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• Gastrite” significa inflamação gástrica. Este termo é utilizado atualmente para indicar a presença de infiltrado leucocitário inflamatório na mucosa do estômago, que pode ou não se associar a alterações do aspecto endoscópico. o As reações inflamatórias na parede do estômago e quando a barreira da mucosa é danificada permite que o suco gástrico produzido pelo estômago cause erosões ou possibilite infecções no revestimento de proteção do estômago • De acordo com Lopes (2013), o conceito de gastrite deve ser utilizado nos casos em que coexiste lesão celular, processo regenerativo e infiltração inflamatória, acrescidos da presença de folículos linfoides na mucosa gástrica, como também neutrófilos, plasmócitos, linfócitos e eosinófilos, de evolução aguda ou crônica, achados associados quase sempre à infecção por Helicobacter pylori. • A gastrite por H. pylori e a gastrite autoimune (anemia perniciosa) são os dois principais representantes. • A sorologia para H. pylori não tem valor na confirmação da erradicação pós-tratamento. • Para caracterização da síndrome dispéptica, os critérios adotados foram os de Roma III, os quais exigem presença de sintomas dispépticos que tenham início há pelo menos seis meses, e que apresentem duração cumulativa de pelo menos três meses. • Em pacientes com menos de 35 anos, com síndrome dispéptica, sem sinais de alarme, a indicação é a pesquisa indireta do H. pylori, procedendo-se à erradicação nos casos positivos. • Apesar do reconhecimento uniforme de que o H. pylori é fator de risco independente para o surgimento de adenocarcinoma gástrico, não há, até o momento, indicação para a pesquisa e erradicação do mesmo na população geral, com fins de medida de profilaxia primária contra o câncer de estômago. ETIOLOGIA • GASTRITE INFECCIOSA o Helicobacter pylori o Outras bactérias (gastrite flegmonosa) o Micobacteriana o Sifilítico o Viral o Parasita o Fúngica • GASTRITE AUTOIMUNE • DOENÇA GRANULOMATOSA o Doença de Crohn o Sarcoidose • ETIOLOGIA INCERTA o Gastrite linfocítica o Gastrite colagenosa o Gastrite eosinofílica CLASSIFICAÇÃO • ETIOLOGIA o GASTRITE POR HELICOBACTER PYLORI − Gastrite antral por H. pylori − Pangastrite (atrófica ou não) por H. pylori o GASTRITE ATRÓFICA AUTOIMUNE - Geralmente associada à anemia perniciosa (corpo e fundo - anticélula parietal e anti o fator intrínseco - anemia megaloblástica por carência de B12) • TEMPO DE INSTALAÇÃO o GASTRITE AGUDA − Induzida por Helicobacter pylori − Outras formas Infecciosas (Bactérias – Vírus – Parasitas – Fungos) o CRÔNICA (FORMAS COMUNS) − Gastrite antral por H. pylori − Pangastrite (atrófica ou não) por H. pylori − Gastrite atrófica autoimune − Gastrite crônica de tipo indeterminado o FORMAS RARAS DE GASTRITE − Gastrite Infecciosa Bacteriana purulenta (flegmonosa) Outros agentes (sífilis, micobactéria, CMV etc.) − Doença de Ménetriér − Gastrite Eosinofílica − Gastrite Granulomatosa − “Estômago em Melancia” − Gastrite Actínica − Gastrite Linfocítica H. Pylori O H. pylori é um bacilo Gram-negativo que se adere à mucosa gástrica, sobrevivendo neste local graças à secreção de urease (enzima que converte a ureia em amônia, alcalinizando o meio ambiente), facilitando assim a sua colonização e multiplicação no epitélio gastrointestinal Coloniza mucosa gástrica (cél. produtora de muco do antro) → aumento gastrina / diminuição somatostatina → perda das células formadoras de ácido → atrofia com metaplasia → migração proximal da bactéria → gastrite crônica ativa Urease → meio alcalino para neutralizar acidez → amônia (tóxica para céls epiteliais) Um dos mecanismos ulcerogênicos do H. pylori parece ser pela redução das células D antrais e dos níveis séricos de somatostatina, que leva a um aumento dos níveis séricos de gastrina pela desinibição das células G; O H. pylori pode viver somente no epitélio gástrico; Trata-se da infecção crônica mais comum do mundo, geralmente adquirida na infância. A infecção pelo H. pylori está presente em quase todos os pacientes com úlcera duodenal; A causa mais comum de úlcera péptica é a infecção pelo H. pylori. Fatores de risco: idade avançada, baixo nível socioeconômico No Brasil: 35% das crianças e 50-80% dos adultos Relação com gastrite superficial aguda, gastrite crônica ativa de antro, gastrite ou pangastrite atrófica ou não atrófica, adenocarcinoma gástrico, linfoma gástrico MALT e úlceras pépticas gástricas e duodenais (apenas 15% dos infectados desenvolvem) Fatores de virulência: genes cagA (associados à formação de citotoxinas), vacA (citotoxina vacuolizante), babA (aderência bacteriana) e OipA (outer inflamatory protein), que podem levar a uma maior agressão celular e desenvolvimento de doença Úlceras gástricas estão associadas à pangastrite com hipocloridria, e úlceras duodenais, a gastrite predominantemente antral com hipercloridria. A erradicação da bactéria diminui a recidiva das doenças pépticas. Está indicada a erradicação do H. pylori em portadores de Dispepsia Funcional. Gastrite Antral por H. Pylori Aguda • A gastrite aguda caracteriza-se por alterações histológicas que incluem um intenso infiltrado neutrófilo da mucosa e da lâmina própria podendo ocasionar uma inflamação apenas superficial ou escoriações da mucosa gástrica pela própria secreção do estômago → Tanto os neutrófilos como o H. Pylori são responsáveis pela destruição do epitélio • A inflamação neutrofílica e a presença de folículos linfoides com centros germinativos são as duas principais alterações histológicas oriundas da infecção pelo H. Pylori e sua erradicação provoca rápido desaparecimento dos neutrófilos; desta forma, a permanência dos neutrófilos é um bom indicador da falha terapêutica. Após a erradicação das bactérias, há uma rápida reversão das alterações histológicas e as células voltam as suas formas normais e reorganização espacial • Após a infecção, a gastrite aguda produz uma hipocloridria transitória, facilitando a colonização inicial e promovendo a ativação da inflamação → interleucina 1β (IL-1β) e IL-8 • Na maioria dos pacientes, as alterações concentram-se fundamentalmente no antro, podendo, às vezes, comprometer também o corpo gástrico. • A gastrite pode ser assintomática ou provocar dores e indigestão ou ainda pode evoluir para gastrite crônica, como na maioria dos casos • QUADRO CLÍNICO o Dor ou mal estar epigástrico o Pirose o Náuseas o Vômitos o Flatulência o Sialorreia o Halitose o Cefaleia o Astenia Crônica • O antro é tipicamente a primeira região a ser acometida, podendo às vezes predominar o comprometimento do corpo ou, mesmo, de todo o órgão (pangastrite). • A resposta inflamatória induz uma secreção exagerada de gastrina pelas células G do antro e uma diminuição de somatostatina, com resultante incremento da secreção ácida; • Com a cronicidade da inflamação, vai havendo uma perda gradual de células G e de células parietais → hipocloridria; • Desenvolvimento de atrofia gástrica (associada ao infiltrado inflamatório) e metaplasia intestinal; • Pacientes com esse tipo de patologia desenvolvem um padrão inflamatório da mucosa, caracterizado principalmente pela presença de células mononucleares, e também por neutrófilos; • Alguns indivíduos têm o predomínio de células mononucleares e o desenvolvimento de uma atrofia da mucosa que pode levar à acloridria, ou seja, o estômago deixa de secretar o ácido clorídrico. • indivíduos com gastrite predominantemente antral terão secreção gástrica normal ou elevada graças à manutenção de mucosa oxíntica íntegra e poderão ter um risco aumentado para úlcera duodenal. Os sintomas tendem a permanecer por 1 a 2 semanas • Indivíduos com gastrite acometendo de forma predominante o corpo do estômago terão secreção ácida reduzida,em consequência da destruição progressiva da mucosa oxíntica. • Estima-se que a gastrite crônica do corpo gástrico, associada a atrofia acentuada, eleva de três a quatro vezes o risco de carcinoma gástrico, do tipo intestinal. • A gastrite crônica do antro associada a H. pylori é habitualmente uma condição assintomática Gastrite Atrófica Autoimune • Envolve predominantemente a mucosa do corpo e fundo gástricos, poupando o antro. • É frequente a associação com outras doenças autoimunes, como a tireoidite de Hashimoto e a doença de Graves. • Autoanticorpos podem estar presentes: anticélula parietal (o mais frequente) e antifator intrínseco (o mais específico). • A falta do fator intrínseco leva à anemia megaloblástica por carência de B12. • Esta gastrite é um importante fator de risco para o adenocarcinoma gástrico Gastrite Supurativa Ou Flegmonosa Aguda • É um processo infeccioso purulento raro que envolve a parede do estômago e está relacionada principalmente aos estafilococos e estreptococos (em mais de 50% dos casos há participação de estreptococos alfa-hemolíticos). • Deve ser considerada quando um paciente desenvolve dor aguda na região superior do abdome, associada à febre e sinais de peritonite, com líquido ascítico purulento e amilase normal. QUADRO CLÍNICO • Maioria assintomático • Sintomas dispepsia: sensação de distensão abdominal, saciedade precoce, plenitude pós-prandial, epigastralgia em queimação, desconforto abdominal, eructação, náuseas e vômitos. • Os pacientes que procuram atendimento devido a "gastrite" queixam-se de epigastralgia de características variáveis, sem ritmo e periodicidade. • Pode estar acompanhada de plenitude pós-prandial, náuseas e vômitos. • Quase sempre tais sintomas são agravados pela alimentação, uso de bebidas alcoólicas ou situações emocionais. • Manifestações extragastrintestinais o Anemia por deficiência de ferro - diminuição da absorção o Púrpura trombocitopênica idiopática (PTI) - reação-cruzada de anticorpos o Deficiência de vitamina B12 - diminuição da absorção / anticorpos cruzados DIAGNÓSTICO • ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA o Normal em 50% dos pacientes com gastrite crônica por H. pylori o O diagnóstico é estabelecido, basicamente, pela endoscopia digestiva alta (podendo ser observados hiperemia, edema e espessamento da mucosa gástrica, além de erosões) e realização de biópsias da mucosa gástrica. No caso de pesquisa por H. pylori, além do exame histopatológico, utiliza-se, também, o teste da urease. o Permite a avaliação de áreas de nodularidade em antro, sugestivo de infecção pelo H. pylori, bem como de áreas de atrofia e metaplasia. o O diagnóstico endoscópico pode ser realizado através de histologia e teste rápido da urease, sendo que o uso de inibidor da bomba de prótons pode ocasionar resultado falso-negativo. o Achados inespecíficos − Eritema da mucosa − Mucosa friável − Nodularidade antral difusa o Biópsia em mais de um local do estômago - antro/corpo (até 5 fragmentos - seguimento do tratamento) Classificação de Sakita • Testes INVASIVOS o Teste rápido da urease do fragmento biopsiado − Método de escolha na avaliação inicial dos pacientes que foram submetidos à endoscopia digestiva alta − Amostras de biópsia da mucosa são colocadas em um meio contendo uréia e um marcador de pH. A presença de urease acarreta mudança na tonalidade do meio − Uso recente de antibióticos, inibidores da bomba de prótons ou bismuto, diminui a sensibilidade deste exame, que então deve ser feito uma semana após a suspensão dos mesmos o Histopatologia − HE + outra coloração: Imuno-histoquímica Prata (Warthin-Starry) Giemsa o Cultura − Menos utilizada para o diagnóstico → difícil isolamento da bactéria − Determinação da sensibilidade do H. pylori aos antibióticos empregados → casos de falha terapêutica • Testes NÃO INVASIVOS o Sorologia ELISA IgG - baixa sensibilidade e especificidade (VPN) o Teste respiratório da uréia (TRU) - elevada S e E − Padrão ouro − Eleição para o controle de cura, porém, só deve ser realizado após 4 sem do término do tratamento antimicrobiano, e após 2 sem do término do tratamento com IBP − Solução de ureia marcada com isótopos de carbono (C13 e C14). A ureia é convertida em amônia e bicarbonato, o qual é convertido em CO2 (com o C marcado), sendo este último prontamente absorvido para a circulação e eliminado na exalação. o Pesquisa do antígeno fecal − Menos eficaz que TRU − Pode ser usado no controle de cura CONDUTA TERAPÊUTICA TRATAMENTO cura da infecção prognostica uma taxa bastante reduzida de recorrência de úlcera. A terapia antimicrobiana adequada leva à erradicação em mais de 80% dos casos. Os pacientes em uso crônico de aspirina ou anti-inflamatórios têm indicação de pesquisa e erradicação da infecção Indicações de tratamento H. pylori − Doença ulcerosa péptica − Linfoma MALT (linfoma B) − Dispepsia não ulcerosa (funcional) − Síndrome dispéptica que não realizam EDA (teste não invasivo +) − História de Ca gástrico em parente de 1º grau − Presença de lesões pré-neoplásicas de Ca gástrico, como gastrite atrófica e metaplasia intestinal − Após tratamento do adenocarcinoma gástrico − Usuários crônicos de AINES ou AAS − Presença de Púrpura Trombocitopênica Imune (PTI) Screening para H. pylori na população geral assintomática como forma de reduzir a chance de Ca gástrico não é recomendado no Brasil A recomendação para indivíduos com ALERGIA A AMOXICILINA é: − IBP 2x/dia, + Claritromicina 500 mg 2x/dia + Levofloxacina 500 mg 1x/dia por 14 dias; ou − IBP 2x/dia + Doxiciclina 100 mg 2x/dia ou − Tetraciclina 500 mg 4x/dia + Metronidazol 500 mg 3x/dia + Bismuto 240 mg 2x/dia por 14 dias A recomendação para indivíduos com alergia a Amoxicilina é IBP 2x/dia, + Claritromicina 500 mg 2x/dia + Levofloxacina 500 mg 1x/dia por 14 dias; ou IBP 2x/dia + Doxiciclina 100 mg 2x/dia ou Tetraciclina 500 mg 4x/dia + Metronidazol 500 mg 3x/dia + Bismuto 240 mg 2x/dia por 14 dias • O termo “Gastropatia” foi criado para indicar a lesão da mucosa gástrica, com injúria e regeneração epitelial, edema e vasodilatação, não acompanhados de infiltrado leucocitário. • Gastropatia por AINE, lesão aguda de mucosa gástrica e gastropatia alcoólica são os principais exemplos. ETIOLOGIA • GASTROPATIA REATIVA (QUÍMICA) o Refluxo biliar o Álcool o AINE o Sais de ferro o Outros agentes (por exemplo, alendronato, fosfato de sódio) • GASTROPATIA VASCULAR o Gastropatia portal hipertensiva (congestiva) o Ectasia vascular antral gástrica • GASTROPATIA ISQUÊMICA o Cocaína o Hipovolemia o Sepse o Queimaduras o Trauma, prolapso da mucosa CLASSIFICAÇÃO • GASTROPATIA HEMORRÁGICO-EROSIVA AGUDA - Geralmente causada por “estresse isquêmico” ou pelo uso recente de AINE • GASTROPATIA QUÍMICA CRÔNICA o Gastropatia alcoólica o Gastropatia crônica por AINE o Gastropatia por refluxo biliar – complicação da cirurgia antrectomia Gastropatia Hemorrágica / Erosiva • Existem três condições principais que normalmente se associam a este tipo de lesão gástrica: o GASTROPATIA PELOS AINE − A fisiopatologia da gastropatia por AINE é bem conhecida: estes fármacos inibem a formação de prostaglandinas pelas células da mucosa gástrica, prejudicando seriamente a proteção contra o ácido gástrico e a própria regeneração epitelial. − Pode ser aguda ou crônica e pode cursar ou não com sintomas dispépticos e sangramento digestivo alto (hematêmese, melena). − O uso de AINEs está associado à petéquias, erosões e úlceras na mucosa gástrica, sem que haja inflamação típica. As erosões são superficiais, e raramente causam sangramento importante. − Em alguns casos, entretanto, estas são responsáveis por sangramento crônico (sangueoculto nas fezes) que resulta em anemia ferropriva − Tratamento Deve-se suspender o AINE incriminado e iniciar terapia com IBP. Caso o paciente necessite retomar a terapia anti-inflamatória, devemos fazer profilaxia com IBP. A presença do H. pylori contribui para piorar a lesão gástrica por AINE e, por isso, a erradicação da bactéria está indicada se o paciente tiver que manter os AINE. o GASTROPATIA ALCOÓLICA − Comumente são encontradas em pacientes alcoólatras hemorragias subepiteliais puntiformes, com aspecto endoscópico de “sangue sob envoltório plástico”, associadas ao edema de mucosa. o LESÃO AGUDA DA MUCOSA GÁSTRICA − A Lesão Aguda de Mucosa Gástrica (LAMG) ocorre no curso de uma doença grave, frequentemente nos pacientes de CTI, já nas primeiras 72h da internação. − As lesões erosivo/hemorrágicas são responsáveis por episódios de hemorragia digestiva alta em cerca de 6% desses pacientes, acarretando aumento da morbimortalidade. − Os principais fatores de risco são: coagulopatia (plaquetas < 50.000/ml e/ou INR > 1.5); ventilação mecânica > 48h. − Na ausência desses fatores, o risco de hemorragia digestiva cai para < 0,1% Outros fatores de risco são: trauma cranioencefálico, grandes queimaduras, sepse, corticoterapia, uso de vasopressores e história de doença péptica complicada por hemorragia digestiva prévia.
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