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Promevet - Acidentes por animais peçonhentos e venenosos em cães e gatos

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 ■ INTRODUÇÃO
Zootoxinas são substâncias tóxicas produzidas por animais.1,2 
Animais peçonhentos são aqueles que produzem toxinas, também chamadas de “veneno” ou 
“peçonha”, e possuem um aparelho inoculador, estrutura para transmitir o veneno para sua vítima, 
como as presas das serpentes, as quelíceras das aranhas e dos escorpiões e os ferrões das 
abelhas. Quando possuem veneno, porém não dispõem de nenhuma estrutura para inoculá-lo, os 
animais são denominados venenosos, como os sapos.1,2
Em termos biológicos, veneno pode ser definido como a substância produzida nos tecidos dos 
animais, enquanto peçonha é a substância produzida por glândulas especializadas. Contudo, esses 
termos nem sempre são usados com essas definições. 
Uma definição bastante aceita para veneno é a de uma substância tóxica de origem animal. Dessa 
forma, esse termo acaba sendo usado de um modo mais geral. É bastante comum utilizá-lo como 
sinônimo de peçonha e toxina (por exemplo, em “veneno de aranha” ou “veneno das serpentes”, 
que são animais peçonhentos). 
Em inglês, há uma diferenciação bem definida dos termos relacionados a zootoxinas, baseada 
no mecanismo de transmissão. Nesse sentido, poison se refere a um mecanismo passivo de 
transmissão (geralmente ingestão), sem uma lesão física que o transfira ao interior do organismo. 
O termo venom, por sua vez, se relaciona a um mecanismo ativo, à inoculação através de uma 
estrutura especializada, como no caso dos animais peçonhentos.
ANNELISE CARLA CAMPLESI DOS SANTOS
MARIA LUCÍA CORREAL SUAREZ
ACIDENTES POR ANIMAIS 
PEÇONHENTOS E VENENOSOS EM 
CÃES E GATOS
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Considerando as limitações do vocabulário português relacionado às zootoxinas e as citações 
comumente utilizadas na literatura da área de toxicologia, neste artigo, o termo “veneno” foi 
empregado de forma abrangente para designar uma substância tóxica de origem animal.
Em muitas partes do mundo, especialmente nas áreas rurais de países tropicais e subtropicais, 
acidentes por animais peçonhentos constituem um problema de ordem médica, social e econômica.1,3 
A incidência de acidentes por animais peçonhentos e venenosos na rotina clínica de países tropicais 
é significativa, apesar de os dados epidemiológicos serem escassos, devido à não obrigatoriedade de 
notificação dos casos.2 No entanto, considerando as notificações em humanos e oriundas de levantamentos 
regionais em clínicas ou hospitais veterinários específicos, acredita-se que essas intoxicações sejam de 
grande relevância, uma vez que os animais estão mais expostos a esse tipo de acidente.4–6
Segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas (Sinitox), os acidentes por 
animais peçonhentos estão entre as três principais causas de intoxicações em humanos, junto 
com as intoxicações por medicamentos e por agrotóxicos.2 Em um levantamento realizado por 
Barbosa e colaboradores5 no hospital veterinário da Universidade Estadual Paulista “Júlio de 
Mesquita Filho” (Unesp) de Botucatu/SP, 22,66% das intoxicações de cães e gatos (total de 242 
casos) foram causadas por animais peçonhentos ou venenosos. O acidente ofídico foi o de maior 
casuística (43,75% dos casos de intoxicações por zootoxinas).
Na Medicina Veterinária, podem ser destacados, de acordo com a importância clínica e incidência, os 
acidentes causados por toxinas de serpentes, aranhas, escorpiões e sapos. Além disso, as múltiplas 
picadas de abelhas têm causado muitas mortes, em decorrência de sua gravidade, principalmente em cães. 
 ■ OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
 ■ reconhecer a importância das zootoxinas na clínica veterinária; 
 ■ identificar os principais tipos de acidentes por animais peçonhentos e venenosos que podem 
afetar os animais de companhia;
 ■ estabelecer uma conduta adequada para o diagnóstico dos principais tipos de acidentes por 
animais peçonhentos e venenosos que podem afetar pequenos animais;
 ■ reconhecer a fisiopatogenia e os sinais clínicos que podem ser encontrados em cães e gatos 
acometidos por envenenamentos por animais peçonhentos e venenosos; 
 ■ estabelecer uma conduta terapêutica adequada para cada caso de acidente por animais 
peçonhentos e venenosos, de acordo com a evolução clínica e as necessidades de cada paciente.
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 ■ ESQUEMA CONCEITUAL
Conclusão
Caso clínico
Araneísmo
Acidentes fonêutricos
Acidentes loxoscélicos
Reações à soroterapia
Acidentes botrópicos
Acidentes crotálicos
Acidentes elapídicos
Acidentes laquéticosOfi dismo
Ação do veneno
Diagnóstico
Tratamento
Prognóstico
Sinais clínicos
Escorpionismo
Sinais clínicos
Diagnóstico
Tratamento
Prognóstico
Ação do veneno
Acidentes por sapos
Sinais clínicos
Diagnóstico
Tratamento
Prognóstico
Ação do veneno
Acidentes por abelhas
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 ■ OFIDISMO
Acidentes por serpentes peçonhentas em animais domésticos apresentam uma alta incidência no 
Brasil. Trata-se de um problema importante a ser estudado, devido à alta toxicidade do veneno, à 
alta letalidade e ao grande número de casos, não só em animais, mas também em humanos.4,7,8
Existem mais de 3 mil espécies de serpentes no mundo, e 20% delas são venenosas.6 No Brasil, 
as serpentes venenosas que podem causar acidentes são as dos gêneros Bothrops, Crotalus e 
Lachesis, todos da família Viperidae. Elas possuem fosseta loreal e dentição solenóglifa, ou seja, 
dentes inoculadores móveis e bem desenvolvidos. Há, ainda, as serpentes do gênero Micrurus, 
da família Elapidae. Elas têm dentição proteróglifa, que é uma pequena presa imóvel na porção 
anterior do maxilar superior, e não possuem fosseta loreal.²
Quanto à epidemiologia do ofidismo, os acidentes mais frequentes são por espécies do gênero 
Bothrops (cerca de 85%), seguido pelo gênero Crotalus (7–8%) — este gera os casos de maior 
letalidade. Acidentes por Lachesis ou Micrurus são raros na Medicina Veterinária.2,4
Os carnívoros parecem ser mais resistentes a venenos ofídicos do que outros animais. 
No entanto, o gato é resistente ao veneno botrópico e muito sensível ao crotálico.9
LEMBRAR
No que diz respeito ao ofidismo, os cães se acidentam particularmente no focinho, no pescoço e 
nos membros anteriores, enquanto os gatos são afetados principalmente nos membros anteriores.4
ACIDENTES BOTRÓPICOS
Como já dito, os acidentes causados pelas serpentes do gênero Bothrops (jararacas) ocupam 
o primeiro lugar na incidência de ofidismo.8 As serpentes desse gênero possuem as seguintes 
características:7 
 ■ pertencem à família Viperidae; 
 ■ são agressivas; 
 ■ apresentam desenho de “V” invertido ou gancho de telefone ao longo do corpo; 
 ■ têm predileção por áreas úmidas; 
 ■ estão distribuídas por todo o território brasileiro. 
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Algumas espécies bastante conhecidas do gênero Bothrops são as seguintes:1 
 ■ B. alternatus (urutu-cruzeiro, também denominada Rhinocerophis alternatus); 
 ■ B. jararacuçu (jararacuçu); 
 ■ B. jararaca (jararaca); 
 ■ B. neuwiedi (jararaca pintada); 
 ■ B. moojeni (caiçara).
Ação do veneno
O veneno botrópico é uma mistura complexa de proteínas de baixo peso molecular, com 
ação proteolítica (necrosante), vasculotóxica (hemorrágica), coagulante e nefrotóxica.3,4
A ação proteolítica citotóxica do veneno botrópico é observada na região da picada, causada pormetaloproteinases com atividade proteolítica.9 A hemotoxina e a citolisina determinam as reações 
inflamatórias locais e provocam necroses nos tecidos e no epitélio vascular. A fosfolipase A2 altera a 
permeabilidade da membrana e libera substâncias vasoativas (bradicinina, histamina), ocasionando muita 
reação local inflamatória. A hialuronidase leva à rápida absorção e dispersão do veneno entre os tecidos.2,4
A ação coagulante do veneno botrópico é conhecida como “tipo trombina”, causada por serinoproteases 
(botrojararacina, botrombina e jararagina C). Elas transformam o fibrinogênio em fibrina, ativam o 
fator X e a protrombina. Ocorrem, também, a ativação e o consumo dos fatores II, V e VIII, além das 
plaquetas, alterando a hemostasia.4,7 Assim, o animal apresenta afibrinogenemia e coagulopatias devido 
ao consumo dos fatores de coagulação. Em alguns casos, pode ocorrer coagulação intravascular 
disseminada (CID), com a formação de microcoágulos que comprometem vários órgãos.1,4
A ação vasculotóxica das hemorraginas destrói a membrana basal do endotélio vascular, provocando 
ruptura. Isso leva a quadros hemorrágicos, bastante comuns em acidentes botrópicos. Pode ocorrer 
hemólise intravascular. As lesões são tanto locais quanto sistêmicas, e o animal acidentado apresenta 
hemorragia, exsudações e edema logo após o acidente.4,10 
A ação nefrotóxica do veneno botrópico é decorrente da ação direta do veneno dos túbulos renais. Ela 
ocorre, também, indiretamente, devido à hipovolemia ou à isquemia que pode ser causada por microcoágulos 
ou deposição de fibrina nos capilares glomerulares. Pode ocorrer insuficiência renal aguda (IRA) grave.4,6
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Sinais clínicos
Os sinais clínicos iniciais do acidente botrópico são apatia, prostração, taquipneia e 
inapetência. Logo as reações locais surgem, incluindo edema, equimose, vesículas e 
hemorragias, com intensa sensibilidade dolorosa na região afetada (Figuras 1A–C). A 
necrose se estabelece após algumas horas, a depender da gravidade.2,4,7 
A B
C
Figura 1 — Acidente botrópico com cão adulto, da raça Pit Bull, acometido por uma picada na face 
ao enfrentar uma serpente. A) Edema e áreas de equimose na porção lateral direita da face do 
animal durante o tratamento. B) Grande área de equimose e edema na cavidade oral, na região 
de inoculação do veneno. C) Serpente da espécie Bothrops alternatus (urutu-cruzeiro), morta pelo 
animal e trazida por seu tutor, confirmando o diagnóstico. 
Fonte: Cedida pelo Setor de Clínica Médica de Pequenos Animais da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias 
da Unesp.
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Dispneia e insuficiência respiratória podem resultar do intenso edema local quando a picada é 
na face ou na região cervical, inclusive com edema da região da glote. Lesões na língua podem 
dificultar a alimentação, dependendo do local da picada.2,4,7
Hemorragias são comuns na área da picada e em outros locais, como gengiva, urina (hematúria), 
genitais, nariz (epistaxe). Elas podem levar a hipotensão, hipotermia e choque hipovolêmico.2,10 
Hemorragias nasais, na boca e na pele ocorrem nos casos mais severos. Outras hemorragias 
possíveis são externas, no tecido subcutâneo, no local da mordida, na cavidade torácica e abdominal 
e, às vezes, no sistema nervoso central (SNC).1,7
As hemorragias são mais comuns quando o acidente é causado por filhotes de serpentes, 
normalmente nos últimos meses do ano, pois seu veneno tem maior concentração de 
hemorraginas. Existe uma correlação positiva entre os acidentes nos últimos meses 
do ano e a ocorrência de incoagulabilidade sanguínea.1
LEMBRAR
Em acidentes botrópicos, podem ocorrer choque e CID. A oliguria é observada quando o animal 
desenvolve IRA. A incidência dessa lesão é de poucas horas até 96 horas depois do acidente, e 
comumente diagnosticada nas primeiras 24–48 horas. A principal lesão observada nos rins é a 
necrose tubular aguda (NTA).6 
Existe o risco de contaminação bacteriana no local da picada, com a formação de abscessos pela 
flora bacteriana bucal das serpentes, pela própria contaminação ambiental ou pela aplicação de 
substâncias inadequadas. As bactérias mais encontradas são as seguintes:2,4 
 ■ Enterobacter sp.; 
 ■ Escherichia coli; 
 ■ Streptococcus sp. (do grupo D); 
 ■ Bacteroides sp.; 
 ■ Morganella morganii; 
 ■ Providencia rettgeri.
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Diagnóstico
Laboratorialmente, em caso de acidente botrópico, observam-se os aspectos apresentados no Quadro 1.
Quadro 1
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS EM CASOS DE ACIDENTES BOTRÓPICOS
Queda no hematócrito
Queda nas hemácias
Queda no fibrinogênio
Queda na proteína total
Queda na albumina
Queda nas plaquetas
Leucocitose por neutrofilia*
Linfopenia*
Eosinopenia*
Monocitose*
Sangue incoagulável (> 30min) no TC
Aumento do TTPA
Aumento do TP
Aumento do TCA
Elevação da ureia
Elevação da creatinina
Elevação da LDH
Elevação da ALT
Elevação da FA
Elevação da CK**
Elevação da hemoglobina livre
* Caracterizam um leucograma de estresse.
** Decorre da necrose tecidual, consequente à ação proteolítica.
TC: tempo de coagulação; TTPA: tempo de tromboplastina parcial ativada; TP: tempo de protrombina; TCA: TC ativado; 
LDH: lactato desidrogenase; ALT: alanina aminotransferase; FA: fosfatase alcalina; CK: creatina quinase.
Fonte: Adaptado de Sakate e colaboradores (2008);4 Albuquerque e colaboradores (2013);6 Warrell (2010).10
Para o diagnóstico de acidente botrópico, as intensas reações locais, com edema 
associado às hemorragias, são bastante indicativas, assim como a alteração no tempo 
de coagulação (TC). O histórico da prevalência de serpentes na região e a ocorrência 
ou não de acidentes prévios auxiliam no diagnóstico.4,7
O diagnóstico de acidente botrópico em regiões onde não existam serpentes do gênero Lachesis é 
mais fácil. Na região amazônica, por exemplo, onde há concomitância dos dois gêneros, o diagnóstico 
diferencial é difícil, pois os aspectos clínicos dos dois acidentes são muito semelhantes.1 
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Quando a espécie de cobra não pode ser identificada, é possível fazer a confirmação indireta por 
detecção imunológica de antígenos de toxina no sangue da vítima ou em fluidos de tecidos.10 O 
exame laboratorial, por meio do ensaio imunoenzimático de fase sólida (em inglês, enzyme-linked 
imunnosorbent assay [Elisa]), permite detectar o tipo de veneno inoculado.1
O histórico, a evolução, as características clínicas do animal e o aumento no TC, associados 
à resposta à terapia, estabelecem o diagnóstico de acidente botrópico.
Tratamento
Em caso de acidente botrópico, o objetivo do tratamento é neutralizar a maior quantidade possível 
de veneno circulante. Para tanto, a soroterapia específica, com soro antibotrópico ou antibotrópico-
crotálico, deve ser instituída o mais precocemente possível. 
Deve-se usar uma dose de soro que neutralize ao menos 100mg de veneno, por via intravenosa 
(IV), lentamente.4 Em casos graves, pode-se administrar um volume suficiente para neutralizar 
até 300mg de veneno.1 Normalmente, nas formulações comerciais de soro antibotrópico ou 
polivalentes existentes no mercado, 50mL de soro neutralizam 100mg de veneno.
A soroterapia específica é o único tratamento eficiente para acidentes botrópicos. A dose utilizada 
independe do tamanho ou peso do animal. 
O soro deve ser administrado em ambiente hospitalarou ambulatorial, pelo risco de reação 
anafilática. Além disso, é importante destacar que o soro de uso veterinário não pode ser 
utilizado em pacientes humanos, pois leva a uma grave reação pirogênica e anafilática.
Deve-se administrar o soro mesmo em casos com evolução de 24 horas. A administração 
de soro adicional (metade da dose inicial) é indicada quando o animal apresenta sangue 
incoagulável de 12 a 24 horas após o início do tratamento.2,6
Em casos de acidentes botrópicos, recomendam-se a fluidoterapia com cristaloides e a internação 
do animal. Corticoides como hidrocortisona podem ser utilizados, assim como bloqueadores de 
H1 (prometazina), 10 minutos antes da soroterapia, para evitar reações alérgicas, frequentes em 
humanos. Após a hidratação do animal, pode-se estimular a diurese com furosemida ou manitol, 
a fim de preservar a função renal. Antibióticos sistêmicos são indicados quando ocorrem lesões 
extensas no local da picada. Analgésicos como dipirona são benéficos no primeiro atendimento.1,6,7 
Pode ser necessária a transfusão de sangue total ou plasma, a depender dos valores de hematócrito, 
dos resultados dos testes de coagulação e da presença de hemorragias de difícil controle.1,6,7 Outros 
tipos de tratamentos ainda estão em discussão, como:1 
 ■ uso de heparina; 
 ■ reposição dos fatores de coagulação; 
 ■ plasmaférese; 
 ■ uso de extratos vegetais, como a Mikania glomerata.
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A transfusão de plasma fresco congelado é indicada por alguns autores.2
O animal que sofreu envenenamento deve ser observado por, no mínimo, 72 horas e 
mantido em um ambiente tranquilo e confortável.1,2
Procedimentos contraindicados, como o uso de torniquetes, a incisão no local, a sucção 
e o uso de produtos químicos, podem agravar o quadro clinico do animal acometido 
por um acidente botrópico.11
Prognóstico
O prognóstico do acidente botrópico depende da presença ou não de hemorragias, choque e 
IRA; ele é reservado quando essas complicações estão presentes. A precocidade do tratamento 
é fundamental para um bom prognóstico. A mortalidade geralmente é baixa. A maior complicação 
em humanos é a necessidade de amputação de extremidades atingidas.3,7,11
ATIVIDADES
1. Sobre as serpentes do gênero Bothrops, assinale a alternativa correta.
A) Não são agressivas.
B) Preferem áreas secas.
C) Estão distribuídas por todo o Brasil.
D) Incluem as cascavéis.
Resposta no final do artigo
2. Sobre o veneno botrópico, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) É uma mistura complexa de proteínas de alto peso molecular.
( ) As serinoproteases transformam o fibrinogênio em fibrina, além de ativarem o fator 
X e a protrombina.
( ) A ação vasculotóxica das hemorraginas causa a destruição da membrana basal 
do endotélio vascular, resultando em quadros hemorrágicos.
( ) Sua ação nefrotóxica ocorre apenas indiretamente, pela hipovolemia ou isquemia 
gerada por microcoágulos ou deposição de fibrina nos capilares glomerulares.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) F — V — F — V.
B) V — F — F — V.
C) V — F — V — F.
D) F — V — V — F.
Resposta no final do artigo
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3. Observe as afirmativas sobre a ocorrência de hemorragias em acidentes botrópicos.
I — São mais comuns quando o acidente é causado por filhotes de serpentes.
II — Existe uma correlação positiva entre os acidentes nos primeiros meses do ano e a 
ocorrência de incoagulabilidade sanguínea.
III — Em quadros mais graves, ocorrem hemorragias nasais, na boca e na pele.
Quais estão corretas?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Resposta no final do artigo
4. Assinale a alternativa que apresenta um parâmetro laboratorial em que se observa 
queda em casos de acidentes botrópicos.
A) Creatinina quinase (CK).
B) Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA).
C) Creatinina.
D) Proteína total.
Resposta no final do artigo
5. Sobre o tratamento de acidentes botrópicos, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) Quando há lesões extensas no local da picada, recomenda-se o uso de antibióticos 
sistêmicos.
( ) A soroterapia deve ser reservada para casos graves.
( ) O soro deve ser administrado em ambiente hospitalar ou ambulatorial.
( ) Estão indicados o uso de torniquetes e a incisão no local.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) V — F — V — F.
B) V — V — F — F.
C) F — V — F — V.
D) F — F — V — V.
Resposta no final do artigo
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ACIDENTES CROTÁLICOS
Os acidentes por serpentes do gênero Crotalus (cascavéis) estão em segundo lugar em incidência de 
ofidismo, porém são os primeiros em letalidade. Essas serpentes possuem as seguintes características:1 
 ■ são da mesma família que as jararacas (Viperidae); 
 ■ não são agressivas; 
 ■ apresentam um guizo na cauda, que chacoalha quando elas se sentem ameaçadas; 
 ■ são encontradas em campos abertos, áreas secas e rochosas, morros e cerrados. 
No Brasil, o gênero é representado por uma única espécie, C. durissus, distribuída em seis 
subespécies. As serpentes são conhecidas popularmente como “cascavéis” ou “maracás”.1
Ação do veneno
O veneno crotálico é uma mistura complexa, com substâncias importantes como crotoxina 
(que compõe 50% do conteúdo), crotamina, giroxina e convulxina, resultando nas ações 
neurotóxica, miotóxica, nefrotóxica e coagulante.2,4
A crotoxina é a principal substância da mistura, com atividade fosfolipase A2. Ela causa o bloqueio 
periférico da transmissão neuromuscular no sistema nervoso periférico (SNP). Isso pode ocasionar 
paralisia respiratória e ação no SNC, por levar a falhas na liberação de acetilcolina (ACh). A crotoxina 
também acarreta lesões nas junções neuromusculares e em fibras musculares.1,2
A fração de crotoxina com fosfolipase A2 lesa as fibras musculares esqueléticas, com a liberação maciça 
de mioglobina, elevando as enzimas CK, lactato desidrogenase (LDH) e aspartato aminotransferase 
(AST). O processo pode evoluir para rabdomiólise.4 
A crotoxina induz a agregação plaquetária e tem ação tipo trombina, ativando o fibrinogênio e 
consumindo fatores de coagulação, de modo semelhante ao veneno botrópico. O sangue pode ficar 
incoagulável, porém de maneira geral, não se observam hemorragias (não há o efeito vasculotóxico).4
A crotamina é menos tóxica que a crotoxina. Ela ativa canais de sódio nas fibras do músculo 
esquelético e tem ação analgésica. Por sua vez, a convulxina ativa a síntese de tromboxanos e 
a agregação plaquetária in vitro, e pode causar convulsões. Pode ocorrer hemólise intravascular. 
A giroxina produz alterações labirínticas.2
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Nos acidentes crotálicos, a nefrotoxicidade é secundária à miotoxicidade, devido à mioglobinúria 
que ocorre. Isso leva o pigmento a depositar-se nos túbulos renais, o que resulta em lesão tóxica 
tubular direta, com consequente NTA. Essa lesão, somada à desidratação, à hipotensão e à acidose 
metabólica presentes no quadro clínico, favorecem a instalação da IRA. Alguma ação direta do 
veneno sobre o tecido renal também contribui para essa ação.4,6,7 
Sinais clínicos
Os sinais clínicos relatados em acidentes crotálicos são:2,6,10 
 ■ transtornos de locomoção; 
 ■ fasciculações musculares; 
 ■ flacidez da musculatura facial (fácies miastênicas, características em pacientes humanos); 
 ■ ptose palpebral e mandibular(em animais); 
 ■ midríase; 
 ■ cegueira; 
 ■ oftalmoplegia; 
 ■ depressão neurológica grave; 
 ■ insuficiência respiratória; 
 ■ disfagia com sialorreia; 
 ■ dores musculares generalizadas; 
 ■ atonia vesical; 
 ■ urina avermelhada ou âmbar, variando até a cor de “Coca-Cola”, devido à intensa mioglobinúria. 
A oliguria e/ou anuria estão presentes quando o paciente possui IRA. Além de mioglobinúria, podem 
ser encontrados proteinúria e sangue oculto na urina.2,6,10 As alterações locais são discretas, com 
edema leve e dor variável, porém as manifestações sistêmicas são severas.4
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Diagnóstico
Em acidentes crotálicos, as alterações laboratoriais normalmente encontradas são apresentadas 
no Quadro 2.
Quadro 2
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS EM CASOS DE ACIDENTES CROTÁLICOS
Anemia
Leucocitose por neutrofilia (podendo haver desvio à esquerda)
Linfopenia
Trombocitopenia
Aumento da FA*
Aumento da ALT*
Elevação da CK**,***
Elevação da LDH**
Elevação da AST**
Elevação da ureia****
Elevação da creatinina****
Elevação do fósforo****
Elevação do potássio****
Aumento do TC
Aumento do TP
Aumento do TTPA
* Ocorrem logo nas primeiras horas.
** Decorrem da rabdomiólise.
*** Altera-se mais precocemente.
**** Decorrem da IRA.
FA: fosfatase alcalina; ALT: alanina aminotransferase; CK: creatina quinase; LDH: lactato desidrogenase; AST: aspartato 
aminotransferase; TC: tempo de coagulação; TP: tempo de protrombina; TTPA: tempo de tromboplastina parcial ativada.
Fonte: Adaptado de Sakate e colaboradores (2014);1 Melchert e colaboradores (2011);2 Albuquerque e colaboradores (2013).6
Para o diagnóstico de acidente crotálico, os dados obtidos na anamnese e os sinais clínicos 
(com alteração neurológica) e laboratoriais encontrados normalmente são suficientes.9
A detecção de rabdomiólise, com alterações das enzimas CK, LDH e AST, e a presença 
de sangue incoagulável no TC são bons indicadores de acidente crotálico.4
Na investigação de acidente crotálico, a confirmação laboratorial, usando antígenos de veneno 
crotálico, pode ser realizada por Elisa ou outros testes de imunodiagnóstico.1,10
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Tratamento
Em caso de acidente crotálico, o ponto crucial do tratamento é a soroterapia heteróloga, com soro 
anticrotálico ou soro antibotrópico-crotálico. 
Com a soroterapia, no mínimo 50mg de veneno crotálico devem ser neutralizados. É 
importante aplicar a dose por via IV, o mais precocemente possível. Quando o soro é 
administrado até 6 horas após o acidente, a terapia é mais efetiva.
Ao observar depressão neurológica ou incoagulabilidade sanguínea após 12 horas da 
primeira administração, está indicada a repetição de 50% da dose de soro administrado.2,4,9
Tratamentos auxiliares e de suporte devem ser instituídos, para que a recuperação do paciente 
acometido pelo acidente crotálico seja completa, com menos riscos de complicações.1,2 É importante 
monitorar a produção urinária e a coloração da urina. Se necessário, pode-se usar furosemida ou 
manitol, além da fluidoterapia. 
Em acidentes crotálicos, é preciso administrar fluidoterapia desde o início do atendimento, 
com cristaloide ringer lactato ou solução fisiológica adicionada de bicarbonato de sódio. A 
alcalinização da urina diminui a precipitação de mioglobina nos túbulos renais, reduzindo 
a injúria renal.2,6 
É necessário avaliar e instituir, conforme a necessidade, os seguintes fatores:2,7,11 
 ■ uso de colírio (para evitar o ressecamento da córnea); 
 ■ suporte ventilatório com oxigênio (O2); 
 ■ nutrição enteral ou parenteral. 
Em decorrência dos quadros de anorexia, dificuldade de mastigação, paralisia dos músculos faciais e 
depressão grave, há necessidade de nutrição parenteral ou enteral, além do fornecimento constante 
de água em pequenas quantidades, para evitar o ressecamento da mucosa oral.2,7,11 A analgesia 
com opioides é importante para o alívio da mialgia.1
Prognóstico
O prognóstico do acidente crotálico varia de acordo com a quantidade de veneno injetada, o 
tamanho do animal afetado e a precocidade do tratamento. Ele será favorável se a soroterapia 
for realizada adequadamente nas primeiras 6 horas de evolução do quadro. Por outro lado, será 
reservado caso a IRA se instale.1,10,11
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ACIDENTES LAQUÉTICOS
Acidentes por serpentes do gênero Lachesis (surucucus) são raros em Medicina Veterinária.2,4 
Lachesis spp. são serpentes grandes, que vivem em regiões de bacia amazônica e em algumas 
áreas de mata atlântica.4 
Sinais clínicos
Os acidentes por serpentes do gênero Lachesis apresentam um quadro clínico semelhante ao acidente 
botrópico. As reações locais são bastante intensas, acrescidas de sinais clínicos de estimulação 
vagal e sistema nervoso autônomo parassimpático (SNAP), como hipotensão, bradicardia e sinais 
gastrintestinais (êmese, diarreia e dor abdominal).4 
Tratamento
O tratamento do acidente laquético envolve a soroterapia específica, com soro antilaquético, 
antilaquético-botrópico ou polivalente (antibotrópico-crotálico e laquético).2,4 
No tratamento do acidente laquético, o volume de soro deve ser suficiente para neutralizar 
de 250 a 400mg de veneno.2,4
Recomenda-se a atropinização, para minimizar os efeitos clínicos do SNAP.2,4
ACIDENTES ELAPÍDICOS
Assim como os acidentes por serpentes do gênero Lachesis (surucucus), aqueles ocasionados 
por serpentes do gênero Micrurus (corais-verdadeiras) não são comuns na Medicina Veterinária.2,4
As serpentes do gênero Micrurus são conhecidas como “cobras corais” ou “corais-verdadeiras”. 
Elas possuem as seguintes características:2,12
 ■ pertencem à família Elapidae; 
 ■ estão distribuídas amplamente no mundo e no Brasil; 
 ■ apresentam dentição proteróglifa; 
 ■ não têm fosseta loreal; 
 ■ têm coloração variada, com anéis pretos, vermelhos, amarelos e brancos. 
Ação do veneno
O veneno elapídico possui ação neurotóxica grave. Neurotoxinas pós-sinápticas bloqueiam os 
receptores nicotínicos da ACh, causando paralisia muscular flácida potente, depressão do SNC, 
instabilidade vasomotora, hemólise e mialgia.4,2
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Se o acidentado por veneno elapídico não for tratado rapidamente, ele pode vir a óbito 
em poucas horas, em razão da falência respiratória por paralisia muscular.4,12
Sinais clínicos
Gatos e cães podem ser envenenados por cobras corais, apresentando os seguintes sinais:12
 ■ quadriplegia aguda; 
 ■ hipotermia; 
 ■ vocalização; 
 ■ depressão do SNC; 
 ■ perda de reflexos;
 ■ hemólise;
 ■ dor muscular;
 ■ dificuldade respiratória devido à paralisia muscular.
Tratamento
O soro antielapídico é de difícil obtenção para pacientes veterinários. Medicamentos anticolinesterásicos, 
como fisostigmina, com prévia atropinização, são recomendados para melhorar o quadro de paralisia, 
porém devem ser utilizados com cautela.2,4 
Indica-se a atropinização para prevenir efeitos muscarínicos indesejáveis, como 
hipersecreção brônquica e bradicardia.4
REAÇÕES À SOROTERAPIA 
Pacientes submetidos à soroterapia podem manifestar reações adversas variadas, iniciando com 
urticária, prurido, tremores musculares, dispneia, tosse e náuseas. Podem evoluir para choque 
anafilático, devido à hipotensão, com comprometimento da perfusão tecidual. Assim, é possível 
que apresentem taquicardia, edema de órgãos, CID, hipotermia e falência múltipla de órgãos.4,10 
As reações precocesà soroterapia geralmente ocorrem durante a infusão do soro 
ou nas 2 horas subsequentes.1
LEMBRAR
O soro é constituído de proteínas e imunoglobulinas heterólogas (produzidas em equinos), o que 
favorece o aparecimento das reações. A qualidade do antiveneno, a dose, a velocidade de infusão 
e a via de administração também interferem na incidência de reações.1,4
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Tratamento
O tratamento das reações precoces à soroterapia envolve os procedimentos normalmente 
recomendados para a anafilaxia:1,2,4
 ■ suspensão da administração do soro;
 ■ aplicação de adrenalina (solução 1:1.000), na dose de 0,1 a 0,5mL, por via IV;
 ■ administração de hidrocortisona, na dose de 50mg/kg, por via IV;
 ■ administração de prometazina, na dose de 0,2 a 1,0mg/kg, por via subcutânea (SC);
 ■ administração de ranitidina; na dose de 2 mg/Kg, por via IV ou SC;
 ■ expansão da volemia, com solução hidroeletrolítica balanceada, como ringer lactato.
Em casos de dispneia e insuficiência respiratória, é necessário entubar o paciente, realizar 
oxigenoterapia e administrar aminofilina, na dose de 10mg/kg, por via IV.2,4
ATIVIDADES
6. Sobre o ofidismo em animais domésticos, é correto afirmar que:
A) os acidentes por serpentes do gênero Bothrops (jararacas) são os mais comuns na 
Medicina Veterinária, tendo um maior índice de mortalidade em comparação aos 
acidentes por outros gêneros de importância médica.
B) os acidentes por serpentes do gênero Lachesis (surucurus) ocorrem nas regiões Sul e 
Sudeste do Brasil, e seu quadro clínico é muito semelhante ao dos acidentes botrópicos.
C) os acidentes por corais-verdadeiras (Micrurus spp.) são bastante comuns em áreas 
úmidas e podem acometer cães e gatos.
D) os acidentes crotálicos (por cascavéis) estão em segundo lugar em incidência de 
ofidismo em animais domésticos, porém são os casos em que ocorre maior mortalidade.
Resposta no final do artigo
7. Descreva a ação nefrotóxica do veneno crotálico e cite os fatores que contribuem 
para instalação da IRA.
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Resposta no final do artigo
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8. Observe as afirmativas sobre bons indicadores de acidente crotálico.
I — Detecção de rabdomiólise.
II — Intensas reações locais, com edema associado às hemorragias.
III — Alterações das enzimas CK, LDH e AST.
IV — Presença de sangue incoagulável no TC.
Quais estão corretas?
A) Apenas a I, a II e a III.
B) Apenas a I, a II e a IV.
C) Apenas a I, a III e a IV.
D) Apenas a II, a III e a IV.
Resposta no final do artigo
9. Sobre acidentes causados por serpentes do gênero Lachesis, assinale a alternativa 
correta.
A) A atropinização está contraindicada.
B) O volume de soro deve ser suficiente para neutralizar de 250 a 400mg de veneno.
C) As alterações locais são discretas.
D) As serpentes são pequenas e costumam viver em ambientes urbanos.
Resposta no final do artigo
10. Sobre as serpentes do gênero Micrurus, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) São da família Elapidae e conhecidas como “cobras corais” ou “corais-verdadeiras”, 
com distribuição mundial.
( ) Apresentam dentição proteróglifa, com uma presa móvel na porção anterior do 
maxilar superior, fosseta loreal e coloração viva, normalmente com anéis vermelhos, 
pretos, amarelos e brancos.
( ) Acidentes por elas são raros na medicina veterinária, porém, quando ocorrem, o 
quadro é bastante grave, muitas vezes fatal, e cães e gatos podem ser acometidos.
( ) Seu veneno tem ação neurotóxica grave, causando paralisia muscular, que pode 
levar a óbito por falência respiratória.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) F — V — V — V.
B) V — F — V — V.
C) V — V — F — V.
D) V — V — V — F.
Resposta no final do artigo
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11. Sobre o tratamento das reações à soroterapia, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) Em casos de dispneia e insuficiência respiratória, é necessário entubar o paciente, 
realizar oxigenoterapia e administrar aminofilina.
( ) Deve-se administrar hidrocortisona, na dose de 50mg/kg.
( ) Deve-se manter a administração do soro, a menos que o paciente demonstre sinais 
de evolução para choque.
( ) Deve-se aplicar adrenalina, por via SC.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) V — V — F — F.
B) V — F — F — V.
C) F — F — V — V.
D) F — V — V — F.
Resposta no final do artigo
 ■ ESCORPIONISMO
Acidentes por escorpiões ocorrem no mundo todo, especialmente em países tropicais e subtropicais, 
onde a população escorpiônica tem maior densidade.2,13 São muito relatados em humanos, 
ocasionando óbitos principalmente em crianças.14 Existem poucos dados experimentais e relatos 
clínicos a respeito em Medicina Veterinária.4 
Os escorpiões apresentam as seguintes características:1,14 
 ■ pertencem à classe Arachnida; 
 ■ são carnívoros de hábitos noturnos; 
 ■ não são agressivos, mas picam quando se sentem ameaçados; 
 ■ são encontrados em lugares como: 
 • madeira; 
 • pilhas de tijolos; 
 • fendas em paredes; 
 • porões; 
 • roupas e sapatos (onde ficam escondidos); 
 ■ possuem glândulas de veneno situadas no último segmento da cauda, o télson, que termina em 
um aguilhão por onde a peçonha é inoculada.2
No Brasil, os acidentes envolvendo escorpiões ocorrem com espécies do gênero Tityus. As três 
espécies mais comuns são as seguintes:1,4
 ■ T. serrulatus (escorpião-amarelo);
 ■ T. bahiensis (escorpião-marrom);
 ■ T. stigmurus (escorpião-do-nordeste).
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O escorpião-amarelo (T. serrulatus) é o mais importante em relação à incidência e à gravidade dos 
quadros clínicos; ele é de 2 a 3 vezes mais tóxico do que o escorpião-marrom (T. bahiensis).4,13 
Essa espécie se reproduz por partenogênese, o que tem expandido a sua distribuição geográfica.4,11
AÇÃO DO VENENO
O veneno escorpiônico é uma mistura complexa de proteínas, aminoácidos e sais, que apresenta 
uma fração tóxica conhecida como tityustoxina.2,4,14 
Tityustoxina é uma neurotoxina que atua nos canais de sódio e despolariza membranas 
nas terminações nervosas periféricas, estimulando o sistema nervoso autônomo simpático 
(SNAS) e o SNAP, com liberação maciça de catecolaminas e AChs pós-ganglionares.2,4,14 
Além da tityustoxina, encontram-se, no veneno escorpiônico, substâncias como:13 
 ■ outras neurotoxinas (que atuam nos canais de potássio);
 ■ agentes hipotensivos (hipotensina); 
 ■ peptídeos antimicrobiais; 
 ■ proteinases (metaloproteinases); 
 ■ enzimas (fosfolipase e hialuronidase). 
Sabe-se que a dosagem letal de veneno escorpiônico em cães é de 0,1 a 0,5mg/kg 
de veneno inoculado.14
LEMBRAR
SINAIS CLÍNICOS
As intoxicações por escorpião podem ser leves, moderadas ou severas.13 Em casos leves, observam-se 
apenas manifestações locais e alguns sinais sistêmicos. Em casos graves, ocorrem manifestações 
locais e sistêmicas, envolvendo quase todos os órgãos.14O principal sinal clínico de escorpionismo observado em animais e em indivíduos adultos é 
a dor local, geralmente intensa, que se irradia pelo membro afetado logo após o acidente. 
O ponto da picada é de difícil localização.11
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Casos graves de acidentes escorpiônicos acometem animais de porte pequeno e filhotes, assim 
como crianças, com os seguintes sinais:2,4
 ■ êmese; 
 ■ hipermotilidade gastrintestinal: 
 • sialorreia; 
 • dor abdominal; 
 • náusea; 
 • vômito; 
 • diarreia (podendo levar à desidratação); 
 ■ miose; 
 ■ piloereção; 
 ■ agitação; 
 ■ desorientação; 
 ■ hiperatividade; 
 ■ taquipneia; 
 ■ taqui ou bradicardia; 
 ■ hipo ou hipertensão; 
 ■ edema pulmonar; 
 ■ choque; 
 ■ convulsões; 
 ■ arritmias:
 • complexo ventricular prematuro (em inglês, ventricular premature complexe [VPC]); 
 • depressão do segmento ST; 
 • bloqueio atrioventricular.
A deterioração da função cardíaca, conhecida como “cardiomiopatia escorpiônica”, é descrita em 
humanos e se deve à liberação maciça de catecolaminas.2 Os efeitos cardiovasculares, como falência 
cardíaca e edema pulmonar, presentes no acidente escorpiônico grave, têm sido alvo de estudos. 
Essas alterações são responsáveis, na maioria das vezes, pela morte dos animais envenenados.4
DIAGNÓSTICO
Na investigação do acidente escorpiônico, as alterações laboratoriais normalmente encontradas 
são apresentadas no Quadro 3.
Quadro 3
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS EM CASOS DE ACIDENTES ESCORPIÔNICOS
Hemograma de estresse
Aumento da AST*
Aumento da LDH*
Aumento da CK*
Elevação da CK-MB**
Elevação da TnIc**
* Estão associados à mioglobinúria, indicando a ação cardiotóxica do veneno.
** Possuem especificidade para a musculatura cardíaca, indicando lesão de miocárdio
AST: aspartato aminotransferase; LDH: lactato desidrogenase; CK: creatina quinase; CK-MB: fração MB da CK; TnIc: 
troponina I cardíaca.
Fonte: Adaptado de Melchert e colaboradores (2011);2 Cardoso e colaboradores (2004).14
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TRATAMENTO
O tratamento preconizado para acidentes escorpiônicos graves, com alterações sistêmicas, inclui 
o uso do soro antiaracnídico ou antiescorpiônico, principalmente em crianças. Porém, não há 
disponibilidade para fins veterinários, restando apenas o tratamento sintomático e de suporte para 
animais afetados.1,2,11 Assim, a terapia deve visar ao alívio dos sinais clínicos, ao suporte e à 
preservação das funções vitais, controlando e combatendo os sinais do envenenamento. 
A analgesia é um ponto fundamental do tratamento de acidentados por escorpiões. 
Analgésicos sistêmicos devem ser utilizados, associando-se dipirona com opioides. 
Além disso, é importante o bloqueio anestésico local com lidocaína ou bupivacaína sem 
vasoconstrictor. Isso pode ser repetido até três vezes, com intervalos de 30 minutos.2
No tratamento de acidentes escorpiônicos, anticonvulsivantes (diazepam), antieméticos e corticoides 
podem ser utilizados, de acordo com a necessidade. 
A prazosina é indicada por ser um antagonista α1 e diminuir a resistência vascular. Ela 
melhora o retorno venoso sem resultar em taquicardia reflexa, pois não bloqueia os 
receptores α2. É considerada um “antídoto farmacológico” em intoxicação escorpiônica.2,4 
Deve-se monitorar continuamente o traçado eletrocardiográfico do animal acidentado, para a 
detecção precoce de arritmias. Além disso, é importante realizar de perto o acompanhamento 
clínico nas primeiras 24 horas, período em que as complicações podem aparecer.1,11 
É recomendado manter o animal em observação de 4 a 6 horas após o acidente escorpiônico, 
mesmo se sinais sistêmicos não forem apresentados inicialmente.1,4 Indica-se a fluidoterapia para 
a manutenção do equilíbrio eletrolítico e acidobásico.11
PROGNÓSTICO
O prognóstico do escorpionismo quase sempre é bom, exceto nos casos de intoxicação grave, que 
ocorrem normalmente em filhotes.2
ATIVIDADES
12. Sobre o mecanismo de ação do veneno escorpiônico, é correto afirmar que:
A) a tityustoxina é uma substância neurotóxica que atua nos canais de sódio, promovendo 
a despolarização das membranas nas terminações nervosas sinápticas.
B) a tityustoxina é uma substância neurotóxica pré-sináptica com ação periférica em 
placa motora.
C) o veneno causa dor intensa no local da picada, que irradia para o membro afetado 
devido à isquemia, levando à necrose em alguns dias.
D) o veneno é tóxico para o SNC e cardiotóxico, com efeitos inotrópicos e cronotrópicos 
negativos.
Resposta no final do artigo
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13. Sobre o escorpionismo, assinale a alternativa correta.
A) O escorpião-marrom é o mais importante no que diz respeito à incidência e à gravidade 
do caso clínico.
B) O principal sinal clínico observado em animais e em indivíduos adultos é a arritmia, 
presente quadros leves, moderados e graves.
C) Na investigação destes acidentes, observa-se hipoglicemia.
D) Em casos graves, ocorrem manifestações locais e sistêmicas, envolvendo quase 
todos os órgãos.
Resposta no final do artigo
14. Sobre a conduta terapêutica em um caso de acidente por escorpião em um paciente 
canino, é correto afirmar que:
A) os sinais sistêmicos são comumente observados quando o soro específico não é 
administrado nas primeiras 2 horas após o acidente.
B) o ponto crucial do tratamento é o uso do soro antiescorpiônico ou antiaracnídico, que 
deve sempre ser administrado por via IV, lentamente.
C) a analgesia é fundamental e deve ser feita de forma sistêmica, com o uso de opioides 
e dipirona, além do bloqueio anestésico local.
D) devem ser utilizados fármacos antagonistas colinérgicos, devido à intensa liberação 
de ACh, para bloquear os efeitos parassimpatomiméticos da intoxicação.
Resposta no final do artigo
 ■ ARANEÍSMO
As aranhas de interesse médico veterinário pertencem aos gêneros Loxosceles (aranhas-marrons) e 
Phoneutria (aranhas-armadeiras). Relatos de acidentes por esses aracnídeos são poucos frequentes. 
Eles ocorrem principalmente em cães, sendo raríssimos em gatos.1,2,15 
Em humanos, o gênero Latrodectus (viúvas-negras) é importante na incidência de acidentes, 
principalmente na região Norte. Apresenta picada dolorosa, com quadro clínico neurológico de 
moderado a grave, prognóstico reservado e necessidade de uso do antiveneno para tratamento.1,13 
Aranhas-caranguejeiras, da subordem Mygalomorphae, não possuem veneno capaz de causar 
um quadro de envenenamento, de modo que não são de importância médica. Apesar disso, elas 
merecem destaque, pois o contato com essas aranhas provoca irritação mecânica da pele e das 
mucosas. Isso se deve à liberação de pelos urticantes como modo de defesa.15
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ACIDENTES LOXOSCÉLICOS
Aranhas Loxosceles spp. apresentam as seguintes características:1 
 ■ são pequenas (seu corpo tem aproximadamente 1cm) e têm pernas longas (3cm); 
 ■ são pouco agressivas, picando somente quando comprimidas; 
 ■ são encontradas no interior de casas, em roupas e armários; 
 ■ provocam acidentes graves em pessoas e animais;
 ■ são muito comuns nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, locais onde se concentra a maioria dos 
acidentes.
Curitiba e as cidades nos arredores têm endemia em relação ao loxoscelismo.1
Ação do veneno e sinais clínicos
O veneno loxoscélico tem ação necrosante e hemolítica, com atividade proteolítica de 
grande importância toxicológica. Possui esfingomielinaseD e hialuronidase, que levam 
a um quadro de dermonecrose em áreas extensas ao redor da picada.2,13,15 
A picada das aranhas Loxosceles spp. é indolor. Com o passar do tempo, surge localmente um 
edema discreto e se instala um halo de necrose, o qual se inicia com eritema, prurido, hemorragia 
bolhosa focal e área de isquemia (Figuras 2A–B e 3A).1,15 A cicatrização da lesão é difícil, podendo 
levar de semanas a meses (Figura 3B), devido à ulceração local profunda.1,4
A B
Figura 2 — Acidente loxoscélico na extremidade do membro posterior direito de um cão da raça Dogue 
Alemão, com 1 ano e 6 meses de idade. A) Edema, eritema e início de área de necrose no dia do 
atendimento, observado após tricotomia. B) Estabelecimento da área de necrose, 5 dias após a picada.
Fonte: Cedida pelo Setor de Cirurgia de Pequenos Animais da Unesp.
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Figura 3 — Acidente loxoscélico na região peitoral de um cão da raça Lhasa Apso, com extensa 
área afetada. A) Dermonecrose removida por debridagem cirúrgica, 5 dias após o acidente. B) 
Cicatrização completa após 30 dias de evolução. 
Fonte: Cedida pelo Setor de Cirurgia de Pequenos Animais da Unesp.
Em uma pequena porcentagem de casos (aproximadamente 15%), a esfingomielinase D atua 
de forma sistêmica sobre a membrana das células endoteliais, hemácias e plaquetas, levando à 
ruptura dessas estruturas e causando um quadro clínico cutâneo-visceral. Assim, além das lesões 
locais de dermonecrose, o paciente apresenta anemia, hemólise, icterícia e hemoglobinúria, 24 
a 48 horas após o acidente. Pode, inclusive, ocorrer IRA.1,2,15 A IRA tem causa multifatorial, como 
hipoperfusão, hemoglobinúria e CID.1 
Feridas extensas de difícil cicatrização, cicatrizes exuberantes, infecção bacteriana 
secundária e IRA são as principais complicações do loxoscelismo.
LEMBRAR
Diagnóstico
Em acidentes loxoscélicos que resultam em IRA, as principais alterações laboratoriais são apresentadas 
no Quadro 4. 
Quadro 4
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS EM CASOS DE ACIDENTES LOXOSCÉLICOS
Aumento da ureia
Aumento da creatinina
Aumento do potássio
Urina bastante escurecida*
Leucocitose
Trombocitopenia
Anemia hemolítica
*Devido à hemoglobinúria.
Fonte: Adaptado de Sakate e colaboradores (2014);1 Tambourgi e colaboradores (2010).16
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O diagnóstico do loxoscelismo comumente é clínico; não há dados laboratoriais 
patognomônicos nesse caso.1
Tratamento
O soro específico para o tratamento do loxoscelismo (soro antiloxoscélico) não está disponível para 
uso médico-veterinário, apenas para humanos.1,15 
No tratamento do loxoscelismo, deve-se realizar a terapia de suporte, com corticoides, 
para prevenir a hemólise nos primeiros dias, pois esses medicamentos protegem a 
membrana dos eritrócitos.1,15 
Pode-se utilizar antibioticoterapia sistêmica de amplo espectro (como cefalexina), para prevenir a 
infecção bacteriana da pele.1,15 
Caso se observe hemoglobinúria, estão indicadas a fluidoterapia com ringer lactato e 
a alcalinização adicional com bicarbonato de sódio (2 a 4mEq/kg). Esse procedimento 
diminui a precipitação de hemoglobina nos túbulos renais.1,15 
Pode ser preciso realizar transfusão sanguínea em caso de acidente loxoscélico. Localmente, 
recomendam-se compressas frias e uso de antissépticos. A analgesia e a debridagem cirúrgica da 
área de necrose podem ser necessárias após a instalação da lesão de pele.1,15 
Deve-se evitar o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), e não se recomenda 
suturar a área afetada. A cicatrização deve ocorrer por segunda intenção.1,15
Novas terapias vêm sendo propostas para casos de loxoscelismo na medicina humana, como o uso de 
inibidores da ação do complemento e da adamalisina para o tratamento da hemólise e a administração de 
tetraciclina para o tratamento no local afetado. Porém, existe a necessidade de mais estudos a respeito.16
ACIDENTES FONÊUTRICOS
As aranhas do gênero Phoneutria são conhecidas como “aranhas-armadeiras” ou “aranhas-das-
bananas”. Elas possuem as seguintes características:4,13
 ■ são agressivas; 
 ■ são encontradas, com frequência, nos seguintes locais: 
 • em bananeiras; 
 • em palmeiras; 
 • em bromélias; 
 • sob troncos; 
 • dentro das casas; 
 ■ saltam até 40cm para atacar; 
 ■ armam o bote quando ameaçadas, ficando em posição de ataque; 
 ■ estão distribuídas basicamente na América do Sul; 
 ■ são as aranhas que mais causam acidentes no Brasil.
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As aranhas do gênero Phoneutria são maiores do que as Loxosceles. Normalmente, elas são 
confundidas com as caranguejeiras, que não possuem veneno, ou com as aranhas do gênero 
Lycosa (conhecidas com “aranhas-de-jardim”).15
Ação do veneno e sinais clínicos
O veneno das aranhas do gênero Phoneutria possui um efeito neurotóxico periférico. Ele 
atua ativando os canais de sódio, responsáveis pela despolarização das membranas. 
Isso favorece a liberação de neurotransmissores, a contração muscular e a ativação do 
sistema nervoso,15 causando dor local intensa e de instalação imediata, edema, eritema 
e parestesia no ponto de inoculação.
Em casos mais graves de foneutrismo, normalmente em filhotes, podem estar presentes os 
seguintes sinais:2 
 ■ hipotensão; 
 ■ bradicardia; 
 ■ êmese; 
 ■ sudorese; 
 ■ efeito cardiotóxico: 
 • diminuição da força de contração e da frequência cardíaca (FC); 
 • presença de arritmias; 
 • edema pulmonar. 
O quadro clínico do foneutrismo é muito semelhante ao de acidentes por escorpiões. É 
difícil diferenciar os casos quando o proprietário não encontra o causador do acidente 
no ambiente em que o animal estava quando foi picado.1,4
Tratamento
O tratamento de acidentados por aranhas do gênero Phoneutria deve envolver a infiltração 
local ou troncular de lidocaína ou bupivacaína sem vasoconstrictor, AINEs, compressas 
mornas e opioides, conforme a necessidade. É muito parecido com o tratamento 
recomendado para acidentes por escorpiões.1,2,15 
Deve-se observar o animal por ao menos 6 horas em casos leves e por 24 horas ou mais em casos 
mais graves. O soro antiaracnídico ou escorpiônico, não disponível para pacientes veterinários, é usado 
somente em casos graves na medicina humana (aproximadamente 3,3% das ocorrências atendidas).1,2,15
Dificilmente o quadro de foneutrismo evolui para grandes complicações ou morte do animal. Na Medicina 
Veterinária, os acidentes leves são mais frequentes.2 Casos graves podem ocorrer em filhotes e 
demandam internamento e terapia intensiva, com monitoramento cardiorrespiratório e hemodinâmico.1
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ATIVIDADES
15. Sobre as aranhas, assinale a alternativa correta.
A) Aquelas de importância na Medicina Veterinária, cujo veneno é capaz de causar 
intoxicação em cães e gatos, são as Loxosceles spp. (aranhas-marrons), as do 
gênero Phoneutria (aranhas-armadeiras) e as da subordem Mygalomorphae (aranhas-
caranguejeiras).
B) Loxosceles spp. são pequenas e pouco agressivas, apresentando uma picada pouco 
dolorosa, com veneno capaz de causar uma importante área de necrose local.
C) A IRA ocorre nos casos de acidentes por aranhas-armadeiras (Phoneutria spp.) e 
tem causa multifatorial, como hipoperfusão, hemoglobinúria e CID.
D) O soro antiaracnídico só deve ser usado em acidentes por Phoneutria spp., em 
animais gravemente afetados, que apresentem sinais sistêmicos como hipotensão, 
bradicardia earritmias.
Resposta no final do artigo
16. Sobre o veneno das aranhas do gênero Loxosceles (aranhas-marrons), assinale a 
alternativa correta.
A) Possui ação hemolítica e necrosante.
B) Possui ação neurotóxica e nefrotóxica.
C) Possui ação necrosante e neurotóxica.
D) Possui ação vasculotóxica e cardiotóxica.
Resposta no final do artigo
17. No tratamento de um cão que sofreu um acidente loxoscélico, deve-se:
A) utilizar o soro antiloxoscélico.
B) administrar AINEs.
C) realizar a terapia de suporte, com corticoides.
D) suturar a área afetada.
Resposta no final do artigo
18. Sobre as aranhas do gênero Phoneutria, assinale a alternativa correta.
A) Incluem as viúvas-negras.
B) São pouco agressivas, picando somente quando comprimidas.
C) São menores que as Loxosceles.
D) São as aranhas que mais ocasionam acidentes no Brasil.
Resposta no final do artigo
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 ■ ACIDENTES POR ABELHAS
Acidentes por picadas de abelhas (Apis mellifera) acontecem com frequência em humanos e 
animais domésticos. Casos envolvendo múltiplas picadas são sérios e, muitas vezes, fatais, devido 
à intensa reação tóxica e alérgica que o veneno causa. Essas situações ocorrem principalmente 
com as abelhas africanizadas, que têm um comportamento mais agressivo.4,17
AÇÃO DO VENENO
O veneno das abelhas constitui uma mistura complexa de aminas biogênicas, peptídeos 
e proteínas. Destaca-se a melitina, um peptídeo que perfaz 50% do veneno, capaz de 
destruir membranas biológicas.2,4 
A melitina apresenta propriedades hemolítica, citotóxica e cardiotóxica. Ela é responsável pela maioria 
dos efeitos lesivos decorrentes dos acidentes por abelhas.2,4 Estão presentes, ainda, a fosfolipase 
A2 e a hialuronidase, além da fosfatase ácida, com atividade alergênica moderada. A histamina e 
o fator degranulador de mastócitos também compõem o veneno. A apamina é outra substância 
presente, com ação neurotóxica, que pode levar a convulsões, hiperatividade e espasmos musculares.2,4 
A fosfolipase A2 é um dos principais componentes imunogênicos do veneno das abelhas. 
Ela hidrolisa os fosfolipídeos presentes nas membranas plasmáticas, causando lise 
celular e agindo sinergicamente com a melitina.2,4
LEMBRAR
SINAIS CLÍNICOS
Em acidentes com uma ou poucas picadas de abelhas, observa-se uma reação inflamatória local, 
com dor, prurido, eritema, angioedema e urticária. Em pacientes sensíveis, pode ocorrer um quadro 
de reação de hipersensibilidade tipo I ou choque anafilático, com as seguintes manifestações:2,17 
 ■ edema de laringe; 
 ■ dispneia; 
 ■ taquicardias; 
 ■ convulsões; 
 ■ síncope; 
 ■ hipotensão. 
Os locais mais comumente atacados em cães são as regiões nasal, oral e ocular.2,17
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A ação tóxica por múltiplas picadas de abelhas é um quadro grave, no qual o animal acometido 
apresenta muitos ferrões pelo corpo (Figuras 4A–B). A intoxicação independe da hipersensibilidade, 
pois o animal é exposto a altas doses de veneno.1,2,4 
Cores escuras estimulam o ataque de abelhas mais prontamente do que cores claras. 
LEMBRAR
A B
Figura 4 — Animal da espécie canina apresentando múltiplos ferrões na face interna do pavilhão auricular (A) e na região 
abdominal (B) após ataque por um enxame de abelhas (Apis mellifera).
Fonte: Cedida por Michiko Sakate, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp.
Em casos graves de acidentes por abelhas, os sinais se desenvolvem com rapidez e podem abranger:1,2,4 
 ■ depressão; 
 ■ febre; 
 ■ ataxia; 
 ■ agitação; 
 ■ náusea; 
 ■ êmese; 
 ■ hipotensão; 
 ■ fraqueza; 
 ■ torpor; 
 ■ taquicardia; 
 ■ taquipneia; 
 ■ edema pulmonar; 
 ■ mialgia generalizada; 
 ■ incoordenação; 
 ■ tremores; 
 ■ espasmos; 
 ■ nistagmo; 
 ■ convulsões; 
 ■ coma; 
 ■ hematúria; 
 ■ hemoglobinúria; 
 ■ IRA; 
 ■ rabdomiólise.
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O quadro pode evoluir para óbito rapidamente, devido à cardiotoxicidade.1,2,4
Em um estudo sobre óbitos de cães por picadas de abelhas, observou-se, que após serem atacados 
por enxames, todos os cães demonstraram sinais clínicos sugestivos de crise hemolítica intravascular, 
decorrente da lesão da membrana do eritrócito, uma das principais complicações desses acidentes.2
DIAGNÓSTICO
Em acidentes por abelhas, as principais alterações laboratoriais esperadas são as descritas no 
Quadro 5. 
Quadro 5
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS EM CASOS DE ACIDENTES POR ABELHAS
Diminuição de hematócrito
Diminuição de hemácias
Diminuição de plaquetas
Esferocitose
Leucocitose por neutrofilia, com desvio à esquerda
Hemoglobinúria
Proteinúria
Bilirrubinúria
Presença de hemácias, leucócitos e cilindros granulares na urina
Aumento do TTPA
Aumento do TP
Hiperbilirrubinemia (total e direta)
Elevação da CK
Elevação da ALT
Elevação da FA
Acidose metabólica
TTPA: tempo de tromboplastina parcial ativada; TP: tempo de protrombina; CK: creatina quinase; ALT: alanina aminotransferase; 
FA: fosfatase alcalina.
Fonte: Adaptado de Melchert e colaboradores (2011).2
O diagnóstico do acidente por abelhas geralmente se baseia na presença de ferrões, 
nos sinais clínicos e nos achados laboratoriais. Deve-se fazer o diagnóstico diferencial 
em relação a outras reações alérgicas ou anafiláticas.2,17
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TRATAMENTO
Para os acidentes com uma única picada de abelha, sem complicações, aplicação de gelo, compressas 
frias e uso de anti-histamínicos podem ser suficientes para deter o edema e aliviar o desconforto.1
Para os animais que receberam múltiplas picadas de abelhas, o tratamento é de 
suporte. Deve-se monitorar constantemente os parâmetros vitais, mantendo o paciente 
em terapia intensiva.1,2,4,17 
É importante assegurar as vias aéreas e ventilar o paciente, se necessário. Assim que possível, 
logo nos procedimentos de emergência, recomendam-se os seguintes procedimentos, para manter 
a volemia e a pressão arterial (PA) e evitar a instalação de problemas renais graves:1,2,4,17
 ■ sedação com benzodiazepínico; 
 ■ administração de adrenalina (1:1.000, por via SC, na dose de 0,01mg/kg); 
 ■ uso de anti-histamínicos H1 (prometazina) e H2 (ranitidina); 
 ■ administração de hidrocortisona, em dose de choque, IV; 
 ■ instituição de fluidoterapia com cristaloides isotônicos. 
É necessário instituir antibioticoterapia sistêmica e retirar os ferrões com uma pinça rente 
à pele ou com a raspagem do pelo, para impedir a inoculação adicional de veneno, uma 
vez que dois terços do veneno ficam no ferrão. A contagem dos ferrões removidos pode 
auxiliar na determinação da morbidade do quadro.1,2,4,17
PROGNÓSTICO
O prognóstico dos acidentes por abelhas está relacionado com a quantidade de picadas e o 
tamanho do animal. 
Animais que recebem menos de 14 picadas/kg costumam sobreviver; aqueles que 
recebem mais de 24 picadas/kg geralmente vêm a óbito.2,4
LEMBRAR
Um soro antiapílico (apícula) está sendo desenvolvido por meio de uma parceria entre o Instituto 
Vital Brazil (IVB) e o Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap). Ele está em 
fase de testes para uso em humanos.
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ATIVIDADES
19. Qual substância do veneno das abelhas é a principal responsável pelos efeitos 
oriundos desses acidentes?
A) Histamina.
B) Apamina.
C) Melitina.
D) Hialuronidase.
Resposta nofinal do artigo
20. Cite cinco sinais observados em casos graves de acidentes por abelhas.
 ...........................................................................................................................................
 ...........................................................................................................................................
 ...........................................................................................................................................
 ...........................................................................................................................................
Resposta no final do artigo
21. Observe as afirmativas sobre o tratamento de acidentes por picadas de abelhas.
I — Deve-se evitar tirar os ferrões nas primeiras horas após o acidente, para que o 
animal não sinta mais desconforto.
II — Quando não há complicações, aplicação de gelo, compressas frias e uso de anti-
histamínicos podem bastar para deter o edema.
III — Em casos de múltiplas picadas, ainda nos procedimentos de emergência, deve-se 
instituir fluidoterapia com cristaloides isotônicos.
Qual(is) está(ão) correta(s)?
A) Apenas a I.
B) Apenas a III.
C) Apenas a I e a II.
D) Apenas a II e a III.
Resposta no final do artigo
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 ■ ACIDENTES POR SAPOS
Os sapos são anfíbios pertencentes ao gênero Rhinella (antigo Bufo). Apesar de não serem animais 
peçonhentos (não apresentam aparelho inoculador de veneno), possuem glândulas na superfície da 
pele que produzem veneno de alta toxicidade. Desse modo, são considerados animais venenosos.18 
O veneno dos sapos se localiza nas seguintes estruturas:19 
 ■ glândulas paratoides (Figura 5), bilaterais, na região pós-orbital (consistem nas principais glândulas, 
mais desenvolvidas, capazes de estocar uma grande quantidade de veneno); 
 ■ glândulas tibiais; 
 ■ glândulas menores espalhadas por toda a superfície corpórea. 
Figura 5 — Sapo da espécie Rhinella (Bufo) schneideri. Observar a glândula 
paratoide na região pós-orbital (seta).
Fonte: Roza e colaboradores (2013).11
A secreção tóxica é o mecanismo de defesa do sapo. Ela age como um repelente aos 
predadores e protege os anfíbios contra a proliferação de microrganismos na pele.18,19
Os sapos estão distribuídos mundialmente. Os acidentes ocorrem com mais frequência nas épocas 
de maior umidade e calor. Algumas espécies encontradas no Brasil são:18 
 ■ R. (B.) schneideri; 
 ■ R. icterica (B. ictericus); 
 ■ R. (B.) jimi; 
 ■ R. (B.) paracnemis; 
 ■ R. (B.) veredas; 
 ■ R. (B.) cerradensis; 
 ■ R. marina (B. marinus).
Cães normalmente se intoxicam ao abocanhar ou ingerir o sapo, que, ao se contrair, libera o veneno 
na boca do predador. Esses animais são as vítimas mais comuns desse tipo de envenenamento, pois 
são atraídos pelos movimentos lentos do anfíbio, que, além disso, entra na fonte de água ou come 
a ração canina. O veneno tem uma absorção muito rápida no trato gastrintestinal; ele é absorvido 
já na mucosa oral. Também penetra por ferimentos na pele e em mucosas.4,11
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AÇÃO DO VENENO
O veneno do sapo possui uma elevada toxicidade. Ele é dividido em dois grupos (Quadro 6). 
Quadro 6
GRUPOS DO VENENO DO SAPO
Composto por aminas biogênicas Composto por derivados esteroides
■■ Incluem adrenalina, noradrenalina, serotonina, 
bufoteninas e bufotioninas.
■■ Podem levar à taquicardia e à hipertensão. 
■■ A bufotenina e bufotionina agem no SNC, 
ocasionando efeitos alucinógenos.
■■ Incluem bufotoxinas e bufodienólides.
■■ Atuam semelhantemente aos digitálicos (ação 
digitálico-like). 
■■ Inibem a bomba de sódio–potássio–ATPase da 
musculatura cardíaca, aumentam o sódio intracelular 
e, consequentemente, acumulam cálcio no interior da 
célula, o que aumenta a força de contração cardíaca. 
■■ Reduzem a velocidade de condução do impulso 
elétrico do nodo sinusal para o atrioventricular, gerando 
disparos ectópicos ventriculares e arritmias.
SNC: sistema nervoso central.
Fonte: Adaptado de Sakate e colaboradores (2008);4 Gadelha e Soto-Blanco (2012);18 Camplesi e colaboradores (2010).19
SINAIS CLÍNICOS
O veneno de sapo afeta os sistemas gastrintestinal, cardíaco e neurológico.19 Os sinais clínicos 
surgem poucos minutos após o acidente e interferem no trato gastrintestinal, no coração e no 
sistema nervoso. Inicialmente, observam-se as seguintes manifestações:4,19 
 ■ vômito; 
 ■ intensa sialorreia (Figuras 6A–B); 
 ■ hiperemia na mucosa oral, que se apresenta na cor vermelho-tijolo; 
 ■ apatia; 
 ■ depressão. 
A B
Figura 6 — Cães intoxicados por veneno de sapo. A) Animal apresentando intensa sialorreia e midríase não responsiva. 
B) Animal apresentando êmese e salivação.
Fonte: Roza e colaboradores (2013).11
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Em casos mais graves de envenenamento por sapos, além das características acima citadas, os 
seguintes sinais podem ser observados:4,19 
 ■ micção e defecação espontânea; 
 ■ ataxia; 
 ■ caminhada em círculos; 
 ■ opistótono; 
 ■ midríase não responsiva à luz (Figura 6A); 
 ■ edema pulmonar; 
 ■ cianose; 
 ■ estupor; 
 ■ episódios convulsivos; 
 ■ óbito. 
Tanto bradi quanto taquiarritmias podem ser verificadas ao exame eletrocardiográfico. Em animais, 
as alterações mais encontradas são as de alta frequência, como os VPCs, a taquicardia ventricular 
multiforme e fibrilação ventricular.4,19 Em humanos, hipotensão, bradicardia e bradiarritmias são comumente 
descritas. Em pacientes veterinários, normalmente ocorrem hipertensão, taquicardia e taquiarritmias.19
DIAGNÓSTICO
Para o diagnóstico de envenenamento por sapo, utilizam-se os dados da anamnese, os 
sinais clínicos e o histórico da presença de sapo no ambiente. Pode haver o relato de 
contato do animal com o anfíbio.18 
A detecção das toxinas do veneno de sapo raramente é utilizada na clínica veterinária, mas pode 
servir para a confirmação diagnóstica. Como há reação cruzada entre bufotoxina e digoxina sérica 
dosada por imunofluorescência, é possível empregar essa técnica no auxílio ao diagnóstico definitivo 
de intoxicação por bufotoxina em pequenos animais. Existem outras técnicas analíticas para a 
detecção do veneno de sapo, como o método de Stas-Otto, que utiliza cromatografia em camada 
delgada (CCD), a cromatografia gasosa e a cromatografia líquida.18
TRATAMENTO
O envenenamento por sapo constitui uma emergência. Assim, deve-se iniciar o tratamento 
imediatamente. A primeira medida terapêutica é a lavagem abundante da cavidade oral 
do paciente com água, a fim de remover a toxina que ainda não foi absorvida.2,4,19 
Não se recomenda a indução da êmese, devido à ação corrosiva da toxina do veneno 
de sapo na mucosa gastrintestinal.2,4,19 
Recomendam-se a fluidoterapia com cristaloides e a lavagem gástrica com administração de carvão 
ativado, para evitar a absorção adicional de veneno, particularmente nos casos em que há a ingestão 
do sapo pelo paciente. Para tanto, o animal precisa ser anestesiado. Em seguida, coloca-se uma 
sonda traqueal com cuff inflado, para evitar a aspiração de conteúdo do procedimento.2,4,19
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O uso de atropina para controlar a salivação, que já foi recomendado por muitos autores, não é indicado, 
pois a sialorreia é uma forma de eliminação do veneno e diminuição da absorção da toxina pela 
mucosa oral. Assim, deve-se utilizara atropina para o tratamento de bradiarritmias, quando estiverem 
presentes. Caso ocorram taquiarritmias, recomenda-se o uso de propranolol, lidocaína ou verapamil.4,15
Diante de um paciente com suspeita de acidente por sapo, sempre se deve realizar um 
eletrocardiograma e acompanhar a evolução clínica por meio de exames eletrocardiográficos.4,15
Benzodiazepínicos podem ser utilizados para o controle das convulsões (diazepam, 0,5 
a 2,0mg/kg, por via IV). Caso não sejam suficientes, pode-se lançar mão de barbitúricos 
injetáveis, como o pentobarbital sódico.2,18 
Em acidentes por sapos, recomenda-se a corticoterapia, pois ela diminui não apenas o efeito nocivo 
da bufotoxina na mucosa oral e em outros órgãos, mas também o edema perivascular no cérebro 
de cães intoxicados. A antibioticoterapia sistêmica de amplo espectro é empregada por alguns 
veterinários para evitar complicações sépticas em pacientes com sinais clínicos de intoxicação 
grave; o enrofloxacino é uma boa opção.2,18
PROGNÓSTICO
O prognóstico do envenenamento por sapo é variável. Geralmente é bom, com baixa mortalidade, 
porém, algumas vezes, ocorre o óbito. Os fatores que interferem na gravidade do quadro clínico são:4,11,18 
 ■ a quantidade de veneno ingerida; 
 ■ o porte e a suscetibilidade do animal; 
 ■ a presença ou não de vômito e sialorreia, que servem de vias de eliminação do veneno.
ATIVIDADES
22. Sobre os sapos, assinale a alternativa correta.
A) São animais peçonhentos.
B) As glândulas tibiais são as mais desenvolvidas dentre aquelas que armazenam seu 
veneno, capazes de estocar uma grande quantidade da toxina.
C) Seu veneno tem uma absorção muito rápida no trato gastrintestinal; ele é absorvido 
já na mucosa oral.
D) O grupo do veneno composto por derivados esteroides inclui a bufotenina e bufotionina, 
que agem no SNC, ocasionando efeitos alucinógenos.
Resposta no final do artigo
23. Em cães, quais sistemas podem ser afetados em acidentes por veneno de sapo?
A) Neurológico, gastrintestinal e renal.
B) Neurológico, gastrintestinal e cardíaco.
C) Cardíaco, renal e neurológico.
D) Cardíaco, gastrintestinal e hepático.
Resposta no final do artigo
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24. Em um paciente da espécie canina, adulto, há suspeita de abocanhamento de um 
sapo há alguns minutos. O animal apresenta intensa sialorreia, hiperemia na mucosa 
oral, leve ataxia e taquicardia. Qual deve ser a conduta terapêutica diante desse caso?
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Resposta no final do artigo
25. O uso de atropina é recomendado para o tratamento de acidentes por veneno de 
sapo em cães? Justifique.
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Resposta no final do artigo
 ■ CASO CLÍNICO
Um veterinário que atua na região Sudeste atende um paciente da espécie canina, 
adulto, com suspeita de acidente ofídico. O cão apresenta edema na região da face, 
que se estende para a região submandibular, equimose, hemorragia nasal, taquicardia, 
taquipneia e dor no local afetado. 
O proprietário relata que reside em um condomínio próximo à área agrícola e que os 
moradores da região afirmam ter observado a presença de “cobras” no residencial. 
Segundo ele, o acidente ocorreu nas primeiras horas da manhã. Assim que observou o 
cão, o proprietário logo o encaminhou ao veterinário para atendimento. 
ATIVIDADES
26. Qual é o provável gênero da serpente que causou o acidente relatado no caso clínico? 
Justifique.
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Resposta no final do artigo
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27. Quais exames laboratoriais devem ser solicitados para a confirmação do diagnóstico 
e a avaliação da terapia a ser estabelecida para o animal do caso clínico? Quais 
alterações são esperadas nesses exames?
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Resposta no final do artigo
28. Quais são os pontos mais importantes a serem considerados no tratamento do animal 
do caso clínico?
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Resposta no final do artigo
 ■ CONCLUSÃO
Acidentes por animais peçonhentos e venenosos são comuns. O quadro clínico é variável e complexo, 
e casos graves podem ocorrer. Assim, o veterinário deve estar pronto para identificar o acidente. É 
essencial que ele tenha conhecimento suficiente para o estabelecimento de um diagnóstico rápido 
e da terapia mais adequada possível, visando sempre ao bem-estar do paciente.
 ■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS
Atividade 1
Resposta: C
Comentário: As serpentes do gênero Bothrops são agressivas e preferem áreas úmidas. Cascavéis 
pertencem ao gênero Crotalus.
Atividade 2
Resposta: D
Comentário: O veneno botrópico é uma mistura complexa de proteínas de baixo peso molecular, 
com ação proteolítica (necrosante), vasculotóxica (hemorrágica), coagulante e nefrotóxica. A ação 
nefrotóxica do veneno é decorrente da ação direta do veneno dos túbulos renais. Ela ocorre, também, 
indiretamente, devido à hipovolemia ou à isquemia que pode ser causada por microcoágulos ou 
deposição de fibrina nos capilares glomerulares.
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