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FÁRMACOS QUE ATUAM NO TRATO GASTROINSTESTINAL Por que o sistema digestório – também referido como sistema gastrintestinal – é de tanto interesse? A razão é que, atualmente, as doenças gastrintestinais correspondem a cerca de 10% do dinheiro gasto em cuidados de saúde. Muitas destas condições, como azia, indigestão, gases e constipação, são problemas que causam mais desconforto do que riscos à saúde, mas o seu significado não deve ser subestimado. • ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO O sistema digestório inicia com a cavidade oral (boca e faringe). O alimento ingerido entra no trato gastrintestinal (trato GI), que consiste em esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso. A digestão, a quebra química e mecânica do alimento, ocorre principalmente no lúmen do intestino. Ao longo do caminho, secreções são adicionadas ao alimento por células secretoras epiteliais e por órgãos glandulares acessórios, que incluem as glândulas salivares, o fígado, a vesícula biliar e o pâncreas. A mistura pastosa de alimento e secreções é conhecida como QUIMO. O trato GI é um longo tubo com paredes musculares alinhadas por um epitélio secretor e transportador. Os produtos da digestão são absorvidos através do epitélio intestinal e passam para o líquido intersticial. De lá eles vão para o sangue ou para a linfa e são distribuídos para todo o corpo. Qualquer resíduo remanescente no lúmen ao final do trato GI deixa o corpo através de uma abertura, chamada de ânus. ➢ O SISTEMA DIGESTÓRIO É UM TUBO Na CAVIDADE ORAL, os primeiros estágios da digestão iniciam com a mastigação e a secreção da saliva por três pares de glândulas salivares: glândulas sublinguais, glândulas submandibulares e glândulas parótidas. O alimento deglutido passa pelo ESÔFAGO, com as paredes constituídas de músculo esquelético no terço superior, mas sofrem transição para músculo liso nos dois terços inferiores. O ESTÔMAGO tem três seções: o fundo superior, o corpo central e o antro inferior. O estômago continua a digestão que iniciou na boca, misturando o alimento com ácido e enzimas para criar o quimo. A abertura entre o estômago e o intestino delgado, ou piloro (porteiro), é protegida pela válvula pilórica. Esta faixa espessa de músculo liso relaxa para permitir que apenas pequenas quantidades de quimo entrem no intestino delgado simultaneamente. A maior parte da digestão ocorre no INTESTINO DELGADO, que possui três seções: o duodeno (os primeiros 25 cm), o jejuno e o íleo (os últimos dois, juntos, têm cerca de 260 cm de comprimento). A digestão é realizada por enzimas intestinais, auxiliadas por secreções exócrinas de dois órgãos glandulares acessórios: o pâncreas e o fígado. As secreções desses dois órgãos entram na porção inicial do duodeno por ductos. Um esfíncter tonicamente contraído (o esfíncter hepatopancreático, ou esfincter de Oddi) impede que o líquido pancreático e a bile entrem no intestino delgado, exceto durante uma refeição. A digestão termina no intestino delgado, e quase todos os nutrientes digeridos e os fluidos secretados são absorvidos lá, deixando cerca de 1,5 litro de quimo por dia passar para o INTESTINO GROSSO. No colo – a secção proximal do intestino grosso – o quimo aquoso transforma-se em fezes semissólidas à medida que a água e os eletrólitos são absorvidos do quimo para o líquido extracelular (LEC). Quando as fezes são propelidas para a seção terminal do intestino grosso, conhecida como reto, a distensão da parede retal desencadeia o reflexo de defecação. As fezes deixam o trato GI pelo ânus, sendo que o esfincter anal externo, constituído de músculo esquelético, está sob controle voluntário. Em uma pessoa viva, o sistema digestório da boca até o ânus tem cerca de 450 cm de comprimento. Deste comprimento, 395 cm consistem nos intestinos grosso e delgado. ➢ A PAREDE DO TRATO GASTRINTESTINAL POSSUI QUATRO CAMADAS A parede intestinal consiste em quatro camadas: (1) uma mucosa interna virada para o lúmen, (2) uma camada conhecida como submucosa, (3) camadas de músculo liso, conhecidas coletivamente como muscular externa, e (4) uma cobertura de tecido conectivo, denominada serosa. ❖ Mucosa A mucosa, o revestimento interno do trato gastrintestinal, tem três camadas: uma única camada de epitélio mucoso virado para o lúmen; a lâmina própria, tecido conectivo subepitelial que segura o epitélio no lugar; e a muscular da mucosa, uma fina camada de músculo liso. Várias modificações estruturais aumentam a área da superfície da mucosa, a fim de aumentar a absorção. 1. O epitélio mucoso possui a mais variável característica do trato GI, mudando de seção para seção. As células da mucosa incluem células epiteliais transportadoras (chamadas de enterócitos no intestino delgado), células secretoras endócrinas e exócrinas, e células-tronco. Na superfície MUCOSA do epitélio (apical), as células secretam íons, enzimas, muco e moléculas parácrinas para o lúmen. Na superfície SEROSA do epitélio (basolateral), as substâncias absorvidas do lúmen e as moléculas secretadas por células epiteliais entram no LEC. As junções célula a célula que unem as células epiteliais do trato GI variam; elas possuem plasticidade e a sua permeabilidade e seletividade podem ser reguladas em algum grau. As células-tronco GI são células indiferenciadas que se dividem rapidamente e produzem de forma contínua um novo epitélio nas criptas e nas glândulas gástricas. A duração média de uma célula epitelial GI é de apenas poucos dias, um bom indicador da vida dura que essas células têm. Como ocorre em outros tipos de epitélio, a rápida renovação e a taxa de divisão celular no trato GI torna esses órgãos suscetíveis ao desenvolvimento de câncer. 2. A lâmina própria é o tecido conectivo subepitelial que contém fibras nervosas e pequenos vasos sanguíneos e linfáticos. Os nutrientes absorvidos passam para o sangue e para a linfa aqui. Esta camada também contém células imunes patrulhadoras, como macrófagos e linfócitos, que patrulham invasores que tenham entrado através de rupturas do epitélio. No intestino, coleções de tecido linfoide adjacente ao epitélio formam pequenos nódulos e grandes placas de Peyer, que criam inchaços visíveis na mucosa. Estes agregados linfáticos constituem a maior parte do tecido linfático associado ao intestino (GALT). 3. A muscular da mucosa, uma fina camada de músculo liso, separa a lâmina própria da submucosa. A contração dos músculos dessa camada altera a área de superfície efetiva para absorção por mover as vilosidades em vai e vem. ❖ Submucosa A submucosa é a camada média da parede do intestino. Ela é composta de tecido conectivo com grandes vasos sanguíneos e linfáticos passando por ela. A submucosa também contém o plexo submucoso, uma das duas principais redes nervosas do sistema nervoso entérico. O plexo submucoso (também chamado de plexo de Meissner) inerva as células na camada epitelial, bem como o músculo liso da muscular da mucosa. ❖ Muscular externa A parede externa do trato gastrintestinal, a muscular externa, consiste primariamente de duas camadas de músculo liso: uma camada interna circular e uma camada externa longitudinal. A contração da camada circular diminui o diâmetro do lúmen. A contração da camada longitudinal encurta o tubo. O estômago possui uma terceira camada incompleta de músculo oblíquo entre a camada muscular circular e a submucosa. A segunda rede nervosa do sistema nervoso entérico, o plexo mioentérico, situa-se entre as camadas musculares longitudinal e circular. O plexo mioentérico (também chamado de plexo de Auerbach) controla e coordena a atividade motora da camada muscular externa. ❖ Serosa O revestimento exterior de todo o trato digestório, a serosa, é uma membrana de tecido conectivo que é uma continuação da membrana peritoneal (peritônio) que reveste a cavidade abdominal.O peritônio também forma o mesentério, que mantém o intestino no lugar para que ele não fique enroscado quando se move. • FUNÇÕES E PROCESSOS DIGESTÓRIOS O sistema usa quatro processos básicos: digestão, absorção, secreção e motilidade. A digestão é a quebra, ou degradação, química e mecânica dos alimentos em unidades menores que podem ser levadas através do epitélio intestinal para dentro do corpo. A absorção é o movimento de substâncias do lúmen do trato GI para o líquido extracelular. A secreção no trato GI possui dois significados: ela pode significar o movimento de água e íons do LEC para o lúmen do trato digestório (o oposto da absorção), mas pode também significar a liberação de substâncias sintetizadas pelas células epiteliais do GI tanto no lúmen quanto no LEC. A motilidade é o movimento de material no trato GI como resultado da contração muscular. O sistema digestório enfrenta três desafios significativos: 1. Evitar a autodigestão. O alimento que comemos está principalmente sob a forma de macromoléculas, como proteínas e carboidratos complexos, de modo que o nosso sistema digestório precisa secretar enzimas potentes para digerir os alimentos em moléculas que sejam pequenas o suficiente para serem absorvidas pelo corpo. Ao mesmo tempo, entretanto, essas enzimas não devem digerir o próprio trato GI (autodigestão). Se os mecanismos protetores contra a autodigestão falharem, escoriações, conhecidas como úlceras pépticas, desenvolvem-se nas paredes do trato GI. 2. Balanço de massa. Outro desafio que o sistema digestório enfrenta diariamente é a manutenção do balanço de massa por meio da combinação da entrada e saída de líquidos. As pessoas ingerem cerca de 2 litros de líquido por dia. Além disso, as glândulas e as células exócrinas secretam aproximadamente 7 litros de enzimas, muco, eletrólitos e água no lúmen do trato GI. Este volume de líquido secretado é o equivalente a um sexto da água corporal total (42 litros), ou mais de duas vezes o volume plasmático de 3 litros. Se o líquido secretado não puder ser absorvido, o corpo desidratará rapidamente. Normalmente, a absorção é muito eficiente, e apenas cerca de 100 mL de líquido é perdido nas fezes. Entretanto, vômito e diarreia (fezes excessivamente aquosas) podem se tornar uma emergência quando as secreções GI são perdidas para o ambiente, em vez de serem reabsorvidas. Em casos graves, esse líquido perdido pode diminuir o volume do líquido extracelular a ponto de o sistema circulatório ser incapaz de manter a pressão sanguínea adequada. 3. Defesa. O desafio final que o sistema digestório enfrenta é proteger o corpo de invasores estranhos. Ao contrário do que se imagina, a maior área de contato entre o meio interno e o mundo exterior está no lúmen do sistema digestório. Como consequência, o trato GI, com sua área de superfície total do tamanho aproximado de uma quadra de tênis, enfrenta diariamente o conflito entre a necessidade de absorver água e nutrientes e a necessidade de evitar que bactérias, vírus e outros patógenos entrem no corpo. Para isso, o epitélio transportador do trato GI é auxiliado por um conjunto de mecanismos fisiológicos de defesa, incluindo muco, enzimas digestórias, ácido e a maior coleção de tecido linfático do corpo, o tecido linfático associado ao intestino (GALT). Estima-se que 80% de todos os linfócitos do corpo são encontrados no intestino delgado. ➢ ENZIMAS DIGESTÓRIAS As enzimas digestórias são secretadas tanto por glândulas exócrinas (glândulas salivares e o pâncreas) quanto por células epiteliais no estômago e no intestino delgado. As enzimas são proteínas, as quais são sintetizadas pelo retículo endoplasmático rugoso, empacotadas pelo aparelho de Golgi em vesículas secretoras e, então, estocadas nas células até serem necessárias. Conforme a necessidade, elas são liberadas por exocitose. Algumas enzimas digestórias são secretadas na forma de proenzimas inativas, conhecidas como ZIMOGÊNIOS. Os zimogênios devem ser ativados no lúmen GI antes que eles possam realizar a digestão. Sintetizar as enzimas em uma forma não funcional permite que elas sejam estocadas nas células que as produzem sem causar danos às mesmas. A nomenclatura dos zimogênios frequentemente tem o sufixo – ogênio adicionado ao nome da enzima, como pepsinogênio. ➢ MUCO O muco é uma secreção viscosa composta primariamente de glicoproteínas, chamadas de mucinas. As principais funções do muco são formar uma cobertura protetora sobre a mucosa GI e lubrificar o conteúdo do intestino. O muco é feito em células exócrinas especializadas, chamadas de células mucosas, no estômago e nas glândulas salivares, e células caliciformes no intestino. As células caliciformes constituem entre 10 e 24% da população celular intestinal. Os sinais para a liberação de muco incluem inervação parassimpática, vários neuropeptídios encontrados no sistema nervoso entérico e citocinas provenientes dos imunócitos. • REGULAÇÃO DA FUNÇÃO GASTROINTESTINAL Dos quatro processos GI, a motilidade e a secreção são as principais funções reguladas. O SISTEMA NERVOSO ENTÉRICO (SNE) tem a habilidade de realizar um reflexo independentemente do controle exercido pelo sistema nervoso central (SNC). O sistema nervoso entérico controla a motilidade, a secreção e o crescimento do trato digestório. Anatômica e funcionalmente, o SNE compartilha muitas características com o SNC: 1. Neurônios intrínsecos. Os neurônios intrínsecos dos dois plexos nervosos do trato digestório são aqueles que se situam completamente dentro da parede do trato GI, exatamente como os interneurônios estão contidos inteiramente no SNC. Os neurônios autonômicos que levam sinais do SNC para o sistema digestório são denominados neurônios extrínsecos. 2. Neurotransmissores e neuromoduladores. Os neurônios do SNE liberam mais de 30 neurotransmissores e neuromoduladores, a maioria dos quais são idênticos a moléculas encontradas no encéfalo. Esses neurotransmissores são algumas vezes chamados de não adrenérgicos, não colinérgicos para os distinguir dos neurotransmissores autonômicos tradicionais, noradrenalina e acetilcolina. Entre os neurotransmissores e neuromoduladores mais conhecidos estão a serotonina, o peptídeo intestinal vasoativo e o óxido nítrico. 3. Células gliais de sustentação. As células gliais de sustentação dos neurônios dentro do SNE são mais similares à astroglia do encéfalo do que às células de Schwann do sistema nervoso periférico. 4. Barreira de difusão. Os capilares que circundam os gânglios no SNE não são muito permeáveis e criam uma barreira de difusão que é similar à barreira hematoencefálica dos vasos sanguíneos encefálicos. 5. Centros integradores. Como observado anteriormente, reflexos que se originam no trato GI podem ser integrados e atuar sem que os sinais neurais deixem o SNE. Assim, a rede de neurônios do SNE é o seu próprio centro integrador, assim como o encéfalo e a medula espinal. Os reflexos que se originam dentro do sistema nervoso entérico (SNE) e são integrados por ele sem sinais externos são denominados reflexos curtos. O plexo submucoso contém neurônios sensoriais que recebem sinais do lúmen do trato GI. A rede do SNE integra esta informação sensorial e, então, inicia a resposta. O plexo submucoso controla a secreção pelas células epiteliais GI. Os neurônios do plexo mioentérico na camada muscular externa influenciam a motilidade. O SNE também envia informações sensoriais para o SNC e recebe aferências dele através dos neurônios autonômicos. Os reflexos digestórios integrados no SNC são chamados de reflexos longos. Os reflexos longos que se originam completamente fora do sistema digestório incluem reflexos antecipatórios e reflexos emocionais. Esses reflexos são chamados de reflexos cefálicos, uma vez que eles se originam no encéfalo. Os reflexos antecipatórios iniciam com estímulos – como visão,cheiro, som ou pensamento no alimento – que preparam o sistema digestório para a refeição que o encéfalo está antecipando. Os reflexos emocionais e a sua influência no trato GI ilustram outra ligação entre o cérebro e o sistema digestório. As respostas GI às emoções variam da constipação do viajante a “borboletas no estômago” para vômitos e diarreia induzidos psicologicamente. Nos reflexos longos, o músculo liso e as glândulas do trato GI estão sob controle autonômico. Em geraI, fala-se que a divisão parassimpática é excitatória e realça as funções GI, levando ao seu apelido de “descansar e digerir”. A maioria dos neurônios parassimpáticos para o trato GI são encontrados no nervo vago. Os neurônios simpáticos normalmente inibem as funções GI. ➢ OS PEPTÍDEOS GASTRINTESTINAIS INCLUEM HORMÔNIOS, NEUROPEPTÍDEOS E CITOCINAS Os peptídeos secretados pelas células do trato GI podem atuar como hormônios ou como sinais parácrinos. No sistema digestório, os PEPTÍDEOS GI excitam ou inibem a motilidade e a secreção. Alguns peptídeos parácrinos são secretados para o lúmen, onde eles se ligam a receptores na membrana apical para desencadear uma resposta. Outros são secretados no líquido extracelular, onde eles difundem curtas distâncias para agir em células vizinhas. Os peptídeos GI também atuam fora do trato GI, e algumas de suas mais importantes ações envolvem o cérebro. Por exemplo, em estudos experimentais, o hormônio GI colecistocinina (CCK) melhora a saciedade, dando a sensação de que a fome foi saciada. No entanto, a CCK também é produzida por neurônios e funciona como um neurotransmissor no cérebro. Outro peptídeo GI, a grelina, é secretado pelo estômago e age no cérebro para aumentar a ingestão alimentar. ❖ Hormônios GI Os hormônios GI, como todos os hormônios, são secretados no sangue e transportados através do corpo. Eles atuam sobre o trato GI, em órgãos acessórios, como o pâncreas, e em alvos mais distantes, como o encéfalo. Pesquisadores descobriram que o quimo ácido que entrava no intestino delgado vindo do estômago causava a liberação de suco pancreático, mesmo quando todos os nervos que se dirigem para o pâncreas eram cortados. Eles nomearam a substância de secretina. Em 1905, J. S. Edkins postulou a existência de um hormônio gástrico que estimula a secreção gástrica ácida. Anos depois, o hormônio foi denominado gastrina. ❖ Famílias de hormônios GI Os hormônios gastrintestinais são geralmente divididos em três famílias. Todos os membros de uma família têm sequências de aminoácidos semelhantes e, em alguns casos, há sobreposição nas suas habilidades para se ligarem aos receptores. 1. A família da gastrina inclui os hormônios gastrina e colecistocinina (CCK) mais diversas variantes de cada. A sua similaridade estrutural implica que a gastrina e a CCK podem se ligar e ativar o mesmo receptor CCKB. 2. A família da secretina inclui a secretina; o peptídeo intestinal vasoativo (VIP), um neurotransmissor não adrenérgico, não colinérgico; e GIP, um hormônio conhecido originalmente como peptídeo inibidor gástrico, uma vez que ele inibiu a secreção ácida gástrica em experimentos iniciais. Alguns estudos subsequentes, contudo, indicaram que o GIP administrado em doses fisiológicas mais baixas não bloqueia a secreção ácida. Assim, os pesquisadores sugeriram um novo nome com as mesmas iniciais – peptídeo insulinotrópico dependente de glicose – que mais precisamente descreve a ação desse hormônio: ele estimula a liberação da insulina em resposta à glicose no lúmen do intestino. No entanto, para a maioria das pessoas, o nome preferido permanece sendo peptídeo inibidor gástrico. Outro membro da família da secretina é o hormônio peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1). O GIP e o GLP-1 agem juntos como sinais antecipatórios para a liberação de insulina. 3. A terceira família de peptídeos contém aqueles que não se encaixam nas outras duas famílias. O membro principal desse grupo é o hormônio motilina. Aumentos na secreção de motilina são associados ao complexo motor migratório. • FUNÇÃO INTEGRADA: A FASE CEFÁLICA Os processos digestórios no corpo iniciam antes que a comida entre na boca. Simplesmente cheirar, ver, ou até mesmo pensar sobre o alimento pode fazer a nossa boca salivar ou nosso estômago roncar. Estes reflexos longos que iniciam no cérebro criam uma resposta antecipatória, conhecida como fase cefálica da digestão. O estímulo antecipatório e o estímulo do alimento na cavidade oral ativam neurônios no bulbo. O bulbo, por sua vez, manda sinais eferentes através de neurônios autonômicos para as glândulas salivares, e através do nervo vago para o sistema nervoso entérico. Em resposta a esses sinais, o estômago, o intestino e os órgãos glandulares acessórios iniciam a secreção e aumentam a motilidade em antecipação ao alimento que virá. ➢ A DIGESTÃO MECÂNICA E QUÍMICA INICIA NA BOCA Quando o alimento inicialmente entra na boca, ele é inundado por uma secreção, a qual chamamos de saliva. A saliva tem quatro funções importantes: 1. Amolecer e lubrificar o alimento. A água e o muco na saliva amolecem e lubrificam o alimento para torná-lo mais fácil de deglutir. 2. Digestão do amido. A digestão química inicia com a secreção da amilase salivar. A amilase quebra o amido em maltose depois que a enzima é ativada por Cl na saliva. Se você mastigar uma bolacha sem sal por algum tempo, perceberá a conversão do amido em maltose, a qual é mais doce. 3. Gustação. A saliva dissolve o alimento para que possamos sentir seu gosto. 4. Defesa. A função final da saliva é a defesa. A lisozima é uma enzima salivar antibacteriana, e imunoglobulinas salivares incapacitam bactérias e vírus. Além disso, a saliva ajuda a limpar os dentes e manter a língua livre de partículas alimentares. A saliva é um complexo fluido hiposmótico que contém água, íons, muco e proteínas, como enzimas e imunoglobulinas. As secreções dos três pares de glândulas salivares variam em composição. As glândulas parótidas produzem uma solução aquosa de enzimas, ao passo que as glândulas sublinguais produzem uma saliva rica em muco. As secreções das glândulas submandibulares são mistas, com ambos, muco e enzimas. A PRODUÇÃO DE SALIVA é um processo de dois passos: 1. O fluido inicial secretado pelas células acinares se assemelha ao líquido extracelular em sua composição iônica: uma solução isotônica de NaCl. 2. Conforme este fluido passa através do ducto no seu caminho para a cavidade oral, as células epiteliais ao longo do ducto reabsorvem NaCl e secretam K e íon bicarbonato até que a razão entre os íons no fluido do ducto seja mais parecida com a do líquido entracelular (alta em K e baixa em Na). As membranas apicais das células do ducto têm pouca permeabilidade à água, e a remoção efetiva de soluto do fluido secretado resulta em saliva hiposmótica em relação ao plasma. A salivação está sob controle autonômico e pode ser desencadeada por múltiplos estímulos, incluindo visão, cheiro, contato e até mesmo o pensamento no alimento. A inervação parassimpática é o estímulo primário para a secreção da saliva, mas também há alguma inervação simpática nas glândulas. ➢ A DEGLUTIÇÃO LEVA O BOLO ALIMENTAR DA BOCA PARA O ESTÔMAGO O ato de engolir, ou deglutição, é uma ação reflexa que empurra o bolo de alimento ou de líquido para o esôfago. A pressão do bolo ativa neurônios sensoriais que levam informações pelo nervo glossofaríngeo (nervo craniano IX) para o centro da deglutição no bulbo. As eferências do centro da deglutição consistem em neurônios motores somáticos que controlam os músculos esqueléticos da faringe e do esôfago superior, bem como neurônios autonômicos que agem nas porções inferiores do esôfago. Quando o reflexo de deglutição inicia, o palato mole eleva-se para fechar a nasofaringe. A contração muscular move a laringe para cimae para a frente, o que ajuda a fechar a traqueia e abrir o esfincter esofágico superior. Enquanto o bolo se move para baixo no esôfago, a epiglote dobra-se para baixo, completando o fechamento das vias aéreas superiores e prevenindo que alimentos ou líquidos entrem nas vias aéreas. Ao mesmo tempo, a respiração é brevemente inibida. Quando o bolo se aproxima do esôfago, o esfincter esofágico superior relaxa. Ondas de contrações peristálticas, então, empurram o bolo em direção ao estômago, auxiliadas pela gravidade. A extremidade inferior do esôfago situa-se logo abaixo do diafragma e é separada do estômago pelo esfincter esofágico inferior. Se o esfincter esofágico inferior não permanecer contraído, o ácido gástrico e a pepsina podem irritar a parede do esôfago, levando à dor e à irritação do refluxo gastresofágico, mais conhecido como azia. Durante a fase da inspiração da respiração, quando a pressão intrapleural cai, as paredes do esôfago expandem-se. A expansão cria uma pressão subatmosférica no lúmen esofágico, que pode sugar o conteúdo ácido do estômago se o esfincter estiver relaxado. A agitação do estômago, quando este está cheio, pode também esguichar ácido de volta para o esôfago se o esfincter não estiver completamente contraído. A doença do refluxo gastresofágico ou DRGE, é um dos mais comuns problemas digestórios na sociedade norte- americana. • FUNÇÃO INTEGRADA: A FASE GÁSTRICA Aproximadamente 3,5 litros de comida, bebida e saliva entram no fundo do estômago a cada dia. O estômago possui três funções gerais: 1. Armazenamento. O estômago armazena alimento e regula a sua passagem para o intestino delgado, onde ocorre a maior parte da digestão e da absorção. 2. Digestão. O estômago digere a comida, química e mecanicamente, formando a mistura “cremosa” de partículas uniformemente pequenas, chamada de quimo. 3. Defesa. O estômago protege o corpo por destruir muitas das bactérias e outros patógenos que são deglutidos juntamente com a comida ou aprisionados no muco das vias respiratórias. Ao mesmo tempo, o estômago precisa proteger a si mesmo de ser agredido por suas próprias secreções. Nos reflexos da fase gástrica, a distensão do estômago e a presença de peptídeos ou de aminoácidos no lúmen ativam células endócrinas e neurônios entéricos. Hormônios, neurotransmissores e moléculas parácrinas, então, influenciam a motilidade e a secreção. Quando ingerimos mais do que necessitamos do ponto de vista nutricional, o estômago precisa regular a velocidade na qual o quimo entra no intestino delgado. Sem essa regulação, o intestino delgado não seria capaz de digerir e absorver a carga de quimo que chega, e quantidades significativas de quimo não absorvido passariam para o intestino grosso. O epitélio do intestino grosso não é projetado para absorção de nutrientes em larga escala, então a maioria do quimo se tornará fezes, resultando em diarreia. Este “distúrbio do esvaziamento” (“síndrome de dumping”) é um dos efeitos colaterais mais desagradáveis da cirurgia que remove porções do estômago ou do intestino delgado. ➢ SECREÇÕES GÁSTRICAS PROTEGEM E DIGEREM O lúmen do estômago é alinhado com o epitélio produtor de muco, pontuado por aberturas de fovéolas (fossas) gástricas. As fossas levam a glândulas gástricas profundas dentro da camada mucosa. Múltiplos tipos celulares dentro das glândulas produzem ácido gástrico (HCl), enzimas, hormônios e moléculas parácrinas. ❖ Secreção de gastrina As células G, encontradas profundamente nas glândulas gástricas, secretam o hormônio gastrina no sangue. Em reflexos curtos, a liberação de gastrina é estimulada pela presença de aminoácidos e de peptídeos no estômago e por distensão do estômago. O café (mesmo o descafeinado) também estimula a liberação de gastrina – uma razão para que pessoas com síndromes de secreção ácida excessiva evitem a ingestão de café! A liberação de gastrina é também desencadeada por reflexos neurais. Os reflexos curtos são mediados por um neurotransmissor do SNE, chamado de peptídeo liberador de gastrina (GRP). Nos reflexos cefálicos, os neurônios parassimpáticos do nervo vago estimulam as células G para que elas liberem gastrina no sangue. A principal ação da gastrina é promover a liberação de ácido. Ela faz isso diretamente por agir nas células parietais e indiretamente por estimular a liberação de histamina. ❖ Secreção Ácida As células parietais profundas nas glândulas gástricas secretam o ácido gástrico (HCl) no lúmen do estômago. A secreção ácida no estômago é, em média, de 1 a 3 litros por dia e pode criar um pH luminal tão baixo quanto 1. O pH citoplasmático das células parietais é de cerca de 7,2, ou seja, as células bombeiam H+ contra um gradiente (menos para o mais) que pode ser 1,5 milhão de vezes mais concentrado no lúmen. O ácido gástrico tem múltiplas funções: 1. O ácido no lúmen do estômago causa a liberação e a ativação da pepsina, uma enzima que digere proteínas. 2. O ácido desencadeia a liberação de somatostatina pelas células D. 3. O HCl desnatura proteínas por quebrar as ligações dissulfeto e de hidrogênio que mantêm a estrutura terciária da proteína. Cadeias proteicas desenoveladas podem deixar as ligações peptídicas entre os aminoácidos mais acessíveis à digestão pela pepsina. 4. O ácido gástrico ajuda a destruir bactérias e outros microrganismos ingeridos. 5. O ácido inativa a amilase salivar, cessando a digestão de carboidratos que iniciou na boca. O processo inicia quando o H+ (proveniente da água) do citosol da célula parietal é bombeado para o lúmen do estômago em troca por K+, que entra na célula, por uma H+- K+-ATPase. O Cl-, então, segue o gradiente elétrico criado por H+, movendo-se através de canais de cloreto abertos. O resultado líquido é a secreção de HCl pela célula. Os cientistas foram capazes de desenvolver uma nova classe de fármacos para tratar a hipersecreção de ácido gástrico. Estes fármacos, conhecidos como inibidores da bomba de prótons (PPIs), bloqueiam a atividade da H+-K+-ATPase. Enquanto o ácido está sendo secretado no lúmen, o bicarbonato produzido a partir de CO2 e OH da água é absorvido para o sangue. A ação tamponante do HCO3- torna o sangue menos ácido ao deixar o estômago, criando uma maré alcalina que pode ser medida enquanto uma refeição está sendo digerida. ❖ Secreção Enzimática O estômago produz duas enzimas: pepsina e uma lipase gástrica. A pepsina realiza a digestão inicial de proteínas. Ela é particularmente efetiva no colágeno e, assim, tem um importante papel na digestão de carne. A pepsina é secretada na forma inativa pepsinogênio pelas células principais das glândulas gástricas. O ácido estimula a liberação de pepsinogênio por meio de um reflexo curto mediado no SNE. Uma vez no lúmen do estômago, o pepsinogênio é clivado à pepsina ativa pela ação do H+, e a digestão proteica inicia. A lipase gástrica é cossecretada com a pepsina. As lipases são enzimas que quebram triacilgliceróis. No entanto, menos de um terço da digestão de gordura ocorre no estômago. ❖ Secreções Parácrinas As secreções parácrinas da mucosa gástrica incluem histamina, somatostatina e fator intrínseco. A histamina é um sinal parácrino secretado pelas células semelhantes às enterocromafins (células ECL) em resposta à estimulação por gastrina ou por acetilcolina. A histamina difunde-se para o seu alvo, as células parietais, estimulando a secreção ácida por se ligar a receptores H2 nas células parietais. Os antagonistas de receptores H2 (p. ex., cimetidina e ranitidina) que bloqueiam a ação da histamina são a segunda classe de fármacos usados para tratar a hipersecreção ácida. O fator intrínseco é uma proteína secretada pelas células parietais, mesmas células gástricas que secretam ácido. No lúmen do estômago e do intestino delgado, o fator intrínseco se complexa com a vitamina B12,um passo que é necessário para a absorção da vitamina no intestino. A somatostatina (SS), também conhecida como hormônio inibidor do hormônio do crescimento, é secretada por células D no estômago. A somatostatina é o sinal de retroalimentação negativa primário da secreção na fase gástrica. Ela reduz a secreção ácida direta e indiretamente por diminuir a secreção de gastrina e histamina. A somatostatina também inibe a secreção de pepsinogênio. Sob condições normais, a mucosa gástrica protege a si mesma da autodigestão por ácido e enzimas com uma barreira muco-bicarbonato. As células mucosas na superfície luminal e no colo das glândulas gástricas secretam ambas as substâncias. O muco forma uma barreira física, e o bicarbonato cria uma barreira tamponante química subjacente ao muco. • FUNÇÃO INTEGRADA: A FASE INTESTINAL Uma vez que o quimo passa ao intestino delgado, a fase intestinal da digestão inicia. O quimo que entra no intestino delgado sofreu relativamente pouca digestão química, então sua entrada no duodeno deve ser controlada para evitar sobrecarga ao intestino delgado. Os movimentos para a frente do quimo ao longo do intestino devem ser suficientemente lentos para permitir que a digestão e a absorção sejam completadas. A inervação parassimpática e os hormônios GI gastrina e CCK promovem a motilidade intestinal; a inervação simpática inibe-a. Aproximadamente 5,5 litros de alimentos, líquidos e secreções entram no intestino delgado a cada dia, e cerca de 3,5 litros de secreções hepática, pancreática e intestinal são adicionados, perfazendo uma entrada total de 9 litros no lúmen. Tudo, menos cerca de 1,5 litro deste volume, é absorvido no intestino delgado, a maioria no duodeno e no jejuno. O sangue venoso proveniente do trato digestório não vai diretamente de volta ao coração. Em vez disso, ele passa para o sistema porta-hepático. Essa região especializada da circulação tem dois conjuntos de leitos capilares: um que capta nutrientes absorvidos no intestino, e outro que leva os nutrientes diretamente para o fígado. O envio de materiais absorvidos diretamente para o fígado ressalta a importância desse órgão como um filtro biológico. Os hepatócitos contêm uma variedade de enzimas, como as isoenzimas citocromo p450, que metabolizam fármacos e xenobióticos e os retiram da circulação sanguínea antes de eles alcançarem a circulação sistêmica. ➢ AS SECREÇÕES INTESTINAIS PROMOVEM A DIGESTÃO A cada dia, o fígado, o pâncreas e o intestino produzem mais de 3 litros de secreções, cujos conteúdos são necessários para completar a digestão dos nutrientes ingeridos. As secreções adicionadas incluem enzimas digestórias, bile, bicarbonato, muco e solução isotônica de NaCl. 1. As enzimas digestórias são produzidas pelo epitélio intestinal e pelo pâncreas exócrino. As enzimas da borda em escova intestinal são ancoradas à membrana luminal das células e não são varridas para fora do intestino conforme o quimo é empurrado para a frente. As vias de controle para a liberação de enzimas variam, mas incluem vários sinais neurais, hormonais e parácrinos. Em geral, a estimulação dos neurônios parassimpáticos do nervo vago aumenta a secreção de enzimas. 2. A bile produzida no fígado e secretada pela vesícula biliar é uma solução não enzimática que facilita a digestão de gorduras. 3. A secreção de bicarbonato para dentro do intestino delgado neutraliza o quimo extremamente ácido que vem do estômago. A maior parte do bicarbonato vem do pâncreas e é liberado em resposta a estímulos neurais e à secretina. 4. O muco das células caliciformes intestinais protege o epitélio e lubrifica o conteúdo intestinal. 5. Uma solução isotônica de NaCl mistura-se com o muco para ajudar a lubrificar o conteúdo do intestino. ❖ Secreção isotônica de NaCl As células das criptas do intestino delgado e do colo secretam uma solução isotônica de NaCl em um processo similar ao passo inicial da salivação. O cloreto do LEC entra nas células via transportadores NKCC e, em seguida, sai para o lúmen através de um canal de Cl-, conhecido como canal regulador de condutância transmembrana de fibrose cística, ou canal CFTR. O movimento do Cl negativamente carregado para o lúmen atrai o Na+ por meio do gradiente elétrico através de junções comunicantes celulares. A água segue o Na+ ao longo do gradiente osmótico criado pela redistribuição do NaCl. O resultado é a secreção de solução salina isotônica. ➢ O PÂNCREAS SECRETA ENZIMAS DIGESTÓRIAS E BICARBONATO O pâncreas é um órgão que contém ambos os tipos de epitélio secretor: endócrino e exócrino. A SECREÇÃO ENDÓCRINA é proveniente de agrupamentos de células, chamadas de ilhotas, e inclui os hormônios insulina e glucagon. As SECREÇÕES EXÓCRINAS incluem enzimas digestórias e uma solução aquosa de bicarbonato de sódio, NaHCO3. A porção exócrina do pâncreas consiste em lóbulos, chamados de ácinos, similares àqueles das glândulas salivares. Os ductos dos ácinos esvaziam no duodeno. As células acinares secretam enzimas digestórias, e as células do ducto secretam solução de NaHCO3. ❖ Secreção de Enzimas A maior parte das enzimas pancreáticas são secretadas como zimogênios, que devem ser ativados no momento de chegada no intestino. Este processo de ativação é uma cascata que inicia quando a enteropeptidase da borda em escova (previamente chamada de enterocinase) converte o tripsinogênio inativo em tripsina. A tripsina, então, converte os outros zimogênios pancreáticos em suas formas ativas. Os sinais para a liberação das enzimas pancreáticas incluem distensão do intestino delgado, presença de alimento no intestino, sinais neurais e hormônio CCK. As enzimas pancreáticas entram no intestino em um fluido aquoso que também contém bicarbonato. ❖ Secreção de bicarbonato A secreção de bicarbonato para o duodeno neutraliza o ácido proveniente do estômago. Uma pequena quantidade de bicarbonato é secretada por células duodenais, mas a maior parte vem do pâncreas. A produção de bicarbonato requer altos níveis da enzima anidrase carbônica, níveis similares àqueles encontrados nas células tubulares renais e nos eritrócitos. O bicarbonato produzido a partir de CO2 e água é secretado por um trocador apical Cl--HCO3-. Os íons hidrogênio produzidos juntamente com o bicarbonato deixam a célula por trocadores Na+-H+ na membrana basolateral. O H+ então reabsorvido na circulação intestinal ajuda a equilibrar o HCO3- colocado na circulação quando as células parietais secretaram H+ no estômago. O cloreto trocado por bicarbonato entra na célula pelo cotransportador NKCC na membrana basolateral e sai por um canal CFTR na apical. O Cl luminal, então, reentra na célula em troca de HCO3- entrando no lúmen. Defeitos na estrutura ou na função do canal CFTR causam a doença fibrose cística, e a perturbação da secreção pancreática é uma característica dessa doença. Em ambos, pâncreas e criptas intestinais, a secreção de sódio e água é um processo passivo, dirigido por gradientes eletroquímicos e osmóticos. O movimento de íons negativos do LEC para o lúmen cria um gradiente elétrico negativo no lúmen que atrai Na+. O sódio move-se a favor do gradiente eletroquímico através de junções comunicantes entre as células. A transferência de Na+ e de HCO3- do LEC para o lúmen cria um gradiente osmótico, e a água segue por osmose. O resultado final é a secreção de uma solução aquosa de bicarbonato de sódio. ➢ O FÍGADO SECRETA A BILE A bile é uma solução não enzimática secretada pelos hepatócitos, ou células do fígado. Os componentes- chave da bile são (1) sais biliares, que facilitam a digestão enzimática de gorduras, (2) pigmentos biliares, como a bilirrubina, que são os produtos residuais da degradação da hemoglobina, e (3) colesterol, que é excretado nas fezes. Fármacos e outros xenobióticos são depurados do sangue pelo processamentohepático e são também excretados na bile. Os sais biliares, que agem como detergentes para tornar as gorduras solúveis durante a digestão, são produzidos a partir dos ácidos biliares esteroides combinados com aminoácidos e ionizados. A bile secretada pelos hepatócitos flui pelos ductos hepáticos até a vesícula biliar, que armazena e concentra a solução biliar. Durante uma refeição que inclua gorduras, a contração da vesícula biliar envia bile para o duodeno através do ducto colédoco. Os sais biliares, como os fosfolipídios das membranas celulares, são anfipáticos, isto é, eles têm tanto uma região hidrofóbica quanto uma região hidrofílica. As regiões hidrofóbicas dos sais biliares associam-se à superfície das gotas lipídicas, ao passo que a cadeia lateral polar interage com a água, criando uma emulsão estável de pequenas gotas de gordura solúveis em água. A vesícula biliar é um órgão que não é essencial para a digestão normal, e se o ducto se torna bloqueado por depósitos duros, conhecidos como pedras da vesícula, a vesícula biliar pode ser removida sem criar problemas de longo prazo. ➢ O INTESTINO GROSSO CONCENTRA OS RESÍDUOS No final do íleo, resta apenas cerca de 1,5 litro de quimo não absorvido. O colo absorve a maior parte desse volume, de modo que, em geral, apenas cerca de 0,1 litro de água é perdido diariamente nas fezes. O intestino grosso possui sete regiões. O ceco é uma bolsa com o apêndice, uma pequena projeção sem saída similar a um dedo, em sua terminação ventral. O material move-se do ceco para cima através do colo ascendente, horizontalmente ao longo do corpo pelo colo transverso e, então, para baixo pelo colo descendente e pelo colo sigmoide. O reto é a seção terminal curta do intestino grosso (cerca de 12 cm). Ele é separado do ambiente externo pelo ânus, uma abertura controlada por dois esfíncteres, um esfíncter interno de músculo liso e um esfíncter externo de músculo estriado esquelético. • A DIARREIA PODE CAUSAR DESIDRATAÇÃO A diarreia é um estado patológico no qual a secreção intestinal de líquido não é equilibrada pela absorção, resultando em fezes aquosas. Ela ocorre se os mecanismos intestinais normais de absorção de água forem alterados ou se houver solutos osmoticamente ativos não absorvidos que “seguram” a água no lúmen. Substâncias que causam diarreia osmótica incluem a lactose não digerida e o sorbitol, um poliálcool de plantas. Outro soluto não absorvível que pode causar diarreia osmótica, cólica intestinal e gases é a olestra, a “falsa gordura” sintetizada a partir de óleo vegetal e açúcar. Diarreias secretoras ocorrem quando toxinas bacterianas, como a toxina da cólera do Vibrio cholerae e a enterotoxina da Escherichia coli, aumentam a secreção colônica de Cl- e de fluidos. Quando a secreção excessiva de líquido é associada ao aumento da motilidade, ocorre diarreia. A diarreia secretora em resposta a uma infecção intestinal pode ser vista como adaptativa, uma vez que ajuda a arrastar patógenos para fora do lúmen. No entanto, ela também tem o potencial de causar desidratação se a perda de líquidos for excessiva. • O VÔMITO É UM REFLEXO PROTETOR O vômito, ou êmese, a expulsão forçada de conteúdo gástrico e duodenal pela boca, é um reflexo protetor que remove materiais tóxicos do trato GI antes que eles possam ser absorvidos. Contudo, o vômito excessivo ou prolongado com perda de ácido gástrico pode causar alcalose metabólica. O reflexo do vômito é coordenado por um centro do vômito no bulbo. O reflexo inicia com a estimulação de receptores sensoriais e é muitas vezes (mas não sempre) acompanhado por náusea. A estimulação da parede posterior da faringe também pode induzir o vômito. Os sinais eferentes do centro do vômito iniciam uma onda peristáltica retrógrada que inicia no intestino delgado e se move para cima. Essa onda é ajudada pela contração abdominal que aumenta a pressão intra- abdominal. O estômago relaxa de modo que a pressão aumentada force o conteúdo gástrico e intestinal de volta para o esôfago e para fora da boca. • FÁRMACOS USADOS PARA TRATAR ÚLCERAS PÉPTICAS E REFLUXO GASTRESOFÁGICO As duas principais causas de úlcera péptica são infecção com o gram-negativo Helicobacter pylori e o uso de anti- inflamatórios não esteroides (AINEs). O aumento da secreção de ácido clorídrico (HCl) e a defesa inadequada da mucosa contra o HCl (muco e bicarbonato) também têm seu papel nesse processo. O tratamento inclui: 1) erradicação da H. pylori (amoxicilina - metronidazol pode ser usado em pacientes alérgicos à penicilina - mais claritromicina); 2) diminuição da secreção de HCl com uso de IBPs ou antagonistas de receptor H2; e/ou 3) administração de fármacos que protejam a mucosa gástrica da lesão, como misoprostol e sucralfato. ➢ ANTIÁCIDOS Usados por muito tempo, até o aparecimento dos antagonistas H2 e IBP. Tratam-se de bases fracas que reagem com o ácido, formando sal e água. 1. Bicarbonato de sódio: Libera CO2 e NaCl; pode causar alcalose (altas doses ou disfunção renal). Hipertensos requerem cautela. 2. Hidróxido de Magnésio e Alumínio: Não forma gás. Ação laxante X constipação. ➢ ANTAGONISTAS DE RECEPTOR H2 E REGULAÇÃO DA SECREÇÃO GÁSTRICA A secreção gástrica é estimulada por acetilcolina (ACh), histamina e gastrina. As ligações com seus receptores resultam na ativação de proteinocinases, que, por sua vez, estimulam a bomba de prótons H+ /K+ -adenosina trifosfatase (ATPase) a secretar íons hidrogênio em troca de K+ para o lúmen do estômago. Os quatro fármacos – cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina – inibem de modo potente (mais de 90%) a secreção gástrica ácida noturna, a estimulada por alimento e a basal. ❖ Ações Os antagonistas de receptor H2 da histamina atuam seletivamente nos receptores H2 do estômago, mas não têm efeito nos receptores H1. Eles são antagonistas competitivos da histamina e totalmente reversíveis. ❖ Usos Terapêuticos Úlceras pépticas: Os quatro fármacos são igualmente eficazes para a cicatrização das úlceras gástricas e duodenais. Contudo, a recorrência é comum se houver presença de H. pylori, e o paciente for tratado somente com esses fármacos. Os pacientes com úlceras induzidas por AINEs devem ser tratados com IBPs, pois esses fármacos curam e previnem úlceras futuras de modo mais efetivo do que os antagonistas H2. Úlceras de estresse agudo: Os anti-histamínicos H2 são usados normalmente por infusão intravenosa (IV) para prevenir e lidar com úlceras de estresse agudo associadas com pacientes de alto risco nas unidades de tratamento intensivo. Entretanto, como pode ocorrer tolerância com esses fármacos, o uso dos IBPs também vem avançando nessa indicação. DRGE: Doses baixas de antagonistas H2, atualmente disponíveis em medicamentos de venda livre, parecem eficazes na prevenção e no tratamento da queimação (DRGE) somente em cerca de 50% dos pacientes. Os antagonistas H2 atuam somente no controle da secreção ácida. Por isso, eles não aliviam os sintomas por, pelo menos, 45 minutos. Os antiácidos neutralizam de forma mais rápida e eficaz o ácido gástrico, mas sua ação é temporária. Por essa razão, os IBPs são preferidos atualmente no tratamento da DRGE, especialmente em pacientes com azia grave. ❖ Farmacocinética Após administração oral, os antagonistas H2 se distribuem amplamente pelo organismo (incluindo o leite materno e por meio da placenta) e são excretados principalmente na urina. Cimetidina, ranitidina e famotidina também estão disponíveis em formulações IV. Biodisponibilidade de 50% e meia vida curta. A meia-vida de todos esses fármacos pode aumentar em pacientes com disfunção renal, e é preciso ajustar a dosagem. ❖ Efeitos Adversos Em geral, os antagonistas H2 são bem tolerados. A CIMETIDINA tem efeitos endócrinos porque atua como um antiandrogênico não esteroidal. Os efeitos incluem ginecomastiae galactorreia (liberação ou ejeção contínua de leite). Os demais não produzem os efeitos antiandrogênicos nem estimulantes de prolactina da cimetidina. Outros efeitos no sistema nervoso central (SNC), como confusão e alterações mentais, ocorrem primariamente em pacientes idosos ou após administração IV. A cimetidina inibe várias isoenzimas CYP450 e pode interferir na biotransformação de vários outros fármacos, como varfarina, fenitoína e clopidogrel. Todos os antagonistas H2 podem reduzir a eficácia de fármacos que exigem um ambiente ácido para absorção, como o cetoconazol. Contra indicado em gestantes e lactentes. ➢ IBPS: INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS H+ /K+ -ADENOSINA TRIFOSFATASE Os IBPs se ligam à enzima H+ /K+ -ATPase (bomba de prótons) e suprimem a secreção de íons hidrogênio para o lúmen gástrico. A bomba de prótons ligada à membrana é a etapa final da secreção de ácido gástrico. Os IBPs disponíveis incluem dexlansoprazol, esomeprazol, lansoprazol, omeprazol, pantoprazol e rabeprazol. Omeprazol, esomeprazol e lansoprazol estão disponíveis em formulações de venda livre para tratamento de curto prazo da DRGE. ❖ Ações Esses fármacos são pró-fármacos com um revestimento entérico ácido-resistente para protegê-los da degradação prematura pelo ácido gástrico. Devem ser administrados em jejum, já que sua biodisponibilidade reduz cerca de 50% com alimentos. O revestimento é removido no meio alcalino do duodeno, e o pró-fármaco, uma base fraca lipofílica, é absorvido e transportado à célula parietal. Ali, ele é convertido no fármaco ativo e forma uma ligação estável covalente (irreversível) com a enzima H+ /K+ -ATPase. São necessárias cerca de 18 horas para ressintetizar a enzima, e a secreção ácida é interrompida durante esse período. Em dosagem padrão, os IBPs inibem a secreção gástrica basal e a estimulada em mais de 90%. Existem produtos disponíveis de uso oral, de venda livre e sujeitos à prescrição, contendo omeprazol associado com bicarbonato de sódio para absorção mais rápida. ❖ Efeitos adversos Os IBPs geralmente são bem tolerados. Omeprazol e esomeprazol podem diminuir a eficácia do clopidogrel porque inibem a CYP2C19 e impedem a sua conversão no metabólito ativo. Embora o efeito nos resultados clínicos seja questionável, o uso concomitante desses IBPs com clopidogrel não é recomendado devido aos possíveis riscos de eventos cardiovasculares. Omeprazol pode inibir o metabolismo da vafarina, diazepan e fenitoína; esomeprazol pode diminuir o metabolismo do diazepan e lansoprazol pode aumentar a depuração da teofilina. Os IBPs podem aumentar o risco de fraturas, particularmente se a duração do uso for de 1 ano ou mais. A supressão prolongada do ácido gástrico com os IBPs (e os antagonistas H2) pode resultar em carência de vitamina B12, porque o ácido é necessário para a sua absorção em complexo com o fator intrínseco. O pH gástrico elevado também pode prejudicar a absorção de carbonato de cálcio. O citrato de cálcio é uma opção eficaz para suplementar cálcio em pacientes sob tratamento de supressão de ácido, pois sua absorção não é afetada pelo pH gástrico. Pode ocorrer diarreia e colite por Clostridium difficile em pacientes que recebem IBP. Os pacientes devem ser aconselhados a interromper o tratamento com IBP e contatar seu médico se tiverem diarreia por vários dias. Efeitos adversos adicionais podem incluir hipomagnesemia e maior incidência de pneumonia. ➢ PROSTAGLANDINAS A prostaglandina E2, produzida pela mucosa gástrica, inibe a secreção de ácido e estimula a secreção de muco e bicarbonato (efeito citoprotetor). A deficiência de prostaglandinas pode estar envolvida na patogênese das úlceras pépticas. Misoprostol, um análogo da prostaglandina E1, está aprovada para a prevenção de úlceras gástricas causadas por AINEs. O uso profilático do misoprostol deve ser considerado em pacientes que estão recebendo AINEs e se encontram sob risco moderado ou alto de úlceras induzidas por esses fármacos, como pacientes idosos ou com úlceras prévias. O misoprostol é contraindicado na gravidez, pois pode estimular as contrações do útero e causar aborto. Diarreia e náuseas dose-dependentes são os efeitos adversos mais comuns e limitam o seu uso. Assim, os IBPs são os fármacos preferidos para a prevenção de úlceras causadas por AINEs. ➢ FÁRMACOS PROTETORES DA MUCOSA Esses fármacos, também conhecidos como citoprotetores, apresentam várias ações que aumentam os mecanismos de proteção da mucosa, prevenindo lesões, reduzindo inflamação e cicatrizando úlceras existentes. 1. Sucralfato: Esse complexo de hidróxido de alumínio e sacarose sulfatada se liga a grupos carregados positivamente em proteínas da mucosa normal e necrótica. Formando géis complexos com as células epiteliais, o sucralfato cria uma barreira física que protege a úlcera da pepsina e do ácido, permitindo a cicatrização da úlcera. 97% são excretados pelas fezes sem sequer serem absorvidos. Embora o sucralfato seja eficaz no tratamento das úlceras duodenais e na prevenção das úlceras por estresse, seu uso é limitado devido à necessidade de dosificações diárias múltiplas e interações medicamentosas. Como requer um pH ácido para sua ativação, o sucralfato não deve ser administrado com IBPs, antagonistas H2 ou antiácidos. O sucralfato é muito bem tolerado, mas pode interferir na absorção de outros fármacos, fixando-os. Esse fármaco não previne as úlceras induzidas pelos AINEs e nem cicatriza úlceras gástricas. 2. Subsalicilato de bismuto: Este fármaco é usado como componente de tratamento quádruplo para cicatrizar úlceras pépticas. Além da sua ação antimicrobiana, ele inibe a atividade da pepsina, aumenta a secreção de muco e interage com glicoproteínas na mucosa necrótica, revestindo e protegendo a úlcera. • LAXANTES Os laxantes são comumente usados contra a constipação, para acelerar o movimento do alimento por meio do TGI. Esses fármacos podem ser classificados com base no seu mecanismo de ação. Usados cronicamente, eles podem causar desequilíbrios eletrolíticos. Vários desses fármacos têm risco de dependência para o usuário. ➢ IRRITANTES E ESTIMULANTES Senna: Este é um laxante estimulante amplamente usado. Seu componente ativo é um grupo de senosídeos, um complexo natural de glicosídeos antraquinônicos. Usado por via oral, causa evacuação de 8 a 10 horas. Ele também causa secreção de água e eletrólitos para o interior do intestino. Em produtos associados contendo o amolecedor de fezes docusato, esse fármaco é útil no tratamento das constipações causadas por opioides. Bisascodil: Disponibilizado como supositório e comprimidos revestidos entéricos, o bisacodil é um potente estimulante do colo do intestino. Ele atua diretamente nas fibras nervosas na mucosa do colo do intestino. Óleo de rícino: Este produto é hidrolisado no intestino delgado em ácido ricinoleico, que tende a irritar muito o estômago e, logo, aumenta o peristaltismo. Ele deve ser evitado em gestantes, pois pode estimular contrações do útero. ➢ LAXANTES AUMENTADORES DE VOLUME Os laxantes aumentadores de volume incluem coloides hidrofílicos (de partes não digeríveis de frutas e vegetais). Eles formam géis no intestino grosso, causando a retenção de água e a distensão intestinal, aumentando, assim, a atividade peristáltica. Ações similares são produzidas por metilcelulose, sementes de linho (Psyllium) e fibras. Eles devem ser usados com cautela em pacientes que se encontram imobilizados, devido ao potencial de causar obstrução intestinal. ➢ LAXANTES SALINOS E OSMÓTICOS Os catárticos salinos, como citrato de magnésio, hidróxido de magnésio e fosfato de sódio, são sais não absorvíveis (ânions e cátions) que retêm água no intestino por osmose. Isso distende o intestino, aumentando a atividade intestinal e produzindo defecação em poucas horas.Soluções eletrolíticas contendo polietilenoglicol (PEG) são usadas como lavagens colônicas para preparar o intestino para procedimentos endoscópicos ou radiológicos. Pó de PEG para solução está disponível como laxante em medicamentos receitados e também de venda livre. Esse fármaco causa menos cólicas e gases do que outros laxantes. A lactulose é um dissacarídeo semissintético que também atua como laxante osmótico. Ela não consegue ser hidrolisada pelas enzimas gastrintestinais. As dosagens orais alcançam o colo do intestino e são degradadas pelas bactérias colônicas em ácidos lático, fórmico e acético. Isso aumenta a pressão osmótica, causando acúmulo de líquidos que distende o colo do intestino, amolece as fezes e causa defecação. A lactulose é usada também para o tratamento da encefalopatia hepática, por reduzir os níveis de amônia. ➢ AMOLECEDORES DE FEZES (LAXANTES EMOLIENTES OU SURFACTANTES) Os fármacos ativos em superfície que se tornam emulsificados com as fezes produzem fezes amolecidas e facilitam sua progressão. Estão incluídos aí o docusato de sódio e o docusato de cálcio. Eles podem demorar dias para fazerem efeito e geralmente são usados na profilaxia, em vez de no tratamento agudo. Os amolecedores de fezes não devem ser ingeridos simultaneamente com óleo mineral, devido ao risco de absorção do óleo mineral. ➢ LAXANTES LUBRIFICANTES O óleo mineral e os supositórios de glicerina são considerados lubrificantes e agem facilitando a passagem de fezes endurecidas. O óleo mineral deve ser ingerido por via oral em posição ereta (de pé) para evitar a aspiração e uma potencial pneumonia lipídica ou lipoide. ➢ ATIVADORES DE CANAIS DE CLORO A lubiprostona, atualmente o único fármaco desta classe, atua ativando os canais de cloreto para aumentar a secreção de líquidos no lúmen intestinal. Isso facilita a progressão das fezes e causa pouca alteração no equilíbrio eletrolítico. A lubiprostona é usada no tratamento da constipação crônica, particularmente porque não foram demonstradas intolerância ou dependência associadas a este fármaco. Interações entre fármacos também parecem mínimas, pois a biotransformação ocorre rapidamente no estômago e no jejuno. • FÁRMACOS QUE ESTIMULAM A MOTILIDADE GI ➢ FÁRMACOS COLINOMIMÉTICOS Estimulam os receptores muscarínicos do TGI (M3) aumentando o trânsito intestinal. Betanecol e Inibidores da acetilcolinesterase (Neostigmina). Muitos efeitos colinérgicos: Salivação excessiva, Náuseas e vômitos, Diarreia e Bradicardia. Estão em desuso! ➢ ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES D2 Metoclopramida e Domperidona. A Dopamina inibe o estímulo colinérgico, portanto, os antagonistas dopaminérgicos aumentam o estímulo colinérgico. Aumentam a amplitude peristáltica do esôfago, aceleram o esvaziamento gástrico e nenhum efeito sobre intestino delgado ou cólon. Esses dois fármacos bloqueiam os receptores D2 na zona de gatilho quimiorreceptora do bulbo: Efeito antináusea e antiemética. Efeitos colaterais: Efeitos extrapiramidais, discinesia tardia, evitar uso prolongado em idosos, galactorréia, ginecomastia, impotência e distúrbios menstruais. Domperidona não atravessa a BHE! ➢ MACROLÍDEOS Eritromicina e azitromicina estimulam diretamente os receptores de motilina no músculo liso GI. Usados em gastroparesia, rápido desenvolvimento de tolerância, usados em pacientes com hemorragia gastrointestinal alta aguda e usado para esvaziamento gástrico de sangue antes da endoscopia. • FÁRMACOS ANTIDIARRÉICOS Fármacos antidiarreicos podem ser utilizados com segurança em pacientes com diarreia aguda leve a moderada (não deve ser administrado em diarreia sanguinolenta, febre alta ou toxicidade sistêmica!), diarreia crônica (Síndrome do intestino irritável e Doença Inflamatória Intestinal). ➢ AGONISTAS OPIOIDES Causam constipação, inibem os nervos colinérgicos pré-sinápticos nos plexos submucosos e mioentéricos, efeitos no SNC limitam seu uso como antidiarreico. Loperamida: Não atravessa a BHE e sem potencial analgésico, 2mg 1 a 4 vezes ao dia. ➢ OCTREOTIDA Análogo da somatostatina. Diminui a secreção líquida intestinal, diminui a motilidade intestinal, inibe a liberação de gastrina, serotonina, entre outros. • FÁRMACOS ANTIEMÉTICOS Foram identificados os seguintes receptores: a) Muscarínicos (M1) b) Histamínicos (H1) c) Neurocinina (NK1) d) Serotonina (5-HT3) Diferentes neurotransmissores e receptores envolvidos possibilitou o desenvolvimento de grupos distintos de fármacos antieméticos. ➢ ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES 5-HT3 DA SEROTONINA Potentes antieméticos: bloqueiam os receptores 5-HT3 centrais no centro do vômito e na zona de gatilho quimiorreceptora, restringe aos vômitos atribuídos à estimulação vagal, pós operatório, quimioterapia (dose única 15min antes da quimioterapia e pode associar a um corticosteróide). Não é eficaz na cinetose (enjoo de movimento). Ondansetrona (VONAU) é um representante da classe, administrados 1x ao dia por via oral ou injetável. Não necessita de ajuste de dose em pacientes idosos ou portadores de doenças renais; ajuste de dose necessário para portadores de insuficiência hepática. Não atuam nos receptores dopamínicos ou muscarínicos. Efeitos colaterais • Bem tolerados e seguros • Cefaleia, tontura e constipação podem estar presentes. ➢ CORTICOSTERÓIDES Podem produzir atividade antiemética por mecanismo ainda desconhecido. Dexametasona e Metilprednisolona. Possuem efeitos sinérgicos com os antagonistas 5- HT3. Dose de dexametasona igual a 2 a 8mg IV. ➢ FENOTIAZINAS (PROMETAZINA) Fármacos antipsicóticos com ação antieméticas • Inibição dos receptores muscarínicos e dopamínicos – Possuem atividade sedativas: • Bloqueio H1 ➢ BENZAMINAS (METOCLOPRAMIDA) Bloqueio do receptor D2 – Dose de 10 a 20mg a cada 6h (oral ou injetável) – Sintomas extrapiramidais, inquietação e distonia são muito comuns. ➢ ANTI-HISTAMINICOS Bloqueio H1 é responsável pelo efeito antiemético. Usado na prevenção da cinetose. Efeitos colaterais • Sedação • Boca seca • Retenção urinária • Difenidramina compartilha efeitos anticolinérgicos – Meclizina: Prevenção da cinetose e Tratamento de vertigem causada por disfunção do labirinto. ➢ ANTICOLINÉRGICO Hioscina (escopolamina). Antagonista muscarínico. Uns dos melhores agentes para prevenção da cinetose. Intensos efeitos anticolinérgicos ➢ BENZODIAZEPÍNICOS Lorazepan e diazepan podem ser usados.
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