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Dinis Lipato-Consciência

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10
	Dinis de Jesus Nadupali Lipato
Consciência 
Licenciatura em Psicologia Clinica
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA ALBERTO CHIPANDE
Pemba, 2021
Dinis de Jesus Nadupali Lipato
Consciência
Licenciatura em Psicologia Clínica
Trabalho científico a ser entregue na Faculdade de Ciências Políticas e Sociais, no Curso de Psicologia Clínica, 2° Ano, para fins avaliativos, na disciplina de Psicopatologia do ciclo vital I, sob orientada pela:
			
Docente:
Msc. Viaze Maera
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA ALBERTO CHIPANDE
Pemba, 2021
Índice
Introdução	3
Consciência (vigilância)	4
Consciência psicológica	4
Ser consciente como uma qualidade	5
Vigilância	5
Lucidez de consciência	5
Campo da consciência	5
Alterações quantitativasfisiológicas	5
Sono	6
Alterações quantitativas patológicas	6
Rebaixamento do nível deconsciência	6
Obnubilação simples	7
Obnubilação oniroide	7
Coma	7
Alterações qualitativas fisiológicas	8
Sonhos	8
Alterações qualitativas patológicas	8
Estreitamento do campo da consciência	8
A formação da consciência em Vygotski	9
Consciência como função de origem social que regula o contacto com outros indivíduos	10
Consciência e sua relação com sentido e significado	10
Consciência e signo	11
Consciência como mecanismo que filtra o mundo	12
Conclusão	13
Bibliografia	14
Introdução
O presente trabalho versa sobre a consciência, e visa estudar alguns aspectos ligados a mesma. Entretanto este trabalho está organizado de seguinte maneira: introdução (apresentação do tema, objectivos do tema e metodologia utilizada); abordagem do tema e subtítulos no sentido geral (conceitos, abordagem do geral do trabalho); finalmente a conclusão que o estudante tirou em relação ao tema e as referências bibliográficas.
Em nossa vida cotidiana, “talvez nenhum aspecto da mente seja mais familiar ou mais enigmático do que consciência em nossa experiência, consciente do eu e do mundo”, Apesar do nível de expressão da consciência diferenciar o homo sapiens primitivo do contemporâneo nem por isso se estaria a tratar de um fenômeno diferente do actual, mas de um patamar de consciência que aparece como pressuposto e base primordial e indispensável para que o ser humano chegasse a se exprimir de um modo consciente tão “complexo” (e talvez privilegiado) e “sofisticado” como hoje é reconhecido.
Segundo Jaspers, consciência é “o todo momentâneo da vida psíquica”. Em outras palavras, constitui uma síntese ou integração de todos os processos mentais em determinado momento.
O campo (ou amplitude) da consciência refere-se à quantidade de conteúdos que a consciência abarca em determinado momento, e representa a dimensão horizontal da consciência.
 Consciência (vigilância)
A etimologia da palavra “consciência” possui suas raízes na língua latina, cum scientia, que, por sua vez, é uma tradução da palavra grega syneidesis e, se refere ao saber em comum. Ou seja, é um saber que as pessoas em geral podem compartilhar, aprofundar e transmiti-lo aos demais que integram seus grupos de convívio.
Consciência é um estado mental específico, enriquecido por uma sensação do organismo específico no qual a mente actua; e o estado mental inclui o conhecimento que situa essa existência: o conhecimento de que existem objectos e eventos ao redor (Damásio, 2011, p. 197).
Gulik (2014) indica que embora as palavras “cônscio” e “consciência” sejam usadas de forma completamente diferente na atualidade, foi provavelmente a ênfase da reforma Protestante, sobre a noção de “consciência” como uma fonte interna de verdade, que exerceu algum papel na virada para dentro do sujeito assim característico da visão reflexiva moderna do eu. Isso contribuiu amplamente para uma mudança qualitativa no entendimento do significado do fenômeno da consciência, tornando-se um grande passo para a humanidade na dimensão filosófico-científica.
Consciência psicológica
Segundo Jaspers, consciência é “o todo momentâneo da vida psíquica”. Em outras palavras, constitui uma síntese ou integração de todos os processos mentais em determinado momento. As características da consciência psicológica são as seguintes:
· Trata-se de uma vivência interna e actual;
· Está relacionada à distinção eu/não eu;
· É o conhecimento (o dar-se conta) que o indivíduo tem de suas vivências internas, de seu corpo e do mundo externo – podendo ser didaticamente dividida em consciência do eu e consciência dos objectos;
· Segundo a fenomenologia, possui intencionalidade “toda consciência é sempre consciência de algo”, é doadora de significado às coisas;
· É reflexiva, ou seja, o indivíduo tem consciência de que tem consciência, e assim pode refletir sobre os seus conteúdos psíquicos.
Ao falar em “vida psíquica”, Jaspers estivesse referindo apenas aos fenômenos conscientes. Nesse caso, porém, teria cometido uma TAUTOLOGIA, pois sua sentença soaria assim: “A Consciência é o todo consciente”.
Ser consciente como uma qualidade
Talvez a consciência psicológica seja menos uma função psíquica propriamente dita do que uma qualidade subjectiva que os processos mentais – como sensopercepção, memória, imaginação, pensamento, afecto, vontade – podem ter, em oposição à qualidade de ser inconsciente (Alves Garcia, 1942; Bleuler, 1985; Pally & Olds, 1998). Uma visão um pouco diferente seria a de considerar a consciência como uma função mental que constitui o palco onde ocorrem as outras funções mentais (Del Nero, 1997).
Vigilância
Vigilância é um termo criado por Head, em 1923, definido como “uma capacidade fisiológica (do sistema nervoso) que serve de suporte a uma actividade adaptativa, qualquer que seja a modalidade desta”. Trata-se de uma acepção de consciência mais particular, que corresponde ao conceito de activação ou atenção tônica. Refere-se a um estado de consciência, no sentido neurofisiológico. Aqui, estar consciente significa que o indivíduo está vígil, desperto, alerta, com o sensório claro.
Lucidez de consciência
A lucidez constitui um estado de consciência clara, ou de vigilância plena – a consciência teria uma função iluminadora quanto aos conteúdos mentais. Na lucidez, os processos psíquicos são experimentados com suficiente intensidade; os estímulos são adequadamente apreendidos; e os conteúdos mentais possuem nitidez e são claramente delimitados e identificados. Em oposição à lucidez estão o sono e o coma. Entre esses extremos, há diversos níveis de clareza da consciência, o que representa a dimensão vertical da consciência.
Campo da consciência 
O campo (ou amplitude) da consciência refere-se à quantidade de conteúdos que a consciência abarca em determinado momento, e representa a dimensão horizontal da consciência.
Alterações quantitativasfisiológicas 
As alterações quantitativas da consciência (vigilância), que podem ser normais ou patológicas, referem-se à intensidade da clareza das vivências psíquicas. No estado normal, o indivíduo desperto está constantemente apresentando oscilações na intensidade de sua consciência, em geral pequenas. Há certa diminuição no nível de consciência quando o indivíduo está cansado ou sonolento, quando se encontra num estado de relaxamento ou repouso, e quando os estímulos sensoriais externos e internos e os afetos são pouco intensos. Há também uma redução do nível de consciência na transição da vigília para o sono, e vice-versa.
Sono 
O sono pode ser definido como um estado de inconsciência do qual a pessoa pode ser despertada por estímulos sensoriais. O sono profundo (sem sonhos) constitui um estado fisiológico de abolição da consciência.
Alterações quantitativas patológicas 
Alguns autores falam em elevação do nível de consciência (ou hiperlucidez, ou hipervigilância). No entanto, esse é um conceito bastante inadequado. Segundo Alonso-Fernández (1976), a situação de a consciência adquirir características mais intensas que as da consciência normal constitui apenas uma possibilidade teórica, que não tem base empírica. Esse fenômeno ocorreria na intoxicação por alucinógenos (LSD, mescalina etc.) e por anfetamina,na mania, no início da esquizofrenia e em auras epilépticas. Haveria um aumento de intensidade das percepções, do afeto, da atividade, da memória de evocação e da atenção espontânea; todavia, isso se daria com prejuízo na capacidade de concentração e de raciocínio, e na memória de fixação, além de incoerência, desorganização e hipopragmatismo.
Rebaixamento do nível de consciência
 A expressão rebaixamento do nível de consciência refere-se a um nível de consciência entre a lucidez e o coma. Constitui uma perda da clareza da consciência: a percepção do mundo externo torna-se vaga e imprecisa (aumenta o limiar para a captação de estímulos externos), havendo ainda uma dificuldade para a introspecção, para a apreensão do próprio eu. O rebaixamento do nível de consciência está relacionado a um comprometimento difuso, generalizado, do funcionamento cerebral. Sempre possui uma etiologia orgânica. Ocorre um déficit cognitivo global. Estão especialmente afetadas as funções de atenção, orientação alopsíquica, pensamento, inteligência, sensopercepção, memória, afeto e psicomotricidade. Há, entre os diversos autores, uma grande falta de uniformidade quanto à terminologia da classificação dos quadros de rebaixamento da consciência. São empregadas expressões tão diferentes quanto obnubilação, torpor, estupor (que na verdade é alteração da psicomotricidade), estado confusional, confusão mental, estado onírico, estado oniroide, estado confuso-onírico, estado comatoso, amência, entre outras. Uma opção é dividir esses estados em que o nível da consciência está diminuído em: obnubilação simples e obnubilação oniroide.
Obnubilação simples 
 caracteriza-se pela ausência de sintomas psicóticos. O paciente apresenta, além de intensa sonolência, hipoprosexia (diminuição global da atenção), desorientação no tempo e no espaço, pensamento empobrecido e alentecido (às vezes, mutismo), dificuldades de compreensão e de raciocínio, hipoestesia (alteração quantitativa da sensopercepção), hipomnesia de fixação e de evocação (distúrbio da memória), apatia e inibição psicomotora (às vezes, estupor).
Obnubilação oniroide 
 caracteriza-se pela presença de sintomas psicóticos, especialmente ilusões e pseudoalucinações visuais (menos frequentemente, de outras modalidades sensoriais), além de ideias deliroides (muitas vezes, persecutórias). Há ainda dificuldade de concentração (com exacerbação da atenção espontânea), desorientação temporoespacial, desagregação do pensamento, dificuldade de compreensão e de raciocínio, amnésia de fixação e de evocação, exaltação afetiva (muitas vezes, ansiedade), perplexidade e agitação psicomotora. Esse quadro corresponde à amência, termo introduzido por Meynert em 1890. O delirium tremens, um quadro grave de abstinência alcoólica, costuma cursar com obnubilação oniroide. O indivíduo encontra-se agitado e assustado, sem saber onde está e não conseguindo identificar corretamente as pessoas ao seu redor. Com grande frequência, ele vê ou sente sobre sua pele pequenos animais repugnantes – como baratas, aranhas, lagartixas ou ratos –, os quais não estão realmente presentes.
Coma 
O termo coma vem do grego e significa sono profundo. O quadro caracteriza-se por abolição da consciência. Nesse estado, o indivíduo não pode ser despertado nem por estímulos dolorosos muito intensos. Ocorre perda total da motricidade voluntária e da sensibilidade. Embora a vida somática prossiga, não há sinal de atividade psíquica.
Alterações qualitativas fisiológicas 
Sonhos 
São vivências subjetivas que se dão durante o sono. Eles caracterizam-se por: predomínio de imagens visuais (mas pode haver sensações motoras, auditivas etc.); conteúdos bizarros; a falsa crença de que se está acordado; diminuição da capacidade de reflexão; mudanças súbitas quanto a tempo, lugar e pessoas; uma estrutura narrativa; forte colorido emocional; comportamentos instintivos; atenuação da vontade; dificuldade de se lembrar de seu conteúdo após ter despertado (Hobson, 1999).
A consciência no sonho é uma consciência parcial, pois nele observa-se a perda de diversos aspectos encontrados na consciência de vigília, tais como: controle (sobre a ação), coerência, memória de longo prazo, capacidade de crítica e consciência da própria identidade (autoconsciência) (Del Nero, 1997).
Alterações qualitativas patológicas 
Estreitamento do campo da consciência
 A consciência estreitada abarca um conteúdo menor do que o normal e está restrita a determinadas vivências (ideias, afetos, imagens, ações). Outras vivências internas, assim como grande parte dos estímulos externos, tornam-se inacessíveis à consciência. Há uma interrupção da continuidade e unidade psíquicas da personalidade, e perde-se a capacidade de reflexão.
O estreitamento do campo da consciência é a característica que define os estados crepusculares, termo introduzido por Westphal. Ocorre na epilepsia parcial complexa, na intoxicação alcoólica patológica, nos estados dissociativos histéricos e, ainda, no devaneio, no estado hipnótico, na reação aguda ao estresse, no sonambulismo neurológico e nas crises de pavor noturno.
A epilepsia parcial complexa está geralmente associada ao lobo temporal. O paciente torna-se relativamente alheio ao ambiente, mas pode parecer lúcido numa observação menos apurada. Seu comportamento, que pode ser bem organizado, é estereotipado, à base de automatismos; a reflexão e a intencionalidade estão ausentes. Podem ocorrer comportamentos violentos ou impulsivos, delírios (alterações do pensamento) e alucinações (sensopercepção), estados afetivos intensos (ansiedade, êxtase), agitação ou inibição psicomotora. O início e o fim são súbitos. A duração pode ser de alguns segundos a semanas. Em geral, há uma amnésia total a posteriori em relação ao episódio.
A intoxicação alcoólica patológica caracteriza-se por um estado de grande agitação psicomotora, após a ingestão de uma pequena quantidade de álcool, em geral insuficiente para provocar embriaguez na maioria das pessoas.
Entre os estados dissociativos histéricos, incluem-se os estados de transe, sonambulismo, fugas e amnésia psicogênicos, a pseudodemência (síndrome de Ganser) e o transtorno da personalidades múltiplas. Eles caracterizam-se, além da alienação da realidade, por teatralidade, intencionalidade, ausência de automatismos, uma relação temporal com um factor de estresse agudo e possibilidade de recuperação completa da memória referente ao episódio. Pode estar perturbada a orientação autopsíquica. Os quadros de transe dissociativo são bem representativos dos estados de estreitamento da consciência de natureza psicogênica. O doente parece estar dentro de um sonho. Desconhece o ambiente em que se encontra e se comporta como se estivesse em outro lugar ou em outra época de sua vida. Muitas vezes diz coisas incompreensíveis ou sem sentido e age de maneira bizarra e chamativa. São comuns intensas descargas emocionais e comportamento destrutivo. Pode ocorrer ainda a vivência de ser possuído por um espírito, mesmo fora de qualquer contexto religioso.
A formação da consciência em Vygotski
Segundo Toassa (2006), a maior intimidade com os territórios da Língua, Literatura e Semiologia possibilitou a Vygotski enxergar no caráter social da linguagem a origem das interações que compõem a consciência humana. Abraçou a formulação de uma obra materialista que não se recusasse a estudar a consciência, nem tampouco fosse capturada pelo introspeccionismo. A proposta de Vygotski, segundo Riviére (1985, p.41), seria a de “evitar o solipsismo das psicologias presentes em sua época apresentando uma nova visão de Homem constituído socialmente”, ou ainda, “resultado de uma relação”.
Para Molon (2003), a subjetividade seria uma dimensão humana fundamental para o estudo em Vygotski, do qual fazem parte os elementos da consciência, da vontade e da intenção que constituem o ser humano como alguém único capaz de construir seus significados e sua cultura. O processo de formação da consciência, por meio da internalização, constitui a subjetividade atravésdas situações de intersubjetividade, possibilitadas pela mediação simbólica, em que a linguagem assume papel principal na formação do sujeito. Nesse sentido, podemos compreender o conceito de consciência em Vygotski como uma função de origem social, em que os signos possuem papel imprescindível em sua formação. Sua transformação implica em motivações mediadas por emoções, sentidos e significados, constituídos e, dessa forma, como um processo que filtra o mundo e coordena as ações humanas.
Consciência como função de origem social que regula o contacto com outros indivíduos
Ao considerarmos os seres humanos, encontramos a intenção, a afectividade, o pensamento e a consciência. Em Vygotski (1924/2004), a consciência pode ser definida como um entrelaçamento de sistemas reflexos. No entanto, a consciência não se confunde com reflexo, do mesmo modo que não é um “mecanismo interno”. Segundo o autor, o significado da palavra seria detentor das propriedades da consciência. Esses significados são convertidos em sentidos pessoais, de acordo com as necessidades e emoções que motivaram o seu uso. Dessa forma, o sentido é soma de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta na consciência. A palavra, como detentora de significado, ao mesmo tempo em que desperta eventos na consciência, é base para a sua formação. Nesse sentido, a consciência possui origem social, já que os reflexos reversíveis originados da palavra servem de fundamento para a comunicação social e para a coordenação coletiva do comportamento.
“Com isto abordamos um aspecto na natureza da palavra cujo significado ultrapassa os limites do pensamento como tal e em toda a sua plenitude só pode ser estudado em composição com uma questão mais genérica: a palavra e a consciência. Se a consciência, que sente e pensa, dispõe de diferentes modos de representação da realidade, estes representam igualmente diferentes tipos de consciência. Por isso, o pensamento e a linguagem são a chave para a compreensão da natureza da consciência humana” (VIGOTSKI, 2000, p. 485).
De acordo com Vygotski (1924/2004), a actividade humana está relacionada com o conceito de mediação, ou, ainda, não significa apenas uma reação ao meio, mas uma transformação através de instrumentos. A utilização de instrumentos implica na constituição do signo, na regulação da conduta e construção da consciência, a qual possui uma estrutura semiótica que regula o contato com os outros indivíduos e consigo mesmo (RIVIÉRE, 1985).
Consciência e sua relação com sentido e significado
Retomando a ideia de Vygotski (1924/2004) sobre a importância da linguagem, ele aponta que, mediante a palavra, surgem diversos significados, os quais são convertidos em sentidos pessoais, de acordo com as necessidades e emoções que motivaram o seu uso. Dessa forma, sentido é soma de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta na consciência. A ação e o pensamento são motivados, ou seja, são desencadeados por valores emocionais estáveis, os quais, por sua vez, são configurados pela conexão entre processos psicológicos, as relações exteriores e o organismo.
Dessa forma, a unidade de análise do comportamento humano que pode incluir todas as manifestações psicológicas seria o signo. Barros et al. (2009) afirmam que existe uma implicação do conceito de sentido à investigação psicológica ao poder contribuir para o alargamento das possibilidades de estudos das interações sociais e dos processos de significação nelas inscritos. Portanto, abrem vias para que se levem em conta não só recorrências e regularidades das interações e dos contextos pesquisados, mas também seus dinamismos, emergências e heterogeneizações, tendo em vista que, na composição de sentidos, se articulam dialeticamente zonas de estabilidade e instabilidade.
Essa perspectiva trazida por Vygotski será útil como base para a formulação de uma metodologia que possa ter acesso aos conteúdos da consciência, fundamentando, assim, uma importante contribuição para a Psicologia no que diz respeito a uma perspectiva teórica que traga em seu bojo uma proposta metodológica coerente com seu estudo. Para Vygotski (1924/2004), a consciência se reflete na palavra, a qual poderia ser considerada como um microcosmo daquela. Góes (2000) apresenta a análise microgenética, a partir dos estudos de Vygotski, como uma forma de construção de dados que requer o recorte de episódios interativos, com ênfase nas relações intersubjetivas e um relato minucioso do processo. Esse estudo denomina-se micro, porque está pautado em minúcias, e é genético ou socio genético, pois relaciona os eventos observados com outros planos da cultura, buscando sua gênese.
Consciência e signo
Segundo Riviére (1985), a constituição da consciência e sua transformação se dão graças a uma classe especial de ferramentas: os signos. Estes são proporcionados pela cultura e medeiam a transformação da catividade reflexa em consciência. Nesse sentido, o factor fundamental para o desenvolvimento humano seria definido pela internalização dos instrumentos, tornando-os meios de regulação de conduta, da relação com os outros e do sujeito consigo mesmo. A internalização, nesse contexto, é entendida como a reconstrução de uma atividade externa que reorganiza e modifica qualitativamente as ações. A conduta simbólico-instrumental seria o fundamento da atividade voluntária e dos símbolos na consciência, enquanto os signos seriam “desenvolvimentos ontogenéticos da própria conduta instrumental” (RIVIÉRE, 1985, p. 43).
De acordo com Vygotski (1924/2004), a consciência é constituída por signos que são estímulos instrumentais de natureza social que formam o ser humano por meio da convivência social. Os signos atuariam sobre o sujeito e estariam intimamente relacionados a sua capacidade de criação e imaginação, que, por sua vez, se manifestaria por igual em todos os aspectos da vida cultural.
Toassa (2006) apresenta os signos em Vygotski como forma de dominar a conduta, por meio da qual a realidade pode ser representada na ausência dela própria, podendo tornar-se consciência dos impasses e relações do real. Este só é alcançado com o desenvolvimento de funções superiores, que só aconteceria mediante as transformações do sistema capitalista e de seu caráter opressor, que transforma o indivíduo em objeto, mera fonte de lucro, e favorece relações de alienação e subjugação. Esse é o intento de uma nova sociedade pautada na superação da divisão de classes, da exploração do homem pelo homem e da alienação do trabalho.
Zanella (2004) afirma que, mediante os signos, a dupla direção da atividade humana se processa, pois, na medida em que, por seu intermédio, o sujeito se objetiva e transforma a realidade, ao mesmo tempo transforma a si mesmo. Continua referindo que a relação que se estabelece com a realidade é necessariamente mediada pela cultura, pelos valores característicos do momento social e histórico em que vivemos, bem como pela nossa história de vida e o que, decorrente dela, consideramos significativo.
Consciência como mecanismo que filtra o mundo
A consciência em Vygotski (1924/2004) é um mecanismo que filtra o mundo, tornando possível a atuação do sujeito. Ela filtra a realidade e a modifica. Dessa forma, a consciência refletiria a realidade, sobre a realidade e sobre si mesma. Além disso, há possibilidade de mudanças na consciência, não percebidas pelo sujeito. Essa característica estaria relacionada à ideia de o sujeito poder refletir sobre a própria atividade e essa reflexão poder transformá-la. A motivação para atuação no mundo dependeria da percepção do sujeito sobre si. O caráter seletivo da consciência é assegurado por seus limiares, que têm a função de impedir o caos (MOLON, 2003).
O sujeito em Vygotski (1924/2004) estabelece relações com e na experiência de outros sujeitos através da intersubjetividade. Dessa forma, sentimento, pensamento e vontade estão relacionados, ou seja, não existe o funcionamento isolado entre eles, mas interconexões funcionais. A vontade é a função que potencializa as demais,e esta se apresenta inicialmente como social, depois interpessoal e, em seguida, intrapsíquica. Molon (2003), com base nas ideias de Vygotski, afirma que o pensamento não nasce de si mesmo ou de outros pensamentos, mas das motivações que compõem nossa consciência, interesses, afetos e necessidades.
Conclusão
Feito o trabalho de pesquisa, cheguei ao consenso que o processo de formação da consciência, por meio da internalização, constitui a subjectividade através das situações de intersubjectividade, possibilitadas pela mediação simbólica, em que a linguagem assume papel principal na formação do sujeito, também a consciência é um mecanismo que filtra o mundo, tornando possível a actuação do sujeito, ela filtra a realidade e a modifica.
Bibliografia
BARROS, J. P. P. et al. O conceito de “sentido” em Vygotski. Psicologia & Sociedade, Florianópolis, v. 21, n. 2, p. 174-81, 2009. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/seerpsicsoc/ojs/include/getdoc.php?id=2418&article>.Acesso em: 14 fev. 2021.
DAMÁSIO, A. R. E o cérebro criou o homem. Tradução de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
GULIK, R. V. Consciousness. In: ZALTA, E. N. (Ed.) The Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2014. Disponível em: <http://plato.stanford.edu/entries/consciousness/>
MOLON, S. I. Subjetividade e constituição do sujeito em Vygotski. Petrópolis: Vozes, 2003. Carvalho , M. A. A. S.; Araújo, S. M. M.; Ximenes, V. M.; Pascual, J. G.
RIVIERE, A. La psicologia de Vygotski. Madrid: Aprendizagem Visor, 1985.
TOASSA, G. Conceito de consciência em Vygotski. Psicologia USP, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 59-83, 2006. Disponível em: <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/psicousp/v17n2/v17n2a04.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2021.
VIGOTSKI, L. S. Teoria e método em psicologia. São Paulo: Martins Fontes, 1924/2004.
ZANELLA, A. V. Atividade, significação e constituição do sujeito: considerações à luz da Psicologia Histórico-Cultural. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n. 1, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/pe/v9n1/v9n1a16.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2021.

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