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G a s t r o e n t e r o l o g i aG a s t r o e n t e r o l o g i a Gab r i e l Ba g a r o l o P e t r o n i l h oG a b r i e l Ba g a r o l o P e t r o n i l h o ResumoResumo Introdução A gastrite possui grande ambiguidade em seu significado considerando as diferentes classes de pessoas ou profissionais que utilizam esse termo devido aos diferentes o lhares (c l ín ico, endoscópico ou histológico), porém, o seu real significado é a presença de inflamação, aguda ou crônica, da mucosa gástrica avaliada por endoscopia digestiva alta e estudo anátomo- patológico, podendo ser aguda ou crônica. (Marshall and Warren, 1983). A gastrites podem ser estudadas de uma maneira geral e depois seus subtipos específicos. Por tanto, revisaremos a gastrite em sua generalidade e depois aprofundaremos em alguns tipos da mesma. Os sistemas de classificações das gastrites foram evoluindo por muito anos, desde 1947, e em 1991 surgiu o ‘Sydney System’ que está em vigor até hoje descrevendo a etiologia, morfologia e topografia. Embora o sistema ‘Houston’ tenha atualizado o sistema Sydney em 1994. Existem gastrites de forma aguda, crônica (específicas). Sendo as duas primeiras classificações mais importantes e com outras subdivisões. Algumas gastrites agudas evoluem para crônica e as gastrites crônicas possuem atividade, ou seja, possuem neutrófilos no meio do infiltrado inflamatório, mas ao invés de ser aguda, dizemos crônica com atividade. Clínica A clínica da gastrite pode estar relacionada com sintomas de dor epigástricas (principalmente nas gastrites erosivas e agudas após ingestão de medicamentos), queimação epigástricas - importante para afastar dx de DRGE que seu principal sintoma é pirose/azia -, distensão do abdome superior e distúrbios inespecíficos no abdome superior (mal estar, náusea, dor de cabeça). Devemos avaliar as causas por meio de relações com infecção por H. Pylori., medicamentos ou intoxicantes (AINE ou bebidas alcóolicas) , excesso alimentares, excesso alimentares ou transtornos psicossomáticos. Devido essa grande variedade da etiologia da gastrite é muito importante o olhar em todos os aspectos, como clínico, endoscópico e histológico Diagnóstico Na classificação foi feita uma divisão endoscópica e histológica. Na topografia, a gastrite, é divida em pangastrite quando localizada em todo o estômago, gastrite antral quando localizada somente no ântro e gastrite do corpo quando no corpo sem acometer o ântro do estômago. A gastrite de topografia do corpo está mais relacionada com gastrite autoimune atrófica. A l g u n s p o n t o s d e v e m s e r a n a l i s a d o s histologicamente/morfologia por conta de: inflamação, atrofia, alteração de pregas - hipertrofia ou outras-, metaplasia intestinal, infecção por H. pylori. Além disso, endoscopicamente devemos observar presença de edema, eritema/enanetema, exsudato, erosões, hiperplasia, atrofia e sangramento. Imagem - Aspectos endoscópicos (1-3) e morfológicos (4 - 9) na gastrite. 1 - Aspecto da mucosa normal; paciente pode possuir sintomas mesmo com aspecto normal. 2 - Aspecto de enantema. 3 - Aspecto de enantema e exsudato. 4 - Presença de erosões planas. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Gastrites e Gastropatias 5 - Presença de erosões elevadas. 6 - Sinais de hemorragias da mucosa. 7 - Atrofia da mucosa. 8 - Hiperplasia de pregas. 9 - Gastrite por refluxo (gastrectomia). Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Descrição histológica das classificações do Sydney System: Atrofia → há uma redução de glândulas; o estroma e as células inflamatórias predominam conforme há redução das glândulas. Neutrófilos → o aumento das atividades de neutrófilos na gastrite crônica significa ‘atividade de doença’, não é gastrite aguda. Células Mononuclear → o aumento das células inflamatórias crônicas é o que define a cronicidade da doença. Metap l a s i a I n t e s t i n a l → é c o m u m o aparecimento de metaplasia intestinal nas gastrites crônicas. Há aumento das células caliciformes e atrofia. Tratamento Para iniciar o tratamento do pacientes com gastrite devemos avaliar se ela é aguda, crônica, específica ou funcional. Para isso, revemos todos os medicamentos que o paciente faz uso na rotina porque muito medicamentos podem causar ou agravar os sintomas da gastrite. Em casos de gastrite aguda por agressão da mucosa pode-se prescrever inibidores de bomba de prótons e antiácidos. Em pacientes com gastrite crônica, se a etiologia for infecção por H. Pylori, não existem muita Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG evidência de que há erradicação da bactéria causa melhora dos sintomas. A mucosa melhora, os sintomas não. O tratamento é realizado visando a prevenção do câncer gástrico e aparecimento de úlceras. Para gastrites crônicas específicas, que falaremos adiante, existem medicamentos específicos. Deve-se realizar uma abordagem comportamental no pacientes com indicações da forma correta de alimentação, atividade física, sono e saúde mental. Esses elementos estão, muitas vezes, relacionado com os sintomas clínicas que o paciente apresenta. Gastrite Crônica Atrófica A gastrite crônica atrófica possui duas etiologias: autoimune e infecção por H. pylori. Elas possuem evoluções e tratamentos diferentes. Gastrite Crônica Atrófica Autoimune Também é conhecida como gastrite tipo A. Caracterizadas por atrofia seletiva, parcial ou completa, das glândulas gástricas devido presença de autoanticorpos contra células parietais no corpo e fundo do estômago. Portanto, a gastrite atrófica autoimune ocorre somente na porção do corpo e fundo, já que na porção do antro há produção de gastrina, sem relação com as células parietais. Ocorre a inflamação crônica da submucosa que se estende para a lâmina própria da mucosa, ocasionando a destruição progressiva das glândulas gástricas (células parietais - HCl) e zimogênicas (pepsina), sendo substituídas por metaplasia intestinal. A mucosa do antro, não acometida, possui sua estrutura glandular normal e células endócrinas hipertróficas (células G). As alterações que ocorrem por contra da destruição dessas células são: - Hipocloridria → atrofia parcial das células parietais - Acloridria → casos avançado, secundária à redução da massa de células parietais - Hipertrofia de células G e Hipergastrinemia → produção de gastrina - gastrina que estimula a produção de ácido. Ela aumenta para estimular a produção de ácido que não ocorre por destruição das células parietais. Célula G → mucosa do antro - Hipercrescimento bacteriano devido a falta de ácido. Aumenta bactérias no intestino delgado - Deficiência de vitamina B12 → deficiência de secreção de fator intrínseco. A vitamina B12 é absorvida na parte do íleo terminal e o fator intrínseco que promove a absorção é produzido pelas células que são destruídas - Má absorção de ferro → anemia megaloblástica ou perniciosa - VCM > 90 (Volume corpuscular médio) - Deficiências nutricionais → falta de cálcio, vitamina D, vitamina C e ácido fólico B9 Em consequência podem ocorrer tumores carcionoides por conta da hiperplasia das células enterocromafins, responsáveis pela produção de h istamina e serotonina . Esses tumores carcinoides aparecem nas porções atróficas do corpo gástrico. Além disso, quem possui atrofia no corpo gástrico, devido as gastrites, aumenta em 3x o risco de incidência de câncer gástrico. Evidência imunológicas e experimentais sugerem componente autoimune de herança autossômica dominante com o desenvolvimento de gastrite atrófica autoimune e com outras doenças (doenças de Addison, vitiligo, doença celíaca, tireodites autoimunes e diabetes tipo I ). A gastrite autoimune é assintomática em relação ao sistema digestivo alto, porém, com sintomas hematológicos e/ou neurológicos decorrentes da anemia perniciosa.Pode ocorrer fraqueza, astenia e anemia devido a diminuição do ferro. Existem queixas de distensão abdominal por conta excessiva de gases. Além disso, polineuropatia ou demência, devido falta de vitamina B12, pH elevado, infecções bacterianas, diarreias, emagrecimento, vômitos, etc. Tipos de Atrofia A distribuição multifocal da gastrite atrófica (extensa) ocorre na curvatura menor do corpo e no fundo gástrico. A gravidade em um local específico refere-se ao grau acentuado de atrofia do mesmo. Os risco de adenocarcinoma gástrico é maior na gastrite atrófico multifocal. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG O s a n t i c o r p o s r e l a c i o n a d o s c o m o desenvolvimento da gastrite atrófico autoimune são anti-HLA-A3, anti-HLA-B7, anti-HLA- DR2 e anti-HLA-DR4. Em pacientes submetidos a gastrectomia e supressão crônica da acidez gástrica por IBP podem desenvolver deficiência similares as causas pela gastrite atrófica. Diagnóstico O dx da gastrite crônica autoimune do corpo é histopatológico. Porém, pode-se utilizar do hemograma, inicialmente, para verificar presença de anemia e VCM>90. No parte laboratorial podemos observar ainda dosagem de vitamina B12, gastrina sérica, dosagem de vitamina C, cálcio, ácido fólico, anticorpos anti-células parietais e teste respiratório de hiperproliferação bacteriana. Os anticorpos anti-célula parietal e anti-fator intrínseco muitas vezes estão ausentes em portadores de gastrite atrófica apenas, sem alteração hematológica. No exame de endoscopia digestiva alta, quando há insuflação de ar, o pregueado mucoso do corpo se desfaz total ou parcialmente e há um aspecto ‘liso, brilhoso e delgado com visualização de vasos da submucosa. Pode ser feita por cromoscopia. Deve-se realizar coleta simultânea de material para exame histopatológico do corpo (parede anterior e posterior - C1 e C2), do antro gástrico (curvatura maior e menor - A1 e A2) , incisura angulares (A3) para confirmação da localização do processo inflamatório. Foi criado um estadiamento histológico para a avaliação da gastrite atrófica, chamado OLGA: Operative Link of Gastritits Assesment. No esquema, anterior, da biópsia e imagem endoscópica o processo inflamatório atrófico envolve exclusivamente o corpo (porção mais clara/descolorida) e há manchas de metaplasia intestinal - pseudopilórica e pancreática, encontradas em todo o corpo gástrico e fundo, mas não no antro. Imagens - Fotos de endoscopia de gastrite atrófica autoimune. As fotos mostram aspecto ‘liso’ das pregas mucosas e, na 3ª imagem aspecto irregular das células parietais em cromoscopia. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG OLGA - Operative Link of Gastritis Assessment O OLGA é um estadiamento histológico que avalia, de I - IV, a gradação ou severidade da atrofia histológica, localização endoscópica (topografia) e etiologia da atrofia (autoimune ou infecção por H. pylori). Tratamento A gastrite crônica autoimune é assintomática na maioria dos pacientes, portanto, não requer tratamento. Porém, a presença de uma anemia perniciosa prevê a reposição de vitamina B12 via parenteral na dose de 200µg por mês durante toda a vida. Além disso, pode ser reposto vitamina C, D , cálcio e ferro. Pacientes que apresentam diarreias frequentes pode ser indicativo se supercrescimento bacteriano, requerindo tratamento: indicação a n t i b i ó t i c o e s p e c í f i c o ( r i f a x i m i n a ) e posteriormente probióticos. Não é necessário diminui o pH do suco gástrico com IBP ou antiácido e não há um consenso na periodicidade de avaliação, dependerá da gravidade dos achados iniciais. Em casos comuns, pode-se reavaliar o paciente anualmente. Na presença de pólipos gástricos recomenda-se a remoção. Tumores carcinoides pequenos e assintomáticos podem ser removidos endoscopicamente e t u m o r e s s i n t o m á t i c o s e a v a n ç a d o s , cirurgicamente. Gastrite Crônica Atrófica por H. pylori A bacteria H. Pylori é considerada a principal etiologia em mais de 95% das gastrites crônicas. Esse microorganismo coloniza a mucosa gástrica e possui mínima competição, além de adaptação para esse ambiente. O H. pylori afeta a parte superficial da mucosa, sem penetrar para dentro da mucosa . Antigamente, esse tipo de gastrite se chamava gastrite crônica superficial. A presença da bactéria na mucosa gástrica possui resposta imune local e sistêmica, porém, uma vez infectado, ela persistirá para sempre, sendo raramente eliminada espontaneamente. Porém, sempre acompanhada de gastrite histológica com intensidade variável. A gastrite atrófica por H. pylori é multifocal e a p r ime i ra reg i ão acomet ida é o antro , diferenciando-a da gastrite autoimune. A distruibuição do microorganismo pelo estômago pode se rum indicador do padrão da evolução da gastrite. Desse modo, pacientes com predomínio de gastrite antral possuirão secreção gástrica normal ou elevada, devido preservação das células parietais, e um maior risco de desenvolvimento de úlcera duodenal. Pacientes com pangastrite por H. pylori terão redução na secreção gástr i ca , dev ido acometimento da mucosa formada por células parietais. Dados mostram que a relação de gastrite crônica do corpo gástrico e atrofia acentuada elevem em 3-4x a chance de carcinoma gástrico. A gastrite crônica do antro por H. pylori é assintomática. A evolução ocorre da seguinte forma: infecção H. pylori → gastrite crônica → atrofia glandular → metaplasia intestinal. A atrofia glandular e a metap las ia intest ina l são cons ideradas associações responsáveis pelo desenvolvimento de câncer gástrico do tipo intestinal. A metaplasia intestinal pode ser incompleta (tipo II - imita o cólon) ou completa (tipo I - imita intestino delgado). A metaplasia incompleta é a de maior associação com o câncer gástrico. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Tratamento Em pacientes portadores de dispepsia funcional que possui H. pylori e, consequentemente, também portadores de gastrite crônica, muitos médicos optam por tratamento anti-H.pylori. Porém, as evidências são contraditórias quando analisado o quesito do benefício da erradicação do microrganismo e melhora dos sintomas. Sabe, atualmente, que a erradicação dessa bactéria promove a remissão da gastrite ativa e reduz, principalmente, a incidência e/ou recorrência de doença ulcerosa. Porém, ainda existem dúvida sobre a regressão da atrofia gástrica e da metaplasia intestinal (pré- neoplasia). Em pacientes os quais não é erradicada a bactéria as lesões progridem ou não se alteram. Considerando o quesito câncer gástrico, estudos d e m o n s t r a m q u e a e r r a d i c a ç ã o d e s s e microrganismo pode sim reduzir a incidência de câncer gástrico, mas, apenas em indivíduos sem alterações histológicas prévias. Gastrite Crônica Hipertrófica A gastrite crônica hipertrófica também é conhecida como: gastrite de pregas gigantes, gastropatia hipertrófica hipersecretor e doença de Ménétrier. É mais um pólipo hiperplásico do que gastrite. Essa gastropatia é de fisiopatologia não clara, porém, parece estar associado ao fator de crescimento epidérmico (EGF - originado em glândulas salivares) e o fator de crescimento transformador alfa (TGF-alfa - liberado localmente na mucosa gástrica, especialmente quando a mucosa é exposta a irritantes tópicos). Ela é caracterizada pela tríade de pregas g i g a n t e s n o c o r p o e f u n d o g á s t r i c o , hipoalbuminemia secundário à gastropatia perdedora de proteínas e quadro histológico de hiperplasia foveolar com atrofia glandular, dilatação cística e espessamento da mucosa. Além disso, existe a produção excessiva de muco e hipocloridria (em sua forma clássica). Sabe-se que uma variante hipersecretora de ácido gástrico tem sido descrita, obrigando a realização de diagnóstico diferencial comsíndrome de Zollinger-Ellison. A etiologia ainda é desconhecida, porém, existem relatos de associação do H. pylori e CMV. Clínica A doença é mais observada em homens, após os 50 anos e as manifestações clínicas são inespecíficas. Há queixas de epigastralgia frequentes (mal estar epigástrico), diarreia em 50% dos casos, falta de apetite (anorexia), hematêmese, pe rda de pe so , edema de mm i i p o r hipoalbuminemia, podendo evoluir com risco aumentado de fenômenos tromboembólicos. Diagnóstico Ele é estabelecido pela endoscopia digestiva alta com visualização de pregas gigantes, tendo cerca de 1cm ou mais de diâmetro transversal, no fundo e corpo gástrico. Essas pregas são rígidas e não se desfazem com insuflação de ar. Podem também, endoscopicamente, apresentar alterações inflamatórias da mucosa: hiperemia, Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG friabilidade, edema, erosões e/ou úlceras francas. Em exames laboratoriais observa-se a presença de hipoalbuminemia e pede-se dosagem de sódio e potássio. Deve-se também dosar a gástrica sérica para fazer diagnóstico diferencial com a síndrome de Zollinger-Ellison. As duas apresentam pregas gigantes, mas somente na síndrome de Zollinger- Ellison os níveis de gastrina sérica são elevados. A hipoalbuminemia pode ser estimada pelo teor de ⁵¹Cr nas fezes, perante administração venosa de albumina marcada com o mesmo. Figura - EDA - pregas aumentadas no fundo e corpo poupando antro gástrico e presença de muco aderente e pregas com aspectos de polipose. Deve-se biopsiar com alça. (La Lettre de l’Hépato-gastroentérologue. Vol. XII) (La Lettre de l’Hépato-gastroentérologue.Vol. XII) Tratamento A evolução da doença é marcada pelo risco neoplásico, estimado em 10% em tempo médio de 7 anos. Na grande maioria dos casos, os pacientes são assintomáticos e nenhum tratamento é indicado. Para manejo das poss íve l compl icações recomenda-se a manutenção de uma dieta de alto valor calórico e proteico. Faz-se o acompanhamento anual por endoscopia e ecoendoscopia dependendo do estado geral do paciente. Com bases em alguns estudos, pode ser utilizado alguns fármacos: cetuximabe (bloqueador EGF-R), octreotida (análogo da somatostatina, modula sinalização de EGF-R). Além disso, pode-se utilizar bloqueadores de H₂, anticolinérgicos, ácido tranexâmico e prednisolona para correção das perdas proteicas gástricas por meio de mecanismos ainda não muito bem conhecidos. Quando paciente não responder ao tratamento clínico, pode ser indicada gastrectomia. Tanto o farmacológico, quanto cirúrgico melhoram a hipoalbuminemia e diminui o risco de câncer gástrico. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Gastrite Linfocítica ou Erosiva Crônica A gastrite linfocítico é considerada uma gastrite específica e também pode ser denominada erosiva crônica ou varioliforme (variante). Ela possui um padrão de lesão da mucosa gástrica com presença de múltiplas nodulações com erosões centrais e hiperemia circunjacente. As erosões possuem cerca de 0,5 a 1 cm de diâmetro e se distribuem em filas no topo de pregas geralmente espessadas. Histologicamente é caracterizada por aumento de linfócitos intra-epiteliais (> 25 por 100 células epiteliais) e aumento de células inflamatórias crônicas na lâmina própria. A etiologia é de caracter desconhecido, podendo haver associação com doença celíaca, SGNC e H. 1 pylori por resposta imune local a antígenos luminais. Esse tipo de gastropatia é raramente observada. Clínica O quadro clínico é inespecífico e, geralmente, os pacientes são assintomáticos, podendo apresentar sintomatologia sugestiva de úlcera péptica e/ou presença de hemorragia digestiva alta, manifestada ou oculta. Pode haver dor abdominal, náusea, vômito e perda de peso. Diagnóstico O diagnóstico é suspeitado pelo padrão observado na endoscopia de nodosidade difusa com ou sem exsudato. Figuras - Endoscopia de gastrite linfocítica. O exame histológico confirma diagnóstico de gastropatia linfocítica com a observação de mais de 30 linfócitos intraepiteliais ( células TCD 3+ e CD8+) por 100 células epiteliais. Em mucosa estomacal normal observa-se no máximo 7 linfócitos intraepiteliais por 100 células epiteliais. Gastrite Varioliforme A gastrite linfocítia pode possuir uma variante chamada de gastrite varioliforme, muitas vezes, os médicos inclusive as classificam como a mesma gastrite. Essa variante apresenta múltiplas lesões irregulares elevadas da mucosa com atrofia central da mucosa no corpo gástrico. A sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC) caracteriza-se pela ocorrência de sintomas digestivos e extra digestivos relacionados 1 à ingestão de alimentos contendo glúten, nas pessoas não afetadas por doença celíaca , nem tampouco por alergia ao trigo. (2014. IGASTROPED) Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Figura - Endoscopia de gastrite varioliforme Tratamento Em paciente com SGNC associada a gastrite linfocítica , devemos recomendar uma dieta isenta de glúten. Além disso, quando positivo para infecção de H. pylori deve-se erradicar a bactéria e, após, refazer a biopsia para constatar se houve regressão da linfocitose intra-epitelial. Pode-se prescrever bloqueadores de H₂ e IBP, porém, em muitos casos há uma certa resistência e não resposta a esses medicamentos. Corticoides podem ser efetivos. Gastrite Eosinofílica É a presença de eosinófilos e leucócitos elevados na mucosa e submucosa do trato digestivo superior em amostras de biópsias. Há infiltrado de eosinófilos denso dentro de criptas intestinais e glândulas gástricas. Estudo recente sugeriu que uma densidade de eosinófilos maior que 30 eosinófilos/campo em pelo menos 5 campos pode diferenciar a gastrite eosinofílica dos controles adultos normais. O DX é feita pela infiltração eosinofílica que pode ser tanto no esôfago, estômago ou intestino. Sua etiologia ainda não é conhecida, mas fatores alérgicos, alimentares e presença de parasitos têm sido considerados. Pode haver 3 formas de apresentação de acordo com a intensidade e topografia do infiltrado: mucosa (antro + frequente, pregas espessadas e nodosidade com ou sem ulceração ou pólipos), parede muscular ou serosa. Clínica Sintomas inespecíficos inclui disfagia (pode se apresentar como impactação alimentar, associada a esofagite eosinofílica, como discutido), náusea, vômito, dor abdominal, diarreia, perda de peso e distensão abdominal. Pode ocorrer doença eosinofílica quando vários s e g m e n t o s d o t u b o d i g e s t i v o e s t ã o comprometidos e doenças alérgicas (rinite, asma urticária) estão associadas em mais de ⅓ dos casos. Anemia ferro priva, hipoalbuminemia e redução da imunoglobulina séria são observadas como consequência de perdas proteicas devido epitélio lesado. Diagnóstico O diagnóstico é estabelecido por biópsia da topografia com confirmação de aumento de número de eosinófilos na parede gástrica pela infiltração de eosinófilos em glândulas gástricas. À endoscopia há visualização de nodosidade grosseira difusa, um pouco mais exuberante que a nodosidade presente na gastrite linfocítica. Em gastrite eosinofílica com acometimento da parede muscular, na biópsia convencional apresenta resultado normal. Portanto, é necessário biopsiar toda a parede do estômago (camadas). Na histopatologia a densidade maior que 30 eosinófilos/campo e em, pelo menos, 5 campos confirma o diagnóstico. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Tratamento O tratamento é semelhante à esofagite eosinofílica. Pode-se prescrever em algumas situações prednisona em doses inicias de 20 - 40mg, com redução progressiva, por 6 semanas. Cromoglicato de sódio, anti-histamínico, antiespasmódicos e montelucaste possuem pouca ação efetiva. Estudos sugerem que cetotifeno e bloqueador dereceptores de H₁ podem ser alternativas efetivas aos corticosteroides. Além disso, pode-se utilizar budesonida como revestimento entérico e corticosteroides sistêmicos. A n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s a n t i - I g E (Omalizumabe), em casos específicos sem melhora com iIBP e corticoides, podem ser utilizados. A dieta com eliminação de alimentos (leite, ovo, trigo, soja, nozes, peixes e mariscos) é muito válida para o tratamento dessa patologia. Em complicações, como perfuração, estenose pilórico ou doença refratária, pode-se indicar tratamento cirúrgico. Gastrite Infecciosa por CMV O citomegalovírus (CMV) tem sido cada vez mais reconhecido como um patógenos comum em i n f e c ç õ e s i n t e s t i n a i s d e p a c i e n t e s imunocomprometidos. Esse vírus pode comprometer o esôfago, estômago e cólon. A detecção nas b i óps i as de i nc l usões intranucleares é a marca registrada da infecção por CMV. Além disso, o diagnóstico da infecção por CMV pode ser feita por sorologia através de evidência de soroconversão recente ou pela elevação de 4x ou mais nos títulos de anticorpos. Clínica Como nos outros casos de gastrites, os sintomas são inespecíficos com presença de dor epigástrica, febre, náusea e sangramento. Diagnóstico À endoscopia podemos observar uma mucosa irregular, nódulos, com erosões ou mesmo ulcerações. Pode haver eritema irregular levemente deprimido no corpo gástrico ou mucosa macroscopicamente normal. Tratamento Estudos recentes sugerem que ganciclovir, foscarnet e valganciclovir possuem atividade eficaz contra o CMV. Porém, esses medicamentos possuem alguns efeitos indesejáveis que devem s e r a c o m p a n h a d o s , c o m o l e u c o p e n i a , trombocitopenia, manifestações neurológicas e alterações de função hepática. Além disso, podemos utilizar Aciclovir 200mg, 2 comprimidos, 3x ao dia, de 5-7 dias e os tradicionais IBPs. Depois é feito acompanhamento para observação da evolução ou remissão da doença. GAVE - Ectasia Vascular Antral Gástrica A ectasia (dilatação) vascular do antro gástrico (GAVE) é uma malformação vascular e causa frequente de anemia por déficit de ferro. Ocorre comumente quando o paciente possui cirrose hepática e o estômago em Watermelon é um sinal descritivo da patologia na visto por meio da endoscopia. Clínica As manifestações clínicas são canseira (devido anemia), anemia, taquicardia, cirrose hepática associada e, em alguns casos, doenças autoimunes. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Diagnóstico À endoscopia é observado ectasia vascular antral com manchas vermelhas radialmente partindo do piloro e envolvendo o antro gástrico - estômago em Watermelon. Tratamento Pode ser utilizado IBP, como opção farmacológico. As lesões podem ser cauterizada com APC porque o sangramento é frequentemente observado. A ligadura elástica, procedimento endoscópico em que bandas elásticas realizam a compressão do vaso interrompendo o fluxo sanguíneo. A associação de cauterização com APC para ectasias mais superficial e ligadura elástica para mais profundas possui grande eficácia. Gastrite da Doença de Crohn A gastrite típica da doença de Crohn é uma m a n i f e s t a ç ã o r a r a d o e n v o l v i m e n t o gastroduodenal. Se apresenta como aftas, úlceras, mucosa edemaciara persistente com pouca remissão clínica e de reconhecimento apenas histológico. Clínica Manifestações clínica não específicas com dor epigástrica, emagrecimento, vômitos e Crohn intestinal associada - a doença de Crohn pode acometer todos os segmentos do trato digestório: da boca ao ânus. Figura - Endoscopia representando presença de doença de Crohn Diagnóstico É um dx difícil quando o paciente não possui diagnóstico prévio da doença de Crohn. A histopatologia é de difícil observação, mas pode ser feita por meio de biópsia dos locais acometidos. Tratamento Cada paciente deve ser tratado de acordo com o estado da doença sistêmica e intestinal. No acometimento gastroduodenal, se houver obstrução da via de saída gástrica pode haver necessidade de dilatação com balão ou cirurgia. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG
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