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TEORIAS DO DISCURSO Aula 7 – A Teoria dos Atos de Fala e seus desdobramentos Conteúdo Programático desta aula - Conhecer os atos de fala propostos por John Searle. - Teoria Interacionista. - Teoria das faces. - Máximas de Grice. - Noção de implicatura proposta por Grice. A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Searle e sua visão dos atos de fala Atos assertivos. Há um compromisso por parte de quem fala. (Wilson: 2010,94). Exemplo. “O boomerangue é o ícone do consumo responsável.” Atos diretivos. Há tentativas de levarmos as pessoas a fazerem o que queremos e são conselhos, convites, sugestões etc. (grifo da autora). Exemplo. “Se beber, não dirija. Volte de táxi ou com o amigo da vez.” Atos expressivos. Temos a expressão de sentimentos e atitudes como agradecimentos, desculpas etc. Exemplo. “É de cortar o coração saber que tantas mães não têm notícias de seus filhos, que desapareceram por várias razões, algumas desconhecidas. (trecho de carta)” A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Atos comissivos. O objetivo desse ato é produzir uma mudança através do que é dito. “A cultura toma o poder. Neste domingo, o caderno B estará nas mãos de um novo editor.” (grifos da autora) Atos declarativos. Relacionam-se a situações extralinguísticas “[...] baseadas em instituições ocupadas por falantes e ouvintes.” São atos como o de batizar alguém, fazer uma sentença judicial etc. . Searle e sua visão dos atos de fala A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Searle: ato ilocutório x ato ilocucional Ato ilocutório ou ato proposicional. Conteúdo comunicado, ou seja, representa ações a serem executadas. (Proposição = aquilo que se propõe; proposta.) Força ilocutória ou ato ilocucional. Ato que se realiza na linguagem e demonstra a diferença entre, por exemplo, uma afirmação e uma pergunta. Assim, enunciados que têm força ilocucional diferente podem exprimir a mesma proposição. Ana comprou um carro. (ato ilocucional de afirmação) Ana comprou um carro? (ato ilocucional de interrogação) Compre um carro, Ana. (ato ilocucional de conselho) Ordeno que você compre um carro, Ana. (ato ilocucional de ordem) A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Segundo Searle, muitas vezes, os falantes utilizam atos de fala indiretos como forma de minimizar a força da ordem etc. A1. (Forma direta) Desculpem-me pelo atraso. A2. (Forma indireta) O trânsito está terrível. B1. Quero um cigarro. (Pedido feito de forma direta) B2. Você tem cigarro? Embora tenhamos uma pergunta sob a ótica tradicional, temos outra possibilidade de análise sob a ótica da pragmática: temos um pedido feito sob a forma de uma interrogação. Searle e os atos de fala indiretos A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Teoria Interacionista A teoria interacionista deriva dos atos de fala indiretos. Lembram-se desse exemplo da aula? Imagine uma situação em que você quer assistir a um filme e alguns amigos de seu filho estão fazendo barulho. Qual seria sua escolha? a) Calem a boca! Quero assistir ao filme. b) Vocês não querem brincar lá fora? Você optou por (a) ou (b)? O que seria menos indelicado e, talvez, mais eficiente? A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Teoria da Polidez Linguística ou Teoria da Faces Lembram-se do vídeo da aula em que temos uma discussão entre João Kleber e Theo Becker ? Eles evitaram conflitos? As pessoas sempre evitam conflitos? A teoria da polidez está relacionada à auto-imagem dos indivíduos, conhecida como ‘processo de elaboração de face’. A teoria da polidez está relacionada à auto-imagem dos indivíduos, conhecida como ‘processo de elaboração de face’. Considera-se que, durante a interação, haja tendência à cooperação. A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Ervin Goffman e a noção de face A face é construída pelo indivíduo. Há um esforço por parte das pessoas em prol da preservação da face e essa busca pela preservação seria condição de interação. Há um esforço por parte das pessoas em prol da preservação da face e essa busca pela preservação seria condição de interação. A elaboração da face é duplamente orientada: - face defensiva: uma prática defensiva, que procura salvar a própria face; face protetora: procura salvar a face do outro por meio do respeito, da polidez, da discrição e da cortesia. Conclusão. a preocupação com a própria face implica a preocupação com a face do outro. A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Os atos de fala indiretos ajudam na ‘polidez linguística’: não se dá uma ordem direta; exprime-se um desejo. Se quisermos pedir algo ameaçamos a face porque invadimos a privacidade do outro. Estratégia: fazer o pedido de forma indireta. Polidez positiva – busca-se produzir e reforçar atos valorizadores da face. Polidez negativa – procura-se evitar e minimizar os atos ameaçadores da face para que o falante não pareça hipócrita ou bajulador. Ervin Goffman e a noção de face A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO George Lakoff e a Teoria da Polidez Não imponha. Regra ligada à polidez positiva. Quando consideramos não impor nossa presença estamos, na verdade, avaliando, a proximidade e o contexto em que nos encontramos. Exemplo. Você precise de uma resposta de alguém hierarquicamente superior para realizar uma tarefa em seu trabalho; já enviou um e-mail expondo seu problema; ainda não obteve resposta. Como você abordaria essa pessoa? (a) Olha aqui! Já mandei um e-mail dizendo que preciso de autorização para fazer essa pesquisa e você não me deu resposta! Depois não reclama! (b) Não quero parecer chata, mas o senhor já teria uma resposta ao meu e-mail. Peço desculpas por incomodar, mas os prazos são apertados. A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO (2) Dê opções. Outra regra ligada à polidez positiva e que baseia no fato de que devemos tentar deixar nosso interlocutor à vontade. Vejamos o exemplo a seguir. “Oi, Maria! Tudo bem? Amanhã, vou ao Rio, como anda sua vida? Será que podemos almoçar? Aguardo ansiosa. Beijos. Ana” Faz-se o convite por meio de uma pergunta, o que faz com que o interlocutor sinta-se à vontade para aceitar o convite ou não. George Lakoff e a Teoria da Polidez A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO (c) Faça “A” sentir-se bem; seja amigável. Diferentemente da regra ‘Não imponha’, temos agora o que Wilson (2010:99) chama de ‘regra da camaradagem’: “[...] grau alto de intimidade, o que leva ao uso de uma linguagem bastante espontânea [...]”. Exemplo. “E aí, Maria! Tudo bem! Ando morta de cansada! Trabalhando pra burro! Depois de tanta confusão, finalmente, vou tirar férias. Posso ir para o Rio ficar com você? Ah, diz que sim, vai... Como sei que você não vai deixar essa sua amiga desamparada, já vou arrumar as malas! Rsrsrsrs Beijos. Ana.” George Lakoff e a Teoria da Polidez A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Brown e Levinson Face = amor-próprio do sujeito. Face positiva – boa imagem que o sujeito tem de si mesmo; necessidade de ser apreciado, reconhecido. Face negativa – necessidade de defender o ‘eu’; busca da privacidade. Atos ameaçadores da face negativa do interlocutor - ‘ordem’, ‘conselho’, ‘ameaça’ são invasões de território. A polidez linguística tem por efeito diminuir os efeitos negativos dos atos ameaçadores. Atos ameaçadores da face positiva do interlocutor – crítica, reprimenda A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Máximas de Grice Máxima da quantidade: o falante deve dar sempre a informação mais forte. Fiorin (2002:177)), no capítulo A linguagem em uso afirma sobreessa máxima que é preciso “que sua contribuição contenha o tanto de informação exigida; que sua contribuição não contenha mais informação do que é exigido.” Se dissermos “O casaco de Ana é azul”, quem nos ouve imagina que o casaco possua uma única cor, ou seja, que o casaco seja inteiramente azul. A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Máximas de Grice Máxima da qualidade (da verdade): o falante deseja que o interlocutor creia em suas palavras mesmo que não sejam verdadeiras. Atenção. Mentir é uma das propriedades da linguagem. A exploração da máxima da qualidade em metáforas, ironias etc. é uma estratégia discursiva bastante utilizada. Exemplo. João é um leão! A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Máxima da relação (da pertinência): rege a coerência da conversação; indica como se encadeiam os assuntos e como se faz para mudar de assunto. Exploração da máxima da relação Duas pessoas conversando: A pessoa 1 diz à pessoa 2: _ A mulher de João o está traindo. (Chega uma 3ª pessoa) _ Onde você comprou essa camisa? (Implicatura: mudemos de assunto) Máximas de Grice A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Máxima da maneira ou do modo: seja claro. Fiorin (2002:177) nos fala a respeito dessa máxima: “ “evite exprimir-se de maneira obscura; evite ser ambíguo; seja breve; fale de maneira ordenada; respeite os turnos de fala.” Exemplo. Essa loja vende roupas boas e baratas. Implicatura: o falante está dizendo que já foi lá. Máximas de Grice A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Máximas de Grice Críticas a Grice: concepção idealista da comunicação humana: a) imagina a troca verbal como um evento harmonioso ignorando litígios, discórdias e oposições presentes em tantos atos de comunicação. b) é normativa já que pretende ditar regras para a comunicação humana. ERRADO: As máximas não são um corpo de princípios a ser seguido e sim uma forma de interpretar os enunciados. Os conflitos não são ignorados por Grice. Ele considera que, para divergir, é preciso que os parceiros da comunicação interpretem adequadamente os enunciados produzidos. A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Grice: implicatura e implicação Implicação só pode ser provocada por uma expressão linguística. Exemplo. Ele continua a fumar. Implicatura pode ser provocada por expressões linguísticas, pelo contexto ou pelo conhecimento prévio do falante. Exemplo. Ele é aluno de Matemática, mas escreve muito bem. A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Grice: implicatura e implicação Implicatura convencional – precisa de elementos linguísticos; embora não precise de elementos contextuais para ser feita, relaciona-se ao conhecimento de mundo do falante. Exemplo. Ele é aluno de Matemática, mas escreve muito bem. Implicatura conversacional – Pode advir da significação da frase, mas o conhecimento prévio do interlocutor somado ao contexto tem que ser obrigatoriamente usado. (Fiorin: 2002: 177) Exemplo. A defesa da tese de Mário correu bem, não o reprovaram. E para terminar ... A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO Resumindo Aula 6: Semântica x Pragmática; Frase x enunciado A Teoria dos Atos de Fala Aula 7: Searle e sua visão dos atos de fala Ato ilocutório e força proposicional Searle e os atos de fala indiretos Teoria Interacionista Teoria da polidez linguística: Ervin Goffman, George Lakoff, Brown e Levinson Máximas de Grice A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS: AULA 7 TEORIAS DO DISCURSO
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