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Política IV - Ação Coletiva e Organização Política

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Prévia do material em texto

Montes Claros/MG - 2014
Idalécia Soares Correia
Paulo Magalhães Araújo 
2ª edição atualizada por
Idalécia Soares Correia
Política IV
2ª EDIÇÃO
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Antônio Alvimar Souza 
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Jânio Marques Dias
EDITORA UNIMONTES
Conselho Consultivo
Antônio Alvimar Souza
César Henrique de Queiroz Porto
Duarte Nuno Pessoa Vieira
Fernando Lolas Stepke
Fernando Verdú Pascoal
Hercílio Mertelli Júnior
Humberto Guido
José Geraldo de Freitas Drumond
Luis Jobim
Maisa Tavares de Souza Leite
Manuel Sarmento
Maria Geralda Almeida
Rita de Cássia Silva Dionísio
Sílvio Fernando Guimarães Carvalho
Siomara Aparecida Silva
CONSELHO EDITORIAL
Ângela Cristina Borges
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma Athayde Moraes
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
Karen Torres C. Lafetá de Almeida 
Káthia Silva Gomes
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
Andréia Santos Dias
Camilla Maria Silva Rodrigues
Sanzio Mendonça Henriques
Wendell Brito Mineiro
CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Camila Pereira Guimarães
Joeli Teixeira Antunes
Magda Lima de Oliveira
Zilmar Santos Cardoso
diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Antônio Wagner Veloso Rocha
diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do departamento de Comunicação e letras/Unimontes
Mariléia de Souza
Chefe do departamento de educação/Unimontes
Maria Cristina Freire Barbosa
Chefe do departamento de educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Chefe do departamento de Filosofi a/Unimontes
Alex Fabiano Correia Jardim
Chefe do departamento de Geociências/Unimontes
Anete Marília Pereira
Chefe do departamento de História/Unimontes
Claudia de Jesus Maia
Chefe do departamento de estágios e Práticas escolares
Cléa Márcia Pereira Câmara
Chefe do departamento de Métodos e Técnicas educacionais
Helena Murta Moraes Souto
Chefe do departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
Carlos Caixeta de Queiroz
Ministro da educação
Cid Gomes
Presidente Geral da CAPeS
Jorge Almeida Guimarães
diretor de educação a distância da CAPeS
Jean Marc Georges Mutzig
Governador do estado de Minas Gerais
Fernando Damata Pimentel 
Secretário de estado de Ciência, Tecnologia e ensino Superior
Vicente Gamarano
reitor da Universidade estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-reitor da Universidade estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Antônio Alvimar Souza 
Pró-reitor de ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues Neto
diretor do Centro de educação a distância/Unimontes
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Idalécia Soares Correia
Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes 
Claros - Unimontes. Mestre e doutoranda em Ciência Política pela Universidade 
Federal de Minas Gerais. 
Paulo Magalhães Araújo
Professor de Ciência Política na Universidade Federal do Espírito Santo - UFES. 
Doutor e Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais - 
UFMG. Membro do Centro de Estudos Legislativos (CEL) nessa mesma Universidade. 
Pesquisador na área de estudos sobre democracia e instituições políticas.
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
Formas, canais de participação e abordagens nas Ciências Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
1.2 Formas e canais de participação em ações coletivas: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
1.3 Abordagens da ação coletiva nas Ciências Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
1.4 Entre interesses e solidariedade: contribuições para a crítica aos modelos clássicos 
de análise da ação coletiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
1.5 Teorias contemporâneas de análise da ação coletiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
As teorias da democracia e suas conexões com a participação política e a ação 
coletiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
2.2 A teoria democrática do século XIX: a racionalidade individual “pré-social” e a busca 
do bem comum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.3 Elitismo Democrático e Pluralismo: mudanças na concepção de democracia e na 
lógica da participação política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
2.4 Democracia e mercado político: interesses e solidariedade como bases do equilíbrio 
e da adesão ao sistema democrático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73
Referências básicas e complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79
9
Ciências Sociais - Política IV
Apresentação
Olá pessoal! Estamos de volta em mais uma etapa da 
formação em Ciência Política, no curso de licenciatura em 
Sociologia da UAB/Unimontes. Neste período, na disciplina 
Política IV, nossas discussões serão orientadas pela seguinte 
ementa: “Problema da ação coletiva e da organização polí-
tica. Formulação e implementação das políticas a partir da 
mobilização e da ação de interesses sociais (movimentos so-
ciais, sindicatos, partidos, associações) sobre o Estado”.
Antes de iniciarmos nossosdebates, cabem algumas 
observações sobre o recorte e a abordagem que definimos 
como fundamentais para a elaboração deste caderno didá-
tico e para a condução da disciplina. Também é importante 
esclarecermos as motivações que fundamentaram nossa de-
cisão sobre o conteúdo e o formato do presente texto.
Sobre o conteúdo, reparem bem nos temas anunciados 
na ementa: “ação coletiva”, “organização política”, “mobiliza-
ção”, “interesses sociais” e assuntos afins. Nos dias de hoje, as 
discussões destas questões estão inevitavelmente ligadas à 
discussão da democracia. 
É certo que, em regimes autoritários, também há algum 
tipo de mobilização política, mas, sem dúvida, nenhum siste-
ma político é mais propício à ação social organizada e às manifestações políticas do que o siste-
ma democrático. Podemos afirmar que sistemas políticos democráticos são, por definição, aque-
les em que os indivíduos ou grupos sociais podem livremente se mobilizar, se organizar das mais 
diversas formas: partidos, sindicatos, movimentos para defender seus interesses tanto frente à 
própria sociedade quanto frente ao Estado. Daí a necessidade de tratarmos da democracia, para 
compreendermos de forma mais ampla os conceitos mencionados na ementa apresentada. 
O fato é que a questão da organização política da sociedade associada à questão da demo-
cracia nos coloca problemas instigantes a serem debatidos. Vejamos um exemplo: quando fala-
mos de políticas públicas – outro termo citado na ementa – nos referimos a ações do Estado que 
estão voltadas ao atendimento de interesses sociais. Mas, afinal, a que interesses sociais as polí-
ticas públicas de um governo democrático atendem? Apenas os interesses dos governantes? Da 
sociedade em geral? De pequenos grupos? Se nos regimes democráticos, todos são livres para 
buscar seus interesses, que indivíduos, grupos, classes ou segmentos sociais são mais bem suce-
didos? Ou seja, quem “leva mais vantagens” e por que isso ocorre? 
São questões como estas que abordaremos, a partir de referenciais teóricos da Ciência Po-
lítica e da Sociologia Política. Como veremos ao longo da disciplina, embora nos regimes demo-
cráticos a igualdade e a liberdade de ação política existam como direitos, para certos indivíduos 
ou grupos elas muitas vezes não se realizam de fato. Isso se dá porque o efetivo usufruto da 
igualdade e da liberdade pelos cidadãos, ou pelos grupos de cidadãos, enfrenta diversos dilemas 
que podem ser analisados de diversas perspectivas teóricas. Nós procuraremos esclarecer alguns 
desses dilemas e também discutiremos como eles são problematizados pelas teorias da partici-
pação e da ação coletiva e, por desdobramento, pelas teorias da democracia.
Então, logo de início, devemos entender claramente uma coisa: na Ciência Política e na So-
ciologia Política contemporâneas, estudar fenômenos como mobilização, organização política e 
ação coletiva obriga-nos a pensar a questão da democracia. E o contrário também é verdade, isto 
é, pensar a democracia e seu funcionamento nos força a considerar a mobilização social, a parti-
cipação política, a ação coletiva e as questões correlatas. 
Reparem que, desde o início, estamos falando de termos muito ligados entre si: ação cole-
tiva, participação, mobilização, etc. Todos esses termos compõem o pano de fundo das nossas 
discussões, mas é importante frisarmos que eles não significam a mesma coisa. Vocês se pergun-
taram qual a diferença entre os termos? Esse é um bom ponto de partida para iniciarmos nossos 
trabalhos. Vejamos de que maneira tentaremos, ao longo do caderno, apresentar as respostas 
para esta importante questão. 
▲
Figura 01: Pessoas e 
planeta – Uma alusão 
às lutas coletivas
Fonte: Disponível em 
<http://www.planetae-
ducacao.com.br/portal/
imagens/artigos/edito-
rial/06-02-14_02.jpg>. 
Acesso em 30 set. 2014.
10
UAB/Unimontes - 4º Período
Nas páginas seguintes, mostraremos, de forma mais detalhada, porque os termos ação co-
letiva e participação política têm conteúdos diferenciados. Mas, já aqui na introdução, podemos 
dar uma pista destas diferenças. Pensem bem: ação coletiva, como a própria expressão sugere, é 
um tipo de participação e se refere à atuação conjunta e organizada de um determinado grupo, 
em função de interesses ou de visões de mundo compartilhados, que unem todos os indivíduos. 
Já a participação política, propriamente dita, indica uma atuação que visa influenciar direta ou 
indiretamente a vida política de uma determinada sociedade ou as decisões políticas de um de-
terminado governo. 
Reparem que, em sentido restrito, nem toda ação coletiva precisa ser política; embora toda 
participação política seja coletiva, no sentido de que as escolhas políticas – certas ou erradas, 
ideológicas ou apáticas, têm consequências sobre toda a coletividade. Mas porque dissemos que 
nem toda ação coletiva é política? Vocês conseguem imaginar a resposta? Pensem um pouco an-
tes de ler a explicação a seguir.
A participação em certos grupos pode implicar alheamento à política, pois nem todos os 
grupos são políticos ou politizados. A participação em certas ordens religiosas ou rituais sagra-
dos é uma forma bem típica de ação coletiva “não política”, pois exige, da parte dos fiéis, uma de-
dicação tão intensa à fé e aos cerimoniais religiosos, que acabam por induzir a um afastamento 
ou desligamento total da política, que é considerada uma atividade mundana. 
Mas é claro que há muitas formas de ação coletiva, de agrupamentos sociais, que são essen-
cialmente formas de participação política, ou que, pelo menos, incentivam a participação política 
dos membros de uma sociedade. Podemos citar alguns exemplos típicos destes casos: a filiação 
em partidos e a militância partidária, a atuação em sindicatos, em associações de bairro, em gru-
pos que lutam pelos direitos humanos, em grupos ecológicos, etc. Nesses casos, os indivíduos 
visam agir coletivamente, buscando realizar objetivos comuns, isto é, metas políticas, voltadas 
para o bem-estar de determinado grupo ou mesmo de toda a sociedade.
Bem, vale observar que, com esses exemplos, estamos simplificando um pouco as coisas, só 
para dar uma ideia dos temas que serão discutidos. Mas, como dissemos acima, ao longo do cur-
so, essas e outras questões serão mais bem exploradas.
Veremos, por exemplo, que as formas de definição do conceito de participação – e suas re-
lações com a lógica da ação coletiva – variam conforme o referencial teórico do autor em ques-
tão. Dizendo de outro modo, buscaremos entender o seguinte: por que as pessoas participam 
de ações coletivas? Por que elas se envolvem com movimentos políticos ou politizados? 
Como veremos adiante, no texto, há diversas respostas para essas perguntas: desde respostas 
pautadas na estrutura econômica, até respostas que apontam para a formação da identidade e a 
expressividade do indivíduo-ator-sujeito. Veremos também que há várias formas de participação, 
que têm graus variados de impacto e diferentes consequências na vida política da sociedade.
Por exemplo, no Dicionário de Política, organizado por Bobbio et all (1998), lemos que o ter-
mo participação política evoca o sentido de participar ou tomar parte nalguma coisa, com dife-
rentes níveis de envolvimento. Alguém que simplesmente assiste a um comício pode ser consi-
derado um participante, pois é parte da plateia, mas alguém que ajuda a organizar o comício ou 
que sobe no palanque para fazer um discurso também é participante, mas tem maior influência 
Figura 02: Mãos 
levantadas 
simbolizando uma 
votação democrática
Fonte: Disponível em 
<http://www.tre-go.gov.
br/internet/biometrico/
layout/maos.jpg>. Acesso 
em 30 set. 2014.
►
11
Ciências Sociais - Política IV
sobre o acontecimento político e, assim, tem um grau mais alto de envolvimento no processo 
participativo, certo? 
O importanteaqui é ressaltarmos que essas diferenças nos níveis de participação estão, de 
certa maneira, associadas aos diferentes referenciais teóricos sobre o que é a participação políti-
ca e, por consequência, sobre a natureza do comportamento individual, ou vice-versa. Em outras 
palavras, veremos, no decorrer dos nossos debates, que as várias formas pelas quais a participa-
ção política é tratada refletem visões distintas sobre as motivações que levam as pessoas a ser 
meras espectadoras ou a buscar exercer influência efetiva nos acontecimentos ou nos movimen-
tos políticos da sociedade, especialmente, por meio de ações coletivas – já que as ações coletivas 
são formas bastante eficientes para exercer influência política.
Veremos que, entre as motivações que levam as pessoas à participação política e à ação co-
letiva, destacam-se duas: o interesse e a solidariedade. Isso é o que nos diz Pizzorno (1966), um 
grande sociólogo da política. Pizzorno e outros pensadores que estudaremos, como Reis (2000), 
propõem uma síntese entre vertentes que muitas vezes tratam de interesse e solidariedade, 
como forças opostas que orientam o comportamento individual. Em termos desses dois concei-
tos, é comum uma polarização no debate. Vamos sintetizar, aqui, essa polarização, para enten-
dermos melhor os debates que serão apresentados adiante na disciplina. 
Há uma versão muito influenciada pelas teorias microeconômicas que entende que a parti-
cipação decorre exclusivamente do interesse individual. Nessa vertente, o interesse é entendido 
no sentido individualista, racional e estratégico, a partir do qual o indivíduo decide aderir ou não 
a ações coletivas. O indivíduo, nessa visão, só participa das ações coletivas, se isso for necessá-
rio para a realização de seu próprio interesse. Essa visão impactou profundamente as discussões 
sobre as motivações e a participação política nas democracias contemporâneas. Nós trabalha-
remos com essa vertente teórica, quando estivermos discutindo os dilemas teóricos e práticos 
relativos à ação coletiva.
Por outro lado, há vertentes que dizem que a participação se funda na solidariedade, no re-
conhecimento mútuo, na busca de integração. Estes elementos, por sua vez, estariam na base da 
vida social e, portanto, têm um sentido sociológico mais amplo. Nesse caso, a ação coletiva, vista 
como ação solidária, não poderia ser lida apenas como resultado de interesses estritamente indi-
viduais e de cálculos racionais do tipo econômico. 
Maria da Glória Gohn – cujas ideias estudaremos – está entre os autores que trabalham com 
essa perspectiva mais ampliada de análise da lógica e dos fundamentos da participação políti-
ca. Essa autora interpreta o fenômeno da participação, abordando as dimensões políticas e, num 
sentido mais amplo, as dimensões das práticas sociais em geral. No aspecto político, a autora 
afirma que o fenômeno da participação está associado a processos nos quais as forças da socie-
dade – grupos, associações, movimentos sociais, etc – buscam ampliar os espaços para a partici-
pação ou a influência dos cidadãos nas decisões do Estado, ou, melhor, nas ações dos governos 
que gerem o Estado.
Esta observação da autora é importante, pois se relaciona diretamente com um ponto im-
portante da ementa, a questão das políticas públicas em contexto democrático. Já dissemos aci-
ma que políticas públicas são decisões tomadas pelo governo que visam impactar a vida social 
nos mais diversos campos: o cultural, o econômico, o educacional, o da saúde, da tecnologia, etc. 
◄ Figura 03: Repressão 
militar sobre 
manifestante político 
Fonte: Disponível em 
<http://www.fotografia.
art.br/setembro2008/020.
jpg>. Acesso em 30 set. 
2014.
12
UAB/Unimontes - 4º Período
Ora, em princípio, a grande vantagem das democracias sobre os governos autoritários ou 
militares é que governos democráticos viabilizam a participação política e, assim, estão sujeitos 
à pressão dos cidadãos que, através da participação, influenciam as decisões governamentais, no 
campo das políticas públicas em geral. Nesse sentido, a democracia seria um contexto político 
profícuo para a efetividade das ações coletivas, de modo que as práticas democráticas tornam-se 
celeiros férteis para o desenvolvimento dessas ações da sociedade frente ao Estado.
Mas, vejam bem, as práticas sociais democratizantes – que são de natureza essencialmen-
te coletiva – não se restringem à relação entre sociedade e Estado ou entre os cidadãos e seus 
governos. As ações coletivas de natureza política também têm potencial para modificar as rela-
ções no âmbito da própria sociedade. Na relação entre as etnias, entre homens e mulheres, pais 
e filhos, patrões e empregados, etc. A sociedade moderna luta para democratizar essas relações, 
mas, em princípio, tais relações não envolvem o Estado, embora, em algum contexto histórico e 
por algum motivo, possam envolver. 
O fato é que, na visão de Gohn (2000) – inspirada por autores como Mellucci e Habermas, 
que mencionaremos adiante –, a dinâmica da ação coletiva não está ligada apenas à democrati-
zação das políticas públicas elaboradas pelo Estado. Ações coletivas são geradas em fluxos contí-
nuos de interação social, gerando dinâmicas solidárias ou dinâmicas de conflito, mas que, poten-
cialmente, propiciam a constante revisão das relações seja entre sociedade e estado, seja entre 
grupos, no âmbito da própria sociedade civil.
Por fim, mas não menos importante, cabe mencionar uma coisa que ainda não foi devida-
mente esclarecida nesta introdução, mas que será fundamental nas nossas discussões: fenô-
menos como ação coletiva, solidariedade, interesse e participação estão inevitavelmente asso-
ciados à solidariedade e ao conflito social. Pensem bem: filiando-se a um sindicato, um operário 
demonstra disposição para agir coletivamente com seus colegas, ou seja, ele demonstra solida-
riedade de classe, não é mesmo? Ora, mas isso significa que, assim fazendo, esse operário de-
monstra não ser solidário com os patrões e se coloca em posição de conflito de interesses com os 
donos do capital. A mesma lógica se aplica a quem se filia a um grupo ecológico frente a um gru-
po de donos de indústrias poluidoras. Em ambos os casos, a solidariedade interna a um grupo 
implica o conflito em relação ao outro grupo. Solidariedade e interesses são conceitos relativos.
Esses exemplos mostram, mais uma vez e de forma exemplar, como a participação política e 
os fenômenos afins estão associados à ideia de democracia. Afinal, sindicatos, partidos políticos, 
bem como grupos ambientalistas, são organizações tipicamente ligadas aos temas mencionados 
na ementa da disciplina e ocupam um papel crucial na análise das democracias modernas. Por 
isso, como vocês compreenderão, as polêmicas relativas ao estudo de tais organizações se refle-
tem nas discussões sobre os fundamentos da democracia.
Agora que já mencionamos os temas a serem tratados na disciplina e oferecemos pistas de 
como eles estão relacionados entre si, podemos apresentar sinteticamente a estrutura deste ca-
derno.
Além desta introdução, o texto será dividido em duas grandes partes, sendo que cada parte 
está subdividida em tópicos. Primeiramente, trataremos da ação coletiva e suas conexões como 
os problemas da participação política, da solidariedade, dos movimentos sociais e dos temas cor-
relatos. Na segunda parte, buscaremos associar as questões e os conceitos debatidos com algu-
mas visões da democracia trabalhadas na Ciência Política. Com isso, pretendemos mostrar, no 
decorrer da disciplina, o que já dissemos várias vezes nesta introdução: as diferentes abordagens 
sobre a participação e a ação coletiva estão estreitamente ligadas às perspectivas teóricas sobre 
a natureza da democracia e sobre seus fundamentos.
Então, vamos começar para valer?
13
Ciências Sociais - Política IV
UnIdAde 1
Formas, canais departicipação e 
abordagens nas Ciências Sociais
Idalécia Soares Correia
1.1 Introdução 
Afirmamos na apresentação deste caderno que movimentos sociais, sindicatos, organiza-
ções sociais, são condutores de ação coletiva. Em Avelar, encontramos uma assertiva que consi-
deramos fundamental para os estudos da ação coletiva, essa autora afirma que
as formas e os canais de participação política variam conforme o contexto his-
tórico, as tradições da cultura política de um país ou região, e também confor-
me a situação social dos que participam. Assim, a lógica de organização e par-
ticipação dos diferentes atores nem sempre é a mesma (AVELAR, 2004, p. 223).
1.2 Formas e canais de 
participação em ações coletivas 
Historicamente, as formas e os canais de participação diversificaram suas ações, adequan-
do-se à conjuntura política, social e econômica. Nessa dinâmica da vida cotidiana, as experiên-
cias vivenciadas pelos cidadãos terminam por conformar uma cultura política, que orienta os 
comportamentos dos indivíduos e grupos, interferindo nas formas de expressão dos interesses e 
lutas dos vários atores políticos presentes na sociedade. 
Em consonância com as discussões apresentadas neste caderno, sugere-se que as formas 
de ação coletiva sejam subdividas entre as formas convencionais ou institucionalizadas e as não 
convencionais; portanto, formas não institucionalizadas de ação coletiva. Avelar (2004) organiza 
as várias formas de participação em três grandes canais: eleitoral, corporativo e organizacional. 
Segundo essa autora, o canal eleitoral abrange todo tipo de participação eleitoral e partidária, já 
o canal corporativo agrega as organizações de categorias e associações de classe e o canal orga-
nizacional é onde se localizam as formas não institucionais, os movimentos sociais e subculturas 
políticas.
O canal eleitoral é bastante conhecido por nós, que vivemos num sistema democrático. Para 
Avelar (2004, p. 226), “o canal eleitoral compreende as atividades nos partidos que são as insti-
tuições especializadas de ligação entre a sociedade e o Estado”. Como atividades partidárias, po-
demos citar: o ato de votar, frequentar reuniões de partidos, tentar convencer o eleitor a optar 
por um certo candidato ou partido, participar do financiamento das campanhas eleitorais e da 
arrecadação de fundos, integrar cúpulas partidárias ou se apresentar como candidato. Observan-
do essas atividades, notamos que são ações próprias de sociedades democráticas e, portanto, re-
ferem-se a uma experiência historicamente demarcada, que deve ser analisada, levando-se em 
conta o seu contexto. 
Segundo Petersen (1988), a origem dos partidos modernos está associada ao surgimento 
das democracias liberais, pois o tipo ideal do Estado liberal democrático tem como característi-
cas essenciais: as eleições, o voto e o respeito à oposição representada, entre outros, através dos 
partidos políticos. Embora, durante muito tempo, essas formas de participação tenham sido con-
sideradas como sendo a expressão da participação política, atualmente, outras formas de partici-
GloSSárIo
Subculturas: são movi-
mentos que se excluem, 
no sentido em que 
desenvolvem lingua-
gem própria que quer 
se afirmar, isolando-se 
da sociedade. Coloca-se 
à margem, por uma de-
cisão da sua identidade 
(SEIDEL, 2006, p. 18).
14
UAB/Unimontes - 4º Período
pação são consideradas, inserindo aí as organizações sociais e ampliando o leque das atividades 
de participação. Como são características das Ciências Sociais, nos estudos sobre os partidos, as 
abordagens se diversificam. No século XIX, Marx e Lênin viam os partidos como expressão das 
classes sociais na vida política. Portanto, resultantes das contradições das lutas de classes. No 
século XX, o estudo sobre os partidos se amplia e a conceituação sobre eles se diversifica. Para 
além da expressão política da luta de classes, partidos passam a ser vistos por Robert Michels 
(1982), como organização; por Maurice Duverger, como aparelho ou instrumento através do qual 
se busca o poder ou se afirmam ideologias. Há, ainda, a visão dos funcionalistas. Para estes, os 
partidos são vistos como elementos funcionais da vida política numa sociedade, isto é, partidos 
existem porque precisam fazer algo de que a sociedade precisa para funcionar. Daí,pode-se con-
cluir que a postura teórica interfere na análise dos partidos.
Como acabamos de mostrar, a diversidade de abordagens produz definições distintas de 
partidos, mas, segundo Nicolau (1996), as diversas definições podem ser agregadas a dois tipos: 
restrita e ampla. Janda apud Nicolau (1996, p. 9) afirma que “um partido pode ser definido como 
uma organização que tem por objetivo colocar seus representantes no governo.” Essa autora 
acrescenta que três mecanismos são utilizados pelos partidos para alcançar o poder: competição 
eleitoral, ação direta administrativa, intermédio da força. Três estratégias: competitivas, restritivas 
e subversivas. O cerne desse conceito é a preocupação com a dimensão competitiva, “partidos 
são organizações que participam das eleições em países democráticos” (NICOLAU, 1996, p. 9).
Na visão ampla de partidos políticos, temos a definição de que partidos são
organizações que atuam na arena eleitoral em países democráticos, partidos 
únicos dos regimes fechados, partidos militantes (religiosos, étnicos, regionais, 
ideológicos) que operam à margem do sistema político com ação extraparla-
mentar (NICOLAU, 1996, p. 9).
A citação mostra que a definição ampla procura abarcar todas as dimensões do fenômeno 
partidário. Para os defensores da visão restrita, o conteúdo da definição ampliada mistura organi-
zações que têm características muito diferenciadas entre si, de modo que juntá-las levaria à per-
da de acuidade analítica (NICOLAU, 1996). A utilização da visão restrita tende a predominar nos 
estudos sobre partidos políticos, pois entendem como fundamental associar essas instituições 
ao aspecto da competição eleitoral.
dICA
Devido à mobilidade 
do sistema partidário 
brasileiro, permitida 
pela lei, alguns dos 
partidos não existem 
mais: por exemplo, o 
PRONA e o PL. Recen-
temente foram criados 
novos partidos como 
SD, PROS, somando 32 
partidos em 2014.
Figura 04: Siglas de 
partidos políticos 
brasileiros. 
Fonte: Disponível em 
http://comerciodetres-
barras.com/imagens/
partidos/partidos_poli-
ticos_siglas2.jpg. Acesso 
em 30 set. 2014.
►
15
Ciências Sociais - Política IV
O segundo modelo de participação de que iremos tratar aqui é o corporativo. Os canais cor-
porativos dizem respeito à representação de interesses privados no sistema estatal, são formas 
legítimas de intermediação de interesses. A citação a seguir explicita a composição dos canais 
corporativos: 
[...] os segmentos que as praticam pertencem a certas categorias reconhecidas 
e aprovadas (quando não criadas) pelo Estado e que exercem o monopólio da 
representação dentro das respectivas categorias (AVELAR, 2004, p.226). 
Essa citação nos mostra quais interesses estruturam as relações corporativas. As categorias 
referem-se às profissões e sindicatos patronais ou de trabalhadores ou federações que represen-
tam os interesses desses segmentos junto ao Estado. A trajetória política brasileira é profunda-
mente marcada por relações corporativistas. Vocês 
se lembram de que o corporativismo foi implanta-
do no Brasil no primeiro governo de Getúlio Vargas 
(1930/45)? Para Nunes (1997), o corporativismo é 
uma forma de esvaziamento de conflitos. Quando 
um canal corporativo de participação é instaurado, 
abre-se uma mesa de negociações em que as par-
tes interessadas negociam diretamente uma com a 
outra, tendo o Estado como mediador e ator impor-
tante. Por isso, o corporativismo esvazia o conflito, 
no dizer de Nunes (1997), porque esse tipo de canal 
criaoportunidades para que os embates se arrefe-
çam, mediante a tutela do Estado. 
O texto do BOX 1 nos ajuda a compreender 
melhor o corporativismo. Apresentamos uma cita-
ção do autor Edson Nunes, transcrita de um livro 
onde ele trata o corporativismo como uma gramáti-
ca política da política brasileira. Esse termo, gramá-
tica política, pode ser novo para vocês. Para o autor 
significa: instituições integradoras e organizadoras da sociedade brasileira, ou laços que estrutu-
ram as relações entre Estado e Sociedade. Vejamos o que o autor diz sobre o corporativismo:
BOX 1 
Corporativismo
Segundo Schimitter, citado por Nunes (1997, p. 62-63), Corporativismo significa: uma 
intermediação de interesses em que as unidades constitutivas estão organizadas em um nú-
mero limitado de categorias singulares, compulsórias, não-competitivas, hierarquicamente 
ordenadas e funcionalmente diferenciadas, reconhecidas ou permitidas (senão criadas) pelo 
Estado e que têm a garantia de um deliberado monopólio de representação dentro de suas 
categorias respectivas, em troca de observância de certos controles na seleção de líderes e na 
articulação de demandas e apoios.
Fonte: SCHMITTER, Phillipe. Still the century of corporatism? In: lehmbruch, G; SCHMITTER, P; (Org.). Trends toward 
corporatist intermediation, Bervelwy Hills, Sage, 1971 apud NUNES, Edson. A gramática política no Brasil: clientelismo 
e insulamento burocrático. Rio de Janeiro: Zahar, Brasília: ENAP, 1997.
O terceiro canal participativo, como já mencionamos, é o organizacional que agrega as ati-
vidades que se dão no espaço não institucionalizado da política. Exemplos das organizações po-
dem ser os movimentos de mulheres, negros, movimentos reivindicatórios urbanos e rurais, mo-
vimentos gays, etc. Os membros dessas organizações são chamados de militantes. 
Dada a amplitude da participação abrangida pelo canal organizacional, algumas confusões 
têm surgido, especialmente no que toca às Organizações Não Governamentais – ONG’s. ONGs e 
movimentos sociais são diferentes entre si, embora estejam relacionados em vários contextos. 
As ONG’s são associações, agrupamentos sociais formais e, em geral, possuem estatutos, reu-
niões regulares, etc. Já os movimentos sociais, empiricamente são fenômenos, ações que exer-
cem pressão social, através das quais certos segmentos da sociedade colocam, na pauta política, 
questões socialmente relevantes. O tempo de duração é variável. Como exemplo, podemos citar 
ATIVIdAde
Visitem o site do Tribu-
nal Superior Eleitoral 
e pesquisem sobre os 
partidos políticos. Lá vo-
cês encontrarão a data 
de criação dos partidos, 
seus presidentes, per-
centual que recebem 
do fundo partidário, 
etc. Endereço: www.tse.
gov.br. 
ATIVIdAde
Reflitam sobre o cor-
porativismo no Brasil; o 
conceito acima permite 
esta análise e uma clara 
identificação do contex-
to brasileiro, especial-
mente no período de 
1930-1945. Embora 
tenha permanecido no 
cenário político brasilei-
ro. Poste seus achados 
no fórum de discussão.
◄ Figura 05: Alusão 
a um objetivo do 
corporativismo 
Fonte: Disponível em 
http://sites.google.com/
site/nmontenegrof/corpo-
rativismo1.jpg. Acesso em 
30 set. 2014.
16
UAB/Unimontes - 4º Período
o movimento negro. Mas notem que o movimento negro é marcado pela atuação de ONG’s. Há 
uma parcela considerável da sociedade que adota atitudes de repúdio ao racismo, alguns indiví-
duos que adotam essa postura são militantes da causa e fazem parte de ONG’s; já outros, talvez 
a maioria, são igualmente contra o preconceito, mas fazem parte de um movimento social geral, 
não de uma ONG em particular.
Voltando a falar dos canais organizacionais em geral, vale analisar a citação que trata das 
características da participação por essa via:
a participação pelo canal organizacional, em suas várias formas, caracteriza-se 
pela autonomia na mobilização de recursos internos (motivações) e externos 
(reconhecimento). [...] há correspondência entre a situação social dos parti-
cipantes e as reivindicações do grupo, em virtude das necessidades comuns 
compartilhadas pela mesma posição de déficit de reconhecimento (AVELAR, 
2004, p. 232).
Os recursos internos ou motivações, um dos fatores aventados pela autora, por si sós, apre-
sentam uma diferença significativa entre militantes e os profissionais das ONG’s e expressam po-
sições sociais diversas. As ONG’s, conforme salienta Avelar (2004, p.232), “são organizações em 
forma de tripé, cujos pilares são a sociedade, o Estado e as agências de financiamento, em geral, 
internacionais.” Diferentemente da perspectiva dos movimentos sociais, há nas ONG’s uma inter-
conexão com o Estado e estreita relação com as instâncias que compõem o tripé mencionado. 
Há hoje as chamadas PPPs, que são as Parcerias Público-Privadas, em que o Estado trava 
convênios com as ONGs, repassando-lhes verbas e funções administrativas, para que elas aten-
dam aos anseios de certas demandas de movimentos sociais ou associações, exercendo funções 
nos campos das políticas públicas – por exemplo -educação ou ecologia. É por questões como 
estas que as ONGs se aproximam tanto do Estado como dos movimentos sociais.
As recentes manifestações populares que ocorreram no Brasil em junho de 2013, ou as mo-
bilizações no Egito (2011) e Turquia (2013) introduziram novas questões para a análise da ação 
coletiva. Um aspecto fortemente ressaltado pelos analistas foi o papel das mídias sociais nessas 
mobilizações, além da participação da juventude e da luta contra o sistema político. Embora o 
significado destas manifestações, no Brasil, ainda seja um objeto em disputa, com um nível baixo 
de consenso sobre os possíveis impactos na vida política do país, vale discutir alguns pontos. 
No sentido que discutimos até aqui, trata-se de ações coletivas denominadas de manifesta-
ções. Em entrevista concedida em junho de 2013, Maria da Glória Gohn concorda com o uso do 
termo manifestações, considerando que, na maioria das vezes, estes eventos expressaram esta-
dos de indignação face à conjuntura política nacional. Na citação do box 2, que se segue, Gohn 
apresenta as características que as manifestações de junho de 2013 assumiram no Brasil:
BOX 2
Características que as manifestações de junho de 2013 assumiram no Brasil
As mobilizações adquiriram nestes eventos caráter de movimento de massa, de protesto, 
revolta coletiva, aglutinando a indignação de diferentes classes e camadas sociais, predomi-
nando a classe média propriamente dita; e diferentes faixas etárias, destacando-se os jovens. 
[...] Atuam em coletivos não hierárquicos, com gestão descentralizada, produzem manifes-
tações com outra estética – não dependem de um carro de som para mover a marcha, não 
usam bandeiras e grandes faixas de siglas ou palavras de ordem; os participantes tem mais 
autonomia, não atuam sob a coordenação de liderança central. São movimentos com valo-
res, princípios e formas de organização distintas de outros movimentos sociais, a exemplo dos 
sindicais, populares (urbanos e rurais), assim como diferem dos movimentos identitários (mu-
lheres, quilombolas, indígenas, etc.). Para compreender essa onda de mobilizações, além de 
identificar as especificidades e diferenças dos jovens em ação, uma questão significativa é: por 
que uma grande massa da população aderiu aos protestos. Que sentido e significado estes jo-
vens atribuíram aos acontecimentos para transformá-los em movimento de massa com ampla 
legitimidade? 
Fonte: Entrevista concedida a Marcelo Beraba, publicada no Jornal Estado de São Paulo em 14-06-2013.
O intento de mencionar essas manifestações é introduzir na nossa discussão fatos empíricos 
que mobilizaram a atenção da sociedade e, principalmente, de analistas, ao introduzir dinâmicas 
17
Ciências Sociais - Política IV
há algum tempo “adormecidas”. No Brasil,os jovens ocuparam as ruas no movimento que ficou 
conhecido como caras pintadas, no bojo das “Diretas Já”. Mas observem que a citação nos per-
mite levantar, com base no que estudamos até aqui, questões importantes para nossa reflexão. 
Vejamos: por que podemos afirmar diferenças significativas entre as mobilizações e os movimen-
tos sindicais, populares, identitários, etc. O porquê dá adesão aos protestos. Reflitam sobre estas 
questões e postem as conclusões no fórum.
Para finalizar esta seção, retomaremos o conceito de ação coletiva. Prestem atenção ao con-
teúdo do box 3 e registrem os aspectos em que os conceitos trabalhados permitem a sistemati-
zação do nosso estudo até aqui. Mas vale ressaltar que o texto introduz aspectos novos, uma vez 
que o seu conteúdo advém da concepção de um estudioso contemporâneo, o famoso Alberto 
Melucci, de quem trataremos nas seções posteriores.
BOX 3
Ação coletiva 
O termo ações coletivas tem sido geralmente utilizado, mesmo na academia, como um 
conceito empírico para se referir a toda e qualquer forma de ação reivindicativa ou de protes-
to realizada através de grupos sociais, tais como associações civis, agrupamentos para a defe-
sa de interesses civis ou públicos comuns, organizações de interesse público. Dessa forma, a 
noção de ação coletiva é genérica e abrangente, referindo-se a diferentes níveis de atuação, 
dos mais localizados e restritos (uma ONG, por exemplo), aos de um alcance mais universal na 
esfera pública (um movimento social propriamente dito, por exemplo, o Movimento dos Sem-
Terra - MST). Mesmo na teoria social, a conceituação de ação coletiva também tem sido muito 
diversificada, dependendo da abordagem teórica de cada autor. [...] Ela envolve uma estru-
tura articulada de relações sociais, circuitos de interação e influência, escolhas entre formas 
alternativas de comportamento. Os movimentos sociais seriam uma das possibilidades dessas 
ações. Portanto, segundo Melucci (1994, p. 28), o movimento social, enquanto categoria analí-
tica,é reservado ao tipo de ação coletiva que:
1. envolve solidariedade;
2. manifesta um conflito;
3. excede os limites de compatibilidade do sistema em relação à ação em pauta.
Fonte: SCHERER-WARREN, Ilse. Das ações coletivas às redes de movimentos sociais. Disponível em <https://pt.scribd.
com/doc/68233012/Ilse-Scherer-Warren-Acao-Coletiva>. Acesso em 30 set. 2014.
1.3 Abordagens da ação coletiva 
nas Ciências Sociais
Esta seção está dedicada à apresentação das várias abordagens da ação coletiva nas ciên-
cias sociais. Salientamos que é importante observar as mudanças em termos de concepções, 
conteúdos dos principais conceitos e dos atores valorizados em cada uma das abordagens.
1.3.1 Abordagens clássicas 
As abordagens clássicas da ação coletiva nas Ciências Sociais, objeto desta seção, podem ser 
divididas em dois grandes paradigmas: - um que trata das ações coletivas na perspectiva das mu-
danças sociais, revolucionárias, - e outro, denominado de paradigma norte-americano, que via 
nos partidos e grupos de pressão, os atores capazes de influenciar o sistema político. Capacidade 
esta que não era observada nos movimentos sociais, por eles se tratarem de “ondas” de compor-
tamentos coletivos, quase sempre anômicos, e marcados pela irracionalidade, embora sejam fru-
tos de tensões sociais. 
Consideraremos, como representativas do paradigma revolucionário, as contribuições de 
Karl Marx (1818-1883). O paradigma americano abriga cinco correntes teóricas, conforme or-
18
UAB/Unimontes - 4º Período
ganizado por Gohn (2000), a saber: (a) a Escola de Chicago e os interacionistas simbólicos, que 
elaboraram as suas teorias no início do século XX; (b) teorias sobre a sociedade de massas desen-
volvida nos anos 40 e 50; (c) abordagem sociopolítica que predominou nos anos 50; (d) o com-
portamento coletivo sob a ótica do Funcionalismo elaborada nos anos 50; (e) a organizacional
-institucional que ganha relevância nos anos 60 do século XX. Essas correntes coexistiram nas 
explicações dos movimentos sociais.
Do ponto de vista de um recorte temporal, essas correntes tiveram vigor explicativo signifi-
cativo até a década de 1960. No caso do paradigma norte-americano, teve início no século XX; já 
o paradigma revolucionário, a origem dele prende-se às revoluções capitalistas, porém entende-
mos que esse foi sistematizado por Karl Marx no século XIX. Com exceção do paradigma revolu-
cionário, que tem nas classes sociais e nas lutas operárias sua maior ênfase, as discussões sobre 
ação coletiva centram-se nas discussões sobre as organizações e os movimentos sociais.
1.3.2 Classes sociais e ações coletivas
Podemos dizer que o lugar, ou melhor, os lugares de discussão da ação coletiva nas Ciências 
Sociais são bastante diversificados, principalmente quando se fala de relações sociais, como: con-
flitos sociais, mudança social, comportamento e ação política, da relação entre estrutura e ação, 
entre outros. Vincula-se à tentativa de explicar o que leva à ação concertada de grupos e classes 
sociais. Portanto, as abordagens não se referem exatamente a uma teoria específica ou acabada 
da ação coletiva, mas às explicações sobre os condutores da ação coletiva, a saber, movimentos 
sociais, sindicatos, partidos, associações, etc.
Um dos maiores clássicos das Ciências Sociais, Karl Marx (1818-1883), refletindo sobre o 
desenvolvimento das formações sociais e, especialmente, da sociedade capitalista, introduz as 
noções de classe e práxis sociais. Como observa Melo Jr. (2007, p. 72), “Marx faz alusões aos mo-
vimentos sociais como prováveis estopins de um projeto radical de transformação na estrutura 
da sociedade.” Isso ajuda-nos a compreender por que o tema das classes sociais e suas lutas, da 
forma como foram mobilizados por Marx, se tornaram o centro das discussões sobre ações co-
letivas, pelo menos até metade da década de 1960, quando essa vertente analítica sofre o seu 
primeiro abalo significativo. 
Reflexões acerca do conceito de classe social em Marx foram desenvolvidas nas disciplinas 
do segundo período, mas, aqui, é absolutamente necessário “revisitar” o cerne dessa concepção 
ATIVIdAde
Vamos analisar a figura 
06. O desenho mos-
tra um trabalhador 
combativo e sugere a 
disposição da classe 
trabalhadora à luta pela 
revolução social. Mas, 
afinal, o que induz um 
trabalhador a ser um 
revolucionário? Quais as 
motivações seriam ne-
cessárias para que o tra-
balhador se envolvesse 
na luta política para 
transformar a socieda-
de? Essa questão gera 
grande debate teórico. 
Poste seus achados no 
fórum de discussão.
Figura 06: Trabalhador 
hasteando uma 
bandeira e segurando 
um martelo, símbolo 
dos operários 
revolucionários. 
Fonte: Disponível em 
<http://www.enciclo-
pedia.com.pt/images/
sp001358.gif>. Acesso em 
30 set. 2014.
►
19
Ciências Sociais - Política IV
para entendermos as problematizações que são desenvolvidas quando se retoma o marxismo 
para análise da ação coletiva. O foco dessa discussão recai sobre dois aspectos centrais da con-
cepção de classe social em Marx, que giram em torno de uma concepção estrutural ou objetiva 
(um lugar correspondente ao indivíduo em relação à detenção ou não dos meios de produção), 
a classe em si é outra que podemos entender como subjetiva (diz respeito à consciência de per-
tencimento a uma classe) ou a classe para si. 
A classe para si se refere à classe num estágio crítico de consciência coletiva, representa o 
momento revolucionário da classe. Neste estágio, a classe se percebe como classe explorada na 
estrutura das relações de produção e, por isso, torna-se consciente e propensa a agir para si mes-
ma. Ora, é essa consciência de classe que, em última instância, habilita a classe para atuar na di-
reção da luta revolucionária para viabilização dos seus interesses.Em outras palavras, percebe-se 
uma distinção entre a posição de classe (que se refere à classe em si) e a consciência de classe, 
(relativa à classe para si) que a torna capaz de uma ação concertada. É importante ressaltar que, 
para alcançar o segundo estágio, o da consciência coletiva de classe, é necessário passar pela 
conscientização de cada membro da classe. 
Há, contudo, um problema nesses argumentos. A percepção da posição de classe, por ser 
estrutural, é obviamente perceptível. Com isso queremos dizer que é fácil sabermos o que é a 
classe em si, porque é fácil sabermos quem são os trabalhadores e quem são os patrões. Porém, 
é difícil captarmos a consciência de classe, porque a transformação de um mero trabalhador em 
um trabalhador disposto a lutar por seus direitos ou a engajar-se em movimentos revolucioná-
rios depende de fatores que precisavam ser mais bem explicados do que foram por Marx. Aqui, 
temos um problema não muito bem resolvido em Marx e que será o ponto crucial dos questio-
namentos teóricos, a que a explicação marxista das motivações para a luta é submetida. O que 
levaria à consciência de classe? E, ainda mais, o que levaria a adesão às lutas, por parte dos mem-
bros das classes? 
Antes de continuarmos com essas questões, é importante salientar que Marx aponta que, 
em cada momento histórico, uma classe assume a perspectiva revolucionária e, nas sociedades 
capitalistas, o proletariado é, por excelência, a classe em condições de emancipar toda a socieda-
de, a classe que colocaria, portanto, fim às sociedades de classes. A luta dessa classe caminhava 
na direção da sociedade socialista, num primeiro estágio e, por fim, constituiria a sociedade co-
munista.
Retornando às questões levantadas anteriormente, podemos observar que, recorrentemen-
te, encontramos as respostas às questões da formação da consciência classista, consciência esta 
que se formaria em decorrência das condições materiais de existência de sua classe, ou seja, con-
dições de exploração que os trabalhadores vivenciam no processo produtivo. O reconhecimento 
◄ Figura 07: Marx: 
“trabalhadores do 
mundo, unam-se; vocês 
não têm nada a perder a 
não ser as correntes.”
Fonte: Disponível em 
<http://3.bp.blogspot.
com/_av4Phh5odqI/S-
-HW8YreCxI/AAAAAAAA-
AXw/qKNA-TnsQ6U/s1600/
Karl-Marx-Maze-1250.
png>. Acesso em 30 set. 
2014.
20
UAB/Unimontes - 4º Período
dessas condições motivaria os trabalhadores para a luta contra o sistema capitalista, visto como a 
fonte da opressão e da exploração. O trecho transcrito a seguir aponta como a literatura marxista 
lida com essa questão:
A superação histórica da condição de exploração seria realizável pela práxis 
política que, em última instância, dependia da formação da consciência de 
classe e de uma ideologia adquirida na vivência e maturidade política. A aquisi-
ção da consciência classista seria possível pela retomada/valorização de todas 
as ações coletivas [...] (MELO JR, 2007, p. 72).
A afirmação está coerente com o pensamento marxista, no sentido em que aponta a práxis 
como elemento fundamental para a formação da consciência e das ideologias. Segundo Gohn 
(2000, p. 176), na obra de Marx o termo práxis “está presente como elemento fundamental de 
transformação da sociedade e da natureza pela ação humana”. E completa “a práxis significativa 
refere-se à práxis transformadora do social, que se realiza em conexão com a atividade teórica, 
por meio da atividade produtiva e/ou da atividade política.” Essa autora aponta que, em Marx,
a práxis [é vista] como fruto da atividade produtiva [e] é a mais importante do 
mundo social. Ela tem como base fundamental o mundo do trabalho. A práxis 
política surge como articulação entre a práxis teórica e a práxis produtiva pro-
priamente dita, mediada pelas condições estruturais de desenvolvimento do 
processo social (GOHN, 2000, p. 176).
O conteúdo da citação nos ajuda a compreender por que a categoria classe social foi con-
siderada a variável explicativa de maior peso na análise das várias formas de ações coletivas. As 
relações estão centradas no mundo do trabalho, uma vez que a exploração é um elemento que 
possibilitava a percepção da desigualdade advinda da estrutura de classes. A sujeição opressiva 
dos trabalhadores, gerada no seio do sistema capitalista, dialeticamente, impulsionava a constru-
ção da consciência de classe e, consequentemente, a disposição para a luta transformadora.
dICA
Sugestão de filme: “Eles 
não usam black tie”, 
um filme brasileiro de 
1981 dirigido por Leon 
Hirszman, baseada 
numa peça de teatro do 
mesmo nome. A história 
retrata o movimento 
operário na realidade 
brasileira. Vale a pena 
ser visto.
Figura 08: Cartaz do 
filme: eles não usam 
Black-tie.
Fonte: Disponível em 
<http://cineclubebeloca.
com.br/wp-content/
uploads/2009/06/eles-
-nao-usam-black-tie.
jpg>. Acesso em 30 set. 
2014.
►
21
Ciências Sociais - Política IV
Para Marx (1981), a classe burguesa forjou de forma revolucionária o seu projeto de socieda-
de, apresentou-o à sociedade como um todo, como se esse projeto fosse universal, combatendo 
o feudalismo, lutando pela emancipação política (para livrar o Estado do controle da religião) e 
defendendo a liberdade e a igualdade como valores políticos. Entretanto, a sociedade burguesa 
não emancipou o homem, e cabe ao proletariado, como classe oprimida, um projeto efetivamen-
te universal, emancipatório de toda a sociedade. Nesse projeto, a emancipação dos trabalhado-
res é um dado objetivo e viabilizá-lo significa a ruptura com as formas de exploração vigentes na 
sociedade capitalista. Essa missão emancipadora do proletariado está associada à consciência de 
classe e ao poder de luta das organizações dos trabalhadores. Assim, o sucesso revolucionário 
da classe operária depende, em boa medida, da prática solidária entre os vários segmentos que 
compõem essa classe. 
No século XIX, Marx investiu na criação da Associação Internacional dos trabalhadores como 
forma de organizar a luta operária e criar condições de divulgação e adesão a esse projeto. 
O Estatuto da I Internacional de Trabalhadores, quando se referiu ao seu objetivo como sen-
do a união entre os movimentos de luta das classes operárias, com o fim de levar à abolição de 
toda dominação de classe, trata da questão da solidariedade, creditando, à falta dela, um proble-
ma para as lutas emancipatórias, vejamos o trecho que se segue:
Que a emancipação econômica das classes operárias e, portanto, o grande fim 
ao qual todo o movimento político deve estar subordinado como um meio. 
Que todos os esforços tendentes a esse grande fim têm até aqui falhado por 
falta de solidariedade entre as múltiplas divisões do trabalho em cada país e 
pela ausência de um laço fraterno de união entre as classes operárias de dife-
rentes países; [...] Declara: Que todas as sociedades e indivíduos que a ela ade-
riram reconhecerão a verdade, a justiça e a moralidade como base da sua con-
duta para com os outros e para com todos os homens, sem olhar a cor, credo 
ou nacionalidade (ESTATUTO GERAL DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE TRA-
BALHADO-RES, 1871).
◄ Figura 09: Desenho 
da primeira reunião 
internacional dos 
trabalhadores.
Fonte: Disponível em 
<http://farm2.static.flickr.
com/1152/699775508_eb-
cfe1fbee.jpg>. Acesso em 
30 set. 2014.
22
UAB/Unimontes - 4º Período
Na citação, fica explícito um alerta em relação à necessidade de ações solidárias, mas, ressal-
ta, principalmente, a supremacia da variável classe ao exaltá-la frente às demais formas de orga-
nização, quando afirma que a emancipação dos trabalhadores, fim último que levou a fundação 
da internacional de trabalhadores, deve subordinar todo o movimento político, isto é, todas as 
formas de ações coletivas. 
Podemos dizer, então, que a solidariedade interna à classe éfundamental para a ação coleti-
va. Solidariedade, neste caso, nada mais seria do que a consolidação dos laços entre os trabalha-
dores, para permitir a eles atuar, coletivamente, em favor da mudança social. No entanto, perce-
be-se o dilema: a citação afirma que a solidariedade é necessária para a formação da consciência 
de classe; no entanto, a consciência de classe seria importante para incentivar a solidariedade. 
Temos aqui um problema em círculo, que não nos permite decidir, com certeza, se é a cons-
ciência de classe que deve produzir a solidariedade ou se a solidariedade é que deve produzir a 
consciência coletiva. A teoria marxista clássica nunca resolveu esse dilema. Ora, se a consciência 
coletiva e a solidariedade são fundamentais para a ação coletiva dos trabalhadores, a teoria mar-
xista clássica tem problemas para explicar a atuação revolucionária (coletiva) dos trabalhadores. 
A grande marca dos movimentos organizados sob orientação marxista clássica é a perspectiva 
revolucionária, muitas vezes violenta, com a contestação direcionada ao sistema capitalista.
Nas palavras de Alexander (1998, s/p), “os movimentos sociais foram identificados segundo 
o modelo dos movimentos revolucionários, entendidos como mobilizações de massa que visam 
apossar-se do poder de um Estado antagônico”. Em toda a obra de Marx, a violência é conside-
rada uma via possível para a conquista do Estado. No entanto, Alexander afirma que tal visão 
começa a mudar por esforço de Engels, parceiro intelectual de Marx, e aparece no prefácio do 
terceiro volume de O Capital (organizado e publicado por Engels, após a morte de Marx, com 
textos marxistas inéditos). Nesta obra, Engels admitiu a possibilidade de que futuras lutas revolu-
cionárias pudessem evitar a violência militar levada a cabo pelas barricadas. 
1.3.3 As correntes norte-americanas de análise dos movimentos 
sociais e ações coletivas
Nesta subseção, trataremos das correntes teóricas clássicas elaboradas nos Estados Unidos 
da América – EUA - num período que compreende, segundo Gohn (2000), dos anos iniciais do 
século XX até a década de 1960. Para vocês, faz sentido tratar separadamente a perspectiva mar-
dICA
A chamada Escola de 
Chicago consiste num 
conjunto de teorias, de-
correntes de trabalhos e 
pesquisas realizadas por 
professores e estudan-
tes da Universidade de 
Chicago, nos Estados 
Unidos. O maior obje-
tivo dos intelectuais 
dessa escola foi o de 
produzir conhecimen-
tos que viabilizassem a 
solução de problemas 
sociais. (MELO JR., 2007)
Figura 10: Barricadas 
em Paris - movimentos 
revolucionários de 
1848. 
Fonte: Disponível em 
<http://www.inicia-
tivaciudadana.com/
wp-content/uploads/ar-
ticulos_opinion/barrica-
da_Paris_Huchette.jpg>. 
Acesso em 30 set. 2014.
►
23
Ciências Sociais - Política IV
xiana e as escolas americanas? Esperamos que, ao final deste texto, essa questão possa ser fa-
cilmente respondida por vocês. É importante termos em mente que o marxismo não teve uma 
aceitação expressiva entre os teóricos americanos. 
Segundo Melo Jr. (2007), no início do século XX, surge, com a Escola de Chicago, a primeira 
teoria da ação coletiva nos EUA, quando têm início as pesquisas sobre os movimentos sociais 
resultantes dos conflitos urbanos em curso na cidade de Chicago. Esses conflitos decorriam tanto 
da intensa industrialização e urbanização de certas regiões dos EUA, quanto do intenso processo 
imigratório vivido naquele país, em decorrência da “fuga” dos europeus para a América. Naquele 
início de século, a crise econômica e as tensões bélicas na Europa, propiciaram um grande pro-
cesso emigratório no continente. Esses processos sociais causavam conflitos por sua dinâmica, 
que forçava a convivência num mesmo espaço – a grande cidade – de culturas, etnias, religiões, 
nacionalidades e classes sociais diferentes. As interações entre essas diversas categorias sociais 
causavam problemas de ordem política e social que precisavam ser entendidos e solucionados. 
Em suma, por questões internas e externas, a sociedade estadunidense viveu muitos problemas 
que levaram os intelectuais da Escola de Chicago a desenvolver teorias e pesquisas sociológicas. 
Como inicialmente afirmamos, no marxismo a questão da ação coletiva não é tratada como 
um tema específico. Ela se insere no bojo das proposições teóricas e nas práticas da luta revo-
lucionária, com o objetivo de pôr fim à sociedade capitalista, construindo uma nova forma de 
sociedade.
Na escola de Chicago, os problemas advindos dos fenômenos sociais acima citados eram 
tomados como objeto de análise e sobre eles eram desenvolvidas teorias com a perspectiva de 
intervenção social. Essa escola abriga diferentes enfoques, teorias e metodologias de pesquisa, 
mas, como afirma Gohn (2000, p. 23), é possível “identificar cinco grandes linhas e suas caracterís-
ticas comuns: o núcleo articulador das análises é a teoria da ação social, e a busca de compreen-
são dos comportamentos [sociais] é nela a meta principal”. 
Outro aspecto importante mencionado por Gohn (2000, p. 29), que perpassa as várias cor-
rentes da Escola de Chicago, é a força do componente educacional – inclusive no seio dos mo-
vimentos sociais, e a importância da figura da liderança. Os líderes deveriam ser “agentes apazi-
guadores”, desmobilizando o conflito, transformando os movimentos em instituições sociais, por 
meio do equacionamento das demandas em questão. A eficiência da atuação das lideranças na 
solução dos problemas enfrentados demanda preparo, educação. Analisemos a citação:
Os líderes, para serem eficientes, deveriam compreender seus seguidores, in-
tegrar-se suficientemente ao movimento e ser educados o bastante para tanto. 
Ou seja, o líder era um instrumento básico da mudança, da acomodação, da re-
forma. Os problemas surgiam quando os movimentos sociais não conseguiam 
ser controlados por seus líderes, dando origem a descaminhos na direção do 
movimento. A solução seria buscar, cada vez mais, formar lideranças responsá-
veis (GOHN, 2000. p. 29). 
A citação explicita bem tanto o papel das lideranças quanto a tendência à institucionaliza-
ção dos movimentos como forma de preservação da ordem social. Com a intermediação dos lí-
deres, poderia haver acomodação dos conflitos sociais, por meio da absorção das demandas nas 
instituições sociais existentes, ou em institui-
ções a serem criadas para tal fim. 
Para apresentação das principais carac-
terísticas das cinco correntes teóricas clássi-
cas americanas mencionadas, seguiremos o 
esquema elaborado por Gohn (2000). Trata-
remos primeiro do interacionismo simbólico, 
da corrente denominada de Escola de Chica-
go, a qual pertencem interacionistas simbó-
licos, os movimentos sociais são vistos como 
reações psicológicas, as estruturas de priva-
ções econômicas. A criatividade inerente aos 
indivíduos, juntamente com as condições 
onde se desenrolavam os processos intera-
tivos, formavam os elementos centrais dos 
estudos sociológicos que deveriam explicar 
como ocorriam as mudanças sociais (GOHN, 
2000).
dICA
Os interacionistas 
simbólicos foram estu-
dados no módulo III de 
Sociologia, lembram-se? 
Eles são um conjunto de 
sociólogos, filósofos e 
psicólogos sociais que 
estudavam as inte-
rações sociais, tendo 
em vista que estas são 
mediadas por símbolos. 
Por isso, o estudo das 
falas e da linguagem, 
em geral, é central nas 
análises dos interacio-
nistas. Observem que 
uma das qualidades 
mais esperadas de uma 
liderança é saber se 
comunicar bem!
Figura 11: 
Representação de 
um diálogo, que é 
central nas análises do 
interacionismo. 
Fonte: Disponível em 
<http://freebirds.files.
wordpress.com/2009/08/
dialog1.jpg>. Acesso em 
30 set.2014.
▼
24
UAB/Unimontes - 4º Período
Segundo Gohn (2000, p. 31), um grande expoente dessa escolaé o sociólogo Herbert Blu-
mer (1949), que via os movimentos sociais como “resultado de mudanças que operariam num 
âmbito individual, e no plano psicológico. Tais mudanças provocariam as motivações para o sur-
gimento dos movimentos sociais genéricos”. Esse autor classificava os movimentos em genéricos 
(operários, jovens, mulheres e pela paz), específicos (caracterizados por ter metas e por ter obje-
tivos bem definidos) e expressivos (reformistas ou revolucionários).
Devido à nossa discussão sobre o marxismo (realizada na primeira parte da seção), no qual 
o movimento operário é considerado, por excelência, a base da revolução, vocês devem estar se 
perguntando o porquê da classificação que Blumer faz do movimento operário como genérico, 
ao passo que cria uma outra categoria para enquadrar os movimentos reformistas ou revolucio-
nários. A resposta a essa questão é encontrada no próprio Blumer, quando esse autor considera 
os movimentos operários ou de mulheres como tendo objetivos vagos e caráter episódico. Já os 
movimentos expressivos cumprem uma trajetória evolutiva que se inicia pela inquietação indivi-
dual, inquietação popular, formalização e institucionalização. Ou seja, nesses últimos, podemos 
observar o fechamento de um ciclo com uma resposta à demanda ou incorporação por uma de-
terminada instituição previamente existente ou criada. 
Agora vamos falar da segunda corrente citada por Gohn (2000), referente à sociedade de 
massas. O foco dos intelectuais que representam a corrente conhecida como teoria das socieda-
des de massas é o estudo do comportamento coletivo das massas sociais. Segundo Gohn (2000, 
p. 35), essa teoria via “os comportamentos coletivos como resultado de ações advindas de parti-
cipantes desconectados das relações em ações normais e tradicionais”. Os pesquisadores dessa 
linha recuperam o conceito de anomia, para explicação do comportamento coletivo, associado à 
condição de vida a que esse coletivo estava submetido. 
O ponto de partida dessa teoria vem do pressuposto, no final do século XIX, elaborado por 
Le Bonm (sociólogo francês), que considerava o comportamento das massas cego e irracional. 
Esse autor baseou seus estudos nos motins durante a Revolução Francesa. A partir da análise 
desses fatos, concluiu-se que “os indivíduos são capazes tanto de atos de heroísmo como de bar-
bárie, pois, em episódios em que predomina a espontaneidade das massas, há sempre violência, 
o que as leva a perder o uso da razão crítica” (GOHN, 2000, p. 35). A preocupação central dessa 
corrente teórica é com a perda de controle e influência das elites culturais, e com o desamparo 
das massas para encontrar tipos substanciais de racionalidade à elaboração política, numa socie-
dade dominada cada vez mais por tecnologias complexas. 
Offe (1988) apud Gohn (2000, p.36) aponta que essa corrente formulou sua teoria com base 
em comportamentos políticos “não convencionais”, tratando-os como expressivos dos comporta-
mentos de “massas ou desviantes”. Isso significa dizer que existe um recorte específico nos fatos 
observados pelos autores da corrente denominada sociedade de massas. Isso implica uma limi-
tação explicativa da teoria e não permite generalizar as conclusões das pesquisas de um deter-
minado evento para todos os eventos que podem ser denominados como sendo de massa. 
De qualquer forma, esse tipo de visão sobre as massas populares contribuiu para amalga-
mar, na cultura política conservadora, a associação entre as manifestações das “massas popula-
res” e a ideia de baderna. No caso, as manifestações populares colocam em risco a ordem social. 
Para exemplificar essa afirmação, podemos nos remeter a fatos ocorridos no Brasil, por 
exemplo, as análises relativas às manifestações dos populares quando saíram às ruas apresen-
tando sua indignação frente aos fatos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio. Analisando esse 
episódio, Ferreira (1994) credita aos desdobramentos dessas manifestações o adiamento do gol-
pe militar por dez anos. Cabe salientar que esse tipo de manifestação é passageiro, de caráter 
pontual, e não pode ser classificado como movimento social. A forma de identificação para esse 
tipo de fenômeno é movimento ad hoc, ou seja, movimento de massa que corresponde a um 
fato social específico e, como tal, passageiro. 
Vamos, agora, à terceira abordagem. Segundo Gohn (2000), a corrente que se convencionou 
chamar de abordagem política se constituiu influenciada pela chamada guerra fria, em meados 
do século XX, e pelo surgimento de movimentos com conotações ideológicas. Estes fenômenos 
teriam imprimido, nos países do então chamado primeiro mundo, um debate sobre a desarticu-
lação da sociedade, atordoada devido às inovações industriais ou ao comportamento coletivo 
das massas. Nesse cenário, o tema da revolução ou reforma dominava a agenda do momento e 
colocava a dimensão política dos movimentos sociais como questão central. 
Com o intuito de reforçar o aspecto ideológico enfatizado em suas análises, os intelectuais 
adeptos dessa corrente teórica retomam a problemática marxista das classes sociais e as relações 
sociais de produção para explicar os comportamentos coletivos do tipo político-partidários. 
dICA
Os interacionistas 
entendem que “é con-
versando que a gente 
se entende”. Procuram 
entender o papel do 
diálogo nas interações 
entre indivíduos e na 
formação dos grupos 
sociais.
25
Ciências Sociais - Política IV
O comportamento eleitoral, a mobilização partidária e a atuação política de diferentes gru-
pos e facções são tomados como objeto de estudos para a compreensão da mudança social e 
para o entendimento das revoluções e conflitos entre as nações – inclusive na América latina. O 
nazifascismo é mais um dos campos de análise que participa da construção teórica dessa cor-
rente (GOHN, 2000). Observamos que essa teoria reserva uma atenção especial ao aspecto ideo-
lógico dos movimentos sociais. Essa observação é reforçada, quando Gohn (2000, p.38) aponta 
que representantes dessa corrente afirmam que “os movimentos estariam sempre integrados por 
modelos específicos de compromissos coletivos, ideias constitutivas ou ideologias”. 
Diferentemente do que propõem os marxistas, a corrente da abordagem sociopolítica aqui 
tratada não vê os movimentos sociais como advindos unicamente da consciência de classe em 
relação à necessidade de mudanças sociais: 
os movimentos seriam sintomas de descontentamentos [de natureza variada] 
dos indivíduos com a ordem social vigente e seus objetivos principais seria a 
mudança da ordem social. Em determinadas condições, eles poderiam se tor-
nar um perigo para a própria existência dessa ordem social (GOHN, 2000, p. 38). 
Devemos nos lembrar de que a ruptura com a ordem social existente entre os marxistas é 
o objetivo primeiro dos movimentos sociais, a bem dizer, de toda ação coletiva. A contestação e 
a transformação revolucionária da ordem social, vistas a partir da posição de classe, é o objetivo 
que deve sintetizar as lutas políticas. 
Vale ressaltar que a diferença entre esta abordagem e a marxista, que vimos antes, é que 
Marx ancora as motivações e ações políticas exclusivamente na infraestrutura econômica, ou 
seja, todo interesse e toda ação política, especialmente a ação revolucionária, emanam das con-
dições econômicas vigentes na sociedade. Já a abordagem política apresentada por Gohn (2000) 
não restringe a política a um mero reflexo da economia; diferentemente, aqui os interesses têm 
diversas origens, de forma que há uma multiplicidade de fatores que induzem à ação política. 
Reparem que os movimentos e ações coletivas seriam expressão de descontentamento, mas não 
necessariamente de descontentamento de ordem econômica. Assim, aqui vai um desafio: pen-
sem em alguns fatores não econômicos que podem gerar descontentamento e, a partir deles, 
ações ou movimentos políticos.A quarta corrente teórica da escola americana é intitulada comportamento coletivo sob a 
ótica do funcionalismo. A teoria de base que fundamenta essa corrente é a do sistema social, 
proposta pelo sociólogo americano Talcott Parsons. O resultado da aplicação dessa teoria, na 
análise da ação coletiva, é a identificação da origem dos “comportamentos coletivos em perío-
dos de inquietação social, de incertezas, de impulsos reprimidos, de ações frustradas, de mal-es-
tar, de desconforto” (GOHN, 2000, p. 40). Trata-se do afrouxamento dos hábitos e costumes e das 
formas de controle social. As condições para emergência dos movimentos estão nas dimensões: 
“cultural (mudança de valores), social (desorganização e descontentamento) e política (injustiça 
social)” (GOHN, 2000, p. 41). 
Em relação a essas afirmações, parece-nos uma boa síntese do pressuposto básico dessa 
corrente afirmar que o problema da ação coletiva entre esses intelectuais é a própria existên-
cia dela e não o que levaria à adesão a uma ação coletiva. Nesse aspecto, fica clara a influência 
de Durkheim, o clássico sociólogo, sobre o pensamento funcionalista de Parsons. Na visão Dur-
kheimiana, a sociedade consistia num conjunto de mecanismos – que ele chamava de fatos so-
ciais – que atuavam de forma coercitiva sobre os indivíduos, fazendo-os agir de forma solidária, 
assegurando, assim, a coesão social. Ora, coesão social nada mais é do que a convergência de 
comportamentos que observamos entre os indivíduos, quando eles agem coletivamente. Neste 
sentido, a ação coletiva para Durkheim era algo “naturalmente” decorrente das próprias forças 
sociais, ou seja, induzir as ações coletivas é algo da essência da sociedade e não um fato a ser 
explicado à parte. 
O problema, então, seria não explicar por que a ação coletiva – ou a coesão social – ocorre, 
mas entender por que ela às vezes não ocorre. É aí que Durkheim utiliza a ideia de anomia social, 
para designar uma espécie de “doença” que impede a sociedade de promover sua própria coesão 
ou a coesão de grupos que a compõem.
É exatamente nesse sentido, segundo Gohn (2000), que Parsons encaminha a questão da 
ação coletiva. A ocorrência de ações coletivas é algo próprio do que chamamos de sociedade. 
O problema parsoniano, então, passa a ser explicar os desvios, os contextos e causas que fazem 
com que a coesão social falhe, e a coordenação coletiva das ações deixem de ocorrer a contento.
26
UAB/Unimontes - 4º Período
Passemos, por fim, à quinta corrente teó-
rica. Segundo Gohn (2000), ela é denominada 
organizacional-comportamentalista e baseia-
se na teoria da burocracia de Weber e na lei de 
ferro das oligarquias de Michels (1982). O foco 
são as organizações com objetivos bem espe-
cíficos, daí a utilidade do referencial teórico 
mencionado.
Em relação à teoria da burocracia de We-
ber, vocês têm familiaridade e devem se lem-
brar de que a burocracia é uma manifestação 
da dominação racional-legal que se expressa 
em códigos legais, etc. Em relação à teoria de 
Robert Michels, vale a pena dizer que a “Lei 
de ferro da oligarquia” é uma expressão usada 
por esse autor para discutir o risco inerente 
às organizações, de que os líderes e/ou repre-
sentantes tomem completamente o lugar dos 
representados, levando à oligarquização das 
organizações, ou seja, ao domínio de poucos. 
De acordo com Michels (1982), “quem diz or-
ganização, diz oligarquia”. Qual seria então a 
relação entre a teoria weberiana e a de Michels com a teoria da ação coletiva? Vejamos algumas 
características desse campo teórico que podem responder a essa indagação. 
Nessa corrente teórica, os movimentos são divididos em três categorias: de classe, de status 
e expressivos. Os movimentos de classe são marcados pela organização instrumental em torno 
de objetivos da sua clientela. Os movimentos de status voltam para si próprios e destinam-se a 
manter o prestígio do grupo, ao passo que os movimentos expressivos abrigam comportamen-
tos menos objetivos ou por metas vinculadas ao descontentamento. 
Analisando a classificação dos movimentos, observamos que, sociologicamente, podemos 
dizer que as categorias classe e status explicitam a estrutura econômica e social de uma socie-
dade e são categorias que podem ser objetivamente definidas, por outro lado, uma agregação 
a partir de um descontentamento, pela classificação apresentada, tem bases mais dispersas, ne-
gando, portanto, o potencial dos paradigmas tradicionais centrados na classe, em fatores psicos-
sociais (sentimentos, descontentamentos) ou em quebras de normas.
A ênfase dessa corrente recai, como o próprio nome indica, sobre o funcionamento interno 
das organizações, como entidades coletivas, e suas relações com os comportamentos individuais 
de seus membros. Retornando às teorias de base dessa corrente, podemos nos lembrar de que, 
em Weber (1982), a burocratização crescente leva à racionalização. Racionalização, no sentido 
weberiano, refere-se a um processo social moderno que, gradativamente, leva os indivíduos e 
as organizações a pautarem suas ações por ações racionais e desencantadas, por desencantadas, 
Weber quer dizer que, nas ações sociais, não há emoção nem fundamento religioso, como havia 
antigamente. 
▲
Figura 12: Burocracia 
e hierarquia: 
características da 
sociedade moderna 
para Weber e Michels.
Fonte: Disponível em 
<http://2.bp.blogspot.
com/_BQtIlIJxu0k/SCVLB-
4JntmI/AAAAAAAAANw/
tRzzJ0tp6CI/s1600/
cd715f038_a.jpg>. Acesso 
em 30 set. 2014.
Figura 13: 
Administração 
burocrática: 
hierárquica, impessoal 
e racional.
Fonte: Disponível em 
<http://acertodecontas.
blog.br/wp-content/
uploads/2007/10/funcio-
nalismo.gif>. Acesso em 
30 set. 2014.
►
27
Ciências Sociais - Política IV
Para Weber (1982), o mundo moderno, assim como suas organizações burocratizadas e o 
comportamento de seus indivíduos, dentro e fora da política, se desencantou, isto é, se raciona-
lizou. Nessa lógica, é cada vez menor o papel das emoções, da tradição ou da religião, no funcio-
namento das organizações sociais.
O elitismo, na visão de Michels (1982), afinada com a visão weberiana, permite-nos pensar 
em outros aspectos do funcionamento da sociedade moderna e de suas organizações. Se assu-
mirmos a proposição de Michels (1982), de que a organização leva a que poucos assumam o co-
mando, o resultado pode ser a participação instrumentalizada dos membros da organização. Isto 
quer dizer que a participação numa organização requer cada vez mais técnicas pautadas em re-
sultados, não em paixões ideológicas. 
Vamos ter como exemplos os partidos ou os sindicatos. Nessas organizações, hoje em dia, 
há muita atividade a ser feita e não são fáceis as tarefas que devem ser realizadas no dia a dia da 
organização. Isso se dá porque a complexidade das ações sociais na modernidade é tanta, que 
não é qualquer pessoa que pode administrar ou mesmo influenciar as atividades de um partido 
ou de um sindicato. Por isso, pouco a pouco, vai se criando uma elite dentro da organização e 
essa elite precisa se qualificar, se especializar, cada vez mais, para as funções. 
Se um partido quer ganhar as eleições ou se um sindicato quer conseguir aumento para os 
trabalhadores que representa, imagine o quanto de conhecimento essas lideranças têm que ter 
para solucionar esses problemas. A eleição tem uma logística muito complexa, é preciso preparar 
campanhas na mídia e nas ruas; é preciso captar dinheiro para as campanhas; fazer coligações; 
elaborar programas políticos (promessas) para convencer o eleitor e, por fim, caso o partido ven-
ça as eleições; é preciso governar. 
Com os sindicatos a coisa não é menos complexa. Líderes sindicais precisam entender de 
economia, de política, de sociedade. Precisam ter senso de oportunidade e ter habilidades para 
fechar acordos com os governos ou com os patrões.

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