados como uma concessão do Estado, pois, alguns estes direitos são criados pelos ordenamentos jurídicos, outros são criados através de certa manifestação de vontade, e outros apenas são reconhecidos nas cartas legislativas. Os direitos e garantias são expressões totalmente diferentes. Os direitos fundamentais são dispositivos previstos na norma interna de um país, e devem ser garantidos e protegidos pelo Estado. As garantias fundamentais são os instrumentos utilizados para assegurar e proteger o cumprimento de tais direitos. 1.2 FINALIDADE Esses direitos e garantias fundamentais têm como finalidade garantir a proteção da dignidade humana em seus mais diversos setores. São chamados de fundamentais porque são considerados imprescindíveis. A própria existência dos direitos e garantias fundamentais já é suficiente para que eles sejam cumpridos, ou seja, eles possuem aplicabilidade imediata. https://dicionariodireito.com.br/direito Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 9 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso No Brasil, a Constituição Federal de 1988 foi responsável por definir e ampliar os direitos fundamentais. Eles estão expressos entre os artigos 5º e 17º, e recebem os nomes de direitos humanos, direitos e garantias fundamentais, direitos e liberdades constitucionais e direitos e garantias individuais. 1.3 NATUREZA JURÍDICA Os direitos e garantias fundamentais apresentam uma categoria de direitos, que possuem certas particularidades que os diverge dos demais direitos. Nesse sentido escreve o Ilustre Ministro do STF, Gilmar Ferreira Mendes: Os direitos fundamentais são a um só tempo, direitos subjetivos e elementos fundamentais da ordem constitucional objetiva. Enquanto direitos subjetivos, os direitos fundamentais outorgam aos titulares a possibilidade de impor os interesses em face dos órgãos obrigados. Na sua dimensão como elemento fundamental da ordem constitucional objetiva, os direitos fundamentais – tanto aqueles que não asseguram primariamente, um direito subjetivo, quanto aqueloutros, concebidos garantias individuais – formam a base do ordenamento jurídico Estado de Direito Democrático. (MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de nacionalidade: Estudos de Direito Constitucional. 2 ed. São Paulo: Celso Bastos Publicação do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, 1999). A natureza jurídica dos direitos e garantias fundamentais possui caráter de norma positiva constitucional, objetivandoa dignidade, a igualdade e a liberdade do cidadão. https://dicionariodireito.com.br/constituicao-federal Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 10 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso 1.4 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E SUAS DIMENSÕES (GERAÇÕES) A doutrina, dentre vários critérios, tem o hábito de classificar os direitos fundamentais em gerações de direitos, lembrando a preferência da doutrina mais atual sobre a expressão “dimensões” dos direitos fundamentais no sentido de que uma nova dimensão não abandonaria as conquistas das dimensões anteriores e, assim, a expressão se mostraria mais apropriada nesse sentido de proibição de evolução reacionária. Partindo dos lemas da Revolução Francesa – liberdade, igualdade e fraternidade, os doutrinadores, em um primeiro momento, divulgavam os direitos de 1ª, 2ª e 3ª dimensão e que evoluíram, segundo a doutrina mais moderna, para uma 4ª e 5ª dimensão. 1.4.1 Direitos Fundamentais da 1ª Dimensão Os direitos humanos de 1ª dimensão marcam a passagem de um Estado autoritário para um Estado de direito. São inspirados nas doutrinas iluministas e jus naturalistas dos séculos XVII e XVIII: seriam os Direitos da Liberdade, liberdades estas religiosas, políticas, civis clássicas como o direito à vida, à segurança, à propriedade, à igualdade formal (perante a lei), as liberdades de expressão coletiva, etc. São os primeiros direitos a constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos civis e políticos. Os direitos de liberdade têm por titular o indivíduo, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico, sendo, portanto, os direitos de resistência ou de oposição perante o Estado, ou seja, limitam a ação do Estado. 1.4.2 Direitos Fundamentais da 2ª Dimensão Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 11 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso O período histórico que inspira e estimula os direitos humanos de 2ª dimensão é a Revolução Industrial europeia, a partir do século XIX. Os direitos humanos de 2ª dimensão seriam os Direitos da Igualdade, no qual estão à proteção do trabalho contra o desemprego, direito à educação contra o analfabetismo, direito à saúde, cultura, etc. Essa geração que dominou o século XX, são os direitos sociais, culturais, econômicos e os direitos coletivos. São direitos objetivos, pois conduzem os indivíduos sem condições de ascender aos conteúdos dos direitos através de mecanismos e da intervenção do Estado. Pedem a igualdade material, através da intervenção positiva do Estado, para sua concretização. Vinculam-se às chamadas “liberdades positivas”, exigindo uma conduta positiva do Estado, pela busca do bem-estar social. 1.4.3 Direitos Fundamentais da 3ª Dimensão Os Direitos Fundamentais da 3ª Dimensão foram desenvolvidos no século XX: seriam os Direitos da Fraternidade, no qual está o direito a um meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, progresso, etc. Essa geração é dotada de um alto teor de humanismo e universalidade, pois não se destinavam somente à proteção dos interesses dos indivíduos, de um grupo ou de um momento. Refletiam sobre os temas referentes ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade. 1.4.4 Direitos Fundamentais da 4ª Dimensão Surgiu dentro da última década, devido ao avançado desenvolvimento tecnológico: seriam os Direitos da Responsabilidade, tais como a promoção e manutenção da paz, à democracia, à informação, Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 12 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso à autodeterminação dos povos, promoção da ética da vida defendida pela bioética, direitos difusos, ao direito ao pluralismo etc. A globalização política na esfera da normatividade jurídica foi quem introduziu os direitos desta quarta geração, que correspondem à derradeira fase de institucionalização do Estado social. Está ligado a pesquisa genética, com a necessidade de impor um controle na manipulação do genótipo dos seres, especialmente o homem. 1.4.5 Direitos Fundamentais da 5ª Dimensão Mesmo ainda com um número reduzido, já existem autores defendendo a existência dos direitos de 5ª dimensão. O direito à paz seria o seu grande representante. Incorporam os anseios e necessidades humanas que se apresentam com o tempo, são direitos provindos de respostas à dominação biofísica que impõe uma visão única do predicado “animal” do homem, conduzindo os “clássicos” direitos econômicos, culturais e sociais. O jurista Paulo Bonavides sintetizou a importância do direito à paz em uma sociedade globalizada onde prevalece a lógica neoliberal, geradora de contrastes que culminam em violência ao traçar um panorama histórico e social das cinco gerações de Direitos Fundamentais, em outras palavras, “quem negar o direito à paz cometerá um crime contra o ser humano”. 1.5 CARACTERÍSTICAS As principais características dos direitos fundamentais são: a) Historicidade: os direitos são criados em um contexto histórico, e quando colocados na Constituição se tornam Direitos Fundamentais; b) Imprescritibilidade: os Direitos Fundamentais não prescrevem, ou seja, não se perdem com o decurso do tempo. São permanentes; Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 13 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso c) Irrenunciabilidade: os Direitos Fundamentais não podem ser renunciados de maneira alguma; d) Inviolabilidade: os direitos de outrem não podem ser desrespeitados por nenhuma autoridade ou lei infraconstitucional, sob pena de responsabilização civil, penal ou administrativa; e) Universalidade: os Direitos Fundamentais são dirigidos a todo ser humano em geral sem restrições, independentemente de sua raça, credo, nacionalidade ou convicção política; f) Concorrência: podem ser exercidos vários Direitos Fundamentais ao mesmo tempo; g) Efetividade: o Poder Público deve atuar para garantis a efetivação dos Direitos e Garantias Fundamentais, usando quando necessário meios coercitivos; h) Interdependência: não pode se chocar com os Direitos Fundamentais, as previsões constitucionais e infraconstitucionais, devendo se relacionarem para atingir seus objetivos; i) Complementaridade: os Direitos Fundamentais devem ser interpretados de forma conjunta, com o objetivo de sua realização absoluta. Os Direitos Fundamentais são uma criação de todo um contexto histórico-cultural da sociedade. 1.6 RESTRIÇÕES AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS A restrição de um direito fundamental é uma limitação do âmbito de proteção ou pressuposto de fato desse direito fundamental. Por exemplo: o pressuposto de fato estabelecido pelo art. 5º, IV da Constituição Federal em vigor (é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato) alcança todas as hipóteses práticas de se manifestar o pensamento. A proibição do anonimato, na referida disposição de direito fundamental, constitui uma restrição porque limita a proteção constitucional da manifestação do pensamento àquelas hipóteses em que o titular do direito não omite a sua identidade. Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 14 Secretaria de Estadode Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso Portanto, na aludida norma constitucional, pode-se vislumbrar duas coisas: 1- o direito fundamental em si (a liberdade de manifestação do pensamento); e 2- a sua restrição (proibição do anonimato). 1.6.1 Tipos de restrições Uma sistematização das restrições dos direitos fundamentais, conforme a Constituição Federal vigente, comporta a classificação em restrições diretamente constitucionais, restrições indiretamente constitucionais (reserva de lei restritiva simples e qualificada) e restrições tácitas constitucionais. 1.6.1.1 Restrições diretamente constitucionais As restrições diretamente constitucionais são aquelas estabelecidas pelo próprio texto constitucional. Além do art. 5º, IV da Constituição Federal já referido anteriormente, são exemplos: • A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial (CF, art. 5º, XI); • É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. (CF, art. 5°, XVII). Como se observa nos exemplos acima mencionados, no texto constitucional que consagra o direito fundamental encontra-se também estatuída a restrição do direito fundamental garantido. EM SUMA: a Constituição assegura e restringe diretamente o direito fundamental. 1.6.1.2 Restrições indiretamente constitucionais (reserva de lei restritiva simples e qualificada) As restrições indiretamente constitucionais são aquelas que não se encontram previstas no texto constitucional que confere o direito Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 15 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso fundamental, uma vez que a Constituição limita-se a autorizar o legislador a estabelecê-las através de leis infraconstitucionais. Exemplos: • É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer (CF, art. 5º, XIII); • A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem (CF, art. 5º, LX). Como se verifica nos exemplos acima transcritos, no texto constitucional que assegura o direito fundamental não se encontra a restrição do direito fundamental garantido, mas somente a previsão de que a lei poderá estabelecer a restrição. EM SUMA: a Constituição garante e restringe indiretamente o direito fundamental. Cumpre evocar que a autorização constitucional (competência do legislador ordinário) para que a lei estabeleça restrições aos direitos fundamentais (tecnicamente denominada de reserva de lei restritiva) pode ocorrer de duas formas: reserva de lei restritiva simples e reserva de lei restritiva qualificada. Tem-se a reserva de lei restritiva simples quando a Constituição não determina requisitos ou qualificações para a lei. A norma constitucional simplesmente autoriza a restrição tout court. Exemplos: • É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens (Grifado – CF, art. 5°, XV); • O civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses prevista em lei (Grifado – CF, art. 5o , LVIII). Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 16 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso Sucede a reserva de lei restritiva qualificada quando a Constituição fixa requisitos ou objetivos para a lei restritiva, e, dessa forma, limita a discricionariedade do legislador ordinário para impor a restrição ao direito fundamental. Exemplos: • É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefónicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal (CF, art. 5º, XII); • A lei estabelecerá procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição (CF, art. 5°, XXIV). 1.6.1.3 Restrições tácitas constitucionais Admite-se que a Constituição autoriza, tacitamente, tanto o Legislativo como o Judiciário a impor restrições aos direitos fundamentais com o escopo de resolver ou evitar, no plano da eficácia social, os casos de colisão entre os próprios direitos fundamentais, ou o conflito destes com valores comunitários constitucionalmente protegidos (segurança pública, saúde pública, etc.). Por exemplo, sucede com frequência, na vida social, a colisão da liberdade de expressão e informação (CF, art. 5º, IX)9 com o direito à privacidade (CF, art. 5º, X). Para solucionar tal colisão, através da harmonização ou acomodação dos direitos colidentes, bem como prevenir futuros choques entre eles, a Constituição não obsta a que o Congresso Nacional elabore lei que acabe por restringir os direitos colidentes em determinadas circunstâncias. Tampouco o Judiciário, quando invocado para dirimir a referida colisão, está impedido, Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 17 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso constitucionalmente, de restringir quaisquer dos direitos colidentes através das técnicas da concordância prática ou ponderação de valores no exame do caso sub judice 1.7 DOS DEVERES FUNDAMENTAIS Os deveres fundamentais não só estão presentes no texto constitucional, como são de relevância e importância idêntica a dos direitos fundamentais. Isto porque, tal como os direitos fundamentais, os deveres fundamentais, também têm por objetivo a construção de uma sociedade justa e igualitária, comprometida com a redução das desigualdades sociais e com o desenvolvimento da democracia. Para tanto tem como um de seus principais pilares o princípio da solidariedade, o qual prega justamente uma redução da ótica individualista, em prol de uma maior preocupação e o envolvimento do Poder Público e, principalmente, dos próprios particulares com a coletividade, na busca pela concretização da igualdade material. Uma vez que o modelo de sociedade calcado em um exercício exacerbado dos direitos fundamentais, desassociados de um preocupação social, se mostra insuficiente ao alcance dos objetivos constitucionais o resgate dos deveres fundamentais é um imperativo social, uma necessidade. Nesta esteira, é indispensável a compreensão deste instituto, principalmente para que sejam derrocados alguns dos preconceitos que o cercam, em especial, no sentido de serem os deveres fundamentais – como tantas outras obrigações e imposições - algo negativo e prejudicial ao exercício dos direitos fundamentais. Os deveres fundamentais, mesmo quando não conexos aos direitos fundamentais, são, na verdade, a reafirmação destes, sendo, portanto, Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 18 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso mecanismos indispensáveis à efetiva concretização dos direitos fundamentais, em consonância com o preconizado na Constituição Federal de 1988. Para poder alcançar os seus objetivos, os deveresfundamentais possuem características e regime próprios, os quais, ainda que semelhantes em diversos pontos com os direitos fundamentais, servem para confirmar a sua independência, relevância e indispensabilidade. No mais, certo é que os deveres fundamentais, em toda a sua potencialidade, podem sim ser diretamente relacionados a um direito fundamental (direito-dever), como também podem ser autônomos ou voltados à determinação de competências estatais. Nas duas primeiras hipóteses, os deveres fundamentais vinculam também particulares, havendo, ponto de convergência entre os direitos e deveres fundamentais no que tange à eficácia horizontal de ambos, a qual, por sua vez, está relacionada com o já mencionado princípio da solidariedade e com a percepção de que, nos dias atuais, particulares são tão responsáveis por violações a direitos fundamentais quanto o Estado. Com foco nos direitos-deveres, os deveres fundamentais encontram-se, com frequência, conectados aos direitos sociais, havendo entre ambos diversos pontos de similaridade, tais como forte conteúdo programático e dificuldades quanto à sua efetivação no campo prático. Dos direitos sociais, um dos melhores exemplos de direito dever é o caso do meio ambiente, o qual fora elevado à categoria de direito fundamental pela Constituição Federal de 1988, como prova do reconhecimento do constituinte das preocupações ambientais crescentes na última metade do século XX, com o alastramento das consequências Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 19 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso ambientais do crescimento da sociedade de risco e seus avanços dissociados de maiores preocupações sociais. Nesta esteira, a Carta Magna compreende o direito ao meio ambiente sadio e equilibrado como condição indispensável à manutenção de uma vida digna e sustentável, essencial à perpetuação de todas as espécies – principalmente a humana – e dos ecossistemas existentes em nosso planeta. É justamente com vistas à melhor concretização destes objetivos que a Lei Maior reconhece que a simples previsão do direito não é suficiente à efetiva garantia deste – principalmente para as gerações futuras -, motivo pelo qual, no mesmo dispositivo que consagra o meio ambiente como direito fundamental, impõe o coloca como um dever fundamental, a vincular tanto o Poder Público como os particulares. O dever fundamental ao meio ambiente é guiado tanto pelo princípio da solidariedade como por princípios próprios, a confirmar a transcendência do compromisso assumido pela preservação e promoção do meio ambiente em prol de uma coletividade que ultrapassa os limites geográficos do ambiente (fauna, flora e/ou ecossistema) diretamente envolvido, bem como os limites temporais, com vistas à salvaguarda do meio ambiente para gerações futuras. Ainda, é de se ressaltar a complexidade do dever fundamental ao meio ambiente, uma vez que este possui tanto conteúdo positivo como negativo, os quais se traduzem, respectivamente, em funções defensiva ou preventiva. Em outras palavras, reconhece-se que não basta a não-violação do meio ambiente, é necessário preservá-lo e restaurá-lo, bem como desenvolver uma educação para melhor compreensão e aproveitamento dos recursos naturais, aplicando na prática os conceitos de equilíbrio e sustentabilidade. Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 20 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso 1.8 DESTINATÁRIOS A PROTEÇÃO É certo que o caput do art. 5º da CF/88 somente referencia, de modo expresso, os brasileiros – natos ou naturalizados – e os estrangeiros residentes no país enquanto titulares dos direitos fundamentais. Nada obstante, a doutrina mais recente e a Suprema Corte têm realizado interpretação do dispositivo na qual o fator meramente circunstancial da nacionalidade não excepciona o respeito devido à dignidade de todos os homens, de forma que os estrangeiros não residentes no país, assim como os apátridas, devam ser considerados destinatários dos direitos fundamentais. Segue alguns breves comentários acerca do assunto: a) Brasileiros natos e naturalizados: I. Princípio da nacionalidade de todos os brasileiros – é proibido discriminar brasileiros em razão da origem de um Estado ou de um município (o fundamento é a isonomia quando dirigido aos particulares – art. 5º da CF). Mas o governo também não pode discriminar (o fundamento é o artigo 19, III da CF/88 quando fala que o governo não pode discriminar). b) É possível o tratamento diferenciado entre brasileiro nato e naturalizado nos casos previstos na Constituição Federal e nas Emendas Constitucionais. Exemplo de casos de tratamento diferenciado entre brasileiro nato e naturalizado: I. Cargos: artigo 12, § 3º da CF/88; II. Propriedade (quem pode ser proprietário de uma empresa jornalística pode o nato tanto naturalizado, mas o naturalizado precisa de 10 anos de vida no Brasil): artigo 222 da CF/88; III. Conselho da República: 6 assentos nesse Conselho são reservados à brasileiros natos (artigo 89, VII da CF/88); http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639289/artigo-19-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10722093/inciso-iii-do-artigo-19-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10640529/artigo-12-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10640426/par%C3%A1grafo-3-artigo-12-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10646167/artigo-222-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 21 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso IV. Extradição: art. 5º, LI – brasileiro nato não pode ser extraditado, mas o naturalizado pode em dois casos muitos especiais (envolvimento com tráfico de drogas ou ter cometido um crime na lei penal antes de ser naturalizado). OBS: Crime político ou crime de opinião: o estrangeiro não pode ser extraditado. V. Perda da nacionalidade brasileira: artigo 12, § 4º, I – será declarada a perda da nacionalidade quando houver cancelamento da naturalização pela prática de ato nocivo à república. Ou seja, só o naturalizado perde a nacionalidade. c) Estrangeiros residentes: estar no país a qualquer título, até de forma ilícita; d) Pessoa jurídica tem direitos compatíveis com a sua condição; e) Nascituro: ser concebido mas não nascido. Tem só um direito, que é o direito à vida. Os outros são expectativa de direito; f) Fauna/flora: são meros objetos, ou seja, não são titulares de direitos e garantias. Quem tem direito sobre esses objetos é o dono ou a sociedade quando nãotiver dono; g) Morto: é coisa fora do comércio. É objeto, não é sujeito. Os crimes que tem com morto a vítima são os familiares, não o morto. 1.9 APLICABILIDADE Em regra, os direitos fundamentais individuais são de eficácia contida e aplicabilidade imediata. Enquanto que as que definem os direitos econômicos e sociais, ao dependerem de lei regulamentadora, são de eficácia limitada, princípios programáticos e de aplicabilidade indireta. As normas constitucionais podem ser classificadas como: a) De aplicabilidade imediata e eficácia plena: são aquelas que não dependem de atuação legislativa posterior para a sua regulamentação, Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 22 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso isto é, desde a entrada em vigor da Constituição estas normas já estão aptas a produzir todos os seus efeitos. A sua aplicação é direta e íntegra, pois independe de complementação por norma infraconstitucional; b) De aplicabilidade imediata e eficácia contida: são normas constitucionais em que o legislador constituinte regulou suficientemente a matéria, mas possibilitou ao legislador ordinário restringir os efeitos da norma constitucional. Estas normas constitucionais têm aplicabilidade imediata, quer dizer, com a entrada em vigor da Constituição elas já são aplicáveis, no entanto, uma lei posterior poderá restringir, conter seus efeitos. Também têm aplicabilidade direta, imediata e integral, mas o seu alcance poderá ser reduzido em razão da existência na própria norma de uma cláusula expressa de redutibilidade (prevista na própria Constituição) ou em razão dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Permitem, entretanto, restrição por lei infraconstitucional, emenda constitucional ou outro ato do poder público; c) De aplicabilidade mediata e eficácia limitada: são aquelas que precisam de atuação legislativa posterior para que possam gerar plenamente todos os direitos e obrigações. Têm aplicabilidade mediata e reduzida já que necessitam de complementação legislativa. Podem ser de duas espécies: I - normas de princípio institutivo: são as normas em que o legislador constituinte traça esquemas gerais de estruturação e atribuições dos órgãos, entidades ou institutos, para que o legislador ordinário os estruture em definitivo, mediante Lei; II - normas de princípios programático: são aquelas normas constitucionais, através das quais o constituinte, em vez de regular direta e imediatamente determinados interesses, limitou-se a traçar-lhes os princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos como programas das http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 23 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso respectivas atividades, visando à realização dos fins sociais do Estado. São normas que traçam programas a serem implementados pelo Estado. 1.10 TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS Tratado é o acordo formal entre os sujeitos de Direito Internacional Público – Estados, organismos internacionais e outras coletividades – proposto a gerar efeitos jurídicos em caráter internacional. Engloba, ao menos, duas vontades, sendo, por conseguinte, um ato jurídico complexo. Via de regra, os Estados, sujeitos primários da ordem internacional, que concluem os tratados. Convenções, por sua vez, são um tratado multilateral que prevê normas gerais aos seus partícipes. Os países podem dispor de que maneira irão incorporar os Tratados e Convenções em seu ordenamento jurídico vigente, dispondo acerca da ordem hierárquica que os mesmos irão assumir, por conseguinte, verifica- se que os mesmos são expressão de consenso entre as partes. Quanto à realidade brasileira, os mesmos não podem ferir a soberania nacional, representada através da Constituição Federal, a qual deve, obrigatoriamente, ser respeitada. Com base no artigo 102, inciso III, alínea “b” da Constituição Federal que determina que o Supremo Tribunal Federal tem competência para julgar, mediante recurso extraordinário, “as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal”, a jurisprudência e a doutrina brasileira acolheram a tese de que os tratados internacionais e as leis federais possuem a mesma hierarquia jurídica, ou seja, os tratados internacionais são incorporado no ordenamento jurídica brasileiro como norma infraconstitucional. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 24 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso Diante de um conflito entre um tratado internacional e a Constituição, considera-se a primazia desta última visando a preservação da autoridade da Lei Fundamental do Estado, ainda que isto resulte na prática de um ilícito internacional. Havendo conflito entre um tratado (que não seja de direitos humanos) e uma lei infraconstitucional, levando em consideração que ambos estão no mesmo nível hierárquico, adota-se a regra da ‘lei posterior derroga a anterior’. Sendo assim, havendo um conflito entre uma lei anterior à promulgação do tratado e o próprio tratado, prevalece o tratado. Na situação inversa, qual seja, um conflito entre tratado e lei posterior, prevalece a lei posterior, independentemente das consequências pelo descumprimento do tratado no plano internacional. No Brasil, a competência para incorporação ou consentimento definitivo do tratado internacional é compartilhada entre o Legislativo e o Executivo, com atuação específica de cada Poder, nos termos expressos da Constituição de 1988, passando por aprovação e promulgação, em três fases distintas, a saber: a celebração, o referendo ou aprovação e a promulgação. A celebração é ato da competência privativa do Presidente da República (Constituição de 1988, art. 84, inciso VIII), a aprovação ou referendo é da competência exclusiva do Congresso Nacional (Constituição, art. 49, inciso I; art. 84, inciso VIII), e a promulgação é da competência privativa do Presidente da República (Constituição de 1988, art. 84, inciso IV). Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 25 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso Importante destacar que por disposição expressa do art. 5º, § 3º, da Constituição Federal, introduzido pela Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos aprovados, em dois turnos, por três quintos dos votos dos membros da cada Casa do Congresso Nacional, serão equivalentes às emendas constitucionais. Portanto, os tratados internacionais, via de regra, possuem status de uma lei ordinária e se situam no nível intermediário, ao lado dos atos normativos primários. Já os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, se aprovados em cada Casado Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes à emendas constitucionais. E quanto aos tratados de direitos humanos que já existiam antes da Emenda Constitucional nº 45/04, seriam hierarquicamente equivalente Às leis ordinárias? O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário 466.343- SP, em dezembro de 2008, modificou o posicionamento acerca da hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos. O Supremo entendeu, majoritariamente, que esses Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 26 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso tratados, antes equiparados às normas ordinárias federais, apresentam status de norma supralegal, isto é, estão acima da legislação ordinária, mas abaixo da Constituição. Tal posicionamento admite a hipótese de tais tratados adquirirem hierarquia constitucional, desde observado o procedimento previsto no parágrafo 3º, artigo 5º da CF, acrescentado pela Emenda Constitucional no 45/2004. Portanto, os tratados internacionais de direitos humanos estão acima das leis ordinárias independentemente do quórum de aprovação. A diferença é que, se teve quórum qualificado (3/5 dos votos em dois turnos) se equipara a Emenda Constitucional, caso contrário ficará entre as Leis ordinárias e as Emendas Constitucionais. 1.11 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL O Tribunal Penal Internacional é uma corte independente sediada em Haia, Holanda. Ele é responsável pelo julgamento de crimes de grande percepção internacional, como genocídios, crimes de guerra e crimes contra a humanidade e não possui ampla jurisdição, sendo influente apenas nos países que lhe aderiram. Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 27 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso Ao todo, hoje são 111 países que aderem ao Tribunal Penal Internacional e o Brasil faz parte deste grupo. O parágrafo 4º do artigo 5º da Constituição Federal expressa que o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional cuja criação tenha manifestado adesão. O dispositivo legal em pauta tem seu nascimento com a redação da Emenda Constitucional 45/2004. Este fato não coloca em risco a soberania do Brasil, uma vez que tal instituição coaduna com os interesses do país. Pois a busca pela dignidade da pessoa humana e a proteção dos direitos e garantias do cidadão são valores protegidos pelo modelo de Estado Democrático de Direito idealizado para a República Federativa do Brasil. Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 28 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso UNIDADE 2 2 DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS A CF/88 foi a primeira a estabelecer direitos não só de indivíduos, mas também de grupos sociais, os denominados direitos coletivos. As pessoas passaram a ser coletivamente consideradas. Por outro lado, pela primeira vez, junto com direito foram estabelecidos expressamente deveres fundamentais. Tanto os agentes públicos como os indivíduos têm obrigações específicas, inclusive a de respeitar os direitos das demais pessoas que vivem na ordem social. Os direitos e deveres individuais e coletivos garantidos pela ordem jurídico-constitucional brasileira não se resumem aos constantes do artigo 5º da Constituição. O rol do mencionado artigo é, pois, meramente exemplificativo, não se trata de rol taxativo. Existem outros direitos individuais resguardados em outros artigos da CF/88 como, por exemplo, o art. 150 que contém garantias de ordem tributária. 2.1 DIREITOS INDIVIDUAIS São direitos fundamentais do homem-individuo, que são aqueles que reconhecem a autonomia aos particulares, garantindo a iniciativa e independência aos indivíduos diante dos demais membros da sociedade política e do próprio Estado. Os direitos individuais são prerrogativas usadas pelo indivíduo para opor-se ao arbítrio estatal. 2.2 DIREITOS COLETIVOS Embora o enunciado do Capítulo I, Título II da CF/88, no qual o art. 5º se encontra, informe os direitos e deveres coletivos, tal artigo trata da coletividade apenas quanto as liberdades de reunião e associação, o Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 29 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso direito de entidades associativas de representar seus filiados e os direitos de receber informação de interesse coletivo e de petição. Os direitos e deveres coletivos se encontram, com mais ênfase, em outros artigos da Nossa Constituição tais como: I -Art. 8º e 37, VI; 9º e 37, VII; 10; 11; 225 (direitos sociais); II – Art. 14, I, II e III; 27, § 4º; 29, XIII; 61, § 2º (instituto de democracia direta); III – Art. 31, § 3º (instituto de fiscalização financeira). Como o objeto de nosso Curso se delimita ao art. 5º da CF/88, falaremos apenas dos direitos e deveres coletivos que se encontram nele. 2.3 DIREITOS INDIVIDUAIS EM ESPÉCIE 2.3.1 Direito à vida A Constituição Federal garante que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. O direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos, já que se constitui em pré-requisito à existência e exercício de todos os demais direitos. A Constituição Federal anuncia, portanto, o direito à vida, cabendo ao Estado assegurá-lo em sua dupla acepção, sendo a primeira relacionada ao direito de continuar vivo e a segunda de se ter vida digna quanto à subsistência. O início da mais preciosa garantia individual deverá ser dado pelo biólogo, cabendo ao jurista, tão somente, dar-lhe o enquadramento legal, pois do ponto de vista biológico a vida se inicia com a fecundação do óvulo pelo espermatozoide, resultando um ovo ou zigoto. Assim a vida viável, portanto, começa com a nidação, quando se inicia a gravidez. Portanto, o Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 30 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso embrião ou feto representa um ser individualizado, com uma carga genética própria, que não se confunde nem com a do pai, nem com a da mãe, sendo inexato afirmar que a vida do embrião ou do feto está englobada pela vida da mãe. A Constituição, é importante ressaltar, protege a vida de forma geral, inclusive uterina, porém, como os demais Direitos Fundamentais, de maneira não absoluta, pois como destacado pelo Supremo Tribunal Federal: “... reputou inquestionável o caráter não absoluto do direito à vida ante o texto constitucional, cujo art. 5o, XLVII, admitiria a pena de morte no caso de guerra declarada na forma do seu artigo 84, XIX. No mesmo sentido, citou previsão de aborto ético ou humanitário como causa excludente de ilicitude ou antijuridicidade no Código Penal, situação em que o legislador teria priorizado os direitos da mulher em detrimento dos do feto. Recordou que a proteção ao direito à vida comportaria diferentes gradações, consoante o que estabelecido na ADI 3510/DF”. Outro limite que a CF/88 estabelece é quando dá autorização para que alguém retire a vida de outrem em casos de defesa de um bem de igual valor, ou seja, outrodireito à vida, autorizando a legítima defesa e o estado de necessidade. IMPORTANTE EUTANÁSIA X ORTOTANÁSIA Eutanásia é entendida como morte provocada por sentimento de piedade à pessoa que sofre. Ao invés de deixar a morte acontecer a eutanásia age sobre a morte, antecipando-a. Assim, a eutanásia só ocorrerá quando a morte for provocada em pessoa com forte sofrimento, doença incurável ou em estado terminal e movida pela compaixão ou piedade. De acordo com a lei penal constitui crime a prática de eutanásia. Ortotanásia significa morte correta, ou seja, a morte pelo seu processo natural. Neste caso o doente já está em processo natural da morte e recebe uma contribuição do médico para que este estado siga Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 31 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso seu curso natural. Assim, ao invés de se prolongar artificialmente o processo de morte (distanásia), deixa-se que este se desenvolva naturalmente (ortotanásia). Somente o médico pode realizar a ortotanásia, e ainda não está obrigado a prolongar a vida do paciente contra a vontade deste e muito menos aprazar sua dor. A ortotanásia é conduta atípica frente ao Código Penal, pois não é causa de morte da pessoa, uma vez que o processo de morte já está instalado. Sendo assim, não é caso de punibilidade. 2.3.2 Direito à igualdade O direito fundamental à igualdade ou isonomia deve produzir efeitos sobre todas as pessoas do país. O legislador e o aplicador da lei devem tratar igualitariamente todos os indivíduos, sem distinção de qualquer natureza. Todos os cidadãos têm o direito ao tratamento idêntico pela lei, em consonância com os critérios do ordenamento jurídico. O princípio da igualdade perante a lei assegura a todos os cidadãos tratamento idêntico perante a lei. A igualdade não é absoluta, mas apenas formal, onde os desiguais são tratados desigualmente e o Estado se apresenta perante os entes privados com relativa supremacia legal. Os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis com a Constituição Federal quando verificada a existência de uma finalidade razoavelmente proporcional ao fim visado. Ele se impõe ao legislador, ao intérprete/autoridade pública e ao particular. O princípio da igualdade opera em dois planos distintos. Primeiramente em relação ao legislador ou ao executivo, na edição de leis, atos normativos e medidas provisórias para que não sejam criados http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 32 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso tratamentos abusivamente diferenciados a pessoas em situações idênticas. De outra forma, na obrigatoriedade do intérprete (autoridade pública), de aplicar a lei e atos normativos de maneira igualitária, sem estabelecimento de diferenciações em razão de sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas, raça, classe social. OBSERVAÇÃO - Igualdade de homens e mulheres: essa igualdade já se contém na norma geral da igualdade perante a lei. Porém, essa igualdade não é absoluta, pois a CF/88 aponta discriminações, sempre a favor das mulheres em relação aos homens como, por exemplo, a aposentadoria da mulher com menor tempo de serviço e de idade que o homem (arts. 40, III e 202, I a III). 2.3.3 Direito a liberdade A liberdade tem um caráter histórico, porque depende do poder do homem sobre a natureza, a sociedade, e sobre si mesmo em cada momento histórico; o conteúdo da liberdade se amplia com a evolução da humanidade; fortalece-se, à medida que a atividade humana se alarga. A liberdade opõe-se ao autoritarismo, à deformação da autoridade; não porém, à autoridade legítima; o que é válido afirmar é que a liberdade consiste na ausência de coação anormal, ilegítima e imoral; daí se conclui que toda a lei que limita a liberdade precisa ser lei normal, moral e legítima, no sentido de que seja consentida por aqueles cuja liberdade restringe; como conceito podemos dizer que liberdade consiste na possibilidade de coordenação consciente dos meios necessários à realização da felicidade pessoal. O assinalado aspecto histórico denota que a liberdade consiste num processo dinâmico de liberação do homem de vários obstáculos que se Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 33 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso antepõem à realização de sua personalidade: obstáculos naturais, econômicos, sociais e políticos; é hoje função do Estado promover a liberação do homem de todos esses obstáculos, e é aqui que a autoridade e liberdade se ligam. O regime democrático é uma garantia geral da realização dos direitos humanos fundamentais; quanto mais o processo de democratização avança, mais o homem se vai libertando dos obstáculos que o constrangem, mais liberdade conquista. Liberdade e liberdades: liberdades, no plural, são formas de liberdade, que aqui, em função do Direito Constitucional positivo, distingue-se em 5 grupos: I - Liberdade da pessoa física: é a possibilidade jurídica que se reconhece a todas as pessoas de serem senhoras de sua própria vontade e de locomoverem-se desembaraçadamente dentro do território nacional; para nós as formas de expressão dessa liberdade se revelam apenas na liberdade de locomoção e na liberdade de circulação; mencionando também o problema da segurança, não como forma dessa liberdade em si, mas como forma de garantir a efetividade destas; II - Liberdade de pensamento, com todas as suas liberdades (Art. 5º, IV): é o direito de exprimir, por qualquer forma, o que se pense em ciência, religião, arte, ou o que for; trata-se de liberdade de conteúdo intelectual e supõe contato com seus semelhantes; inclui as liberdades de opinião, de comunicação, de informação, religiosa, de expressão intelectual, artística e científica e direitos conexos, de expressão cultural e de transmissão e recepção do conhecimento; III - Liberdade de expressão coletiva: Podemos citar o art. 5º, XVI (reunião) e XVII (associação); Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 34 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso IV - Liberdade de ação profissional (Art. 5º, XIII): confere liberdade de escolha de trabalho, de ofício e de profissão, de acordo com as propensões de cada pessoa e na medida em que a sorte e o esforço próprio possam romper as barreiras que se antepõem à maioria do povo; a liberdade anunciada acima (art. 5º, XIII), beneficia brasileiros e estrangeiros residentes, enquanto a acessibilidade à função pública sofre restrições de nacionalidade (arts. 12 § 3º, e 37, I e II); A Constituição ressalva, quanto à escolha e exercício de ofício ou profissão, que ela fica sujeita à observância das qualificações profissionais que a lei exigir, só podendo a lei federal definir as qualificações profissionais requeridas para o exercício das profissões. (Art. 22, XVI); V - Liberdade de conteúdo econômico: são as liberdades de livre iniciativa, autonomia contratual e liberdade de ensino e trabalho. Cabe considerar aquela que constitui a liberdade-matriz, que é a liberdade de ação em geral, que decorre do art. 5º, II, segundo o qual ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. 2.3.4 Direito a Propriedade 2.3.4.1Direito de Propriedade em Geral I - Fundamento constitucional: O regime jurídico da propriedade tem seu fundamento na Constituição; esta garante o direito de propriedade, desde que este atenda sua função social (art. 5º, XXII), sendo assim, não há como escapar ao sentido que só garante o direito de propriedade que atenda sua função social; a própria Constituição dá consequência a isso quando autoriza a desapropriação, como pagamento mediante título, de propriedade que não cumpra sua função social (arts. 182, § 4º, e 184); existem outras normas que interferem com a propriedade mediante Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 35 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso provisões especiais (arts. 5º, XXIV a XXX, 170, II e III, 176, 177 e 178, 182, 183, 184, 185, 186, 191 e 222). II - Conceito e natureza: entende-se como uma relação entre um indivíduo (sujeito ativo) e um sujeito passivo universal integrado por todas as pessoas, o qual tem o dever de respeitá-lo, abstraindo-se de violá-lo, e assim o direito de propriedade se revela como um modo de imputação jurídica de uma coisa a um sujeito. III - Regime jurídico da propriedade privada: em verdade, a Constituição assegura o direito de propriedade, estabelece seu regime fundamental, de tal sorte que o Direito Civil não disciplina a propriedade, mas tão-somente as relações civis e ela referentes; assim, só valem no âmbito das relações civis as disposições que estabelecem as faculdades de usar, gozar e dispor de bens (art. 524), a plenitude da propriedade (525), etc.; vale dizer, que as normas de Direito Privado sobre a propriedade hão de ser compreendidas de conformidade com a disciplina que a Constituição lhe impõe. IV - Propriedade e propriedades: a Constituição consagra a tese de que a propriedade não constitui uma instituição única, mas várias instituições diferenciadas, em correlação com os diversos tipos de bens e de titulares, de onde ser cabível falar não em propriedade, mas em propriedades; ela foi explícita e precisa; garante o direito de propriedade em geral (art. 5º, XXII), mas distingue claramente a propriedade urbana (182, § 2º) e a propriedade rural (arts. 5º, XXIV, e 184, 185 e 186), com seus regimes jurídicos próprios. 2.3.4.2 Propriedade Pública A Constituição a reconhece: a) ao incluir entre os bens da União aqueles enumerados no art. 20 e, entre os dos Estados, os indicados no art. 26; Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 36 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso b) ao autorizar desapropriação, que consiste na transferência compulsória de bens privados para o domínio público; c) ao facultar a exploração direta de atividade econômica pelo Estado (art. 173) e o monopólio (art. 177), que importam apropriação pública de bens de produção. 2.3.4.3 Propriedades Especiais I - Propriedade autoral: consta no art. 5º, XXVII, que contém 2 normas: a) a primeira confere aos autores o direito exclusivo de utilizar, publicar e reproduzir suas obras; b) a segunda declara que esse direito é transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; o autor é, pois, titular de direitos morais e de direitos patrimoniais sobre a obra intelectual que produzir; os direitos morais são inalienáveis e irrenunciáveis; mas, salvo os de natureza personalíssima, são transmissíveis por herança nos termos da lei; já os patrimoniais são alienáveis por ele ou por seus sucessores. II - Propriedade de inventos, de marcas e indústrias e de nome de empresas: seu enunciado e conteúdo denotam, quando a eficácia da norma fica dependendo de legislação ulterior: “que a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como a proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País” (art. 5º, XXIX); a lei, hoje, é a de nº 9279/96, que substitui a Lei 5772/71. III - Propriedade-bem de família: segundo o inc. XXVI do art. 5º, a pequena propriedade rural, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 37 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso desenvolvimento; possui o interesse de proteger um patrimônio necessário à manutenção e sobrevivência da família. 2.3.4.4 Limitações ao direito de propriedade I - Conceito: consistem nos condicionamentos que atingem os caracteres tradicionais desse direito, pelo que era tido como direito absoluto (assegura a liberdade de dispor da coisa do modo que melhor lhe aprouver), exclusivo e perpétuo (não desaparece com a vida do proprietário). II - Restrições: limitam, em qualquer de suas faculdades, o caráter absoluto da propriedade; existem restrições à faculdade de fruição, que condicionam o uso e a ocupação da coisa; à faculdade de modificação coisa; à alienabilidade da coisa, quando, por exemplo, se estabelece direito de preferência em favor de alguma pessoa. III - Servidões e utilização de propriedade alheia: são formas de limitação que lhe atinge o caráter exclusivo; constituem ônus impostos à coisa; vinculam 2 coisas: uma serviente e outra dominante; a utilização pode ser pelo Poder Público (decorrente do art. 5º, XXV) ou por particular; as servidões são indenizáveis, em princípio; outra forma são as requisições do Poder Público; a CF permite as requisições civis e militares, mas tão-só em caso de iminente perigo e em tempo de guerra (art. 22, III); são também indenizáveis. IV - Desapropriação: é a limitação que afeta o caráter perpétuo, porque é o meio pelo qual o Poder Público determina a transferência compulsória da propriedade particular especialmente para o seu patrimônio ou de seus delegados (arts. 5º XXIV, 182 e 184). Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 38 Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – Superintendência de Escola de Governo de Mato Grosso 2.3.4.5 Função social da propriedade Não se confunde com os sistemas de limitação da propriedade; estes dizem respeito ao exercício do direito ao proprietário; aquela à estrutura do direito mesmo, à propriedade. A função social se modifica com as mudanças na relação de produção; a norma que contém o princípio da função social incide imediatamente, é de aplicabilidade imediata; a própria jurisprudência já o reconhece. O princípio transforma a propriedade capitalista, sem socializá-la. Constitui o regime jurídico da propriedade, não de limitações, obrigações e ônus que podem apoiar-se em outros títulos de intervenção, como a ordem pública ou a atividade de polícia; constitui um princípio ordenador da propriedade privada; não autoriza a suprimir por via legislativa, a instituição da propriedade privada. Portanto, a propriedade deve ser utilizada como instrumento da produção e circulação de riquezas, para moradia ou produção econômica, não podendo servir de instrumento para a destruição de bens ou valores caros a toda a sociedade como é o caso do meio ambiente sadio e equilibrado. Educação a Distância – Curso de Direito Constitucional (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) – Farley Coelho Moutinho 39 Secretaria
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