Prévia do material em texto
1 Diarreia • O hábito intestinal saudável caracteriza-se pela evacuação de fezes consistentes 1-3 vezes/dia ou até a cada 2-3 dias; î As vezes, os pacientes podem alternar o ritmo intestinal, mantendo-se nos parâmetros normais da frequência evacuatória, porém com desconforto. Nesses casos, o paciente deve ser adequadamente avaliado; • Geralmente, o peso médio diário das fezes é de 100g/dia; • Diarreia consiste em alteração do hábito intestinal pela eliminação excessivamente frequente de fezes moles ou malformadas; • A queixa de diarreia é inespecífica e pode estar relacionada com alguns fatores fisiológicos e patológicos; • A diarreia pode ser aguda ou crônica e tem como causas: î Agentes infecciosos; î Intolerância alimentar; î Fármacos; î Doenças inflamatórias intestinais; APG 8 – “De tempos e tempos no intestino” Amanda Rocha 1. Explicar a fisiopatologia da diarreia (mecanismo); 2. Entender a etiologia, epidemiologia e complicações da diarreia aguda e crônica; è Aguda: gastroenterite bacteriana, viral e parasitária; è Crônica: Esteatorreia, diarreia osmótica, diarreia crônica por causas parasitárias e virais, secretória, aquosa/funcional e inflamatória); 3. Compreender o diagnóstico e tratamento das diarreias agudas e crônicas; Introdução 2 • O intestino tem a função de secretar substâncias que auxiliam no processo digestivo e de absorver líquidos, eletrólitos e nutrientes; • Em condições normais, a absorção de nutrientes e líquidos excede a secreção, e o ID é predominante nessa atividade; • O ID recebe, em média, 10L de água por dia (ingesta, secreções de saliva, gástrica, biliar, pancreática e intestinal), absorve cerca de 6L no jejuno e 2,5L no íleo; • O cólon recebe do ID em torno de 1,5L, e apenas 100mL são eliminados nas fezes; • A capacidade absortiva total do cólon é de 4-5L em 24h e, quando essa quantidade é ultrapassada, surge a diarreia; • O principal mecanismo de absorção da água é o gradiente osmótico criado pelo transporte ativo de sódio; • O sódio é absorvido associado ao cloro ou à alguns nutrientes; • A absorção de Na+/CL- pelas vilosidades leva a água passivamente através da mucosa, devido à menor concentração de NA+ no interior do enterócito que o lúmen intestinal; • Essa via é inibida pela cAMP (adenosina monofosfato cíclica) e GMPc (monofosfato cíclico de guanosina), moléculas que atuam como “segundo mensageiro” e são estimuladas pelas enzimas adenilciclase (converte ATP em cAMP) e guanilciclase (converte GTP em cAMP), dos enterócitos; • Essas moléculas são capazes de transmitir sinais e traduzi-los em alterações metabólicas dentro das células; • Algumas bactérias produzem toxinas que são capazes de ativar essas enzimas, além de abrirem os canais iônicos das células, fazendo com que CL e NA+ saiam para o lúmen intestinal, consequentemente atraindo água; Fisiopatologia 3 • A secreção entérica depende da secreção ativa de CL-, acompanhada da eliminação de Na+ e água para o lúmen intestinal pelas células da cripta; • Assim, a água acompanha o movimento do Na+, e a absorção é feita pelas células do ápice das vilosidades (absortivas) e a secreção é realizada pelas células das criptas; • No cólon, há vários mecanismos de transporte de Na+ (levando à absorção de água). A absorção e a secreção acontecem simultaneamente, com predomínio da absorção; • A diminuição da absorção ou o aumento da secreção ou a alteração de ambas produzem diarreia; • Muitos microrganismos alteram o equilíbrio de absorção e secreção no intestino delgado e são capazes de produzir diarreia; • Alguns produzem enterotoxinas que ativam o mecanismo secretor e outros, por alterarem as vilosidades, prejudicam a absorção; • No íleo distal e cólon, a diarreia é causada, principalmente, por invasão e destruição do epitélio, que resulta em ulceração, infiltração da submucosa com eliminação de sangue; • Também podem estimular a resposta inflamatória local, que resulta na produção de secretagogos como prostaglandinas e interleucinas, e contribuem para a perda de líquidos para o lúmen; • Além da classificação das diarreias quanto ao seu tempo de evolução (aguda X crônica), existem outras formas de classificá-las; • Em relação ao local do TGI de sua origem (alta X baixa); • A diarreia alta é aquela originada no intestino delgado; • A diarreia baixa está relacionada com o intestino grosso; Classificação 4 Diarreia Aguda • Geralmente manifesta-se como quadro de instalação súbita em resposta a estímulos variáveis, sendo os principais associados a agentes infecciosos, com evolução autolimitada; • Assim, define-se como aguda, a diarreia que tem duração máxima de 30 dias, frequentemente ficando restrita a 2 semanas; • As diarreias agudas devem ser consideradas como urgência médica devido aos riscos inerentes, especialmente relacionados com a desidratação; • O organismo saudável possui mecanismos de defesa contra agentes lesivos como: î Suco gástrico - que é letal a muitos organismos pelo baixo pH; î Motilidade intestinal - que dificulta a aderência dos microrganismos à parede intestinal; î Sistemas linfático e imune - que provocam a defesa celular e humoral contra os agentes nocivos; • A falha desses mecanismos e/ou a alta agressividade do agente agressor podem causar diarreia. • A prevalência mundial da diarreia aguda é de 3-5 bilhões de casos/ano, associada a 5-10 milhões de mortes/ano; • No Brasil, entre os anos de 2007- 2015, foram registrados 34.568.644 casos de diarreia aguda; • Entre os anos de 2017 e 2018 foram notificados cerca de 10 milhões de casos de diarreia, sendo que aproximadamente 2 milhões destes acometeram menores de 5 anos; • Os índices de óbito são altos em crianças menores que 5 anos, e são mais prevalentes na região Norte do Brasil; • Os casos de internações por diarreia aguda são maiores entre indivíduos do sexo masculino, isso devido à carente procura dos homens pelos serviços de saúde, aumentando a gravidade do processo de adoecimento; Epidemiologia 5 • Como o processo é autolimitado, a definição etiológica nem sempre altera a conduta médica na diarreia aguda, porém em algumas situações mais graves medidas específicas podem ser necessárias; • Nas populações mais pobres, predomina a etiologia bacteriana e, nas de melhor nível social, prevalece a viral; • Os agentes infecciosos que geralmente estão envolvidos nos quadros de diarreia aguda são: • As diarreias agudas, frequentemente, são subdivididas em inflamatórias e não inflamatórias com base nas características das fezes diarreicas; • Patógenos entéricos causam diarreia por vários mecanismos. Alguns não são invasivos e não provocam inflamação, mas secretam toxinas que estimulam a secreção de líquidos. Outros invadem e destroem as células epiteliais e alteram o transporte de líquidos, de modo que a atividade secretória continua, mas a atividade absortiva é interrompida; Diarreia Inflamatória • Apresenta espectro clínico mais grave; • É causada por bactérias invasivas, parasitos e bactérias produtoras de citotoxinas que afetam preferencialmente íleo e cólon. • Promove ruptura do revestimento mucoso e perda de soro, hemácias e leucócitos para o lúmen; • Manifesta-se por diarreia, em geral de pequeno volume, com muco, pus ou sangue, febre, dor abdominal predominante no quadrante inferior esquerdo, tenesmo, dor retal; • Às vezes, no inícioda evolução, apresenta diarreia aquosa, que só mais tarde se converte em típica diarreia inflamatória, quando os microrganismos ou suas toxinas lesam a mucosa; Diarreia não inflamatória • É, em geral, moderada, mas pode provocar grandes perdas de volume; • É causada, geralmente, por vírus ou bactérias produtoras de enterotoxinas e afeta preferencialmente o ID; • Os microrganismos aderem ao epitélio intestinal sem destruí-lo; • Manifesta-se por fezes aquosas, de grande volume e sem sangue; • Pode estar associada a náuseas e vômitos; Viral Bacteriana Protozoária Rotavírus Norovírus Calcivírus Astrovírus Coronavírus Herpes simples Citomegalovírus Shigella Salmonella Campylobacter E. Coli Yersinia Clostridium S. aureus Bacillus cereus Vibrio Chlamydia Giardia E. histolytica Cryptosporidum Etiologia 6 • As cólicas, quando presentes, são discretas, precedendo as evacuações; • É tipicamente uma afecção autolimitada, com duração menor que 14 dias; • É causada pelo norovírus, na maioria dos casos; • O rotavírus é a causa mais comum de diarreia grave em crianças pequenas, adultos imunocomprometidos e idosos; • Esses vírus tendem a invadir e replicarem-se dentro da camada epitelial da parede do TGI, causando danos e promovendo aumento da liberação de sais e água na luz do intestino; • Os sintomas frequentes são náuseas, vômitos e diarreia, podendo ser acompanhados de febre, dor abdominal e anorexia; • São menos comuns que as virais; • Bactérias como Shigella, Salmonella e Campylovacter jejuni podem invadir a mucosa intestinal e promover a formação de úlceras, que levam à diarreia com presença de leucócitos e eritrócitos; • Podem provocar liberação de enterotoxinas que se fixam à mucosa sem invasão e bloqueiam as trocas de sódio e potássio, proporcionando a secreção ativa de CL, NA+ e água na luz intestinal; esse mecanismo é causado principalmente por Vibrio Cholerae e E. Coli; • Alguns protozoários, como a giárdia lamblia, Entamoeba histolytica e Cryptosporidium isopora, podem causar gastroenterite ao aderirem-se à mucosa intestinal, causando microabcessos, úlceras, sangramento e inflamação; • A apresentação clínica da diarreia aguda é bastante semelhante, independente do agente agressor. Entretanto, algumas diferenças podem ocorrer de acordo com a patogênese envolvida; • Na história do pacienre, devem-se investigar o local e as condições em que a diarreia foi adquirida; • Deve-se investigar a ingestão recente de água ou alimentos potencialmente contaminados, viagens recentes, presença de pessoas próximas também com diarreia, uso recente de antibióticos e outros fármacos, história sexual, banho em locais públicos e contatos com animais; Gastroenterite Viral Gastroenterite Bacteriana Gastroenterite Parasitária História Clínica da DA 7 • Na avaliação clínica, além de definir o padrão da diarreia aguda, devem- se também avaliar possíveis complicações, especialmente a desidratação -> relato de boca seca e sede, diurese concentrada, oligúria, associados a achados ao exame físico de pele e mucosas desidratadas e hipotensão postural com taquicardia, demonstram desidratação; • Sinais de toxemia indicam quadro mais grave e necessidade de maior cuidado clínico -> febre alta, taquipneia, vasodilatação periférica com hipotensão e pulsos rápidos e finos são sinais de alerta; • O exame físico do abdome normalmente exibe dor leve difusa à palpação, com possibilidade de descompressão brusca levemente dolorosa em situações de mais distensão de alças e dor mais intensa; • Os ruídos hidroaéreos estão frequentemente aumentados; • Intoxicação por Staphylococcus aureus – resulta de alimentos submetidos à cocção inadequada ou mal refrigerados. As manifestações são: î Náuseas; î Vômitos intensos; î Cólicas e diarreia aquosa; î Podem evoluir para desidratação aguda e choque hipovolêmico; • Intoxicação por Clostridium botulinum - causada pela toxina produzida por essa bactéria. Resulta da ingestão de enlatados, peixes crus, mel ou outros alimentos que contenham a toxina pré-formada, esporos ou a própria bactéria; é a mais potente toxina alimentar; î A clínica depende da quantidade de toxina ingerida; î Cursa com náuseas, vômitos e diarreia, associados a repercussões neurológicas (visão turva, diplopia, ausência de reflexo pupilar), seguindo-se de sensação de fraqueza, tonturas, vertigens e complicações na mecânica respiratória; • Diarreia dos viajantes – acomete indivíduos que viajam de área industrializada e com boas condições de higiene para outra com piores condições sanitárias; î Inicia-se, em geral, de modo abrupto, com 4-6 evacuações/dia, associadas a cólicas e náuseas; î Geralmente é autolimitada, mas pode ser progressiva, evoluindo para disenteria e, até mesmo, para diarreia crônica; • Diarreia por Escherichia coli – a E. coli é uma das bactérias que integram a microbiota intestinal, mas, quando alguma cepa sofre alterações genéticas, pode tornar-se patogênica. O TGI e as vias urinárias são seus alvos preferidos. î E. coli enterotoxigênica: produz toxinas que aumentam a secreção de água e eletrólitos e diminuem a absorção; Situações Específicas de DA 8 î E. coli enteropatogênica – as bactérias aderem e destroem as microvilosidades, reduzindo a área absortiva; • Diarreia por Shigella – causa mais comum de diarreia no mundo. Essa bactéria é resistente à ação do ácido clorídrico, passam pelo estomago e se multiplicam no intestino delgado, em seguida migram para o cólon, onde exerce sua ação patogênica; î As manifestacoes incluem febre, cólicas, diarreia com muco e sangue; • Diarreia por Salmonella – a infecção pode causar: gastroenterite, febre entérica (febre tifoide e paratifoide), bacteremia e infecção endovascular, infecção focal (osteomielite); Diarreia Cronica • A DC é definida como uma alteração persistente da consistência das fezes e aumento da frequência das evacuações com duração superior a 4 semanas; • Pelas características das fezes, pode- se classificar a DC em: inflamatória, esteatorreia e aquosa; • Enquanto a diarreia aguda está relacionada principalmente aos agentes infecciosos e, por isso, predomina entre as populações mais pobres, a crônica ocorre com expressiva frequência mesmo nos países industrializados; • Estima-se que a DC afete aproximadamente 3-5% da população em algum momento da vida; • As principais causas de DC são síndrome do intestino irritável (SII), doença inflamatória intestinal (DI), síndrome de má absorção e infecção crônica; • Portadores de imunodeficiências apresentam frequentemente diarreia associada a infecções oportunistas crônicas; • O uso de medicamentos também deve ser investigado. Algumas drogas têm efeito secretório direto no intestino delgado e no cólon; • O uso excessivo de dissacarídeos não absorvíveis, como o sorbitol, em dietas com restrição de açúcar pode causar diarreia osmótica, assim como laxantes; • Tumores neuroendócrinos produtores de neurotransmissores com ação secretagoga, como o VIP nos vipomas e a serotonina na síndrome carcinoide, estão associados à DC e intensa; são raras; Epidemiologia Introdução Etiologia 9 • As causas de DC são múltiplas e incluem: î Inflamação na mucosa; î Formação de gradiente osmótico; î Secreção de íons; î Causas iatrogênicas; î Má absorção de nutrientes; î Alteração da motilidade; • Existem 4 grupos principais de DC: î Conteúdo intraluminal hiperosmótico; î Aumento dos processos secretórios do intestino; î Doençasinflamatórias; î Processos infecciosos; Esteatorreia • É um excesso de gordura nas fezes, a qual apresentam uma coloração acinzentada ou clara, odor fétido e flutuam na água; • É resultado de problemas como: falha no processo digestivo, falta de sais biliares e danos na mucosa, como no caso das enterites; • Praticamente todas as doenças que causam má absorção levam a esteatorreia; Diarreia Osmótica • O processo de digestão determina fisiologicamente a transformação do conteúdo intestinal em material isosmótico (mesma pressão osmótica); • Na diarreia osmótica, a água é atraída para dentro do lúmen intestinal pela concentração hiperosmótica do seu conteúdo, a tal volume que o cólon não consegue reabsorver o excesso de líquido; • Pode ocorrer pela ingestão de agentes osmoticamente ativos; • Nos pacientes com deficiência de lactase, a lactose não pode ser decomposta e absorvida; • Os sais de magnésio no leite de magnésia e em alguns antiácidos não são bem absorvidos e causam diarreia quando são ingeridos em quantidades expressivas; Em geral, a diarreia osmótica regride com a suspensão da ingestão alimentar; Diarreia Secretória • Ocorre quando os processos secretórios do intestino estão exacerbados; • Pode ocorrer quando os ácidos biliares em excesso permanecem no conteúdo intestinal à medida que chegam ao cólon. Isso acontece frequentemente com as doenças do íleo, porque os sais biliares são absorvidos neste local; • Também pode resultar da hipersecreção de água e eletrólitos pelo enterócito, como ocorre pela ação das enterotoxinas bacterianas; • Além disso, alguns tumores produzem hormônios que aumentam a atividade secretória no intestino; 10 Diarreia Inflamatória • Está associada comumente à inflamação aguda ou crônica, ou a uma doença intrínseca do intestino grosso, inclusive colite ulcerativa ou doença de Crohn; • Decorre de enfermidades causadas por lesões da mucosa resultantes de processos inflamatórios ou infiltrativos; • Em geral, evidencia-se por aumento da frequência e urgência das evacuações e dor abdominal em cólicas; • Em muitos casos, as evacuações são acompanhadas de tenesmo, escape de fezes nas roupas e despertamento durante a noite com desejo urgente de evacuar; • Podem levar a perdas de sangue, muco e pus, com aumento do volume e fluidez das fezes; Diarreia Motora • Resulta de alterações motoras com trânsito intestinal acelerado, como corre nas enterocolopatias funcionais ou doenças metabólicas e endócrinas; • Surge também, por redução da área absortiva consequente das ressecções intestinais ou fístulas enteroentéricas; • Nesse tipo de diarreia, a absorção e secreção estão normais, porém não há tempo suficiente para ocorrer a absorção desses nutrientes; Diarreia Disabsortiva • Resulta de deficiências digestivas e lesões parietais do ID que impedem a correta digestão ou absorção; • Esse processo pode causar diarreia com esteatorreia e resíduos alimentares; • Ex. Doença celíaca, doença de Crohn, linfoma intestinal; Diarreia Parasitária • Infecções parasitárias persistentes podem causar diarreia crônica por alguns mecanismos; • Os patógenos associados mais comumente incluem os protozoários Giardia, E. histolytica E Cyclospora; 11 • A definição diagnóstica exclusivamente pelo quadro clínico é mais difícil na diarreia crônica devido as suas possíveis etiologias de grande complexidade. Porém, uma investigação clínica acurada pode direcionar a investigação complementar, minimizando os custos e exposição do paciente; • Alguns fatores de risco para doenças específicas podem ser encontrados na história: î Viagens a áreas endêmicas para parasitoses; î Sintomas precipitados ou agravados por uso de determinado alimento; î Comorbidades (DM, hipertireoidismo); î História familiar de DII ou doença celíaca; î Uso excessivo de álcool; • Ao exame físico, podemos encontrar sinais extraintestinais de determinadas doenças; • Na DII, além de massas inflamatórias abdominais, podem ocorrer lesões perianais, lesões cutâneas, aftas orais, olho vermelho e artropatias; • Nas síndromes de má absorção e no CA de cólon, devemos procurar sinais de desnutrição, como edema e anemia; • Na qualificação da diarreia, devemos ter atenção para portadores de incontinência anal -> apresentam pseudodiarreia -> aumento da frequência das evacuações por incapacidade de conter as fezes; • Na maioria dos casos, a avaliação clínica é suficiente para a definição diagnóstica e para determinar a gravidade do quadro; (DIARREIA AGUDA); • O estado imunológico do paciente também é importante na conduta diagnóstica e terapêutica, por exemplo: Exames Laboratoriais u Hemograma • Em pacientes que evoluem com formais mais graves da DA, podem- se encontrar anemia e hemoconcetração; • Nas diarreias por vírus, linfocitose pode estar presente; • Leucocitose com neutrofilia e desvio a esquerda é frequente nas infecções bacterianas mais invasivas com diarreia inflamatória; u Função renal e eletrólitos • A desidratação causa hipovolemia que altera a perfusão renal, fazendo com que haja elevação da creatinina e, principalmente, da ureia; Estudo das fezes u Leucócitos fecais • É o teste mais utilizado na avaliação da DA e identifica processos inflamatórios mais intensos; • Entretanto, a simples presença de polimorfonucleares nas fezes não Diagnóstico História clínica 12 caracteriza diarreia infecciosa, pois estes são encontrados também em outras afecções do IG. • Assim como em alguns casos de diarreia inflamatória, a pesquisa pode ser negativa no início do quadro; u Coprocultura • É o exame bacteriológico das fezes; • Deve ser reservada para casos suspeitos de diarreia infecciosa por bactérias invasivas, na presença de sangue oculto e leucócitos fecais ou para os casos de interesse epidemiológico; • Quando a Coprocultura é solicitada, o laboratório deve ser informado sobre o agente etiológico suspeito, a fim de adequar o meio de cultura; u Pesquisa de toxinas e antígenos de patógenos • Pesquisa de toxinas no diagnóstico de algumas bactérias pode ser mais útil do que a tentativa de cultura; • O principal exemplo são as cepas patogênicas do Clostridium difficile que produzem as toxinas A e B; • Essas toxinas podem ser identificadas nas fezes por teste ELISA -> comprova a infecção; • Infecção viral pelo rotavírus -> pesquisa de antígenos virais nas fezes por ELISA; • PCR também pode ser utilizado para pesquisar diversos patógenos; Exames de Imagem u Radiografia simples do abdome • Nos casos mais graves, é útil para avaliar complicações como íleo paralítico e megacólon tóxico; u Retossigmoidoscopia flexível • Deve ser feita nos pacientes com clínica de proctite (tenesmo, dor retal) e, se há suspeita de colite pseudomembranosa. • Nesses casos, a biopsia é importante para excluir DII; • Além desses, outros exames complementares podem ser utilizados no diagnóstico da DIARREIA CRÔNICA como: î Perfil nutricional/metabólico; î Marcadores específicos (DC); î Sangue oculto; î Presença de gordura nas fezes; î pH fecal î Teste para pesquisa de carboidratos fecais; î Endoscopia digestiva alta; î Colonoscopia; î TC; 13 • A imunidade dos hospedeiros, na maioria das vezes, é capaz de eliminar a infecção gastrointestinal, sem a necessidade de terapêutica específica (AGUDA); • Assim, o objetivo terapêutico está relacionado com a reposição das perdas hidroeletrolíticas; u Reidratação oral • A solução deve conter glicose, parafavorecer a absorção do sódio; • Quando as perdas forem mais importantes, a reposição deve ser feita com soluções contendo eletrólitos (Na, K, CL); • As soluções isotônicas podem ser utilizadas, principalmente em pacientes sem sinais de desidratação, como prevenção; • Para os pacientes hipovolêmicos, deve-se fazer hidratação venosa com soluções isotônicas contendo glicose e eletrólitos; u Dieta • O paciente deve ser orientado a continuar alimentando-se durante o episódio de diarreia; • Aqueles que tem náuseas e vômitos devem dar preferencias aos líquidos, em pequenas quantidades de cada vez, para garantir a reposição das perdas; • Os alimentos visam à reposição calórica; • Alguns alimentos devem ser evitados temporariamente por causa dos seus efeitos sobre a dinâmica intestinal (ex. cafeína, capazes de inibir a fosfodiesterase e, assim, elevar os níveis intracelulares de cAMP); • Assim como alimentos contendo lactose, já que pode haver deficiência transitória da lactase; • Além de alimentos com maior teor de gordura; Terapia farmacológica • Em alguns casos, é recomendável reduzir o número das evacuações, especialmente nas diarreias infecciosas, naquelas não inflamatórias: u Subsalicilato de bismuto • Tem efeito variado, é bactericida e antissecretório por bloquear o efeito das enterotoxinas, além de estimular a reabsorção intestinal de Na e água; Tratamento 14 • Baixo custo, eficácia e segurança -> boa opção para o tratamento sintomático da diarreia aguda infecciosa; • Adultos: 30mL ou 2 comprimidos de 30 em 30m até completar 8 doses; u Loperamida e Difenoxilato • Derivados sintéticos do ópio, inibem a motilidade intestinal, aumentam o tempo de contato para a absorção de água e eletrólitos, e, com isso diminuem o número das evacuações intestinais e cólicas; • Devem ser evitados nos casos de disenterias e nos pacientes com febre alta e toxemia, pois podem agravar a evolução da doença e precipitar o aparecimento de megacólon tóxico; • Atuam sobre receptores específicos na membrana celular, inibindo a atividade da adenilciclase, diminuindo a concentração intracelular de cAMP, tendo assim, atividade antissecretória e inibidora da motilidade intestinal; • Loperamida: dose inicial é de 4mg e posteriormente, 2mg após cada evacuação diarreica, não devendo ultrapassar 16mg/dia por, no máximo, 2-3 dias; • Difenoxilato: 4mg na primeira tomada e depois 2mg até 4X/dia por até 2 dias; • Os pacientes devem ser alertados que essas drogas mascaram as perdas hídricas e de que eles devem fazer reposição de líquidos adequada durante o tratamento; u Racecadotril • Agente antissecretório que funciona através da inibição da encefalinase, enzima responsável pela inativação da encefalina; • Essa ação seletiva protege as encefalinas endógenas, que são fisiologicamente ativas, e reduz a hipersecreção de água e eletrólitos causada pelas toxinas bacterianas; • Por isso, é recomendado associar soluções orais de reidratação; • Dose: 100mg, 3X ao dia durante 2-3 dias; u Antimicrobianos • Na maioria das vezes devem ser reservados para os pacientes com patógenos entéricos confirmados; • O uso empírico pode ser efetuado em pacientes com quadros clínicos importantes de disenteria e possível bacteremia, até que se obtenha o resultado da Coprocultura; u Diarreia por parasitoses • Utilizar tratamento medicamentoso antiparasitários; 15 î