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Júlia Figueirêdo - DOR PROBLEMA 5 – INTERMEDIÁRIA: AÇÃO E EFEITOS COLATERAIS DOS OPIOIDES: Opioides são todos os fármacos (naturais, semissintéticos ou sintéticos) que atuam sobre os receptores de opioides, incluindo agonistas integrais, parciais e antagonistas, atuando principalmente sobre receptores µ, mediadores de estímulos nociceptivos mecânicos, térmicos e químicos ao associar-se ao receptor TRPV1. Divisão dos opioides quanto a suas classes químicas Principais analgésicos opioides No que se refere ao mecanismo de ação, os analgésicos opioides distinguem-se em: Agonistas opioides: o Opioides fortes: Morfina: usada no tratamento de dores intensas, age sobre receptores κ e inibe a secreção de substância P e demais mediadores excitatórios. É encontrada em diversas vias de administração; Metadona: apresenta ação sobre receptores µ, NDMA e também age como IRSN, podendo auxiliar o controle tanto da dor nociceptiva quanto da neuropática. Pode ser fornecida no desmame em adictos por opioides, sendo gradualmente retirada. Fentanil: é extremamente mais potente que a morfina, sendo empregada em anestesias, mais comumente por via IV ou epidural. No controle da dor pós- operatória ela pode ser associada a anestésicos locais. Pacientes com dor oncológica também se beneficiam desse composto. Esse medicamento não deve ser indicado a pacientes virgens a opioides. Aspectos clínicos associados aos opioides fortes o Opioides fracos: Codeína: usada apenas em casos de dor moderada, tem ação analgésica baseada na conversão desse composto em morfina. Pode ser empregada junto ao paracetamol; Hidrocodona: mais indicada para pacientes com injúrias renais, é um fármaco semelhante à morfina, associado frequentemente a AINES para o tratamento de dores moderadas; Oxicodona: apresenta maior potência em comparação com a morfina, podendo ou não ser associada a AINES. Principais características dos opioides fracos Júlia Figueirêdo - DOR Agonistas parciais: o Buprenorfina: atua de forma parecida com a morfina em pacientes virgens aos opioides, porém pode causar abstinência em usuários de agonistas totais. É empregada principalmente na desintoxicação opioide, pois conta com sintomas de retirada mais brandos. Apresenta forte ligação com receptores µ; o Nalbufina: é pouco eficaz no manejo da dor crônica (agonista-antagonista de receptores opioides), mas possui efeito teto para a depressão respiratória. Aspectos farmacológicos de agonistas parciais de receptores opioides Antagonistas opioides (naloxona): são compostos que se ligam competitivamente aos receptores opioides, porém não desencadeiam reações analgésicas, empregados no controle de superdosagem e na precipitação de sintomas de abstinência. Na reversão de comas por depressão respiratória, esse medicamento não afeta a analgesia basal (menor afinidade pelo receptor) Descrição clínica dos antagonistas opioides Existem diferenças na afinidade entre opioides e receptores, além de fármacos com ação em outros pontos de ligação, como receptores δ e κ. Essa possibilidade de “ligação diferencial” se deve a nocautes genéticos comuns aos receptores opioides. Mesmo compostos de atuação direta em um único receptor podem desencadear a secreção de opioides endógenos de ação em outros sítios, iniciando uma sequência complexa de eventos para o controle da dor. Modalidades de receptores de opioides No que se refere à conformação molecular, os 3 receptores supracitados apresentam ligação à proteína G, afetando a abertura de canais iônicos. Quando associados aos conectores, os opioides agem no fechamento de canais de Ca2+ pré- sinápticos e na abertura de canais de K+ para promover hiperpolarização pós- sináptica, alterando a secreção de substâncias diversas. Ação pré e pós-sináptica de opioides, evidenciando o caráter inibitório de suas ligações Júlia Figueirêdo - DOR Os receptores µ, κ e δ estão concentrados em altas quantidades no corno dorsal da medula, seja nas fibras aferentes que encaminham os sinais nociceptivos ou nos neurônios de 2ª ordem com os quais estas se comunicam. Ainda que atuem principalmente na inibição da transmissão da dor para o córtex, os opioides também podem suprimir a secreção de transmissores excitatórios nas fibras periféricas. Locais de atuação dos opioides Receptores µ também podem ser encontrados em terminais periféricos de axônios, promovendo, quando ativos, a redução da atividade de neurônios sensitivos. Sua ação é relevante principalmente durante a inflamação sendo ativados pela liberação de β-endorfina produzida por células de defesa. Nas vias descendentes de dor, os opioides provocam a ativação de neurônios inibidores (por meio da inibição de interneurônios GABAérgicos), cujos processos axonais se dirigem à medula, afetando a condução da dor. Ação de opioides exógenos sobre a via moduladora descendente da dor O uso frequente de opioides pode levar ao desenvolvimento de tolerância (necessidade de maiores doses para a mesma eficácia) e dependência física, na qual o corpo reage com sintomas de abstinência sempre que o fármaco é removido. Grau de tolerância que pode ser desenvolvido para efeitos dos opioides O mecanismo de desenvolvimento desse quadro ainda não é estabelecido, porém está baseado no conceito de reciclagem do receptor, no qual os receptores µ deixam de ser endocitados após a atividade, não conseguindo ser ressensibilizados. Ligado a esse conceito está o desacoplamento do receptor, marcado por alterações entre esses compostos e a proteína G. Júlia Figueirêdo - DOR As ações dos opioides podem ser diferenciados entre aqueles direcionados ao SNC e os de caráter sistêmico, a saber: Efeitos ao sistema nervoso central: correspondem aos principais mecanismos para o controle da dor, incluindo também modificações no estado de consciência e alterações respiratórias. o Analgesia; o Euforia: o uso de opioides promove redução da ansiedade associado à diminuição da dor, mas também pode gerar sensações disfóricas; o Sedação: a ocorrência de sonolência sem amnésia é comum, principalmente em idosos. Na maioria dos casos, é possível acordar facilmente o paciente, porém associações com outros medicamentos podem fortalecer a sedação; o Depressão respiratória: a inibição dos mecanismos respiratórios do tronco encefálico pode ocorrer após o uso de qualquer opioide. Esse quaro é estímulo-dependente, ou seja, é mais pronunciada quando os agentes álgicos são retirados. A tolerância se mantém em casos de alterações brandas na PCO2; Interações medicamentosas associadas ao agravamento do efeito de opioides ao SNC o Efeito antitussígeno: a supressão do reflexo da tosse, mediado por fibras C e A presentes nas vias aéreas, esôfago e estômago, é um efeito secundário ao uso da codeína. Uma possível complicação é o acúmulo de secreções nas vias aéreas, podendo levar à sua obstrução; o Miose: o uso de quase todos os agonistas opioides promove contração pupilar (mediação parassimpática por receptores κ e µ do nervo oculomotor) que não apresenta tolerância, sendo um indício para identificação de superdosagem ou adictos; o Aumento do tônus muscular do tronco: decorrente de mecanismos supraespinais, essa rigidez afeta a complacência torácica, diminuindo a amplitude de movimentos respiratórios. Esse resultado pode ser evitado por meio da administração de opioides junto a bloqueadores neuromusculares; o Náuseas e vômito: a zona de gatilho quimiorreceptora (4º ventrículo) é ativada por esses fármacos, com efeitos mais intensos associados à deambulação (possível interferênciado vestíbulo); o Temperatura: a administração de agonistas de receptores µ é responsável pelo desenvolvimento de hipertermia, ao passo que o uso de compostos associados aos receptores κ fomentam queda da temperatura corporal; o Alterações no padrão de sono: decorrem de mecanismos pouco conhecidos, mas causam fadiga e apneia do sono; o Prurido: opioides de origem natural causam rubor, calor e coceira na pele, efeito mediado pela ação sobre a liberação de histaminas, decorrente da vasodilatação, e em circuitos pruridoceptivos. O uso de agonistas seletivos a receptores κ suprime essa reação. Júlia Figueirêdo - DOR Potenciais efeitos excitatórios e inibitórios ao SNC associados aos opioides Efeitos sistêmicos: o Sistema cardiovascular: na maioria dos pacientes, não há efeitos significativos ligados a esse sistema, exceto bradicardia leve, porém o aumento da PCO2 pode causar vasodilatação cerebral, aumento do fluxo sanguíneo local e, consequentemente HIC; o TGI: a constipação intestinal é um efeito de destaque associado ao uso de opioides, não apresentando tolerância. Essa interação se dá devido à grande densidade de receptores opioides ao longo do TGI, com impactos ao sistema nervoso entérico e ao SNC, reduzindo a motilidade visceral e estimulando a reabsorção de água do bolo fecal. A motilidade estomacal também pode ser reduzida, bem como a secreção de ácido gástrico, porém as contrações se elevam. No intestino delgado, a peristalse é aumentada, o que não favorece o trânsito intestinal, uma vez que a amplitude desses movimentos é suprimida. o Vias biliares: os opioides estimulam a contração da musculatura lisa que envolve a vesícula, gerando assim cólica biliar. Os níveis séricos de amilase e lipase podem estar elevados pela secreção excessiva decorrente da contração do esfíncter de Oddi; o Acometimentos renais: o uso desses medicamentos diminui a função renal, seja por meio da redução do fluxo plasmático local ou pela ação antidiurética mediada por receptores µ, estimulando a reabsorção de sódio e a liberação de ADH. O tônus muscular da bexiga torna- se aumentado, o que favorece o surgimento de quadros de retenção urinária e pode intensificar cólicas decorrentes de cálculos. o Efeitos à musculatura uterina: opioides podem prolongar o trabalho de parto (inibem contrações uterinas); o Aspectos endócrinos: além da ação sobre o ADH, opioides também inibem a secreção de LH, o que pode causar diminuição na produção de hormônios como testosterona ou alterações no ciclo menstrual; o Impactos imunológicos: a administração de opioides exógenos pode reduzir a capacidade proliferativa de linfócitos, mesmo que os compostos endógenos tenham capacidade anti-inflamatória. Júlia Figueirêdo - DOR Principais indicações clínicas para uso de opioides Os efeitos colaterais mais reportados com o uso de opioides são aqueles de cunho gastrintestinal, associados à versatilidade na distribuição dos receptores a eles associados por todo o corpo. Efeitos colaterais do uso de opioides, classificados conforme a cronologia da administração
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