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Resumo O dispositivo em A microfisica do poder Foucault

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FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Org. Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1996.
Por meio do termo dispositivo Foucault tenta demarcar três características. Em primeiro lugar entende o dispositivo como: 
Um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. (FOUCAULT, 1996, p. 244). 
Em segundo, Foucault delimita o caráter da relação que se estabelece entre esses elementos heterogêneos. De modo que tal discurso pode estar tanto em formato de programa de uma instituição quanto, de modo contrário, pode ser o elemento justificador que mascara uma prática que permanece muda, silenciosa. Outra possibilidade é que funcione como reinterpretação dessa prática e lhe dê acesso a um novo campo de racionalidade. Em resumo “entre estes elementos, discursivos ou não, existe um tipo de jogo, ou seja, mudanças de posição, modificações de funções, que também podem ser muito diferentes.” (FOUCAULT, 1996, p. 244).
A terceira característica é entendimento do dispositivo como um tipo de formação tem como função principal ser resposta a uma a uma urgência de determinado momento histórico. 
O dispositivo tem, portanto, uma função estratégica dominante. Este foi o caso, por exemplo. Da absorção de uma massa de população flutuante que uma economia de tipo essencialmente mercantilista achava incômoda: existe aí um imperativo estratégico funcionando como matriz de um dispositivo de controle-dominação da loucura, da doença mental, da neurose. (FOUCAULT, 1996, p. 244).
Nesse sentido, um dispositivo pode ser definido tanto como uma estrutura de elementos heterogêneos quanto por uma determinada espécie de gênese, a qual possui dois momentos essenciais: a predominância de um objetivo estratégico seguida da constituição do dispositivo como tal e da sua continuação como dispositivo uma vez que engloba um duplo processo. Um é constituído por um processo de sobredeterminação funcional, no qual os efeitos, positivos ou negativos, desejados ou não, constituem uma relação ou de ressonância ou de contradição uns com os outros, de modo que há a demanda por uma rearticulação, um reajuste dos elementos heterogêneos que surgiram de modo disperso. O outro é o que se denomina de processo de perpétuo preenchimento estratégico. Para ilustrar Foucault (1996) apresenta o exemplo do que aconteceu com o dispositivo do aprisionamento:
Que fez com que em determinado momento as medidas de detenção tivessem aparecido como o instrumento mais eficaz, mais racional que se podia aplicar ao fenômeno da criminalidade. [...] O que isto produziu? Um efeito que não estava de modo algum previsto de antemão, [...] a constituição de um meio delinquente que passou a ser re-utilizado com finalidades políticas e econômicas diversas. (FOUCAULT, 1996, p. 245).
Esse processo seria uma espécie de readequação engendrada pelo dispositivo pala lidar com efeitos não previstos, involuntários e negativos, de modo a transformá-los em novas estratégias destinadas a ocupar espaços vazios ou a transformar efeitos negativos em aspectos positivos para o dispositivo.
Desse modo cabe-nos interrogar quais os imperativos estratégicos do atual dispositivo de vigilância que nos propomos a pesquisar? De que maneira esse dispositivo se estabeleceu como uma resposta a uma urgência determinada pelo atual momento histórico em que as formas de comunicação em rede são usadas diretamente para alimentá-lo. Até que ponto as formas digitais de vigilância, a inserção de artefatos como o smartphone são resposta a essa urgência? 
Ou será que não são elementos tão intencionais assim do objetivo estratégico, se caracterizando como processos de sobredeterminação funcional ou talvez como produto de um preenchimento estratégico. Já que é plausível admitir que não tenham sido elementos criados com o intuito original de estabelecer uma vigilância tão contundente e produzir subjetividades tão especificas, nesse sentido pode-se suscitar a ideia de são artefatos produzidos a partir de efeitos involuntários que preencheram perfeitamente um espaço vazio nos modos de vigilância e que servem bastante bem a finalidades políticas e econômicas diversas, tal qual se deu com o dispositivo do aprisionamento no século XIX.

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