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Resumo: Divisão do Trabalho Social e Direito Émile Durkheim

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Resumo: Divisão do Trabalho Social e Direito
Émile Durkheim
Sumário
· Introdução
· Capítulo 1 
· Capítulo 2 
· Capítulo 3
· Conclusão
· Bibliografia
Introdução
	Embora a divisão do trabalho não seja de ontem, foi somente no fim do século passado que as sociedades começaram a tomar consciência desta lei que, até então, sofreram quase sem saber. 
Sem dúvida desde a Antigüidade vários pensadores aperceberam-se da sua importância: mas foi Adam Smith o primeiro a tentar enquadrá-la teoricamente. Foi, aliás, ele quem criou a expressão, que a Ciência Social mais tarde emprestou à Biologia.	
	Hoje este fenômeno generalizou-se a um tal ponto que se torna evidente para todos. Não há já ilusão possível acerca das tendências da nossa indústria moderna; ela assenta cada vez mais em potentes mecanismos, em grandes juntas de forças e de capitais e, por consequência, na extrema divisão do trabalho. 
Não somente no interior das fábricas as ocupações se separaram e se especializaram infinitamente, como cada manufatura é, ela própria, uma especialidade, que supõe outras. Adam Smith e Stuart Mill esperavam ainda que pelo menos a agricultura fosse exceção à regra, e viam nela o último reduto da pequena propriedade. 
Embora em semelhante matéria seja preciso preocuparmo-nos contra a generalização desmedida, parece, no entanto, difícil contestar hoje que os principais ramos da indústria agrícola são cada vez mais arrastados no movimento geral. 
Enfim, o próprio comércio esforça-se por seguir e por refletir, com todas as suas gradações, a infinita diversidade das empresas industriais, e enquanto esta evolução se realiza com uma espontaneidade irrefletida, os economistas, que lhe perscrutam as causas e apreciam os resultados, longe de a condenar e de a combater, proclamam a sua necessidade. Vêem nisso a lei superior das sociedades humanas e a condição do progresso.
	Mas a divisão do trabalho não é específica ao mundo econômico; pode-se observar a sua influência crescente nas mais diferentes áreas da sociedade. As funções políticas, administrativas, judiciárias especializam-se cada vez mais. 
O mesmo acontece com as funções artísticas e científicas. Estamos longe do tempo em que a Filosofia era a ciência única; ela fragmentou-se numa quantidade de disciplinas particulares, tendo cada uma o seu objeto, o seu método, o seu espírito. “De meio século em meio século os homens que se evidenciam nas ciências são cada vez mais especialistas”.
Capítulo 1 
	Querendo mostrar a natureza dos estudos de que se tinham ocupado os cientistas mais ilustres desde há dois séculos, De Candolle notou que na época de Leibniz e de Newton teria sido preciso fazer menção “quase sempre de duas ou três designações para cada cientistas; por exemplo, astrônomo e físico ou matemático, astrônomo e físico; ou então utilizar termos genéricos como filósofo ou naturalista. Mesmo isto não seria suficiente. 
Os matemáticos e os naturalistas eram por vezes eruditos ou poetas. Mesmo no fim do século XVIII, designações múltiplas teriam sido necessárias para indicar exatamente aquilo que homens como Wolff, Haller, Charles Bonnet tinham de notável em vários domínios das ciências e das letras. No século XIX esta dificuldade já não existe ou, pelo menos, é muito rara”. 
Não só o cientista não cultiva já simultaneamente ciências diferentes, como nem sequer abarca mesmo o domínio completo de uma ciência. O âmbito das suas pesquisas restringe-se a uma ordem determinada de problemas ou mesmo a um único problema. 
Ao mesmo tempo, a função científica, que outrora era acumulada quase sempre com outra mais lucrativa, como a de médico, padre, magistrado ou militar, basta-se cada vez mais a si própria. De Candolle prevê mesmo que proximamente a profissão de cientista e a de professor, hoje ainda tão intimamente ligadas, se dissociem em definitivo.
	As recentes especulações da filosofia biológica acabaram por nos fazer ver na divisão do trabalho um fato de uma tal generalidade, que os economistas, que dele falaram pela primeira vez, não teriam suspeitado. 
Com efeito, sabe-se, depois dos trabalhos de Wolff, de Von Baer, de Milne-Edwards, que a lei da divisão do trabalho se aplica tanto aos organismos como às sociedades; pôde-se mesmo dizer que um organismo ocupa um lugar tanto mais elevado na escala animal quanto mais nele as funções estão especializadas. 
Esta descoberta teve por efeito, simultaneamente, estender desmedidamente o campo de ação da divisão do trabalho e atirar as suas origens para um passado infinitamente longínquo, já que ela é quase contemporânea do aparecimento da vida no mundo. 
Não é apenas uma instituição social que tem a sua origem na inteligência e na vontade dos homens; mas é um fenômeno de biologia geral de que é preciso, parece, ir procurar as condições nas propriedades essenciais da matéria organizada. A divisão do trabalho social já não aparece senão como uma forma particular deste processus geral, e as sociedades, conformando-se a essa lei, parece ceder a uma corrente nascida bem antes delas e que arrasta num mesmo sentido o mundo vivo por inteiro.
	
É necessário afastar essas deduções, que são geralmente empregadas apenas para fazer as vezes de argumento e justificar, de seguida, sentimentos preconcebidos e impressões pessoais. 
A única maneira de se chegar a apreciar objetivamente a divisão do trabalho é estudá-la primeiro em si mesma de uma forma abstrata, procurar saber para que serve e de que depende, numa palavra, formar dela uma noção tão adequada quanto possível. Feito isto, estaremos em relações que ela mantém com eles. 
Se achamos que desempenha um papel similar a qualquer outra prática cujo caráter moral e normal é indiscutível, e se em certos casos ela não desempenha esse papel, isso é conseqüência de desvios anormais; e se causas que a determinam são também as condições determinantes de outras normas morais, poderemos concluir que ela deve ser classificada entre estas últimas. 
E assim, sem querer substituir-nos à consciência moral das sociedades, sem pretender legislar em seu lugar, poderemos trazer-lhe um pouco de luz e diminuir as suas perplexidades.
	
Capítulo 2 
	De resto, se tanto se discutiu sobre o valor moral da divisão do trabalho, é muito menos porque não se está de acordo sobre a fórmula geral da moralidade, do que por se ter negligenciado em demasia as questões de fato que vamos abordar. 
Sempre se raciocinou como se elas fossem evidentes; como se, para conhecer a natureza, o papel, as causas da divisão do trabalho, bastasse analisar a noção que cada um tem acerca disso. Um tal método não leva a conclusões científicas; por isso, depois de Adam Smith, a teoria da divisão do trabalho bem poucos progressos fez “. 
Os seus continuadores, diz Schmoller, com uma pobreza de idéias notável, agarraram-se obstinadamente aos seus exemplos e às suas notas até o dia em que os socialistas alargaram o campo das suas observações e contrapuseram a divisão do trabalho nas fábricas atuais à das oficinas do século XVIII. 
Mas, mesmo assim, a teoria não foi desenvolvida de uma forma sistemática e aprofundada; as considerações tecnológicas, ou as observações de uma verdade banal de alguns economistas, também não puderam favorecer particularmente o desenvolvimento dessas idéias”. 
Para saber o que é objetivamente a divisão do trabalho não basta desenvolver o conteúdo da idéia que dela fazemos, é preciso tratá-la como um fato objetivo, observar, comparar, e veremos que o resultado dessas observações difere freqüentemente daquele que o sentido íntimo nos sugere. 
	
Não temos simplesmente que procurar se, neste tipo de sociedade, existe uma solidariedade social que provém da divisão do trabalho. É uma verdade evidente, pois a divisão do trabalho está aí muito desenvolvida e produz a solidariedade. 
Mas é preciso, sobretudo, determinar em que medida a solidariedade que ela produz contribui para a integração geral da sociedade: pois é somente então que saberemos até que ponto ela é necessária, se é um fato essencialda coesão social ou, pelo contrário, se não é senão uma condição acessória e secundária. 
Para responder a esta questão, é preciso comparar este laço social aos outros, a fim de medir a parte que lhe pertence no efeito total, e para isto é indispensável começar por classificar as diferentes espécies de solidariedade social.
	
Mas a solidariedade social é um fenômeno completamente moral que, por si próprio, não se presta à observação exata nem, sobretudo, à medida. 
Para proceder, quer a esta classificação, que a esta comparação, é preciso, portanto, substituir o fato interior, que nos escapa, pelo fato exterior, que o simboliza, e estudar o primeiro através do segundo.
	Este símbolo visível é o direito. Com efeito, onde a solidariedade social existe, apesar do seu caráter imaterial, ela não permanece no estado de potência pura, mas manifesta a sua presença através de efeitos sensíveis. 
Onde ela é forte, inclina fortemente os homens uns para os outros, põe-nos frequentemente em contato, multiplica as ocasiões de entrarem em relação. 
Em rigor, no ponto a que chegamos, é difícil dizer se é ela que produz esses fenômenos ou, pelo contrário, se deles resulta; se os homens se aproximam porque ela é enérgica, ou se, pelo contrário, é enérgica porque eles se aproximam uns dos outros. 
Mas, de momento, não é necessário elucidar a questão e basta verificar que estas duas ordens de fatos se encontram ligadas e variam ao mesmo tempo e no mesmo sentido. 
Quanto mais os membros de uma sociedade são solidários, mais eles mantêm relações diversas, quer uns com os outros, quer com o grupo tomado coletivamente: porque, se os seus encontros fossem raros, eles não dependiam uns dos outros senão de uma maneira intermitente e fraca. 
Por outro lado, o número destas relações é necessariamente proporcional ao das normas jurídicas que as determinam. Com efeito, a vida social, por todo o lado onde ela existe de uma maneira durável, tende inevitavelmente a tomar uma forma definida e organizar-se e o direito não é outra coisa senão esta mesma organização, naquilo que ela tem de mais estável e de mais preciso. 
Capítulo 3
A vida geral da sociedade não pode estender-se num certo sentido sem que a vida jurídica para aí se estenda ao mesmo tempo e na mesma proporção. Podemos assim estar certos de encontrar refletidas no direito todas as variedades essenciais da solidariedade social.
	Poder-se-ia objetar, é verdade, que as relações sociais podem fixar-se sem tomarem para isso uma forma jurídica. Assim é, quando a regulamentação não atinge um dado grau de consolidação e de precisão; mas nem por isso aquelas relações ficam indeterminadas; em vez de serem reguladas pelo direito, são-no pelo costume. 
O direito não reflete, portanto, senão uma parte da vida social, e por consequência, não nos fornece senão dados incompletos para resolver o problema. 
Há mais: acontece frequentemente que os costumes não estão em concordância com o direito; diz-se incessantemente que aqueles lhe moderam os rigores, que lhe corrigem os excessos formalistas, por vezes mesmo que estão animados de um espírito completamente diferente. 
Não poderá acontecer que manifestem espécies de solidariedade social diferentes daquelas que o direito positivo exprime?
	Mas esta oposição somente se produz em circunstâncias absolutamente excepcionais. É preciso para isso que o direito já não corresponda à situação vigente na sociedade e que, no entanto, ele se mantenha, sem razão de ser, pela força do hábito. 
Como efeito, neste caso, e apesar disso, as novas relações que se estabelecem não deixam de se organizar; porque não podem subsistir sem procurar consolidar-se. Somente, como estão em conflito com o antigo direito que persiste, não ultrapassam o estádio dos costumes e não chegam a entrar na vida jurídica propriamente dita. 
É assim que surge o antagonismo. Mas este não se pode produzir senão em casos raros e patológicos, que não podem prolongar-se sem perigo. Normalmente, os costumes não se opõem ao direito, mas, pelo contrário, constituem-lhe a base. 
Pode acontecer, é verdade, que sobre esta base nada se erga. Pode haver relações sociais que apenas comportem essa regulamentação difusa que provém dos costumes, mas é porque carecem de importância e continuidade, exceto, bem entendido, nos casos anormais que acabamos de tratar. 
Assim, se pode acontecer que haja tipos de solidariedade social que só os costumes manifestam, são certamente muito secundários; pelo contrário, o direito reproduz todos aqueles que são essenciais e esses são os únicos que temos necessidade de conhecer.
	
Poder-se-á ir mais longe e sustentar que a solidariedade social não se encontra por completo nas suas manifestações sensíveis? Que estas apenas a expressam em parte e imperfeitamente? Que para além do direito e dos costumes existe o estado interior de onde ela deriva e que, para a conhecer verdadeiramente, é preciso atingi-la em si própria e sem intermediários? Mas não podemos conhecer cientificamente as causas senão através dos efeitos que produzem, e, para melhor determinar a sua natureza, a ciência não faz senão escolher de entre esses resultados aqueles que são mais objetivos e que melhor se prestam à medida. 
Ela estuda o calor através das variações de volume que as mudanças de temperatura produzem nos corpos, a eletricidade através dos seus efeitos físico-químicos, a força através do movimento. Por que é que a solidariedade social haveria de ser exceção?
	Aliás, o que é que subsistiria dela uma vez despojada das suas formas sociais? O que dá às suas características específicas é a natureza do grupo de que ela assegura a unidade, é por isso que ela varia consoante os tipos sociais. 
Ela não é a mesma no seio da família e nas sociedades políticas; nós não estamos vinculados à nossa pátria da mesma maneira que o Romano estava à cidade, ou o germano à sua tribo. Mas porque estas diferenças têm que ver com causas sociais, só podemos configurá-las através das diferenças que os efeitos sociais da solidariedade apresentam. 
Assim, se negligenciarmos estas últimas, todas estas variedades se tornam indiscerníveis e já não nos apercebemos senão do que lhes é comum a todas, a saber, a tendência geral à sociabilidade, tendência que é sempre e por todo o lado à mesma, e não está ligada a nenhum tipo social em particular. Mas este resíduo não é senão uma abstração; pois a sociabilidade em si não se encontra em parte alguma. 
O que existe e vive realmente são as formas particulares de solidariedade, a solidariedade doméstica, a solidariedade profissional, a solidariedade nacional, a de ontem, a de hoje etc. 
Cada uma tem a sua própria natureza; por consequência, estas generalidades não poderiam em qualquer caso dar do fenômeno senão uma explicação bem incompleta, pois deixam necessariamente escapar aquilo que têm de concreto e de vivo.	
	O estudo da solidariedade releva assim da Sociologia. É um fato social que não se pode conhecer bem a não ser por intermédio dos seus efeitos sociais. Se tantos moralistas e psicólogos puderam tratar da questão sem seguir este método, foi porque tornaram a dificuldade. 
Eliminaram do fenômeno tudo o que ele tem de mais especificamente social para apenas reterem o núcleo psicológico de que ele é o desenvolvimento. Com efeito, é certo que a solidariedade, sendo em primeiro lugar um fato social, depende do nosso organismo individual. 
Para que ela possa existir, é preciso que a nossa constituição física e psíquica a comporte. Em rigor, podemos, pois, contentar em estudá-la sob este aspecto. Mas, neste caso, ela não se vê senão a parte mais indistinta e menos específica; não se trata dela propriamente, mas antes do que a torna possível.
	Mesmo este estudo abstrato não poderia ser muito fecundo em resultados. Porque enquanto permanece no estado de simples predisposição da nossa natureza psíquica, a solidariedade é qualquer coisa de demasiado indefinido para que se possa facilmente atingi-la. É uma virtualidade intangível que não se abre àobservação. 
Para que tome uma forma perceptível, é preciso que algumas consequências sociais a traduzam no exterior. Além disso, mesmo nesse estado de indeterminação, ela depende de condições sociais que a explicam e de que, consequentemente, ela não pode ser desligada. É por isso que não é raro que nestas análises de pura psicologia se encontrem misturados alguns pontos de vista sociológicos. 
Por exemplo, dizem-se algumas palavras sobre a influência do estado gregário na formação do sentimento social em geral; ou então se indicam rapidamente as principais relações sociais de que a solidariedade depende de maneira mais aparente. 
Certamente que estas considerações complementares, introduzidas sem elucidar grandemente a natureza social da solidariedade. Elas demonstram, pelo menos, que o ponto de vista sociológico se impõe mesmo aos psicólogos.
	
O nosso método está assim completamente traçado. Já que o direito reproduz as formas principais da solidariedade social, não temos mais do que classificar as diferentes espécies de direito para procurar em seguida quais são as diferentes espécies de solidariedade social que lhes correspondem. 
Desde já, é provável que haja uma que simbolize essa solidariedade especial de que a divisão do trabalho é a causa. Feito isto, para medir a importância desta última bastará comparar o número de normas jurídicas que a exprimem ao volume total do direito.
Para este trabalho, não nos podemos servir das distinções comuns dos jurisconsultos. Criadas pela prática, podem ser muito cômodas desse ponto de vista, mas a ciência não pode contentar-se com estas classificações empíricas e aproximadas. 
A mais divulgada é a que divide o direito em direito público e em direito privado; o primeiro é suposto regular as relações entre o indivíduo e o Estado, o segundo as relações dos indivíduos entre si. 
Mas quando se trata de analisar os termos com mais minúcia, a linha de demarcação, que parecia tão nítida à primeira vista, esbate-se. 
Todo o direito é privado no sentido em que são sempre e por todo o lado os indivíduos que se encontram em presença e que agem; mas principalmente todo o direito é público, no sentido em que ele é uma função social e que todos os indivíduos são, embora a diversos títulos, funcionários da sociedade. 
As funções maritais, paternais etc., não são delimitadas nem organizadas de maneira diferente das funções ministeriais e legislativas e não foi sem razão que o direito romano qualificou a tutela de munus publicum. O que é então o Estado? Onde começa e onde acaba? Sabe-se quanto é controversa a questão; não é científico fazer assentar uma classificação fundamental numa noção tão obscura e mal analisada.
	Para proceder metodicamente é preciso encontrar alguma característica que sendo essencial aos fenômenos jurídicos, seja susceptível de variar quando eles variam. Ora, todo o preceito de direito pode ser definido: uma regra de conduta sancionada. 
Por outro lado, é evidente que as sanções mudam conforme a gravidade atribuída aos preceitos, o lugar que ocupam na consciência pública, o papel que desempenham na sociedade. É conveniente assim classificar as normas jurídicas segundo as diferentes sanções que lhes estão adstritas.
	
Trata-se de duas espécies. Umas consistem essencialmente numa pena, ou, pelo menos, numa limitação infligida ao agente; têm por objeto atingi-lo no seu pecúlio, ou na sua honra, ou na sua vida, ou na sua liberdade, priva-lo de qualquer coisa de que goze. Diz-se que são repressivas; é o caso do direito penal. 
É verdade que aquelas que estão adstritas às normas puramente morais têm o mesmo caráter: apenas estão distribuídas de uma maneira difusa por toda a gente indistintamente, enquanto que as do direito penal não são aplicadas senão por intermédio de um órgão definido; estão organizadas. 
Quanto à outra espécie, ela não implica necessariamente um sofrimento do agente, mas consiste somente na reposição das coisas, no restabelecimento das relações atingidas na sua forma normal, que o ato incriminado seja reconduzido pela força à forma de que se desviou, quer seja anulado, isto é, privado de qualquer valor social. 
Deve-se, portanto, repartir em dois grandes tipos as normas jurídicas, consoante sejam sanções repressivas organizadas ou sanções apenas restritivas. A primeira compreende todo o direito penal; a segunda, o direito civil, o direito comercial, o direito processual, o direito administrativo e constitucional, abstração feita das normas penais que aí se podem encontrar.
	Procuremos agora a que espécie de solidariedade social corresponde cada um destes tipos.
	Há, sem dúvida, crime de espécies diferentes; mas entre todas essas espécies há, não menos seguramente, qualquer coisa em comum. O que o prova, é que a reação que determinam parte da sociedade, ou seja, a pena, é, salvo diferenças de grau, sempre e por todo o lado a mesma. 
A unidade do efeito revela a unidade da causa. Não apenas entre todos os crimes previstos pela legislação de uma só e mesma sociedade, mas entre todos aqueles que foram ou que são reconhecidos e punidos nos diferentes tipos sociais, existem seguramente semelhanças essenciais. 
Por mais diferentes que à primeira vista pareçam os atos assim qualificados, é impossível que não tenham qualquer fundo comum. Pois afetam por todo o lado da mesma maneira a consciência moral das nações e por todo o lado produzem as mesmas consequências. 
Todos eles constituem crimes, isto é, atos reprimidos através de castigos definidos. Ora, as propriedades essenciais de uma coisa são as que se observam por todo o lado onde essa coisa existe e que apenas pertencem a ela.
	
Resulta deste capítulo que existe uma solidariedade social que provém do fato de um certo número de estados de consciência serem comuns a todos os membros da mesma sociedade. É essa solidariedade que o direito repressivo configura materialmente, pelo menos no que tem de essencial. 
A parte que tem na integração geral da sociedade depende evidentemente da amplitude maior ou menor da vida social que a consciência comum abarca e regulamenta. 
Quanto mais relações diversas houver em que esta última faz sentir a sua ação, mais também ela cria laços que prendem o indivíduo ao grupo; consequentemente, mais a coesão social deriva completamente desta coisa e dela traz a marca. 
Mas, por outro lado, o número destas relações é ele próprio proporcional ao das normas repressivas; determinando qual a fração do aparelho jurídico que representa o direito penal, medimos, portanto simultaneamente a importância relativa desta solidariedade. 
É verdade que ao procedermos dessa maneira não levamos em conta certos elementos da consciência coletiva que, em virtude da sua menor energia, ou da sua indeterminação, permanecem estranhos ao direito repressivo, contribuindo sempre para assegurar a harmonia social; são aqueles que são protegidos por penas simplesmente difusas. 
Mas o mesmo se passa com as outras partes do direito. Não há nenhuma delas que não seja completada pelos costumes, e como não há razão para supor que a relação entre o direito e os costumes não seja a mesma nessas diferentes esferas, esta eliminação não corre o risco de alterar os resultados da nossa comparação.
Conclusão
	A própria natureza da sanção restitutiva basta para mostrar que a solidariedade social, à qual corresponde este direito, é de uma espécie completamente diferente.
	O que distingue esta sanção é que ela não é expiatória, mas reduz-se a uma simples reposição das coisas. Um sofrimento proporcional ao dano não é infligido àquele que violou o direito, ou que o desconhece; este é simplesmente condenado a submeter-se-lhe. Se houver já fatos consumados, o juiz repõe-os tal como deveriam ser. 
Ele dita o direito, não dita penas. As perdas e danos não têm caráter penal; é apenas um meio de voltar ao passado para o restituir tanto quanto possível à sua forma normal.
	Mas, se bem que estas normas estejam mais ou menos fora da consciência coletiva, elas não dizem respeito somente aosparticulares. Se assim fosse, o direito restitutivo não teria nada em comum com a solidariedade social, porque as relações que ele regula ligariam os indivíduos uns aos outros sem os vincular à sociedade. 
Seriam simples acontecimentos da vida privada como, por exemplo, as relações de amizade. Mas estamos longe de que a sociedade esteja ausente desta esfera da vida jurídica. É verdade que, em geral, ela não intervém por si própria e pelo seu próprio movimento; é preciso que seja solicitada pelos interessados. 
Mas, sendo provocada, a sua intervenção nem por isso é menos a engrenagem essencial do mecanismo, pois ela o faz funcionar. É ela que dita o direito por intermédio dos seus representantes.
	
Já que as normas de sanção restitutiva são estranhas à consciência comum, as relações que determinam não são das que indistintamente atingem toda a gente; quer dizer que estas se estabelecem imediatamente, não entre o indivíduo e a sociedade, mas entre partes restritas e especiais da sociedade, que ligam entre si. 
Mas, por outro lado, uma vez que esta não está ausente, é preciso que ela esteja mais ou menos diretamente interessada, que lhe sinta as incidências. Então, consoante a vivacidade com a qual as sente, intervirá mais ou menos prontamente a representar. 
Estas relações são assim bem diferentes daquelas que o direito repressivo regula, pois estas ligam diretamente, e sem intermediários, a consciência particular à consciência coletiva, quer dizer, o indivíduo à sociedade.
	Mas estas relações podem tomar duas formas muito diferentes: umas vezes são negativas e reduzem-se a uma pura omissão; outras são positivas ou de cooperação. Às duas classes de normas que determinam umas e outras, correspondem duas espécies de solidariedade social que é necessário distinguir.	
Bibliografia:
DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

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