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Júlia Figueirêdo - DOR PROBLEMA 1 – INTERMEDIÁRIA: SEMIOLOGIA E AVALIAÇÃO DA DOR: O atendimento a um paciente com dor deve ser sistematizado e abrangente, com perguntas que contemplem as dez características semiológicas desse processo, conhecidas como o decágono da dor. Nessa classificação, encontram-se os seguintes aspectos: Localização: descreve a região na qual a dor é sentida. Para elevar a confiabilidade do relato, o paciente deve indicar objetivamente a área afetada, ao invés de descrevê-la de forma subjetiva. Cada foco de dor deve ser avaliado individualmente. A sensibilidade da circunvizinhança do ponto dolorido também deve ser avaliada, podendo haver diminuição da sensibilidade ao tato (hipoestesia) ou aumento das reações táteis (hiperestesia) e dolorosas (hiperalgesia). Nesses locais, também pode ocorrer alodinia, reação de dor a estímulos inócuos. Irradiação: a dor pode ser bem- localizada, associada a um sítio específico, irradiada, seguindo o percurso de um nervo, ou referida, que, como mencionado anteriormente, se associa a similaridades embriológicas entre tecidos. Caráter da dor: essa atribuição é feita de forma subjetiva pelo paciente, que descreve a sensação trazida pelo incômodo. O primeiro passo para sua avaliação é determinar se ela é espontânea (presente mesmo sem estímulos) ou evocada (que surge somente após algum estímulo provocativo). No primeiro grupo, inserem-se os quadros de anodinia, hiperpatia (incômodo geralmente doloroso associado a estimulações nocivas repetitivas) e a hiperalgesia. Já no último, é necessário distinguir entre a dor constante, que nunca desaparece, mesmo havendo flutuações em sua gravidade, e a intermitente, que se manifesta esporadicamente, em surtos de duração e intensidade variáveis. Intensidade: é, para o paciente, a característica de maior importância, pois explicita os efeitos da dor em sua qualidade de vida. Diversas escalas são utilizadas, sendo descritas posteriormente. Duração: sempre que possível, deve-se registrar a data exata do início dos episódios de dor ou a duração destes. De acordo com essa característica, é possível definir o incômodo como agudo, de duração inferior a 1 mês, e crônico, quando as crises persistem por mais de três meses, período além do esperado para a resolução de uma lesão Evolução: consiste na reconstrução da história da dor, esclarecendo como se deu seu início, seja de forma súbita ou insidiosa. É válido também descrever eventuais mudanças no perfil doloroso que possam ter ocorrido no intervalo entre seu surgimento e a anamnese, como a ritmicidade (variação ao longo do dia), a periodicidade (número de episódios num determinado período de tempo) e a intensidade. Tais alterações podem se manifestar devido a evolução do quadro, ao desenvolvimento de complicações ou à implementação de terapêuticas diversas. Interações com a fisiologia: essa característica correlaciona a localização da dor e as estruturas adjacentes a ela, buscando identificar os impactos causados pelo quadro álgico ao desempenho de atividades esperadas naquela região. Júlia Figueirêdo - DOR É necessário ressaltar que, de forma geral, a dor aumenta com a maior necessidade funcional e metabólica do tecido. Fatores deflagradores ou de piora: indicam comportamentos, sejam eles fisiológicos ou não que provocam ou agravam a dor por meio de sua ausência ou presença. Fatores atenuantes: descrevem situações que diminuem a intensidade da dor, em sua maioria comportamentais, como o uso de medicamentos ou a adoção de posições específicas ao deitar. Pode-se dizer que distrações tendem a reduzir a gravidade do incômodo. Nas situações em que fármacos são referidos como fatores de melhora, é necessário questionar acerca de seu nome, apresentação, dose e frequência de uso. Sintomas concomitantes: a dor aguda normalmente é associada a sintomas que determinam dano tecidual vigente ou iminente, normalmente de caráter neurovegetativo, ou seja, estimulados pelo SNA. Tais manifestações podem colaborar para a identificação da etiologia da doença de base. MECANISMOS DE AVALIAÇÃO DA DOR: A dor, por ser resultado de uma experiência subjetiva, modulada amplamente pelo estado psicológico e pelo ambiente no qual o indivíduo está inserido, não pode ser mensurada de forma objetiva, dando assim origem a múltiplas escalas para sua avaliação. As escalas de classificação numérica, por exemplo, estabelecem como extremos os valores de zero (sem dor) e 10 (dor inimaginável e insuportável), tendo como marco para intervenção farmacológica uma pontuação igual ou maior a 3 (dor moderada). Outro instrumento bastante utilizado é a Escala Visual Analógica (EVA). Essa avaliação, que pode ser empregada desde a infância, solicita que o indivíduo indique, numa representação visual da escala numérica o nível de dor que está sentindo. Régua utilizada para implementação da EVA A Escala de Expressão Facial de Wong- Baker apresenta amplo espectro de aplicabilidade, uma vez que, ao utilizar de representações de rostos para descrever a dor, permite que crianças e indivíduos não alfabetizados possam indicar adequadamente sua dor. Representação da Escala de Expressão Facial de Wong-Baker A dor pode também ser mensurada por meio de escalas de heteroavaliação, nas quais o profissional de saúde integra os relatos do paciente e suas observações próprias, podendo ser de cunho comportamental ou composto, sendo que o último combina aspectos emocionais e de comportamento com aspectos fisiológicos. Essa modalidade de avaliação é empregada principalmente na neonatologia e na medicina intensiva, ao se trabalhar com pacientes incapazes de se comunicar. Júlia Figueirêdo - DOR Exemplo de uma escala de heteroavaliação da dor Algumas avaliações apresentam caráter multimodal, como o Inventário Resumido da dor (BPI), que é preenchido autonomamente pelo paciente para investigar dor crônica em adultos. Essa denominação é oriunda da junção de diversos critérios de referência para a medição do incômodo, contemplando a presença, severidade, localização, impacto funcional, terapêuticas implementadas e o sucesso destas. Segmento do formulário da escala BPI, preenchida pelo próprio paciente de forma a avaliar sua percepção ampla sobre a dor
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