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Acidentes ofídicos Principais causadoras de acidades por animais peçonhentos no Brasil. No mundo, existem cerca de 3 mil espécies de serpentes, sendo 410 consideradas venenosas. No Brasil, estão catalogadas 256 espécies, sendo 69 venenosas e/ou peçonhentas e 187 não venenosas e/ou não peçonhentas. - 32 do gênero Bothrops; (jararaca-ilhoa, cotiara, urutu-cruzeiro,caiçara) - Bothriopsis bilineata - Bothriopsis taeniata - 6 do gênero Crotalus; (cascavel) - 2 do gênero Lachesis; (surucucu-pico-de-jaca) - 29 do gênero Micrurus. 1. Epidemiologia No Brasil ocorrem cerca de 20 mil casos de acidentes ofídicos, sendo 2 mil deles no Estado de São Paulo, ocorrendo em sua maioria no verão entre os meses de janeiro e abril de cada ano, coincidindo com o aumento das atividades agropecuárias. Isso varia de cada região do país, devido às suas atividades econômicas. Com relação a mortalidade, a letalidade geral A maioria dos acidentes é causado pelas serpentes do gênero bothrops (87,33%) que é a jararaca, seguido por crotalus (7,43%), lachesis (1,37%), micrurus (0,41%) e não peçonhentas (4,36%). No geral, pode-se dizer que 80-90% dos acidentes são botrópicos e 10-20% crotálicos. Os acidentes laquéticos e elapídicos ocorrem em número reduzido, ou seja, entre 0,5 a 2,5% dos casos. Os indivíduos do sexo masculino (74,84%), na faixa etária entre 15 e 49 anos e lavradores são os mais acometidos. Nesses casos, trata-se de acidente do trabalho. As regiões do corpo mais atingidas são os membros inferiores (62,75%) e os membros superiores (12,15%). Em que pese pequenas variações, é possível estimar a gravidade dos acidentes ofídicos. Em ordem decrescente, a gravidade seria a seguinte: Elapídico → Crotálico → Laquético → Botrópico. 2. Patogenia a. Serpentes do gênero bothrops Possuem venenos com ação coagulante, proteolítica e vasculotóxicas. A ação coagulante que é propriedade dos venenos que estão presentes nos venenos dos gêneros Bothrops, crotalus e lachesis podem transformar o fibrinogênio diretamente em fibrina, sendo então conhecida como ação coagulante do tipo trombina. Além disso, a maioria dos venenos botrópicos terão a capacidade de ativar o fator X e a protrombina da cascata de coagulação sanguínea. Que atuam de forma diferente quando comparamos sua ação com a trombina fisiológica, devido não ser neutralizado pela heparina. Diante desses quadros clínicos prolongados, temos uma coagulação intravascular disseminada, com formação de microtrombos na rede capilar dado que a ativação da cascata de coagulação, com o resultado do consumo de fibrinogênio com incoagulabilidade sanguínea pode consumir outros fatores como o V e VII e plaquetas. A ação necrosante pode ser chamada por alguns de "proteolítica" acontece devido a ação da ação citotóxica direta por frações proteolíticas do veneno. Pode haver liponecrose, mionecrose e lise de paredes vasculares, o que tem relação direta com a quantidade de veneno inoculado. As lesões locais, como rubor, edema, bolhas e necrose estarão presentes, porém é importante lembrar que podem ser potencializadas por eventuais infecções secundárias. A ação vasculotóxica do veneno das serpentes do gênero Bothrops pode causar hemorragia local ou sistêmica no âmbito de pulmões, cérebro e rins. O edema no local da picada, que em geral ocorre minutos após o acidente, é decorrente de lesão tóxica no endotélio de vasos sanguíneos.Nos acidentes causados por Bothrops moojeni, pode ocorrer edema maciço em todo o membro, 48 a 72 horas depois, sendo muito confundido com trombose venosa ou infecção bacteriana. A ação vasculotóxica sistêmica é causada por fatores hemorrágicos denominados “hemorraginas”. Estas agem sobre vasos capilares, destruindo inicialmente a membrana basal e causando posteriormente sua ruptura. A ação das hemorraginas explica muitos casos de hemorragias sistêmicas, algumas vezes fatais, no sistema nervoso central, na ausência de distúrbio da coagulação. Outras ações podem ser acompanhadas de choque, com ou sem causas definidas, como a hipovolemia por perda de sangue ou plasma no membro edemaciado,ação de substâncias hipotensoras, o edema pulmonar e a coagulação intravascular disseminada. Por fim, podem estar presentes sintomas inespecíficos, como vômitos, cefaleia, dor abdominal, diarreia, ou até mesmo colapso circulatório devido à ativação do sistema das cininas. b. Serpentes do gênero crotalus As serpentes do gênero Crotalus possuem veneno com ações miotóxica, neurotóxica, coagulante e hepatotóxica. A atividade miotóxica sistêmica, caracterizada pela liberação de mioglobina para o sangue e a urina, está bem estabelecida, com base em observações clínicas, dados laboratoriais e comprovação por meio de biópsia muscular. O diagnóstico de rabdomiólise pode ser comprovado pela elevação dos níveis séricos de creatina quinase (CK), desidrogenase láctica (DHL) e aspartato aminotransferase (AST) A associação entre fosfolipase A2 e crotapotina leva a uma potencialização dos efeitos miotóxicos. A confirmação laboratorial da rabdomiólise pode ser obtida pela detecção de mioglobina em soro e urina. A biópsia muscular também pode contribuir de forma importante na confirmação de rabdomiólise. As frações neurotóxicas do veneno crotálico são aquelas que produzem efeitos tanto no sistema nervoso central quanto no periférico. A principal fração neurotóxica do veneno de Crotalus durissus terrificus é a crotoxina, que causa paralisia em todas as espécies animais estudadas, sendo tal paralisia semelhante ao efeito causado pelos curares. Estudos em animais mostram também a presença de vômitos, salivação intensa, diarreia e albuminúria, além de convulsões. Outro importante efeito da crotoxina é o bloqueio da transmissão neuromuscular. Esses achados sugerem que as paralisias motoras e respiratórias no acidente crotálico sejam decorrentes do bloqueio da junção neuromuscular, permitindo concluir que esta neurotoxina atue na pré-sinapse, inibindo a liberação de acetilcolina. A ação indireta sobre as células renais seria causada pela mioglobinúria, decorrente da rabdomiólise, atualmente bem comprovada no acidente crotálico. A associação entre rabdomiólise e insuficiência renal aguda está estabelecida, embora a patogenia dessa combinação não se encontre totalmente elucidada. Entre os mecanismos propostos para explicá-la, estão a obstrução tubular por cilindros de mioglobina e a lesão tóxica direta dos túbulos pelo miopigmento. Outros fatores, como desidratação, hipotensão arterial, acidose metabólica e choque, podem estar associados à rabdomiólise e contribuem para a instalação da lesão renal. 3. Quadro Clínico Determinado pelas ações de cada veneno. 3.1. Serpentes do gênero bothrops Imediatamente após a picada, em geral nos primeiros 30 minutos, ocorrem dor, edema, eritema e calor local. A dor é imediata, de intensidade variável, podendo ser o único sintoma. O edema indurado, acompanhado de calor e rubor, pode estar ausente no início, mas se instala nas primeiras seis horas. Existe relação direta entre os sintomas locais e a quantidade de veneno inoculado. Bolhas, equimoses e necroses geralmente se instalam depois de 12 horas do acidente, casos em que podem advir as complicações infecciosas. Os casos mais graves costumam ocorrer em faixas etárias mais elevadas. As alterações no TC ocorrem com mais frequência nos acidentes causados por filhotes de Bothrops, cujo veneno possui atividade coagulante importante. O TC e o tempo de tromboplastina parcial ativada estão aumentados pela ação coagulante do veneno. O exame de TC é útil, de fácil execução, podendo ser realizado em lâmina e/ou em tubo simples de vidro. O TC normal varia entre três e seis minutos, podendo ser infinito nos acidentes botrópicos. As hemorragias podem ocorrer no local da picada ou em pontos distantes, como gengivas (gengivorragia), nariz (epistaxe), tubo digestivo alto (hematêmese), rins (hematúria) e, às vezes, na borda do leito ungueal. As hemorragias sistêmicas ocorrem em cerca de 6% dos casos de acidentes por Bothropsmoojeni, sendo tal porcentagem considerada pequena, pois a maioria dos doentes (75%) apresenta distúrbio da coagulação. Os acidentes por Bothrops atrox na Amazônia apresentam valores de anormalidade da coagulação sanguínea, bem próximos dos verificados nos causados por Bothrops moojeni no Estado de São Paulo. Os acidentes causados por outras espécies de Bothrops, tais como B. neuwiedi, raramente apresentam hemorragias sistêmicas. As principais complicações locais são a necrose primária, em decorrência da ação do próprio veneno, ou a secundária, por efeito de infecção bacteriana. Esta última, em geral, está associada a germes gram-negativos, tais como a Morganella morganii, Escherichia coli, Providencia sp, Klebsiella sp, Enterobacter sp, e raramente por germes gram-positivos, entre eles o Staphylococcus aureus e o Staphylococcus epidermidis. Alguns autores têm realizado cultura de secreção bucal e do veneno de diferentes espécies de serpentes, sendo isoladas com frequência bactérias aeróbias e anaeróbias. A formação de abscesso nos doentes picados por serpentes do gênero Bothrops é relativamente frequente e depende da espécie da serpente, da quantidade de veneno inoculada e do uso de torniquete e/ou sucção labial. A frequência de abscesso bacteriano varia de 8 a 16%, de acordo com diferentes estudos. Por fim, a tríade formada pela ação proteolítica do veneno, pela presença de bactérias nas presas inoculadoras de veneno da serpente e pela realização de procedimentos (como o uso de torniquete e/ou sucção labial) parece contribuir sobremaneira para a etiopatogenia dos abscessos. Entretanto, a quimioprofilaxia antimicrobiana pode ser realizada, embora seja necessário selecionar os doentes com base nas considerações acima. As complicações sistêmicas, embora raras, são insuficiência renal aguda e hemorragias sistêmicas incontroláveis. A insuficiência renal aguda, secundária a necrose tubular aguda, necrose cortical renal e, ocasionalmente, glomerulonefrite, pode ocorrer no acidente botrópico. A origem da lesão renal não é clara, porém têm sido propostos alguns mecanismos, como ação nefrotóxica direta do veneno, coagulação intravascular e vasoespasmo, levando à oclusão vascular renal e isquemia. 3.2. Serpentes do gênero crotalus Em acidentes crotálicos, o exame clínico do paciente deve ser iniciado pela avaliação do local da picada, que varia de simples arranhão até marca puntiforme única ou dupla. Em geral, não há reação local, embora um pequeno edema possa estar presente, pois, nesses casos, não há relação entre os sintomas locais e a gravidade do envenenamento. A dor no local da picada é pouco frequente e, quando existe, não é intensa. A região em geral fica adormecida poucos minutos depois e permanece assim por várias semanas ou meses. A miotoxicidade do veneno é evidenciada do ponto de vista clínico pela intensa mialgia generalizada, podendo ser acompanhada de edema muscular discreto, embora, em alguns casos, possa ser assintomática. A neurotoxicidade ocorre após algumas horas, e o doente passa a referir dor na região do pescoço, diminuição e até perda da visão, ptose palpebral bilateral, sonolência e obnubila- ção. A fácies é característica e denominada “fácies neurotóxica de Rosenfeld” (Figuras 130.2.5.30 a 130.2.5.32). Ao exame neurológico, encontram-se hiporreflexia global e comprometimento do par craniano II, evidenciado pelo exame de fundo de olho, onde se pode observar borramento de papila e ingurgitamento venoso bilateral. O comprometimento dos pares cranianos III, IV e VI é evidenciado por ptose palpebral bilateral, diplopia, plegia de músculos da pálpebra, midríase bilateral semiparalítica e diminuição de reflexos fotomotores. Além disso, podem-se verificar movimentos nistagmoides, plegia dos movimentos do olhar conjugado, tontura, alterações da gustação e hiposmia e/ou anosmia. A insuficiência respiratória pode ocorrer em alguns casos. Cefaleia intensa, febre, hipertensão arterial e/ou hipotensão arterial acompanhada de taqui e/ou bradicardia lembram a síndrome de hiper-reatividade simpática. Esses sintomas acompanham casos graves e, em geral, atendidos tardiamente, desaparecendo espontaneamente depois da primeira semana. Em geral, no segundo ou terceiro dia após o tratamento, ocorre hiper-reflexia generalizada e melhora do comprometimento da semiologia dos pares cranianos. As alterações renais, evidenciadas pela urina escura e/ ou vermelha, costumam ocorrer 24 a 48 horas depois do acidente. Nos casos que evoluem para insuficiência renal aguda, o quadro clínico é o clássico descrito anteriormente. As alterações hematológicas, principalmente a incoagulabilidade sanguínea, ocorrem após algumas horas do acidente, entretanto involuem com o tratamento adequado. O quadro clínico pode ser classificado em leve, moderado ou grave, de acordo com parâmetros clínicos, laboratoriais e a quantidade de veneno inoculado pela serpente. 3.3. Serpentes do gênero micrurus Nos acidentes elapídicos, os sintomas ocorrem minutos depois, em virtude do baixo peso molecular das neurotoxinas. Os sintomas predominantes são os neurotóxicos, e o doente apresenta fácies miastênicas, com ptose palpebral bilateral e paralisia flácida dos membros. O quadro é mais grave que o dos acidentes crotálicos, devido à elevada incidência de paralisia respiratória de instalação súbita. 3.4. Serpentes do gênero lachesis As manifestações clínicas são semelhantes às do envenenamento botrópico. Nesse sentido, os doentes picados por essas serpentes costumam apresentar, momentos depois, intensos sintomas no local da picada. A dor, o edema, o calor e o rubor são semelhantes ao do acidente botrópico, podendo ser confundido com este. As complicações observadas nesse tipo de acidente são as mesmas do acidente botrópico. 4. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de certeza do acidente ofídico deve ser feito pela identificação da serpente!!! Se isto não for possível, deve-se lançar mão do quadro clínico apresentado pelo doente. O acidente botrópico, quando ocorre nas regiões em que não existem as serpentes do gênero Lachesis, é relativamente fácil de ser identificado. Porém, na região Amazônica, onde há possibilidade da existência concomitante das serpentes Lachesis e Bothrops, muitas vezes se torna difícil o diagnóstico diferencial. O diagnóstico do acidente crotálico deve ser estabelecido pelo exame e pelo reconhecimento do gênero da serpente. Quando o doente desconhece o animal agressor, lança-se mão do quadro clínico, conforme descrito anteriormente, pois este é de instalação precoce, facilitando o diagnóstico. A diferenciação mais importante é com acidente elapídico. Nesse caso, a dificuldade está nos quadros neurológicos, pois são bastante semelhantes. 4.1. Exames subsidiários 4.1.1. Serpentes do gênero bothrops e lachesis O hemograma, nos casos graves, apresenta aumento do número total de leucócitos, às custas de segmentados, com desvio para a esquerda escalonado. Além disso, a velocidade de hemossedimentação está diminuída antes do tratamento, aumentando posteriormente. As plaquetas podem estar normais ou diminuídas, porém a avaliação da agregação está comprometida. Os fatores de coagulação estão diminuídos, e a avaliação do tempo de protrombina (sistema extrínseco) e do tempo de tromboplastina parcialmente ativado (sistema intrínseco) estão alterados. Ao exame de urina do tipo I, observa-se proteinúria, glicosúria e hematúria nos casos graves. Se possível, deve ser realizada avaliação dos eletrólitos, entre eles sódio, potássio e cálcio. A calemia pode estar normal ou aumentada nos casos de insuficiência renal aguda. Os níveis séricos de creatina quinase (CK) e aspartato aminotransferase (AST) podem sofrer discretos aumentos, decorrentes de lesões musculares causadas pelos venenos botrópicos e laquéticos. A rabdomiólise pode ser comprovada pela presença de mioglobina no soro e na urina. Além disso, os níveis séricos de CK aumentam precocemente, em geral quatro a oito horas após o acidente. O aspartato aminotransferase (AST)eleva-se nas primeiras 24 horas, e a DHL, em geral, aumenta depois de 48 a 72 horas. A alanino aminotransferase (ALT) sobe, em geral, 24 a 48 horas após o acidente e denota agressão hepática. Existem diversos m mos responsáveis pelo escape transvascular das proteínas negativas, sendo o mais importante talvez o aumento da permeabilidade vascular. Entre esses mecanismos, há a ação vasoativa das citoquinas: interleucina 1 (IL-1), interleucina 2 (IL-2) e fator de necrose tumoral (TNF), bradicinina e compostos do sistema complemento (C3a e C5a). Acredita-se, porém, que o escape transcapilar não seja o único mecanismo disponível para justificar a queda das proteínas negativas da fase aguda, visto que a IL-1 tem poder inibidor na síntese de albumina pelo fígado. o veneno ofídico, principalmente o crotálico, deve interagir com células-alvo produtoras de citoquinas (macrófagos, monócitos, células endoteliais, fibroblastos e linfócitos), promovendo a liberação de IL-6 e IL-8 para o sangue periférico. Estas, por sua vez, atuarão nos hepatócitos, aumentando a produção de proteínas da fase aguda, entre elas o fibrinogênio, proteína C reativa, fração C3 , do complemento, e mucoproteínas, e inibindo a produção de albumina. Além disso, esses mediadores promoverão a redistribuição da albumina pelo organismo, culminando com a sua diminuição no leito vascular. Atuarão também na medula óssea, promovendo a leucocitose, a neutrofilia e a liberação de células jovens para o sangue periférico. No hipotálamo, mediarão a febre, a anorexia e a sonolência; e na hipófise, promoverão a liberação de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), culminando com o aumento do cortisol sérico e com consequente linfopenia e anaeosinofilia. 5. Tratamento Fundamental para evolução e prognóstico do doente. Além do tratamento específico dos acidentes com serpentes, é muito importante o suporte com hidratação adequada. Em pacientes que evoluem com insuficiência renal, pode ser necessário fazer diálise. Em caso de abscesso, são necessários antibióticos com cobertura de gram negativos e anaeróbios. Quando há síndrome compartimental, a fasciotomia pode ser necessária, e profilaxia de tétano deve ser realizada em todos os indivíduos. MEDIDAS GERAIS - Imediatamente após a picada por serpente peçonhenta, a sucção sobre a lesão poderá permitir a retirada de parte do veneno inoculado. - Como o veneno se difunde para os tecidos em até cerca de 30 minutos, este procedimento não terá finalidade se não for realizado precocemente. - Anéis e alianças devem ser retirados do dedo atingido, pois o edema pode tornar-se intenso, produzindo um sistema de garrote. - É também contraindicado utilizar instrumentos cortantes com a finalidade de fazer cortes ao redor da picada, pois os venenos possuem frações proteolíticas que atuarão nesses locais, piorando muito a necrose. - O doente deve ser colocado em repouso e transportado rapidamente para um hospital, onde deve receber tratamento específico. - A imunoprofilaxia contra o tétano deve ser realizada, de acordo com o esquema proposto a seguir. - O soro antiofídico a ser aplicado deve ser específico para o gênero ao qual a serpente pertence. Deve ser administrado o mais precocemente possível, em dose única, de preferência pela via intravenosa, com o objetivo de neutralizar a peçonha antes que ela possa ter causado dano. Como os soros antiofídicos produzidos no Brasil são obtidos de equinos hiperimunizados, podem ocorrer reações de hipersensibilidade imed iata, entre as quais edema de glote, broncoespasmo e choque anafilático. Como essas reações podem ocorrer até 72 horas após a administração do soro, é aconselhável sempre internar o doente, para se observar o comportamento evolutivo, pelo menos nas primeiras 24 horas. Além disso, é indispensável, antes da administração do soro, fazer interrogatório dirigido, a fim de se verificar a possibilidade de alergia a produtos derivados dos equinos, como pelo, carne e soro. É importante salientar que os lavradores em geral têm contato mais frequente com os equinos. O interrogatório quanto à presença de rinite, asma e/ou urticária desencadeada pelo contato com produtos dos equinos não pode ser desvalorizado. - As reações inerentes à soroterapia podem ser imediatas (anafiláticas, anafilactoides e pirogênicas) ou tardias, manifestando-se de 6 a 10 dias depois, pela doença do soro. 5.1. Terapia contra acidentes com serpentes do gênero bothrops A indicação do teste alérgico de sensibilidade para soro heterólogo ainda é controversa no Brasil. Assim, o manual do Ministério da Saúde para o tratamento de acidentes por animais peçonhentos desaconselha a realização do teste. Em contrapartida, o manual técnico do Instituto Pasteur para a profilaxia da raiva humana indica a sua realização antes da aplicação do soro antirrábico. Vários estudos têm sido realizados e a maioria deles concluiu pela contraindicação e pela perda de tempo precioso, uma vez que o teste não é preditivo nem suficientemente sensível. Se, porventura, o teste for realizado, isto deve ser feito antes do uso de anti-histamínicos e/ ou corticosteroides. Deve ser salientado que as reações adversas à soroterapia podem ser precoces ou tardias. As reações precoces ocorrem nas primeiras 24 horas e podem se manifestar desde a forma leve até a extremamente grave. Existem, pelo menos, três mecanismos conhecidos na produção das reações precoces: o pirogênico, o anafilático e o anafilactoide. A reação pirogênica é causada pela interação do soro, ou de endotoxinas bacterianas existentes nele, com os macrófagos do doente. Estes, por sua vez, acabarão por liberar interleucina-1 (IL-1), que atuará sobre o hipotálamo anterior, produzindo febre. Clinicamente, o doente manifesta, no início, arrepios de frio e, depois, calafrios, culminando com a febre. A reação anafilática é mediada pela imunoglobulina do tipo E (IgE) e ocorre em indivíduos previamente sensibilizados aos produtos derivados do cavalo, entre eles a carne, o pelo e os próprios soros heterólogos. É possível detectar essa reação, pelo menos teoricamente, pela prova intradérmica. A reação anafilactoide não implica em sensibilização anterior. Por isso, pode surgir com a aplicação da primeira dose de antiveneno. Seu mecanismo está relacionado com a ativação do sistema complemento pela via alternativa, sem a presença de anticorpos. Nesse caso, ocorre a liberação de C3a e C5a, denominados “anafilatoxinas”, que são capazes de degranular mastócitos e basófilos, por meio de receptores específicos. A consequência é a liberação dos mesmos mediadores farmacológicos, responsáveis pela instalação de um quadro clínico semelhante ao da reação anafilática. A reação anafilactoide não é detectada pela prova intradérmica. O tratamento da reação pirogênica deve seguir o esquema abaixo: ■ Diminuir o gotejamento do soro ou parar a infusão, dependendo da gravidade da reação. ■ Verificar se o doente não está recebendo outro tipo de soro concomitante que eventualmente possa estar contaminado com toxinas bacterianas. ■ Administrar dipirona (Novalgina® ), na dose de 2 a 4 mL pela via intravenosa. Em crianças, utilizar 10 a 15 mg por quilo de peso corporal. O tratamento das reações anafiláticas ou anafilactoides deve seguir o esquema abaixo: ■ Drenalina aquosa a 1: 1.000: é a única medida eficaz e imediata. Deve ser usada na dose de 0,3 a 1 mL (0,01 mg/ kg de peso) pela via subcutânea. Em caso de parada cardíaca, utilizar as vias intravenosa e/ou intracardíaca. Anti-histamínicos do tipo prometazina (Fenergan®): utilizar 0,1 a 0,5 mg/kg de peso, pelas vias intramusculares e/ou intravenosa ■ Aminofilina: nos casos de broncospasmos, utilizar 7 mg/kg de peso (0,3 mL/kg de peso). Além disso, deve-se instalar cateter de oxigênio para amenizar a hipóxia. ■ Corticosteroides do tipo hidrocortisona (Solu- -Cortef® ): utilizar 7 mg/kg de peso corporal diluídos em 100 mL de solução glicosada a 5% e aplicar pela via intravenosa a cada 6 horas. Entretanto, o manual do Ministério daSaúde para o tratamento dos acidentes por animais peçonhentos preconiza que se deve ter um bom acesso venoso, deixar preparado laringoscópio, frasco de solução fisiológica, adrenalina (1:1.000) e aminofilina. A pré-medicação, que deve ser aplicada cerca de 10 a 15 minutos antes da soroterapia, com o objetivo de se prevenir as reações imediatas, é a seguinte: ■ Dextroclorfeniramina (Polaramine® ): utilizar 0,05 mg/kg de peso por via intramuscular (máximo = 5,0 mg); ou prometazina (Fenergan® ), na dose de 0,5 mg/kg de peso via intramuscular (máximo = 25 mg). ■ Hidrocortisona (Solu-Cortef® ): aplicar 10 mg/kg de peso (máximo = 1.000 mg) pela via intravenosa. ■ Cimetidina (Tagamet® ): utilizar 10 mg/kg de peso (máximo = 300 mg); ou ranitidina (Antak® ), na dose de 3 mg/ kg de peso (máximo = 100 mg) pela via intravenosa. A seguir, o soro antipeçonhento deve ser aplicado pela via intravenosa, sem diluição, durante 15 a 30 minutos, sob vigilância contínua da equipe médica assistente. A equipe deve manter preparadas as drogas citadas anteriormente para o eventual tratamento das reações imediatas (anafiláticas e anafilactoides). As reações tardias, também conhecidas como “doença do soro”, ocorrem 5 a 24 dias após o emprego da soroterapia heteróloga. Os doentes podem apresentar febre, artralgia, linfoadenomegalia, urticária e proteinúria. O tratamento é sintomático, à base de Aspirina® , nas doses de 4 a 6 g por dia para os adultos e de 50 a 100 mg/kg de peso para as crianças. As reações urticariformes podem ser tratadas com dextroclorofeniramina (Polaramine® ), nas doses de 6 a 18 mg por dia para os adultos e de 0,2 mg/kg de peso para as crianças. Nos casos graves, pode-se usar a prednisona (Meticorten® ) nas doses de 20 a 40 mg por dia para adultos e de 1 a 2 mg/kg de peso para as crianças. A recuperação ocorre em geral de 7 a 30 dias após o início do tratamento. Para pacientes com acidentes por serpentes consideradas não peçonhentas A conduta nesses casos consiste em se fazer uma avaliação clínica cuidadosa do doente, à procura de sinais e sintomas que poderiam ajudar no diagnóstico, como avaliação do tempo de coagulação, presença de fácies neurotóxica e mioglobinúria. A ausência dessas alterações sugere o diagnóstico de acidente por serpente considerada “não peçonhenta”. O tratamento é sintomático, embora tenha sido relatado na literatura o emprego do soro antibotrópico, conduta ainda controversa. Exames clínicos: Elisa vai ajudar a ver os antígenos do veneno. Primeiramente, a gente vai administrar o soro. Se é uma acidente com uma serpente de etiologia bothrops, então o soro é antibotrópico (SAB). Porém se não tiver este, podemos utilizar o soro antibotrópico-crotálico. Já no suporte, a gente vai fazer a antissepsia sempre, seja por qualquer outro acidente por animal peçonhento ou cachorro, qualquer coisa. Depois vamos fazer analgesia, elevação do membro, pensando em retardar a ação do veneno nas vias circulares e tecidos. Hidratação para prevenção das lesões renais, principalmente as lesões tubulares. Lembrar de fazer profilaxia para tétano, dado que a mordedura de vários animais podem carrear diversas bactérias que podem ocasionar em outras doenças. E fazer antibiótico se tiver um sítio infeccioso identificado. E devemos lembrar também que há casos que podemos indicar cirurgia para debridar feridas necróticas ou fasciotomias para aliviar tensão muscular.
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