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1 Behaviorismo REFLEXÕES INICIAIS (HISTÓRICO, OBJETO DE ESTUDO, PRECURSORES) A partir do século XX inicia-se um movimento, na área da psicologia, em prol de uma ciência que desse conta do comportamento humano a partir daquilo que se observa no próprio sujeito. Este movimento, contrário à psicologia introspectiva, surge da falta de consenso, entre os próprios psicólogos acerca da introspecção (SCHULTZ, SCHULTZ, 2006). É desse movimento que surge o behaviorismo. De acordo com Nogueira e Leal (2015, p. 64): [...] behaviorismo significa, de forma ampla, as teorias do comportamento que se inserem dentro da psicologia. Ou, como descreve Dicionário de Psicologia da American Psychological Association, é a abordagem, formulada em 1913 por John B. Watson, baseada no estudo de fatos objetivos, observáveis e não em processos subjetivos, qualitativos, tais como sentimentos, motivos e consciência. Um primeiro fato decorrente da definição dada acima é que o behaviorismo procura compreender o homem a partir daquilo que se observa. Diferentemente, por exemplo, da teoria psicanalítica, na qual consciente e inconsciente são as bases para a compreensão humana, o que se pretende nessa nova teoria é a compreensão por aquilo que é palpável, quantitativo e que pode servir de fundamento na explicação dos comportamentos humano. As bases do behaviorismo podem ser descritas a partir de três elementos chaves (NOGUEIRA; LEAL, 2015): • a tradição filosófica objetivista e mecanicista; • a psicologia animal; • a psicologia funcional. A tradição filosófica objetivista e mecanicista aparece como base do behaviorismo ao pretender compreender o homem a partir palpável, audível e visível. Esta tradição acreditava que o comportamento humano pudesse seguir padrões mecânicos e objetivos, enxergando, muitas vezes, o homem como uma máquina. Esta tradição pode ser observada, por exemplo, na Pedagogia Tradicional: o professor aprende uma série de técnicas de ensino e é a partir delas que ensina. Assim, ser professor compete na aprendizagem de técnicas de ensino. Se o aluno não aprende, por exemplo, a culpa não é do professor, já que seus métodos e técnicas são eficientes. Não nos cabe aqui fazer uma análise deste método e nem das discussões em prol e contra sua execução em sala de aula. O que ressaltamos é que ele é fruto da tradição filosófica apresentada acima. Assim, quando o descontentamento com a psicologia introspectiva surge, as ideias objetivas e mecanicistas que possibilitam a medição e a elaboração de técnicas na modificação do comportamento humano, emergem como uma saída possível na contribuição para o desenvolvimento da ciência psicológica. O segundo elemento base da psicologia behaviorista é a psicologia animal. Nessa época, meados do século XX, diversos 2 pesquisadores, em seus laboratórios, registravam inúmeras pesquisas com animais, ressaltando o êxito nas mesmas. O que pretendiam, de acordo com Schultz e Schultz (2006, p. 229) era “[...] demonstrar a existência da mente nos organismos inferiores e a continuidade entre a mente animal e humana”. Um dos pesquisadores mais influentes nessa época foi Ivan Petrovitch Pavlov (1849-1936). Em sua pesquisa Pavlov pretendeu demonstrar que os estímulos poderiam condicionar o comportamento animal. Inicialmente ele deixou um cão e uma tigela de alimento em sua frente. Acendia-se a luz. Imediatamente era apresentado o estímulo incondicionado: a comida. Após determinado número de pareamento da luz acesa e da comida, o cachorro passava a salivar com a simples visão da luz, formando-se, assim, uma associação entre a luz e a comida. O animal, consequentemente, era condicionado a responder mediante a apresentação do estímulo condicionado. Vale lembrar que, para que esse condicionamento ou essa aprendizagem ocorra, é necessário o REFORÇO, ou seja, aquilo que aumenta a probabilidade de uma resposta: nesse caso, receber a comida (NOGUEIRA, LEAL, 2015, p. 68). As figuras abaixo demonstram os experimentos realizados por Pavlov. Na primeira etapa, o alimento, estímulo não condicionado, aparece ao cão, que saliva ao observar o alimento. No segundo momento, retira-se o alimento e liga-se a luz, mas não se obtém a salivação que se espera do cão. No terceiro momento, ao acender a luz o cão vê a comida e novamente saliva. Por fim, somente ao acender a luz o cão já saliva, esperando o alimento. As repetições são feitas inúmeras vezes até que se chegue ao condicionamento esperado que é a salivação como resposta condicionada. 3 Figura 1 - Experimento realizado por Pavlov. Fonte: Nogueira e Leal (2015, p. 68). A psicologia animal não tem somente em Pavlov seu único expoente. Edward Lee Thorndike (1874-1949) também desenvolveu diversas pesquisas com animais, a fim de estudar a inteligência e a aprendizagem nos animais. De acordo com Schultz e Schultz (2006, p. 251) as pesquisas de Watson “[...] fez das descobertas e das técnicas de psicologia animal a base para uma ciência aplicável igualmente aos animais e aos seres humanos.” O último elemento fundamental ao behaviorismo, a psicologia funcional, objetivava dar à psicologia o caráter de ciência do comportamento e não do estudo da consciência, como estava posto até então. Esta ideia, de que a psicologia deveria ser vista como ciência do comportamento humano, começou a ganhar novos adeptos a partir dos avanços realizados nos estudos de psicologia animal. Schultz e Schulz (2006) afirmam que estas ideias correspondiam a exigência da época e retratavam os anseios da sociedade. Se pensarmos no contexto histórico vivido no início do Século XX, principalmente nos países ocidentais, perceberemos que o avanço da industrialização foi um dos efeitos propulsores no desenvolvimento das sociedades. Para uma nova sociedade pretendem-se novos comportamentos e atitudes. O estudo do comportamento humano de modo palpável e técnico parecia assim, corresponder com os anseios da época. A TEORIA DE SKINNER Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) é considerado um dos psicólogos mais influentes no mundo (NOGUEIRA, LEAL, 2015). Skinner parte das ideias propostas por John Broadus Watson (1878-1958), mas difere-se significativamente desse psicólogo estadunidense. Watson tem sido considerado o fundador do behaviorismo e da psicologia estímulo-resposta. Diferentemente de seu precursor, Skinner contribui de maneira significativa com seus estudos sobre o behaviorismo ao pensar o homem como construção social e como operante no meio em que atua, ou seja, Skinner, ao contrário de Watson, pressupõe que o homem atua sobre o meio em que vive e não somente responde a seus estímulos. É preciso esclarecer, inicialmente que Skinner é de todo modo muitas vezes incompreendido em sua teoria. Por iniciar suas pesquisas com ratos e por analogia, aplicar os resultados de suas pesquisas ao comportamento humano, acabou incompreendido. Skinner acredita no potencial humano, no poder humano de atuação sobre o ambiente em que vive. Partindo desses pressupostos, Schultz e Schultz citando Skinner, afirmam sobre seu método: Nunca ataquei um problema construindo uma hipótese. Jamais deduzi teoremas, nem os subestimei a verificação experimental. Até onde consigo enxergar, não tenho um modelo preconcebido de comportamento e certa mente, nem fisiológico nem mentalista e creio, nem conceitual (SCHULTZ, SCHULTZ, 2006, p. 264). 4 Pelo exposto acima, percebemos que o método de trabalho de Skinner, diferenciava-se do que era usual à época. Diferente dos trabalhosde Pavlov acerca do condicionamento respondente, Skinner abordou o conceito de condicionamento operante. De acordo com o próprio Skinner: No experimento de Pavlov [...] um reforço é associado a um ESTÍMULO, enquanto no comportamento operante é contingente a uma resposta. Dessa forma o reforçamento operando é um processo separado e requer uma análise separada. Em ambos os casos, o fortalecimento do comportamento que resulta do reforço será adequadamente chamado de “condicionamento”. No condicionamento operante “fortalecemos” um operante, no sentido de tornar a resposta mais provável ou de fato, mais frequente. No condicionamento pavloviano ou “respondente” o que se faz é aumentar a magnitude da resposta eliciada pelo estímulo condicionado e diminuir o tempo que decorre entre o estímulo e a resposta (SKINNER, 2003, p. 72 apud NOGUEIRA, LEAL, 2015, p. 82). Outra diferença nos tipos de condicionamentos propostos por Pavlov e Skinner é que no primeiro, como o próprio nome enuncia o condicionamento respondente, o animal apenas respondia a um estímulo. O cão, no caso de Pavlov, salivava, respondendo aos estímulos propostos. No caso dos experimentos de Skinner, os animais atuavam sobre o meio. Assim, o condicionamento operante, proposto por Skinner permitia ao animal atuar sobre o ambiente no qual estava inserido. Um dos experimentos mais famosos de Skinner consiste em deixar um rato em uma caixa. Ao pressionar uma barra dentro da caixa, o rato recebia o alimento. Assim, sempre que pressionava a barra, recebia o alimento. Com este experimento, Skinner pode demonstrar que diferentemente da psicologia introspectiva, as causas do comportamento humano estão fora do sujeito e resultam de condições específicas (PILETTI; ROSSATO, 2012). Isso possibilitou um novo olhar sobre a compreensão do comportamento humano e influenciou diversas áreas de estudo, como a área da educação, da administração, da medicina, entre outras. Figura 2 - Experimento realizado por Skinner Fonte: Nogueira e Leal (2015, p. 84). Outro conceito fundamental elaborado por Skinner a partir de suas experimentações sé o conceito de reforço. Segundo Barros (2007, p. 64) o reforço é compreendido como “[...] o evento que torna uma reação mais frequente, que aumentam a probabilidade de sua ocorrência”. No caso do experimento com ratos, o reforço são os alimentos que o animal recebe ao pressionar a barra. Deste modo, o reforço aparece descaracterizado de qualquer conotação subjetiva ou mentalística, ou seja, “não está afirmando que a recompensa traz sentimento de satisfação ao aprendiz. Reforço, como todos os conceitos de Skinner, é definido estritamente em termos operacionais, ou seja, como ele é 5 observado ou medido” (BARROS, 2007, p. 64). Barros afirma ainda que o “o papel do reforço é tornar frequente uma resposta no comportamento do indivíduo, garantir a manutenção dessa resposta, ou, em outras palavras, evitar a extinção da resposta” (BARROS, 2007, p. 65). Assim, podemos considerar a existência de dois termos opostos com relação a resposta gerada pelo reforço: a extinção e a manutenção. A extinção refere-se ao fim de uma resposta do comportamento do sujeito observado. Por exemplo, no caso do rato, se repetidas vezes ele tocar a barra e não obtiver alimento, esse comportamento será extinto de suas ações. Por outro lado, se todas as vezes que o rato tocar a barra, obtiver alimento, este comportamento será mantido. É o caso da manutenção da resposta. Estes comportamentos podem ser observados em nosso cotidiano: se ao tentarmos, por exemplo, contato com alguém e por diversas vezes não obtivermos uma resposta, cederemos às tentativas. Caso contrário, se quando tentarmos contato, formos recebidos, este comportamento tenderá a ser mantido. RELAÇÃO ENSINO E APRENDIZAGEM E A TEORIA DE SKINNER O behaviorismo deriva da palavra inglesa behavior que significa comportamento. Nesse sentido, o behaviorismo pode ser compreendido como a teoria, no campo da psicologia que estuda o comportamento humano, a partir de dados palpáveis. Assim, as ideias de inconsciente ou as ideias advindas das teorias introspectivas são deixadas de lado para que o homem seja compreendido por aquilo que se observa em suas ações. Skinner ao realizar em seus estudos experimentos com animais tinha como objetivo compreender como as ações humanas poderiam ser compreendidas. Ora, se conseguirmos compreender como as mesmas são realizadas, poderemos modificá-las. A aprendizagem aparece então como uma ação de extrema importância, já que podemos aprender novos comportamentos e modificar nossas ações, em vista de uma ação considerada satisfatória. Por exemplo: de acordo com Barros (2007, p. 66) “o industrial que deseja que seus empregados trabalhem com eficiência precisa providenciar para que o comportamento desses esteja sendo reforçado convenientemente, não somente com salários, mas também com adequadas condições de trabalho”. Segundo Nogueira e Leal (2015, p. 86), “para Skinner educar é estabelecer comportamentos que serão vantajosos para o indivíduo em um tempo futuro; isso porque a educação dá ênfase à aquisição do comportamento em lugar de sua manutenção.” Sob esta perspectiva o processo de aprendizagem torna-se um mecanismo a partir do qual se geram comportamentos desejáveis. É educação é vista então como um processo intencional. Sob esta perspectiva, afirma Piletti e Rossato (2012, p. 23): [...] a educação trabalha muito mais com a aquisição de novos comportamentos do que com a manutenção e, nessa perspectiva, prepara seus alunos para situações futuras, que provavelmente irão ocorrer em determinadas circunstâncias, que já não estarão vinculadas ao âmbito escolar. E determinando ou não a manutenção de tal comportamento, o qual é definido pela sua “utilidade” para a família, para 6 a sociedade. Os objetivos educacionais, ao serem definidos antecipadamente, devem buscar a possibilidade de projetar a modelagem de um adulto. Nesse sentido, a relação entre ensino e aprendizagem na teoria proposta por Skinner é fundamental e necessária, já que é por meio do processo educacional que se podem modelar os comportamentos que se esperam dos sujeitos. A cultura de cada ambiente é deste modo, propulsora dos comportamentos que se esperam. Note- se que nas mais diversas culturas os comportamentos esperados dos sujeitos são distintas entre si. Pensemos por exemplo, nas culturas orientais, ou mesmo nas culturas mais antigas, como era o caso especifica do momento vivido por Skinner. Em cada um destes casos, espera-se que o indivíduo aja de forma a responder satisfatoriamente à sua vida em sociedade. Por isso, a educação e a cultura mantém relação estreita na concepção de Skinner. Das formulações postas acima, cabe ressaltar um fator importante na relação entre o ensino e a aprendizagem: para Skinner a aprendizagem não ocorre de modo espontâneo ou natural. De acordo com Barros (2007), Skinner formulou um método conhecido como instrução programada ou aprendizagem programada. É um método de ensino individual que leva o aluno a estudar, sem a intervenção direta do professor. Apresenta-se sob a forma de textos especiais (livros, apostilas) ou ainda, de “máquinas de ensinar”. As características desse método são: apresenta-se a matéria a ser aprendida em pequenas partes, seguidas de uma atividade cujo acerto ou erro é imediatamente verificado, e nisto consiste o reforço. O estudo é individual e o aluno progride em sua própria velocidade (BARROS, 2007, p. 67). As máquinas de ensinar são aparelhos programados paraauxiliar no processo de aprendizagem. Um sinal indicativo é dado sempre que o aprendiz acerta a pergunta feita por este aparelho. De acordo com Piletti e Rossato (2012) as máquinas de ensinar possibilitam ao aluno autonomia em seus estudos, respeitando o ritmo de cada aluno. Na instrução programada, especificamente aplicada em escolas, o ensino é organizado de forma individual e programado de acordo com os avanços e necessidades dos alunos. Por isso o behaviorismo acredita que há como modelarmos o comportamento que desejamos em nossos alunos e como extensão, em nossa sociedade. Isso deriva do fato que se organizada de forma correta a aprendizagem, com os reforços adequados e positivos. Desse modo, existe uma interação do sujeito com o meio em que aprende e com o que aprende. O reforço positivo é amplamente defendido por Skinner o qual rejeita todo tipo de punição. A TEORIA DE WATSON John Broadus Watson (1878-1958) é considerado o fundador do behaviorismo (BARROS, 2007). Opondo à psicologia introspectiva, vigente em sua época, Watson acreditava que o meio ambiente vivido pelos sujeitos eram fundamentais na moldagem de seus comportamentos. Dessa forma, opunha-se a perspectiva biológica proposta pela hereditariedade, de onde derivam as ideias de que a hereditariedade era fundamental na compreensão do comportamento humano. Watson acreditava que o ambiente era quem determinava o sujeito e não sua herança genética. 7 De acordo com Schultz e Schultz (2006, p. 268) “[...] o behaviorismo de Watson foi uma tentativa de construir uma ciência livre de noções e métodos subjetivos, ou seja, uma ciência tão objetiva quanto à física”. Em seus experimentos, principalmente com o bebê Albert, Watson demonstrou que nossas ações são todas aprendidas e que mesmo aquilo que denominamos como instinto, é na verdade comportamento aprendido. Por exemplo, no caso da experiência com Albert, Watson quis provar que o medo, ao contrário do que acreditam os pesquisadores geneticistas, de que o medo era instintivo, Watson demonstra que ele é aprendido. FATOS E DADOS: O principal estudo de Watson acerca do comportamento humano foi sua experiência com o bebê Albert, de 11 meses. O objetivo do experimento era condicionar Albert a ter medo de um rato branco, do qual não tinha medo anteriormente, submetendo-o ao condicionamento. Para estabelecer a relação de medo, provocava-se um enorme barulho atrás da cabeça de Albert sempre que o rato era mostrado. Em pouco tempo, a simples visualização do rato já produzia sinais de medo. O medo condicionado acabou generalizando-se a outros estímulos similares: um coelho, a pele branca de um animal ou a barba branca do Papai Noel. Isso levou Watson a afirmar, dessa forma, que todos os medos, aversões e ansiedades do adulto eram condicionados no início da infância e não, como sugere Freud, resultado de conflitos inconscientes. No livro Psychological Care of the Infant and Child (1928), Watson descreve um sistema de educação infantil regulador e não permissivo, para preparar adultos equilibrados para a sociedade. o livro em questão transformou a prática americana de educação infantil, e muitas crianças foram educadas seguindo as orientações behavioristas. Fonte: Nogueira e Leal (2015, p. 72). Watson desenvolveu a teoria conhecida como Estímulo-Resposta (E-R) conforme figura 3. Esta teoria propunha que a todo estímulo, há uma resposta. Estímulo pode ser compreendido como “[...] qualquer modificação do ambiente que provoque a atividade do organismo. Assim, a luz é um estímulo aos olhos, o som ao ouvido” (BARROS, 2007, p. 52). Já a resposta ou reação, pode ser compreendida como “[...] qualquer alteração do organismo (movimentos musculares ou secreções glandulares), eliciada por um estímulo” (idem). Figura 3 - Estímulo-Resposta (E-R) Fonte: elaborado pela autora. Essa teoria propõe que os estímulos devem ser organizados a fim de alcançar as respostas esperadas. Sua teoria ganhou em pouco tempo enorme visibilidade, pela crença na ideia da modelagem. Assim, pais e educadores poderiam propor estímulos específicos a fim de moldar o comportamento infantil. Neste sentido, a aprendizagem é compreendida por Watson como a modificação do comportamento. Assim, quando aprendemos algo novo significa que modificamos nosso comportamento, ou seja, condicionamos o mesmo. Nesse sentido, toda a aprendizagem pode ser condicionada. 8 Afirma Watson: Deem-me uma dúzia de crianças sadias e bem formadas e o mundo por mim especificado dentro do qual cria-las, e garanto que tomarei uma delas ao acaso e treiná-la-ei pra que se torne um especialista de qualquer tipo que eu escolha: médico, advogado, artista, comerciante, bem como mendigo, ou ladrão, quaisquer que sejam seus talentos, tendências, capacidade, vocação, ou a raça de seus ancestrais (NOGUEIRA; LEAL, 2015, p. 72). O fundamental nesta teoria é que nossas capacidades individuais são tolhidas em prol da ideia do condicionamento de nossas ações. Assim, diferentemente das psicologias que reiteram a importância de fatores hereditários e ou biológicos em nosso comportamento, Watson afastar-se destas explicações ao acreditar que pode moldar toda e qualquer criança a partir de estímulos pré-organizados, em prol das respostas que objetiva. A SALA DE AULA SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA BEHAVIORISTA A teoria behaviorista teve e ainda mantém grande influência nas escolas, em todo o mundo. Um exemplo típico da permanência desta teoria nas salas de aula ainda hoje é o elogio ao receber uma boa nota e a punição ao receber uma nota ruim – ainda que esta punição não tenha haver com castigos físicos, pode-se percebê-la na retenção do aluno. O aluno que recebe um elogio na execução de uma atividade bem realizada, por exemplo, sente-se motivado e esforça-se mais nas próximas execuções. Ao contrário, o aluno que recebe uma crítica na realização de sua tarefa, desmotiva-se a realizá-la de modo satisfatório. De acordo com Piletti e Rossato (2012, p. 24): [...] deve-se analisar o comportamento do aluno a fim de verificar suas necessidades de aprendizagem, bem como o repertório (de comportamentos e aprendizagens) que ele traz para as situações de ensino e ainda as consequências capazes de interagir com ele e manter seu comportamento e, assim, estabelecer quais são os estímulos capazes de reforçar o comportamento desejável de seus alunos. O professor teria como tarefa descrever o repertório de seus alunos e, com isso, planejar o que seria necessário para que estes atinjam o que se queira que eles alcancem. A citação acima ressalta a importância do professor no planejamento das ações discentes, programando os objetivos que eles serão estimulados a alcançar, pela modificação de seus comportamentos. Segundo Sprinthall e Sprinthall (1977, p. 280 apud BARROS, 2007) os professores precisam conhecer o processo de condicionamento. Por exemplo, os alunos podem ser condicionados a não gostarem de matemática ou outra disciplina. Se um professor, ao ensinar um determinado conteúdo, expõe o aluno, deixando-o tenso ou ainda sentindo-se incapaz de realizar uma atividade relacionado ao conteúdo, o comportamento do aluno pode ser condicionado negativamente à esta disciplina, não por que não goste da mesma, mas por que os estímulos relacionados à ela, foram negativos. Da forma, quando os estímulos são positivos e incentivam o aluno a avançar em seus conhecimentos, seu comportamento pode ser condicionado positivamente 9 com relação a aprendizagem específica desta disciplina. Diante disso, percebemos que o reforço positivo éfundamental para a aprendizagem do aluno. Nesse sentido, a figura do professor, central no processo de aprendizagem do aluno, precisa ser revista. Um professor que causa medo em seus alunos, não os estimula a aprender e consequentemente todo o processo de ensino e aprendizagem, assim como de avaliação ficam comprometidos. Suor, calafrio, tensão nervosa e tremores são muitas vezes comuns diante das avaliações discentes. Essas características do comportamento dos alunos interferem no processo de avaliação e da verificação de sua aprendizagem. Segundo Skinner, o controle aversivo, a punição e o castigo não colaboram para o processo de aprendizagem, pelo contrário, impossibilitam que o mesmo ocorra. O que vemos muitas vezes, em sala de aula, são professores que mantém o domínio da sala a partir de meios e recursos aversivos, como a fala alta, a intimidação e o uso das hierarquias (diretoras e pedagogas) como recursos organizadores da sala de aula. Diante disso, a sala de aula e sua organização, assim como o planejamento escolar, de acordo com a perspectiva behaviorista mantém uma relação diferente da que usualmente temos vivenciado em nossas escolas. Segundo Skinner (PILETTI, ROSSATO, 2012) um comportamento pode ser eliminado quando não é reforçado. Nesse sentido, em uma sala de aula onde determinados alunos perturbam a aula, com risos ou ações inadequadas e por isso, chamam atenção do professor e dos colegas de sala frequentemente, são comportamentos que podem ser eliminados caso não sejam estimulados. Ou seja, chamar atenção toda vez parece reforçar um comportamento inadequado. Uma solução, de acordo com a teoria behaviorista seria elogiar o aluno quando ele faz algo interessante, como por exemplo, ter uma ação solidária, fazer um comentário pertinente, comportar-se de modo adequado. Essa ações reforçariam positivamente seu comportamento. Ressalta Piletti e Rossato (2012, p. 30): No contexto da sala de aula, o professor deve lembrar que sua aprovação ou feição funciona como reforçador e que pode se utilizar de materiais e outros recursos que atraiam os alunos, tornando a aula mais interessante, como quebra-cabeças, brinquedos, jogos pedagógicos, livros de literatura, música, filmes. Estas atividades diferenciadas podem ajudar a manter o aluno trabalhando e ser utilizadas pelos educadores como reforçadores, quando da apresentação de comportamentos adequados. Lembremo-nos de que para Skinner a cultura e a história são aspectos essenciais na formação do sujeito. Nesse sentido, conhecer a cultura na qual o sujeito/aluno se integra, e sua história de vida, são fatores essenciais para que a aprendizagem se realize de forma satisfatória.
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