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A PERSONAGEM NO ESPAÇO E O ESPAÇO DA PERSONAGEM Alice's Adventures in Wonderland Charles Lutwidge Dodgson (Lewis Carroll.) Personagem: Chapeleiro Personalidade : Tem diálogos sem sentido; Faz charadas sem nexo Ele e seus amigos vivem em uma cerimônia de chá aparentemente constante "Alice suspirou enfastiada. - Acho que você devia ter mais o que fazer - comentou - ao invés de gastar o tempo com adivinhas sem respostas. - Se você conhecesse o Tempo tão bem quanto eu conheço - disse o Chapeleiro - não falaria em gastá-lo como se ele fosse uma coisa. Ele é alguém. - Não sei o que você quer dizer - respondeu Alice. - Claro que não sabe! - disse o Chapeleiro, inclinando a cabeça para trás com desdém. - Diria mesmo que você jamais falou com o Tempo!” - Talvez não - replicou Alice cautelosamente - mas sei que tenho de marcar o tempo quando estudo música. - Ah! Olhe aí o motivo! - disse o Chapeleiro. - O Tempo não suporta ser marcado como se fosse gado. Mas, se você vivesse com ele em boas pazes, ele faria qualquer coisa que você quisesse com o relógio. Por exemplo: vamos dizer que fossem nove horas da manhã, que é hora de estudar. Você teria apenas que insinuar alguma coisa no ouvido do Tempo, e o ponteiro correria num piscar de olhos: uma e meia, hora do almoço. ("Gostaria que fosse mesmo" - disse para si mesma, num sussurro, a Lebre de Março.) - Isso seria formidável, com certeza - disse Alice, pensativamente. - Mas então... talvez eu não tivesse fome ainda, entende? - A princípio não, talvez - disse o Chapeleiro - mas você poderia ficar em uma e meia o tempo que quisesse. - É assim que você faz? - perguntou Alice. O Chapeleiro balançou a cabeça negativamente, com tristeza. - Não, eu não - replicou. - Eu e o Tempo tivemos uma briga em março passado." O espaço tem como funções principais situar as ações das personagens e estabelecer com eles uma interação, quer influenciando suas atitudes, pensamentos ou emoções, quer sofrendo eventuais transformações provocadas pelas personagens. (...) (Gancho, 1957, p.27) “Eu – eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento – pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então”. Quando Alice responde à lagarta, ela não fala apenas das mudanças de tamanho que sofreu depois de comer e beber alimentos mágicos, mas de questões existenciais. “A história é uma alegoria à jornada do crescimento de uma criança”, afirma Morton Cohen, biógrafo de Lewis Carroll. ESPAÇO: PAÍS DAS MARAVILHAS Espaço imaginário, igualmente importante e insólito, mas de natureza bem diversa o de Lewis Carroll. As aventuras de Alice efetuam-se em países, do espelho ou das Maravilhas: aí há animais que falam, cartas de baralho adquirem existência humana, reinam aparecimentos e desaparecimentos, instauram-se transformações (súbitas metamorfoses) como lei constante do mundo e que, inclusive, não poupa a personagem, como se a contaminasse o espaço (...) (LINS, 1976, p. 66) Um “país”, que na verdade é um mundo paralelo, que alterna as regras de existência, em que permite uma lagarta fumar narguilé, um cogumelo que aumenta e diminui tamanho; também vai permitir a existência de um chá que nunca termina, e que o tempo seja uma pessoa; que vai ter sua participação efetiva apenas em “Through the Looking-Glass and What Alice Found There” ou “Alice Através do Espelho e O Que Ela Encontrou Por Lá”; vai definir assim a personalidade de personagens sem uma lógica específica alguma, apenas constituída de “maravilhas”. Referências LINS, Osman. Avalovara. 6. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. apud Bonfim, Maria Aracy. Uma visibilidade particular – Avalovara, Alice e a representação simbólica. Disponível em <http://www.abralic.org.br/eventos/cong2011/AnaisOnline/resumos/TC0711-1.pdf> . Acesso em 25/06/2018. 08:18. https://www.google.com/url?q=http://www.abralic.org.br/eventos/cong2011/AnaisOnline/resumos/TC0711-1.pdf&sa=D&source=editors&ust=1617393493309000&usg=AOvVaw3ZdUtjEJ-86voKHIDy0DlU No momento da leitura de uma narrativa literária, transplantamos, para o texto essa nossa tendência. Sim sabemos que se trata de um universo ficcional, mas tentamos identificar espaços que sejam concretos para seres que habitam tal universo. Pág 68 livro espaço e tempo ficcional.
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