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Biologiamarinha-2ed-cap22

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A INTERFACE TERRA-MAR DO BRASIL
Bastiaan Knoppers, Weber Friederichs Landim de Souza, Werner Ekau,
Alberto Garcia Figueiredo Júnior & Abilio Soares-Gomes
Neste capítulo apresenta-se um panorama geral da estrutura e do funcionamento da interface ter-ra-mar do Brasil. Descreve-se a geografia, a geomorfologia, o clima, o aporte fluvial de água e matéria,
e os principais tipos de ecossistemas da zona costeira, como também a evolução, os sedimentos, o regime
oceanográfico, a produtividade primária e a pesca da plataforma continental. As informações foram obti-
das através da bibliografia citada neste capítulo e bancos nacionais de dados de hidrologia e oceanografia.
22.1 DEFINIÇÕES E CONCEITOS DA INTERFACE TERRA-MAR
22.1.1 Compartimentos
A interface terra-mar representa um dos sítios que controlam o fluxo de água e matéria do ciclo global. Por
definição, compreende três compartimentos: a zona costeira, o continente interno a montante e o oceano
aberto à jusante (figura 22.1). O continente a montante abrange as bacias de drenagem que fornecem
água e matéria à costa, estendendo-se desde as nascentes dos seus rios até o limite do relevo da planície cos-
teira a 200 m de altitude. A zona costeira incorpora a área da planície costeira, os seus diversos ecossistemas
estuarinos e as águas costeiras sobre a plataforma continental, influenciadas pelo aporte de materiais do
continente. Geralmente, a zona costeira abrange a área da plataforma continental interna, cujo limite é
definido pela profundidade de 50 m. Entretanto, pode se estender até a plataforma externa e sua margem
(definida pela profundidade de 200 m), dependendo da largura da plataforma e da influência do aporte
continental. O compartimento oceânico da interface ocupa a margem e parte do talude da plataforma
onde ocorrem as correntes oceânicas de borda. Estas, também podem ocorrer sobre a plataforma e, em
certas condições, atingir a costa, aumentando o potencial de diluição dos aportes continentais. Torna-se
evidente que a delimitação espacial entre os compartimentos é difusa e a extensão da zona costeira variável
em função da configuração geomorfológica e do grau de interação das forçantes físicas, tanto continentais
quanto oceânicas.
Um critério mais abrangente de classificação compreende a evolução geológica e a atividade tectôni-
ca na interface. Existem dois tipos de interfaces, as tectonicamente ativas e as passivas. Interfaces tectonica-
mente ativas, como da costa oeste da América do Sul (Chile, Peru e Equador), são caracterizadas por bacias
íngremes, aporte fluvial limitado, plataformas estreitas (em torno de 10 km) e a presença de afloramento
de águas oceânicas frias e ricas em nutrientes (ressurgências) durante o ano inteiro. As interfaces tectoni-
camente passivas, como as do Brasil, geralmente possuem bacias de drenagens mais extensas, com aporte
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CAPÍTULO 22
fluvial expressivo, plataformas largas (entre 10 a 100 km, ou mais), correntes oceânicas oligotróficas de
borda e ressurgências locais intermitentes. A maior parte do aporte continental global e deposição de sedi-
mentos ocorrem nas plataformas passivas tropicais, sendo o Rio Amazonas um dos maiores contribuintes.
Os impactos do continente e do oceano sobre a zona costeira interagem em escalas espaciais e tempora-
is diferentes. Os rios são fontes pontuais, sendo que a maioria influencia a zona costeira em escalas locais de
0.1 a 100 km. Somente os grandes rios mundiais (Lena, Yangtze, Ganges-Brahmaputra, Congo, Mississipi,
Orinoco e Amazonas) atuam em escala regional de 100 a 1 000 km. Por outro lado, as correntes oceânicas de
borda são fontes difusas, que, a princípio, atuam em escalas regionais de 100 a 1 000 km, ou mais. Os cientis-
tas marinhos que investigam o balanço de massa em nível global, abordam a interface no sentido ocea-
no-continente ao invés de continente-oceano, uma vez que o impacto das correntes oceânicas é, geralmente,
maior que o do aporte fluvial. Desta forma, também denominam a interface como a “margem oceânica”.
22.1.2 Transporte de Matéria e Produtividade
O transporte de água e matéria da nascente do rio até o mar representa o processo que acopla os três com-
partimentos da interface terra-mar. Entretanto, cada compartimento possui uma estrutura e um funciona-
mento bem definido. O continente gera e transporta água e matéria para a zona costeira. A zona costeira,
com seus estuários, representa o sítio de troca de água e matéria derivada, tanto do continente quanto do
oceano. A transferência do continente ao mar segue diversas etapas. A matéria (inorgânica e orgânica, dis-
solvida e particulada) oriunda dos rios é retida, transformada e reciclada por processos físicos, físico-quí-
micos e biológicos nos estuários. Uma fração desta ultrapassa os estuários, se dispersa e dilui nas águas cos-
teiras, como também é depositada na forma particulada no fundo da plataforma. As correntes oceânicas
transportam adiante a fração resultante exportada da plataforma, mas também fornecem materiais inor-
gânicos para a produção de matéria orgânica nas plataformas através das ressurgências locais e regionais
(figura 22.2).
As águas da zona costeira e de plataforma ocupam 8% da área dos oceanos, mas sustentam 25% da
produção primária oceânica total devido a fertilização por nutrientes de rios, ressurgências, como tam-
bém, da remineralização interna de nutrientes bêntico-pelágicos. Embora os oceanos sejam responsáveis
pela maior parte da produção primária global, a zona costeira com seus diversos ecossistemas apresenta
um rendimento da produção por metro quadrado bem superior aos oceanos (tabela 22.1). A produção
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Figura. 22.1 Classificação da Interface Terra-Mar e seus três compartimentos (continente, zona costeira e oceano),
conforme IGBP-LOICZ (1993).
CONTINENTE INTERIOR ZONA COSTEIRA OCEANO ABERTO
Assoalho
oceânico
Planaltos
Planícies
Bacia hidrográfica
ESTUÁRIO
Plataforma continental
Plataforma
interna
Plataforma
intermediária
Plataforma
externa
Águas costeiras
Pluma estuarina
Águas estuarinas
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primária da plataforma tropical e subtropical do Atlântico Sul, dentro do território brasileiro, é moderada
e abaixo da média global, mas se caracteriza por uma variabilidade espacial notável. As regiões Norte, Su-
deste e Sul são as mais produtivas e as regiões Nordeste e Leste as menos produtivas. O Sudeste-Sul é res-
ponsável por mais de 50% da produção comercial pesqueira do Brasil.
Tabela 22.1 Produção primária pelágica anual global dos principais ecossistemas marinhos (adaptado de
KNOPPERS, 1994)
Sistema
Área
106 km2
PP
gC/m2/ano
PPtotal
1012 kgC/ano
Oceano 332,0 125 41,5
Plataforma 33,0 183 4,1
Ressurgência 0,4 500 0,2
Estuários 1,4 300 0,4
Lagunas 0,3 350 0,1
22.1.3 Ecossistemas
A interface terra-mar se caracteriza por duas classes principais de ecossistemas, os Grandes Ecossistemas
Marinhos (GEM´s ou LME´s do inglês Large Marine Ecosystems) da margem oceânica e os ecossistemas
costeiros. Os GEM’s são definidos como regiões similares em sua batimetria, hidrografia, produtividade
pelágica e bêntica, pesca e rede trófica, abrangendo a plataforma continental e o oceano aberto, dentro
do limite da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de 200 milhas náuticas. Foram classificados um total de 64
GEM’s no mundo, sendo 3 no Brasil. Outra divisão inclui as sub-regiões da interface terra-mar, classifica-
das segundo critérios físicos, ambientais e sócio-econômicos do programa GIWA (do inglês Global Inter-
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CAPÍTULO 22 � A INTERFACE TERRA-MAR DO BRASIL ⏐ 531
Figura 22.2 Modelo da estrutura e do funcionamento da Interface Terra-Mar. Nota-se a diversidade e a interação dos
processos físicos na zona costeira, tal como o aporte fluvial, a dispersão da pluma costeira e o impacto de águas oceânicas e
ressurgências sobre a plataforma(WALSH, 1988; MANTOURA et alii, 1991).
Planície abissal
Deposição
Mineralização
Sedimentação
Nutrientes
Ressurgência
Mistura vertical
Reciclagem
Respiração
Fotossíntese
Oceano aberto
Produção nova
Talude
Plataforma
Aporte fluvial
Exportação
de
matériaImportação
de
matéria
Trocas com a atmosfera
O2 CO2
national Waters Assessment), que inclui uma análise de causas e efeitos dos impactos naturais e culturais
sobre o sistema. O programa GIWA determinou 66 sub-regiões mundias, com 5 destas localizadas no Brasil
(www.giwa.net).
A zona costeira compreende as ressurgências costeiras, os estuários de vários tipos, os manguezais, os
marismas, os lagos costeiros, as dunas e as restingas, os manguezais e os recifes, em regiões tropicais. Cada
sistema exerce um papel quantitativo e qualitativo distinto no processamento de matéria ao longo da inter-
face. Em regiões tropicais, estuários, manguezais e recifes podem estar espacialmente acoplados, com cada
um contribuindo do seu modo para o processamento de matéria durante a sua transferência do continen-
te ao mar (figura 22.3). Neste capítulo é dada ênfase aos sistemas estuarinos, uma vez que informações
sobre os manguezais e recifes encontram-se em outros capítulos deste livro.
Os estuários com manguezais e/ou marismas compreendem os sistemas mais frequentes nas áreas de
clima úmido e plataformas passivas. São locais onde ocorre à mistura de águas fluviais e marinhas e proces-
samento intensivo de matéria oriunda de ambas as fontes. As suas características geomorfológicas e hidro-
lógicas foram moldadas ao longo do tempo pela interação de energia física da ação das ondas, dos movi-
mentos de maré e do aporte fluvial. Em termos geológicos são sistemas jovens que evoluíram durante o
Holoceno, desde 5 a 6 mil anos atrás, em função dos episódios de transgressão (avanço) e regressão (re-
cuo) do nível do mar. Alguns evoluíram desde o Pleistoceno-Superior ou por processos tectônicos. Na clas-
sificação geomorfológica-hidrológica dos estuários, estão incluídas as categorias dos deltas, deltas-estuari-
nos, estuários de vales inundados e de planícies inundadas, lagunas estuarinas e lagunas (figura 22.4).
Uma feição característica da costa brasileira é a baia-estuarina, que pela definição se enquadra na categoria
de estuários de vales inundados, mas também podem ser de origem tectônica.
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3ª prova
Figura 22.3 Sistemas costeiros tropicais acoplados pelo transporte de matéria (adaptado de B. DENNISON com. pessoal).
3ª prova
22.2 FISIOGRAFIA E GEOLOGIA DA INTERFACE TERRA-MAR DO BRASIL
22.2.1 Continente e Zona Costeira
A linha de costa do Brasil alonga-se do Cabo Orange, na Latitude 4°N, até o Chuí, na Lat. 34°S (figura
22.5). Dependendo da escala de medida, as estimativas de seu comprimento variam entre 6 500 a 9 500 km.
A estimativa de Muehe & Neves (1995), de 7 400 km, que desconsidera os perímetros de baías, estuários e
ilhas, é adotada. Devido a sua longa extensão, o continente interno ou montante e a zona costeira incorpo-
ram diversas regiões climáticas, geográficas, geomorfológicas, geológicas, hidrográficas e oceanográficas
(figura 22.5).
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Figura 22.4 Categorias principais de ecossistemas estuarinos: deltas, estuários deltáicos, estuários de vales e planícies
inundadas, lagunas estuarinas e lagunas (adaptado de DAVIES, 1973; DAY e colaboradores, 1989).
Laguna
Laguna estuarina
Estuário
Delta estuarino
Delta
Figura 22.5 Características gerais da zona costeira e subdivisões da costa (modificado de KNOPPERS e colaboradores,
1999b e 2003).
Os critérios geográficos distinguem cinco setores principais, o Norte, Nordeste, Leste, Sudeste e Sul
(GUERRA, 1962), figura 22.5. A zona costeira das regiões Norte, Leste e Sudeste são governadas por um
clima tropical úmido (Köppen tipo Af); a região Sul pelo clima tropical quente (Caf) e parte do nordeste é
tropical seco, com condições tipicamente semi-áridas (Köppen tipo Bsw; figura 22.5).
Pelos critérios geológicos destingem-se quatro regiões:
1. A costa Quaternária Norte (4°N a 3°S).
2. A costa Terciária Leste (3 a 20°S).
3. A costa granítica Sudeste (20 a 29°S).
4) A costa Quaternária Sul (29 a 34°S).
Independentemente da extensa costa Quaternária do Amazonas (região Norte, figura 22.5), 79% da
costa brasileira é caracterizada por uma estreita franja litoral, apresentando, com frequência, poucos quilô-
metros de extensão. A maior parte do continente a montante e da costa do Nordeste e Leste é caracterizada
pela Formação Barreiras do Terciário. Outras planícies costeiras ocorrem ao longo da seção da costa graníti-
ca (20 a 23°S) e da costa Quaternária Sul (figura 22.5).
Os limites das principais bacias de drenagem que abrangem a costa correspondem, praticamente, às
regiões geográficas. As bacias definidas pela Agência Nacional de Águas da região geográfica Norte são a
Amazônica e Tocantins; da região Nordeste a Atlântico Nordeste Ocidental, Parnaíba, Atlântico Nordeste
Oriental e São Francisco; e das regiões Leste, Sudeste e Sul as do Atlântico Leste, Atlântico Sudeste e Atlân-
tico Sul, respectivamente (figura 22.6).
As informações quantitativas sobre as características da interface e dos seus setores regionais encon-
tram-se na tabela 22.2. Nota-se, claramente, uma maior diversidade regional dos atributos da zona costeira
em comparação aos dos domínios mais abrangentes das correntes oceânicas, da produtividade e do rendi-
mento pesqueiro, incluindo dos grandes ecossistemas marinhos. A variabilidade regional da configuração
geomorfológica da plataforma enquadra-se de certa forma dentro da classificação geográfica. A tabela
22.2 serve como referência contínua ao longo do texto.
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Figura 22.6 As bacias hídrográficas quê abrangem a costa do Brasil (adapatado de www.ana.gov.br).
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5.
Plataforma
2.2.2 Plataforma Continental
A diversidade geomorfológica da plataforma é exemplificada na Figura 22.5. Maiores larguras são encontra-
das no Norte com até 320 km (Amazonas), no Leste até 240 km (Banco de Abrolhos) e no Sudeste e Sul com
220 km (figura 22.5, tabela 22.2). Em comparação, a plataforma do Nordeste e Leste, até o Banco de Royal
Charlotte e Abrolhos, é estreita, variando de 20 a 90 km de largura. A plataforma mais estreita, com 8 km, é
encontrada ao largo da Baia de Todos os Santos, Bahia. A profundidade de quebra da plataforma varia entre
75 e 80 m no Norte, 40 a 80 m no Nordeste e Leste e 100 a 160 m no Sudeste e Sul. A profundidade da base do
talude varia de 2 000 a 3 300 m no Norte, 1 600 a 3 600 m no Nordeste e Leste, e entre 2 000 a 3 600 m no Sul.
O gradiente de inclinação do talude é mais acentuado no Nordeste e Leste (1:5, 11°), atingindo um máximo
de 28° no Banco de Abrolhos. As bacias oceânicas do Nordeste e Leste são caracterizadas por uma cadeia de
montes submarinos, dos quais vários afloram à superfície, incluindo os Rochedos de São Pedro e São Paulo e
as Ilhas de Fernando de Noronha, no Nordeste e a cadeia de Trindade, no Leste (figura 22.5).
As características geomorfológicas e sedimentares da plataforma foram moldadas desde a evolução
geológica e por mudanças paleo-climáticas do nível do mar. Durante o Jurássico Superior (150 milhões de
anos AP), Gondwana era ainda um continente e as bacias sedimentares do Brasil e da África, onde o Atlân-
tico Sul hoje está localizado, dividiam as mesmas litologias, paleontologias e geologias. Entretanto, anteri-
ormente a isto, durante o Jurássico Inferior (205 milhões de anos AP) no Atântico Norte, um proto-oceano
separava a Laurásia da ocidental Gondwana (América do Sul e África). Um rift precoce deste tempo carac-
terizava a margem brasileira norte. A abertura do Atlântico Sul iniciou-se no Cretáceo Inferior (120 mi-
lhões de anos AP) do sul em direção ao norte, com a América do Sul girando no sentido horário e a África
no sentido anti-horário. Os primeiros depósitos na bacia foram não marinhos e mudaram de lacustres para
marinhos. Até o Cretáceo Superior, o Atlântico Sul e Norte estiveram isolados um do outro devido à cone-
xão entre os continentes, localizada entre as regiões dos estados de Pernambuco e Paraíba, no Brasil, e Ca-
marões e Nigéria, na África, determinada através de registros fósseis.
Atualmente, a despeito do longo tempo desde a abertura do Atlântico, a maioria das características da
margem continental ainda está preservada. Somente poucas mudanças foram produzidas por erosão, vul-
canismo ou soterramento de sedimentos. A largura da plataforma e a quebra do talude refletem o compor-
tamento tectônico e as condições deposicionais da margem brasileira (figura 22.7). Devido à carga de sedi-
mento do continente e a contínua subsidência da margem, as plataformas sul e sudeste apresentam uma
sequência espessa de sedimentos na quebra da plataforma e talude, possuindo uma quebra da plataforma
mais profunda, com uma transição mais suave para o talude.
Em contraste, a estreita plataforma e a pequena profundidade de quebra do talude no nordeste e a
leste do Banco de Abrolhos indicam que os sedimentos terrígenos têm somente influência menor e local
devido à ausência de aporte de rios e por apresentar uma margem mais estável, com pouca erosão. Como
consequência, a transição plataforma-talude é abrupta, o talude é muito inclinado e a circulação oceânica
atinge a costa. A borda da plataforma e o talude são cortados por cânions e canais, remanescentes da drena-
gem durante os períodos de regressão (recuo) do nível do mar. A ausência de uma conexão clara entre câ-
nions e a atual bacia de drenagem sugere que aspectos erosivos foram soterrados por sedimentos.
A evolução da costa desde o Pleistoceno-Superior até os dias atuais têm sido bem documentada, atra-
vés de estudos geológicos e de mudanças no nível do mar. Ilhas barreiras e lagunas costeiras, frequentes no
leste, nordeste e sul, atingiram um pico de expansão durante duas principais elevações do nível do mar. A
primeira, há aproximadamente 123.000 de anos BP, correspondeu ao último estágio interglacial do Pleis-
toceno, com um nível relativo do mar a 8 ± 2 m acima do nível atual. A segunda, há 5.100 anos AP, corres-
pondeu à elevação do níveldo mar do Holoceno, com 4,8 ± 0,5 m acima do presente. Diferentemente da
elevação do nível do mar que ocorreu nos últimos 7.000 anos na América do Norte, o nível do mar no Bra-
sil diminuiu. Outras oscilações secundárias podem ter ocorrido entre 4.100 anos AP e 3.000-2.700 anos AP.
No momento, observa-se uma leve tendência à elevação do nível do mar, do Rio Grande do Sul a Pernam-
buco. Há aproximadamente 12.000 anos AP a maior parte da linha de costa do nordeste e leste estava entre
as isóbatas de 50 e 70 m da borda atual da plataforma, incrementando o transporte de material da terra di-
retamente para o talude superior.
3ª prova
CAPÍTULO 22 � A INTERFACE TERRA-MAR DO BRASIL ⏐ 537
22.2.3 Regime Oceanográfico
As condições oceanográficas (maré, ondas e correntes) afetam a zona costeira e a plataforma de forma
mais abrangente. A região Norte encontra-se sob o domínio de macromarés (amplitude > 4 m), as regiões
do Nordeste e Leste (até o Banco de Abrolhos) de mesomarés (amplitude > 2 m e < 4 m) e as do Leste (se-
tor Sul), Sudeste e Sul de micromarés (amplitude < 2 m). As marés da costa brasileira são essencialmente
do tipo semi-diurno. O regime de ondas é de alta energia ao longo da costa inteira. Nas regiões Nordeste e
Leste se manifestam com periodicidades entre 5 e 7 s e alturas além de 1 m em 50% do tempo. As correntes
oceânicas de borda são a Corrente Norte do Brasil (CNB), presente na plataforma Nordeste e Norte (Ama-
zonas), e a Corrente do Brasil (CB), presente na plataforma Leste, Sudeste e Sul. Ambas nascem da
Corrente Sul Equatorial que atinge a plataforma na área de transição do Nordeste ao Leste (figura 22.5).
Uma visão geral do sistema de correntes presentes na costa do Brasil é apresentada na figura 22.5.
O continente brasileiro se encontra na rota direta da Corrente Equatorial Sul (CES), que atinge a pla-
538 ⏐ BIOLOGIA MARINHA
3ª prova
Figura 22.7 Distribuição de sedimentos carbonáticos e feições da margem continental brasileira, nos setores Nordeste e
Leste.
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Terrígenos Modernos
Terrígenos Reliquiares
Carbonáticos
Recifes Algálicos
taforma nordeste brasileira entre as coordenadas 7 e 15°S. Um total de 12 Sv, ou mais (Sverdrup é uma
medida de transporte de massa de correntes, 1 Sv= 1 × 106 m3 s–1), da CSE flui em direção norte e conti-
nua como a Corrente Norte do Brasil (CNB). Somente 4 Sv forma a Corrente do Brasil (CB), que flui
em direção sul, embora mais massa seja adicionada da CSE para a CB ao longo do Leste e Sudeste, a
uma taxa de 5% a cada 100 km. A CNB é contínua e forte ao longo do Norte e Nordeste (velocidade
média de 75 cm.s–1 e máxima de 100 cm.s–1). No setor norte, a CNB está sujeita a uma completa flexão a
50° W para Oeste, de julho a dezembro.
O Banco dos Abrolhos forma, junto com a Cadeia Vitória-Trindade, uma barreira topográfica à CB.
Redemoinhos ao longo dos limites da plataforma do leste e vórtices ciclônicos nos limites do sul ocorrem
com frequência, como, por exemplo, o Vórtex de Vitória. Este último move-se em direção a borda da plata-
forma e cria ressurgências das Águas Centrais do Atlântico Sul (ACAS), ricas em nutrientes. As ressurgênci-
as costeiras da ACAS ocorrem na plataforma ao sul do Banco de Abrolhos, mas não tão próximo à costa
como na região do promontório de Cabo Frio.
O impacto da CB nos sistemas de plataforma do Cabo de São Tomé para o sul diminui gradualmente
em comparação com o Leste. As regiões Sudeste e Sul estão sujeitas a ressurgências mais intensas de ACAS
no verão, tanto ao longo da plataforma externa e na sua margem, quanto na costa, como por exemplo en-
tre o Cabo de Santa Marta e a Ilha de Santa Catarina. Esta região, também denominada Bacia Sul Brasilei-
ra, apresenta um regime de ressurgência similar ao da Bacia do Sul da Califórnia. O sul também é influen-
ciado pelos estuários da Lagoa dos Patos e do Rio da Prata.
22.3 ECOSSISTEMAS DA INTERFACE TERRA-MAR DO BRASIL
22.3.1 Ecossistemas da Zona Costeira
Devido à longa extensão da costa e a variabilidade regional das suas características, a zona costeira apre-
senta uma grande diversidade de ecossistemas e habitats associados (tabela 22.2). Estuários de rios de
grande e médio porte, incluindo o do Amazonas com os maiores manguezais do mundo e planícies lamo-
sas extensas na plataforma interna, caracterizam a região Norte desde o Oiapoque até a Baía de Maracanã.
Dunas, estuários de planícies costeiras com manguezais, deltas-estuarinos de rios de médio porte, assim
como recifes de franja e barreiras pontilham a zona costeira do Nordeste e Leste. As planícies costeiras ao
longo das costas graníticas (20 a 23°S) e do Quaternária Sul (figura 22.5 e tabela 22.2), abrigam estuários
de rios de médio porte, baias estuarinas e, principalmente, lagunas costeiras. Ressurgências costeiras se
manifestam com maior intensidade na costa ao sul do Banco de Abrolhos na costa Leste e no Sudeste-Sul,
com focos principais em Cabo Frio (RJ) e Cabo de Santa Marta (SC).
22.3.2 Estuários
Descreve-se a seguir as características geomorfológicas-hidrológicas das diversas categorias de ecossistemas
estuarinos ao longo da costa brasileira (figura 22.8 a-d).
Deltas e deltas-estuarinos
Os deltas se caracterizam por depósitos sedimentares e uma zona de mistura estuarina localizados afora
da desembocadura do rio sobre a plataforma interna. Exportam material do continente ao oceano du-
rante o ano inteiro, independentemente da variabilidade sazonal da descarga fluvial. Os deltas estuari-
nos, por sua vez, se caracterizam por depósitos expressivos e uma zona de mistura estuarina tanto aden-
tro quanto afora da desembocadura do rio. Exemplos destes no Brasil (figura 22.8a) são os estuários dos
Rios Amazonas (AM), Parnaíba (PI), São Francisco (SE/AL), Jequitinhonha (BA), Doce (ES) e Paraíba
do Sul (RJ). Todos possuem manguezais e a maior parte da produtividade primária fitoplanctônica ocor-
re nas plumas costeiras. O estuário do Rio Amazonas é afetado por uma macromaré e menor regime de
ondas, os estuários do São Francisco e Jequitinhonha são controlados por mesomaré e alta energia das
ondas, e o do Paraíba do Sul por micromaré e alta energia de ondas.
3ª prova
CAPÍTULO 22 � A INTERFACE TERRA-MAR DO BRASIL ⏐ 539
Baias estuarinas
As baías-estuarinas enquadram-se, geralmente, na categoria dos estuários de vales inundados. Entretanto,
alguns foram inicialmente gerados pela atividade tectônica e depois pelas mudanças do nível do mar. Essas
baías são largas nos setores centrais e a montante e mais estreitas nas suas desembocaduras (figura 22.8b).
Possuem diversas entradas fluviais de pequeno porte, tempos de residência elevados das suas massas de
água e, devido a sua proteção ao mar, apresentam condições propícias para o desenvolvimento de ativida-
des humanas de relevância sócio-econômica, tal como a urbanização, a industrialização e a instalação de
portos. Exemplos são as baías de Maracanã (PA), São Marcos (MA), Todos os Santos (BA), Vitória (ES),
Guanabara (RJ), Santos (SP) e Santa Catarina (SC) (16.9b). A maioria possui manguezais bem desenvolvi-
dos e a maior fração da produtividade primária ocorre dentro dos estuários. Várias dessas baías estão so-
frendo eutrofização cultural pela entrada e retenção de efluentes domésticos e contaminação por metais
traços e micro-poluentes orgânicos.
540 ⏐ BIOLOGIA MARINHA
3ª prova
Figura 22.8a Exemplos de deltas e deltas estuarinos. Rio Amazonas (AM, 1:1.000.000), Rio Parnaíba (PI, 1:100.000), Rio
Jaguaribe (CE, 1:100.000), Rio São Francisco (SE/AL, escala 1:100.000), Rio Jequitinhonha (BA, 1:50.000), Rio Doce (ES,
1:50.000), Rio Paraíba do Sul (RJ, 1:50.000). Imagens reduzidas na mesma proporção,as escalas são apresentadas somente
como referência a magnitude relativa entre os diferentes sistemas. Imagens de satélite (modificado de MIRANDA &
COUTINHO, 2006).
Paraíba do Sul
(1:50.000)
Doce
(1:50.000)
Jequitinhonha
(1:50.000)
São Francisco
(1:100.000)
Jaguaribe
(1:100.000)
Parnaíba
(1:100.000)
Amazonas
(1:.1.000.000)
Estuários de vales inundados e de planícies inundadas
Os estuários de vales inundados e de planícies costeiras inundadas são semelhantes do ponto de vista da sua
evolução, mas apresentam certas diferenças geomorfológicas e hidrológicas entre si. Os de vales inundados re-
presentam a categoria clássica do estuário propriamente dito. Caracterizam-se por um eixo longitudinal com
canal sub-aquático bem definido estendo-se perpendicularmente costa adentro. O maior gradiente da zona de
mistura estuarina se associa a uma zona de turbidez máxima, que migra entre a região montante e central do
sistema em função da variabilidade do aporte fluvial e das correntes de maré. Os estuários de planícies inunda-
das (também denominados como Rias) apresentam canais sub-aquáticos de menor profundidade, que se es-
tendem através de diversas ramificações, tanto perpendicular e /ou paralelo costa adentro. De certa forma, se
assemelham às lagunas estuarinas, mas são mais influenciados pela água marinha quê pelo aporte fluvial.
Os estuários de vales inundados encontram-se com maior frequência na região Sudeste (16.8c), sen-
do controlado por um aporte fluvial maior e mais contínuo durante o ano devido às condições climáticas
mais úmidas. Os estuários de planícies inundadas (Rias) se manifestam mais na região Nordeste e Leste.
São mais influenciadas pela troca de água marinha em função da mesomaré e diversos deles estão sujeitos
a períodos de estiagem nas suas bacias. Entretanto, todos se caracterizam por manguezais bem desenvolvi-
dos e são relativamente mais preservados em comparação às baías-estuarinas. Exemplos clássicos corres-
pondem aos sistemas Vaza Barris (SE), Piauí-Piauitinga (SE), Caravelas (BA), Paranaguá-Laranjeiras (PR), Gu-
aratuba (PR) e São Francisco do Sul (SC) (figura 22.8c).
3ª prova
CAPÍTULO 22 � A INTERFACE TERRA-MAR DO BRASIL ⏐ 541
Figura 22.8b Exemplos de baías-estuarinas. Baía Maracanã (PA, 1:100.000) Baía de São Marcos (MA, 1:500.000), Baía de
Todos os Santos (BA, 1:250.000), Baía do Espirito Santo (ES, 1:50.000), Baía de Guanabara (RJ, 1:100.000), Baía de Santos
(SP, 1:50.000), Baía de Santa Catarina (SC, 1:250.000). Imagens reduzidas na mesma proporção, as escalas são
apresentadas somente como referência a magnitude relativa entre os diferentes sistemas. Imagens de satélite (modificado de
MIRANDA & COUTINHO, 2006).
Maracanã
(1:100.000)
São Marcos
(1:500.000)
Todos os Santos
(1:250.000)
Espírito Santo
(1:50.000)
Guanabara
(1:100.000)
Santos
(1:50.000)
Santa Catarina
(1:250.000)
Lagunas-estuarinas e lagunas
As lagunas-estuarinas e lagunas se caracterizam pelo acesso restrito ou efêmero ao mar através de um único
ou múltiplos canais de maré. São comuns paralelamente à costa, sendo rasas e protegidas do mar por uma
barreira arenosa (contendo o ecossistema da Restinga). Localizam-se de preferência em regiões domina-
das por micromarés. Dentro deste elenco, devem-se considerar os lagos costeiros, que foram enclausura-
dos do mar, devido ao assoreamento dos seus canais de acesso ao mar pelo transporte litorâneo de
sedimentos marinhos e a falta de pressão hídrica do continente.
Lagunas estuarinas e lagunas ocorrem com maior frequência no litoral do Sudeste (RJ) e Sul (SC e RS),
e com número menor no Nordeste (CE, RN e AL). Somente o litoral do rio Grande do Sul já contém em tor-
no de 60 lagunas e lagos costeiros de pequeno a grande porte. Exemplos destes no Brasil (figura 22.8d) são
Itamaracá (PE), Mundaú-Manguaba (AL), Araruama (RJ), Maricá-Guarapina (RJ), Cananéia-Iguape (SP),
Conceição (SC), Tramandaí (RS), Manguaba (RS) e Patos-Mirim (RS). Itamaracá (PE) se caracteriza por
um setor localizado sobre uma falha tectônica, as demais são originárias do Holoceno e, parcialmente, do úl-
timo Pleistoceno. A Lagoa de Araruama é a maior laguna hipersalina carbonática e o complexo Patos-Mirim
a maior laguna oligo- a eurihalina do Brasil. Ambas estão compostas de uma setor externo do Holoceno e um
interno do Pleistoceno Superior. A maioria das lagunas apresenta impactos por efluentes domésticos. Mu-
danças drásticas ocorreram recentemente na Lagoa de Araruama e a Lagoa de Patos esta sujeita a impactos
múltiplos pela urbanização, indústria e atividades portuárias na região montante (Rio Guaíba e Porto Ale-
gre) e jusante no estuário (Rio Grande). A Lagoa de Mundaú-Manguaba (AL) está sofrendo eutrofização
cultural pela entrada de efluentes domésticos e das atividades da cana de açúcar.
542 ⏐ BIOLOGIA MARINHA
3ª prova
Figura 22.8c Exemplos de estuários de vales inundados e planícies inundadas (Rias). Rio Vaza Barris e Rio Piauí-Piauitinga
(SE, 1:100.000), Baía de Paranaguá (PR, 1:100.000), Baía de Guaratuba (PR, 1:100.000), Rio São Francisco do Sul (SC,
1:100.000). Imagens reduzidas na mesma proporção, as escalas são apresentadas somente como referência a magnitude
relativa entre os diferentes sistemas. Imagens de satélite (modificado de MIRANDA e COUTINHO, 2006).
São Francisco do Sul
(1:100.000)
Guaratuba
(1:100.000)
Paranaguá
(1:100.000)
Vaza Barris
(1:100.000)
Piaui-Piautinga
22.3.3 Grandes Ecossistemas Marinhos
No início da década de 1990, foram definidos dois Grandes Ecossistemas Marinhos (GEM´s) dentro da zona
econômica exclusiva (ZEE) brasileira (Bakun, 1993). Corresponderam aos domínios da Corrente Norte do
Brasil e da Corrente do Brasil, delimitadas na área do Cabo São Roque no Nordeste (figura 22.9). Classifica-
ções mais recentes baseadas nas características continentais, da margem oceânica e da ecologia regional, per-
mitiram a distinção de três GEM´s, denominados como Plataforma Norte (GEM 17), Leste (GEM 16) e Sul
(GEM 15) do Brasil em estrutura proposta por Ekau & Knoppers (2003) e acatada pelo programa internacio-
nal dos grandes ecossistemas marinhos (HEMPEL & SHERMAN, 2003). A mudança principal foi a definição
do novo GEM 16, que acoplou as características oligotróficas e ecológicas semelhantes das correntes CNB,
CES e CB e as condições sedimentares e habitats da plataforma continental da região Nordeste e Leste, desde
as reentrâncias Maranhenses (MA) até pouco acima de Cabo Frio (RJ). O GEM 17 abrange essencialmente a
região sob influência do Rio Amazonas na plataforma Norte e o GEM 15, a região Sudeste-Sul desde Cabo
Frio até a Convergência Sub-Tropical do Atlântico Sul (figuras 22.5 e 22.9).
Os três GEM’s brasileiros podem ainda ser divididos em sub-regiões conforme a classificação do
programa GIWA. Juntando as classificações dos GEM´s com as do GIWA, são apresentados os seguintes
setores (figura 22.5; tabela 22.2): plataforma Norte (4°N a 3°S, GEM 17 e sub-região GIWA 40b), a plata-
forma Leste (GEM 16) e suas sub-regiões GIWA 40a (3°S a 10,5°S) e 39b e 39c (10,5°S a 22°S), e a plata-
forma Sul (22°S a 33,7°S; GEM 15 e sub-região GIWA 39a).
3ª prova
CAPÍTULO 22 � A INTERFACE TERRA-MAR DO BRASIL ⏐ 543
Figura 22.8d Exemplos de Lagunas-estuarinas e lagunas. Ilha de Itamaracá (PE, 1: 100:000), Sistema Lagunar
Mundaú-Manguaba (AL, 1:50.000), Lagoa de Araruama (RJ, 1:100.000), Sistema lagunar Cananéia-Iguape (SP, 1:100.000),
Sistema Lagunar Patos-Mirim (RS, 1:500.000). Imagens reduzidas na mesma proporção, as escalas são apresentadas
somente como referência a magnitude relativa entre os diferentes sistemas. Imagens de satélite (modificado de MIRANDA &
COUTINHO, 2006).
Itamaracá
(1:100.000)
Mundaú-Manguaba
(1:50.000)
Araruama
(1:100.000)
Patos-Mirim
(1:500.000)
Cananéia-Iguape
(1:100.000)
22.4 TRANSFERÊNCIA DE MATÉRIA E PRODUTIVIDADE NA INTERFACE
TERRA-MAR
22.4.1 Aportes Continentais
A disseminação das informações hidrológicas, especialmente sobre o aporte de água doce e concentração
de sedimentos em suspensão, nas bacias hidrográficasbrasileiras tiveram um grande avanço na última dé-
cada, sendo compiladas pela Agência Nacional de Águas – ANA. Estas informações estão sumarizadas na
tabela 22.2. O ecossistema principal do continente que abrange a zona costeira é a Mata Atlântica com 5 a
6% da floresta original remanescente. Esta sujeita a diversos impactos, tal como barragens, urbanização,
agricultura, industrialização, e mineração. O resultado de todos estes impactos se manifesta em mudanças
do aporte fluvial de água e matéria para a costa. As barragens retêm e transformam materiais nos seus re-
servatórios, o desmatamento induz a erosão e incrementa o aporte fluvial de matéria, e os outros impactos
levam a introdução de efluentes com compostos inorgânicos e orgânicos naturais e artificiais.
A maioria dos rios brasileiros que desemboca na zona costeira possui algum ou múltiplos impactos am-
bientais nas suas bacias de drenagem. Um dos problemas atuais refere-se à busca de níveis naturais de refe-
rência para o entendimento das causas e dos efeitos dos impactos ambientais humanos nas bacias. Esta tarefa
é somente alcançada através de uma análise minuciosa de dados pretéritos em comparação as condições atu-
ais. Embora o Brasil possui um grande elenco de informações sobre o aporte fluvial de água e sedimentos,
ainda faltam informações sobre o aporte de compostos inorgânicos e orgânicos, que possam ser utilizadas
para estimativas do potencial de fertilização dos rios para a sustentação da produtividade primária e a avalia-
ção do potencial de contaminação humana na zona costeira. Desta forma, as informações a seguir se restrin-
gem ao aporte de água e sedimentos a zona costeira, consideradas como as mais confiáveis.
544 ⏐ BIOLOGIA MARINHA
3ª prova
Figura 22.9 Aportes de sedimentos em suspensão de alguns rios que aportam a plataforma continental Brasileira, do Rio
Cassiporé (AP) ao Rio Guaíba (RS). Compilação de dados das publicações descritas na bibliografia.
Água
O aporte ao longo do setor da plataforma Norte (LME 17, sub-região 40b), inclui as bacias hidrográficas
Amazônica (rio Amazonas e rios de menor porte das planícies costeiras do Amapá), do Tocantins/Araguaia,
do Atlântico Nordeste Ocidental (principalmente rios na costa do Maranhão) e Parnaíba. O aporte de água
é da ordem de 4 700 km3 ano–1, que equivale a um rendimento (aporte por área da bacia de drenagem) de
870 mm ano–1. Embora este setor tenha características similares, como, por exemplo, a presença de extensos
manguezais de elevada altura e densidade e regime de macromarés, a bacia amazônica é a feição dominante
com respeito aos aportes continentais, representando 90% dos aportes de água doce. Na tabela 22.2 é ainda
apresentada uma diferenciação adicional, com respeito aos aportes continentais, distinguindo os trechos en-
tre o Cabo Orange e Baía Maracanã (4° N a 0,5°S) e desta a foz do Rio Parnaíba (3°S).
A transição do clima tropical úmido para o semi-árido, que ocorre ainda na bacia do rio Parnaíba, é a
principal característica responsável pela drástica redução dos aportes continentais e pela alteração nos
ecossistemas costeiros presentes no setor da plataforma Nordeste (GEM/LME 16, sub-região 40a). Este se-
tor inclui as bacias hidrográficas do Atlântico Nordeste Oriental com aportes de água doce na ordem de 25
km3.ano–1 (86 mm.ano–1) e onde grande parte dos cursos d’água são intermitentes. No trecho entre o Rio
Parnaíba (3°S) e o Cabo de São Roque (5,1°S), que drena o semi-árido, os aportes de água doce são ainda
mais baixos- 13 km3.ano–1 (65 mm.ano–1). No trecho mais ao sul, entre o Cabo São Roque (5,1°S) e o Rio
São Francisco, o clima tropical úmido da costa contribui com um escoamento superficial de 12 km3.ano–1 e
um maior aporte específico de 129 mm.ano–1.
A distinção entre os setores Nordeste (GEM/LME 16, sub-região 40a) e Leste (GEM/LME 16, sub-re-
gião 39b) da costa brasileira, se dá em um pequeno trecho da costa, aproximadamente 50 km, no qual de-
ságua a bacia do Rio São Francisco. Esta bacia representa um dos mais significativos exemplos do impacto
de barragens nas bacias de drenagem em território nacional, devido à construção de reservatórios em cas-
cata. Após a construção da barragem de Xingo (1994), a 180 km da costa, os impactos deste sistema de bar-
ragens resultaram em uma redução de aproximadamente 30% nas descargas de água doce e uma significa-
tiva perda do padrão sazonal em suas descargas. Atualmente os aportes de água da bacia do Rio São Fran-
cisco são da ordem de 60 km3.ano–1 (97 mm.ano–1).
Ao longo de todo o setor Leste (GEM/LME 16, sub-região 39b), entre o Rio São Francisco (10,5°S) e o
Cabo de São Tomé (22°S), o aporte de água doce aumenta gradualmente de Norte a Sul, como função da
transição climática, em especial no interior do continente, do semi-árido no norte para o tropical úmido no
sul. O aporte de água doce, oriundo dos cerca de 35 rios de pequeno e médio porte das bacias de drenagem
Atlântico Leste e parte da bacia do Atlântico Sudeste (inclusive Rios Doce e Paraíba do Sul) é da ordem de
133 km3.ano–1 (242 mm.ano–1). No entanto, o aporte é em sua maior parte governado por quatro rios de
porte médio, Jequitinhonha, Mucurí, Doce e Paraíba do Sul, que contribuem com 80% do total. Neste setor,
a transição do norte mais seco ao sul mais úmido, em conjunto com os ecossistemas da costa, permite ainda a
distinção de três trechos da costa: do Rio São Francisco (10,5°S) a Belmonte (15,8°S) com aportes de
56 m3.ano–1 (170 mm.ano–1); de Belmonte a Regência (19,5°S) com aportes de 12 km3.ano–1 (240
mm.ano–1); e de Regência ao Cabo de São Tomé (22) χομ απορτεσ δε 65 κμ3ano–1 (440 mm.ano–1).
No setor Sul da plataforma brasileira (GEM/LME 15, sub-região 39a), situado entre o Cabo de São
Tomé (22°S) e o Chuí (34°S), o aporte de parte da bacia do Atlântico Sudeste e da bacia do Atlântico Sul
contribui com 146 km3.ano–1 de água doce (602 mm ano–1). As feições dominantes neste setor incluem a
proximidade do complexo cristalino da Serra do Mar no litoral do Rio de Janeiro até o Paraná e as lagunas
da planície litorânea do Rio Grande do Sul. Dentre estas há de se destacar a presença da Lagoa dos Patos,
que tem o Rio Guaíba como o principal contribuinte, cujo aporte fluvial representa mais de 50% de todo o
aporte a Plataforma Sul.
3ª prova
CAPÍTULO 22 � A INTERFACE TERRA-MAR DO BRASIL ⏐ 545
Sedimentos em suspensão
Embora em muito se tenha evoluído nas últimas décadas na obtenção e disseminação das informações hi-
drológicas, dados sobre o aporte de sedimentos nas bacias de drenagem brasileiras permanecem relativa-
mente escassos. A maior parte dos estudos favoreceu a obtenção de dados para o setor energético, visando
a avaliação do assoreamento de reservatórios, negligenciando a importância do aporte de sedimentos na
fertilização e estabilização da zona costeira.
Estimativas de caráter pontual ao longo da costa (figura 22.10) mostram que os aportes de sedimen-
tos variam de 0,02 × 106 t ano–1, no Rio Jaguaribe sob o impacto do clima semi-árido e de centenas de reser-
vatórios, até os 1.200 × 106 t ano–1 do Rio Amazonas. Também, sob os impactos antrópicos decorrentes do
uso do solo inadequado, os aportes oriundos dos rios Jequitinhonha, Doce e Itajaí são significativos se con-
siderarmos que as descargas específicas de sedimentos (ou seja, o rendimento anual por área da bacia de
drenagem) destes rios oscilam entre 100 a 160 t km2 ano–1 em comparação com os 200 t km2 ano–1 do Rio
Amazonas.
Com exceção da plataforma continental Norte onde o suprimento de sedimentos do Rio Amazonas é
extremamente elevado, não há evidências de que a influencia dos aportes de sedimentos em suspensão
alterem significativamente a biogeoquímica dos demais setores da plataforma continental brasileira.
Variabilidade sazonal
Os rios do Nordeste e Leste são marcados por um padrão de fluxo sazonal tipicamente unimodal, mas dife-
rem em amplitude. Conforme o clima indica, os rios do Nordeste estão sujeitos a uma variabilidade sazo-
nal acentuada, com entradaselevadas e pulsos de enchentes durante a estação chuvosa e fluxos de baixos a
negligenciáveis na estação seca. Os rios de menor porte apresentam comportamento típico torrencial. No
Leste úmido, o ciclo sazonal unimodal é deprimido e, deste modo, a entrada é mais contínua. Infelizmen-
te, não existem informações sobre a carga anual média de nutrientes dos rios, exceto o São Francisco e o
Paraíba do Sul. A magnitude de entrada de água doce é, desta forma, o único índice a partir do qual
pode-se inferir o potencial fertilizador do aporte continental sobre a costa nessas duas regiões. Recentes es-
tudos mostraram que o material dos rios, ao longo das costas Nordeste e Leste são prontamente diluídos
pelas águas tropicais de superfície das correntes oceânicas e a dispersão da pluma estuarina é restrita a uma
faixa costeira muito estreita.
546 ⏐ BIOLOGIA MARINHA
3ª prova
Figura 22.10 Limites dos grandes ecossistemas marinhos°S (LME) na costa brasileira. Painel da esquerda: definição de
Sherman (1993); painel à direita: definição de Ekau & Knoppers (2003) (modificado de EKAU & KNOPPERS, 2003).
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22.4.2 Produtividade de Estuários
Informações das principais características físicas e biogeoquímicas de diversos estuários encontram-se na
tabela 22.3. As informações se restringem aos parâmetros físicos básicos, teores de matéria em suspensão
(MS), matéria orgânica (carbono), nutrientes (nitrogênio e fósforo inorgânico dissolvido) e as taxas diári-
as e/ou anuais da produção primária dos sistemas. Em comparação aos parâmetros físicos e químicos, exis-
te uma maior escassez de estimativas da produção primária, como também do rendimento pesqueiro des-
tes sistemas. Isto se deve ao fato, que estimativas da produção primária necessitam de uma estratégia de
medições temporais e espaciais de maior resolução, como também, da aplicação de diversas metodologias
de estimativas das taxas para cada tipo de produtor primário (fitoplâncton, microalgas e macrófitas). Em
geral, os sistemas da tabela 22.3 apresentam diversos produtores primários, mas a maioria é dominada pela
produção primária fitoplanctônica, com exceção da Lagoa de Araruama (microfitobentos) e as Lagoas de
Piratininga, Marapendi e Tramandaí, que são dominadas por macroalgas bentônicas e gramíneas. A La-
goa dos Patos possui em regiões rasas uma variedade de produtores primários, mas o seu estuário é
dominado pelo fitoplâncton. As informações sobre a produtividade dos deltas e deltas estuarinos são mais
escassas e baseadas em estudos momentâneos, uma vez que a produtividade se manifesta nas águas
costeiras de mais difícil acesso (tabela 22.3).
A maioria das lagunas apresenta condições entre meso a eutróficas e a produtividade primária é entre
média a alta, na ordem de 250 a 400 gC.m–2.ano–1, exceto no estuário da Lagoa dos Patos. As lagunas rasas
e enclausuradas retêm matéria orgânica e reciclam nutrientes de forma mais eficiente, devido também ao
nítido acoplamento dos processos biogeoquímicos entre a água e o sedimento. Os nutrientes nas plumas
costeiras são diluídos pela águas costeiras e apresentam taxas menores de produção primária na faixa de
0.5 a 1 gC.m–2.ano–1. Uma exceção é o setor mediano da extensa pluma sobre a plataforma do Rio Amazo-
nas, que pode apresentar taxas diárias entre 1 a 4 gC.m–2.ano–1, com taxas máximas de 8 gC.m–2.ano–1.
22.4.3 Produtividade e Pesca dos Ecossistemas Marinhos
A classificação dos Grandes Ecossistemas Marinhos (GEM’s) e as condições sedimentares da plataforma con-
tinental foram apresentados no tópico 22.2. Em essência o GEM 16 é oligotrófico com uma produção primá-
ria anual de até 90 gC.m–2.ano–1, caracterizando-se por um aporte fluvial menor que em outras regiões, sen-
do que a plataforma inteira é coberta de sedimentos carbonáticos, abrigando grandes comunidades de algas
calcáreas, ocorrendo um impacto iminente das correntes de borda sobre a plataforma estreita. O GEM 15 do
Sudeste-Sul caracteriza-se por uma produtividade primária mais elevada na ordem de 160 gC.m–2.ano–1,
em função do afastamento da Corrente do Brasil da costa e do impacto da ressurgência costeira e da mar-
gem da plataforma. Há uma maior fração orgânica nos sedimentos e uma variabilidade sazonal da Conver-
gência Subtropical do Atlântico Sul. O GEM 17 é dominado pelo impacto do Rio Amazonas, caracterizan-
do-se pelos grandes depósitos fluviais na plataforma e a interação afora da plataforma com a Corrente Nor-
te do Brasil.
As regiões mais produtivas da plataforma brasileira são a Norte (GEM 17, Amazonas) e a Sudeste- Sul
(GEM 15), e as menos produtivas, o nordeste e algumas seções do leste (GEM 16; tabela 22.2). As imagens
do satélite Seawifs referentes à concentração de clorofila a indicam, claramente, o maior potencial de pro-
dução primária nas regiões norte e sul (figura 22.11). No norte, o rio Amazonas é a principal fonte de nu-
trientes, enquanto que no sul múltiplas fontes sustentam a produção, tais como os sistemas da Prata e Patos
e ressurgências costeiras, de borda de plataforma e oceânicas. As taxas de produção primária na pluma do
Amazonas, rica em nutrientes, variam de 0,8 a 4,0 gC.m–2.dia–1 (média de 2,18 gC.m–2.dia–1), ocasional-
mente atingindo 8,0 gC.m–2.dia–1 na zona de transição. A produção primária nas regiões Sudeste e Sul é
marcada por uma variabilidade espacial e temporal significativa. As taxas são elevadas durante o verão,
quando a ressurgência da ACAS é frequente. As taxas de produção primária nas águas costeiras e de ressur-
gência do Rio de Janeiro variam de 0,3 a 1,3gC.m2.dia–1, na plataforma externa e média de São Paulo e Pa-
raná de 0,1 a 0,5 gC.m2.dia–1 e, ao Sul de Rio Grande (RS), de 0,3 a 2,9 gC.m2.dia–1.
3ª prova
CAPÍTULO 22 � A INTERFACE TERRA-MAR DO BRASIL ⏐ 547
548 ⏐ BIOLOGIA MARINHA
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O nordeste e o leste são regiões de baixa produtividade como indica a distribuição de clorofila a na fi-
gura 22.11. e os dados da tabela 22.2, devido ao impacto da CES. Entretanto, os estudos sobre produção
primária nestas regiões são limitados, faltando estimativas integradas na coluna de água, além das informa-
ções serem principalmente de águas oceânicas. A partir desses dados de produtividade, pode-se deduzir
que a CES e as correntes de borda de oeste variam de 0,02 a 0,2 gC.m2.dia–1, uma vez que estes são valores
plausíveis para águas oceânicas tropicais. A Corrente do Brasil, ao largo do Cabo Frio, uma zona de transi-
ção entre os setores leste e sudeste, apresenta taxas de 0,2 gC.m2.dia–1.
Na costa leste, entre as coordenadas 16 e 22°S, durante o outono, a produção primária é marcada por
uma grande variabilidade espacial. No Banco “Royal Charlotte”, na direção norte do Banco de Abrolhos,
as taxas variam de 0,1 a 0,5 gC.m2.dia–1., sobre o Banco de Abrolhos de 0,3 a 0,8 gC.m2.dia–1 e ao sul do Ban-
co de Abrolhos de 0,3 a 1,1 gC.m2.dia–1. As taxas mais elevadas foram encontradas na plataforma interna,
onde ressurgências costeiras de ACAS proliferam ao longo de 50 m de profundidade. Uma estimativa da
produção primária anual a partir da extrapolação das taxas diárias representa tarefa inviável, uma vez quê
as ressurgências costeiras e as plumas costeiras dos estuários se desenvolvem sazonalmente, em função da
pulsação da ACAS e do aporte continental. Taxas máximas durante o período úmido no verão oscilaram
na faixa de 0.8 a 1.3 g.m2.dia nas águas costeiras influenciadas pela Baia de Guanabara (RJ), Rio Paraíba do
Sul (RJ) e Doce (ES).
3ª prova
CAPÍTULO 22 � A INTERFACE TERRA-MAR DO BRASIL ⏐ 549
Figura 22.11 Distribuição de clorofila a na costa brasileira, obtida através do satélite Seawifs.
Rio Amazonas
Rio da Prata
(CSE)
Corrente
Sul
Equatorial
Concentração de Clorofila (mg.m )a -1
0,01 0,06 0,1 0,6 1 6 10 50
A biomassa de peixes demersais no norte e no sul é similar, mas no sudeste atinge mais de 50%
(350 000 t), o sul 10% (75 000 t) e o norte 13% (94 000 t) da produção pesqueira comercial do Brasil.
No sudeste, a sardinha e a cavalinha são os produtos mais importantes, refletindo a produção orienta-
da para o meio pelágico na área. No sul, a biomassa de peixes demersais é mais elevada que no sudeste,
com importância para vários cianídeos e pescada, sendo que alguns elasmobrânquios, anchovas e cavali-
nhas pelágicas também são importantes (figura 22.12). Maiores detalhes sobre a produção pesqueira
podem ser obtidos no capítulo 10.
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550 ⏐ BIOLOGIA MARINHA
3ª prova
Figura 22.12 Distribuição regional do rendimento da pesca e principais espécies da zona costeira plataforma continental do
Brasil (adaptado de PAIVA, 1997 e EKAU & Knoppers, 1999).
Estados
Plataforma
Norte
do Brasil
Norte
Leste do Brasil
Nordeste Leste Sudeste Sul
Plataforma Sul do BrasilGEMs
Região
Geográfica
Pesca Artesanal
Pesca Industrial
Total
D
e
se
m
b
a
rq
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n
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3ª prova

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